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FACULDADE DE CIÊNCIAS
SOCIAIS E HUMANAS
___________________________________________________
AGOSTO, 2008
Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção
O candidato,
____________________
O orientador,
____________________
Sendo esta a última parte da tese a ser redigida, ela surge aqui com um sentimento
de satisfação redobrado: pela sensação de dever cumprido e pelo prazer de poder, agora,
agradecer a todos quantos de uma forma ou de outra contribuíram para o cumprimento
desse dever.
Em primeiro lugar, quero agradecer às pessoas que orientaram este trabalho e sem
as quais ele não seria possível. Ao Professor Luís Baptista quero agradecer a disponibilidade
que sempre mostrou, desde o início do programa de mestrado, para acompanhar o meu
trabalho. Tendo consciência de que, estando à distância de Coimbra, nem sempre fui uma
mestranda fácil de orientar, quero agradecer-lhe a flexibilidade sempre revelada para
permitir ajustes de tempo e formas alternativas de comunicação. Ao Professor Claudino
Ferreira, por sua vez, quero agradecer a proximidade com que, ao longo dos últimos anos,
tem vindo acompanhar o meu percurso académico. Sabendo que não poderei nunca
retribuir o cuidado e a atenção que me concede, resta-me agradecer-lhe a confiança, a
cumplicidade e o entusiasmo que depositou neste trabalho, com todos os comentários e
piadas a que já me habituou.
Este trabalho foi possível graças, também, ao Núcleo de Estudos sobre Cidades e
Culturas Urbanas, e, em particular ao seu Coordenador, o Professor Carlos Fortuna, cujos
trabalhos vão sendo, recorrentemente, fonte de inspiração para os meus. A ele e ao
Professor Paulo Peixoto agradeço a amizade e a confiança, reconhecendo o tempo que
sempre me libertaram para que este trabalho fosse possível.
À Diana Meireles, que agora está longe, agradeço por se manter sempre por perto,
acompanhando os desenvolvimentos deste trabalho. Ao Paulo Eiras agradeço a sua
prontidão constante para parodiar com inteligência e afeição as minhas capacidades e
progressos académicos. Ao Vítor Silva agradeço a forma irritante como diariamente
perguntava, com a amizade que nos une, pelo fim do trabalho.
Este texto não estaria completo sem o maior agradecimento de todos. Aos meus
pais e à minha irmã, agradeço pelas questões financeiras que são sempre importantes, mas,
principalmente, pela paciência com que enfrentaram todas as minhas más disposições de
ânimo, pelo amor e pelo apoio que sempre me dedicaram. Um agradecimento especial vai
para a Tânia, que, mais uma vez, contribuiu para as minhas teses na transcrição de
entrevistas e nas revisões finais.
A todos quantos contribuíram para a realização desta tese, dedico-lhes parte dela
porque, sem a sua confiança, ela não seria possível.
RESUMO
Esta tese visa reflectir sobre as formas de produção e (re)criação do imaginário turístico da
cidade de Coimbra. De forma mais ampla, ela remete, portanto, para o desenvolvimento do
turismo urbano, cultural e patrimonial, no âmbito do qual Coimbra se vem tornando um
destino de referência a nível nacional e internacional.
Para além da sua importância na formação dos estilos de vida dos indivíduos e dos grupos,
as actividades de lazer e de turismo vêm-se tornando, cada vez mais, factores decisivos na
reorganização dos territórios, nas condições de ordenamento do espaço, nas políticas de
planeamento e desenvolvimento, revelando uma visibilidade especial nos contextos
urbanos. Por outro lado, o sector turístico alimenta uma série de outras actividades
económicas, revelando-se como um verdadeiro factor de desenvolvimento de muitas
regiões de destino. Na sua esfera de produção, intervêm actores económicos específicos,
organizando o sector e mediando a relação entre os destinos, os turistas e as suas
experiências, em actividades que envolvem um trabalho constante de (re)tradução
simbólica para a apresentação dos lugares de forma atractiva. É neste sentido que o turismo
se apresenta como um forte meio de difusão das imagens das cidades.
Pretendendo compreender os modos como Coimbra se apresenta ao exterior, a turistas e
visitantes, a pesquisa debruça-se sobre os actores intervenientes na organização do turismo
na cidade e os responsáveis pela sua promoção nos mercados nacionais e internacionais; as
estratégias de acção usadas para a promoção do destino; e as dimensões simbólicas do
fenómeno, centrando a análise nas imagens e narrativas da cidade (re)criadas e usadas nos
mercados turísticos.
Que forma e que conteúdos modelam as imagens turísticas da cidade? Em que contextos e
através de que processos são geradas? Como dialogam com outros discursos sobre a
história, a identidade e as singularidades de Coimbra? Como se traduzem nas políticas e nas
estratégias de desenvolvimento da cidade e como se relacionam com as dinâmicas mais
amplas que marcam a sua evolução? Estas são algumas das interrogações que organizam e
orientam a pesquisa sobre a dimensão turística da cidade.
Este universo de (re)produção imagética é, necessariamente, complexo e heterogéneo. A
investigação aqui apresentada procura captar uma parte desse universo, olhando as imagens
e as narrativas que circulam na promoção turística, privilegiando canais específicos de
divulgação. Nesse universo, encontra-se uma cidade que ora é histórica, ora universitária, dos
estudantes, tradicional, arquitectónica, do fado, ora do Mondego. Nessas suas declinações, a cidade
do imaginário turístico não existe isolada. Ela dialoga com outros imaginários urbanos,
mais próximos ou distantes da cidade vivida, da sua história e do seu quotidiano.
ABSTRACT
This thesis focuses on the production and re-creation of the touristic imagery of the city of
Coimbra. More broadly, it elaborates on the development of forms of cultural and heritage
tourism in urban settings, and analyses the case of Coimbra as a destination for national
and international flows of tourists.
In the context of consumer society, leisure and tourism became not only main factors in
the shaping of lifestyles of individuals and social groups, but also a central issue in urban
planning practices and policies for urban development. Moreover, the tourist sector feeds a
series of other economic activities, proving to be an important means for the social,
economic and cultural development of many regions and cities. The deployment of tourist
activities implies the work of specific economic actors and experts, who organize the sector
and mediate the relationship between destinations, tourists and their travelling experiences.
This work involves, by and large, complex processes of symbolic translation, so as to
convert local features and attributes into attractive images for the consumption of tourists.
In this sense, tourism presents itself as a powerful means for the production and circulation
of cities’ images and narratives.
Longing to comprehend the ways in which Coimbra presents itself to the external gaze, this
research focuses on: (1) the actors involved in the organization of the city’s tourism and
those responsible for its promotion on national and international markets; (2) the strategies
aiming at promoting this destination; (3) and the symbolic dimensions of the phenomenon,
featuring the analysis of city’s images and narratives.
Which forms and contents shape the imagery of a touristic city? In which contexts and
through which processes are they generated? How do they articulate with other discourses
about history, identity and the uniqueness of Coimbra? How are they reflected in policies
and strategies for the development of the city and how do they relate to the broader
dynamics that shape its progress? These are some of the questions that guide the research
on the dimensions of the tourist historic city.
This universe of image (re)production is, without doubt, complex and heterogeneous. The
research thereby seeks to capture a part of this universe, focusing on both images and
narratives that flow in touristic advertising and pay particular attention to specific channels
through which images are circulated. In this universe of images, Coimbra turns out to be a
historical, universitary, students’, traditional, architectonic, Fado’s, or Mondego’s city.
Hence, the city of the touristic imaginary does not subsist isolated. It dialogues with other
urban imaginaries, closer or further to the perceived city, its history, and its daily life.
ÍNDICE
Lista de Abreviaturas
Introdução 1
Capítulo 1
Tendências gerais do fenómeno turístico:
Turismo urbano, narrativas e imagens de cidade 6
1.1. Emergência e desenvolvimento do turismo moderno 6
1.2. As cidades e o turismo urbano, cultural e patrimonial 9
1.3. Turismo cultural, imagens de cidade e autenticidade urbana 11
1.4. Representações, imagens e narrativas sobre as cidades 15
Capítulo 2
Promoção turística das cidades:
A produção material e imagética de lugares turísticos 19
2.1. Turistificação e ludificação dos territórios 19
2.2. Mediação cultural, turismo e cultura nas cidades 21
2.3. Promoção, publicidade e marketing das cidades 24
Capítulo 3
O objecto de análise e o desenho da pesquisa:
Para uma abordagem sociológica das imagens turísticas de Coimbra 28
3.1. Problematização e delimitação do objecto de análise 28
3.2. Modelo de análise e estratégias metodológicas 31
3.2.1. Pesquisa exploratória 31
3.2.2. Entrevistas a operadores públicos e privados 32
3.2.3. Levantamento de informação na internet 34
Capítulo 4
Coimbra e o seu centro histórico:
Traços e características de uma cidade também turística 36
4.1. Visão panorâmica da história de Coimbra 36
4.2. A cidade recente: caracterização do território urbano 38
4.3. Perfil económico da cidade 45
4.4. A cidade dos guias de viagem 49
Capítulo 5
A produção da imagem turística de Coimbra:
Actores, redes e estratégias de acção 55
5.1. A Paisagem Turística da cidade 55
5.2. As instituições, as pessoas e os objectos:
mapeamento dos intervenientes públicos 57
5.3. As instituições, as pessoas e os objectos:
mapeamento dos intervenientes privados 67
5.4. O espaço de relações e cooperação inter-institucional 71
Capítulo 6
Coimbra turística:
Imagens, narrativas e representações da cidade no mercado turístico 74
6.1. O imaginário da cidade no mercado turístico 74
6.2. A cidade em três perfis 75
6.2.1. A cidade dos circuitos turísticos 78
6.2.2. A cidade dos guias informativos 89
6.2.3. A cidade das estadias 93
Conclusão 96
Referências Bibliográficas 101
Outras Fontes 109
Lista de Quadros, Gráficos, Mapas e Figuras 111
Anexos 112
LISTA DE ABREVIATURAS
UC Universidade de Coimbra
1
turísticas, aspecto relacionado, por fim, com o desenvolvimento de fileiras de profissionais
do turismo, que desenvolvem trabalho de constante produção de novos elementos para
fruição turística.
Por vários motivos, entre os quais destaco, por um lado, a sua importância
enquanto dimensão das identidades e da manifestação dos estilos de vida dos indivíduos e,
por outro, o cariz simbólico da exibição de lugares ao exterior, as práticas turísticas e, de
forma mais ampla, o sector turístico, assumem-se como um campo especialmente rico para
a investigação sociológica. Porque a actividade turística “põe em jogo complexos processos
de negociação de sentidos entre os turistas e as populações nativas, por um lado, e entre os
turistas e os ambientes visitados, por outro lado” (Fortuna e Ferreira, 1996: 12), uma
sociologia do turismo dificilmente escapará a uma incursão pela relação entre o fenómeno
turístico e o “elemento aurático dos objectos e lugares singulares” (Fortuna, 1999: 57).
2
Estas imagens e narrativas, que remetem, não exclusiva mas frequentemente, para
elementos físicos e morfológicos das cidades, dotadas de forte dimensão simbólica, não são
estanques. Por vezes confluem, outras sobrepõem-se e concorrem, ora pela conservação de
um passado atractivo e vendável, ora pela busca de elementos urbanos modernos. A
questão que se levanta é, então, a de saber do que se trata quando se fala de Coimbra
enquanto destino turístico. Dito de outra forma, é a de saber quais os elementos e recursos,
físicos e materiais, sociais e simbólicos, que são valorizados ou menosprezados,
mobilizados ou esquecidos, quando se tem por objectivo promover turisticamente a cidade.
A questão é pertinente na medida em que, para além de tudo o resto, as cidades são
conjuntos que vão sendo, ao longo da história, hierarquizados e expressos tanto nas
estruturas físicas como nos aspectos da vida quotidiana e nos discursos sobre elas (Shields,
1992: 29). Neste sentido, ao falar de cidades, falamos não só da configuração dos espaços
físicos que as enformam, mas igualmente das imagens que lhes vão sendo associadas, e que
devem a sua existência a práticas e discursos diversos, assim como dos interesses e dos
poderes que estão na sua origem (Baptista, 2003: 35 a 40).
Uma vez que qualquer cidade “possui um vasto manancial simbólico […] a cidade
vivida é também uma cidade imaginada, com os seus espaços de culto, os seus altares e,
inversamente, os seus interditos” (Lopes, 2001: 181). Esta dualidade implica que a
promoção turística de uma cidade ou de uma região esteja estreitamente ligada a um
processo de selecção e visibilidade de certas características do local e de esquecimento ou
desprezo de outras; de criação de sistemas de imagens, coerentes ou não com a história do
lugar, que possam ser usadas para a construção mais ampla de todo um imaginário
suficientemente atractivo para a captação crescente de fluxos turísticos.
Somando à manifesta existência de temas bons para serem estudados, os lugares bons
para serem pensados, I. Barreira define-os como “bons, por suscitarem a emergência de
problemáticas transcendentes ao próprio contexto de enunciação, integrando-se ao acervo
dos notórios assuntos universais” (Barreira, 2005: 299). Esse lugar bom para ser pensado é,
3
para a investigação que desenvolvo, a cidade de Coimbra. Dotada de uma longa história, é,
para muitos portugueses, a “terceira cidade do país e, para muitos estrangeiros, uma das
universidades mais antigas do mundo” (Góis, 1998: 3). Sendo “uma das mais míticas e
lendárias cidades portuguesas” (Fortuna e Peixoto, 2002: 28), Coimbra é recorrentemente
caracterizada como cidade histórica, patrimonial e monumental, mas também académica e
universitária, uma cidade de serviços, de saúde, um destino de viagens e de lazer,
funcionando estes como elementos distintivos da sua imagem.
O trabalho que aqui apresento está organizado em duas Partes. Na primeira, sub-
dividida em dois capítulos, traçam-se as características gerais das actividades turísticas,
dando especial relevância ao turismo urbano e, em particular, àquele que se desenvolve nos
centros históricos das cidades. As componentes simbólicas da actividade são aqui realçadas,
numa análise sobre os imaginários (re)criados pelos profissionais ligados à promoção
turística. De seguida, o relevo vai precisamente para o trabalho desses profissionais, na sua
condição de mediadores entre os locais visitados e a experiência turística.
4
PARTE I
5
1 Tendências gerais do fenómeno turístico:
6
busca de tratamento de saúde, satisfação da curiosidade cultural, desejo de conhecer outros
lugares e costumes” (Dias, 2003: 46).
7
primeiro grande operador turístico e a primeira empresa a formar profissionais
especializados nas áreas das viagens e do turismo1.
1 Thomas Cook rapidamente se apercebeu do potencial dos caminhos-de-ferro, que encarava como uma força
democrática e progressiva. Cook conseguiu vulgarizar as viagens a baixo preço, começando com a sua
primeira excursão profissional a Caenarvon, Snowdon e Liverpool, em 1845. Adicionalmente, Cook percebeu
que as actividades turísticas beneficiariam com a existência de alguns mitos capazes de atrair visitantes. Nos
locais visitados, fornecia guias que indicavam os elementos que os visitantes deveriam ver e a forma como
aqueles deveriam ser interpretados. Veja-se, a este respeito, Corbin (1995), Fortuna et al (1995), Lash e Urry
(1994), Urbain (1991) e Urry (1990).
8
número de destinos turísticos aumentou como os serviços associados à indústria se
internacionalizaram. Esse novo período envolveu grandes alterações associadas a um
desenvolvimento industrial em massa, mas também mudanças socioeconómicas
relacionadas com a elevação do poder de compra e com a consolidação de uma sociedade
de consumo de massas (Silva, 2002: 55 e 123).
9
património, sempre constituíram lugares de relevo dos circuitos turísticos, o turismo
urbano e cultural vem vivendo, ao longo das últimas décadas, um impulso assinalável, no
âmbito do qual adquire novos contornos. Embora, como refere C. Fortuna (ibid), este tipo
de turismo não escape às orientações mais gerais de organização e mercantilização
associadas ao desenvolvimento do turismo de massas, não deixa também de registar
algumas especificidades que importa assinalar.
10
prima para criarem um estilo, um look, uma mais-valia económica, simbólica ou política
com que alimentam o mercado turístico-cultural” (Peixoto e Frias, 2002: 1).
O fascínio turístico pelas cidades está relacionado, hoje mais do que nunca, com a
sua temporalidade e, por isso, a cidade histórica e monumental tornou-se uma das
principais atracções da actualidade (Fortuna e Ferreira, 1996: 8). Tanto pela importância da
cultura visual, como pela relevância do factor histórico das cidades, a sua arquitectura
histórico-monumental converte-se no elemento por excelência da identidade local, e
também no recurso que mais interesse e curiosidade suscita entre os turistas. Trata-se de
“patrimónios históricos edificados, mas também patrimónios socioculturais, artísticos,
linguísticos e humanos que encontram expressões diversas nas cidades de hoje” (Fortuna,
2006: 3). Dito de outra forma, o património, como factor de atracção turística, está tão
ligado aos aspectos físicos, enquanto património material e edificado, como aos aspectos
sócio-culturais dos contextos urbanos, enquanto património imaterial, cultural e simbólico.
