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Relator
Documento: 1745066 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 02/10/2018 Página 2 de 4
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.704.359 - DF (2017/0271715-0)
RELATÓRIO
Nas suas razões (e-STJ fls. 293/311), o recorrente aponta violação dos
arts. 663 e 664, §§ 4º e 5º, do CPC/2015, 192 do CTN e 31 da Lei n. 6.830/1980. Sustenta, em
resumo, que, a despeito da previsão contida no art. 659, § 2º, do CPC/1973, o encerramento do
processo de arrolamento sumário, com a entrega dos formais de partilha e alvarás aos herdeiros,
pressupõe a comprovação de quitação dos tributos devidos à Fazenda Pública. Afirma que: (a)
"continua hígido no Novo CPC, com poucas alterações meramente redacionais, o mesmo
regramento constante do CPC/73 relativamente à necessidade de prévia comprovação da
quitação para o encerramento do procedimento de arrolamento (comum ou sumário)"; (b) o art.
659, § 2º, do CPC é inconstitucional, pois contraria o disposto nos arts. 192 do CTN e 31 da LEF;
e (c) "o processo de inventário tem importância fundamental para a recuperação do crédito
tributário em termos gerais", por se tratar "de momento em que não apenas se recolhe o ITCD,
mas, em grande parte das vezes, se extinguem várias execuções fiscais que abarrotam o Poder
Judiciário". Pugna pelo provimento do recurso para que seja condicionada "a expedição e entrega
dos formais de partilha e/ou alvarás de levantamento à prévia comprovação de regularidade fiscal
relativa ao ITCD e a outros tributos eventualmente devidos pelo espólio".
É o relatório.
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.704.359 - DF (2017/0271715-0)
VOTO
Pois bem.
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Superior Tribunal de Justiça
Quanto não há partilha, há adjudicação, e a mesma cautela relativa à partilha é
observada nas cartas de adjudicação que registram as quitações fiscais.
A norma em comento tem contato com a disposição do art. 131, II e III, deste
Código. Sacha Calmon Navarro Coelho, depois de anotar que uma inversão na
ordem dos incisos II e III do referido artigo 131 seria adequada, ensina:
"...morrendo o de cujus, abre a sucessão. Dá-se logo a transmissão da
propriedade aos herdeiros e legatários e meeiros, ou mesmo a terceiros
sub-rogados nos direitos destes, sendo o caso. Todavia, o monte é uma
universitas rerum, um conjunto complexo de direito e de deveres, um feixe
jurídico e, o que é mais, pro indiviso. Ao cabo do inventário ou do arrolamento,
por efeito da partilha ou da adjudicação é que se saberá quanto coube a título de
meação, ou de legado, ou de quinhão de herdeiro. Isto posto, pelo débitos à
conta do de cujus responde o espólio. E pelas dívidas do espólio,
posteriormente ao passamento, responderá, obviamente, o próprio espólio,
representado pelo inventariante. Mas aqui não há falar em sucessão. As dívidas
do espólio são próprias. Ora bem, efetivada a partilha, cessão a indivisão. Cada
qual responderá com o que recebeu. Se dívidas do de cujus ou mesmo do
espólio vierem a ser exigidas na hora da partilha, serão imputadas, agora sim, a
cada quinhão ou legado e à meação até o limite dos mesmos. Assim é que deve
ser entendida a questão." (ob. cit. infra. p. 631). (RAU DE SOUZA, Maria
Helena, in Código Tributário Nacional comentado: doutrina e jurisprudência,
artigo por artigo, inclusive ICMS e ISS, coordenação de Vladimir Passos de
Freitas, 7ª ed., Editada Revista dos Tribunais, São Paulo, 2017, p. 974/975)
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Superior Tribunal de Justiça
Tributário Nacional apenas dispõe sobre a responsabilidade pessoal dos
sucessores, legatários ou meeiros, limitada ao montante do quinhão, legado ou
meação pelas dívidas do de cujus até a data da partilha ou adjudicação (art. 131,
II).
Dessa forma, não existindo previsão para a esta situação e em razão de a
sentença homologatória da partilha ou da adjudicação somente poder ser
proferida mediante a comprovação do pagamento dos tributos devidos, apóia-se
a corrente daqueles que defendem a impossibilidade de sua cobrança forte na
máxima segundo a qual "o direito não socorre aos que dormem".
Como no caso do artigo anterior, consubstancia-se essa determinação legal em
mais uma garantia de que desfruta o crédito tributário. (GUTJAHR, Valéria, in
Comentários ao Código Tributário Nacional, coordenadores Marcelo Magalhães
Peixoto e Rodrigo Santos Masset Lacombe, MP Editora, São Paulo, 2005, p.
