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Mesa Examinadora
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(Supervisor)
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(Presidente do júri)
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(Oponente)
Declaração de honra
Eu, Matilde Luís Chauca, declaro por minha honra que este trabalho nunca foi apresentado em
nenhuma instituição académica para aquisição de um nível, foi resultado da minha pesquisa com
o auxílio das obras bibliográficas que aqui foram devidamente referenciadas.
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Matilde Luís Chauca
(Proponente)
i
Dedicatória
Dedico este trabalho aos meus pais (Anubi e Ana em memória), por me terem “iluminado” na
concretização de meus sonhos, o maior exemplo que tenho na minha vida, sem as suas palavras e
força, não teria conseguido finalizar está tão difícil e importante tarefa, bem como a minha
esposa, Eulália pelo carinho, meus filhos Nito, Edilson, Elísio, e Mónica pelo apoio e estímulo,
amo vos muito.
ii
Agradecimentos
Os meus agradecimentos são extensivos aos docentes deste Instituto Superior de Artes e Cultura,
em particular aos da Faculdade de Gestão e Estudos Culturais que muito contribuíram para que
tivesse um manancial académico de forma a chegar a um nível de saber pintar estes papéis em
branco que as transformo num património académico não apenas para mim mas, para toda a
comunidade académica.
Aos meus eternos colegas vai o meu muito obrigado, pelo companheirismo neste processo de
busca da ciência, desbravando o terreno para ir ao encontro da maturidade académica, ao longo
dos quatro anos. Aos amigos e colegas que muito me apoiaram directamente: Sandra; Maria
Justino; Maria Manjate, Marta; Ângelo; Katia; Nguilozy; Caldeus; Micaela e Rampa, pela
disponibilidade e esforço na troca de experiência e material académico.
iii
Resumo
Neste estudo que discorre sobre o tema mediação cultural e eventos, tendo como estudo de caso
as Estratégias e Acções de Mediação Cultural no festival Marrabenta na Vila de Marracuene,
buscam-se nele os argumentos teórico-práticos dos intervenientes deste evento, no processo de
aproximação do público assim como acções que contribuem na formação do público consumidor
deste festival. O quadro metodológico deste trabalho foi composto por métodos de abordagem
indutivo e histórico, e constitui uma pesquisa de carácter qualitativo, com uma abordagem
bibliográfica e exploratória. Feito o trabalho, foi se constatando que as estratégias e acções de
mediação cultural realizadas no festival, parte delas estão previstas na proposta avançada por
Wendell (2013), entretanto, a maioria delas não são aplicadas o que faz com que haja uma
conflitualidade no que diz respeito as teorias e a prática. O público mostrou-se igualmente meio
triste por falta do seu envolvimento no processo organizativo do evento.
iv
Lista de abreviaturas
UP – Universidade Pedagógica.
v
Índice
Capitulo I
1. Introdução..........................................................................................................................8
1.3. Justificativa...................................................................................................................11
Capitulo II...............................................................................................................................13
2.1Teoria de base.....................................................................................................................13
2.2.1 Cultura.............................................................................................................................14
2.2.2 Mediação.........................................................................................................................15
2.2.3Mediação cultural.............................................................................................................16
2.2.4 Festival............................................................................................................................17
2.2.5 Marrabenta......................................................................................................................18
Capitulo III.............................................................................................................................20
3.Metodologia..........................................................................................................................20
3.1Tipo de Pesquisa.................................................................................................................20
3.1.1Pesquisa qualitativa..........................................................................................................20
3.1.2Pesquisa exploratória.......................................................................................................20
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3.2.Método de Abordagem.......................................................................................................21
3.2.1Método Indutivo...............................................................................................................21
3.5Tipos de amostragem..........................................................................................................22
Capitulo IV
5. Considerações Finais
6. Referências Bibliográficas
Apêndices
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Capítulo I
1. Introdução
O presente trabalho faz uma abordagem sobre a Mediação Cultural e eventos, tendo como caso
de estudo o Festival Marrabenta analisando as acções e estratégias de mediação cultural.
É desta feita que neste nosso trabalho preocupou-nos a questão de perceber como é que o
Festival Marrabenta consegue mobilizar o público através das estratégias e acções por eles
implementados. De modo a percebermos essa questão, teremos que olhar para as etapas da
mediação cultural que se assentam nos postulados da Ney Wendel (2013).
Nesta senda, este trabalho visa na sua plenitude analisar as estratégias de mediação cultural no
festival Marrabenta na Vila de Marracuene, olhando para as acções que são implementadas na
mobilização do público para a sua aproximação do evento, enquanto produto cultural.
Este trabalho encontra-se subdividido em três partes, sendo Introdução; Enquadramento Teórico
Conceptual, a Metodologia, Análise e Interpretação dos Resultados, e por fim as respectivas
Referências bibliográficas.
8
1.1. Delimitação do Tema
O estudo centra-se na Mediação Cultural e Eventos, o caso das Estratégias de Mediação Cultural
no Festival Marrabenta na Cidade de Maputo no período de 2008 a 2018. Os Festivais fazem
parte do rol das actividades que são sustentadas pela Política Cultural (PC) Moçambicana e
estratégias da sua implementação adoptada em 1997, pela Resolução nº 12/97, aprovada a 10 de
Junho que constitui um instrumento legal que regula a actividade do governo na sua articulação
com os demais intervenientes na promoção e desenvolvimento da cultura moçambicana. Na
alínea c) do ponto 2.2.1 da Resolução referida, figura como um dos objectivos gerais na
promoção, respeito, a valorização e aceitação das manifestações culturais de cada comunidade.
A delimitação temporal deste trabalho afigura-se ser de 10 anos, ou seja, no intervalo de 2008 à
2018. A causa fundamental da realização do estudo neste intervalo de tempo justifica-se pelo
facto de ser o período da implementação da primeira edição do Festival Marrabenta e, não só,
mas também porque o assunto em estudo é dinâmico e, como tal, este espaço temporal permite-
nos fazer um estudo detalhado e próximo da actualidade. Enquanto o ano 2018 afigura-se como o
ano que este evento completa dez anos da sua existência/execução o que pressupõe fazer-se a
respectiva análise.
Relativamente à delimitação espacial, importa dizer que o estudo foi realizado na cidade de
Maputo, porque nesta cidade é notável a mega diversidade e intercâmbio cultural a nível
nacional, através dos Festivais, mas também pelo facto do festival realizar-se no respectivo
município de Maputo.
