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II – Sendo o conceito de “financiamento maioritariamente público” plasmado no ponto ii) da alínea a) do nº. 2
do artigo 2º do CCP aferido com recurso a critérios, de entre outros, temporais, imediatamente se conclui, na
exata medida do enquadramento pleno da situação económica da entidade beneficiária, pela verificação do
aludido critério temporal e, qua tale, pelo direito de subsunção da Recorrente ao âmbito subjetivo do CCP para
efeitos da normação vertida da alínea a) do nº. 2 do artigo 2º do CCP
.*
* Sumário elaborado pelo relator
Recorrente: PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE MINISTROS
Recorrido 1: CONSERVATORIO (...)
Votação: Unanimidade
Meio Processual: Acção Administrativa Especial para Impugnação de Acto Administrativo (CPTA) - Recurso Jurisdicional
Decisão: Conceder provimento ao recurso.
Aditamento:
Parecer Ministério Publico: Não emitiu parecer.
1
Decisão Acordam, em conferência, os Juízes Desembargadores da Secção de
Texto
Integral:Contencioso Administrativo do Tribunal Central Administrativo Norte:
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I – RELATÓRIO
PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE MINISTROS, com os sinais dos autos, vem
intentar o presente RECURSO JURISDICIONAL da sentença promanada pelo
Tribunal Administrativo e Fiscal do Porto, que, em 28.11.2019, julgou procedente
a presente ação e, consequentemente, anulou “(…) o acto administrativo comunicado à
Autora por ofício com a referência “EAT 2013”, com data de 26 de novembro de 2013,
assinado pela gestora do POAT/FSE (…)”
Em alegações, a Recorrente formula as conclusões que ora se reproduzem, que
delimitam o objeto do recurso: “(…)
1ª) A presente ação foi julgada procedente porque a douta sentença recorrida julgou que “falta
um dos pressupostos do direito de subsunção da Autora ao âmbito subjetivo do CCP, para
efeito do art.° 2°, n° 2, alínea a)”;
2ª) Está em causa a subalínea ii) da alínea a) do n° 2 do art.° 2° do CCP, que considera estar
submetida ao regime desse Código, a entidade que seja financiada maioritariamente pelo
Estado, pelas autarquias locais ou regionais ou por outros organismos de direito público, ou
cuja gestão esteja sujeita ao controlo por parte destes últimos (...)”;
3ª) A Inspeção-Geral de Finanças, na auditoria que fez à candidatura da Autora ao Programa
Operacional de Assistência Técnica do Fundo Social Europeu, considerou estar ela sujeita ao
regime do CCP, isto porque ela apenas tinha, como receitas, os financiamentos públicos a que
se candidatava;
4ª) Deste modo, a Autora, na contratação de serviços que lhe foram prestados para realizar a
atividade a que se candidatara, teria que submeter tal contratação às regras do CCP, o que
não o fez;
5ª) A Autora defendeu a não aplicação do regime de CCP, porque ela não receberia subsídios
da entidade pública, mas sim a contrapartida por serviços por si prestados;
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6ª) Tal tese não é admissível, porque não há, entre a Autora e a entidade pública em causa,
qualquer relação sinalagmática;
7ª) Por outro lado, ao invés do defendido na douta sentença recorrida, o relatório da IGF
analisou todas as contas da Autora a partir do período em que se iniciou o concurso público
em causa e concluiu que, em todos esses períodos, se constata que a Autora não teve
“quaisquer receitas para além dos financiamentos dos projetos, apresentando anualmente
resultados líquidos negativos”;
8ª) O que quer dizer, que a Autora preenche a norma do CCP que impõe a submissão
subjetiva ao seu regime (alínea a), do n° 2, do art.° 2°);
9ª) Assim, o ato impugnado é legal (…)”.
*
Notificado que foi para o efeito, o Recorrido Conservatório de Ciências e
Tecnologias – Associação para a Divulgação das Novas Tecnologias e Avanços
Da Ciência não produziu contra-alegações.
*
O Tribunal a quo proferiu despacho de admissão do recurso, fixando os seus
efeitos e o modo de subida.
*
O/A Digno[a] Magistrado[a] do Ministério Público junto deste Tribunal
Superior não emitiu parecer a se alude no nº.1 do artigo 146º do C.P.T.A.
