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19/09/22, 13:30 Acordão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo


Processo: 0418/03
Data do Acordão: 04-07-2006
Tribunal: PLENO DA SECÇÃO DO CA
Relator: JOÃO BELCHIOR
Descritores: DOMÍNIO PÚBLICO.
APOIO DE PRAIA.
LICENÇA DE UTILIZAÇÃO.
APROVEITAMENTO DO ACTO ADMINISTRATIVO.
AUDIÊNCIA PRÉVIA.
Sumário: I - Face ao que decorre do art. 6° do DL nº 46/94 de 22.2. deve
entender-se que a licença de utilização do domínio hídrico é
conferida a título precário e, por via disso, livremente revogável,
a todo o tempo, pela Administração.
II - Não deve considerar-se apoio de praia mas sim equipamento,
nos termos do art. 59°, n°s 1 a 3, daquele DL n° 46/94, uma
instalação onde funciona, durante todo o ano, um bar -
esplanada, sendo esta a actividade económica principal e
dominante da exploração.
III - Não é licito ao tribunal, em honra ao princípio do
aproveitamento do acto administrativo ou da relevância limitada
dos vícios de forma, salvar um acto praticado com preterição da
audiência prévia prevista no art. 100º CPA, se o mesmo releva do
domínio das valorações da autonomia conformadora da
Administração, sem que o conteúdo e o sentido daquele se
mostrem inelutáveis, independentemente de a recorrente ter
sido, ou não, ouvida no procedimento.
IV - O dever de a Administração revogar actos ilegais
consolidados na ordem jurídica, mesmo que se entenda estar
consagrado no ordenamento jurídico português actual, só
existiria até ao termo do prazo do recurso contencioso ou até à
resposta da entidade recorrida.
Nº Convencional: JSTA00063362
Nº do Documento: SAP200607040418
Data de Entrada: 22-06-2005
Recorrente: A...
Recorrido 1: MIN DAS CIDADES, ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO E AMBIENTE
Votação: UNANIMIDADE
Meio Processual: REC JURISDICIONAL.
Objecto: AC 1 SUBSECÇÃO DO CA.
Decisão: NEGA PROVIMENTO.
Área Temática 1: DIR ADM GER - DOM PUB.
Legislação Nacional: DL 46/94 DE 1994/02/22 ART5 ART6 ART59 ART62.
CPA91 ART100 ART140 ART141.
DL 309/03 DE 2003/09/02 ART17.
Jurisprudência Nacional: AC STAPLENO PROC24971 DE 1994/05/26.; AC STAPLENO PROC1618/02 DE 2006/05/23.;
AC STA PROC1337/02 DE 2005/0412.; AC STA PROC225/03 DE 2004/11/24.; AC STA
PROC44862 DE 2000/02/23.
Referência a Doutrina: MARCELLO CAETANO MANUAL DE DIREITO ADMINISTRATIVO 10ED V1 PAG457.
SÉRVULO CORREIA NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO PAG501.
FILIPA URBANO CALVÃO OS ACTOS PRECÁRIOS E OS ACTOS PROVISÓRIOS NO
DIREITO ADMINISTRATIVO PAG21.
Aditamento:

Texto Integral

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Texto Integral: Acordam no Pleno da Secção de Contencioso Administrativo do


Supremo Tribunal Administrativo (STA):
I. RELATÓRIO
1. “A…”, com os demais sinais dos autos instaurou recurso
contencioso de anulação do acto de indeferimento tácito,
imputável ao Senhor MINISTRO DAS CIDADES,
ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO E AMBIENTE (ER), do
recurso hierárquico necessário interposto para este membro do
Governo do despacho 007/2002, de 22 de Julho de 2002, da Srª
Directora Regional do Ambiente e Ordenamento do Território de
Lisboa e Vale do Tejo, que revogou a licença de utilização do
domínio público marítimo nº 281/01, de 1 de Janeiro.
2. Por acórdão proferido nos autos a fls. 209-218vº, julgando
embora improcedentes os vícios de violação de lei, anulou o acto
impugnado por haver desrespeitado o disposto no artº 100º do
CPA.
3. De tal acórdão recorrem o recorrente contencioso e a ER.
4. A recorrente contenciosa, ora recorrente jurisdicional, rematou
a sua alegação com as seguintes CONCLUSÕES:
1.ª) O Dec.Lei n.° 309/93, de 2 de Setembro, com a redacção
dada pelo Dec.Lei n.° 218/94, de 20 de Agosto, estabelece no
art.° 17.° um regime especial de outorga de licenças e
concessões que derroga, nos casos subsumíveis à respectiva
previsão, o regime geral constante do Dec.Lei n.° 46/94, de 22 de
Fevereiro.
2.ª) Mais concretamente o regime especial estabelecido no art.°
17.°/4 do Dec.Lei n.° 309/93 afasta, nos casos subsumíveis à
respectiva previsão, o regime-regra da livre revogabilidade das
licenças de utilização do domínio hídrico.
3ª) Com efeito, nas situações subsumíveis à previsão do art.°
17.°/4 do Dec.Lei n.° 309/93, a lei confere ao titular da licença de
utilização do domínio hídrico um direito subjectivo à renovação
dessa licença para efeitos de adaptação às disposições do
POOC e subsequente outorga de concessão por nove ou cinco
anos consoante a referida adaptação ocorra no prazo de um ou
de dois anos (Cfr. art.° 17.°/6/8 do Dec.Lei n.° 309/93, com a
redacção dada pelo Dec.Lei n.° 218/94, de 20 de Agosto).
4ª) Daí se concluindo que as licenças de utilização do domínio
hídrico emitidas, após a entrada em vigor de um POOC, ao
abrigo do art.° 17.°/4 do citado diploma legal, são constitutivas de
direitos, ou pelo menos, de interesses legalmente protegidos.
5.ª) É precisamente o caso da licença n.°281/01 que titulava a
utilização privativa dos terrenos dominiais sitos na Praia do Forte
e que foi conferida à ora recorrente no âmbito do regime
transitório instituído no art.° 17.°/4 do Dec. Lei n.° 309/93, de 2 de
Setembro (na redacção que lhe foi dada pelo Dec.Lei n.°218/94,
de 20 de Agosto) em conjugação com o disposto no art.° 96.° do
POOC para o troço Cidadela – Forte de São Julião da Barra
(aprovado pela RCM n.°123/98, de 19 de Outubro) atenta a