Porém, importa salientar que o festival de Marrabenta não é um acto exclusivo do município de
Maputo, mas também uma característica de outros pontos do país assim como fora de
Moçambique. Neste contexto, destacamos apenas como exemplos alguns festivais de Música
realizados dentro e fora da cidade de Maputo: o Festival de Zouk; o Festival Jazz; o Festival de
Batuque, Festival da Praia da Barra, na Cidade de Inhambane; Festival de Música Cope (de
Timbila), Festival de Zalala, província de Zambézia, Festival de Lago, na província de Niassa,
etc.
Embora a pesquisa esteja somente centrada apenas na cidade de Maputo, não se descura a
possibilidade de fazemos menção de outros Festivais de música realizados em outros pontos do
país assim como fora de Moçambique, tal é o caso do Festival de Música do Rio de Janeiro em
9
Brasil, apenas para efeitos de demonstração da forma como o festival de Marrabenta faz uma
intervenção entre o público com os artistas e ou vocalistas para promoção das artes e cultura.
O tema da mediação cultural readquiriu nas três últimas décadas muita relevância nos discursos
políticos e programáticos que apelam à formação e atracção de públicos para as artes e cultura.
Este apelo está muito associado ainda aos princípios da “democratização cultural”. Ele traduz
igualmente as preocupações de sustentabilidade sentidas por agentes e instituições culturais, num
contexto em que o poder público tende a desvincular-se do financiamento à cultura.
A realização de vários eventos na Cidade de Maputo tais como os festivais de música, teatro, da
pequenada, AZGO, etc., nos trouxe uma reflexão no que diz respeito aos aspectos da Mediação
cultural nos mesmos em geral e no festival de Marrabenta em particular, pois este, já decorreu
cerca de Dez edições ininterruptos.
Manjate (2012:3), citando da Silva (2009) refere que a “apropriação do mundo cultural só pode
acontecer pela participação do outro e que ela acontece através de livros, filmes, música, entre
outras apresentações culturais pois a humanização do indivíduo confunde-se com apropriação da
cultura”.
Por sua vez Barbosa (1999:2) diz que “através da arte é possível desenvolver a percepção e
imaginação, aprender a realidade do meio ambiente, desenvolver a capacidade crítica, permitindo
analisar a realidade percebida e ainda mais a criatividade de maneira a mudar a realidade
analisada”. Para este autor a arte potencia uma linguagem dos vários sentidos de linguagem. Isto
é, não se pode conhecer a cultura de uma certa sociedade sem se conhecer a sua arte.
Portanto, após várias leituras de artigos, teses, que falam sobre a mediação cultural, deu para
prestar atenção no que tange à pertinência de discutir esta temática de modo estudarmos as
estratégias de mediação cultural para divulgar as artes e cultura particularmente o Festival
Marrabenta de modo a formarmos novo público para este mesmo evento assim como promover e
criar parcerias entre os diversos organizadores dos Festivais. Visto que de um de um modo geral,
os festivais desempenham um papel importante na criação de uma coesão entre artistas, o
público assistente, assim como na educação e transmissão de valores culturais da sociedade.
10
Batista (2014:8) afirma que “o festival é uma acção cultural, na qual se cria um espaço de
interacção efectiva com a comunidade, a formação de plateia, a ampliação do olhar artístico, a
troca de conhecimento e o estabelecimento de um espaço que favoreça a experiência”.
Foi diante deste elementos todos que arrolamos acima, que nos despertou a curiosidade de
estudar sobre esta temática que nos levará a perceber: Quais são as Estratégias de mediação
cultural aplicadas no festival Marrabenta na Cidade de Maputo?
1.3. Justificativa
A escolha deste tema fundamenta-se sendo uma curiosidade pessoal, pois, percebeu-se durante o
decurso das aulas teóricas e práticas em salas de aula, a notória escassez de manuais sobre
estratégias de mediação cultural nas manifestações artísticas locais.
Embora estejamos cientes que existem outros factores de extrema importância que nos
influenciam nesta curiosidade académica, tais como: A contribuição de abertura de espaço para
novas discussões em torno dos festivais, mostrando sua importância na educação do homem,
espera-se contudo, que com este trabalho possamos contribuir no âmbito académico
enriquecendo o manancial literário na área de estudos culturais para novas investigações em
outros ângulos desta abordagem.
Não obstante, estamos convencidos de que se trata de uma proposta temporal e espacialmente
situada, de tal modo que se por ventura uma pesquisa venha a ser desenvolvida futuramente, a
reflexão seguinte venha corresponder aos objectivos aqui tentados responder.
Outra das razões que nos levou a abordar sobre este tema, foi o facto de tentarmos procurar uma
forma de demonstrar à sociedade a aplicabilidade das estratégias de Mediação Cultural nos
Festivais culturais, no caso, o de Marrabenta na Cidade de Maputo.
11
1.4. Objectivos do trabalho
12
Capítulo II
Portanto, neste trabalho esta teoria ajudou-nos na percepção dos diversos meios que foram
integrados na divulgação e promoção dos eventos no caso do Festival Marrabenta que vem sendo
realizado na Cidade de Maputo. Esses meios serviram como os instrumentos de mobilização para
dar a conhecer o que é o Festival Marrabenta e qual é a sua função. Portanto os signos referidos
pelo autor acima sustentam na plenitude o que o Festival Marrabenta representa e desenvolve nas
comunidades locais e não só como também para as outras no geral. A partir das funções que o
Festival Marrabenta desempenha, podemos aferir que este evento representa uma marca não
apenas para os organizadores como para o público no geral.
13
Partindo da afirmação de Pino (2005:53), de que a humanização do indivíduo confunde-se com o
processo de apropriação dessa cultura, o âmbito escolar apresenta-se como fórum privilegiado
para que aconteça esta apropriação e, o professor, como singular agente mediador deste processo.
No entanto, no nosso trabalho e tendo em conta a teoria escolhida para este efeito, torna-se
relevante aferir que o processo de apropriação neste caso pode ser alcançado pela insistência na
explicação das razões que ditaram a permanência deste evento até ao presente momento. A partir
daí pode-se conseguir estender a apropriação deste evento para o público da Cidade de Maputo e
não só como também dos outros apreciadores deste evento.
Portanto, esta teoria é pertinente neste trabalho porque contribui para o desenvolvimento
intelectual do indivíduo, visto que este não se pode separar do meio social onde está inserido, e
dado que os desenvolvimentos das funções psicológicas superiores dão-se primeiro no plano
social, só depois passam para o plano individual. Assim, a transmissão e a aquisição de
conhecimentos e padrões culturais é possível através da interacção no plano social e no plano
psicológico. Havendo espaço de mediação cultural, que é o espaço do público.