Reflectindo sobre a relação entre cidade e cultura, Lopes, Baptista e Costa (2003:
129-130) assinalam justamente as ambiguidades que decorrem dos desfasamentos entre,
11
por um lado, “a cidade que emerge da história e se vive no quotidiano” e, por outro, “o que
se imagina e se prescreve nas políticas e nos projectos que se formulam para a cidade”. O
desfasamento entre a cidade que existe e a que se deseja, ou entre a cidade vivida e a
projectada, reflecte-se, de acordo com os autores, em duas formas de ambiguidade: a do
tempo e a do património.
A ambiguidade do tempo aparece de forma bastante explícita nas relações tensas entre
o património e a cultura. A noção mais comum de património é aquela que o apresenta
com “conotações do tempo histórico, do passado revalorizado, das permanências de valor
identitário, da cultura acumulada”. Ao mesmo tempo, e principalmente na visão dos
actores que pretendem promover a cultura na cidade, encontra-se “o tempo do quotidiano
presente e o tempo da construção de futuros – tempos esses implicados nas
potencialidades específicas da cidade enquanto espaço diversificado e pluralista de criação e
fruição cultural”. A ambiguidade do património, por seu turno, diz respeito à tensão entre “o
entendimento cultural do património (sobretudo […] enquanto referência histórica e
valência identitária) e a sua acepção turística, isto é, antes de mais, de natureza económica e
orientação instrumental” (ibid).
12
desses modos de cultura, superando entendimentos essencialistas ou elitistas de cultura, que
cada vez encaixam menos nas dinâmicas sociais actuais.
Importa aqui ressaltar que, na relação turística com as cidades, as noções de cultura,
de história e de património se confundem, submetendo-se a uma dupla lógica. Em primeiro
lugar, a uma lógica simbólica, que implica uma conversão daquilo que é apropriado na
cidade em representação simbólica de uma identidade, uma diferença e uma especificidade
urbana. Em segundo lugar, a uma lógica cultural, através da sujeição de todos os recursos
possíveis – nomeadamente arte, património, história, modos de vida – a uma apropriação
eminentemente cultural. Tudo é passível de ser apropriado numa relação de sentido, com
uma forte componente estética e simbólica, tanto da parte dos promotores e agentes
turísticos, como da parte dos turistas e visitantes.
13
A busca do passado, da história, das raízes, enfim, da autenticidade, é, ainda assim,
apenas uma das fórmulas que alimentam o turismo urbano e cultural, apresentando-se com
uma importância acrescida no caso em estudo sobre a cidade de Coimbra. Outros tipos de
procura podem, no entanto, ser enunciados, nomeadamente, de oferta artística e de
elementos raros em domínios tão diversos quanto os do lazer, da arquitectura, do
urbanismo ou das sub-culturas urbanas universitárias e alternativas. Tanto as motivações
turísticas, como os imaginários e as experiências criadas pela oferta dos promotores
turísticos para a cidade de Coimbra, constituem uma entre várias equações possíveis que,
no seu conjunto, configuram o turismo urbano como um mercado muito heterogéneo.
É neste contexto que podemos afirmar que, mais do que numa economia de
serviços, nos encontramos hoje numa economia de experiências: alguns dos sectores com um
incremento mais acentuado na economia global encontram-se em estreita relação com o
consumo de experiências. Juntamente com o rápido crescimento da internet, o
entretenimento e o turismo têm estado na frente do desenvolvimento destas economias
(Richards, 2001b: 57). Nos últimos anos, a produção de experiências tem vindo a crescer
como forma de estimular a criatividade cultural e, por sua vez, garantir a sustentabilidade
do seu sistema de produção. Procura-se, cada vez mais, um uso criativo do espaço urbano,
até porque, como defende C. Landry (2005: 1) “everyone is now in the creativity game”.
14
expande a ambiciona mercados mais vastos, o património é recriado e experiências
históricas são inventadas onde nunca antes existiram. Manipulada pelo turismo, a tradição é
(re)inventada e, em muitos casos, eventos, danças, cerimónias religiosas e festivais são
encenados para satisfazer interesses turísticos, tendo perdido o seu significado original ou
sequência anual (Orbasli, 2000). Resultado das várias influências e tensões que se articulam
tanto nos espaços como nas narrativas que estes sustentam, as cidades e os seus centros
históricos tornam-se, então, zonas de significados amplos e ambíguos.
Pelo menos do séc. XVIII em diante, os romances ajudaram a criar a cidade como
uma categoria empírica para um público leitor, disseminando determinadas formas de ver a
paisagem urbana e perspectivas sobre a vida dos cidadãos e estabelecendo certas estruturas
imaginárias, entre as quais se destacam a utopia rural em oposição ao pesadelo urbano. No
entanto, no decorrer do séc. XX, as narrativas e as imagens associadas às cidades durante
os séculos anteriores já não se adequavam às novas realidades urbanas; elas eram
ultrapassadas pelos novos ritmos e rotinas originárias dos novos meios de transporte, das
novas formas de comunicação e dos processos emergentes para a reabilitação dos centros
antigos das grandes cidades (Donald, 2003: 48-49). Quer isto dizer que as novas realidades
urbanas concorreram, também, para transformar as imagens, as narrativas e as
representações sobre as cidades. Mais do que nunca, a cidade não podia ser representada
numa só imagem, nem reduzida a uma única narrativa.
15
delimitações que organizam a apreensão do mundo social como categorias fundamentais de
percepção e de apreciação do real”. Estes esquemas variam de acordo com as classes
sociais e os meios intelectuais onde são produzidos, não sendo por isso universais, mas
determinados “pelos interesses de grupo que os forjam”. Aplicada ao contexto urbano, a
proposta de Chartier implica, necessariamente, pensar as representações sobre as cidades
como plurais ou até opostas. Se essas representações dependem dos interesses específicos
de determinados grupos, não surpreenderá que exista, em graus variáveis, alguma
competição e conflitualidade entre elas. Chartier chama precisamente a atenção para essa
possibilidade conflitual, quando equipara a importância das lutas de representações às lutas
económicas na imposição de valores e de visões do mundo social por parte de um grupo.
Importa, por agora, esclarecer do que se trata com a referência a conceitos como
imagem, representação e narrativa, mas também estereótipos, símbolos, signos e
linguagens, os quais requerem, necessariamente, e para os propósitos desta discussão,
algumas linhas de problematização e explicitação adicionais.
16
imagens para turistas e imagens de propaganda que são mais ou menos incorporadas por
moradores” (Barreira, 2007:166). Essas narrativas são expressões de discursos instituídos,
originários de fontes diversas. São discursos “não apenas fruto de práticas e intervenções
de diferentes a[c]tores sociais, mas expressão de formas legitimadas de apresentar a cidade”
(Barreira, 2005: 300)
O turismo e as actividades que daí decorrem são hoje um dos meios mais
poderosos de criação e difusão destas narrativas e imagens. Para a presente discussão,
importa, por isso, problematizar um pouco mais a noção de imagem, recorrendo,
igualmente, ao legado da abordagem semiótica. De acordo com L. Santaella e W. Nöth, é
possível dividir o mundo das imagens em dois domínios: o material e o imaterial. Ao
primeiro, o lado perceptível, correspondem representações visuais, como sejam desenhos,
pinturas ou fotografias. Ao segundo domínio, o lado mental, correspondem, por sua vez,
representações mentais, que podem ser visões, fantasias ou imaginações. Para estabelecer a
relação entre estes dois domínios é necessário recorrer aos conceitos de signo e de
representação: “é na definição desses dois conceitos que reencontramos os dois domínios
da imagem, a saber, o seu lado perceptível e o seu lado mental, unificados em algo terceiro,
que é o signo ou a representação” (Santaella e Nöth, 1999: 15).
17
coisas. Por outro lado, a cultura é, muitas vezes, definida em termos de significados ou
mapas conceptuais partilhados. Mas, para que a troca de significados e conceitos seja
possível, é necessário que os indivíduos partilhem uma linguagem, que se constitui, assim,
como o segundo sistema de representação envolvido. O mapa conceptual partilhado deve
ser traduzido numa linguagem comum, para que os conceitos e ideias possam ser
correlacionados com determinadas palavras escritas, sons falados ou imagens visuais,
designados por signos, uma vez que transportam significados passíveis de serem
interpretados à luz de códigos socialmente partilhados (ibid: 17-29; Gale, 2005).
18
2 Promoção turística das cidades:
Nos últimos anos, muitas cidades têm vindo a ser alvo de políticas de valorização e
promoção, com o objectivo de criar imagens agradáveis e atractivas. Assiste-se, então, à
concepção de territórios lúdicos, ou seja, lugares ou cenários que, ou foram pré-definidos para
fins lúdicos, ou foram alvo de “uma reavaliação económica que prevê que estes se tornem
ludicamente atractivos” (Baptista, 2005: 47).
3 Análise do autor sobre uma campanha turística nacional cujo mote era “Portugal… de braços abertos”.
19
património e as culturas locais são reconfigurados, nomeadamente por via da sua
transformação em pacotes para consumo turístico. Daqui emergem efeitos de animação,
ludificação e espectacularização das cidades, produto do trabalho e da acção de actores
identificáveis, que operam no planeamento urbano, na arquitectura, na decisão política, na
promoção turística e em muitos outros contextos de intervenção no ambiente urbano.
Ainda assim, aqueles efeitos não devem ser encarados como o resultado directo e linear do
trabalho e das intenções desses actores sociais, pois decorrem igualmente da sua interacção
com os modos de apropriação do espaço e das imagens por parte dos públicos a quem se
dirigem e, de forma mais ampla, de todos quantos utilizam a cidade: residentes,
trabalhadores, transeuntes, visitantes e turistas.
20
Os agentes do turismo, e os outros profissionais que intervêm política e
tecnicamente no sector turístico, constituem um entre vários tipos de actores que
concorrem para a ludificação do espaço urbano e é precisamente o papel desses profissionais
na produção e ludificação das cidades, que a investigação aqui apresentada procura analisar e
problematizar. Fruto da importância que as actividades turísticas vêm adquirindo no espaço
urbano, os agentes do sector turístico tornam-se cada vez mais influentes na produção
desse espaço, ainda que de forma indirecta, pela influência e pressão que exercem sobre os
decisores e os técnicos urbanos, ou, mais directamente, por via do trabalho simbólico que
exercem na produção e difusão de imagens sobre a cidade.
O alcance explicativo desta noção não se fica por aqui. Não sugere apenas que os
fenómenos económicos são inerentemente culturais. Segundo P. du Gay (1997: 5-7), a
noção indica, também, uma mudança na forma de fazer negócios, na qual a cultura tem
uma importância cada vez maior. Isto é evidente, em primeiro lugar, no facto de algumas
companhias globais das áreas do espectáculo e do entretenimento (como a Sony ou a
Disney) se encontrarem hoje entre os actores económicos mais poderosos do mundo. Em
segundo lugar, cada vez mais os bens e os serviços produzidos numa grande variedade de
sectores podem ser concebidos como bens culturais, porque neles são deliberadamente
21
inscritos significados e associações particulares, na tentativa consciente de gerar desejo por
parte dos consumidores finais. Este processo tem sido acompanhado pela crescente
influência de profissionais muitas vezes designados por novos intermediários culturais, em
ocupações relacionadas com a publicidade, o marketing e o design.
Na sua relação com o turismo, a componente cultural, tal como vem sendo
explicada aqui, é absolutamente decisiva. É-o em dois sentidos já discutidos: em primeiro
lugar, a actividade cultural em sentido restrito, porque é uma componente importante da
prática turística, sobretudo dos segmentos do turismo urbano, cultural e patrimonial,
alimenta-se de oferta cultural e artística; em segundo lugar, a circulação de signos e a lógica
de significação são essenciais na actividade turística, para isso muito contribuindo uma
parte da actividade profissional do sector turístico.
22
também, para dar conta dos processos mais amplos de criação e circulação de valor e
conteúdo cultural, que ocorrem para lá dos limites da esfera cultural e artística e que, como
referi atrás, se intensificam nesta fase de expansão da economia cultural.
23
conservação urbana, com papéis, níveis de acção e tipos de poder distintos. Essa tipologia
contempla: (1) o governo nacional, (2) o poder local, (3) os profissionais/ técnicos, (4)
outras organizações, nomeadamente as não-governamentais, (5) o sector privado e (6) os
utilizadores. Estes actores abordam as questões de promoção turística numa variedade
enorme de orientações, prioridades e agendas, pelo que os conflitos e as tensões entre eles
são, por vezes, inevitáveis.
Qualquer lugar, seja uma pequena comunidade, uma cidade, uma região ou país,
deve questionar-se sobre as razões que levam, ou levariam, as pessoas a viver ou a mudar-
se para esse lugar, a visitá-lo, a investir, a começar ou a expandir um negócio. Esta é a visão
de P. Kotler, especialista reconhecido na área do marketing, para quem, de uma perspectiva
global, o que importa são as vantagens competitivas que um lugar oferece e o distinguem
dos outros. Se os lugares já não concorrem simplesmente com os que lhe são adjacentes,
mas sim numa lógica global, então, no que respeita ao mercado turístico, os turistas, os
visitantes, ou os participantes em conferências, têm à sua disposição um vasto leque de
lugares, a nível mundial, que podem escolher para visitar ou realizar os seus encontros
(Kotler e Donald, 1994).
24
vindo, nos últimos anos, a delinear políticas que conduzam à sua valorização e promoção, e
é num cenário deste género que “o apuramento e a sofisticação das estratégias de marketing
territorial” (Henriques, 1994: 406) têm vindo a ganhar uma importância crucial. As cidades
vão sendo assim encaradas numa lógica de empresarialização, como se de produtos a
necessitar de escoamento no mercado se tratassem. É, aliás, por isso, que “expressões
como «gestão urbana», «empresas municipais», marketing urbano» ou, entre outras,
«imagem de marca das cidades» se tornaram tão recorrentes” (Peixoto, 2003: 215). P.
Peixoto (2000a: 105) frisa precisamente que, num momento em que o consumo simbólico
associado às cidades ganha cada vez mais relevância, “as políticas de marketing urbano
encaram os diversos utentes da cidade na mesma lógica com que a publicidade encara os
consumidores a quem é necessário persuadir”, estabelecendo-se aqui um paralelismo
interessante entre as actividades de promoção do turismo e de publicidade, em que as
primeiras usam cada vez mais as técnicas da segunda.
25
especialistas, numa lógica comandada pelos imperativos do mercado turístico, é constitutiva
da construção também material e simbólica da cidade. Interfere nela, transformando-a, com
efeitos não só sobre as percepções e as experiências dos turistas, mas também da
população residente, da comunidade local.
26
PARTE II
27
3 O objecto de análise e o desenho da pesquisa:
28
Coimbra impõe que se conceda especial atenção ao modo como esses dois aspectos são
(re)elaborados pelos processos de organização e promoção turística da cidade. Nessa
perspectiva, a pesquisa interroga-se privilegiadamente sobre o modo como a história, a
monumentalidade, os recursos e traços culturais da cidade são retraduzidos no imaginário
turístico que se constitui a seu respeito, assim como sobre a forma como, por essa via,
Coimbra se posiciona no mercado turístico como cidade histórica e patrimonial.
29
regional, nacional, internacional). As imagens turísticas de Coimbra devem, por isso, ser
interpretadas à luz da diversidade e da conflitualidade entre as visões distintas da cidade
que, em consequência, se confrontam neste terreno plural. Neste plano, a investigação
procura ainda explorar e problematizar o grau diverso de aproximação e distanciamento
que os diferentes tipos de imagens, que emergem do universo turístico, estabelecem face à
realidade material e histórica da cidade. A hipótese aqui é que, na sua forma e no seu
conteúdo, as imagens turísticas da cidade não dependem apenas das intenções e dos
objectivos explícitos dos seus criadores e promotores; dependem igualmente dos
condicionalismos impostos pelos meios, contextos e processos que enquadram o seu
trabalho.
4Essas outras dimensões complementares de uma abordagem global do fenómeno turístico em Coimbra vêm
sendo estudadas no âmbito do projecto “PIQTUR – Fluxos Turísticos no Centro Histórico de Coimbra”,
que o Núcleo de Estudos sobre Cidades e Culturas Urbanas do Centro de Estudos Sociais da Faculdade de
Economia da Universidade de Coimbra está a desenvolver. A investigação aqui apresentada foi desenvolvida
como parte dessa investigação mais abrangente.
30
histórica da cidade que se apresenta mais à frente, como na análise do imaginário turístico
de Coimbra, se concede particular atenção a essas zonas.
31
análise, pelo que se pretendia equacionar mais sustentadamente as questões que se colocam
à actividade turística, assim como as lógicas de organização do sector.
32
quatro profissionais de operadores turísticos nacionais, sediados nas cidades de Lisboa e
Porto, realizadas entre Março e Maio de 2008. As entrevistas a ambos os grupos foram
estruturadas em torno de um guião temático, com ligeiras diferenças entre os dois grupos.
O guião 8 que aqui estruturou as entrevistas sofreu alguns cortes, devido aos
condicionamentos de tempo demonstrados pelos entrevistados, desde os primeiros
contactos, sendo reduzido a quatro temas: (1) estratégias empresariais para a promoção da
cidade; (2) opinião sobre a atractividade turística da cidade; (3) informação factual sobre a
empresa; (4) e questões finais sobre o entrevistado.
33
Com este segundo grupo de entrevistas pretendeu-se compreender, em primeiro
lugar, os processos organizacionais de produção do material promocional e respectiva
articulação com os canais de divulgação intermédios até ao cliente final. Em segundo lugar,
numa dimensão mais simbólica dos processos, tentou-se compreender os modos de
selecção de elementos locais, a (re)criação desses elementos através da sua inserção em
contextos semânticos distintos dos originais, e a sua inclusão nos meios e circuitos de
promoção.