*
Com dispensa de vistos prévios, cumpre, pois, apreciar e decidir, já que nada a
tal obsta.
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II - DELIMITAÇÃO DO OBJETO DO RECURSO - QUESTÕES A DECIDIR
O objeto do recurso é delimitado pelas conclusões das respetivas alegações, de
acordo com o disposto nos artigos 144.º n.º 2 e 146.º n.º 4 do C.P.T.A. e dos
artigos 5.º, 608.º n.º 2, 635.º n.ºs 4 e 5 e 639.º do novo CPC ex vi dos artigos 1.º e
140.º do CPTA.
Neste pressuposto, a questão essencial a dirimir resume-se a saber se a decisão
judicial recorrida, ao julgar nos termos e com o alcance explicitados no ponto I)
do presente Acórdão, incorreu em erro de julgamento de direito, por errada
interpretação do art.º 2º, nº 2, alínea a) do C.C.P.
Assim sendo, esta será a questão a apreciar e decidir.
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III – FUNDAMENTAÇÃO
III.1 – DE FACTO
O quadro fáctico apurado na decisão recorrida foi o seguinte: “(…)
1) A Autora é uma associação de direito privado que tem como objeto a criação e
gestão dos centros “Conservatoire National des Arts et Métiers” [CNAM] e a
promoção de eventos de ordem científica e cultural, cujos estatutos se dão
integralmente por reproduzidos (cfr. documento 3 junto com a p.i.);
2) A Autora candidatou-se a um financiamento junto do Programa Operacional de
Assistência Técnica do Fundo Social Europeu [POAT/FSE], com vista à
concretização do Programa USP - Unidades de Serviço de Proximidade, que tinha
por objectivo a realização de estudos de deteção de necessidades no domínio da
promoção do emprego e da formação profissional nas comunidades fora dos
grandes centros urbanos (por acordo);
3) Em 25 de julho de 2009, a Autora celebrou com a sociedade “F., S.A.” um
contrato de prestação de serviços com vista à execução do projeto identificado em
2), cujo teor se dá integralmente por reproduzido, designadamente o seguinte (cfr.
documento 4 junto com a p.i.):
“Cláusula 1.
F+G obriga-se a:
1. Prestar ao Conservatório todo o apoio logístico necessário à realização do estudo UPS -
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artigo 16.° do Decreto-Lei n.° 312/2007, de 17 de setembro, fica V. Exa. por este meio
notificado de que, por despacho de 2013/11/25 da Gestora do POAT/FSE, foi revista a
decisão de aprovação do pedido de pagamento de saldo final relativo ao projeto supra
mencionado, pelos montantes que a seguir se indicam:
FINANCIAMENTO PÚBLICO:
Contribuição do FSE: 344.405,57 € Contribuição Pública Nacional: 60.777,45 €
CUSTO TOTAL: 405.183,02 €
Os fundamentos da revisão da decisão constam do parecer técnico financeiro e no mapa de
análise financeira que agora se junta conforme.
Face à estrutura de custos aprovada e aos pagamentos efetuados tem essa entidade a
obrigação de devolver o montante de 127.863,88€, sendo 108.684,30€ do FSE e 19.179,58€
da contribuição pública nacional.
(...)
Parecer da Análise Técnico-Financeira de Saldo Final
Na sequência da ação de auditoria com o processo n.° 2013/12/A2/351, realizada pela IGF,
foram detetadas relações especiais entre a entidade beneficiária e o fornecedor de serviços e
o não cumprimento das regras do CCP, relativamente a um contrato no valor de 508.780
euros, pelo que a IGF condicionou esses montantes à apresentação de elementos relevantes.
A entidade pronunciou-se em sede de contraditório, referindo que a aludida derrogação às
regras da contratação pública era à data aplicável ao caso em apreço, atento que o
"Conservatório de Ciências e Tecnologias Associação para a Divulgação das Novas
Tecnologias e Avanços da Ciência" é uma associação de direito privado que prossegue, a
título principal, finalidades de natureza científica e tecnológica, nos termos estatutariamente
previstos, pelo que se aplica aquele dispositivo legal ao contrato em presença, dispensando a
aplicação da parte II do CCP à formação de contratos a celebrar por associações de direito
privado que prossigam finalidades a título principal de natureza cientifica e tecnológica.