2.2.1 Cultura
Este conceito tem várias atribuições quanto ao seu significado e percepção. Porém, neste
trabalho apresentamos pensamentos de alguns dos vários autores que falam do mesmo:
GOMES (2005) afirma que Cultura é uma memória social, é um depósito de informações
históricas para futuras gerações e sociedades. E como mediadora interna das relações sociais, a
cultura é um modelo que regula o relacionamento interpessoal em diferentes instâncias.
14
Neste trabalho, privilegiamos o conceito avançado por LINTON (1943), por este apresentar uma
generalidade do que pesquisamos, para além de que faz abordagem similar aos objectivos deste
trabalho de pesquisa.
2.2.2 Mediação
Segundo WILLIAMS, (2007) citado por MATUSSE (2012), a palavra mediação vem do latim,
mediane - dividir ao meio, ocupar uma óptica média, agir como intermediário, a mediação está
relacionada a diversos contextos, sejam eles teóricos ou práticos. Deste modo, a mediação pode
ser entendida de diferentes formas, dependendo do contexto onde aparece. Vygostski (2008)
apresenta-nos um conceito semelhante ao afirmar que a transmissão racional e intencional de
experiências e pensamentos a outros requer um sistema mediador, cujo protótipo é a fala humana
oriundo da necessidade durante o trabalho.
O significado mais corrente de mediação vincula-se à ideia do intermediário. Como tal é a noção
utilizada num contexto da epistemologia behaviorista, como "elos intermediários” entre o
estímulo inicial e a resposta, gerando “ao mesmo tempo, as respostas aos estímulos que os
precedem e, por sua vez, estímulos para os elos que seguem", DUBOIS (1997).
Podemos entender a mediação como acção que envolve partes distintas e independentes. Deste
modo, apresenta-se como terceiro termo autónomo e entre partes nos processos de interlocução
e/ou de interacção, como algo que acontece, seja entre os membros de uma comunidade, seja
entre um individuo e uma interface numa rede digital. PASCHOAL (2009)
15
entre o estímulo inicial e a resposta, gerando “ao mesmo tempo, as respostas aos estímulos que
os precedem e, por sua vez, estímulos para os elos que seguem”.
COELHO (1997) citado por JOÃO (2012:45) diz que “mediador cultural é todo aquele que
exerce actividades de aproximação entre indivíduos ou grupos e as obras de arte e cultura”.
Portanto, a mediação pode ser o acto de aproximar duas coisas que estão distantes, esta pode
acontecer por acção directa do mediador ou pela acção indirecta através de objectos de
exposição, médias, das configurações de espaços reais e virtuais. Os processos de mediação
implicam sempre discursos, significações, interpretações, condições do mundo que os seres o
habitam.
As acções de mediação não acontecem por nada, mas sim implicam linguagem, objecto e sujeito
em relações dinâmicas, constituem actividades discursivas, onde dialogam, negociam
simbolicamente estratégias e criam performances.
“O termo mediação busca trazer de forma explícita a noção de acessibilidade, sendo que para
haver uma mediação é importante que se tenha uma obra e algum público. A mediação cultural
agrupa o conjunto das acções que visam reduzir a distância entre a obra de arte ou objecto
artístico ou produto cultural, do público e as populações1ˈ”.
Desde os anos 1970 que a questão da mediação cultural assume uma clara relevância política e
programática na Europa, evidenciada por discursos e práticas que sublinham a importância do
desenvolvimento de programas de formação, qualificação e atracção de públicos para as artes e a
cultura. Entende-se, nesse contexto, a mediação cultural como um imperativo social LAMIZET
(1999), numa visão que sublinha a importância da cultura como sustentáculo civilizacional,
associada quer à manutenção de uma certa memória histórica e social, quer à construção de
determinados cânones de sociabilidade no espaço público – aqui entendido num sentido ideal
típico, enquanto contexto particularmente favorável ao desenvolvimento de práticas colectivas de
sociabilidade e de cidadania activa.
A mediação cultural exerce-se com populações, seja como organizações face a face (…) (Caillet, 2000:9 citado por
1
Costa 2009:5).
16
Segundo COSTA (2009:2), “a mediação cultural é entendida como um processo que a sociedade
dá para representar-se ela própria nos espectáculos e nas práticas artísticas, nos seus momentos
na sua arquitectura e nas suas obras de arte”.
DUARTE (2010), por sua vez nos diz que, a mediação cultural circula em torno da necessidade
do acesso à arte como componente essencial na humanização do homem, e como possibilidade
de ampliação da nossa capacidade perceptiva, expressiva e reflexiva. Como argumenta PINO
(2005:13), a “acção mediadora convoca nos homens atitude necessária à compreensão dos
diversos elementos da cultura e da arte na contemporaneidade, pois, possibilita à humanidade a
capacidade de saber transmitir, articular e produzir pensamentos através de signos das artes e
cultura”.
2.2.4 Festival
RIBEIRO (2002) define que os festivais são uma forma de revelar a interacção do ser humano
com o ambiente que o cerca, tornando-se mais uma ferramenta para a compreensão da evolução
17
humana, pois demonstram de maneira geral as culturas das civilizações. O autor acrescenta ainda
que são diferentes aspectos como a comida, as vestimentas, as danças, o comportamento
individual e colectivo, realizados em diferentes espaços e tempos que ajudam na distinção e
caracterização de cada sociedade.
Por seu turno TENAN (2002) apud PETITINGA (2008) define festival como um “evento
artístico-cultural, composto de apresentações previamente seleccionadas, com o objectivo de
competição, divulgação ou promoção comercial. Tem frequência variável e pode acontecer em
ambientes abertos ou fechados”.
GETZ (2001) define festivais como sendo as celebrações de alguma coisa que tem valor na
comunidade e muitos deles celebram, a própria comunidade e foram criados especificamente
para dar ao público alguma coisa a ser compartilhada, para unificar e exaltar o orgulho
comunitário”.
2.2.5 Marrabenta
Segundo muitas pesquisas feitas, esta dança nasceu e se desenvolveu em Lourenço Marques
(hoje Maputo) nos anos 50. Para tal podemos olhar para o estudo feito por LARANJEIRA
(2012), onde refere que:
Durante a época colonial, os grupos de música e dança tradicional só tinham a oportunidade de demonstrar as
suas danças, seus instrumentos e as suas músicas e variantes das suas culturas nos desfiles carnavalescos que
acontecia anualmente. Segundo entrevistas realizadas a vários Músicos da época dos anos 50/60, relatam
firmemente que num determinado momento de um desfile Carnavalesco que passava pela Av. de Angola
junto ao Bairro da Mafalala, um determinado grupo folclórico vindo de Marracuene, apresentava um ritmo
tradicional alegre, com uma melodia contagiante que acompanhava um determinado estilo de dança muito
sensual o que fez com que o público aplaudisse de forma eufórica. (LARANJEIRA, 2012)
Nessa altura já existia o grupo musical Djambo, que actuavam na Associação dos Negros
localizado no Chamanculo. Alguns elementos desse grupo estavam inseridos no público que
assistia ao desfile. Acharam interessante o ritmo que atraia o público e a forma como as
bailarinas dançavam de forma entusiástica.