1359/1360)
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§ 2 o Transitada em julgado a sentença de homologação de partilha ou
adjudicação, o respectivo formal, bem como os alvarás referentes aos
bens por ele abrangidos, só serão expedidos e entregues às partes após
a comprovação, verificada pela Fazenda Pública, do pagamento de
todos os tributos. (Incluído pela Lei nº 9.280, de 30.5.1996)"
8. Consectariamente, nos inventários processados sob a modalidade de
arrolamento sumário (nos quais não cabe o conhecimento ou a apreciação de
questões relativas ao lançamento, pagamento ou quitação do tributo de
transmissão causa mortis, bem como tendo em vista a ausência de intervenção
da Fazenda até a prolação da sentença de homologação da partilha ou da
adjudicação), revela-se incompetente o Juízo do inventário para reconhecer a
isenção do ITCMD, por força do disposto no artigo 179, do CTN, que confere, à
autoridade administrativa, a atribuição para aferir o direito do contribuinte à
isenção não concedida em caráter geral.
9. Ademais, prevalece o comando inserto no artigo 192, do CTN, segundo o qual
"nenhuma sentença de julgamento de partilha ou adjudicação será proferida
sem prova da quitação de todos os tributos relativos aos bens do espólio, ou
às suas rendas", impondo-se o sobrestamento do feito de arrolamento sumário
até a prolação do despacho administrativo reconhecendo a isenção do ITCMD.
10. Assim, falecendo competência ao juízo do inventário (na modalidade de
arrolamento sumário), para apreciar pedido de reconhecimento de isenção do
ITCMD, impõe-se o sobrestamento do feito até a resolução da quaestio na seara
administrativa, o que viabilizará à adjudicatária a futura juntada da certidão de
isenção aos autos.
12. Recurso especial fazendário provido, anulando-se a decisão proferida pelo
Juízo do inventário que reconheceu a isenção do ITCMD. Acórdão submetido
ao regime do artigo 543-C, do CPC, e da Resolução STJ 08/2008.
Agora, o novo Código de Processo Civil, em seu art. 659, § 2º, traz uma
significativa mudança normativa no tocante ao procedimento de arrolamento sumário, ao deixar
de condicionar a entrega dos formais de partilha ou da carta de adjudicação à prévia quitação
dos tributos concernentes à transmissão patrimonial aos sucessores, in verbis:
Art. 659. A partilha amigável, celebrada entre partes capazes, nos termos da lei,
será homologada pelo juiz, com observância dos arts. 660 a 663.
§ 1º O disposto neste artigo aplica-se, também, ao pedido de adjudicação,
quando houver herdeiro único.
§ 2º Transitada em julgado a sentença de homologação ou de adjudicação, será
lavrado o formal de partilha ou elaborada a carta de adjudicação e, em seguida,
serão expedidos os alvarás referentes aos bens e às rendas por ele abrangidos,
intimando-se o fisco para o lançamento administrativo do imposto de
transmissão e de outros tributos porventura incidentes, conforme dispuser a
legislação tributária, nos termos do § 2º do art. 662.
É como voto.
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.704.359 - DF (2017/0271715-0)
RELATOR : MINISTRO GURGEL DE FARIA
RECORRENTE : DISTRITO FEDERAL
PROCURADOR : JÚLIO CÉSAR MOREIRA BARBOSA E OUTRO(S) - DF022138
RECORRIDO : ANTONIA RODRIGUES TORRES FERREIRA
RECORRIDO : ANTONIO VALDENOR TORRES RODRIGUES
RECORRIDO : FRANCISCA RODRIGUES TORRES
RECORRIDO : FRANCISCO RODRIGUES TORRES
RECORRIDO : INGRID DOS SANTOS RODRIGUES
RECORRIDO : JOSE RODRIGUES PERES
RECORRIDO : JOSE RODRIGUES SOBRINHO - ESPÓLIO
REPR. POR : FILOMENA PAULINO DOS SANTOS RODRIGUES -
INVENTARIANTE
RECORRIDO : LUIS CLAYTON RODRIGUES DE FARIAS
RECORRIDO : MARIA TEREZA RODRIGUES MOTA
RECORRIDO : ANTONIO FLAVIO RODRIGUES TORRES
RECORRIDO : REJANE RODRIGUES TORRES
RECORRIDO : JOSE EDCARLOS RODRIGUES TORRES
RECORRIDO : CICERO RODRIGUES TORRES
