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UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

FACULDADE DE DIREITO

CURSO DE LICENCIATURA EM DIREITO

CADEIRA E CIÊNCIA POLÍTICA

1º Ano – 2023

Tema

Globalização e Ciência Política

Nome do aluno : Lurdes Valerio Rachide Cabo

Nampula , Maio de 2023


Índice

1. Introdução......................................................................................................................................3
2. Globalização e Ciência Política..................................................................................................4
2.2 A Globalização Política..............................................................................................................6
2.3 Teorias da globalização e a ciência política......................................................................................7
2.4 A influência da globalização na ciência politica versus diplomacia.................................................9
2.4 Globalização Hegemônica x Globalização Contra-Hegemônica................................................10
2.5 Sociedade civil vs globalização..................................................................................................11
Considerações finais.............................................................................................................................13
Bibliografia..........................................................................................................................................14

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1. Introdução

O presente trabalho versa sobre a Globalização e Ciência Política. O conceito de globalização


e a noção de global entraram nas realidades económicas, políticas, sociais e culturais no final
do século XX, e ganharam um espaço-chave na discussão desses fenómenos. Entre
significarem estritamente a integração económica global, uma "compressão do mundo" mais
ampla, ou apenas chavões que se tornaram moda, passaram a incluir tudo o que conhecido e
não conhecido, contribuindo tanto para compreender a lógica de interdependência como para
confundir o que se pretende dizer quando se fala de global ou de globalização. Tido como um
processo demasiado amplo, tanto que seria quase intangível ou imensurável, foi
sistematicamente pouco compreendido, ou até ignorado, tanto por cientistas como por
decisores políticos. Apresente pesquisa tem como objectivo geral elucidar sobre a
globalização e a ciência politica. Quanto a forma de abordagem será destacada ou método é
classificada como qualitativa, Acevedo e Nohara (2006, p. 52) afirmam que “as abordagens
qualitativas são especialmente úteis para determinar as razões ou os porquês. Assim, tal
delineamento é recomendado quando se deseja conhecer os fatores que afetam os
comportamentos humanos, tais como: atitudes, crenças, sensações, imagens e motivos”.

A presente pesquisa na sua abordagem deve-se ao facto da pesquisa basear-se em fazer uma
análise qualitativa para compreender um vasta revisão de literatura como técnica de recolha
de dados. Os dados necessários para elaborar a pesquisa foram realizados através de pesquisa
exploratória e bibliográfica, que conforme Acevedo e Nohara (2006, p.46) “o principal
objetivo da pesquisa exploratória é proporcionar maior compreensão do fenômeno que está
sendo investigado, permitindo assim que a pesquisadora delineie de forma mais precisa o
problema”. Na pesquisa bibliográfica Lakatos e Marconi (2001, p.183) declaram que “sua
finalidade é colocar a pesquisadora em contato direto com tudo o que foi escrito, dito... sobre
determinado assunto...”, envolvendo consultas a livros, artigos publicados, revistas,
periódicos e dissertações. De acordo com Marconi (2001,p. 49) existem diferentes técnicas
de recolha de dados, tais como, a documentação direta e a documentação indireta, na
documentação direta composto por a pesquisa bibliográfica e documental e na documentação
direta composto por entrevistas, questionários.

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Para esta pesquisa, foram usados as seguintes técnicas para a recolha de dados conforme se
descreve a seguir: ❖ à pesquisa bibliográfica ,e ❖ documental.

2. Globalização e Ciência Política

O processo de globalização trás profundas transformações para as sociedades


contemporâneas. O acelerado desenvolvimento tecnológico, em especial na área da
comunicação, caracterizou uma nova etapa do capitalismo, que coloca novos desafios para o
homem.

A globalização recebeu no âmbito teórico várias denominações, tais como aldeia global,
mundialização cidade global, etc, que ao final buscam descrever e interpretar um mesmo
significado: um movimento social, político, económico, cultural, jurídico, que visa
transformar e modificar todo o sistema de relações internacionais, reorientando e
reformulando as decisões dos Estados-nação, desde as mais diversas áreas da vida social até
os diversos sistemas produtivos e financeiros, com reflexos imediatos no sistema de emprego
e nas diferenças entre países ricos e pobres.