Esta opção pela internet trouxe, com certeza, vantagens e limites à pesquisa: trata-se
de um canal de divulgação com uma natureza específica que utiliza, portanto, um tipo
particular de linguagem e de registo comunicativo, dirigindo-se a públicos específicos. Não
é o único meio de produção do imaginário turístico de Coimbra, existindo outros,
nomeadamente os guias turísticos, a literatura de viagens, a publicidade impressa e
audiovisual, os postais ilustrados, os modos de apresentação, serviços e produtos
oferecidos localmente aos turistas, as percepções destes acerca do local e a sua transmissão
por via oral ou através de relatos publicados na internet, por exemplo. As imagens que
circulam na internet dialogam com essas outras, reproduzindo-as ou transformando-as,
inspirando-se nelas ou inspirando-as.
34
Sociologicamente, esta é uma fonte, enquanto meio de difusão de imagens, tão
válida e pertinente como qualquer outra, porque nela circulam imagens sobre uma Coimbra
turística que coexiste com outras. De resto, o presente trabalho procura reconstituir
algumas dessas imagens mais prevalecentes, através do recurso não só a literatura
secundária como a uma análise complementar da publicidade institucional dos órgãos
públicos responsáveis pelo turismo em Coimbra.
A análise das imagens turísticas da cidade foi encarada, por sua vez, numa óptica
qualitativa. Partiu de um trabalho de análise categorial que, embora não siga à risca a
Grounded Theory, foi baseado nas técnicas de análise que A. Strauss (1987; Strauss e Corbin,
1998) propõe. Não sendo sempre possível identificar as propriedades e as dimensões das
categorias analíticas, tal como Strauss indica, optou-se por seguir as suas sugestões quanto
aos processos de codificação e construção de categorias, recorrendo, por acréscimo, aos
processos de classificação temática sugeridos por G. McCracken (1988).
9 Refiro-me aos directórios existentes na Google, Yahoo e Altavista, mas também a listagens existentes nas
Páginas Amarelas, página electrónica das Pousadas de Portugal e Euro Destination.
10 Consideram-se circuitos turísticos os programas que, para além da cidade de Coimbra, contemplam a
passagem por outros locais do país ou estrangeiro. Por guias informativos entendem-se as partes das páginas
electrónicas dos operadores dedicadas a informações sobre a cidade aos turistas. Não se tratando dos típicos
guias turísticos, muitas vezes próximos da literatura de viagens, este tipo de guia apresenta, ainda assim,
material bastante interessante para análise. Consideram-se estadias na cidade todos os programas,
habitualmente de 2 ou 3 dias, que se dirigem apenas à cidade de Coimbra.
35
4 Coimbra e o seu centro histórico:
Estando documentada com mais de dois mil anos de história, Coimbra apresenta-se
como uma das cidades mais antigas do país11. Depois de definitivamente reconquistada aos
mouros, no séc. XI, começou a assumir uma estrutura urbana assente em duas zonas
diferenciadas, a Alta e a Baixa, às quais estavam associados usos e funções igualmente
distintos: a primeira, intra-muros, era habitada pela nobreza, pelo clero e algum povo; a
segunda, fora da muralha e junto ao rio, era ocupada por oficinas e mestres. A instalação da
Universidade, em 1308, veio reforçar a divisão entre as duas zonas, intensificando-se a
dualidade: a Alta ligada ao mundo académico e burguês; e a Baixa, um meio popular, ligada
ao comércio tradicional e aos serviços. Historicamente, estas duas zonas constituem o
núcleo original da cidade que, ainda hoje, está morfológica, funcional, social e
culturalmente estruturado com base na dicotomia entre a Alta e a Baixa.
Num contexto de crescimento urbano contínuo, visível desde o séc. XIX, as áreas
recentes da cidade – Celas, Santo António dos Olivais, Bairro Norton de Matos, Sólum,
Tovim, Cidral, Monte Formoso – transformaram-se em novas centralidades urbanas,
contrastando com as zonas mais antigas da cidade, a Alta e a Baixa, que começaram a
11 Veja-se, a respeito da contextualização histórica da cidade de Coimbra: Dias (1992), Góis (1998), Gomes
(2007 e 2005), Gomes (1995), Nunes (2003), Rosmaninho (2006), Rossa (2007) e Santos (1983).
12 Sobre a evolução do espaço físico de Coimbra, ver Anexos 4 e 5.
36
merecer cada vez mais a atenção e a preocupação da autarquia local, sobretudo pelo nível
de degradação física que apresentam.
13 Para a Alta, há registo de vários projectos PRAUD, a criação de um Gabinete Técnico Local (GTL), a
declaração de área crítica de recuperação e reconversão urbanística e, finalmente, um projecto URBCOM.
Para a Baixa, por seu turno, refiram-se os projectos PROCOM (1995), PRU (1995), PROCOM (1999) e, mais
recentemente, o Processo de Renovação Urbana e Social da Baixa (2004).
14Este argumento vai ao encontro do paradigma preservacionista originário da Carta de Atenas de 1933, pelo
que a valorização do património não se restringe, nas políticas públicas, a intenções de turistificação. Com a
Carta de Veneza, de 1964, a noção de património passou a englobar os tecidos urbanos, onde se incluem,
naturalmente, os centros históricos das cidades. Com este documento procurou-se pôr fim a algumas práticas
ocorridas desde o séc. XIX, que conduziram, por vezes, a operações profundas no tecido urbano antigo (cf.
Peixoto, 2000b; Gaspar, Simões e Barroso, 2006). Foi precisamente no seio destas intervenções profundas
que teve lugar a destruição dos colégios universitários na Alta da cidade, nos anos 1940. É em grande medida
sob o quadro de recomendações destas cartas e, mais tarde, da Carta Europeia do Património Arquitectónico
(1975) e da Declaração de Nairobi aprovada em 1976 pela UNESCO que têm efectivamente início, em
Portugal, as políticas de salvaguarda e reabilitação dos centros históricos. Os objectivos principais destas
políticas passam pela conservação e recuperação dos “conjuntos edificados de valor histórico-patrimonial,
mantendo no local a sua população residente, recuperando monumentos, melhorando a habitabilidade dos
edifícios, qualificando o espaço público e promovendo a dinamização económica e cultural do local” (Gaspar,
Simões e Barroso, 2006: 387).
15Muitos dos objectivos concretos dos programas vão, aliás, ao encontro da criação de espaços conviviais de
qualidade, requalificando o espaço público em geral, nomeadamente através da aproximação da cidade ao rio,
mas também da recuperação de inúmeros edifícios históricos passíveis de serem incorporados em circuitos
turísticos ou culturais.
37
existência de um “complexo de edifícios ligados à produção e transmissão do
conhecimento […] formando sem qualquer dúvida, uma área urbana nobre e bem
delimitada na cidade de Coimbra” (UNESCO: 2008)16.
16 Este projecto não é verdadeiramente novo, tendo a sua origem em 1982, por Matilde Sousa Franco, então
directora do Museu Nacional Machado de Castro. A primeira manifestação formal de intenção de candidatura
de Coimbra a património mundial foi apresentada em 1996, através de um dossier de caracterização sumária
da Alta de Coimbra, zona a candidatar. Finalmente, em 2005, foi apresentado publicamente o guião de
candidatura a património, que inclui elementos da Universidade, Colégios da Rua da Sofia e outros edifícios
importantes (Peixoto, 2007). Deixando de parte a ideia inicial de candidatura da Alta da cidade e
considerando agora as tradições desta zona, dá-se uma viragem na candidatura, de património material a
património imaterial.
17 Ver mapa das freguesias do concelho de Coimbra em Anexo 6.
38
Quadro 1: População residente nas freguesias do concelho de Coimbra18
Freguesias
1950 1960 1970 1981 1991 2001
de Coimbra
Coimbra (concelho) 98 027 106 404 110 553 138 930 139 052 148 443
Centro da cidade 30 196 28 788 23 353 26 028 20 196 17 538
Almedina 4 332 3 705 2 960 2 112 1 953 1 521
Santa Cruz 9 572 11 476 8 824 10 890 8 239 6 866
São Bartolomeu 3 707 3 451 2 484 2 172 1 395 856
Sé Nova 12 585 10 156 9 085 10 854 8 609 8 295
Resto da cidade 67831 77616 87200 112902 118856 130905
Fonte: INE – Recenseamentos gerais da população de 1950, 1960, 1970, 1981, 1991 e 2001.
Apesar deste crescimento, estima-se que, a partir de 2001, tenha tido início um ciclo
de diminuição da população residente em Coimbra. Em 2002, o número de habitantes terá
descido para 145.173 e a densidade populacional do concelho para 454,5 habitantes por
39
km2. Em 2004, passava para pouco mais de 142.000 e, finalmente, em 2006, a diminuição
da população pode ter atingido os 139.083 habitantes (INE, 2007).
Coimbra apresenta-se, então, como uma cidade diversificada, não com um centro
apenas, o histórico e geográfico, mas com várias centralidades urbanas, mais ou menos
afastadas da área antiga, dotadas de especificidades morfológicas e funcionais. Em torno do
centro antigo, onde se incluem as zonas da Alta e da Baixa, outras áreas cresceram e se
desenvolveram, possuindo, hoje, os equipamentos considerados necessários à população,
de forma que representam importantes pólos de atracção no contexto urbano.
O número total de edifícios passou de 24.311 em 1950 para 35.807 em 2001 (INE,
1950 e 2006). Apenas seis freguesias do concelho viram o seu número de edifícios
40
decrescer entre 1991 e 200119, entre as quais se encontram as quatro freguesias do centro
antigo da cidade: Almedina, Santa Cruz, São Bartolomeu e Sé Nova, às quais se juntam as
freguesias de Ameal e Taveiro, numa das franjas da cidade. Pelo contrário, o maior
aumento do conjunto edificado deu-se nas freguesias contíguas ao centro mais antigo, as
mesmas em que a evolução demográfica manifestou um saldo mais positivo: Santo António
dos Olivais, São Martinho do Bispo e Eiras.
19 Ver quadro com informação estatística sobre edifícios em Anexo 8 e representação cartográfica da
diferença entre edifícios existentes nas freguesias de Coimbra, em 1991 e 2001, no Anexo 9.
41
28,8% e revelando, assim, um panorama de juventude, certamente influenciado pela
presença de estudantes no ensino superior.
Para além desta descrição, importa realçar que os indivíduos de diferentes grupos
etários apresentam variações na forma como se distribuem pelas diferentes zonas,
permitindo estabelecer alguns perfis distintos na cidade. Ao contrário da cidade jovem, o
centro da cidade apresenta-se como uma zona envelhecida. Se até ao limite dos 54 anos, as
quatro freguesias representam entre 10% e 11% do total do concelho, ao passar a barreira
dos 55 anos a proporção do centro sobre para 12,3% e até para 16,2% ao chegar ao grupo
dos 65 ou mais anos de idade. Num panorama como este, onde o concelho se apresenta
como jovem, não será de estranhar que os principais meios de vida dos indivíduos20 sejam,
por um lado, o trabalho (45,7%) e, por outro a cargo da família (29,5%), sendo este último
influenciado, mais uma vez, pela população estudantil residente no concelho. Tratando-se
de um concelho onde 11,1% da população tem entre 55 e 64 anos e 16,5% tem 65 ou mais
anos, não surpreende também que 20,3% de residentes tenham como principal meio de
vida a pensão ou a reforma.
20Veja-se, a este respeito, a distribuição da população segundo o principal meio de vida no Anexo 10.
21De subsídios temporários vive 1,7% da população; do rendimento mínimo garantido vive 0,3%; 0,6% dos
residentes possuem rendimentos de propriedades ou empresas; 0,3% beneficiam de apoio social; e os
restantes 1,6% de residentes vivem de outros meios não especificados.
42
que, nesta zona da cidade, serão pequenas unidades de restauração ou comércio tradicional,
e, por fim, o rendimento mínimo garantido.
Como se referiu atrás, o centro da cidade sempre foi marcado por uma dualidade
bem vincada entre a Alta e a Baixa, decorrendo daí a própria ambiguidade na noção do que
constitui ou não o centro histórico da cidade. Historicamente, no contexto urbano, a Baixa
sempre se distinguiu como uma zona marcada pelo comércio tradicional e pelos serviços,
enquanto a Alta, núcleo originário da cidade, se constituía como uma área mais residencial,
ligada principalmente ao meio universitário.
22 Veja-se, a este respeito, a distribuição da população residente segundo o nível de instrução atingido, em
2001, no Anexo 11.
23 Refiro-me a três projectos de investigação em que participei, coordenados pelo Prof. Doutor Carlos
Fortuna, e desenvolvidos pelo Núcleo de Estudos sobre Cidades e Culturas Urbanas, do Centro de Estudos
Sociais da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra: “Estudo de caracterização sócio-
demográfica da Baixa de Coimbra” (2003); “Dinâmicas de recomposição socioeconómica dos centros
43
para além da Alta e da Baixa, se inclui uma área envolvente24 (Mapa 3), que se considera
aqui como centro histórico, é constituída por cerca de 1600 edifícios.
A maioria dos edifícios na Baixa está ocupada por funções não residenciais,
enquanto a Alta é mais ocupada por funções residenciais. É de referir que cerca de 10%
dos edifícios se encontram devolutos, outro sinal evidente da perda de vitalidade desta zona
da cidade.
Pç. 8 Maio
Pç. República
Un iv ersidade
Rio Mondego
Lg. Portagem
históricos: o caso de Coimbra” (2005); “A Alta da Cidade de Coimbra: processos de revalorização patrimonial
e dinâmicas de recomposição sócio-cultural” (2006). É nos resultados destes estudos que me baseio, até ao
final desta secção do capítulo, para caracterizar o centro histórico de Coimbra (Fortuna et al, 2004, 2006 e
2007).
24 Atente-se no facto de a zona aqui considerada ter sido delimitada de acordo com os interesses científicos
das equipas de investigação, bem como das entidades parceiras e financiadoras. A zona estudada não
corresponde aos limites das freguesias centrais, englobando partes de Santa Cruz, São Bartolomeu, Sé Nova,
Almedina e Santo António dos Olivais.
25 Não foi possível recolher esta informação para 1% dos indivíduos.
44
Devido ao grande número de estudantes universitários residentes nestas zonas da
cidade, a proporção de jovens é bastante elevada, mas contrabalançada, no entanto, pelo
grupo dos mais idosos. A presença de estudantes universitários manifesta-se, como se viu
anteriormente, nos níveis de instrução da população: 7% dos indivíduos não possuem
qualquer formação escolar formal e 15,9% completaram apenas o 1º Ciclo do Ensino
Básico, por oposição a 47,5% que atingiram o Ensino Secundário e 13,3% o Ensino
Superior. Aqui, é de facto notória, a influência da universidade no contexto da cidade,
contribuindo para a sobre-representação de indivíduos que, sendo estudantes do ensino
superior, possuem o Ensino Secundário como nível máximo de instrução atingido.
26 Tendo em conta a profissão no momento da pesquisa, ou a última profissão exercida, no caso dos
indivíduos reformados ou pensionistas. As actividades profissionais foram classificadas com base na
Classificação Nacional de Profissões, de 1994, do Instituto Nacional de Estatística.
45
só da expansão física da cidade, mas também da falência ou encerramento de algumas
unidades fabris. Nos últimos 25 anos, reforçou-se a tradicional tendência para localizar as
unidades industriais ao longo dos eixos viários em torno da cidade.
Sector Actividade N % %
sector
Primário Agricultura e pesca 351 1,5 1,5
Indústrias extractivas 14 0,1
Indústrias transformadoras 1743 7,6
Secundário 21,4
Produção e distribuição de electricidade, gás e água 10 0,0
Construção 3131 13,7
Comércio por grosso e a retalho 8181 35,7
Alojamento e restauração 2068 9,0
Transportes, armazenagem e comunicações 652 2,8
Terciário Actividades financeiras 540 2,4 77,1
Actividades imobiliárias, alugueres e serviços prestados
às empresas 4029 17,6
Administração pública, defesa e segurança social
obrigatória, educação, saúde e acção social e outras 2183 9,5
Total 22902 100 100
Fonte: INE (2006a), O país em números
46
As actividades imobiliárias, alugueres e serviços prestados às empresas, no sector
terciário, e a construção, no sector secundário, apresentam-se igualmente com proporções
consideráveis no conjunto das actividades económicas concelhias.
47
Também em 2005, a época alta representou 29,9% do total de dormidas. A taxa
bruta de ocupação das camas disponíveis nos estabelecimentos hoteleiros foi de 40,2% em
Coimbra, representando a taxa mais elevada de toda a Região Centro e situando-se, até,
num ponto mais elevado em comparação com a taxa do Continente (37%).
Dados mais detalhados, por freguesia, estão somente disponíveis para 2002. Ainda
assim, importa referir que, nesse ano, existiam em Coimbra 10 hotéis, 26 pensões, uma
pousada de juventude e um estabelecimento hoteleiro de outro tipo (INE, 2006), que se
distribuíam pelo concelho de forma bastante desigual. Apenas as freguesias de Almedina,
Santa Clara, Santa Cruz, Santo António dos Olivais e São Bartolomeu, ou seja, as que
delimitam o perímetro urbano de Coimbra (excepto a Sé Nova, que não está aqui incluída)
estavam equipadas com pelo menos um hotel. No caso das pensões, estas existiam em
Almedina, Castelo Viegas, Eiras, Santa Cruz, Santo António dos Olivais, São Bartolomeu,
Sé Nova e Souselas, isto é, nas zonas tipicamente urbanas, mas também nalgumas faixas
mais periféricas do concelho. A pousada da juventude situava-se na freguesia de Sé Nova, e
o estabelecimento restante em Santo António dos Olivais, novamente duas zonas centrais
da cidade. As freguesias de Assafarge e Botão eram as únicas servidas com espaços para
turismo rural.