Este entendimento não foi acolhido por parte da IGF uma vez que a redação do n.° 3 do art.°
5.° do CCP, na parte em que estende a exclusão da aplicação da parte II do código relativa á
formação dos contratos, teria sido introduzida pelo Decreto-Lei n.° 278/2009 de 2 de outubro,
pelo que as alterações introduzidas, apenas se aplicavam a procedimentos iniciados após a
data de entrada em vigor do referido diploma, não sendo aplicável ao contrato em questão,
pelo que é entendimento da IGF que o CCT encontra-se sujeito ao regime da contratação
pública, nos termos da alínea a) do n.° 2 do art.° 2.° do CCP.
Face ao exposto, e com vista ao cumprimento da recomendação produzida pela IGF, a
Autoridade de Gestão procede à reabertura do presente saldo final para correção da despesa
não elegível no montante de 127.863,88 euros (total de despesa certificada 511.455,50 euros
X 25%).
Não obstante o valor do contrato inicial ser de 507.780,00 euros acrescidos de IVA, a despesa
efetivamente realizada e certificada foi de 425.565,00 euros acrescidos de IVA (Total de
511.455,50 euros), pelo que a aplicação dos 25 % da tabela COCOF foi calculada sobre este
montante e não sobre o contrato inicial.”
7) Em 17 de dezembro de 2013, a Presidente do Conselho Diretivo do Instituto de
Gestão do Fundo Social Europeu, I.P., no verso do documento de restituição com
vista a desencadear o procedimento de recuperação de verbas, proferiu o seguinte
despacho (cfr. fls. 2 verso do processo administrativo): “Promova-se a recuperação”
8) Em 30 de dezembro de 2013 foi enviado à Autora o ofício
IGFSE/S/4234/2013, assinado pela Presidente do Conselho do Fundo Social
Europeu, I.P. (cfr. documento 2 junto com a p.i. e fls. 6 do processo administrativo), cujo teor
se dá integralmente por reproduzido, designadamente o seguinte:
“Assunto: Restituição de verbas
PO Assistência Técnica FSE (QREN) - Pedido de Financiamento N.° 000117402009
Conforme determina o n.° 2 do art.° 45° do Decreto Regulamentar n.° 84-A/2007, de 10 de
dezembro, o Gestor do (a) PO Assistência Técnica FSE (QREN) comunicou a este Instituto que,
relativamente ao pedido de financiamento acima identificado, essa entidade se constituiu na
obrigação de restituir o montante de 127 863,88 Euros (componente FSE 108 684,30 Euros e
componente OSS 19 179,58 Euros), emergente de auditoria.
Assim, em conformidade com o disposto no n° 3 do mesmo preceito e diploma, fica essa
entidade notificada de que; nos termos do despacho "Promova-se a recuperação" de 17 de
dezembro de 2013 da Presidente deste Instituto, deve proceder à restituição daquele
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As Entidades Demandadas imputam à Autora um dever de contratar nos termos do CCP, uma
vez que cai no âmbito subjetivo de aplicação do código, nos termos do artigo 2.°, n.° 1, alínea
a), do CCP, na redação à data dos factos. Ou seja, e por outras palavras, defendem as
Entidades Demandadas que a Autora é um organismo de direito público e, portanto, sujeita
às regras da contratação pública, pelo que não podia celebrar um contrato de prestação de
serviços com a sociedade “F+S” sem auscultar o mercado, na lógica de concorrência
subjacente àquele diploma.
O Código dos Contratos Públicos foi introduzido no ordenamento português pelo Decreto-Lei n.