18
intitulada “ELISA NGOMARA SAIA”, na qual foi apresentada na festa de “fim do ano” que foi
realizada no salão da Associação dos Negros.
Segundo contam alguns elementos do grupo musical DJAMBU e segundo as histórias contadas
por algumas pessoas da época que estavam nesse baile, a música foi tão bem aceite que um
determinado bailarino ao dançar este ritmo gritava “Arrebenta, Arrebenta” de forma a chamar
toda a gente para a pista de dança. Daí ter surgido o nome ..... Arrebenta, Arrebenta … para
“Marrabenta”.
19
Capítulo III
3. Metodologia
Segundo Richardson (1999:90), Pesquisa Qualitativa pode ser caracterizada “como a tentativa de
uma compreensão detalhada dos significados e características situacionais apresentadas pelos
entrevistados, em lugar da produção de medidas quantitativas de características ou
comportamentosˮ.
Quanto ao tipo, a Pesquisa é de carácter qualitativa que é aquela que procura aprofundar a
compreensão de um grupo social, organização e não a representatividade numérica dos
fenómenos. Ou seja, neste tipo de pesquisa, não se procura quantificar valores e as trocas
simbólicas, pois os dados recolhidos e analisados não são susceptíveis de quantificação, visto
que se estudam aspectos da realidade que não podem ser quantificados. Mas sim centra a sua
análise na compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais (GERHARDT e
SILVEIRA, 2009:32).
Foi com esta base que neste trabalho aplicamos principalmente nos métodos a pesquisa
qualitativa por tratar-se de uma pesquisa que pretende compreender as estratégias e acções de
mediação cultural no Festival Marrabenta.
Segundo este autor, a maioria das pesquisas de tipo exploratório baseia-se no levantamento
bibliográfico e nas entrevistas com indivíduos que tiveram experiência prática com o problema
em análise e na análise de evidências que estimulam a compreensão do tema pesquisado.
20
3.2 Método de Abordagem
Segundo (Lakatos, 2001 apud Ramalho e Marques, 2009:9) “o método de abordagem é o debate
de um conjunto de procedimento essencialmente racional, caracterizado basicamente por uma
abordagem mais ampla, em nível de abstracção mais elevado, dos fenómenos da natureza e da
sociedade”.
Do ponto de vista de Marconi & Lakatos, (2003:86), “a indução é um processo mental por
intermédio do qual partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma
verdade geral ou universalˮ. Portanto o objectivo do argumento indutivo é levar a conclusões
cujo conteúdo é muito mais amplo do que das premissas nas quais se basearam.
Marconi e Lakatos (2007:107) advogam que “o foco deste método está na investigação de
acontecimentos ou instituições do passado, para verificar a sua influência na sociedade de hoje;
consideram que é fundamental estudar as suas raízes visando à compreensão de sua natureza e
função actual através de alterações de suas partes componentes, ao longo do tempo,
influenciadas pelo contexto cultural particular de cada época”.
O método histórico consiste em estudar os fenómenos do passado para verificar sua influência
nos tempos actuais.
Usamos o método histórico por ser pertinente e por trazer uma avaliação das informações de
acordo com a evolução histórica do Festival Marrabenta, no sentido de perceber até que ponto
estes se interligam com a mediação cultural tendo em conta as estratégias de mediação cultural
aplicadas nesse evento.
21
3.4 Técnicas de Colecta de Dados
As técnicas de pesquisa são definidas por Trivino (1987) como sendo aquelas que “permitem
explorar todas possíveis perspectivas de conhecimento sobre o assunto, permitindo ao
entrevistado alcançar a liberdade e a espontaneidade necessária na recolha de informação de
modo sistemático.
Para a elaboração deste trabalho, os métodos enunciados foram consolidados pelas seguintes
técnicas: observação directa, a documental, a entrevista Aberta.
Para a realização deste trabalho, recorremos também a pesquisa bibliográfica que consistiu na
revisão da literatura sobre obras tornadas públicas relacionadas com o nosso tema em análise.
Adoptamos a amostragem não probabilística, aquela que faz uso de procedimentos aleatórios na
selecção da amostra, isto é, não obedece as técnicas estatísticas no tratamento dos dados. A
selecção da amostra pode ser feita de forma intencional, por conveniência, por júri, por
tipicidade e por quotas, (MARCONI & LAKATOS 2003).
Para Freixo (2011:182), “uma amostra é constituída por um conjunto de sujeitos retirados de
uma população, consistindo a amostragem num conjunto de operações que permitem escolher
22
um grupo de sujeitos ou qualquer elemento representativo da população estudada. A descrição da
população e da amostra faculta uma boa ideia sobre a eventual generalização dos resultados”. A
amostra foi constituída por 25 elementos, num universo de 40 elementos 2 que habitualmente
constituem o grupo base (técnicos e comunidade local) – na organização do Festival Marrabenta.
A selecção dos entrevistados obedeceu a amostragem por acessibilidade, que segundo Gil
(2008:94), esse tipo de amostragem é destituída de qualquer rigor estatístico. O pesquisador
selecciona os elementos que tem acesso, admitindo que estes possam, de alguma forma,
representar o universo estudado. Aplica-se este tipo de amostragem em estudos exploratórios ou
qualitativos, onde não é requerido elevado nível de precisão.
A análise dos dados foi feita com base na aplicação da técnica de análise de conteúdo qualitativo.
Entende-se por análise de conteúdo ao conjunto de técnicas de análise das comunicações mais
utilizadas nas ciências sociais. É usada, entre outros objectivos, para evidenciar o conteúdo das
entrevistas não directivas. Trata-se da técnica de tratamento de informação contida nas
mensagens, neste caso, do conteúdo recolhido nas entrevistas e pode consistir na análise dos
significados BARDIN (2004). Esta técnica de colecta de dados foi operacionalizada com base no
relatório narrativo descrita a partir dos dados colhidos no trabalho de campo dos nossos
entrevistados.