48
Essa atenção política é importante, de resto, na medida em que o turista que visita
Coimbra assume um perfil exigente, não só quanto à autenticidade que lhe é dada a conhecer,
como também em relação aos níveis de conforto que pretende usufruir na cidade 28.
“Encontrando-se num tempo de excepção e num espaço que ele próprio se encarrega de
converter simbolicamente em festa”, o turista sobrevaloriza a auto-estima e a auto-
realização, constituindo-se como o soberano de um mundo imaginário que,
temporariamente, é um mundo às avessas (Fortuna, 1999: 71).
O espaço urbano até aqui descrito constitui a cidade real, com as suas dinâmicas de
expansão geográfica, a sua população residente e as actividades que lhe dão vida, vista a
partir, fundamentalmente, de uma óptica estatística. No entanto, a dimensão turística de
Coimbra não é captável apenas, talvez nem sobretudo, por este lado mais quantitativo,
traduzido em indicadores socioeconómicos. A Coimbra turística é também a dos
imaginários, das representações e das percepções que se produzem e se difundem nesses
outros circuitos que, como refere J. Urry (1990), (re)criam as imagens turísticas do lugar e
concorrem para construir socialmente a experiência que nele procuram os turistas: os
circuitos alimentados pelos relatos ou literatura de viagem, os registos mais etnográficos, os
guias e materiais de promoção turística do lugar.
Para aceder a esse imaginário sobre a Coimbra turística, recorro aqui a três fontes: o
Guia Expresso das Cidades e Vilas Históricas de Portugal (1996) 29, o Guia de Portugal (1988
[1924])30 e o Guia American Express: Portugal (2007)31, seleccionados por possibilitarem uma
análise longitudinal em perspectiva comparada. O objectivo desta primeira aproximação
aos imaginários turísticos passa por desvendar se o que se promove no país é semelhante
ao que é promovido no estrangeiro. Com o auxílio do Guia da Fundação Calouste
Gulbenkian, pretende-se, por outro lado, perceber se se trata de elementos recentes na
promoção da cidade ou se, pelo contrário, a cidade continua a fazer-se valer de recursos já
importantes no passado.
e 1988 pela Fundação Calouste Gulbenkian, mas reproduzem fielmente a primeira edição, publicada pela
Biblioteca Nacional de Lisboa, em 1924.
31 Guia dividido por áreas, que não correspondem a divisões administrativas. Coimbra insere-se, aqui, na zona
das Beiras.
49
No Guia Expresso das Cidades e Vilas Históricas de Portugal, a cidade de Coimbra está
associada a Montemor-o-Velho e Figueira da Foz, num dos 27 volumes da colecção. Este
volume conta com a colaboração do historiador José Hermano Saraiva, do arquitecto
Walter Rossa e dos geógrafos Luciano Lourenço e Mário Matos.
Na primeira rubrica, J. H. Saraiva começa por afirmar que é o Rio Mondego que faz
Coimbra e enfatiza os aspectos históricos da cidade, chamando-lhe a Colina das Sete Cidades
e descrevendo cada uma dessas sete cidades, com início no “povoado pré-histórico num
outeiro defendido pelo fosso natural do Mondego e pelas duas ravinas que nele
desembocavam”, até à Coimbra actual, que “é muito maior mas não muito diferente”
(Saraiva, 1996: 3-4). Nesta descrição histórica, o autor destaca o papel importante da cidade
como primeira capital de um reino que nascia, mas também o estatuto do Paço de
Coimbra, que D. João III terá oferecido para a sede da universidade, como detentor do
“título de mais ilustre lugar de Portugal”. Com esta cedência, teve início, na opinião do
historiador, a complementaridade entre as ideias de Universidade e de Coimbra, pelo que
esta terá passado “a ser a cidade dos estudantes”.
Na segunda rubrica sobre a cidade, W. Rossa defende que, para entender sua a
posição na história, é fundamental “esse fatalismo geográfico que lhe determinou papéis
vários de centralidade, fronteira, portagem, encruzilhada a diversas escalas ao longo do
tempo” (Rossa, 1996: 5). De facto, é neste sentido geográfico que se centra o contributo do
autor, começando com a Coimbra romana, passando pelo início da nacionalidade e pela
expansão urbana da cidade muralhada para a parte baixa da cidade. A iminente
desertificação da Alta terá sido travada pela instalação definitiva da Universidade, facto que
tornou Coimbra “a única cidade do Antigo Regime a manter vitalidade na sua velha
cidadela e a ver sociológica e culturalmente dividido – entre escolares e futricas – o seu
espaço urbano” (ibid: 6).
50
Depois destas três descrições, o guia apresenta aos leitores um mapa da cidade com
quarenta pontos considerados notáveis, de cariz monumental e, a seguir, três percursos
possíveis para conhecer a cidade: “Coimbra dos Amores”, “Coimbra dos Futricas” e
“Coimbra dos Doutores”. O primeiro percurso centra-se na margem esquerda do
Mondego e visa uma cidade “idílica, a Coimbra dos amores, da Lapa, do Choupalinho, da
Quinta das Lágrimas, dos rouxinóis”. O segundo contempla a Baixa e seu respectivo eixo
comercial. Finalmente, o último percurso centra-se na parte mais antiga da cidade,
“atravessando locais onde as tradições académicas germinaram. É a Coimbra das
conspirações, das crises e das lutas estudantis, com as suas repúblicas, os seus excessos, a
sua irreverência e a sua infinita generosidade”. Um aspecto interessante neste ponto é a
crítica subjacente às repúblicas que, se outrora representaram os ideais de Liberdade,
Igualdade e Fraternidade e constituíram centros distintos de luta política e agitação
estudantil, não passam, hoje, de meras referências no roteiro turístico académico.
De acordo com este guia, e em forma de síntese, o que torna esta cidade tão
singular “é a facilidade com que a História se transforma em lenda e a rapidez com que os
factos se transmudam em mitos”, daí a sua simbologia própria e o consequente número
elevado de locais a merecer visita. Este é um guia com aspectos bastante técnicos, como a
caracterização demográfica da cidade que se socorre de dados estatísticos, taxas e índices de
desenvolvimento. É, igualmente, um guia que utiliza um estilo de linguagem pouco poético,
mais directo e dotado, até, de alguns laivos de criticismo relativamente ao défice industrial
que sempre se verificou na cidade, em contraste, nomeadamente, com o Guia de Portugal,
publicado pela Fundação Calouste Gulbenkian, da autoria original de Sant’Anna Dionísio.
51
Este guia, com um cariz bastante mais histórico e muito mais próximo da literatura
de viagens a que, por exemplo, Almeida Garrett nos habituou, tem início com uma série de
indicações práticas sobre infraestruturas existentes, modos de deslocação para e dentro da
cidade, comércio e indústrias, hotelaria e restauração, festas, feiras e romarias na cidade. A
seguir a esta exposição, passa-se para uma descrição da situação e da fisionomia da cidade,
em que a esta são atribuídos os títulos de “cidade fundamentalmente escolar, dotada de
uma das universidades mais antigas da Europa, na escala populacional […] a quarta cidade
portuguesa, sede de distrito, de bispado e duma região militar, capital da província da Beira
Litoral” (Dionísio, 1988: 179). Em toda esta parte se faz um elogio à cidade, bastante
notório na linguagem utilizada, que apela aos sentimentos, à emoção e ao afecto por
Coimbra, cujo aparecimento, “para quem vem pela estrada de Lisboa, é uma maravilhosa
surpresa”. Igualmente bela é a vista pelo lado poente: “a cidade surge […] como um fundo
mágico de cenário […] mas esse cenário não se desprende mais da memória” (ibid: 181).
32 Para o primeiro dia, o guia sugere que se visite Santa Cruz, Rua da Sofia, Igreja de S. Tiago, Santa Clara-a-
Velha e Nova, Universidade, Museu Machado de Castro, Igreja de São Salvador e Sé Velha. No segundo dia,
deve visitar-se o Parque de Santa Cruz, o Mosteiro de Celas, Santo António dos Olivais, Paço de Sub-Ripas,
Torre de Anto, claustro do Colégio Novo, Museu de Biologia, Jardim Botânico e Penedo da Saudade. Para o
último dia reserva-se uma volta da Conraria ou visita às ruínas de Conímbriga e um passeio ao Choupal ou
visita ao mosteiro de S. Marcos.
52
Universidade, os estudantes, as repúblicas e o fado. De acordo com este guia, estes são
factores de distinção de Coimbra em relação a outros meios académicos, como sejam
Heidelberg, Oxford, Montpelier ou Salamanca. O itinerário para conhecer Coimbra
termina na “parte moderna da Cidade”, pois esta tem vida própria e já não depende
exclusivamente dos estudantes universitários, até porque “a expansão urbana da velha Lusa
Atenas tem sido considerável no decurso do séc. corrente” (Dionísio, 1988: 302).
Neste guia, Coimbra é “a velha cidade universitária” que merece ser explorada e
constitui um bom ponto de ligação para outros locais nas Beiras. O que aqui se destaca é o
berço de seis reis de Portugal, o título de capital até 1256 e a sede da mais antiga
universidade do país. Coimbra representa, para os portugueses “as raízes da nação. Para os
visitantes é um tesouro de fascinantes associações históricas” (McDonald, 2007: 202).
33São aqui referenciados a Sé Velha, a Sé Nova, o Museu Nacional Machado de Castro, Santa Cruz, o Jardim
Botânico, Santa Clara-a-Velha, Santa Clara-a-Nova e o Portugal dos Pequenitos.
53
Exame Privado e a Porta Férrea. As tradições estudantis são explicadas na sua relação com
a universidade, dando-se relevo único à Queima das Fitas.
O objectivo geral dos guias passa por uma apresentação da cidade através da
recomendação de visita a determinados locais, garantindo que se evitam desvios ao modo
planeado de conhecer a cidade. Esta tentativa de mostrar a cidade seleccionada leva ao uso
de uma linguagem de exaltação dos lugares, daí que, independentemente do guia, o que
merece realce é a utilização constante de superlativos de superioridade, para caracterizar a
cidade como a mais “qualquer coisa”, a mais antiga, bonita, ilustre, notável, admirável, ou
qualquer outro adjectivo que a distinga de outras cidades.
54
5 A produção da imagem turística de Coimbra:
55
Aplicando a teoria do actor-rede34 ao campo dos estudos sobre turismo, R. van der
Duim (2005: 99-103; 2007: 967-970) desenvolveu o conceito de paisagens turísticas35 para se
referir aos modos de ordenação das pessoas e das coisas que constituem o turismo. De
acordo com esta interpretação, as paisagens turísticas englobam pessoas, objectos e espaços.
Em primeiro lugar, pessoas que usam serviços turísticos, mas também pessoas e
organizações responsáveis pelo fornecimento desses mesmos serviços. Em segundo lugar,
um conjunto de objectos integrados em rede, que remetem para meios de comunicação,
máquinas e tecnologias, onde se incluem as redes de transporte e as redes de comunicação
para conduzir mensagens e informações em vários formatos, como sejam fotografias ou
imagens. Por último, as paisagens turísticas englobam espaços relacionais, construídos a partir
das múltiplas relações que se estabelecem entre estes vários tipos de actores.
Não se trata, naturalmente, de reconstituir na sua plenitude o que R. van der Duim
designaria de paisagem turística da cidade. Fora da análise aqui apresentada ficam elementos
centrais dessa paisagem: os turistas e os muitos outros interlocutores que, de forma directa
ou indirecta, concorrem igualmente para a sua formação dinâmica36. O objectivo, aqui, é
compreender as condições de funcionamento, não da paisagem turística no seu todo, mas da
esfera em que são criadas e postas a circular as imagens de promoção turística da cidade – o
34 “Actor-network theory”, na expressão original. Esta teoria tem os seus principais fundamentos nos
trabalhos de autores como Bruno Latour (1997a e 1997b), Michel Callon (1986 e 1999), John Law (1999) e
Madeleine Akrich (1993).
35 Tradução livre da expressão “tourismscapes”. Este conceito não se refere à paisagem no sentido de um
quadro panorâmico que está ao alcance da vista, mas vai ao encontro do conjunto dos elementos humanos e
não-humanos que constituem o ambiente turístico, onde se incluem sistemas de transportes, alojamento e
infra-estruturas, recursos, ambientes, tecnologias, pessoas e organizações.
36 Como já referi, a reconstituição analítica da paisagem turística de Coimbra, na sua globalidade, é trabalho cuja
dimensão ultrapassa esta tese, mas está a ser desenvolvida a partir de outros instrumentos analíticos no
projecto de investigação “PIQTUR – Fluxos turísticos no centro histórico de Coimbra”.
56
espaço relacional em que se cruzam operadores públicos e privados, responsáveis políticos,
materiais e políticas de promoção da cidade.
“Em princípio, a Empresa Municipal de Turismo foi constituída pela Câmara Municipal
com uma intenção de encontrar uma estrutura que, com outra flexibilidade, com outras
possibilidades de associação, com uma capacidade diferente de resposta, se responsabilize
pela divulgação, pela promoção e pelo bem-estar dos turistas na cidade. Portanto, estas são
as ideias centrais. Para isto, a Câmara Municipal fez um contrato-programa com a Empresa
Municipal, que pressupõe uma troca recíproca de serviços. A Câmara garante alguns
recursos, a Empresa compromete-se a arranjar outros e a utilizá-los todos em favor destas
situações.” (Entrevista ao Presidente do Conselho de Administração, TC/EM)
37A reconstituição da paisagem turística da cidade é aqui elaborada através da análise das entrevistas realizadas a
actores públicos e privados, referidas e justificadas no Capítulo anterior.
57
nova empresa se tenha sentido necessidade de contratar novos serviços para colmatar
algumas deficiências.
“Na nossa opinião, havia duas áreas um pouco deficitárias. Uma era uma área ligada aos
projectos, achamos que era importante especializar alguém em projectos e em candidaturas
aos projectos. […] E garantir também alguém que pudesse gerir todo o processo de
comunicação. Uma das ideias iniciais é criar um grande portal destinado ao turismo e,
portanto, alguém que faça toda a gestão da informação turística dentro desse portal, dentro
de um sítio na Internet, mas também que faça a gestão da informação para o exterior.”
(Entrevista ao Presidente do Conselho de Administração, TC/EM)
“Neste momento, nós estamos a trabalhar para projectos, estamos a trabalhar muito para
projectos e, no âmbito de um projecto qualquer, precisamos, naturalmente, de uma
estratégia de comunicação […] Estamos na eminência de lançar agora um concurso público
para o site, para a concepção, para a arquitectura do site. […] Temos a ideia de uma
campanha para a promoção de Coimbra, em Portugal e Espanha, vamos também lançar
um concurso público para uma empresa […] que agarre naquilo e nos consiga produzir,
que nos consiga entregar três ou quatro produtos que se destinem a essa promoção. […]
Mas vamos com certeza ter, obrigatoriamente, um bom videograma para um suporte
televisivo de 20 a 25 segundos, que será passado em Portugal e em Espanha, nas regiões
autónomas, nas regiões à volta da fronteira portuguesa.” (Entrevista ao Presidente do
Conselho de Administração, TC/EM)
Este excerto remete para alguns aspectos que vale a pena considerar. Em primeiro
lugar, ilustra uma das lógicas predominantes do trabalho nesta área de actividade: a lógica
de organização por projectos, que vai prevalecendo nos sectores criativos e que origina
uma elevada circulação de profissionais e ideias38.
“É importante que seja uma coisa onde Coimbra se reconhece para se fazer reconhecer. E
isto é essencial. Não pode vir aí um criativo de Marte, de pára-quedas, com uma ideia
brilhante e que, obviamente, as pessoas de Coimbra e Coimbra enquanto entidade
38
Sobre a organização por projectos e a tendência para a sua disseminação por vários sectores de actividade,
mais particularmente pelos sectores cultural e criativo, ver Greffe (1999).
58
abstracta, mas com alma, se não reconheça.” (Entrevista ao Presidente do Conselho de
Administração, TC/EM)
59
Trata-se de um gabinete sem estruturas intermédias, ou seja, sem departamentos de
trabalho com responsabilidades intermédias, constituído por elementos jovens e com
formações académicas ou profissionais bastante diversas. Entre o grande número de
técnicos a exercer funções no Gabinete contam-se formações em Relações Internacionais,
História da Arte, Arquitectura, Design, Engenharia e Serviço Social. O trabalho de
promoção turística é, assim, desempenhado de acordo com uma lógica de flexibilidade e
adaptabilidade de profissionais dedicados a outras funções especializadas.