Malcom Waters (1999,p.8), identifica três posições relativamente a esta questão:

1- A que defende que a globalização é um fenómeno que sempre existiu e que nos
momentos mais recentes veio sofrer uma aceleração
2- A que argumenta que a globalização surge com modernização e o desenvolvimento e, que
igualmente sofreu uma aceleração nos tempos mais recentes;
3- E a que considera que a globalização é de todo um fenómeno recente que está associado a
pós-industrialização e pós-modernização. O autor, defende que os fundamentos da teoria
da globalização se concentram na relação entre organização social e territorialidade, e que
essa relação é determinada pelos tipos de troca que a cada momento predominam nas
relações sociais: trocas materiais; trocas políticas; trocas simbólica.

Contudo, o processo de globalização intensificou-se no último quarto do século XX com o


desenvolvimento da tecnologia. Estas dinâmicas deram origem uma série de outras
transformações que modificaram completamente o modelo de desenvolvimento das
sociedades, passando a existir interdependência entre os Estados, uma vez que muitas
actividades deixaram de ter um carácter nacional para assumirem um carácter transnacional,

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como consequência uma cultura global onde nada está isolado e onde existe uma inter-relação
em todo o planeta.

A globalização implica ou pressupõe a localização, ou seja, não existe condição global para a
qual não encontramos nenhuma raiz local, uma imersão cultural específica. Tanto vivemos
num mundo localizado como num mundo globalizado. A razão pela qual se prefere o último
termo, está relacionada basicamente com o facto de o discurso científico hegemónico tender a
privilegiar a história do mundo na versão dos vencedores. Existe um enorme consenso na
descrição da globalização como um processo de conversão das economias nacionais distintas,
numa economia mundial integrada (Horst e Klodt 2001:162) Peter Dicken (1998), acrescenta
ainda que a globalização é como uma complexa rede de processos que se inter-relacionam,
envolvendo não apenas uma extensão geográfica da actividade económica, como também a
integração funcional dessas actividades internacionalmente dispersas.

Algumas correntes teóricas e ideológicas assentam essencialmente em explicações


relacionadas com o desenvolvimento do capitalismo, como uma das principais dinâmicas
impulsionadoras do mundo globalizado, sustentada por uma produção exponencial,
acumulação de capital e um aumento crescente de ralações comerciais. Neste sentido,
Friedman (2000:471) define a globalização como a integração do capital, da tecnologia e a
informação para lá das fronteiras nacionais, criando um mercado global único e, em certa
medida, uma aldeia global.

Uma revisão dos estudos sobre este processo, mostra-nos que estamos perante um fenómeno
multifacetado com dimensões económicas, sociais, políticas, jurídicas, religiosas interligadas
de modo complexo. A globalização é também o reflexo do permanente desequilíbrio das
relações de classe e de hegemonia de alguns Estados. Tornou-se um conceito muito usado
para explicar a realidade das sociedades contemporâneas. Deste modo, partilhamos a ideia de
Alexandre Melo, quando afirma que o ponto de partida para a compreensão do mundo de
hoje, é a análise da noção de globalização (2002,p.16).

Analisando a globalização na perspectiva das relações internacionais, essa não deve ser
desvinculada de outras transformações de natureza estrutural que marcaram a evolução do
sistema internacional contemporâneo. Portanto, a globalização deve também ser
compreendida à luz de suas relações com outros condicionamentos e processos políticos e em
perspectiva histórica, o que permite um entendimento mais amplo sobre a articulação do

5
sistema de Estado-nação que se “globalizou”, passando ambos a constituírem elementos
centrais do actual panorama das relações internacionais.

Este conceito, no plano das ciências sociais tem levado a desenvolver análises mais
transdisciplinares, abrangendo várias áreas do conhecimento.

2.2 A Globalização Política

Numa perspectiva mais genérica, parece fazer mais sentido falar de globalização política no
século XX, dado que ocorreram neste século duas grandes guerras mundiais: a I Guerra
Mundial e a II Guerra Mundial (Melo, 2002 p.31). No final da I Guerra Mundial foi criada
uma organização política internacional, a Liga das Nações, que embora todos os esforços, não
evitou o desenrolar de mais uma guerra.