° 18/2008, de 29/01, que procedeu à transposição das Diretivas nos. 2004/17/CE e
2004/18/CE, ambas do Parlamento Europeu e do Conselho. O legislador europeu vinculou o
legislador nacional nalgumas matérias e deixou margem de conformação noutras. A matéria
em apreço - classificação como organismo de direito público, para efeitos de subsunção ao
âmbito subjetivo de aplicação do CCP - é objeto de regulação europeia nas diretivas em
apreço. Com efeito, dispõe o artigo 1.°, n.° 9, da Diretiva 2004/18/CE que “[p]or «organismo
de direito público» entende-se qualquer organismo: a) Criado para satisfazer especificamente
necessidades de interesse geral com carácter não industrial ou comercial; b) Dotado de
personalidade jurídica; e c) Cuja atividade seja financiada maioritariamente pelo Estado,
pelas autarquias locais ou regionais ou por outros organismos de direito público; ou cuja
gestão esteja sujeita a controlo por parte destes últimos; ou em cujos órgãos de
administração, direção ou fiscalização mais de metade dos membros sejam designados pelo
Estado, pelas autarquias locais ou regionais ou por outros organismos de direito público.”
Foi aquele critério vertido na alínea a) do n.° 2 do artigo 2.° do CCP, em traços gerais, mas
não corresponde exatamente aos requisitos da Diretiva. Atendendo ao princípio do primado
do direito da União Europeia sobre o direito nacional, em matérias da competência da União
Europeia, os requisitos a ter em conta serão os contidos na Diretiva, integrados pela
interpretação que o Tribunal de Justiça da União Europeia (“TJUE”) faça deles.
Assim, para que estejamos perante um organismo de direito público têm de se verificar
cumulativamente três requisitos, a saber:
(i) Ter sido criado para satisfazer especificamente necessidades de interesse geral com
carácter não industrial ou comercial;
(ii) Ser dotado de personalidade jurídica, de direito público ou de direito privado; e
(iii) A sua atividade seja financiada maioritariamente pelo Estado, pelas autarquias locais ou
regionais ou por outros organismos de direito público; ou cuja gestão esteja sujeita a controlo
por parte destes últimos; ou em cujos órgãos de administração, direção ou fiscalização mais
de metade dos membros sejam designados pelo Estado, pelas autarquias locais ou regionais
ou por outros organismos de direito público.
O legislador europeu recorreu a um critério essencialmente funcional, isto é, sem dar
relevância à forma jurídica de quem adjudica (ou adjudicaria) o contrato, e recorrendo a um
conjunto de indícios, que, na conjugação dos vários elementos de facto e de direito, permitam
extrair uma conclusão sobre a natureza daquela entidade. Ora, se o objectivo do direito da
contratação pública é a prossecução de um mercado interno da União Europeia, tal objectivo
só é atingido mediante o controlo de uma “fuga” para o direito privado, fuga que se traduz
amiúde na criação de pessoas coletivas apenas formalmente privadas, mas verdadeiramente
utilizada como veículo de prossecução do interesse público pela Administração Pública,
evitando-se que escolha o seu cocontratante por considerações não puramente económicas e a
subversão da criação de um verdadeiro mercado único.
Vejamos, agora, se se encontram preenchidos aqueles requisitos.
(i) Ter sido criado para satisfazer especificamente necessidades de interesse geral com
carácter não industrial ou comercial
Este requisito desdobra-se em dois requisitos: (i)-a) a criação para a satisfação de
necessidades de interesse geral e (i)-b) a atividade desenvolvida deve ter carácter não
industrial ou comercial.
Começando pelo segundo. Atendendo ao probatório (ponto 1) do probatório), tratando- se a
Autora de uma associação privada que tem por objeto a criação e gestão dos centros
“Conservatoire National des Arts et Métiers” e a promoção de eventos de ordem científica e
cultural, a atividade que desenvolve não tem carácter comercial nem industrial, pelo que se
cumpre parcialmente o requisito (i).
Não basta, contudo, que a sua atividade não tenha carácter industrial ou comercial; tem,
também, de ter sido criada para satisfazer especificamente necessidades de interesse geral.
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E quanto a este critério, tem o TJUE contribuído para a sua densificação de forma alargada,
reconhecendo a presença deste atributo numa multiplicidade bastante heterogénea de
atividades.
O leading case do TJUE nesta matéria continua a ser, ainda hoje, o acórdão de 15 de janeiro
de 1998, tirado no processo n.° C-44/96, conhecido por “Mannesmann”. Decidiu o TJUE
naquele processo que “a condição constante do primeiro travessão do artigo 1.°, alínea b),
segundo parágrafo, da diretiva, de que o organismo deve ter sido criado para satisfazer «de
um modo específico» necessidades de interesse geral, sem carácter industrial ou comercial,
não implica que o mesmo esteja unicamente, encarregado de satisfazer essas necessidades”
(§26). A entidade não tem de ser criada para perseguir aquele propósito única e
exclusivamente, tem é de satisfazer necessidades de interesse geral, sem carácter industrial
ou comercial, independentemente de satisfazer outras necessidades.