“Se calhar, nós precisávamos de alguém na área do marketing, está a perceber? Mas se calhar
aí nem seríamos nós, seria a Empresa de Turismo. Nós teríamos outra actividade mais
importante, que era a actividade histórica, principalmente desta área, as parcerias com a
Universidade, no desenvolvimento da cidade e em documentos mais técnicos. […] Como
até agora a Empresa de Turismo não existia, nós íamos fazendo esses papéis um bocado de
todos. Agora, é claro que vamos ter que subdividir, até porque vamos ter que recorrer à
Empresa para fazer documentos com mais qualidade, como é lógico.” (Entrevista ao
Director, GCH/CMC)
Ainda que o Gabinete não seja uma entidade especializada e responsável pela
promoção turística da cidade, há uma preocupação forte, como revela o excerto, em
associar as funções de reabilitação e preservação do edificado e do património histórico à
promoção turística do centro histórico. Na lógica do que já atrás foi discutido sobre a
importância do turismo nas políticas de regeneração urbana, surge, no discurso do
entrevistado, uma valorização turística do centro, como dimensão estratégica de gestão e
do planeamento urbanos.
60
Este excerto contribui para reforçar a ideia atrás enunciada. Por um lado, a defesa
da promoção turística do centro histórico como uma tarefa de todos demonstra o valor
estratégico atribuído ao turismo. Por outro lado, fortalece-se aqui a visão do centro
histórico e da cidade como produtos turisticamente vendáveis. A associação entre atracção
de turistas, apontando para um centro turistificado, e a valorização da história do lugar,
através da criação e difusão de informação histórica, arquitectónica e monumental, é forte.
Ainda assim, essa associação detém-se na dimensão material do lugar e do seu património,
esquecendo o lado imaterial dos modos de vida e das expressões culturais. A valorização da
dimensão material pode ser explicada pelo enfoque característico do Gabinete, onde
predomina uma visão clássica do património, ou seja, na sua vertente material, remetendo
para o edificado, a arquitectura e a engenharia.
Ainda de âmbito local, surge outro actor preponderante que, tal como o anterior,
não está directamente implicado na promoção turística de Coimbra, acabando, no entanto,
por desempenhar um papel crucial na visibilidade externa da cidade. Trata-se da
Universidade de Coimbra (UC).
61
aquele que mais conhecido faz o nome de Coimbra, universalmente. E, por conseguinte,
toda a promoção que é feita à Universidade é, naturalmente, feita à cidade, atendendo às
interligações que existem entre as duas entidades.” (Entrevista ao Pró-reitor para o
património, UC)
“… num terreno concorrencial, que é o das universidades hoje, nós temos um produto
profundamente singular, que é um património vivo, não é? Quer dizer, nós estamos
habituados a ter com o património uma relação estática. […] E nós, aqui, o que temos é
exactamente isso, é um edifício que está completamente em uso permanente por uma
comunidade, a todos os níveis. […] Portanto, isto é uma característica absolutamente
peculiar deste produto. Logo, o que acontece é que quem vive esse produto é uma escola, é
uma instituição científica, é uma instituição pedagógica e, por conseguinte, isso a singulariza
entre as suas congéneres.” (Entrevista ao Pró-reitor para o património, UC)
62
competição mercantil, enquanto produto vendável num mercado paralelo ao mercado
académico: o mercado turístico. Pelo discurso deste entrevistado perpassa, então, um
raciocínio marcadamente empresarial, referindo-se à Universidade não só com uma
linguagem entusiasta, que remete para as dimensões históricas e patrimoniais da instituição,
mas também com uma linguagem de mercado, a partir da qual a instituição é vista como
um produto vendável, com grandes potencialidades de rentabilização.
“Foi criado um novo flyer a pretexto da FITUR de Madrid, que vai ser distribuído
gratuitamente, está já a ser distribuído gratuitamente com o bilhete e o flyer é renovado sob
todos os pontos de vista, porque, entre outras coisas, é agora construído em função do
circuito turístico. […] A Universidade vai começar a expandir-se, para além da visita linear
que habitualmente se faz ao circuito do Paço das Escolas, vai começar a ser o pólo para
uma série de visitas alternativas ao património da Universidade, disseminado pela cidade.”
(Entrevista ao Pró-reitor para o património, UC)
Passando do âmbito local para o regional, duas entidades surgem como actores
importantes na promoção turística da cidade: a Região de Turismo do Centro (RTC) e a
Agência Regional de Promoção Turística do Centro de Portugal (ARPT Centro de
Portugal), presidida pela RTC. Para estes dois actores, a cidade de Coimbra deixa de ser
encarada e promovida por si só, passando a ser divulgada no contexto regional, ainda que
com alguma proeminência no seio da região.
63
O âmbito da Região de Turismo foi sendo alargado através de novas Portarias e
Decretos-Lei, até atingir a sua dimensão actual, representando 24 concelhos41 da Região
Centro. Nas palavras do presidente da RTC:
Esta visão situa a cidade de Coimbra como uma espécie de âncora para o
desenvolvimento turístico da Região Centro. Esta é, aliás, uma opinião partilhada por
outros actores, nomeadamente aqueles com responsabilidades ao nível local. De acordo
com o presidente do conselho de administração da TC/EM, por exemplo, Coimbra deveria
ser encarada como um porta-estandarte da Região e, adoptando a estratégia de promoção
do Norte do país42, transformar o slogan de promoção da região numa expressão do tipo
Coimbra e Centro de Portugal.
“Neste momento, nós temos a brochura de Coimbra, temos o portal, que é uma peça
fundamental para nós, temos a agenda e o mapa de eventos. […] Temos, depois, no âmbito
da nossa participação na Agência, que é uma estrutura autónoma da Região de Turismo do
Centro, que só faz promoção externa, essa tem depois um conjunto de materiais. […]
41Para além dos anteriores, Góis, Condeixa-a-Nova, Soure, Carregal do Sal e Santa Comba Dão.
42Habitualmente, a região norte de Portugal é promovida, tanto pelas instâncias públicas, como pelas
empresas privadas, com expressões do tipo “Porto e Norte de Portugal”.
64
Portanto, brochura, mapas, mapas de eventos, guias de alojamento, o portal e temos depois
o material de merchandising que é distribuído por um conjunto de certames.” (Entrevista ao
Presidente, RTC)
“Do ponto de vista turístico nós ainda não fomos capazes de tornar isto de facto um
produto turístico que seja vendável noutros mercados, da mesma forma que ainda não
tirámos partido do turismo religioso.” (Entrevista ao Presidente, RTC)
Os objectivos desta instituição para a cidade podem ser reunidos em dois grandes
grupos: uma estratégia de animação e uma organização do espaço.
“Nós pretendemos fazer duas coisas. Para já, estabelecer uma estratégia de animação para o
centro histórico e para a cidade, que possa também ela depois ser copiada, entre aspas, para
outros centros históricos de outros municípios. […] E, portanto, nós, aí, estamos, por um
lado, a tentar envolver o maior número de parceiros. […] Segundo: uma preocupação que
tem a ver com a própria organização do espaço no sentido de que ele possa ser, digamos
assim, usufruído de uma forma mais eficaz.” (Entrevista ao Presidente, RTC)
“A agência não tem departamentos, a agência faz parte, claramente, daquilo a que se chama
a nova mentalidade e a nova estrutura. […] Do ponto de vista de promoção externa, há três
65
aspectos que são determinantes. Um é a comunicação e a informação. […] Depois, do
ponto de vista de promoção, há todo um trabalho de estruturação da oferta que é aquilo
que é feito da análise, do ponto de vista da oferta, das suas fraquezas e dos seus pontos
fortes […] e depois há o aspecto de promoção propriamente dita. Este, digamos, assenta
em duas grandes variáveis. Uma variável externa, que é ir lá fora e promover. […] E outra,
que é interna, que é feita com um instrumento promocional muito importante, que é uma
coisa que se chama farm-trips, em que nós, naturalmente em colaboração com as
transportadoras aéreas e com as delegações de Portugal dos diversos países, trazemos ao
Centro de Portugal os jornalistas e operadores.” (Entrevista à Directora Executiva, ARPT)
“A transparência das contas é muito importante porque nós temos um corpo de accionistas
a quem temos que dar resposta porque é com o dinheiro deles que trabalhamos. Portanto,
as contas têm que ser transparentes e as relações custos/benefícios têm que ser avaliadas
muito bem, o que significa que a Agência não faz favores políticos.” (Entrevista à Directora
Executiva, ARPT)
“Como não há favores políticos, há análise, o que significa que nós temos que saber quais
são os nosso principais mercados e é nos principais mercados, onde claramente se vai
buscar, que se vai investir mais dinheiro, como é evidente.” (Entrevista à Directora
Executiva, ARPT)
“Não tem [referências à história da cidade] porque estamos a falar de uma linguagem de
comunicação que é uma linguagem publicitária e, portanto, não estamos a falar de teses.
Estamos a falar de sound bites, muito simples.” (Entrevista à Directora Executiva, ARPT)
66
do lugar. Contrastando com os discursos dos actores até aqui apresentados, a questão que
agora se evidencia é a da lógica da re-significação dos lugares por via do seu
posicionamento em mercados mais amplos, reduzindo-os a uma pura marca.
Por outro lado, a visão desta entrevistada é a mais pessimista entre todos os actores
entrevistados, argumentando pela falta das infraestruturas indispensáveis a um ambiente
urbano que pretende assumir-se como um destino turístico importante nos mercados
nacionais e internacionais.
67
Os operadores turísticos actuam no mercado como agentes grossistas, criando
pacotes e circuitos turísticos que, posteriormente, são enviados para as agências de viagens
onde são comercializados. Para esse efeito, enviam as brochuras relativas aos programas,
para que possam ser divulgadas, publicitadas e comercializadas. As relações entre
operadores turísticos e agências de viagens são complexas, nomeadamente pelo facto de
alguns operadores funcionarem simultaneamente como agências. Entre os quatro
operadores entrevistados, dois acumulam as competências de agência de viagens.
“Somos também muitas vezes nós a dizer aos hotéis a necessidade de criar algo diferente.
Nem sempre são os hotéis que têm essa ideia, porque sentimos a necessidade de lançar as
chamadas ofertas especiais e para isso tem que ser um programa diferente daquele que está
na brochura. A brochura limita-se a ter o alojamento e os preços de alojamento. Portanto,
ao querermos isto, o que é que nós fazemos? É ligar para os hotéis, é perguntar como é que
eles estão em termos de ocupação e ver se querem fazer algo especial porque nós fazemos
a divulgação através da web.” (Entrevista a OpT3)
“Há uma ideia base para realizar um circuito. Essa ideia pode ter surgido de diversas
situações. Ou uma proposta de um hotel, portanto, pode nascer de um fornecedor. Pode
nascer de um circuito antigo que nós fazemos uma reposição ou pode nascer de um
destino que queremos explorar estrategicamente.” (Entrevista a OpT4)
43 Este serviço corresponde à venda de férias no mercado português para destinos estrangeiros.
44 Este serviço consiste na recepção de turistas estrangeiros para programas no território nacional.
45 Habitualmente, trata-se de brochuras com a oferta de hotelaria em cada cidade ou região do país e algumas
68
É nítido o papel de mediação exercido pelos operadores: eles articulam-se com as
cadeias hoteleiras, sugerindo programas e negociando condições. Colaborando com estes
outros agentes privados, os operadores contribuem para a promoção do destino. Importa,
ainda assim, realçar um aspecto importante neste tipo de mediação: os hotéis são, muitas
vezes, escolhidos em função dos serviços que oferecem aos clientes, em detrimento da sua
localização em cidades específicas.
“As unidades [hoteleiras], cada vez mais, abrem com muitas facilidades, únicas, que fazem
com que as pessoas escolham exactamente ir para o hotel porque tem determinadas
características, não necessariamente pelo local em si.” (Entrevista a OpT1)
“Não baseamos o circuito no destino, mas sim no hotel. Portanto, o hotel que nos presta
um bom serviço e com qual temos uma confiança plena de que os clientes vão atingir a
satisfação é a nossa escolha. Obviamente que o destino tem sempre uma pequena
percentagem de decisão, mas muito pequena.” (Entrevista a OpT4)
“Estas fotografias somos nós que, tentando ir buscar fotografias que não estejam com
copyright, digamos assim, utilizamo-las na ilustração das nossas promoções. Algumas são
69
cedidas pelas próprias unidades. Outras são retiradas da página da Internet. Não vai lá
ninguém de propósito fotografar os sítios, não é?” (Entrevista a OpT1)
“Da Internet, tudo. De certeza absoluta. No site do IPPAR, noventa por cento, porque é
óptimo.” (Entrevista a OpT2)
“Normalmente, os textos, nós vamos buscá-los aos departamentos das Regiões de Turismo
para que seja tudo legal, mesmo as próprias fotos são fornecidas por eles. Ou ao banco de
dados que temos de fotografias autorizadas. E os textos são compostos em função disso, já
que está Coimbra incluída da zona das Beiras, é em função daquilo que juntámos dos
diversos pontos.” (Entrevista a OpT3)
A elaboração final dos textos, a selecção última das fotografias, bem como a
escolha dos locais a visitar são processos bastante influenciados pelas sensibilidades
pessoais dos actores inseridos nos sectores de incoming, circuitos ou recepção de grupos.
Ainda que o número de entrevistas realizadas não permita fazer generalizações, é notória
uma preocupação maior com o nível de pormenor oferecido em relação aos elementos
históricos e culturais da cidade nos materiais dos operadores que promovem circuitos, em
comparação com os que apenas oferecem guias hoteleiros ou de auto-férias.
Como se vê neste excerto, apesar da pesquisa que possa existir sobre a cidade, a
selecção dos elementos a incluir nas brochuras de guias práticos ou de circuitos passa pelas
sensibilidades pessoais dos actores envolvidos, remetendo para uma avaliação dos aspectos
mais vendáveis da cidade junto dos mercados turísticos alvo. A forma como a cidade é
representada nestes materiais promocionais e as narrativas a partir das quais é apresentada
aos turistas, são assim construídas com base numa dose considerável de arbitrariedade,
muitas vezes dependentes das subjectividades pessoais dos actores em causa.
70
O que daqui resulta é, porventura, uma representação estereotipada da cidade,
baseada nas imagens mais correntes sobre ela, resumindo o espaço urbano às suas
características mais mediatizadas e habitualmente publicitadas. O trabalho de mediação
exercido pelos operadores turísticos, ainda que por vezes resumido a selecção e filtragem
de conteúdos, contribui para a (re)produção dos imaginários urbanos, até porque, como
tem vindo a ser defendido ao longo deste trabalho, o turismo é um dos veículos mais
poderosos para a criação e difusão de imagens sobre as cidades.
Tratando-se de uma empresa com uma existência recente, não é claro, até ao
momento, quais as funções de uma e outra instituições. Adicionalmente, surge o Gabinete
para o Centro Histórico que tem vindo a desempenhar algumas funções nesta área.
“Vamos lá ver, o GCH continua a fazer as actividades que fazia. Aliás, o que tem
acontecido ultimamente é a Empresa de Turismo vir apoiar-se no trabalho que temos feito
e nas ideias que nós temos mas que não temos capacidade para desenvolver.” (Entrevista
ao Director, GCH/CMC)
“Mas normalmente conversamos. Quer dizer, com a Universidade tenho linha aberta, assim
como eles têm connosco. Com a Empresa de Turismo, nesta altura, também já tenho. Não
tive nos primeiros meses, até eles se organizarem, mas nesta altura já tenho” (Entrevista ao
Director, GCH/CMC)
71
“A gente tem estudo que diz que a principal razão para as pessoas virem a Coimbra é a
Universidade e o Fado. Portanto, se assim é, obviamente a primeira coisa que temos que
fazer é entender-nos com a Universidade. Entender-nos a vários níveis, pôr-nos à
disposição da Universidade e desafiando a Universidade. […] A Universidade tem sido,
para nós, um parceiro estratégico.” (Entrevista ao Presidente do Conselho de
Administração, TC/EM)
Uma avaliação crítica vem, por exemplo, do Gabinete para o Centro Histórico, cujo
Director reclama uma atenção maior por parte da Região de Turismo do Centro:
“A Região de Turismo do Centro é o meu grande problema. Nunca consegui falar com
eles. […] Já fiz várias tentativas, já mandei não sei quantas cartas, nunca consegui que me
recebessem.” (Entrevista ao Director, GCH/CMC)
Para além das relações entre instituições públicas, a Região de Turismo do Centro,
através da sua estrutura autónoma, a Agência Regional de Promoção Turística, possui
melhores possibilidades de cooperação, nomeadamente com empresas do sector privado.
“Nós temos várias parcerias, uma delas, desde logo, os municípios. São os nossos
principais associados. […] Temos depois um conjunto de organismos que também fazem
parte da nossa Região de Turismo do Centro. Estão sobretudo na nossa comissão regional.
E a comissão regional é composta pelos 24 municípios mais representantes dos variados
sectores. Da associação de hotelaria, de agentes de viagens, de representantes de vários
organismos desde a saúde ao Ministério da Cultura, à CCDR, ao Ministério da Economia,
ou seja, todos os parceiros, todos os actores que estão no território que possam ter uma
relação com o fenómeno do turismo, eles fazem parte.” (Entrevista ao Presidente, RTC)
72
operadores turísticos: a escassez de divulgação dos destinos por parte das entidades locais e
regionais competentes.