Comerciantes locais, líderes comunitários, técnicos de actividades económicas, técnicos de saúde e educação,
2
23
Capítulo IV
No seu sentido mais tradicional, o conceito de mediação cultural está directamente ligado à
relação do público com a instituição cultural promotora do evento ou do projecto, do artista com
o espectador, do curador com a curadoria educativa, do museografia e do desenho museográfico
e da exposição com os visitantes. Além disso, estão cada vez mais recorrentes em instituições e
eventos culturais a associação deste conceito com os mecanismos que facilitam o acesso de
pessoas com deficiência à programações e eventos artísticos em geral, (MARTINS, citado por
JUNIOR (2016:897).
A partir deste olhar, a mediação cultural passa a dar maior ênfase na dimensão da acção como
relação, do papel do mediador como aquele que procura ver e operar potencialidades no campo
da arte e da cultura, do espaço onde o educador, o professor, o curador e o espectáculo dialogam
e criam uma rede de relações.
Os festivais de artes cénicas são facilmente identificados por suas características identitárias,
distinguindo-se, dentre outros, pela forma de concepção, organização, curadoria, campanhas de
marketing etc. Neste sentido, um festival é também um amplo espaço de entrelaçamento de
relações sensíveis, trocas de diversas energias, compartilharemos e oportunidades de participação
e debates. E por conta desta organização dos elementos que compõem este tipo de produção
24
espectacular conclui-se que os fenómenos, que dali podem derivar e expandir, dão sentido à sua
existência, continuidade e podem proporcionar espaços para se fortalecer e desenvolver futuras
parcerias.
No que diz respeito à selecção de artistas que participam do festival Marrabenta, o gestor 4 do
evento respondeu sobre este assunto que: Dirigimo-nos para casa de cada artista, onde
interagimos directamente com estes, em jeito de reunião onde explicamos os objectivos do
festival. Adopta-se esta estratégia pois, sem falar e negociar com os artistas face a face, não
seria possível fazer acontecer o evento.
Festivais são realizados com periodicidade regular de forma pública, de estrutura complexa, que
envolve múltiplas vozes cenas e propostas. E, do ponto de vista da mediação artística, as
possibilidades de potencialização das experiências estéticas, nesse contexto, em tese, podem ser
alcançadas por todo o conjunto de alternativas que o evento pode proporcionar no curto espaço
de tempo em que decorre. Deste modo, os festivais configuram-se também como ambientes de
“encontros” que proporcionam a circulação e promoção de obras, artistas, ideias, estéticas e
públicos. São espaços por onde circulam também distintos modos de subjectivação, desejos,
anseios tanto de quem os realiza quanto de quem somente os usufrui. Podem alimentar
expectativas, esperanças, desesperanças e, por vezes, frustrações. São também espaços para
realizações, nos quais, os esforços dedicados por cada dançarino, grupo ou colectivo e agentes
culturais são parcialmente apresentados e compartilhados com os públicos.
É nesta senda que nossos inquiridos5 responderam quanto a questão sobre as estratégias
adoptadas pelos organizadores do Festival Marrabenta dizendo que: as estratégias adoptadas
3
João Cossa, Gestor , proponente e promotor do festival marrabenta residente na Cidade de Maputo.
4
Idem…
5
Marcelo Sitoi, Alfredo Joaquim, Marta Luís, Joaquina Langa, Dinis Miguel, Manuel Biba, e outros (Membros da
Comunidade residente na Vila de Marracuene e apreciadores do Festival Marrabenta)
25
pelos organizadores do evento no que diz respeito a sua abrangência para o público são boas
pois, facilitam na tomada de conhecimento, uma vez que os líderes locais comunicam-nos no
momento da cerimónia de Gwaza Muthini onde todos nos encontramos concentrados para
celebração da nossa e preferida bebida tradicional (Canyú).
Sendo assim, um festival pode ser considerado como um fenómeno onde corpos se encontram e
inúmeros outros fenómenos acontecem. Onde se perde, mas, também se ganha fôlegos. Espaços
no qual, sujeitos, espectadores, públicos, colaboradores se encontram para também poder
exercerem sua política e sociabilidade. Para Bones (2017), embora existam poucos estudos sobre
festivais eles contribuem para a cidadania actuando como importante instrumento de difusão,
intercâmbio e formação. Para o autor é importante colocar em pauta a discussão sobre a função
dos festivais nos contextos artísticos e sociais. Pois, acredita-se, em parte, que alguns festivais
deixaram de actuar como espaços de fricção artística e política transformando-se em “festivais
boutiques”. Essa transformação, segundo o autor, pode ter sido gerada por um conjunto de
tensões contemporâneas como: o esvaziamento dos encontros, dos debates e actividades
formativas; ou pelo fato de que, com o tempo e expansão, “os festivais se tornarem organizações
mais complexas” e com poucos recursos investidos (Bones, 2017). Se antes um festival atraía o
público, entre outros, por trazer novidades, hoje já não podemos ser tão fiéis assim a esta
suposição, pois, a função novidade se relativizou segundo o autor.
Bones é convicto de que existem potencialidades na existência dos festivais, mas também aponta
a instalação de uma crise salutar, no que diz respeito a sua função na actualidade. Nesse sentido,
“um festival não pode ser somente uma colecção de bons espectáculos, mas, sim, se apresentar
como construtor de um discurso, enraizado na comunidade na qual está inserido e com a
consciência de seu carácter político e social” (Bones, 2017).
É neste contexto que os nossos entrevistados 6, público espectador teriam falado do valor
educativo que o Festival Marrabenta apresenta para as suas comunidades, onde referenciou das
temáticas das Musicas de alguns artistas tais como: Xidiminguana, Dijon Ndgindgi, Gorowane,
entre outros que tem temas educativos nas suas actuações: o festival Marrabenta para além de
trazer alegria e animação nas nossas vidas, traz consigo também uma componente educativa
6
Marcelo Sitoi, Alfredo Joaquim, Marta Luís, Joaquina Langa, Dinis Miguel, Manuel Biba, e outros (Membros da
Comunidade residente na Vila de Marracuene e apreciadores do Festival Marrabenta)
26
tendo em conta as temáticas das músicas cantadas por alguns cantores participantes do festival,
principalmente os músicos velhos.
Assim, é preciso alargar o olhar para os públicos e espectadores que compõem a cena dos
festivais, sem que, esta prática esteja voltada somente para um retorno de dados quantitativos ou
criação de frases para status das redes sociais dos festivais. A consciência do carácter político e
social de qualquer produção artístico cultural, na actualidade, revela que mais importante do que
ter uma boa propaganda é necessário compartilhar encontros com outras pessoas de modo
verdadeiro e não somente superficial. Pois, a possibilidade de uma conexão real só é provável
quando há compartilharemos da dimensão particular para particular.