No fim da II Guerra Mundial, foi criada a Organização das Nações Unidas (ONU), que visou
por em prática uma política global assente num “equilíbrio geoestratégico bipolar” (Melo,
2002,p.33), que mais tarde se veio a designar de Guerra-fria. Posteriormente observou-se a
queda do muro de Berlim, reflexo do colapso das ditaduras comunistas dos países do leste.

O “capitalismo desenvolvido” que caracterizou a economia mundial desde a II Guerra


Mundial, assentava numa política com objectivos essencialmente económicos de fomentar o
crescimento do emprego, proporcionando um ambiente estimulador para o consumo e o
investimento, à escala nacional, tendo o Estado como missão reduzir as desigualdades sociais
com vista à propensão ao consumo (Murteira, 1995:40).

Nos anos 90, passam a entender o desenvolvimento como sinónimo de competitividade no


mercado mundial, obrigando os governos nacionais a reorientar as suas políticas económicas e
sociais (Murteira, 1995: 58).

A globalização política assume, assim, um nível sem precedentes. Um outro fenómeno


importante de referir é a crescente dependência financeira dos países pobres em relação aos
países ricos, devido aos endividamentos provocados pelos apoios concedidos. Esta
dependência económica é visível através das organizações internacionais que definem as
políticas económicas, como é o caso do G8, da OCDE e do Banco Mundial. Allemand e
Borbolan (2001:80) defendem uma globalização que seja mais benéfica para os países pobres,

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e que seja sustentada por uma nova ordem política e económica mundial, diferente da herdada
do período pós-guerra. Muitos autores acreditam que estamos a assistir à emergência de um
novo Estado, a fim de que consigamos atingir uma globalização sustentável, através de um
conjunto de políticas de Segurança Social que apoiem as pessoas a lidar com este modelo
global. Só assim se poderá ter um equilíbrio correcto. (Friedman, 2000: 471).

Este autor refere ainda que este equilíbrio terá de passar por democratizar a globalização
educacionalmente; democratizar a globalização financeiramente; e democratizar a
globalização politicamente (Friedman, 2000: 476). “Democratizar a globalização não é apenas
a maneira mais eficaz de torná-la sustentável, é também a política mais útil e moral que um
governo pode adoptar” (idem: 482). Temos vindo a assistir o surgimento de várias correntes
sejam elas anti-globalização ou apologistas da globalização que visam pressionar os Estados a
assumirem as suas responsabilizações económicas, sociais e ambientais.

Allemand e Borbolan (2001:61) chamam “cidadania global”, comprovando que a


globalização tem um cada vez maior peso na mobilização da opinião pública.

2.3 Teorias da globalização e a ciência política

Falar de globalização é levantar um debate extenso e complexo que se tem arrastado ao longo
de toda a existência deste conceito. São três as linhas de pensamento que se debatem sobre
este termo: os hiperglobalizadores, que prenunciam a perda completa de soberania por parte
dos Estados na gestão da sua própria economia e sociedade; os céticos, que rejeitam a ideia de
globalização e salientam que, apesar de qualquer mudança que possa ter existido ao longo dos
tempos, tanto os Estados como a própria geopolítica continuam os principais motores da
política internacional; e os transformacionistas, que reconhecem a emergência de uma nova
ordem política global e de uma linha mais ténue a separar assuntos locais e internacionais,
que, de forma genérica, se situam entre as posições dos hiperglobalizadores e dos céticos
(McGrew, 2014, p. 16). Com este texto não se pretende discutir onde se encontra a razão, mas
sim compreender como a globalização acabou por moldar a política externa e a diplomacia.

No entanto, qualquer uma destas teorias é tão controversa como a própria definição de
globalização. Independentemente do espaço temporal em que coloquemos o início da
7
globalização1 , ou da intensidade com que esta afetou o panorama internacional, a verdade é
que as dinâmicas mundiais entre Estados se alteraram ainda no século passado, de uma forma
nunca antes vista. A evolução da economia, as interações culturais, os desenvolvimentos
tecnológicos e a abertura das fronteiras a todos estes aspetos, influenciaram os Estados
enquanto atores do sistema político internacional e, por conseguinte, a configuração da sua
política externa e diplomacia.

