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AgInt no RECURSO ESPECIAL Nº 1846866 - SC (2019/0329689-5)

RELATOR : MINISTRO RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA


AGRAVANTE : MÁRIO CEZAR LINK KONELL
ADVOGADOS : ELEMAR BUETTGEN - SC002903
GUSTAVO BUETTGEN - SC028909
AGRAVADO : PETROPAM POSTO DE ABASTECIMENTO MARITIMO LTDA
AGRAVADO : AVELINO LAURO RUDNICK
AGRAVADO : VALDIR MAURÍCIO RUDNICK
ADVOGADOS : JOVENIL DE JESUS ARRUDA - SC012065
RODRIGO XAVIER LEONARDO - PR027175
ROGÉRIO ULRICH - SC019166
CARLOS ADAUTO VIRMOND VIEIRA - SC006544
ALEX MECABÔ - PR083283

EMENTA

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. COMPROMISSO DE


COMPRA E VENDA. SOCIEDADE EMPRESÁRIA. DISSOLUÇÃO PARCIAL.
APURAÇÃO DE HAVERES. JUROS DE MORA. INCIDÊNCIA. PRAZO
NONAGESIMAL. ART. 1.031, § 2º, DO CÓDIGO CIVIL. MULTA. ART. 1.021,
§ 4º, CPC/2015. NÃO CABIMENTO.
1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência
do Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e
3/STJ).
2. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que
os juros de mora decorrentes do pagamento dos haveres devidos em face da
retirada do sócio são devidos a partir do vencimento do prazo nonagesimal,
conforme regra prevista no art. 1.031, § 2º, do CC/2002. Precedentes.
3. O Superior Tribunal de Justiça tem entendimento firmado no sentido
de que o não conhecimento ou a improcedência do agravo interno não
enseja a necessária imposição da multa prevista no art. 1.021, § 4º, do
CPC/2015, sendo indispensável o nítido não cabimento do recurso.
4. Agravo interno não provido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da TERCEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, por
unanimidade, negar provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro
Relator.
Os Srs. Ministros Nancy Andrighi, Paulo de Tarso Sanseverino, Marco
Aurélio Bellizze e Moura Ribeiro votaram com o Sr. Ministro Relator.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino.
Brasília, 08 de fevereiro de 2021.

Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA


Relator
AgInt no RECURSO ESPECIAL Nº 1846866 - SC (2019/0329689-5)

RELATOR : MINISTRO RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA


AGRAVANTE : MÁRIO CEZAR LINK KONELL
ADVOGADOS : ELEMAR BUETTGEN - SC002903
GUSTAVO BUETTGEN - SC028909
AGRAVADO : PETROPAM POSTO DE ABASTECIMENTO MARITIMO LTDA
AGRAVADO : AVELINO LAURO RUDNICK
AGRAVADO : VALDIR MAURÍCIO RUDNICK
ADVOGADOS : JOVENIL DE JESUS ARRUDA - SC012065
RODRIGO XAVIER LEONARDO - PR027175
ROGÉRIO ULRICH - SC019166
CARLOS ADAUTO VIRMOND VIEIRA - SC006544
ALEX MECABÔ - PR083283

EMENTA

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. COMPROMISSO DE


COMPRA E VENDA. SOCIEDADE EMPRESÁRIA. DISSOLUÇÃO PARCIAL.
APURAÇÃO DE HAVERES. JUROS DE MORA. INCIDÊNCIA. PRAZO
NONAGESIMAL. ART. 1.031, § 2º, DO CÓDIGO CIVIL. MULTA. ART. 1.021,
§ 4º, CPC/2015. NÃO CABIMENTO.
1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência
do Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e
3/STJ).
2. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que
os juros de mora decorrentes do pagamento dos haveres devidos em face da
retirada do sócio são devidos a partir do vencimento do prazo nonagesimal,
conforme regra prevista no art. 1.031, § 2º, do CC/2002. Precedentes.
3. O Superior Tribunal de Justiça tem entendimento firmado no sentido
de que o não conhecimento ou a improcedência do agravo interno não
enseja a necessária imposição da multa prevista no art. 1.021, § 4º, do
CPC/2015, sendo indispensável o nítido não cabimento do recurso.
4. Agravo interno não provido.
 