“Tivemos que abdicar do tour [só para Coimbra] porque não tinha gente interessada. É
engraçado, porque eu acho que isto tem também a ver com a promoção da própria região e
da própria cidade de Coimbra, a nível turístico e a nível de exterior. […] Não passa só por
nós, porque obviamente nós divulgamos, mas se a própria região em si não divulga e os
clientes não vêm informados…” (Entrevista a OpT2)
“Por exemplo, eu de Coimbra não recebo nada. Portanto, há muitos meios de divulgação
que a própria Região de Turismo ou os Postos de Turismo ou a Câmara Municipal e o
responsável pelo turismo deviam aproveitar e serem mais dinâmicos.” (Entrevista a OpT3)
Para além destes problemas, que denunciam uma promoção considerada deficitária,
os operadores acusam também a escassez de informação sobre a cidade disponibilizada
pelas instituições públicas, sejam elas elementos sobre a história da cidade ou fotografias de
qualidade para serem usadas em brochuras promocionais.
73
6 Coimbra turística:
O que aqui está em causa é perceber que imagens da cidade circulam na esfera da
promoção turística. Que aspectos da cidade são postos em relevo e que dimensões da
cidade são esquecidas? Que qualidades, ideais ou imaginárias, são salientadas? Que perfil,
ou perfis de cidade emergem no imaginário turístico? Que relação estabelecem esses perfis
com as características materiais e sócio-culturais da cidade contemporânea, da sua história e
da sua auto-representação? Estas são algumas das interrogações que servem de fio
condutor ao capítulo.
Sobre os efeitos que tais imagens têm nos comportamentos e percepções dos
turistas e na auto-representação da comunidade local, este trabalho não permite indagar de
forma consistente. Mas o confronto destas imagens com as dinâmicas que estruturam
morfológica, económica, social e culturalmente a cidade contemporânea, com as políticas
que sobre ela intervêm e com os discursos que sobre ela reflectem localmente – esse
confronto permite certamente sondar o grau em que a cidade reage material e
74
simbolicamente a esse imaginário que projecta para fora de si mesma. É esse exercício que
o Capítulo ensaia também.
A hipótese que pretendo demonstrar é que não existe somente uma cidade de
Coimbra ou, por outras palavras, não existe homogeneidade na forma como a cidade é
turisticamente promovida. Ao contrário, constroem-se diversos perfis de cidade,
relacionados com os objectivos promocionais e comerciais dos operadores. Para além
disso, defendo que estes perfis de cidade estão associados ao tipo de programa turístico,
levando, assim, a que se estabeleçam três cidades distintas: a “cidade dos circuitos
turísticos”, a “cidade dos guias informativos” e a “cidade das estadias”. Esta
heterogeneidade implica que os recursos locais promovidos, os elementos realçados, a
importância que é dada à cidade e, em última análise, todo o imaginário com ela
relacionado variem em função dos três tipos de programas e das lógicas subjacentes à sua
produção e comercialização.
A partir do conjunto de 150 programas analisados46 foi possível, como disse, definir
três perfis para a cidade que é turisticamente promovida, não se apresentando, assim, como
uma cidade unívoca. Pelo contrário, ora é uma cidade histórica, ora tradicional, ora universitária,
ora dos estudantes, ora arquitectónica, ora do fado e ora do Mondego47. Estas diferentes imagens e
narrativas da cidade, recuperadas pelos operadores em função dos objectivos de cada
programa, associam-se na constituição de três perfis distintos para a cidade: aquela que é
apresentada nos circuitos, a dos guias informativos e a das estadias na cidade (Quadro 5).
75
imagens anteriores invoca ainda estas duas últimas. A “cidade das estadias”, por fim, é uma
cidade mais pobre do ponto de vista da sua caracterização, ainda que seja, em primeiro
lugar, uma cidade do fado e do Mondego e, só depois, uma cidade histórica, universitária e
arquitectónica.
A imagem de Coimbra como uma cidade histórica remete para o papel relevante que
tem vindo a desempenhar na história e na cultura portuguesas, contribuindo para o seu
grau de importância no contexto nacional. Por outro lado, aponta também para uma vasta
riqueza monumental, que lhe permite reunir um conjunto de interessantes testemunhos do
passado. Para esta riqueza monumental muito contribui outra imagem, a da cidade
universitária. Esta resulta de uma universidade antiga e famosa que, sendo responsável pelos
estudos de muitos nomes ilustres nacionais, contribui para a centralidade de Coimbra nas
rotas do conhecimento e da cultura. Estando ainda em funcionamento, trata-se de um
valioso exemplar de património vivo, intrinsecamente ligado aos estudantes que a
frequentam e que dão origem a outra imagem, a da cidade dos estudantes.
76
Esta última é, portanto, uma cidade que decorre da anterior e que resulta da
singularidade do ambiente que os estudantes conferem ao ambiente urbano. Sendo
caracterizados como responsáveis por um constante rejuvenescimento da cidade,
reinventam continuamente as suas tradições, contribuindo, por isso, para a imagem da
cidade tradicional. Nos circuitos turísticos, a cidade tradicional surge unicamente relacionada
com a esfera universitária, através das tradições estudantis, onde se incluem a música e o
traje universitário. Nos guias informativos, esta cidade é enriquecida, somando-se aos
elementos anteriores outro conjunto de tradições ligadas ao artesanato e, em particular, à
cerâmica de Coimbra.
O perfil de cidade que emerge dos guias informativos reúne, para além de todas
estas imagens, a cidade do fado e a cidade do Mondego. Ambas estão relacionadas com a cidade
universitária e, principalmente, com a cidade dos estudantes. Deste ponto de vista, os estudantes
e a vivência universitária, juntamente com o Rio Mondego, contribuem para a formação de
um estilo singular de música, que é o fado de Coimbra.
Apesar das variações, este conjunto de imagens da cidade convive por um mesmo
objectivo: a promoção de um destino para fins turísticos. Daí que os elementos
constitutivos do imaginário da Coimbra turística sejam reinventados pelos operadores
numa linguagem que pretende seduzir os turistas, convidando-os a uma postura subjectiva,
77
suscitando maior receptividade e encantamento e contribuindo, assim, para aumentar a
atractividade convocada para a cidade.
48 Desse conjunto, quase metade (51) são oferecidos por operadores americanos. Só depois destes surgem os
organizados por operadores nacionais (36). Os restantes circuitos repartem-se entre operadores espanhóis (7),
brasileiros (4), franceses e japoneses (cada um com 3 circuitos) e, por fim, alemães (1).
49 Entre os 105 circuitos turísticos considerados, 79 são circuitos organizados, ou seja, acompanhados em
autocarros. Nestes circuitos, os turistas são escoltados/acompanhados de uns lugares para os outros durante
um itinerário, num autocarro, por um guia local que fala a mesma língua dos turistas e lhes fornece
comentários especializados sobre os locais visitados. Os alojamentos nos hotéis e muitas das refeições são
fornecidas e incluídas no pacote turístico adquirido.
50 Tipo de programa também conhecido por “Fly & Drive Program”. Dos 105 circuitos, 20 são deste tipo. É
uma alternativa que permite ao turista tomar todas as decisões em relação ao itinerário, aos alojamentos e a
duração da estadia em cada local. Embora a empresa responsável assista o turista, dando-lhe um itinerário
detalhado, aquele aluga um automóvel e percorre o itinerário, conduzindo de local para local.
78
A partir destes tipos de abrangência geográfica há um conjunto de outros locais,
maioritariamente cidades, que se conjugam com a cidade de Coimbra para a composição de
um circuito turístico. Nos 105 circuitos analisados, esse conjunto de outros locais ascende a
193, englobando cidades e vilas portuguesas, espanholas e marroquinas.
Gráfico 1: Lista dos 20 locais mais incluídos nos circuitos que passam na cidade de Coimbra
Lisboa 95
Porto 81
Fátima 78
Óbidos 70
Guimarães 55
Braga 54
Batalha 49
Nazaré 43
Sintra 39
Alcobaça 35
Évora 35
Cascais 27
Castelo de Vide 26
Amarante 24
Aveiro 23
Madrid 23
Salamanca 23
Tomar 23
Buçaco 22
Sant. de Compostela 22
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
N.º de circuitos
Significa isto que alguns locais surgem, mais sistematicamente do que outros, nos
circuitos turísticos que passam pela cidade de Coimbra (Gráfico 1). No topo desta lista,
estão as cidades de Lisboa e Porto, que constam, respectivamente, de 95 e de 81 circuitos.
Para além dos casos em que, efectivamente, estes são locais de passagem, é necessário não
esquecer que muitos circuitos têm início precisamente numa destas cidades,
preponderantes pela posse de uma infraestrutura específica que é o aeroporto.
Neste conjunto aparecem ainda outros locais que pertencem igualmente à Região
Centro de Portugal51: Aveiro, Mealhada (onde se situa a Mata Nacional do Buçaco, na
freguesia de Luso), Batalha, Alcobaça, Nazaré, Óbidos, Ourém (onde se situa a freguesia de
51 Entendida aqui como a NUT II, unidade geográfica definida pelo INE, revista em 2002.
79
Fátima) e Tomar. Merece ainda destaque o facto destes concelhos se situarem nas regiões
do Baixo Vouga, Pinhal Litoral, Oeste e Médio Tejo, formando, juntamente com o Baixo
Mondego52, uma faixa ao longo do litoral de toda a Região Centro, mais procurada e
visitada nestes circuitos com passagem por Coimbra.
52 Designações das NUT III, ou seja, das sub-regiões da Região Centro de Portugal, unidades geográficas cuja
última actualização foi feita pelo INE, em 2002.
53Ver dados estatísticos mais pormenorizados no Anexo 13.
54 O cálculo das horas totais do programa foi feito através da multiplicação por 12 da soma do número de
dias e noites incluídas. Por outro lado, o número de horas passadas em Coimbra foi aqui calculado com base
numa escala que estipulei e que estabelece as seguintes atribuições horárias diárias: pequeno-almoço = 1 hora,
manhã = 3 horas, almoço = 2 horas, tarde = 5 horas, jantar = 2 horas, noite = 8 horas, deslocações entre
locais = 3 horas.
80
horas do seu percurso total. Os restantes (4%) circuitos turísticos prevêem que a passagem
pela cidade de Coimbra se prolongue entre 25 a 36 horas.
81
se quando se olha para os circuitos cuja estadia em Coimbra é mais alargada. Ainda assim, 6
é o número máximo de locais indicados para visita na cidade.
Gráfico 2: Lista de locais mais visitados na cidade de Coimbra 55 pelos circuitos turísticos56
Univers idade 79
Biblioteca Joanina (UC) 42
Capela de São Miguel (UC) 19
Sé Velha 15
Centro da cidade 8
Igreja de Santa Cruz 8
Catedrais e Igrejas 7
Sta Clara-a-Nova 7
Reitoria da UC 7
Zonas com erciais 5
Sala dos Capelos (UC) 4
Penedo da Saudade 3
Sala do Senado (UC) 3
Arco de Alm edina 2
Baixa 2
Centro His tórico 2
Sta Clara-a-Velha 2
Pátio das Es colas (UC) 2
Praça do Com ércio 2
0 10 20 30 40 50 60 70 80
Em termos gerais (Gráfico 2), a Universidade distingue-se por ser o local de visita
mais sugerido na cidade. A grande distância encontram-se a Biblioteca Joanina e a Capela
de São Miguel, pertencentes igualmente ao conjunto edificado e patrimonial da
Universidade. Deste conjunto fazem ainda parte a Reitoria, a Sala dos Capelos, a Sala do
Senado e o Pátio das Escolas. Entre os 20 locais representados no Gráfico 2, 7 dizem
respeito, então, à Universidade. Tudo o que tem sido dito, neste trabalho, sobre a
55 De fora desta lista ficam a Casa de Sub-Ripas, o Convento do Carmelo de Santa Teresa, a Igreja de Santo
António dos Olivais, o Museu Nacional Machado de Castro, a Porta Férrea, o Portugal dos Pequenitos, o Rio
Mondego e a Sé Nova, por serem referidos, cada um, apenas por um circuito turístico.
56 Em paralelo com o número de locais apontados para visita, há que referir quem nem todos os circuitos
oferecem uma visita efectiva aos turistas. Os locais são alvo de uma visita presencial dos turistas em 47 casos
mas, em 12 circuitos a visita é apenas panorâmica, através de uma passagem de autocarro pela cidade. Em 9
casos há lugar para os dois tipos de visita, sendo que os turistas são maioritariamente deixados na zona da
Universidade, que visitam presencialmente, descem a colina em direcção à Baixa da cidade e aí entram
novamente no autocarro que os leva a conhecer o resto da cidade de forma panorâmica. Entre os restantes
casos, 16 circuitos sugerem aos turistas que visitem determinados locais, dando-lhes tempo livre para
circularem à sua vontade na cidade, e os últimos 21 referem os locais mas não especificam o tipo de visita
prevista.
82
importância da Universidade no contexto urbano da cidade de Coimbra – dimensão
histórica, patrimonial, educativa e cultural – encontra aqui a sua tradução, pela
preponderância assumida pela instituição nos circuitos turísticos analisados.
57As expressões em itálico correspondem a categorias analíticas, construídas por mim, a partir da análise dos
textos constantes da apresentação dos circuitos turísticos. Nalguns casos, como sugere A. Strauss (1987: 33;
1998: 115-116), trata-se de in vivo codes, ou seja, de expressões usadas nos próprios textos pelos operadores,
noutros casos são expressões que criei para sintetizar ideias expressas nesses textos.
83
“Coimbra, a lively city on the banks of the Mondego River. You will have the entire
morning to explore this beautiful city, which has played a vital role in Portuguese history
and culture, as it houses the oldest university (founded in 1290), and from which have
graduated the most illustrious names in the country’s history.” (Circuito n.º 77)
“Coimbra, romántica y monumental ciudad, capital Portuguesa durante los siglos XII y
XIII la cual conserva importantes testimonios de su pasado: Visita de su Universidad una
de las más antiguas de Europa y visitaremos también su famosa biblioteca.” (Circuito n.º
104)
“Coimbra invites us to discover its old traditions and University.” (Circuito n.º 40)
A cidade histórica remete, em suma, não só para o carácter antigo da cidade, mas para
outros elementos com os quais constrói relações e alianças. Segundo a tradução dos
operadores turísticos, esta é uma cidade que teve um papel essencial na história e na cultura
portuguesas e que foi primeira capital da nação. Enriquecida com o valor monumental que
84
a história lhe proporciona, é uma cidade dotada de uma universidade que também é
histórica e cujos estudantes contribuem para o carácter tradicional que lhe é atribuído.
“Tradicional cidade de Coimbra, capital de Portugal até 1256, com sua famosa
Universidade do séc. XIII.” (Circuito n.º 3)
Em síntese, de acordo com os textos analisados, aquilo que Coimbra tem para
oferecer em termos de tradição está decididamente relacionado com a sua universidade,
seja em si ou seja por meio da música, do traje, do ritual académico e estudantil. A cidade
histórica e a cidade tradicional resultam, então, nesta outra que é a cidade universitária.
85
“Enjoy your orientation tour of Coimbra, celebrated for its beauty and ancient university.”
(Circuito n.º 66)
“The town of Coimbra, famous for its ancient University.” (Circuito n.º 75)
Este primeiro excerto (C.108) permite, desde logo, perceber a forma como a cidade
universitária é apresentada: não se trata de uma cidade com uma infraestrutura educativa
comum a inúmeras outras cidades, mas sim de uma ilustre cidade universitária, logo, à partida,
distinta por esta razão. A asserção de um carácter universitário distinto é visível, por
exemplo, no facto de a descrição feita imediatamente a seguir no texto não estar
relacionada com a universidade, mas sim com o valor histórico e artístico de Coimbra no
contexto nacional. No entanto, o texto não tem início com uma expressão do tipo ilustre
cidade histórica, ou ilustre cidade artística, por exemplo; ele começa, precisamente, por se referir
a Coimbra como uma cidade universitária.
Da cidade universitária, faz-se, também neste texto, a ponte para a cidade histórica e para
a cidade arquitectónica. Pela existência da Sé Velha, situada nesta cidade que também é velha,
os turistas podem evocar todo um imaginário relacionado com a Idade Média, contemplando
os elementos manuelinos de uma cidade arquitectónica.
“Com uma das Universidades mais antigas da Europa, Coimbra tem-se destacado como
um centro de conhecimento e cultura Portuguesa nos últimos sete séculos. Uma visita à
velha Universidade (ainda em funcionamento) irá dar-lhe uma perspectiva detalhada sobre
o sistema de ensino em Portugal […].” (Circuito n.º 123)
86
me referi no capítulo anterior. Neste sentido, os turistas podem apreciar o conjunto
edificado da universidade, não como se de um museu se tratasse, mas como um
monumento vivo pelo serviço educativo que ainda está efectivamente em uso e que aponta,
por isso, para outra cidade, a cidade dos estudantes.
“Your tour brings you to the Old University town of Coimbra where 13,000 University
students wear long black robes under black capes with facings of different colours for the
various schools. The Praça do Comercio, the town’s old market place, is now one of the
most impressive squares in Portugal. The Old University is located on the highest point of
the upper town where the Royal Palace once stood. Partly rebuilt in the 17th and 18th
centuries, an iron gate leads into a fine courtyard enlaced on three sides by buildings from
the terrace on the south side.” (Circuito n.º 70)
“Coimbra, Cidade dos Estudantes, conhecida pela sua Universidade, uma das mais antigas
da Europa, e com um sentimento de juventude sempre presente.” (Circuito n.º 119)
87
mesmo tempo que passamos pelas zonas comerciais mais movimentadas. Não é fácil
distinguir o limite entre a velha metrópole e a cidade moderna.” (Circuito n.º 120)
Quando a cidade universitária não é vista pela sua historicidade ou pela grandiosidade
das suas qualidades arquitectónicas, a distância em relação à cidade dos estudantes é muito
curta. Muito habilmente se passa, nestes textos, de uma cidade para outra, não havendo, por
vezes, uma distinção clara entre as duas.