Utilizando novamente McGrew (2014), este autor caracteriza a globalização em quatro pontos
essenciais para a discussão aqui proposta:

 A transmissão para lá das fronteiras de atividades políticas, sociais e económicas,


influenciando, desta forma, outras comunidades distantes;
 A intensificação da interconexão social entre comunidades dispares;
 A evolução dos sistemas de transporte e comunicação, que permitem inter-relações
globais, aumentando, igualmente, a velocidade da transmissão de ideias, bens,
informação, etc;
 O estreitamento entre o local e o global, uma vez que “local events may come to have
global consequences and global events can have serious local consequences, creating a
growing collective awareness or consciousness of the world as a shared social space, that
is globality or globalism” (p. 18).

Assim, a distinção entre doméstico e internacional encontra-se mais corroída quando falamos
de uma política externa influenciada pela globalização. As questões que este conceito acarreta
são tão variadas que vão muito além da interdependência e da internacionalização dos
problemas estatais, mas também de uma mudança e partilha da própria organização social,
económica e política do mundo (McGrew, 2014, pp. 18-21).

As previsões gerais sobre a relação entre globalização e política externa tendem a encaixar,
em parte ou no todo, na visão daquelas teorias da globalização sobre o Estado e a sua agência:
ou uma política externa mais esvaziada de conteúdo, uma vez que a disseminação da
democracia e da economia capitalista implicariam menos alternativas nos processos de
formulação e decisão política (logo ‘menos política’) (Hill, 2003); ou que a globalização
retirou, em grande medida, a agência a boa parte dos atores, e que estruturas eminentemente
globais tinham centrado em si (todo) o poder de decisão (Urry, 2003); ou que a globalização
1
Pimenta, Carlos - (2000a) “Globalização. Prolegómenos, Questão Problemática e Hipóteses” Vértice
- nova série, Nº 94, Abril 2000, pág. 25/41
8
conduz a um conjunto de alterações à política externa, alterando (a importância de) certas
dimensões da política externa de um Estado (nomeadamente, eliminando muitas das funções
da diplomacia clássica) (Jönsson, 2002).

2.4 A influência da globalização na ciência politica versus diplomacia

Como refere Campbell (2015, p. 2), sendo a diplomacia um dos instrumentos que coloca
em prática a política externa, também esta se apresenta mutável perante a conjuntura
internacional, com a abertura das fronteiras e a alteração das prioridades de cada um dos
Estados.

Assim, comecemos por definir a diplomacia como uma das fundações mais importantes
do sistema e das relações internacionais. O século XX ficou, marcado pelo aparecimento
da diplomacia multilateral em detrimento da bilateral, “pela complexidade crescente das
funções diplomáticas e pela personificação da política externa” (Sousa, 2005, p. 64),
tendências que têm vindo a acentuar-se no presente século.

Alguns autores, como é o caso de Brian Hocking (1999, p. 18), argumentam, aliás, que as
organizações estatais perderam, com a globalização, algum do seu poder e monopólio no
que toca ao meio diplomático. Ao mesmo tempo, as organizações não estatais
aumentaram tanto em número como importância ao adquirirem, também elas, estas
funções.

Campbell (2015, p. 5) realça outro aspeto igualmente relevante, perguntando-se se a


globalização alterou de facto a diplomacia. A isto o autor responde que a natureza da
diplomacia se mantém apesar das alterações globais, ou seja, continua a exercer-se em
torno da construção, manutenção e utilização das relações com um fim diplomático
(cooperação, paz, etc). O que se altera, na verdade, é a forma como se faz diplomacia já
que o Estado perde o monopólio e outras entidades entram nesse meio. Posto isto,
partiremos de seguida para uma análise da influência da globalização na diplomacia tendo
em conta três aspetos relevantes: a soberania dos Estados, o conceito de guerra e os meios
de comunicação/tecnologias

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2.4 Globalização Hegemônica x Globalização Contra-Hegemônica

Para introduzirmos o tema da globalização hegemônica e sua contrapartida contra


hegemônica, precisamos nos deter primeiramente no conceito de “hegemonia”, como ele é
entendido na Ciência Política e nas Ciências Sociais de uma forma geral, e como nós o
adotaremos na análise da globalização da participação política. A palavra hegemonia vem do
grego eghestai, que significa “conduzir”, ser “guia”; ou do verbo eghemoneuo, “comandar”,
“preceder” e dá origem à palavra hegemonia que significa o ato de caminhar à frente,
liderando2