WENDEL, (2013) refere que o público contemporâneo quer jogar, participar, integrar e criar
junto com os fazedores culturais. Os espaços delimitados para o público mudaram, pois em
qualquer lugar pode-se ter uma obra cultural. O lugar estático e receptivo do púbico mudou para
um movimento mais criador e questionador. É um ato desumano tratar o público apenas como
um comprador de bilhetes para um evento cultural. Nesse sentido, ele é visto apenas como
consumidor que serve a um empreendimento financeiro. É essa forma de pensar que alimenta a
prática errónea de que o fato de distribuir ingressos para população significa já estar se
realizando uma formação de público. O mesmo desrespeito se dá quando o público é tratado
como vitrina, visto como uma quantidade de objectos numéricos que se aglomeram para aplaudir
determinada obra sem saber por que fazem isso. Os fazedores culturais devem valorizá-lo como
seres humanos presentes que têm suas emoções, histórias de vida, valores, ideias etc. É por isso
que é necessário envolvê-lo antes do evento cultural, para que ele esteja presente como público
consciente, autónomo e criador.
27
também que os processos organizacionais dos eventos ao envolver os membros da comunidade
local, não apenas coloca as pessoas a se sentirem donos do evento como também facilita na
divulgação do mesmo assim como contribui na divulgação das potencialidades agrícolas,
culturais e económicas da sua comunidade.
Portanto, estas são passos sugeridas por RUBIM referentes ao processo de produção de um
sistema cultural (evento cultural) no nosso caso festival Marrabenta, cujo objectivo é a venda ou
promoção de um produto cultural. No concernente as tarefas do produtor cultural, a actividade de
organização ou produção da cultura abrange normalmente, pelo menos, três fases: Pré-produção;
Produção e pós-produção.
Olhando para as etapas avançadas por RUBIM (2005), de ponto de vista de produção, há que
fazer uma similaridade com as etapas de mediação apresentadas por WENDELL (2013), onde é
possível verificar a existência de uma semelhança no que tange às fases de organização de um
evento. Isto é, Wendell (2013) faz referência a três etapas da organização de um evento que são:
ANTES, DURANTE e DEPOIS, onde o DURANTE constitui o ponto mais alto dessas etapas
28
por ser aquele momento em que o público tem a oportunidade de entrar em contacto (em cena)
directo com o produto cultural.
São etapas que conduzem o público de forma artística e pedagógica para potencializar esse
instante único e pessoal do encontro com a obra/produto cultural.
a) Mobilização (o público é incentivado por diversas informações que são divulgadas, gerando
um interesse e criando um entusiasmo em experienciar o produto cultural).
b) Sensibilização (o sensibilizar se desenvolve pela própria força e valor do produto cultural,
alimentando uma mediação que estimule esteticamente o público na sua emoção, reflexão e
vontade).
c) Preparação (há um acesso aos conceitos, técnicas e estéticas que envolvem o produto
cultural, em que o público aprende a reconhecer os elementos mais diversos das obras que ele
entrou em contacto).
Das entrevistas feitas como as comunidades locais da Vila de Marracuene, foi possível perceber
que estes só participam na etapa Durante pois, as outras etapas não são comunicados. Ou seja,
ficam sem saber como é que esses eventos são organizados, onde podemos colher que: No que
diz respeito a organização do festival nunca fomos comunicados pois, só ficamos a saber que
haverá festival na cerimónia de Guaza Muthini e pelas rádio e televisão. Mesmo que a gente
tenha alguma opinião para propor não temos espaço porque não somo convidados nas reuniões.
Isso em algum momento nos deixa frustrados porque quase que sempre quando há festivais os
organizadores colocam as suas barracas móveis onde vendem os mesmos produtos que nos
vendemos e as vezes a preços muito baixos que os nossos e nos como residentes que deveríamos
aproveitar ganhar algum não saímos com nada ou seja, ficamos prejudicados7.
7
Marcelo Sitoi, Alfredo Joaquim, Marta Luís, Joaquina Langa, Dinis Miguel, Manuel Biba, João Machava, Patrício
Beula, Franciso António, Floriana Maurício e outros (Membros da Comunidade residente na Vila de Marracuene e
29
Nesta etapa, no que podemos perceber dos entrevistados, ocorrem duas características da
primeira etapa de mediação cultural nomeadamente: Mobilização e Sensibilização. Isto pode
perceber-se tendo em consideração os argumentos apresentados pelos entrevistados acerca da
forma como são comunicados sobre a realização do evento, que é dada durante as comemorações
de mais uma época de Canyú e Guaza Muthini. Importa aqui referenciar que mesmo a segunda
característica (Sensibilização) não é feita de acordo com os padrões avançado por Wendell, o que
nos leva arriscar em dizer que esta também não acontece nesta etapa.
Na segunda etapa DURANTE, percebe-se como sendo aquele momento em o público entra em
contacto com a obra de arte ou produto cultural. Este é o momento crucial e único do evento, e
para o nosso caso do festival Marrabenta pois, é onde cada um tem a oportunidade de deliciar-se
dos produtos artístico-culturais fornecido no festival e a interacção com os artistas acontece
igualmente nesse instante.
Porém, esta etapa por sua vez apresenta suas características a saber:
Reflexão (para que seja efectivada a relação com a obra, devem ser criados meios livres de
reflexão sobre o que ela traz ou apresenta para o público, alimentando a aprendizagem cultural).
De acordo com Wendell (s/d:31) “as acções do durante acontecem no momento do encontro do
público com o produto cultural. É desde sua chegada ao espaço até sua saída. Passa-se pela
descoberta e conhecimento do local, pelo contacto directo com a obra e por fim a sua reflexão
sobre a produção estética a partir do que foi vivido. O momento durante é para digerir ao
máximo a obra e viver toda a riqueza deste encontro singular para a vida pessoal e social de cada
um.
Prosseguindo com a análise das etapas de mediação cultural podemos destacar a terceira
denominada DEPOIS, que é aquela que acontece depois de todas as actividades do evento sendo
30
em outras palavras a Pós-produção. Esta por sua vez é caracterizada pelas seguintes
características:
Reverberação (a mediação ajuda que a obra continue a reverberar na vida pessoal e social do
público).