“Coimbra, primera capital de Portugal y hoy en día tercera ciudad lusa en número de
habitantes y considerada cuna de las ciencias y las letras. Patio das Escolas, donde a lo largo
de los siglos se fueron construyendo algunas de las máximas joyas de la arquitectura
portuguesa […]”. (Circuito n.º 101)
Neste texto, por exemplo, parte-se da cidade histórica para uma analogia entre o que a
cidade foi no início da nacionalidade, a capital do país, e o que é hoje, a terceira cidade a
nível da importância nacional. Mas é, ao mesmo tempo, considerada o berço das ciências e
das letras, e é daqui que o texto parte para a cidade arquitectónica, sendo o Paço das Escolas e
o conjunto evolvente da universidade considerados como jóias da arquitectura portuguesa.
Nos textos seguintes parte-se ora da cidade universitária (C.107), ora da cidade histórica
(C.106) para chegar, depois, ao esplendor da arquitectura existente na cidade, não só na
universidade, mas em muitos outros locais, podendo, por isso, ser encarada como um
extraordinário núcleo de arte.
“Extraordinário núcleo de arte, esta cidade deve a sua fama à sua Universidade, fundada em
1307 e instalada, por D. João III, no antigo palácio real, em 1537. Visitaremos a biblioteca,
uma das jóias do barroco civil português, assim como a Sala dos Capelos. Em seguida,
88
dirigir-nos-emos à Sé Velha, antiga catedral românica. Terminaremos com uma visita ao
Mosteiro de Santa Cruz, de estilo manuelino.” (Circuito n.º 107)
“Chegada a Coimbra: a visita da velha cidade medieval vale bem o desvio. Com o seu
labirinto de ruelas estreitas em torno da "Sé Velha", catedral de estilo românico, antes de
admirarmos a Universidade, fundada em 1290, cuja fama se espalhou sob o reinado de D.
João III, que a integra no palácio real a partir de 1537 e a ornamenta com luxuosas salas,
como a "Sala dos Capelos", e uma rica biblioteca, um belo exemplo de arte barroca.”
(Circuito n.º 106)
Esta é, portanto, uma cidade em que a história e a tradição estabelecem uma relação
íntima, muitas vezes a partir de um elemento comum que é a universidade. Esta
universidade, por sua vez, aponta para os seus estudantes, que devolvem à cidade, em
forma de tradição, o que aquela lhes oferece em ensino e formação. Com todas estas
características, é uma cidade de grande valor arquitectónico, porque tratando-se de uma
cidade histórica grandemente influenciada pela sua universidade, grande também foi o
investimento, ao longo dos séculos, em arte e cultura.
O imaginário turístico que daqui decorre encontra uma tradução coerente nas
fotografias que os operadores mostram da cidade. Considerando os 105 circuitos, 36
incluem representações visuais de Coimbra, aos quais corresponde um total de 59
fotografias. A universidade assume uma preponderância indiscutível, estando presente em
27 fotografias: 12 dedicadas unicamente à instituição e 15 onde se parte do Rio Mondego
para enquadrar a instituição ao fundo. Paralelamente, 9 fotografias são dedicadas à
Biblioteca Joanina e 3 ao Paço das Escolas, partes integrantes da universidade.
89
assumindo Portugal uma posição dominante (8). Tal como se verificou quanto aos circuitos
turísticos, também aqui os operadores americanos ocupam um lugar importante, sendo
responsáveis por 5 guias informativos sobre a cidade. Entre os restantes guias, encontram-
se 3 da autoria de operadores espanhóis, 2 franceses e 2 ingleses.
O que nos guias é verdadeiramente novo, para além da uma cidade tradicional mais
rica, é a cidade do fado e a cidade do Mondego. Em guias cuja dimensão dos textos é mais
sucinta, o fado é, muitas vezes, um dos recursos turísticos incluídos nessa espécie de cidade
resumida.
90
“Coimbra is the focal point of the region and features the second oldest university in the
world. It also has its own version of fado that is a little lighter.” (Guia n.º 67)
“University City of Coimbra: An ancient university town, famous for it's twisting streets,
terraced houses and particular style of Fado music.” (Guia n.º 95)
Esta cidade do fado está também intimamente relacionada com outras cidades, a dos
estudantes e a universitária, como, aliás, é evidente pelos excertos a seguir transcritos.
“The University Library is in the far-left corner and is well worth taking the tours that are
provided. It is fascinating, very large and very old. If you're here in the end of April or
beginning of May make it a point to see the students singing Fado and burning their
ribbons at the end of the school year.” (Guia n.º 141)
“Aqui, o Fado teve, desde sempre, um estilo mais elevado e romântico, a que não será
estranho o facto da cidade possuir, desde 1290, uma comunidade estudantil. É natural que
uma herança, invisível mas significativa do ponto de vista histórico e cultural, tenha
contribuído para dar ao Fado um carácter erudito e uma auréola mais romântica. Coimbra,
ao contrário de Lisboa, não possui porto e terá sido a sua posição geográfica que, em
conjunto com uma forte tradição cultural de origem monástica e universitária, terá
decididamente contribuído para a forma específica do Fado de Coimbra.” (Guia n.º 39)
“Sede da mais antiga universidade de Portugal, Coimbra é uma cidade sobretudo animada
pelos estudantes que vivem e estudam aqui, mas está também cheia de monumentos e
tesouros históricos e conta com um comércio movimentado e a presença vibrante do
Mondego, o "Rio dos Poetas" como os habitantes locais lhe chamam orgulhosamente,
oferecendo ao visitante a beleza das suas margens e alimentando os campos férteis do vale
circundante. Coimbra oferece muitos outros sítios a explorar e um vasto calendário de
eventos culturais e de diversão, mas torna-se especialmente apetecível em Maio, quando os
estudantes celebram o final do ano académico com a tradicional Queima das Fitas,
enchendo as ruas de música e animação esfuziante.” (Guia n.º 142)
O Mondego, o rio dos poetas, confere à cidade uma presença vibrante, oferecendo a
beleza das suas margens e servindo de alimento aos vales circundantes. Este é um texto
rico do ponto de vista das imagens que convoca para a apresentação da cidade aos turistas.
Recorre a todo um imaginário em torno da universidade e das tradições académicas,
91
incluindo a Queima das Fitas. Apontando não só para a cidade universitária e para a cidade dos
estudantes, mas também para a cidade histórica, o texto relaciona-lhes o rio, remetendo para
um universo mítico sobre a vivência dos estudantes na cidade.
“Aqui nasce o rio Mondego, que vem abraçar a cidade de Coimbra, onde é cantado há
tantos séculos pelos estudantes universitários.” (Guia n.º 2)
O rio Mondego é encarado de diversas formas por estes guias informativos: ora
pela beleza que as suas margens oferecem, ora pelo alimento das terras que o envolvem,
ora por ser cantado pelos estudantes e servir de inspiração aos poetas da cidade. Mas,
também, simplesmente devido ao aspecto de uma cidade que se ergueu no cimo de uma
colina sobre o rio.
Neste último excerto, para além da alusão ao rio e ao passeio agradável que as suas
águas proporcionam, refere-se a variedade da gastronomia existente na cidade, devida em
particular à localização da cidade entre o rio e a montanha. Este é, portanto, um aspecto
novo valorizado nos guias: a gastronomia. A promoção da cidade e a re-significação do rio
dá-se, aqui, menos pela sua dimensão histórico-cultural e mais pelo lado da cultura
etnográfica local.
Um novo elemento apontado, por vezes, nestes guias relaciona-se com a Baixa da
cidade e o seu cariz marcadamente comercial:
“Another highlight in Coimbra is the Baixa, part of the city down by the river with most
traditional shopping.” (Guia n.º 76)
“The other highlight in Coimbra is the Baixa. This is the part of the city down by the river.
It is full of narrow streets and crowded shops, banks, churches, cafés, hotels and walks to
stroll along the Mondego rivers' banks.” (Guia n.º 141)
Vale a pena, para terminar a análise da cidade dos guias informativos, apontar para
um aspecto curioso: a afirmação da diversidade que é possível encontrar na cidade e, daí, a
satisfação que ela é capaz de oferecer a qualquer tipo de turista. Na verdade, esta cidade
que emerge dos guias é muito mais plural do que a dos circuitos que, apesar das cinco
92
imagens que convoca, está sempre mais centrada na história, no património e na
Universidade. O imaginário da cidade que surge dos guias, embora conceda uma grande
importância a estes três elementos, é bastante mais diverso, abrindo-se para dar um lugar
maior aos modos de cultura urbana que se vivem na cidade.
“Coimbra es una ciudad preparada para el turismo, posee hoteles elegantes y cómodos.
Con la confortabilidad cuatro y cinco estrellas, con historias medievales, en pleno bosque y
con lujos propios de un palacio. Como verás hay para todos los gustos y exigencias, es
decir, para que no dudes en elegir Coimbra como tu próximo destino turístico.” (Guia n.º
132)
Esta é uma conclusão interessante para a cidade dos guias. Coimbra é, de acordo
com este excerto (G.132), uma cidade preparada para o turismo, possuindo hotéis elegantes
e cómodos. Mas não se trata apenas de uma cidade com capacidade hoteleira. Trata-se de
uma cidade diversa que obriga o turista a escolhê-la como seu próximo destino de viagem.
Esta cidade é, em primeira análise, uma cidade fugaz e resumida, sem história e com
poucas tradições. É uma cidade mais de hotéis e menos das características que até aqui lhe
foram atribuídas pelos circuitos turísticos ou guias informativos. Entre os 25 programas de
estadias, 18 não oferecem qualquer informação sobre Coimbra. Dentro deste subconjunto,
há 10 estadias que, apesar de não possuírem qualquer informação sobre a cidade, incluem
um programa lúdico e recreativo para os visitantes. Esse programa está essencialmente
virado para, em primeiro lugar, um espectáculo de fados numa reputada casa de fados da
cidade e um passeio pelas águas do Rio Mondego no barco Basófias e, em segundo lugar,
uma visita ao Portugal dos Pequenitos. Por vezes, o programa inclui ainda uma ou duas
refeições em restaurantes conhecidos pela sua oferta de gastronomia típica da região.
93
pequeno grupo de 6 locais60, pressupondo, assim, que estes são os locais essenciais que a
cidade tem para oferecer e que, portanto, basta olhá-los de longe para completar a
necessária visita turística à cidade. É importante assinalar aqui a discordância entre a
adjectivação aplicada, que evoca características da cidade, e o programa em si, que acaba
por esvaziar a cidade desse conteúdo evocado.
“Coimbra, a capital da Província, viu nascer seis reis e também a primeira Universidade do
país, alegadamente, a segunda mais antiga do mundo. A sua velha catedral é um dos
melhores exemplares da arquitectura românica em toda a Europa e a biblioteca da
Universidade é um verdadeiro tesouro.” (Estadia n.º 14)
Esta é, portanto, uma cidade breve e quase sem qualidades singulares, onde os
turistas se limitam a visitar um conjunto muito específico de locais incluídos a priori num
pacote turístico. Nestes programas, os turistas passam a maior parte do seu tempo no hotel,
gozando das ofertas destes, que incluem, muitas vezes, ginásio, spa ou serviço de
massagens. Fora isso, deixam o hotel apenas para conhecer os ex-libris da cidade: o fado e o
rio Mondego. Trata-se aqui, então, de visitar a cidade do fado e a cidade do Mondego, embora
sem qualquer necessidade de compreender a história ou as tradições para as quais estes
60Os locais incluídos nesta visita panorâmica da cidade são a Rua da Sofia, a Universidade, o Museu Machado
de Castro, a Sé Nova, o Jardim Botânico e o Penedo da Saudade.
94
elementos remetem. Mais do que uma cidade breve é, talvez, um território e uma
localização acidental, uma vez que os serviços hoteleiros são mais importantes do que a
cidade. A cidade é esvaziada do seu conteúdo histórico, cultural, social e simbólico. Se o
turismo tem a capacidade de promover a regeneração económica das cidades e a
valorização das suas características históricas, culturais e simbólicas, ele tem também o
poder de desqualificar, des-significar e des-diferenciar a cidade, transformando-a apenas na
localização acidental de uma experiência que, por estar centrada noutras dimensões, é
evasiva ou fugaz em relação à cidade.
95
Conclusão
96
profissionalizado, baseado em competências especializadas, outras depende quase
exclusivamente das sensibilidades pessoais de quem está na frente da promoção. Das
articulações entre estes diversos tipos de actores, as suas lógicas de actuação e os seus
interesses resultam, forçosamente, imagens e visões polissémicas e fluidas da cidade.
A imagem de Coimbra como uma cidade histórica remete para o papel valioso
reservado à cidade na história e na cultura portuguesas e para a riqueza monumental aí
existente, que faz dela um interessante testemunho do passado. Muita desta riqueza é
devida à imagem da cidade universitária, resultante de uma instituição universitária antiga e
famosa, que posiciona a cidade nas rotas do conhecimento e da cultura. Trata-se de um
precioso exemplar de património vivo, intrinsecamente ligado aos estudantes que a
frequentam e originam a imagem da cidade dos estudantes. Esta decorre não só da
universidade, mas também é resultado da singularidade que os estudantes conferem ao
ambiente urbano. As tradições que continuamente preenchem esse ambiente, como sejam a
música e o traje universitário, contribuem para a imagem da cidade tradicional ligada, também,
ao artesanato típico da cidade. A imagem da cidade arquitectónica atravessa todas as imagens
anteriores, uma vez que as suas relíquias arquitectónicas povoam toda a cidade e
manifestam-se através da história, da universidade e seus estudantes e das tradições
urbanas. Por fim, a cidade do fado e a cidade do Mondego estão intimamente relacionadas entre
si e apresentam uma estreita ligação com a universidade e os estudantes. De acordo com o
imaginário urbano que é turisticamente apresentado, os estudantes e a vivência
universitária, juntamente com a inspiração oferecida pelo Rio Mondego, concorrem para a
formação do fado de Coimbra.
Neste trabalho de análise das imagens turísticas da cidade, tornou-se clara a posição
fundamental que a Alta e a Baixa – as zonas que delimitam o centro histórico da cidade –
detêm no imaginário turístico, revelando-se lugares de particular interesse para esta tese. As
duas zonas surgem muito diversamente representadas nesse imaginário: é a Alta que se
destaca, nas suas dimensões histórica, monumental e patrimonial, contrastando com a
Baixa que é razoavelmente invisibilizada. A compreensão desta dualidade do espaço urbano
implica, porém, que se considerem em conjunto a Alta e a Baixa, porque tanto
97
historicamente como hoje os dois espaços se constituem morfológica, funcional e
simbolicamente em relação um com o outro. Isto permite compreender que, embora
revestindo-a de novos sentidos, as imagens turísticas da cidade, mais centradas na Alta,
reproduzem a hierarquia social e simbólica que, no passado como hoje, define a relação
entre esses dois espaços. O imaginário turístico da cidade reforça, assim, a dualidade e a
hierarquia que distingue a Alta e que a nobilita face à Baixa, o que certamente tem também
efeitos sobre o modo como os dois espaços são percebidos e simbolicamente valorizados
pela comunidade local, ou abordados pelos planeadores e decisores políticos.
Como qualquer cidade, Coimbra tem os seus altares, mas tem também os seus
interditos. Se a história, a universidade, os estudantes, as tradições, o valor arquitectónico, o
fado e o Rio Mondego constituem os recursos apresentados no mercado turístico, eles são,
por assim dizer, os altares da cidade, contrastando com os elementos ou recursos ausentes
da cidade turística imaginada, relegados para a posição de interditos ou esquecimentos. Vale a
pena, então, referir algumas dessas ausências.
Um primeiro elemento diz respeito à oferta cultural da cidade, ausente quase por
completo do imaginário turístico urbano. Embora algumas instituições responsáveis pela
promoção turística da cidade organizem, entre os seus materiais promocionais, agendas
culturais e de eventos, estes não constituem, de forma geral, elementos suficientemente
atractivos para a captação de turistas. Muito raramente se encontra, na promoção que é
feita pelos agentes do sector privado, referência a encontros ou espectáculos de música,
exposições artísticas, peças de teatro, feiras de livro, artesanato ou música.
98
comportam. Todas estas dimensões são parte integrante dos modos de vida das populações
e da identidade sócio-espacial no centro antigo da cidade. No entanto, nenhuma delas é
destacada pelas imagens da cidade turisticamente promovida. No que respeita aos modos
de vida e aos hábitos culturais da população, nenhuma referência se faz, por exemplo, às
lavadeiras do Mondego, às tricanas, ou à população rural que ainda hoje vem à cidade vender os
seus produtos, povoando feiras e festas populares. Apenas as tradições, os rituais e a
boémia são salientadas, como características inerentes à comunidade estudantil da cidade.
Em terceiro lugar, não um mas vários elementos esquecidos merecem aqui realce.
Refiro-me, por um lado, aos espaços verdes da cidade, de onde podem destacar-se o
Choupal, Vale de Canas, o Jardim da Sereia e o Jardim Botânico, recursos aproveitados de
forma deficitária para a construção das imagens turísticas da cidade. Adicionalmente, vários
monumentos não são referidos nesse imaginário, nomeadamente o Convento de S.
