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RECURSO ESPECIAL Nº 1713293 - RS (2017/0310151-8)

RELATOR : MINISTRO MOURA RIBEIRO


RECORRENTE : BERNADETE RODRIGUES
ADVOGADOS : SERGIO RENATO PENZ E OUTRO(S) - RS033994
CEZAR LEANDRO DA SILVA MATTOS - RS085247
VANDERLEI LUIS MENEGUZZI - RS071846
RECORRIDO : HELENA MARIA ESPARTEL FREITAS
ADVOGADOS : AURÉLIO CATTANI DE BARROS E OUTRO(S) - RS008608
VANESSA DIPP DE BARROS - RS074086

EMENTA

CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. RECURSO


MANEJADO SOB A ÉGIDE DO NCPC. AÇÃO DE ANULAÇÃO DE
NEGÓCIO JURÍDICO. FUNDAMENTO NÃO IMPUGNADO. SÚMULA
Nº 283 DO STF. RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO.

DECISÃO

HELENA MARIA ESPARTEL DE FREITAS (HELENA) ajuizou ação


declaratória de anulação de negócio jurídico contra BERNADETE RODRIGUES
(BERNADETE), alegando que ela era casada com o falecido Décio Bergamaschi
Freitas desde 9/12/2000 pelo regime da separação obrigatória de bens e que eles,
antes do casamento, simularam contrato de compra e venda de imóvel.

A sentença julgou procedente o pedido, para declarar nulo o contrato


particular de compra e venda (e-STJ, fls. 514/525).

Interposta apelação por BERNADETE, o Tribunal de Justiça do Rio Grande


do Sul negou-lhe provimento, nos termos do acórdão assim ementado :

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ANULATÓRIA DE NEGÓCIO JURÍDICO.


SIMULAÇÃO. ATO NULO. É nulo o negócio jurídico simulado,
porquanto envolve preceitos de ordem pública. E por se tratar de ato
nulo, não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso
do tempo. Inteligência dos artigos 167 e 169 do Código Civil/2002.
Verificado que o de cujus, proprietário do imóvel, transferiu a
propriedade à apelada, alguns meses antes do casamento pelo regime
da separação obrigatória de bens, mostra-se correto o reconhecimento
da invalidade do negócio jurídico de compra e venda, ante a

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simulação.
Apelação desprovida (e-STJ, fl. 585).

Os embargos de declaração opostos por BERNADETE foram rejeitados (e-


STJ, fls. 605/610).

Irresignada, BERNADETE interpôs recurso especial com base no art. 105,


III, a e c, da CF, alegando, a par de dissídio jurisprudencial, violação dos arts. 147 e
178 do CC/16.

Destacou a ocorrência da decadência, visto que a transação imobiliária


objeto da ação declaratória de anulação foi ajuizada pela recorrida aos 19/7/2000, ou
seja, quando da vigência do CCB/1916, pelo que está equivocada a decisão do TJRS,
que aplicou as regras do Código Civil de 2002, que somente entrou em vigor em
11/01/2003.

As contrarrazões foram apresentadas (e-STJ, fls. 644/648).

O apelo extremo foi admitido na origem (e-STJ, fls. 708/714).

É o relatório.

DECIDO

A irresignação não merece prosperar.

De plano, vale pontuar que o recurso ora em análise foi interposto na


vigência do NCPC, razão pela qual devem ser exigidos os requisitos de admissibilidade
recursal na forma nele prevista, nos termos do Enunciado Administrativo nº 3, aprovado
pelo Plenário do STJ na sessão de 9/3/2016:

Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a


decisões publicadas a partir de 18 de março de 2016) serão exigidos
os requisitos de admissibilidade recursal na forma do novo CPC.

(1) Da violação dos arts. 147 e 178 do CC/16

BERNADETE aduz ter ocorrido a decadência, visto que a ação foi ajuizada
pela recorrida aos 19/7/2000, ou seja, quando da vigência do CCB/1916, pelo que está
equivocada a decisão do TJRS, que aplicou as regras do Código Civil de 2002.
A propósito do tema, o TJRS expressamente consignou:

A autora pretende a invalidade da compra e venda do apartamento n.