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inserção dos referidos terrenos dominiais na UOPG 1 prevista no


art.° 88.° do dito POOC.
6.ª) Ou seja, esta licença destinava-se a vigorar transitoriamente
até à definição das condições definitivas a determinar no âmbito
da citada UOPG 1 para o bar com esplanada que aí está previsto
(Cfr. art.° 88.°/2/e do Regulamento do POOC), conferindo à ora
recorrente enquanto respectiva titular, o direito a uma nova
licença ou concessão pelo prazo de 9 ou 5 anos consoante a
adaptação às disposições do POOC - neste caso do que vier a
ser estabelecido para a UOPG 1 pelo plano de pormenor a
elaborar pela Câmara Municipal de Cascais em articulação com
o INAG (v. o art.º88.º precedentemente citado) - ocorresse no
prazo de um ou dois anos respectivamente, conforme é
estipulado nos “Princípios e Condições Gerais” da licença n.
°281/01, em estrita conformidade aliás com o preceituado no art.°
17.°/4/6/8 do Dec.Lei n.° 309/93 atrás citado.
7ª) Em suma, deste modo e por via da conjugação do disposto
no art.° 17.°/4/6/8 do Dec.Lei n.° 309/93 com o disposto nos arts.
88.° e 96.° do POOC Cidadela – Forte de São Julião da Barra
resulta que a licença n.° 281/01 consubstancia um acto
administrativo constitutivo de direitos, ou pelo menos, de
interesses legalmente protegidos.
8.ª) Por isso que, mesmo se porventura a licença n.°281/97/DPM
tivesse enfermado de qualquer vício procedimental o acto está
há muito convalidado, o mesmo sucedendo com os actos
subsequentes que operaram a renovação da licença inicial, pelo
que, constituindo caso assente ou decidido, o licenciamento da
instalação não podia, sem violação do art.° 141.° do CPA, ser
revogado com fundamento na sua pressuposta ilegalidade,
porquanto sendo válido e constitutivo de direitos ou, pelo menos,
de interesses legalmente protegidos, a revogação estava vedada
por força do disposto no art.° 140.°/1/b do CPA, enfermando por
isso o acto em crise de vício de violação de lei.
9.ª) Termos em que, com o devido respeito, o douto acórdão
recorrido, ao qualificar a licença n.°281/01 como um acto precário
tout court, concluindo pela sua livre revogabilidade a todo o
tempo, não levou em consideração todo o bloco legal aplicável,
desatendendo muito concretamente o regime especial
estabelecido no art.° 17.° (maxime o disposto nos n.°s 4, 6 e 8)
do Dec.Lei n.° 309/93, de 2 de Setembro, com a redacção dada
pelo Dec. Lei n.° 218/94, de 20 de Agosto, em conjugação com o
disposto nos arts. 88.° e 96.° do POOC para o troço Cidadela –
Forte de São Julião da Barra, aprovado pela RCM n.° 123/98, de
19 de Outubro, fazendo incorrecta interpretação e aplicação
destes normativos e, por consequência, também dos arts. art.°
140.°/1/b e 141.° do CPA.
10ª) E, como tal, não pode manter-se, devendo, por conseguinte,
revogar-se nessa parte o douto acórdão recorrido e julgar-se
procedente e provado o invocado vício de violação de lei.

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Por outro lado,


11.ª) A instalação da recorrente foi licenciada inicialmente como
Apoio-de-Praia, sendo nesse aspecto irrelevante que na licença
inicial conste “Apoio-Equipamento” pois segundo se alcança do
pedido formulado pelo respectivo requerente e pelo subsequente
desenrolar do procedimento administrativo foi assim que sempre
foi entendido pela ex-DRALVT.
13.ª) Ora, flui com meridiana clareza das definições legais de
“apoio de praia” e de “equipamento” que existem funções
potencialmente comuns a ambos os tipos de utilização,
designadamente funções comerciais entre as quais se conta a
actividade de restauração e bebidas (Cfr. art.°59.º/1 do Dec.Lei
nº. 46/94 e art.°4.°/f/g/h do POOC Cidadela / S. Julião da Barra).
14.ª) Este tipo de definições legais assentes em conceitos cujo
conteúdo é de difícil concretização, como é o caso da noção de
complementaridade de determinadas funções que na essência
são idênticas às que caracterizam os equipamentos, com a única
diferença de que nestes últimos correspondem à actividade
principal, torna extremamente difícil qualificar as situações
fácticas em ordem à sua subsunção aos conceitos legais.
15º.) Nesta perspectiva e atenta a presunção de legalidade de
que gozam os actos administrativos deve concluir-se que a
DRALVT no acto de licenciamento inicial qualificou correctamente
a instalação da recorrente como apoio de praia (mais a mais
quando é certo que esta instituição, até à prolação do acto
revogatório, sustentou sempre que era essa a situação), termos
em que o acto de licenciamento inicial é válido.
16.ª) E sendo válido o acto primário ao abrigo do qual foi
edificada a instalação, afigura-se-nos, com o devido respeito, que
nenhuma ilegalidade pode ser assacada aos actos subsequentes
pois o Dec.Lei n. 46/94 (maxime o art.° 59.°/5) apenas regula a
instalação de raiz de equipamentos - que pressupõe
necessariamente a respectiva edificação (Cfr. art.° 63. °/a) - e
não a alteração das funções autorizadas em instalações já
existentes, aspecto em que o citado diploma é completamente
omisso.
17.ª) Ora, em casos como o vertente, em que as instalações
foram licitamente edificadas ao abrigo de licença para instalação
de apoio de praia e apenas está em causa a alteração da
actividade principal, não se descortinam quaisquer razões
justificativas para aplicação analógica das regras que exigem
contrato de concessão precedido de concurso público pois as
instalações já existem e, consequentemente, não tem cabimento
a realização de concurso público para a simples alteração da
actividade principal que aí é desenvolvida.
18.ª) Tanto mais que, conforme acima se referiu, por via do
disposto no art.° 17.°/4/6/8 do Dec.Lei n.° 309/93 em conjugação
com o disposto nos arts. 88.° e 96.° do POOC para o troço
Cidadela – Forte de São Julião da Barra, resulta para a