Francisco, a Lapa dos Esteios e toda uma série de igrejas e conventos localizados numa das
principais artérias da cidade, a Rua da Sofia. Estes lugares são, no entanto, referências
importantes noutros imaginários que, também eles, compõem no plano simbólico a
identidade da cidade. Por fim, sendo seleccionadas algumas partes específicas da história
onde a cidade é engrandecida, a sua componente muçulmana, que durou mais de três
séculos, acaba por ser remetida para um lugar secundário.
99
ponderou, apenas se se entender a cultura no seu sentido mais flexibilizado e amplo, tal
como propõe R. Williams (1981), associando ao universo cultural as expressões culturais
dos modos de vida das populações, ainda que, como se viu, a dimensão dos modos de vida
em Coimbra esteja circunscrita à população estudantil.
100
Referências Bibliográficas:
Abreu, Paula (1995), “Turismo internacional de jovens: o universo das formas, dos
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110
LISTA DE QUADROS
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Lista dos 20 locais mais incluídos nos circuitos que passam na cidade de
Coimbra 79
Gráfico 2: Lista de locais mais visitados na cidade de Coimbra pelos circuitos
turísticos 82
LISTA DE MAPAS
LISTA DE FIGURAS
Âmbito de
Instituição Justificação da entrevista
representação
Instituição máxima na representação do município, dotada de
Câmara um gabinete dedicado exclusivamente às questões relacionadas
Municipal de com o centro histórico, cuja actividade em termos de
Coimbra promoção turística, embora menor pela criação da T.C.,
merece atenção neste trabalho.
Empresa criada em 2005 pela Câmara Municipal. As suas
Turismo de
Local funções passam pela articulação entre os diversos agentes a
Coimbra,
trabalhar no terreno para a captação de fluxos turísticos. Tem a
Empresa
seu cargo a criação, gestão e desenvolvimento da "marca de
Municipal
Coimbra" como destino turístico.
Interesse não só pela importância que a Universidade possui na
Universidade
captação de fluxos turísticos, mas igualmente pela relevância da
de Coimbra
actual candidatura a património mundial.
Instituição representante de 24 municípios do centro do país,
Região de
com responsabilidades não só na elaboração de materiais que
Turismo do
promovam os produtos turísticos existentes na região, mas
Centro
também na dinamização de novos produtos turísticos.
Agência
Regional
Regional de
Promoção
Turística do
Centro de Instituição ligada à anterior, mas dedicada à promoção do
Portugal Centro de Portugal nos mercados externos.
Competências na apresentação de propostas para a definição
da estratégia promocional de Portugal e dos destinos regionais
Turismo de
Nacional e produtos turísticos, para a captação de eventos internacionais
Portugal, I.P.
e para a concepção do respectivo plano nacional de promoção
turística.
ANEXO 2:
Guião de Entrevista – Actores do Sector Público
7 – Quais são os objectivos da instituição para a promoção turística da cidade, do seu centro
histórico e, de forma mais alargada, da região centro?
8 – Quais são os aspectos ou os recursos da cidade mais valorizados pela instituição para a imagem
turística de Coimbra?
12 – A sua instituição organiza algum tipo de circuito que inclua a cidade de Coimbra?
12.1 – Que tipo de circuito?
12.2 – Que locais inclui esse circuito?
12.3 – Quem são os responsáveis pela selecção desses locais?
12.4 – Porquê esses e não outros?
13 – Tem conhecimento de outros circuitos ou pacotes turísticos em que a cidade esteja incluída?
13.1 – Em que consistem esses pacotes?
13.2 – Quem são as entidades responsáveis pela criação desses pacotes?
14 – Existe alguma articulação entre os diversos agentes promotores da cidade como um destino
turístico?
14.1 – Que relações se estabelecem entre a CMC, a EMT, a UC, a RTC e o ITP?
15 – Qual é a sua percepção sobre os turistas que visitam a cidade de Coimbra e o seu centro
histórico?
17 – Qual é, na sua opinião, o estatuto do centro histórico nas estratégias para a promoção turística
da cidade? E que locais fazem parte de centro histórico?
18 – Quais são as características do centro histórico que podem ser turisticamente promovidas?
18.1 – Quais são os aspectos mais valorizáveis? E os aspectos mais problemáticos?
19 – Qual é a importância dos elementos históricos e tradicionais? Dos elementos religiosos? Dos
elementos culturais?
24 – Na sua opinião, quais são os elementos da cidade que mais capacidade têm para atrair turistas?
Quais são aqueles em que, na sua opinião, mais deve investir-se?
25 – Quais são os elementos ou recursos que Coimbra tem e outras cidades portuguesas não têm?
Ou seja, quais são as vantagens competitivas de que a cidade dispõe?
26 – Quais são os principais problemas e deficiências da cidade a nível turístico?
27 – Que cidades, portuguesas ou estrangeiras, são um modelo do que Coimbra deveria ser?
28 – Pelo contrário, quais são as cidades com que Coimbra não quer identificar-se?
32 – Pode descrever-me sucintamente o seu percurso profissional até chegar a esta instituição?
1 – Quais são os aspectos ou os recursos da cidade de Coimbra que a empresa mais valoriza?
2 – De que tipo de material de informação ou divulgação turística sobre a cidade é que a empresa
dispõe?
2.1 – Quais são os objectivos principais desse material?
2.2 – Trata-se de material produzido pela própria empresa?
7 – Para além desses circuitos, a empresa organiza roteiros para visitas turísticas dentro da cidade?
7.1 – Que locais englobam esses circuitos?
7.2 – De que forma é que os turistas visitam os locais? Com uma presença física ou através
de visita panorâmica de autocarro?
7.3 – Como é decidida a forma de visita?
7.4 – Quais são os critérios para a definição dos locais que constituem os roteiros? Quem
decide?
8 – Qual é, na sua opinião, o estatuto do centro histórico nas estratégias para a promoção turística
da cidade?
10 – Quais são os elementos ou recursos que Coimbra tem e outras cidades portuguesas não têm?
Ou seja, quais são as vantagens competitivas de que a cidade dispõe?
14 – Em que lógicas de cooperação com outras empresas ou instituições é que esta empresa está
envolvida?
IV. Questões finais sobre o entrevistado
16 – Pode descrever-me sucintamente o seu percurso profissional até chegar a esta empresa?
Freguesias
1950 1960 1970 1981 1991 2001
de Coimbra
Coimbra 98 027 106 404 110 553 138 930 139 052 148 443
Almalaguês 3 166 3 131 3 287 3 552 3 512 3 440
Almedina 4 332 3 705 2 960 2 112 1 953 1 521
Ameal 1 505 1 635 1 690 1 722 1 756 1 678
Antanhol 1 176 1 317 1 369 1 831 2 127 2 447
Antuzede 1 421 1 624 1 737 2 256 2 002 2 265
Arzila 663 653 706 974 711 728
Assafarge 1 398 1 447 1 498 1 714 1 866 2 268
Botão 1 522 1 489 1 571 1 721 1 625 1 683
Brasfemes 1 249 1 353 1 508 1 758 1 695 1 847
Castelo Viegas 1 039 1 613 1 096 1 577 1 833 1 771
Ceira 3 366 3 504 2 618 4 293 4 485 4 207
Cernache 2 964 3 030 3 101 3 496 3 650 3 871
Eiras 3 538 3 988 4 811 8 364 9 655 12 052
Lamarosa 1 910 2 078 1 958 1 906 1 989 2 189
Ribeira de Frades 1 381 1 683 1 848 2 068 1 945 2 064
Santa Clara 5 473 5 706 6 026 9 826 8 609 9 637
Santa Cruz 9 572 11 476 8 824 10 890 8 239 6 866
Santo António dos Olivais 13 189 18 015 24 416 32 268 35 807 39 516
São Bartolomeu 3 707 3 451 2 484 2 172 1 395 856
São João do Campo 1 485 1 708 1 850 2 196 2 261 2 309
São Martinho de Árvore 693 717 770 922 978 1 003
São Martinho do Bispo 7 666 8 534 9 581 12 318 12 484 14 246
São Paulo de Frades 2 055 2 469 3 115 3 913 4 732 5 912
São Silvestre 1 748 1 982 2 141 2 541 2 544 3 092
Sé Nova 12 585 10 156 9 085 10 854 8 609 8 295
Souselas 2 004 2 221 2 412 3 058 3 159 3 146
Taveiro 1 617 1 681 1 818 2 152 1 924 2 064
Torre de Vilela 505 579 687 906 1 085 1 146
Torres do Mondego 2 401 2 556 2 636 2 976 2 739 2 550
Trouxemil 1 931 2 160 2 294 1 864 2 952 2 999
Vil de Matos 766 743 656 730 731 775
Fonte: INE – Recenseamentos gerais da população de 1950, 1960, 1970, 1981, 1991 e 2001.
ANEXO 8:
Edifícios
Total de edifícios (N) exclusivamente
Freguesias residenciais (%)
de Coimbra
1991 2001 1991 2001
Coimbra (concelho) 32 914 35 807 90,5 92,6
Centro da cidade 3 692 3 449
Almedina 460 389 85,9 79,7
Santa Cruz 1 448 1 424 78,5 72,2
São Bartolomeu 331 305 21,5 51,5
Sé Nova 1 453 1 331 84,3 81,5
Resto da cidade 11797 11958
Freguesias
Nenhum 1º CEB 2º CEB 3º CEB Secund. Médio Superior
de Coimbra
Coimbra
(concelho) 16570 42229 14195 14680 24496 1956 34317
Centro da cidade 1538 4208 1381 1580 2606 350 5875
Almedina 143 419 159 174 232 32 362
Santa Cruz 701 2081 641 721 1117 140 1465
São Bartolomeu 127 353 66 71 136 5 98
Sé Nova 567 1355 515 614 1121 173 3950
% do Centro no
concelho 9,3 10,0 9,7 10,8 10,6 17,9 17,1
Resto da cidade 15032 38021 12814 13100 21890 1606 28442
País do Data de
N.º Operador Nome do Programa Tipo
Operador consulta
1 Soltrópico Férias por cá, Beiras Guia Portugal 02-11-07
2 Mundo Vip Portugal "lés-a-lés", Beiras Guia Portugal 02-11-07
3 Golden Way Encantos de Portugal e Galícia Circuito Brasil 06-11-07
Férias por cá, Beiras, Programas
4 Soltrópico Românticos Estadia Portugal 13-11-07
Férias por cá, Beiras, Portugal - 21
5 Soltrópico Magníficos Estadia Portugal 13-11-07
Férias por cá, Beiras, Ofertas de
6 Soltrópico Outono Estadia Portugal 13-11-07
Portugal Continental, Beiras,
7 Soltrópico Réveillons 2007/08 Estadia Portugal 13-11-07
Ofertas de Natal 2007, Natal em
8 Soltrópico Portugal Estadia Portugal 13-11-07
Portugal "lés-a-lés", Especial Fim de
9 Mundo Vip Ano Estadia Portugal 13-11-07
Portugal "lés-a-lés", Coimbra em
10 Mundo Vip Famíla Estadia Portugal 13-11-07
Portugal "lés-a-lés", Fim de semana
11 Mundo Vip romântico em Coimbra Estadia Portugal 13-11-07
Portugal "lés-a-lés", 03 noites pague
12 Mundo Vip 02 Estadia Portugal 13-11-07
Portugal "lés-a-lés", Escapadinha
13 Mundo Vip em Novembro Estadia Portugal 13-11-07
14 Terra Brasil Beiras 2007 Estadia Portugal 13-11-07
15 Clube Viajar Beiras, Reveillon 07 Estadia Portugal 13-11-07
16 Club 1840 Centro de Portugal - Auto Férias Guia Portugal 14-11-07
17 Club 1840 Atracções em Coimbra Guia Portugal 14-11-07
18 Club 1840 Informação sobre Cidades Guia Portugal 14-11-07
19 Viagens Tempo Costa de Prata Estadia Portugal 14-11-07
20 Lusanova Roteiro pelo Manuelino Circuito Portugal 14-11-07
21 Lusanova Roteiro Romântico Circuito Portugal 14-11-07
22 Lusanova São Martinho Circuito Portugal 14-11-07
23 Lusanova Belezas de Portugal Circuito Portugal 14-11-07
24 Lusanova Belezas do Norte Circuito Portugal 14-11-07
25 Lusanova Bairrada Circuito Portugal 14-11-07
26 Lusanova Circuito Ibérico Circuito Portugal 14-11-07
27 Lusanova Portugal Clássico Circuito Portugal 20-11-07
28 Lusanova Norte Turístico Circuito Portugal 20-11-07
29 Lusanova Natal em Coimbra Circuito Portugal 20-11-07
30 Lusanova Fim de Ano Coimbra Circuito Portugal 20-11-07
31 Abreu Tours Northern Portugal and More Circuito Portugal 20-11-07
32 Abreu Tours Vacations in Portugal Circuito Portugal 20-11-07
33 Restel Hotéis em Coimbra Estadia Espanha 21-11-07
34 Restel Hotéis em Coimbra Estadia Espanha 21-11-07
35 Restel Hotéis em Coimbra Estadia Espanha 21-11-07
36 Restel Hotéis em Coimbra Estadia Espanha 21-11-07
37 Cityrama Portugal em 10 dias Circuito Portugal 22-11-07
38 Cityrama Norte de Portugal Circuito Portugal 22-11-07
39 Cityrama Coimbra Guia Portugal 22-11-07
40 Petrabax Northern Portugal Circuito EUA 22-11-07
Spain and Portugal Holiday -
41 Petrabax 2008/09 Circuito EUA 22-11-07
Spain and Portugal Holiday with
42 Petrabax Barcelona - 2008/09 Circuito EUA 22-11-07
43 Petrabax Iberian Holiday - 2008/09 Circuito EUA 22-11-07
Iberian Holiday II - Andalucia
44 Petrabax Extension Circuito EUA 22-11-07
Iberian Holiday III - Barcelona
45 Petrabax Extension Circuito EUA 22-11-07
The North of Spain and Portugal -
46 Petrabax 2008/09 Circuito EUA 22-11-07
Iberian Holiday IV - Costa del Sol
47 Petrabax Extension Circuito EUA 22-11-07
Iberian Holiday with Costa del Sol -
48 Petrabax 2008/09 Circuito EUA 22-11-07
49 Petrabax Iberian Explorer - 2008/09 Circuito EUA 22-11-07
Grand Tour of Spain, Portugal and
50 Petrabax Morocco I Circuito EUA 22-11-07
Grand Tour of Spain, Portugal and
51 Petrabax Morocco II Circuito EUA 22-11-07
Grand Tour of Spain, Portugal and
52 Petrabax Morocco II - 2008/09 Circuito EUA 22-11-07
53 EC Tours Northern Portugal Tour Circuito EUA 26-11-07
54 EC Tours Pousadas Fly Drive Circuito EUA 26-11-07
55 Altura Tours Portugal Northen Treasures Circuito EUA 26-11-07
56 Altura Tours The Royal Roads of Portugal Circuito EUA 26-11-07
57 FreeGate Trasures of Spain & Portugal Circuito EUA 26-11-07
58 FreeGate Northern Portugal Treasures Circuito EUA 26-11-07
59 Homeric Tours Lisbon & Portugal North Circuito EUA 26-11-07
Isram World of
60 Travel Itinerary for Explore Portugal Circuito EUA 26-11-07
Tailor Made Portugal: Lisbon,
61 Magellan Tours Coimbra, Porto Circuito EUA 27-11-07
62 Magellan Tours Coimbra Guia EUA 27-11-07
63 Magellan Tours Douro Valley Circuito EUA 27-11-07
64 Magellan Tours Jewels of Spain and Portugal Circuito EUA 27-11-07
65 Magellan Tours Best of Portugal Circuito EUA 27-11-07
66 Magellan Tours Spain, Portugal & Morocco Circuito EUA 27-11-07
Pinto Basto
67 Tours Costa da Prata Guia EUA 27-11-07
Pinto Basto
68 Tours Portugal Grand Tours Circuito EUA 27-11-07
Pinto Basto
69 Tours Escorted Tours - Portugal Circuito EUA 27-11-07
Pinto Basto
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138 VT Auto Férias em Portugal - Coimbra Estadia Portugal 06-03-08
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143 Ritz Tours Coimbra e Buçaco Circuito Portugal 07-03-08
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145 Mundi travel Especial Páscoa Portugal - Coimbra Estadia Portugal 07-03-08
146 Sendas de Europa Portugal Circuito Espanha 07-03-08
147 Sendas de Europa Portugal Circuito Espanha 07-03-08
Portugal moved to eight-day tour of
148 JTB World Heritage Circuito Japão 10-03-08
149 JTB Summertime world Circuito Japão 10-03-08
Nature and Culture in Central
150 Wikinger Reisen Portugal Circuito Alemanha 10-03-08
ANEXO 13:
N.º de % do
Caracterização dos N.º de N.º de N.º de
horas em tempo em
circuitos turísticos dias noites horas
Coimbra Coimbra
Média 9,9 8,7 222,4 7,9 7,9
Mediana 10,0 8,0 216,0 5,0 2,8
Moda 11,0 6,061 156,0 2,0 2,8
Desvio padrão 4,6 4,4 109,2 7,6 17,1
Mínimo 1 0 8 1 0,4
Máximo 24 23 564 36 100
Quartis 25 7 6 156 2 1
50 10 8 216 5 2,8
75 12 11 276 12 6,4
Casos válidos 105 105 105 99 99
Casos omissos 0 0 0 6 6
61 Existe mais do que um valor modal. O referido na tabela é o valor mais baixo.