O pensamento político moderno tem como uma de suas principais fontes para o entendimento
do fenômeno da hegemonia a tradição marxista, expressa principalmente através dos escritos
de Lênin e Gramsci. Ao buscar entender a fundo como se dá a dominação da classe dominante
a partir, principalmente, da afirmação de Marx de que “as idéias dominantes são as idéias da
classe dominante”, o que mais tarde foi resumido simplesmente como ideologia da classe
dominante, os teóricos marxistas que se aprofundaram na análise da dinâmica .

Resumir o conceito de hegemonia de Gramsci é uma tarefa inglória e injusta com o teórico,
mas algumas vezes o trabalho nos impõe estas arbitrariedades. A grosso modo, poderíamos
dizer que, em Gramsci, a hegemonia de um certo grupo social é a representação dos interesses
políticos e valores culturais deste mesmo grupo. Através destes interesses, o grupo dominante
exerce uma dominação política e cultural sobre outros grupos sociais “aliados” influenciados
por ele, restando para os inimigos: a violência e a coerção. A hegemonia não é exercida
somente através da produção do consenso, e nunca é aceita de forma passiva, por mais
abrangente que tenha se tornado seu campo de influência e dominação. O grupo hegemônico é

2
Gruppi, L. O conceito de hegemonia em Gramsci (1978).
10
obrigado, portanto, a estar sempre se renovando e se modificando de modo a neutralizar o
adversário, até mesmo incorporando suas reivindicações, de forma maquiada e sem
comprometimento dos valores essenciais do grupo hegemônico

Santos identifica processos hegemônicos e contra-hegemónicos como componentes da


globalização neoliberal. As forças representadas em cada um desses processos são as
responsáveis pelo conjunto de tensões e disputas características do momento atual. As forças
impulsionadoras da globalização hegemônica têm um centro nos países centrais do
capitalismo que formam um bloco juntamente com agências financeiras e empresas
multinacionais. Suas principais diretrizes estão expressas no Consenso de Washington (Estado
fraco, democracia liberal, primazia do direito, ocidentalização cultural) (Santos, 2001).

As forças da globalização contra-hegemónica são mais difusas, representadas principalmente


pelos países do sul ou periféricas, pelos processos de resistência ativa, mobilizações sociais,
iniciativas locais não hegemônicas de experiências democráticas, redes de cooperação,
afirmação de culturas e identidades, lutas por direitos.

Para o autor, são quatro as formas de globalização, duas hegemônicas e duas contra-
hegemónicas. Uma primeira, hegemônica, ele denomina de localismo globalizado, é o
processo através do qual determinado fenômeno local é globalizado com êxito e se difunde
pelo mundo. A proliferação do uso da língua inglesa é um exemplo de difusão de um modo de
vida anglo-saxão. A conseqüência desse processo seria a exclusão ou a inclusão subalterna de
outros modos de vida, ou outras expressões linguísticas, conforme o exemplo. Já o globalismo
localizado, outro modo de produção hegemônica, reflete o impacto local ou regional de
práticas transnacionais. Os exemplos poderiam ser a degradação do meio ambiente, o
aquecimento global, o aumento do fluxo de capitais e bens culturais.

2.5 Sociedade civil vs globalização

A construção de uma vontade coletiva mundial que representa o exercício das investidas
contra-hegemônicas tem se dado no seio de uma emergente sociedade civil global. A idéia da
existência de uma sociedade civil global é eminentemente contra-hegemónica, uma vez que o
pensamento hegemônico percebe o mundo divido em Estado e mercado, em que, por um lado,
a sociedade civil se dilui no próprio estado, privatizado, e por outro a sociedade civil é a
extensão da esfera do mercado:

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Se a grande lição a ser extraída do colapso do socialismo é a do penoso erro envolvido na
pretensão de construir uma cidadania democrática socialista prescindindo inteiramente do
mercado e do princípio do mercado, a experiência dos países capitalistas avançados e de
tradição liberal-democrática deixa claro que a construção de uma cidadania democrática no
âmbito do capitalismo não pode, por seu turno, prescindir do Estado (Fábio W. Reis, 2000).