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recorrente o direito à concessão, sem precedência de concurso


público, para a instalação e exploração de um bar com
esplanada devendo, em consonância, concluir-se que a entrada
em vigor deste POOC torna, sem mais, licita a alteração da
actividade principal desenvolvida nas instalações existentes pois
quem pode o mais também pode o menos.
19.ª) De tudo se concluindo que tanto a licença inicial como as
que subsequentemente operaram a respectiva renovação e que
culminaram com a licença n.° 281/01/DPM revogada pelo acto
recorrido, são perfeitamente legais e que, para além disso, a
licença n.°281/01 é constitutiva de direitos ou, no mínimo de
interesses legalmente protegidos, não padecendo o acto
revogado, em suma, das ilegalidades que lhe foram apontadas
pela Administração e consequentemente o acto revogatório viola
o disposto no art.°140.°/1/b do CPA enfermando também por
essa via de vício de violação de lei.
20.ª) Termos em que, com o devido respeito, conclui-se que,
nesta matéria, o douto acórdão em crise fez incorrecta
interpretação dos factos e do direito e, como tal, não pode
manter-se, devendo, por conseguinte, ser revogado nessa parte,
julgando-se procedente e provado o invocado vício de violação
de lei.
Finalmente,
21.ª) Decorre necessariamente das precedentes conclusões que
o acto revogatório desrespeita os princípios da legalidade, da
prossecução do interesse público, do respeito dos direitos e
interesses legalmente protegidos, da proporcionalidade e da
justiça pois extinguiu uma situação constitutiva de direitos criada
por um acto lícito e tanto basta para verificar a violação daqueles
princípios.
22.ª) Termos em que, com o devido respeito, conclui-se que,
nesta matéria, o douto acórdão em crise fez igualmente
incorrecta interpretação dos factos e do direito e, como tal, não
pode manter-se, devendo em consequência, ser revogado
também nessa parte, julgando-se procedente e provado o
invocado vício de violação de lei”.
5. A ER contra-alegou, formulando as seguintes CONCLUSÕES:
“a) O douto Acórdão recorrido considerou, e bem, que por força
de norma imperativa do art° 6° do Decreto-Lei no 46/94, “a
licença de utilização do domínio hídrico é conferida a título
precário”, como tal revogável a todo o tempo, não sendo
constitutiva de direitos;
b) E mesmo em face do alargamento da protecção da
irrevogabilidade à constituição de meros interesses legalmente
protegidos, não existe razão para afastar aquele entendimento, já
que o art° 140° n° 1, alínea b) do CPA está pensado para os
actos que constituem situações firmes e estáveis, que mereçam
protecção em nome da segurança, da estabilidade e da
confiança dos destinatários;

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c) Quanto à anulação revogatória dos actos inválidos (art° 141°


do CPA), sendo a situação instável em si mesma, não há
segurança nem investimento da confiança do particular que
justifiquem a inclusão dos actos precários nesse regime;
d) O nº 4 do art° 17º do Decreto-Lei n° 309/93, na redacção do
Decreto-Lei nº 218/94 não consubstancia um regime especial,
mas uma medida transitória aplicável às licenças válidas,
anteriormente emitidas, existentes à data da aprovação do
POOC;
e) Não é este o caso dos autos, já que a instalação da
Recorrente, sendo um equipamento e não um apoio de praia, só
podia ser titulada por contrato de concessão, autorizado pelo
Ministro do Ambiente e precedendo concurso público (n° 2 do
art° 5°; no 5 do art° 59° e no 2 do art° 62°, todos do Decreto-Lei
n° 46/94);
f) O POOC Cidadela – S. Julião da Barra, por um lado, especifica
no art° 46° as praias incluídas no seu âmbito, não integrando o
elenco a “Praia do Forte”; por outro, não assinala qualquer praia
no local da instalação da Recorrente;
g) O conceito de praia não se confunde com a de areal;
h) A licença n° 281/01 enferma de ilegalidade por violação dos
art°s 5°/2, 59°/5/6 e 62°/2 do Decreto-Lei n° 46/94;
i) Quanto à alegada violação do acto revogado por “desrespeito
dos princípios da legalidade, da prossecução do interesse
público, do desrespeito dos interesses legalmente protegidos, da
proporcionalidade e da justiça”, como bem diz o douto Acórdão
recorrido, “não há, seguramente, arbitrariedade, excesso e
inadequação, numa medida que, ao serviço da legalidade,
extingue uma situação que, com ser precária, não constitutiva de
direitos, tinha sido criada por um acto que não era um modo lícito
de prosseguir o interesse público”.
6.Relativamente ao recurso por si interposto a ER concluiu a sua
alegação do modo seguinte:
“O douto Acórdão recorrido, ao decidir que o poder da
Administração de revogar ou não um acto ilegal, dentro do prazo
legalmente fixado, se traduz no exercício de um poder
discricionário, violou o princípio da legalidade consagrado no n° 2
do art° 266° da CRP e no n° 1 do art° 3° do CPA”.
7. O Exmº Magistrado, tendo vista nos autos emitiu parecer no
sentido de:
- não merecer provimento o recurso do particular, em
consonância com anterior parecer emitido na fase contenciosa;
- merecendo no entanto provimento o recurso da ER.
Para tal aduz, em resumo, que o dever de audiência se degradou
no caso “em formalidade não essencial, devendo, por isso,
salvar-se a decisão impugnada, em obediência ao princípio do
aproveitamento do acto administrativo”.
Na verdade, prossegue o mesmo Digno Magistrado, estando
perante acto ilegal, “a partir do momento em que a Administração

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decide intervir, ela encontra-se vinculada ao cumprimento estrito


da lei, e esta, no caso concreto, não pode dar lugar senão à
revogação do acto ilegal”.
Foram colhidos os vistos da lei.
II.FUNDAMENTAÇÃO
II.1. O acórdão recorrido decidiu com base nos seguintes
FACTOS (Mª de Fª):
a) a requerente é dona do estabelecimento comercial, de bar e
esplanada, denominado “…”, sito na Praia do Forte em São João
do Estoril;
b) a instalação e exploração inicial do estabelecimento comercial
fizeram-se a coberto da licença n° 281/97 emitida, em 1 de
Janeiro do mesmo ano, pela Direcção Regional do Ambiente de
Lisboa e Vale do Tejo;
c) no dia 2002.07.22 a Directora Regional do Ambiente e
Ordenamento do Território de Lisboa e Vale do Tejo proferiu o
“Despacho n° 007/02” com o seguinte teor:
“Considerando o facto de a Direcção Regional do Ambiente e do
Ordenamento do Território de Lisboa e Vale do Tejo, ter
procedido no pretérito dia 1 de Janeiro de 2001, à emissão a
favor de A…., da licença de ocupação de Domínio Público
Marítimo n°281/01;
Considerando que a referida licença foi concedida ao abrigo do
disposto no artigo 96° do Regulamento do Plano de
Ordenamento da Orla Costeira para o troço Cidadela - Forte de
São Julião da Barra, publicado em Diário da República através
da Resolução do Conselho de Ministros n° 123/98, de 19 de
Outubro, nos termos do disposto no decreto-lei n° 309/93, de 2
de Setembro, com a redacção que lhe foi conferida pelo decreto-
lei n° 218/94, de 20 de Agosto e ainda nos termos do disposto no
decreto-lei n° 46/94, de 22 de Fevereiro;
Considerando que a licença n° 281/01, de 1 de Janeiro de 2001
foi emitida na sequência e como renovação da licença n° 281/97,
de 1 de Janeiro de 1997 e suas sucedâneas;
Considerando que a licença n° 281/01, se destina a um
equipamento;
Considerando ainda que, tal como resulta das análises
efectuadas a todo o processo conexo à referida licença, a saber,
o processo n° 45/CAS/DPM existente nesta Direcção Regional se
veio a apurar ter havido vício no procedimento adoptado que
conduziu à emissão das sucessivas licenças, procedimento que
se manteve no processo que conduziu à emissão da licença n°
281/01, de 1 de Janeiro de 2001; Considerando que os vícios
detectados se traduzem em violação de lei e vício de forma,
porquanto o acto de atribuição da referida licença preteriu as
normas que impõem a autorização do Ministro do Ambiente, à
data Ministro do Ambiente e do Ordenamento do Território a
celebração do contrato de concessão e a necessidade de
concurso público para escolha do co-contratante;