1403 situado na Avenida Independência n. 44, em Porto Alegre, onde
Décio foi procurador de Flávio e Neide e vendeu o bem para
Bernadete, pelo preço de R$ 60.000,00, conforme contrato particular

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de promessa de compra e venda, datado de 19.07.2000 (fls. 29-30).
Considerando que o negócio jurídico foi firmado em 19.07.2000, na
vigência do Código Civil de 1916, a análise da sua validade é feita com
base na referida legislação, ante o princípio tempus regit actum.
Aplica-se, portanto, o disposto no art. 178, §9Q, inc. V, "b", do Código
Civil de 1916, que estabelece o prazo de quatro (4) anos para anular
ou rescindir os contratos, contados do dia em que se realizou o ato ou
o contrato.
Ocorre que antes de ultrapassado o prazo prescricional, entrou
em vigência o Código Civil de 2002, em 11 de janeiro de 2003,
dando um novo tratamento à matéria da simulação.
De acordo com o art. 167 do Código Civil/2002, "é nulo o negócio
jurídico simulado", pelo fato de a simulação envolver preceitos de
ordem pública, portanto, é caso de nulidade absoluta.
E por se tratar de ato nulo não há falar em prazo decadencial ou
prescricional. Isso porque o art. 169 do Código Civil diz que "o
negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem
convalesce pelo decurso do tempo".
Assim, afasto a alegação de prescrição/decadência (e-STJ,
fls. 588/589, sem destaques no original).

Nesse contexto, tem-se que o Tribunal gaúcho afirmou que não é o caso de
ocorrência de decadência ou prescrição, sob o entendimento de que antes da extinção
do prazo prescricional veio a lume a disciplina do Código Civil de 2002, que trouxe uma
nova diretriz para o instituto da simulação, não mais havendo falar em decadência ou
prescrição, pois não mais convalesce com o tempo.

De outro lado, da análise das razões do presente recurso, verifica-se que


o referido fundamento não foi impugnado. Veja-se que BERNADETE limitou-se a
asseverar a ocorrência da decadência, pugnando pela aplicação da legislação adjetiva
de 1916, o que, por induvidoso, atrai a incidência da Súmula nº 283 do STF, por
analogia.

Confira-se o seguinte precedente:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL


AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. ACIDENTE DE TRÂNSITO. 1. VIOLAÇÃO
AO ART. 1.022 DO CPC/2015. DEFICIÊNCIA NA
FUNDAMENTAÇÃO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 284/STF. 2. DEVER
DE INDENIZAÇÃO. FUNDAMENTO INATACADO. INCIDÊNCIA DA
SÚMULA 283/STF. 3. MONTANTE INDENIZATÓRIO. PRETENSÃO
DE REDUÇÃO. DESCABIMENTO. SÚMULA 7/STJ. 4. JUROS DE
MORA. TERMO INICIAL. RELAÇÃO EXTRACONTRATUAL. DATA
DO EVENTO DANOSO. SÚMULA 54/STJ. 5. AGRAVO INTERNO
IMPROVIDO.
1. É deficiente a fundamentação do recurso especial em que a
alegação de ofensa aos arts. 489 e 1.022 do CPC/2015 se faz de
forma genérica, sem a demonstração exata dos pontos pelos quais o

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acórdão tornou-se omisso, contraditório ou obscuro. Aplica-se, na
hipótese, o óbice da Súmula 284 do STF.
2. A manutenção de argumento que, por si só, sustenta o acórdão
recorrido torna inviável o conhecimento do recurso especial,
atraindo a aplicação do enunciado n. 283 da Súmula do Supremo
Tribunal Federal.
3. A alteração da conclusão do Tribunal estadual quanto ao valor da
indenização por danos morais demandaria o reexame do conjunto
fático-probatório dos autos, o que é vedado pela Súmula n. 7 do STJ.
4. No que tange aos juros de mora, a jurisprudência deste Tribunal
Superior, em caso de responsabilidade extracontratual, determina que
os juros moratórios incidam desde a data do evento danoso, nos
termos da Súmula 54/STJ. Não sendo outro o entendimento do
acórdão impugnado, tem incidência, no ponto, a Súmula 83/STJ.
5. Agravo interno improvido.
(AgInt no AREsp 1.526.287/RS, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO
BELLIZZE, Terceira Turma, j. em 16/3/2020, DJe 20/3/2020 - sem
destaques no
original)

Nessas condições, com fundamento no art. 1.042, § 5º, do NCPC, c/c o art.
253 do RISTJ (com a nova redação que lhe foi dada pela Emenda nº 22 de 16/3/2016,
DJe 18/3/2016), NEGO PROVIMENTO ao recurso especial.

MAJORO em 5% os honorários advocatícios em desfavor de BERNADETE,


nos termos do art. 85, § 11, do CPC/15.

Publique-se. Intimem-se.

Brasília-DF, 12 de junho de 2020.

Ministro MOURA RIBEIRO


Relator

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