 
 

RELATÓRIO

Trata-se de agravo interno interposto por MÁRIO CÉZAR LINK KONELL


contra a decisão desta relatoria que deu provimento ao recurso especial interposto por
VALDIR MAURÍCIO RUDNICK, AVELINO LAURO RUDNIK e PETROPAM POSTO DE
ABASTECIMENTO MARÍTMO LTDA. para determinar a incidência de juros de mora
devidos em virtude da retirada do sócio a partir do vencimento do prazo nonagesimal,
contado desde a liquidação de haveres, conforme regra prevista no art. 1.031, § 2º, do
Código Civil (fls. 1.601/1.608 e-STJ).
Nas presentes razões (fls. 1.611/1.628 e-STJ), o agravante sustenta que na
"apuração de haveres decorrentes de dissolução parcial de sociedade ocorrida na
vigência do Código Civil de 1916, como no caso dos presentes autos, os juros de mora
devem incidir desde a citação" (fl. 1.614 e-STJ).
Afirma que no REsp 1.784.792/RS, que possui similitude fático-jurídica
com o presente feito, foi proferida decisão em sentido diametralmente oposto, visto que
foi determinada a incidência de juros de mora desde a citação. Defende que essa
situação configura ofensa aos princípios da legalidade, da impessoalidade, da
igualdade e da segurança jurídica.
Argumenta que "o próprio CC/2002, em seu artigo 2.034, não deixa qualquer
tipo de dúvida de que as disposições legais criadas com o CC/2002 não podem ser
aplicadas a dissolução de sociedades ocorridas antes da vigência do CC/2002" (fl.
1.622 e-STJ).
Defende que a decisão atacada ofendeu o enunciado da Súmula nº
163/STF, além de violar o art. 1.536, § 2º, do Código Civil de 1916, que determinam a
incidência de juros moratórios desde a citação.
Aduz, ainda, a violação dos arts. 489, § 1º, VI, 926, caput, e 927 do Código
de Processo Civil de 2015.
A parte contrária apresentou impugnação às fls. 1.631/1.656 (e-STJ)
requerendo a aplicação da multa prevista no art. 1.021, § 4º, do CPC/2015.
É o relatório.
 

VOTO

O acórdão impugnado pelo recurso especial foi publicado na vigência do


Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ).
A irresignação não merece prosperar.
Como já asseverado, a matéria referente ao termo inicial dos juros de mora
decorrentes do pagamento dos haveres devidos em face da retirada do sócio foi
decidida em conformidade com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça,
segundo a qual aplica-se o disposto no art. 1.031, § 2º, do Código Civil de 2002
mesmo nas hipóteses em que a ação de dissolução parcial da sociedade foi ajuizada na
vigência do Código Civil de 1916.
Nesse sentido, destacam-se as ementas do REsp 1.321.263/PR, de
Relatoria do Ministro Moura Ribeiro, e do REsp 1.286.708/PR, de Relatoria da
Ministra Nancy Andrighi, cujas ações de dissolução foram ajuizadas em 2000 e 1997:
 
"CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CONDENATÓRIA. DISSOLUÇÃO
PARCIAL DE SOCIEDADE ANÔNIMA COM APURAÇÃO DE HAVERES. (1)
RECURSO MANEJADO SOB A ÉGIDE DO CPC/73. (2) DISSOLUÇÃO PARCIAL
DE SOCIEDADE ANÔNIMA. POSSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE LUCROS E
NÃO DISTRIBUIÇÃO DE DIVIDENDOS HÁ VÁRIOS ANOS. (3) PRINCÍPIO DA
PRESERVAÇÃO DA EMPRESA. APLICABILIDADE. (4) CERCEAMENTO DE
DEFESA. FALTA DE INSTRUÇÃO PROBATÓRIA. SÚMULA Nº 83 DO STJ. (5)
AUSÊNCIA DE MANIFESTAÇÃO SOBRE DOCUMENTO NOVO. SÚMULA Nº 83
DO STJ. (6) OCORRÊNCIA DE COISA JULGADA QUANTO AO PERCENTUAL
DE JUROS DE MORA. SÚMULA Nº 83 DO STJ. (7) NULIDADE DE CITAÇÃO
POR EDITAL DE EMPRESA ESTRANGEIRA NÃO CONFIGURADA. DEVER DE
MANTER REPRESENTANTE COM PODERES PARA RECEBER CITAÇÃO NO
PAÍS. INTELIGÊNCIA DO ART. 119 DA LEI Nº 6.406/76. (8) JUROS DE
MORA. TERMO A QUO. PRAZO NONAGESIMAL PARA PAGAMENTO.
PROCEDÊNCIA NA EXTENSÃO DO PEDIDO PARA EVITAR JULGAMENTO
'ULTRA PETITA'. (9) RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE PROVIDO.
1. Inaplicabilidade do NCPC ao caso ante os termos do Enunciado nº 2
aprovado pelo Plenário do STJ na Sessão de 9/3/2016: Aos recursos
interpostos com fundamento no CPC/1973 (relativos a decisões publicadas
até 17 de março de 2016) devem ser exigidos os requisitos de
admissibilidade na forma nele prevista, com as interpretações dadas até
então pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça.
2. A impossibilidade de preenchimento do fim da sociedade anônima
caracteriza-se nos casos em que a companhia apresenta prejuízos
constantes e não distribui dividendos, possibilitando aos acionistas
detentores de 5% ou mais do capital social o pedido de dissolução, com
fundamento no art. 206, II, b da Lei nº 6.404/76. Hipótese em que no período
de 12 (doze) anos a companhia somente gerou lucros em três exercícios e só
distribuiu os dividendos em um deles.
3. Caso em que configurada a possibilidade de dissolução parcial diante da
viabilidade da continuação dos negócios da companhia, em contrapartida ao
direito dos sócios de se retirarem dela sob o fundamento que eles não podem
ser penalizados com a imobilização de seu capital por longo período sem
obter nenhum retorno financeiro. Aplicação do princípio da preservação da
empresa, previsto implicitamente na Lei nº 6.404/76 ao adotar em seus arts.
116 e 117 a ideia da prevalência da função social e comunitária da
companhia, caracterizando como abuso de poder do controlador a liquidação
de companhia próspera.
4. Afasta-se a tese de cerceamento de defesa porque cabe ao magistrado
verificar a existência de provas suficientes para o julgamento da causa,
conforme o princípio do livre convencimento motivado ou da livre persuasão
racional.
5. Não há falar em prejuízo em virtude da ausência de manifestação da parte
contrária acerca de documento novo, uma vez que o magistrado o considerou
irrelevante para o deslinde da causa. Aplicação da Súmula nº 83 do STJ.
6. A Corte estadual decidiu de acordo com entendimento do STJ, no sentido
de inexistir ofensa à coisa julgada a alteração do percentual dos juros de
mora, de 0,5% para 1% ao mês, a partir da vigência do Código Civil de 2002.
7. O acionista que deveria ser citado no país e que aqui não tem
representante ou não constituiu mandatário não pode ser beneficiado por
sua omissão, validando-se sua citação por edital. Inteligência do art. 119 da
Lei 6.404/76.
8. Nos casos de dissolução parcial de sociedade anônima os juros
moratórios são devidos a partir do vencimento do prazo
nonagesimal, após a sentença de liquidação de haveres, conforme
regra prevista no art. 1.031, § 2º, do CC/02, aplicável por analogia.
Caso de se dar parcial provimento ao recurso especial para fixar o termo a
quo dos juros de mora a partir do trânsito em julgado da decisão que
determinar o pagamento dos haveres, conforme requerido pelos recorrentes,
a fim de evitar julgamento 'ultra petita'.
9. Recurso especial parcialmente provido".
(REsp 1.321.263/PR, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA,
julgado em 6/12/2016, DJe 15/12/2016 - grifou-se)
 