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Considerando por último, que a preterição daquelas formalidades


se traduz na violação do disposto nos artigos 5° nº 2, 59º nº 5,
62° n° 2, todos do decreto-lei n° 46/94, de 22 de Fevereiro, e faz
enfermar o acto de ilegalidade;
Revogo, nos termos do disposto no artigo 141º do decreto-lei n°
442/91, de 15 de Novembro alterado pelo decreto-lei n° 6/96, de
31 de Janeiro e com os fundamentos acima enunciados, a
licença de Domínio Público Marítimo n°281/01, de 1 de Janeiro
de 2001, conferida à “A….”;
d) o despacho transcrito em c) foi notificado à requerente pelo
oficio n° 010594, subscrito pela própria DRAOLVT, datado de
2002.08.07, com o texto que se transcreve:
“O procedimento adoptado por esta Direcção Regional que
conduziu à emissão a favor dessa sociedade da licença de
ocupação do Domínio Público Marítimo n° 281/01 e de todas as
demais que a precederam, veio a verificar-se, após análise de
várias entidades ao processo, estar inquinado de vicio de forma e
de lei.
Por este facto, o acto administrativo praticado por esta Direcção
Regional em 1 de Janeiro de 2001, ao abrigo do qual se emitiu a
Vªs. Exas a licença acima mencionada, foi por meu despacho n°
007/2002, de 22 de Julho de 2002, de que se junta cópia,
revogado nos termos e com a fundamentação dele constante.
Nestes termos, fica Vª Exa notificado do conteúdo do mesmo.”
e) no dia 2002.08.23 deu entrada na Direcção Regional do
Ambiente e do Ordenamento do Território de Lisboa e Vale do
Tejo o seguinte requerimento apresentado pela exequente:
“Exma. Senhora
Directora Regional do Ambiente e do Ordenamento do Território
de Lisboa e Vale do Tejo
ofício n° 010594 (Refª. 16/GAJ) datado de 07- 08-2002, através
do qual foi notificada do despacho n° 007/2002, de 22- 07-2002,
prolatado por V. Exª. através do qual foi revogada a licença de
ocupação do domínio público marítimo n° 281/01, vem, ao abrigo
do disposto no art° 31° da LPTA, requerer a notificação dos
seguintes elementos:
indicação do autor do acto com especificação das normas legais
e, ou, despacho que autorizaram a sua emissão, e, indicação do
órgão competente para apreciar a impugnação do acto e o prazo
para este efeito.
O presente pedido fundamenta-se na circunstância do legal
representante da requerente ter constatado, em consulta ao
processo administrativo existente na DRAOTLVT, que existem
despachos de membros do Governo, respectivamente do anterior
Secretário de Estado do Ordenamento do Território e
Conservação da Natureza e do actual Secretário de Estado
Adjunto e do Ordenamento do Território que determinam a
revogação da atrás referida licença de ocupação do domínio
público marítimo, lançando a dúvida sobre a autoria do acto

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administrativo consubstanciado na decisão de revogação da


licença, a natureza do despacho 00 7/2002 notificado pelo oficio
supra identificado, respectiva recorribilidade contenciosa,
necessidade de prévia impugnação administrativa e do órgão
competente para o efeito.
Como é evidente o esclarecimento destas matérias, mediante a
notificação clara e expressa das requeridas indicações, em
consonância aliás com o preceituado no art° 68° do CPA, é
indispensável para o uso dos meios administrativos ou
contenciosos que se impõem para a defesa dos direitos da
requerente.
Nestes termos solicita-se a V. Exª que, conforme peticionado,
sejam clara e expressamente notificados à requerente os
elementos previstos no art° 68° do CPA, com indicação
inequívoca de quem é efectivamente o autor da decisão de
revogação da licença em apreço e se este acto é, ou não, desde
logo impugnável contenciosamente, com indicação, se for esse o
caso, do órgão competente para a impugnação administrativa e
do prazo para o efeito.”
f) com data de 2002.10.14 a Directora Regional do Ambiente o
Ordenamento do Território de Lisboa e Vale do Tejo, remeteu à
requerente o oficio n° 013554 com os seguintes termos:
“Acusamos a recepção da sua comunicação acima identificada,
que nos mereceu a melhor Atenção, pelo que passamos a
informar.
Como resulta claro da nossa anterior comunicação, ao abrigo da
qual foi transmitido a V. Ex°as o Despacho n° 007/2002, de 22 de
Julho, a autoria desse acto é da Directora Regional de Ambiente
e do Ordenamento do Território de Lisboa e Vale do Tejo, dele
constando inequivocamente a data da sua prolação pelo que não
se nos afigura necessária qualquer aclaração quanto a estes
pontos.
No que concerne, à menção constante da alínea c), do n° 1 de
artigo 68º do. Código de Procedimento, informa-se que as
DRAOT, são nos termos do decreto-lei nº 127/2001, de 17 de
Abril, serviços desconcentrados do Ministério das Cidades do
Ordenamento do Território e do Ambiente dirigidas por um
Director Regional equiparado para todos os efeitos legais a um
Director-Geral, pelo que a impugnação administrativa do referido
Despacho deverá ser dirigida a Sua Exª o Senhor MCOTA, no
prazo de um mês a contar da data da sua comunicação.”
g) no dia 2002.11.12 deu entrada no Gabinete de Sua Excelência
o Ministro das Cidades do Ordenamento do Território e do
Ambiente o requerimento da requerente interpondo recurso
hierárquico do despacho mencionado em c);
h) a recorrente intentou, no Tribunal Administrativo do Circulo de
Lisboa, no dia 16 de Outubro de 2002, recurso contencioso “do
despacho nº 007/2002, de 22 de Julho de 2002, da Srª Directora
Regional do Ambiente e do Ordenamento do Território que