Ao longo das entrevistas podemos solicitar por parte dos organizadores 8 (Gestores do Festival
Marrabenta) sobre as etapas que compõem a organização a realização do Festiva Marrabenta na
Vila de Marracuene, onde ficamos sabendo que: Primeiro selecção de artistas em termos do seu
produto (Musica). O Artista é obrigado em trazer sua música, em seguida é avaliado seu
trabalho que pode ser aprovado ou reprovado. Aprovado o seu produto (música), em seguida vai
se para alinhamento de ensaios, nos nossos estúdios, onde mete-se o artistas ou as bandas, isto
antes de acontecer o evento ou o show, os ensaios tem período de 45 dias é muito exigente.
Destes argumentos dos gestores do festival Marrabenta, podemos afirmar que as três etapas de
mediação acontecem no festival Marrabenta, ou seja, os gestores seguem as três etapas, porem
carecem de fazer cumprir na íntegra as características das três etapas pois, ao que podemos
perceber é que nem todas ocorrem como postula Ney Wendell (2013).
O processo da mediação, ele é recebido de forma organizada, com toda uma sequência entre
entrada, circulação no espaço, vivência da obra, reflexão e produção estética. Dependendo do
tipo de produto cultural, o contacto é um instante de socialização, pois a experiência estética é
realizada em colectivo. Numa concentração de pessoas diante de um produto artístico, gera-se
uma interferência entre um público e outro. O que se viveu individualmente com a obra naquele
instante está vinculado a todos que a vivenciaram juntos.”
8
João Cossa, membro da equipa de produção e fundador do Festival Marrabenta.
31
Deste modo, as actividades são realizadas em um período anterior ao dia de o público vivenciar o
produto ou evento cultural e são estabelecidas por cada projecto. É uma etapa em que cada
actividade deve mobilizar, sensibilizar e preparar o público para o momento fundamental da
mediação que é ele encontrando a obra. Cada proposta de mediação deve criar formas de
envolver o público a partir de seu contexto e de seu perfil. Os tipos de actividades são as mais
variadas possíveis e atendem as características de cada proposta cultural. O fundamental é abrir
ao público os códigos conceitua de acesso à experiência cultural ligada à obra específica; abrir as
referências estéticas e sociais de cada obra e seus elementos mais diversos; abrir a proposta do
que, como e por que existe este projecto cultural. É deixá-lo viver seu papel de público
consciente, criativo e livre para gerar sua forma de experiência estética, mantendo o prazer das
descobertas em cada etapa.
Ademais, o público que participou das etapas anteriores da mediação cultural pôde permanecer
vinculado ao projecto cultural. Isto é, o produto cultural vivenciado no Festival Marrabenta é
algo que se amplifica na experiência vivida com a obra durante o evento, gerando assim, uma
reverberação dos temas, das emoções, das ideias que foram despertadas pela obra. Nas
actividades executadas, o público internaliza mais ainda o que foi sentido e reflectido,
conectando a sua vida pessoal e social. Esta é uma forma de manter as pessoas como público
assíduo e integrado às novas programações do produto cultural, exibido no Festival Marrabenta.
Efectiva-se nesta etapa uma aprendizagem mais produtiva do público, que é convidado a actuar
mais ainda como criador.
De acordo com Wendell (2013), as actividades são realizadas em um período anterior ao dia de o
público vivenciar o produto ou evento cultural e são estabelecidas por cada projecto. É uma etapa
em que cada actividade deve mobilizar, sensibilizar e preparar o público para o momento
fundamental da mediação que é ele encontrando a obra. Cada proposta de mediação deve criar
formas de envolver o público a partir de seu contexto e de seu perfil. Os tipos de actividades são
as mais variadas possíveis e atendem as características de cada proposta cultural.
É desta feita que os gestores9 do Festival Marrabenta, seguindo os postulados de Wendell (2013),
referiram que: O festival Marrabenta começa preparação no mês de Setembro, Outubro,
9
Idem…
32
Novembro, Dezembro e Janeiro. É neste período que pedimos e recebemos apoio dos possíveis
patrocinadores e parceiros, sendo de destacar os seguintes: CFM (Caminhos de Ferro de
Moçambique), TPM (Transportes Públicos de Maputo), Mcel (Moçambique Celular), BCI
(Banco Comercial de Investimentos) CMCM (Conselho Municipal de Maputo e da Matola) e
Governo do Distrito de Marracuene.
• Realização de pesquisa nas mais diversas forma sobre a estética da obra mediada;
• Distribuição de material informativo criativo (jogos, questões etc.) que estimule a inventividade
do público e faça-o ampliar sua capacidade crítica;
Pode-se perceber aqui sobre as acções educativas da etapa Antes que o seu objectivo é levar com
que haja uma integração do público no processo organizativo de um evento cultural e no nosso
caso, do festival Marrabenta. É com essa integração que o público sentira-se dono do festival
Marrabenta onde algumas das actividades da índole organizativa poderiam ser executados por
eles. Para além de que a participação do publico local na organização do festival aumenta a
confiança entre os organizadores (Gestores do Festival Marrabenta), membros do Governo local,
o que solidificaria a promoção e divulgação do próprio evento.
Uma das acções avançadas por Wendell (2013) é que deve-se visitar o local do evento, no caso
do festival Marrabenta, o que significa que os gestores do Festival Marrabenta ao longo do
processo organizativo do festival Marrabenta têm se deslocado ao local como nos relatou o
33
entrevistado10: temos nos deslocado com frequência para Vila de Marracuene para discutir
assuntos ligados ao festival, onde abordamos sobre a forma que pretendemos em cada edição.
Temos conversado com o Governo local sobre as licenças, visita ao local e o parcelamento dos
espaços para a montagem do Palco e as lojas móveis para venda de diversos produtos. Outros
assuntos discutidos no local têm a ver com a segurança e saúde. Neste, somos persuadidos sobre
as necessidades que cada sector tem para que o evento ocorre sem sobressaltos.
Ao que podemos perceber dos Gestores do Festival Marrabenta é que o uso das Redes Sociais é
no sentido de fazer a divulgação do seu evento para o público no geral o que contrasta as ideias
de Wendell sobre a promoção de debates e realização de seminários para colher as ideias do
público que colocaria suas opiniões sobre como o festival pode ser ou seja, este poderia colocar
suas opiniões para incrementar valores ao evento de modo a dar sua imagem nele.
10
João Cossa, organizador do festival marrabenta…
34
estética. Há uma aprendizagem cultural quando isto acontece que não se repete, pois é algo vivo
e depende de uma interacção que é única e efémera entre público e obra. Tanto o público quanto
os fazedores aprenderam algo novo no encontro. Dependendo do tipo de produto cultural, o
contacto é um instante de socialização, pois a experiência estética é realizada em colectivo.
Numa concentração de pessoas diante de um produto artístico, gera-se uma interferência entre
um público e outro. O que se viveu individualmente com a obra naquele instante está vinculado a
todos que a vivenciaram juntos.