A idéia subjacente é a de que a utilização do termo sociedade civil turvaria o exercício de


entendimento da realidade, pois seria impossível excluir a idéia de “interesses” do âmbito da
sociedade civil, uma vez que a ação dos movimentos sociais, por exemplo, que se desenvolve
no seu interior, se dá de forma estratégica na busca de seus objetivos e no exercício da
resistência. Sendo, portanto, impossível despojar este universo da idéia de mercado. Dentro
do projeto de globalização hegemônica, tal concepção caminha ao lado da difusão da
democracia representativa liberal como receitas de sociabilidade contemporânea. Deste modo,
espera-se que os cidadãos estabeleçam com a política uma relação utilitarista, visando
meramente a realização de interesses individuais.

Deste modo, para Rousseau, a sociedade civil é também a sociedade civilizada, mas não é
ainda a sociedade política, como em Hobbes ou Locke. A sociedade política, para ele, só
surgirá do contrato social e representará uma superação da sociedade civil. Rousseau introduz
um entendimento que será encontrado nas futuras teorizações sobre sociedade civil,
significativamente em Marx, o da contraposição entre Estado, ou sociedade política, e a
sociedade civil. Já para Hegel, responsável pela introdução de um terceiro significado de
sociedade civil, ela estará no meio do caminho entre a forma mais primitiva, ou natural, de
sociedade que é a família e o Estado que seria a forma mais ampla e desenvolvida de
organização social.

O Estado, ou, a sociedade política, superaria e sublimaria as formas anteriores de


sociabilidade. A sociedade civil de Hegel é a dissolução da unidade familiar em classes
sociais que obedecem à dinâmica das necessidades econômicas e promovem uma primeira
tentativa de regulamentação externa dos conflitos humanos, sem a organicidade, porém,
característica da forma definitiva de sociabilidade que será o Estado. Assim como Rousseau,
Hegel contraria os primeiros jusnaturalistas diferenciando a sociedade civil do Estado e dá ao
último um status de excelência e superioridade, e relegando à sociedade civil a condição de
reino das necessidades.

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As implicâncias da globalização hegemônica sobre a dinâmica dos Estados nacionais têm se
manifestado, principalmente, através de uma crescente redução da capacidade de controle
sobre o que se passa dentro e fora do território nacional; diminuição do poder de intervenção
na economia; estabelecimento de colaboração internacional em responsabilidades essenciais
como defesa e comunicação; aumento sucessivo do grau de integração política com outros
Estados, ex: OEA (Organização dos Estados Americanos) e UE (União Européia), ou através
de agências como FMI, BM e OMC; crescimento de instituições, organizações e regimes que
constituem a base de uma governança global.

Considerações finais

Esta pesquisa apresentou diferentes perspetivas sobre a relação entre globalização e a ciência
política .

O conceito de globalização e a noção de global permanecem pouco compreendidos,


nomeadamente numa dimensão na ciência politica . Tidos como demasiado abrangentes, ou
apenas sinónimos de uma integração económica global, foram largamente menorizados ou
ignorados por decisores e cientistas políticos.

No desenrolar desta pesquisa concluímos que, o conceito de globalização e a noção de global


entraram nas realidades económicas, políticas, sociais e culturais no final do século XX, e
ganharam um espaço-chave na discussão desses fenómenos. Outro sim um mundo
globalizado existe uma interação e interdependência entre os sistemas nacionais e os sistemas
mais vastos. Não é apenas a dimensão económica que propicia a globalização, também o
nível político, social, cultural e tecnológico assumem um papel fundamental. Havendo
uma interdependência entre estas dimensões, podemos considerar a globalização como um
facto social total. Dentro destas, podemos destacar o desenvolvimento das tecnologias da
informação comunicação que vieram intensificar a velocidade das interações entre os
povos e consequentemente impulsionaram a globalização.

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Bibliografia

Castells, M. A (2010). Sociedade em rede - A era da informação: economia, sociedade e


cultura. Tradução Roneide Venancio Majer. 6a ed. São Paulo, Brasil: Paz e Terra

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