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revogou a licença de utilização do domínio público marítimo nº


281/01, de 1 de Janeiro”, que foi distribuído com o nº 500/02- 2ª
Secção.
II.2. DO DIREITO
Estando em causa no recurso contencioso acto de indeferimento
tácito, imputável à ER, do recurso hierárquico necessário para si
interposto do despacho 007/2002, de 22 de Julho de 2002, da
Srª Directora Regional do Ambiente e Ordenamento do Território
de Lisboa e Vale do Tejo, que revogou licença de utilização do
domínio público marítimo nº 281/01, o acórdão recorrido,
julgando embora improcedentes os vícios de violação de lei que
lhe vinham imputados, anulou o acto impugnado por haver
desrespeitado o disposto no artº 100º do CPA.
De tal acórdão recorrem o recorrente contencioso e a ER.
II.2.1. DO RECURSO INTERPOSTO PELA RECORRENTE
CONTENCIOSA
II.2.1.1. A recorrente contenciosa, ora recorrente jurisdicional,
reedita basicamente o que invocara no recurso contencioso,
cumprindo assim analisar as arguições deduzidas.
É essencial, liminarmente, realçar que tipo de actuação
administrativa está em causa como decorre da Mª de Fº.
A recorrente é dona de um estabelecimento comercial
(constituído por bar e esplanada), sito na Praia do Forte em São
João do Estoril.
A instalação e exploração inicial daquele estabelecimento
fizeram-se a coberto da licença n° 281/97 emitida, em 1 de
Janeiro do mesmo ano, pela Direcção Regional do Ambiente de
Lisboa e Vale do Tejo.
Pela Directora Regional do Ambiente e Ordenamento do
Território de Lisboa e Vale do Tejo, a 22.07.02, foi exarado
despacho no qual, depois de ponderar o que se mostra
consignado no ponto c. da Mª de Fº, com invocação do artigo
141º do CPA, revogou “a licença de ocupação do Domínio
Público Marítimo n° 281/01 e de todas as demais que a
precederam”.
Foi relativamente à impugnação graciosa daquele despacho que
se formou o falado indeferimento tácito.
A propósito da nuclear imputação de revogação ilegal (por
desrespeito das normas dos arts. 141º e 140º /1/b do CPA), no
acórdão recorrido ponderou-se que ao triunfo de tal arguição se
opunha desde logo uma decisiva razão – segundo o artigo 6º do
DL nº 46/94, de 22 de Fevereiro, “a licença de utilização do
domínio hídrico é conferida a título precário”.
II.2.1.2.Não se conformando com o decidido, sob as conclusões
1.ª a 10ª a recorrente, no essencial, afirma que
- a situação dos autos estaria sujeita a um regime especial de
outorga de licenças e concessões que derrogaria o regime geral
constante do Dec.Lei n.° 46/94, de 22 de Fevereiro;
- concretamente, seria conferido ao titular da licença de utilização

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do domínio hídrico um direito subjectivo à renovação dessa


licença pelo que as licenças de utilização do domínio hídrico
emitidas, após a entrada em vigor de um plano de ordenamento
da orla costeira (POOC) são constitutivas de direitos, ou pelo
menos, de interesses legalmente protegidos, como seria o caso
da licença n.°281/01 que foi conferida à ora recorrente para a
utilização privativa dos terrenos dominiais sitos na Praia do Forte;
- por isso, mesmo que a licença n.°281/97/DPM tivesse
enfermado de qualquer vício procedimental o acto estaria há
muito convalidado, o mesmo sucedendo com os actos
subsequentes que operaram a renovação da licença inicial, pelo
que o licenciamento da instalação em causa não podia, sem
violação do disposto nos art.°s 140.°/1/b e 141.° do CPA, ser
revogado com fundamento na sua pressuposta ilegalidade
enfermando por isso o acto em crise de vício de violação de lei.
II.2.1.3.A propósito de tal ordem de invocações, e na linha do que
se decidiu, é essencial ter em atenção o que segue.
Com o Decreto-Lei n.º 46/94 de 22 de Fevereiro, e como deflui
do respectivo preâmbulo, intentou-se rever, actualizar e unificar o
regime jurídico da utilização do domínio hídrico, sob jurisdição do
Instituto da Água
Ora, o seu artigo 6º preceitua que “a licença de utilização do
domínio hídrico é conferida a título precário, podendo ser
outorgada pelos prazos máximos...”.
Uma tal precarização, segundo o que vem sendo entendido e
como se refere no acórdão recorrido, outra significação não tem
que conferir ao particular a possibilidade de utilizar em proveito
próprio o espaço do domínio público, mas numa situação jurídica
modificável a todo o tempo por vontade da Administração, na
qual os poderes jurídicos do destinatário existem unicamente por
tolerância do órgão competente para os extinguir (A tal respeito
são citados no aresto recorrido os acórdãos do Pleno de 1994.05.26- recº
nº 24 971 e da Secção de 2003.04.09 – recº nº 1567/02, e Marcelo
Caetano, “Manual de Direito Administrativo”, I, 10ª ed., p. 457), Sérvulo
Correia, “Noções de Direito Administrativo”, p. 501 e Filipa Urbano
Calvão, “Os Actos Precários e os Actos Provisórios No Direito
Administrativo”, pp. 21 e segs, podendo ainda ver-se, pelo menos o
acórdão da Secção de 11-02-2003 (Rec. nº 0342/02).). Ou, seja,
integra um instrumento jurídico-administrativo de realização do
interesse público, muito flexível, que salvaguarda o poder da
Administração de definir com conteúdo diferente a situação
concreta, sempre que o interesse público o reclame e que se não
coaduna com a constituição, a favor do particular, de uma
posição firme e estável.
Donde, a livre revogabilidade, a todo o tempo, constituir um dos
seus atributos (cf. já mencionado acórdão do Pleno de
1994.05.26 – recº nº 24 971), associado à ideia de que o acto
precário não é constitutivo de direitos.
Também como assinalou o acórdão recorrido, para julgar
improcedente o alegado vício de violação de lei, com fundamento
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no disposto nos arts. 141º e 140º/1/b do CPA,