• Recepção no local feita pelo mediador que questiona o público sobre o que vai acontecer,
gerando um diálogo inicial;
Discutindo sobre as ideias avançadas por Wendell e fazendo uma análise com as actividades
desenvolvidas pelos gestores do festival Marrabenta pode se perceber que Durante o festival não
há recepção do público para além dos seus convidados de honra. Outrossim, é que não promove
nenhum debate sobre o que vão ver e que expectativas têm sobre o produto prestes a vivenciar no
palco. Não se exibem ainda os vídeos e fotos dos festivais anteriores para criar mais ansiedade
do público ao ver o processo de produção do festival.
No que diz respeito à realização da pesquisa sobre opinião do público acerca do evento, os
entrevistados11 revelaram-nos que: Nunca nos foi perguntado nada acerca dos nossos anseios no
festival. Nós só vemos e ouvimos a rádio, Fecebook, panfletos e na televisão a se falar do festival
Marrabenta na nossa Vila de Marracuene. Mas gostaríamos de colocar nossas opiniões neste
Marcelo Sitoi, Alfredo Joaquim, Marta Luís, Joaquina Langa, Dinis Miguel, Manuel Biba, e outros (Membros da
11
35
evento pois, há coisas que nele acontecem ou seja, que são feitas que não condizem com os
nossos hábitos e costumes.
Reflectindo em torno dos depoimentos dos entrevistados podemos perceber que há uma
controvérsia entre as acções implementadas pelos gestores do festival Marrabenta e o que Ney
Wendell preceitua na sua obra sobre Estratégia de Mediação Cultural, (2011).
5. Considerações Finais.
Cada festival que se realiza no solo pátrio compreende a mediação artística e/ou cultural jeito,
como deve ser, mas nós destacamos nesta pesquisa que o termo mediação cultural abarca em si
uma dimensão política, olhando para inserindo-a nos festivais que são uma acção que se
enquadra na Politica Cultural de Moçambique e Estratégias da sua Implementação, na qual,
implica reflectir sobre a mediação como direito de acesso e promoção e aproximação do público
36
aos produtos culturais. A mediação cultural contém em si uma dimensão artística pedagógica que
tenciona sobre perspectivas de um tipo de formação continuada do público que participa dos
eventos culturais em si, ou seja, de maneira que o espectador possa estar em constante ampliação
de competências e horizontes: maleável e dinâmica. Portanto, é algo que deforma ou que está
sempre mudando de formas, junto com os conceitos de mediação, educação e formação, que não
devem ser percebidos como conceitos estáticos principalmente quando ligados aos festivais. É
ainda uma possível dimensão sociocultural e estética que discute este termo nos planos das
experiências estéticas corporificadas quando o sujeito reflecte e por vezes compartilha sobre as
reverberações dos encontros sobre si.
Sugerimos que existem eixos ou dimensões abrangidas pelo termo de mediação cultural no
Festival Marrabenta, na contemporaneidade guiados pelas definições de Martins (2014; 2018)
que o considera como o conceito de estar entre muitos e que pode ser visto como função, quando
compreendido dentro de programas educativos, e como acção, quando percebido, dentre outros,
como um convite a aisthesis.
Esta investigação aponta que, durante os pouco mais de dez anos do Festival Marrabenta, as
acções intituladas de mediação cultural foram se transformando ao longo do tempo. Ora, devido
a circulação dos profissionais que actuam nessa área (gestores do festival Marrabenta), ora
devido as condições financeiras que os subsidiam ou mesmo por conta da praxis que modifica
também os conceitos do evento. Portanto, no contexto deste festival o entendimento das
estratégias de mediação cultural o festival Marrabenta adquire, a cada edição, um carácter
singular e diferenciado.
Pelo entendimento a que chegamos dos Gestores deste festival deixou-se bem definido que o
programa de mediação cultural serve, principalmente, para promover aproximações dos
espectadores com a música Marrabenta ou com as artes cénicas no geral, através de acções de
mediação que potencializam processos de autonomia e que os direccione para experiências
37
estéticas emancipadoras. De maneira geral, estas são formatações que têm sido bem aceitas na
sociedade, sendo inclusive replicadas por inúmeros outros grupos e colectivos na cidade de
Maputo, Matola, Beira, Vila de Chibuto, Xai-Xai, estes locais que também já puderam acolher o
festival Marrabenta segundo o gestor deste evento cultural.
Actuar com programas de mediação cultural que visam a formação do público é puxar para si
uma responsabilidade social que translada e transcende conceitos de formação, ou educação ou
acesso a bens culturais. Não cabe serem encarados somente como contrapartida social dos
investimentos públicos ou privados. Sendo assim, investigar lacunas para que a formação do
público não seja fictícia, de efeitos paliativos e ilusórios, trata-se de uma prerrogativa que
reflecte a seriedade dos propósitos das estratégias de mediação cultural que se atém a dimensão
da experiência estética do espectador na contemporaneidade.
Nenhuma destas prerrogativas são certas ou verdadeiras, pois tanto artistas quanto espectadores
podem ser contaminados por reverberações que se alteram nos encontros (etapa DURANTE do
festival Marrabenta) promovendo formações. De outro modo, sensações, percepções e emoções
que reverberam (etapa DEPOIS de festival Marrabenta) no momento dos espectáculos são um
tipo de resultado de frequências geradas pelos campos vibratórios ali presentes. Por certo, que
estas frequências possuem variáveis, e o que toca um espectador pode não tocar outro. Mas, o
fato é que quando estes corpos se encontram, projectam e compartilham no mesmo espaço um
núcleo de energia diferenciado e quando este é potencializado pode ser captado pela maioria.
Estes fluxos energéticos combinados durante a programação do festival contribuem tanto para a
definição de sua vibração quanto para uma possível potencialização de uma experiência estética,
mas, talvez não sejam suficientes para promover a formação de espectadores.
38
Outrossim, é a constatação a que chegamos ao longo do estudo que as estratégias de mediação
cultural enquanto acções educativas no festival Marrabenta acontecem num perspectiva
diferenciada dos postulados da Wendell (2013), pois, muitas delas não se verificam ao longo do
processo organizativo, realização até depois do festival. No entanto, algumas das estratégias
adoptadas para a divulgação do festival Marrabenta, coincidem com certas ideias de Wendell.
6. Referências Bibliográficas
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Apêndices
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Faculdade de estudos da cultura
Dados Pessoais:
Nome:______________________________________________________________
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44
Faculdade de estudos da cultura
Dados Pessoais:
Nome:_______________________________________________________________
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