Você está na página 1de 3

ESTADO DA PARAÍBA

PODER JUDICIÁRIO
COMARCA DE PIANCÓ
REGIME DE JURISDIÇÃO CONJUNTA - META 04 CNJ

PROCESSO Nº 0000830-97.2002.815.0261
Promovente: MUNICÍPIO DE PIANCÓ
Promovido: GIL GALDINO

SENTENÇA
Vistos, etc.

Trata-se de AÇÃO CIVIL POR IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA


ajuizada pelo MUNICÍPIO DE PIANCÓ, em face de GIL GALDINO, ex-prefeito de Piancó,
atribuindo-lhe as condutas de cometer irregularidade em Convênio firmado com a
FUNASA e deixar de restituir valores transferidos, de modo que as suas condutas
incorreriam nos comandos dos arts. 10 e 11 da Lei 8429/92.

Determinada a citação do promovido (fls. 202), o promovido


apresentou contestação pelas fls. 208.

Réplica pelas fls. 215/217 pelo Município de Piancó.

Determinada a citação da CONSTRUTORA SIGNUS LTDA (fls. 249,


incluindo-a no polo passivo da ação, o que, ainda não se concretizou, mesmo após várias
tentativas para localização.

Petição acostada aos autos pelo Município, pugnado pela habilitação


do espólio de GIL GALDINO, em razão de seu falecimento.

Pelas fls. 346, a FUNASA manifestou que não possui interesse em


ingressar no feito.

Pelas fls. 387, 388, foi proferido despacho saneando o feito e


determinado a notificação via edital da CONSTRUTORA SIGNUS LTDA, tendo decorrido
o prazo sem manifestação (fls. 406), sendo nomeado curador especial (fls. 407), o qual
ofereceu contestação pelas fls. 408/409.

Despacho pelas fls. 414, deferindo o pedido de habilitação do espólio


do promovido GIL GALDINO, na pessoa da inventariante CONCEIÇÃO DE MARIA
SERRA GALDINO.

Expedida carta precatória para citação do espólio, não tendo havido


resposta de cumprimento (fls.421)

Através da Resolução 001/2015 do Conselho da Magistratura do


Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, que instaurou regime de exercício jurisdicional
conjunto para fins de atendimento à Meta 04 do Conselho Nacional de Justiça, para o
qual este magistrado foi designado, vieram-me os autos para prolação de sentença.

RELATADOS NO ESSENCIAL. FUNDAMENTO E DECIDO.

De acordo com a sistemática do CPC, a superveniência da morte de


uma das partes enseja a suspensão do trâmite processual. Assim, tal cotejo fático enseja
a aplicação do art. 110 do CPC, in literis:

Art. 110. Ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se-á a sucessão pelo seu
espólio ou pelos seus sucessores, observado o disposto no art. 313, §§ 1o e 2o.

Com efeito, o art. 313 do CPC, dispõe que, verificando-se a óbito das
partes, processo deverá permanecer suspenso, determinando, a consecutiva intimação
do espólio para, assim entendendo, prosseguir do feito, sob pena de extinção, senão
vejamos o art. 313:
Art. 313. Suspende-se o processo:
I - pela morte ou pela perda da capacidade processual de qualquer das partes, de
seu representante legal ou de seu procurador;
(...)
VIII - nos demais casos que este Código regula.
§ 1o Na hipótese do inciso I, o juiz suspenderá o processo, nos termos do art. 689.
§ 2o Não ajuizada ação de habilitação, ao tomar conhecimento da morte, o juiz
determinará a suspensão do processo e observará o seguinte:
I - falecido o réu, ordenará a intimação do autor para que promova a citação do
respectivo espólio, de quem for o sucessor ou, se for o caso, dos herdeiros, no
prazo que designar, de no mínimo 2 (dois) e no máximo 6 (seis) meses;
II - falecido o autor e sendo transmissível o direito em litígio, determinará a
intimação de seu espólio, de quem for o sucessor ou, se for o caso, dos
herdeiros, pelos meios de divulgação que reputar mais adequados, para que
manifestem interesse na sucessão processual e promovam a respectiva
habilitação no prazo designado, sob pena de extinção do processo sem
resolução de mérito.

Todavia, na espécie o espólio já foi habilitado, conforme despacho de


fls. 414, de modo que a suspensão do processo nesse momento processual mostra-se
contraproducente.

Com efeito, no que concerne especificamente a matéria em debate


nos autos da ação principal, a Lei nº 8.429/1992 expressamente consigna em seu art. 8º
que o sucessor daquele que causar lesão ao patrimônio público ou se enriquecer
ilicitamente nos termos da referida lei estará sujeito às suas cominações até o limite do
valor da herança, não se tratando, dessarte, de ação intransmissível:

Art. 8º O sucessor daquele que causar lesão ao patrimônio público ou se


enriquecer ilicitamente está sujeito às cominações desta lei até o limite do valor da
herança.

Desse modo, na ação de improbidade administrativa e nos termos


do art. 8º, Lei nº 8.429/92, a morte do réu no curso da ação deve implicar a sucessão
processual pelo seu espólio, limitada a responsabilidade deste apenas aos efeitos
ressarcitórios, assim como às forças da herança, de tal modo que apenas as sanções de
perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio e do ressarcimento
integral do dano, quando houver, é que são transmissíveis, havendo a consequente
prejudicialidade das sanções de perda da função pública, da suspensão dos direitos
políticos e do pagamento de multa civil, além da proibição de contratar com o Poder
Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios.

DISPOSITIVO

Isto posto, JULGO PARCIALMENTE EXTINTO O PRESENTE


PROCESSO SEM APRECIAÇÃO DO MÉRITO, reconhecendo a intransmissibilidade da
pretensão sancionatória de perda da função pública, da suspensão dos direitos políticos e
do pagamento de multa civil, além da proibição de contratar com o Poder Público ou
receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, em face do óbito de GIL
GALDINO, devendo feito seguir até ulterior ressarcimento ao erário bem como em
relação CONSTRUTORA SIGNUS LTDA.

Oficie-se para obter informações quanto ao cumprimento da


precatória expedida às fls. 419, inclusive, mantendo contato telefônico, salientando que
o feito encontra-se inserido na Meta 04 do CNJ. De tudo, certifique-se nos autos.

Dê-se VISTAS dos autos ao Ministério Público quanto ao juízo de


admissibilidade em relação a CONSTRUTORA SIGNUS LTDA.

Diligências necessárias. CUMPRA-SE.

Piancó - PB, 30 de setembro de 2016.

ANTONIO EUGÊNIO LEITE FEIRREIRA NETO


Juiz de Direito em Jurisdição conjunta – META 04 - CNJ

Você também pode gostar