“não há razão para afastar tal entendimento, mesmo em face do
alargamento da protecção de irrevogabibilidade à constituição de
meros interesses legalmente protegidos, nos termos previstos no
art. 140º, nº 1, al. b) CPA. É que este preceito está pensado para
os actos que constituem situações firmes e estáveis, que
mereçam protecção em nome da segurança, da estabilidade e da
confiança dos destinatários (vide Freitas do Amaral, “Curso de
Direito Administrativo”, II, p. 440) Ora, estes valores não estão
presentes nos actos precários por determinação legal, uma vez
que é a própria lei a chamar a atenção do cidadão para a
instabilidade e fraqueza da situação jurídica, dando a saber ao
administrado que a qualquer momento lhe podem ser retirados
os benefícios antes concedidos. E se não há confiança a
proteger, não há justificação racional para submeter os actos
precários ao regime de irrevogabilidade consagrado no art.
140º/1/b CPA. Assim, sob pena de, na prática se comprometer,
até, a figura do acto precário, alcançando – se, por esta via, a
segurança e solidez que são estranhas à sua natureza, esta
norma haverá de interpretar-se restritivamente de molde a
abarcar só os actos que constituam situações firmes e estáveis,
deixando de fora as decisões administrativas criadoras de
posições jurídicas com precariedade (neste sentido, Filipa
Urbano Calvão, in “ Os Actos Precários e os Actos Provisórios no
Direito Administrativo”, p. 199 e Pedro Gonçalves, “ Revogação
(de actos administrativos) in DJAP, VII, p. 314). E o mesmo se
diga em relação à revogação anulatória prevista no art. 141º
CPA. Sendo a situação instável, de si mesma, não há segurança
nem investimento de confiança do particular que justifiquem a
inclusão dos actos precários neste regime, com a consequente
impossibilidade de extinguir, com prejuízo para o interesse
público, os efeitos de um acto que nunca constituiu um modo
lícito de o prosseguir”.
Ora, o que se deixa exposto, e se reitera, não é minimamente
abalado pelo que reafirma a recorrente.
II.2.1.4. Por tal interessar também à apontada arguição é
necessário ainda ter presente um dos fundamentos (acima
referido - cf. alínea c. da Mª de Fº) do acto contenciosamente
impugnado.
Trata-se do facto de ali se haver considerado que em virtude de
a licença em causa se destinar a um equipamento, ter havido
vício no procedimento, pois que o acto de atribuição da referida
licença preteriu as normas que impõem a autorização do
Ministro do Ambiente, à data Ministro do Ambiente e do
Ordenamento do Território para a celebração do contrato de
concessão e a necessidade de concurso público para
escolha do co-contratante.
Ora, a tal respeito, e porque a situação se encontra ali devida e
proficientemente tratada, transcreve-se o que se expendeu no

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acórdão recorrido:
“(...)
importa ter presente, antes de mais, que a “revogação”
assentou no pressuposto, determinante, que a referida
licença “se destina a um equipamento”.
Dito isto, há que saber se este pressuposto é exacto.
Ora, as noções de “apoio de praia” e de “equipamento” constam
do art. 59º do DL nº 46/94, de 22 de Fevereiro, cujo texto se
transcreve:
Artigo 59º
Definição
1- Entende-se por apoio de praia, para efeitos do presente
diploma, o núcleo básico de funções e serviços infra-
estruturados que, completo, integra vestiários, balneários,
instalações sanitárias, postos de socorros, comunicações
de emergência, informação e assistência a banhistas,
limpeza da praia e recolha de lixo, sem prejuízo de,
complementarmente, assegurar outras funções e serviços,
nomeadamente comerciais.
2- São ainda considerados apoios de praia, para efeitos do
presente diploma, pranchas flutuadoras ou outras
instalações de carácter temporário para desportos náuticos
e diversões aquáticas, barracas para banhos, toldos e
chapéus-de-sol para abrigo de banhistas e barracas para
abrigo de embarcações, seus utensílios e aparelhos de
pesca, com carácter temporário e amovível.
3- Entende-se por equipamentos, para efeitos do presente
diploma, o núcleo de funções e serviços que não
correspondam a apoio de praia, nomeadamente restaurantes
e snack-bars.
4- Os apoios de praia previstos no nº 1 estão sujeitos à obtenção
de licença, que pode ser outorgada pelo prazo máximo de 10
anos, nos termos do nº 1 do artigo 6º, com as especificidades
previstas na presente secção.
5- A instalação e a exploração dos equipamentos previstos
no nº 3 estão sujeitas a contrato de concessão, nos termos
do art. 9º, com as especificidades previstas na presente secção.
6- A instalação e exploração simultânea de equipamentos e
apoios de praia é objecto de concessão nos termos do número
anterior.
Mas para a decisão sobre o vício que ora apreciamos, relevam,
ainda, as seguintes, do Regulamento do Plano de Ordenamento
da Orla Costeira de Cascais (Cidadela) – Forte de São Julião da
Barra, que passamos a transcrever, na parte que interessa:
Artigo 4º
Definições
Para os efeitos da aplicação do presente Regulamento, são
consideradas as seguintes definições e abreviaturas:
(…)

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l) Areal – zona de fraco declive, contígua à linha de máxima


praia–mar de águas vivas equinociais, constituída por depósitos
de materiais soltos, tais como areias e calhaus, sem ou com
pouca vegetação e formada pela acção das águas, ventos e
outras causas naturais ou artificiais;
(…) Praia – subunidade da orla costeira, classificada no POOC,
constituída pelo areal, pela zona imediatamente circundante e
pelo plano de água associado;
(…)
Artigo 46º
(Âmbito)
1- (…)
2 – No âmbito do POOC, são consideradas as seguintes praias,
delimitadas na planta de síntese - planta geral, à escala de
1:5000, e na planta se síntese – plantas dos planos de praia, à
escala de 1:1000:
(...).
Está em causa uma instalação que, conforme descrito na
licença, se destina a prestar serviço “similar de hotelaria”,
com a exploração durante todo o ano, de um bar com
esplanada. Em si mesmo, o serviço de bar com esplanada,
pela sua natureza – similar de hotelaria” – não é, desde logo,
sem espaço de perplexidade, enquadrável no conceito de
funções e serviços”comerciais” utilizado no art. 59º, nº 1 do
DL nº 46/94 e que a lei considera apoio de praia. Mas, a
dúvida deve dissipar-se em favor da qualificação deste
serviço como equipamento. Na verdade, nos termos do nº 3 do
mesmo preceito legal, deve entender-se como tal “o núcleo de
funções e serviços que não corresponda a apoio de praia”. E
como decorre da letra do nº1, para que a instalação se
qualifique como apoio de praia, é imperativo que a
actividade âncora e principal seja de serviços e funções
estritamente balneares, sendo a parte comercial de mero
acréscimo e secundária. Ora, neste caso, a instalação é
utilizada, com serviço “similar de hotelaria” durante todo o
ano, circunstância que revela que a actividade dominante, que
assegura a viabilidade económica da exploração, é o serviço de
bar, propriamente dito, e não a função de apoio aos banhistas.
Assiste, assim, razão à autoridade recorrida, no seu
entendimento que o núcleo das funções e serviços prestados
na instalação correspondem a equipamento. E isto sem
embargo de coexistirem, sazonalmente, em simultâneo, com
os serviços e funções próprias do apoio de praia.
Se assim era antes da entrada em vigor do POOC, a partir dela,
então, a qualificação do serviço de bar – esplanada como apoio
de praia ficou irremediavelmente comprometida. Como resulta
das normas supra transcritas, para efeitos de aplicação do
Regulamento do POOC de Cascais- Forte de São Julião, o
conceito de praia não se confunde com o de areal. Praias são