RECORRIDO : MARIA VALDEREZA TORRES RODRIGUES
RECORRIDO : RAIMUNDA DILMA RODRIGUES TORRES
RECORRIDO : SEBASTIAO RODRIGUES SOBRINHO
RECORRIDO : VALTER RODRIGUES TORRES
ADVOGADOS : JOÃO RODRIGUES NETO - DF002203
MARILI MARIA AMORIM PEIXOTO RODRIGUES - DF030369
VOTO-VENCIDO
(MINISTRO NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO)
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3. Senhora Presidente, penso que, sem prejuízo para o lançamento
que a Fazenda Pública deve fazer pós-conclusão da partilha, não se deve exigir esse
tributo agora, inclusive porque poderá haver, e certamente haverá, discussão sobre o
quantum. Quem iria definir esse quantum? Seria o Juiz do arrolamento que iria definir
esse quantum? Aliás, há uma decisão, um acórdão antigo, de 2013, da Ministra ELIANA
CALMON, que diz precisamente isto - discussão relativa ao imposto sobre transmissão
causa mortis, tese, decadência do lançamento, admissibilidade -, que o Juiz do
arrolamento não aprecia essas coisas, nem o lançamento. Depois de concluído o
processo de sucessão via arrolamento, a Fazenda Pública, evidentemente, poderá
tomar as vias administrativas tributárias que entender adequadas, autuar, inscrever,
executar e fazer o que for conveniente, inclusive até, se for o caso, pedir tutelas
cautelares ou tutelas de urgências para que aqueles bens não sejam alienados pelos
herdeiros ou qualquer outra coisa que a Fazenda Pública entenda cabível, menos exigir
o pagamento do tributo prévio, a meu ver.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
PRIMEIRA TURMA
Relator
Exmo. Sr. Ministro GURGEL DE FARIA
Presidente da Sessão
Exma. Sra. Ministra REGINA HELENA COSTA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. ODIM BRANDÃO FERREIRA
Secretária
Bela. BÁRBARA AMORIM SOUSA CAMUÑA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : DISTRITO FEDERAL
PROCURADOR : JÚLIO CÉSAR MOREIRA BARBOSA E OUTRO(S) - DF022138
RECORRIDO : ANTONIA RODRIGUES TORRES FERREIRA
RECORRIDO : ANTONIO VALDENOR TORRES RODRIGUES
RECORRIDO : FRANCISCA RODRIGUES TORRES
RECORRIDO : FRANCISCO RODRIGUES TORRES
RECORRIDO : INGRID DOS SANTOS RODRIGUES
RECORRIDO : JOSE RODRIGUES PERES
RECORRIDO : JOSE RODRIGUES SOBRINHO - ESPÓLIO
REPR. POR : FILOMENA PAULINO DOS SANTOS RODRIGUES - INVENTARIANTE
RECORRIDO : LUIS CLAYTON RODRIGUES DE FARIAS
RECORRIDO : MARIA TEREZA RODRIGUES MOTA
RECORRIDO : ANTONIO FLAVIO RODRIGUES TORRES
RECORRIDO : REJANE RODRIGUES TORRES
RECORRIDO : JOSE EDCARLOS RODRIGUES TORRES
RECORRIDO : CICERO RODRIGUES TORRES
RECORRIDO : MARIA VALDEREZA TORRES RODRIGUES
RECORRIDO : RAIMUNDA DILMA RODRIGUES TORRES
RECORRIDO : SEBASTIAO RODRIGUES SOBRINHO
RECORRIDO : VALTER RODRIGUES TORRES
ADVOGADOS : JOÃO RODRIGUES NETO - DF002203
MARILI MARIA AMORIM PEIXOTO RODRIGUES - DF030369
SUSTENTAÇÃO ORAL
Dra. MÁRCIA GUASTI ALMEIDA, pela parte RECORRENTE: DISTRITO FEDERAL.
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CERTIDÃO
Certifico que a egrégia PRIMEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Turma, preliminarmente, por maioria, vencido o Sr. Ministro Sérgio Kukina, decidiu
pela competência da egrégia Primeira Seção para o julgamento do feito e, no mérito, por maioria,
vencido o Sr. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, deu parcial provimento ao recurso especial,
para, cassando o acórdão recorrido e, por conseguinte, a sentença homologatória, determinar a
devolução dos autos à primeira instância, para que seja procedida a comprovação da quitação dos
tributos relativos aos bens do espólio e as suas rendas como condição para que seja homologada a
partilha, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Benedito Gonçalves, Sérgio Kukina e Regina Helena Costa (Presidente)
votaram com o Sr. Ministro Relator.
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