Nas conclusões daquele processo, apresentadas pelo Advogado-Geral (“AG”) Philippe Léger,
propõe-se que o conceito de necessidades de interesse geral seja reconduzido a uma “ideia de
«... atividades que beneficiam diretamente à coletividade», por oposição aos interesses
individuais ou de grupo” (§65).
A entidade criada não tem de perseguir exclusivamente a satisfação de necessidades de
interesse geral, bastando que os persiga na sua atividade, ainda que de forma conjugada
com a satisfação de outros objetivos. Ora, a Autora é uma associação de direito privado que
tem por objeto associativo a criação e gestão dos centros CNAM e eventos de ordem científica
e cultural (ponto 1) da matéria de facto provada), o que, só por si, não determina que persiga
a satisfação de necessidades de interesse geral. Mas o financiamento de que beneficiou ao
abrigo do POAT-FSE visava a concretização do Programa USP - Unidades de Serviço de
Proximidade, que tinha por objectivo a realização de estudos de levantamento de
necessidades no domínio da promoção do emprego e da formação profissional nas
comunidades fora dos grandes centros urbanos (ponto 2) da matéria de facto). A realização de
estudos daquela índole não beneficia interesses individuais ou de grupo, mas sim um
interesse da comunidade em geral.
Se num primeiro momento (no acórdão Mannesmann) foi defendido pelo Advogado Geral do
processo que as necessidades de interesse geral se reconduzem a atividades que beneficiam
diretamente à coletividade, por oposição aos interesses individuais ou de grupo, o TJUE tem
vindo a fazer uma interpretação muito lata do que devem ser consideradas atividades que
beneficiam diretamente a coletividade. Assim, cabem neste conceito, atendendo à
jurisprudência daquele Alto Tribunal (seguimos de perto, na exemplificação, BERNARDO
AZEVEDO, Organismos de Direito Público - Uma Categoria Jurídica Autónoma de Direito
Comunitário Intencionalmente Aberta e Flexível, in Estudos de Contratação Pública, Vol. III,
2010, págs. 63 e 64 e PEDRO FERNÁNDEZ SÁNCHEZ, O âmbito de aplicação do regime de
contratação pública: Organismos de Direito Público e Entidades Privada, in Contratação
Pública I, coleção Formação Contínua do CEJ, disponível em:
http://www.cej.mj.pt/cej/recursos/ebooks/Administrativo_fiscal/Direito_Administrativo.pdf):
- a produção de documentos administrativos em regime de confidencialidade e de segurança,
porque estreitamente ligada à preservação da ordem pública e ao funcionamento institucional
do Estado (Proc. C-44/96, Mannesmann);
- a organização de feiras, porque umbilicalmente destinada ao estímulo do comércio, quer por
via do encontro entre produtores e comerciantes, quer por via da divulgação de informação
sobre produtos comercializáveis junto dos consumidores (Procs. apensos C-223/99 e 260/99,
Agorá);
- construção e comercialização de escritórios destinados a atrair a instalação de empresas
privadas num município, porque favorável ao desenvolvimento económico local (Proc. C-18/01,
Korhonen);
- a exploração de parques florestais e de atividades de lazer conexas, porque funcionalizada
à otimização dos índices de bem-estar da população (Proc. C-353/96, Comissão vs. Irlanda);
- o fornecimento de aquecimento urbano a habitações particulares e edifícios públicos, porque
associado à melhoria das condições de vida das populações locais (Proc. C-393/06, Aigner).
Como refere PEDRO FERNÁNDEZ SÁNCHEZ (op. cit.), “prossegue “necessidades de interesse
geral” qualquer entidade que promove (também, isto é, mesmo que não exclusivamente) a
defesa de interesses da coletividade que possam ser autonomizados dos interesses privados
dos seus associados ou dos grupos de pessoas que lhe incumba defender, e ainda que o faça
apenas residualmente”.
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