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apenas as subunidades da orla costeira, como tal qualificadas no


POOC (art. 4º/mm), sendo que a área conhecida como “Praia
do Forte”, onde está situada a instalação da recorrente não
mereceu, todavia, tal qualificação naquele plano de
ordenamento (art. 46º/2). Assim, não pode qualificar-se como
apoio de praia um serviço prestado em zona que, para os
efeitos do POOC aplicável, não é de praia.
Sem curar saber se a licença existente caducou ou não, nos
termos previstos no art. 17º, nº 3 do DL nº 309/93, de 2.9., na
redacção do DL nº 218/94, de 20.8 e/ou se a licença de 2001,
cujos efeitos foram extintos é ainda a mesma licença inicial
renovada ou uma outra nova e autónoma, questões afloradas
pelas partes mas que não relevam na economia do presente
acórdão, estamos, pois, em condições de concluir que o acto
revogado padecia, efectivamente, da ilegalidade que lhe
apontou a Administração e que foi motivo da revogação. É
que, de todo o modo, nos termos das disposições
combinadas dos arts. 5º/2, 59º/5/6 e 62º/2 do DL nº 46/94, de
22 de Fevereiro, a utilização do domínio público pela
particular, sempre ficaria na dependência de autorização do
Ministro do Ambiente e do Ordenamento do Território e de
contrato de concessão com precedência de concurso
público” (é nosso o realce).
II.2.1.5. Tendo presentes tais fundamentos, volve-se agora à
enunciada invocação da recorrente (contida nas conclusões 1ª a
10ª), atentando-se nos nºs 4, 6 e 7 do artigo 17.º do DL 309/03:
4 - “Quando um POOC preveja a ocupação de uma área que
coincida, no todo ou em parte, com o objecto de uma licença ou
concessão, mas seja necessário proceder a acertos na área
ocupada e ou alterações arquitectónicas, as licenças e
concessões em causa são renovadas, sendo dado ao respectivo
titular o prazo máximo de dois anos para cumprir as disposições
do plano”;
6 – “Se a adaptação às disposições do plano ocorrer no prazo de
um ano, é atribuído ao titular da licença ou concessão uma nova
concessão pelo prazo de nove anos, sem realização prévia de
concurso público”:
7 – “Findo o prazo de nove anos aludido no número anterior, o
contrato de concessão caduca e é aberto concurso público para
a outorga de nova concessão”.
Ora, admitindo que o regime decorrente dos transcritos
normativos atribuía efectivamente aos interessados um direito
subjectivo público à renovação da licença ou da concessão, o
que se deixou atrás referido corta cerce o que a recorrente
intenta extrair da aludida invocação.
Na verdade, se do que se deixou enunciado (cf. ponto II.2.1.4.)
decorre que a recorrente vinha conferindo às suas instalações
uma ocupação que afinal se traduzia numa sua afectação como
equipamento, face ao preceituado nas disposições combinadas

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19/09/22, 13:30 Acordão do Supremo Tribunal Administrativo

dos arts. 5º/2, 59º/5/6 e 62º/2 do DL nº 46/94, de 22 de Fevereiro,


uma tal utilização do domínio público apenas poderia ser titulada
por contrato de concessão autorizado pelo Ministro do Ambiente
e do Ordenamento do Território, sendo que a ocupação levada a
efeito pela recorrente sempre se operou quando esse regime já
vigorava (tendo-se iniciado concretamente a coberto da licença
281/97, emitida em 1 de Janeiro deste mesmo ano- cf. ponto c.
da Mª de Fº).
E, a medida transitória a que se refere o nº 4 do invocado artº 17º
respeita à previsão no POOC de “ocupação de uma área que
coincida, no todo ou em parte, com o objecto de uma licença
ou concessão” (relativamente à qual seja necessário proceder a
acertos na área ocupada e ou alterações arquitectónicas).
Mas, não emergindo da factualidade seleccionada pelo acórdão
recorrido a existência em favor da recorrente de qualquer
concessão, não pode deixar de claudicar a sua referida
alegação por inexistir ocupação, embora parcial, com o objecto
dalguma concessão e relativamente à qual fosse necessário
proceder aos mencionados acertos na área ocupada e ou
alterações arquitectónicas.
Por outro lado em virtude de segundo o regime do ETAF de 1984
(cf.art. 21.º, n.º 3) o Pleno apenas conhecer de matéria de direito,
funcionando como tribunal de revista (Entre muitos outros, vejam-
se na jurisprudência mais recente, os seus acórdãos de 12-04-2005
(Rec. nº 01337/02), de 10-03-2005 (Rec. nº 044888) e de 24-11-2004
(Rec. nº 0225/03).), não poderia agora indagar-se de qualquer
outra matéria de facto que eventualmente suportasse a
pretensão da recorrente.
Improcede assim a matéria levada às conclusões 1ª a 10ª da
alegação.
II.2.1.6. Relativamente à matéria levada às conclusões 11ª a 20ª
da alegação, cumpre dizer que, não merecendo reparo, como já
dito, o que no acórdão recorrido se expendeu relativamente ao
que deve entender-se por apoio de praia e equipamento (cf. o
que se deixou exposto em II.2.1.4. e fls.16 a 19 do acórdão) e
concernente conclusão de que, no caso, estamos perante um
equipamento, e que de novo se convoca, a admissão do
argumento essencial de que arranca a arguição contida na
matéria alegada – que as instalações foram licitamente
edificadas ao abrigo de licença (inicial) para instalação de apoio
de praia – briga com a asserção contida no já aludido
pressuposto do acto impugnado – que a licença nº 281/01, se
destina a um equipamento – suportada em elementos factuais e
normativos bastantes (judiciosamente registados no acórdão
recorrido), valendo contra a invocação de outra factualidade em
contrário, que inexiste no acórdão impugnado, o que já antes se
disse sobre os poderes de cognição do Pleno.
Improcede assim a enunciada matéria da alegação.
II.2.1.7. Resta apreciar a matéria que foi levada à conclusão 21.ª

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19/09/22, 13:30 Acordão do Supremo Tribunal Administrativo

no sentido de que o acto impugnado, por haver extinguido uma


situação constitutiva de direitos criada por um acto lícito
desrespeita os princípios da legalidade, da prossecução do
interesse público, do respeito dos direitos e interesses
legalmente protegidos, da proporcionalidade e da justiça.
A essa arguição feita em sede contenciosa respondeu o acórdão
recorrido que, face ao que se deixara referido em relação aos
demais vícios de violação de lei, não se descortinava no acto
impugnado a inobservância de qualquer daqueles princípios pois
que, não havia “seguramente, arbitrariedade, excesso e
inadequação, numa medida que, ao serviço da legalidade,
extingue uma situação que, com ser precária, não constitutiva de
direitos, tinha sido criada por um acto que não era um modo lícito
de prosseguir o interesse público”.
E, na verdade, por a aludida invocação da recorrente continuar a
não ser autonomamente substanciada relativamente às demais
arguições, na linha do decidido, haverá que considerá-la
insubsistente, pelo que, a par daquelas, deve improceder.
II.2.2. DO RECURSO INTERPOSTO PELA AUTORIDADE
CONTENCIOSAMENTE RECORRIDA.
Vejamos então da impugnação que vem deduzida ao julgado
pela ER por ter sido anulado o acto impugnado em virtude de se
haver considerado que foi desrespeitado o disposto no artº 100º
do CPA, assim julgando procedente o alegado vício de
procedimento por preterição da audiência da recorrente.
II.2.2.1.No aresto impugnado, ponderando-se que a destinatária
do acto não foi ouvida no procedimento administrativo, nos
termos previstos no art. 100º do CPA, nem havendo notícia que
nele tivesse tido qualquer intervenção, por sua própria iniciativa
ou promovida pela autoridade decidente, muito menos em termos
que pudesse levar à degradação da formalidade, decorrente da
circunstância da sua finalidade ter sido satisfeita por qualquer
outra via, disse-se:
“Temos, portanto, por um lado, que a formalidade foi omitida e,
nas concretas circunstâncias, a preterição é invalidante.
Por outro lado, como é jurisprudência deste Supremo Tribunal
(vide, entre outros o acórdão do Pleno de 1988.07.14 – recº nº 23
158 e da Secção de 1987.08.12 – recº nº 20778 e de 1994.03.08-
recº nº 32925) a Administração não tem o dever de revogar os
seus actos já consolidados na ordem jurídica como casos
decididos, ainda que com fundamento em ilegalidade. Sendo
assim, relevando o acto do exercício da discricionariedade, num
espaço aberto às valorações próprias do poder conformador da
Administração, maxime, quanto à decisão de revogar ou não
revogar e ao tempo da revogação, não é inelutável que o sentido
e o conteúdo do acto final do procedimento fossem os mesmos,
independentemente de a recorrente ter sido, ou não, ouvida no
procedimento, participando na decisão e levando as suas razões
à ponderação da Administração”.

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19/09/22, 13:30 Acordão do Supremo Tribunal Administrativo

Num tal quadro, prossegue o acórdão, “não é lícito ao tribunal


salvar o acto em honra ao princípio do aproveitamento do acto
administrativo ou da relevância limitada dos vícios de forma”.
II.2.2.2.Em impugnação do assim decidido, afirma a ER, com o
que aquiesce o Digno Magistrado do Ministério Público, e em
síntese, que o respeito pelo princípio da legalidade implica para
Administração a obrigação de revogar um acto ilegal por si
praticado, desde que o faça dentro do prazo previsto no artº 141º
do CPA, conexionado com a alínea c) do nº 1 do artº 28º da
LPTA, tratando-se de um poder vinculado e não do exercício de
um poder discricionário, pelo que, a omissão da audiência havida
no caso não assume relevância invalidante.
Vejamos
Para além do já expendido no acórdão recorrido (Sobre a
possibilidade de aproveitamento do acto inquinado por
preterição do dever de audiência dos interessados, a
jurisprudência do STA vem fornecendo critérios com os quais o
acórdão recorrido se mostra consonante. Por mais recente, ao
nível do Pleno, pode ver-se o acórdão de 23-05-2006, Rec. nº
01618/02 (P), com citação de muita outra jurisprudência), cumpre
referir que, segundo jurisprudência do STA, o dever de a
Administração revogar actos ilegais consolidados na ordem
jurídica, mesmo que se entenda estar consagrado no
ordenamento jurídico português actual, só existiria até ao termo
do prazo do recurso contencioso ou até à resposta da entidade
recorrida (cf., entre outros, os acórdãos de 23/02/2000-Rec. nº
044862-, de 05/07/2000-Rec. nº 045285-, e de 05.12.2000-Rec.
45280), pelo que, no caso (tendo os actos pretensamente
revogado e revogatório sido proferidos respectivamente a
01.JAN.01 e a 22.JUL.02 - cf. alínea d. dos FACTOS) sempre tal
presumível dever seria ininvocável.
Assim sendo, cobra todo o sentido a aludida asserção do
acórdão recorrido no sentido de que não seria seguro que o
sentido e o conteúdo do acto final do procedimento fossem os
mesmos, independentemente de a recorrente ter sido, ou não,
ouvida no procedimento, e bem assim, e em homenagem ao
princípio do aproveitamento do acto administrativo ou da
relevância limitada dos vícios, salvar o acto.
Improcede face ao exposto a impugnação deduzida pela ER.
III.DECISÃO
Nos termos expostos, acordam em negar provimento a ambos os
recursos.
Custas pela recorrente particular, fixando-se a taxa de justiça em
400€ e a procuradoria em 50%.
Lisboa, 4 de Julho de 2006. – João Belchior (relator) - António
Samagaio – Azevedo Moreira – Santos Botelho – Angelina
Domingues – Rosendo José – Costa Reis – Jorge de Sousa –
Pais Borges.

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19/09/22, 13:30 Acordão do Supremo Tribunal Administrativo

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