"DIREITO SOCIETÁRIO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE DISSOLUÇÃO
PARCIAL DE SOCIEDADES. EXCLUSÃO DE SÓCIO. JUSTA CAUSA.
APURAÇÃO DE HAVERES. DATA-BASE. EFETIVO DESLIGAMENTO. FORMA
DE PAGAMENTO. JUROS DE MORA. TERMO INICIAL. PRAZO NONGESIMAL
PARA PAGAMENTO. ARTS. ANALISADOS: 1.030, 1.031, 1.044 E 1.085 DO
CC/02.
1. Ações de ajuizadas em 1997. Recurso especial concluso ao Gabinete em
2011/2012.
2. Demandas em que se discute a caracterização de justa causa para
exclusão de sócio; as datas-base para apuração de haveres, bem como a
forma de pagamento e o termo inicial dos juros de mora eventualmente
incidentes.
3. A prática de atos reiterados como padrão de normalidade por ambos os
sócios e nas três sociedades que mantêm há mais de 40 anos, ainda que
irregulares e espúrios, não servem como causa necessária da quebra da
affectio societatis a fim de configurar justa causa para exclusão de sócio em
relação à Concorde Administração de Bens Ltda.
4. A apuração dos haveres tem por objetivo liquidar o valor real e atual do
patrimônio empresarial, a fim de se identificar o valor relativo à quota dos
sócios retirante.
5. Para que não haja enriquecimento indevido de qualquer das partes, a
apuração deve ter por base para avaliação a situação patrimonial da data
da retirada (art. 1.031, CC/02), a qual, na hipótese dos autos, foi objeto de
transação entre as partes ao longo da demanda.
6. A retirada do sócio por dissolução parcial da empresa não se confunde
com o direito de recesso, que possui hipóteses de incidência restrita e forma
de apuração de haveres distinta.
7. A existência de cláusula contratual específica para pagamento de haveres
na hipótese de exercício do direito de recesso não pode ser aplicada por
analogia, para os fins de afastar a incidência do art. 1.031, § 2º, do CC/02
na situação concreta de retirada do sócio.
8. Os juros de mora eventualmente devidos em razão do pagamento
dos haveres devidos em decorrência da retirada do sócio, no novo
contexto legal do art. 1.031, § 2º, do CC/02, terão por termo inicial o
vencimento do prazo legal nonagesimal, contado desde a liquidação
dos haveres.
9. Em face da alteração da proporcionalidade da sucumbência, devem ser
redistribuídos o respectivo ônus.
10. Recursos especiais parcialmente providos"
(REsp 1.286.708/PR, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 27/5/2014, DJe 5/6/2014 - grifou-se).
 
Em reforço, confiram-se os recentes julgados da Terceira e Quarta Turmas
desta Corte Superior:
 
"RECURSO ESPECIAL E AGRAVOS EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO
SOCIETÁRIO. LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA PROFERIDA EM AÇÃO DE
DISSOLUÇÃO PARCIAL DE SOCIEDADE. IRRESIGNAÇÕES SUBMETIDAS AO
CPC/73. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL NÃO VERIFICADA.
CRITÉRIO UTILIZADO PARA APURAÇÃO DE HAVERES. QUESTÃO
PREJUDICADA. ENCARGOS DECORRENTES DA LIQUIDAÇÃO FORÇADA.
SÚMULA Nº 7 DO STJ. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. JUROS
MORATÓRIOS INCIDENTES A PARTIR DO NONAGÉSIMO DIA POSTERIOR A
LIQUIDAÇÃO.
1. As disposições do NCPC, no que se refere aos requisitos de
admissibilidade dos recursos, são inaplicáveis ao caso concreto ante os
termos do Enunciado Administrativo nº. 2 aprovado pelo Plenário do STJ na
sessão de 9/3/2016.
2. Não há falar em negativa de prestação jurisdicional quando o órgão
julgador enfrenta, de modo adequado e suficiente, todos os argumentos
necessários ao julgamento da causa.
3. A alegação de que o valor homologado estaria incorreto se mostra
prejudicada em razão do que decidido no julgamento dos REsps
1.483.333/DF e 1.499.772/DF.
4. Quanto a necessidade de repartição proporcional de referidos encargos,
como forma de preservação do princípio da isonomia, o tema carece do
necessário prequestionamento. Incidência da Súmula nº 211 do STJ.
5. Nos casos de dissolução parcial de sociedade anônima os juros
moratórios são devidos a partir do vencimento do prazo
nonagesimal, após a sentença de liquidação de haveres, conforme
regra prevista no art. 1.031, § 2º, do CC/02, aplicável por analogia.
Precedentes.
6. Recurso especial de ESPÓLIO DE JOSINO e ANTÔNIO NAVES parcialmente
conhecido e, nessa extensão, não provido"
(REsp 1.504.243/DF, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA,
julgado em 21/5/2019, DJe 6/6/2019 - grifou-se).
 
"AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. DISSOLUÇÃO PARCIAL DE
SOCIEDADE EMPRESARIAL. RETIRADA DE SÓCIO. APURAÇÃO DE
HAVERES. FORMA DE PAGAMENTO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
ACOLHIDOS COM EFEITOS INFRINGENTES. VERIFICAÇÃO DE ERRO DE
FATO E OMISSÃO. POSSIBILIDADE. OFENSA AO ART. 535 DO CPC/1973.
INEXISTÊNCIA. CONTRATO SOCIETÁRIO. INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULA.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULAS 5 E 7 DO STJ. JUROS DE MORA. TERMO
INICIAL. ART. 1.031, § 2º, DO CC/2002. AGRAVO INTERNO PROVIDO, PARA
DAR PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO ESPECIAL.
1. Não se verifica a alegada ofensa ao art. 535, II, do CPC/1973, uma vez
que o Tribunal de origem prestou jurisdição completa. É indevido conjecturar-
se a existência de omissão, obscuridade ou contradição no julgado apenas
porque decidido em desconformidade com os interesses da parte.
2. A teor dos precedentes do Superior Tribunal de Justiça, 'É admitido o uso
de embargos de declaração com efeitos infringentes, em caráter excepcional,
para a correção de premissa equivocada, com base em erro de fato, sobre a
qual tenha se fundado o acórdão embargado, quando tal for decisivo para o
resultado do julgamento' (EDcl nos EDcl nos EDcl no AgRg no Ag
632.184/RJ, Terceira Turma, Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, DJe de
2/10/2006).
3. Decidida a forma de pagamento da quota a partir da interpretação de
cláusula contratual constante de instrumento particular da alteração do
contrato societário da recorrente, afirmando o Tribunal a quo que, quando da
saída da sócia da sociedade, 'vigorava, quanto ao modo de apuração de
haveres, a cláusula décima terceira inscrita à fl. 25', em substituição à
cláusula 18 do contrato social, invocada pela recorrente nas razões do
recurso especial, a modificação do julgado demandaria a interpretação do
contrato, o que é inviável em sede de recurso especial, a teor do que dispõem
as Súmulas 5 e 7 do STJ.
4. Nos termos da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, 'Os
juros de mora eventualmente devidos em razão do pagamento dos
haveres devidos em decorrência da retirada do sócio, no novo
contexto legal do art. 1.031, § 2º, do CC/02, terão por termo inicial o
vencimento do prazo legal nonagesimal, contado desde a liquidação
dos haveres' (REsp 1.286.708/PR, Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, DJe de 5/6/2014).
5. Agravo interno provido, dando-se parcial provimento ao recurso especial
da agravante"
(AgInt no REsp 1.514.774/RN, Rel. Ministro LÁZARO GUIMARÃES
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 5ª REGIÃO), QUARTA TURMA,
julgado em 15/3/2018, DJe 26/3/2018 - grifou-se).
 
"AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. DIREITO EMPRESARIAL E
PROCESSUAL CIVIL (CPC/73). AÇÃO DE DISSOLUÇÃO DE SOCIEDADE E
APURAÇÃO DE HAVERES. PRELIMINARES. PREQUESTIONAMENTO DE
DISPOSITIVO LEGAL. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL DEMONSTRADA.
JUROS DE MORA. CONHECIMENTO EX OFFICIO. POSSIBILIDADE. MÉRITO.
ALEGAÇÃO DE NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO
OCORRÊNCIA. DEFICIENTE FORMAÇÃO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO.
NÃO OCORRÊNCIA. APURAÇÃO DE HAVERES EM LIQUIDAÇÃO DE
SENTENÇA. JUROS DE MORA. FIXAÇÃO DO TERMO INICIAL.
1. Controvérsia em torno do termo inicial dos juros de mora na execução de
sentença prolatada em ação de apuração de haveres, em face da retirada do
sócio.
2. Embora o aresto objurgado não tenha feito menção expressa ao dispositivo
legal tido por violado, a tese jurídica a ser enfrentada ficou bem delimitada
no julgamento realizado pelo Tribunal estadual, circunstância que indica a
devolutividade da matéria ao Superior Tribunal de Justiça, afastando
possível óbice atinente à ocorrência de prequestionamento.
3. Improcedência da alegação de que a dissolução da sociedade ocorreu sob
a vigência do Código Civil de 1916 e, por consequência, inaplicáveis os
precedentes colacionados, posto que a decretação da dissolução ocorreu sob
a égide das regras previstas no Código Civil de 2002.
4. O termo inicial dos juros de mora, decorrentes do pagamento dos
haveres devidos em face da retirada do sócio, é o momento do
vencimento do prazo legal nonagesimal, contado desde a liquidação
dos haveres.
5. Não apresentação pela parte agravante de argumentos novos capazes de
infirmar os fundamentos que alicerçaram a decisão agravada.
6. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO"
(AgInt no REsp 1.704.505/PR, Rel. Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 27/2/2018, DJe
12/3/2018 - grifou-se).
 
Desse modo, as razões do presente recurso são insuficientes para ensejar a
reforma da decisão atacada, a qual deu provimento ao recurso especial para
determinar a incidência de juros de mora devidos em virtude da retirada do sócio a
partir do vencimento do prazo nonagesimal desde a liquidação de haveres.
Oportuno observar que "o julgador não é obrigado a rebater, um a um, todos
os argumentos trazidos pelas partes em defesa de suas teses, devendo, apenas,
enfrentar a demanda observando as questões relevantes e imprescindíveis à sua
resolução" (REsp 1.832.148/RJ, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado
em 20/2/2020, DJe 26/2/2020).
Ademais, registra-se que, ao contrário do alegado pela parte agravante, a
decisão proferida no REsp 1.784.792/RS não possui similitude fático-jurídica com o
caso ora em análise, pois tratou de hipótese específica, em que a dissolução da
sociedade decorreu de descumprimento de acordo firmado entre os sócios, situação
diversa da analisada nos presentes autos.
No que se refere ao pedido de aplicação da
penalidade prevista no artigo 1.021, § 4º, do CPC/2015, formulado na impugnação,
a leitura dos autos revela que, apesar de refutadas as teses defendidas no agravo
interno, não se trata de recurso manifestamente inadmissível ou improcedente, pelo
menos até o momento. 
De fato, ocorreu a interposição de recurso legalmente previsto
no ordenamento jurídico, sem abuso do direito de recorrer, o que não demonstra
afronta ou descaso com o Poder Judiciário.  
Sobre o tema:

"AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE


POSSE C/C DECLARATÓRIA E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. 1.
CERCEAMENTO DE DEFESA. SUFICIÊNCIA DE PROVAS ATESTADA
PELAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO
DO JULGADOR. INVERSÃO DO JULGADO. IMPOSSIBILIDADE. REEXAME
DE PROVAS. SÚMULAS 7 E 83/STJ. 2. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO
DOS FUNDAMENTOS DO ACÓRDÃO RECORRIDO. SÚMULA 283/STF.
3. CONCLUSÃO DO ACÓRDÃO RECORRIDO ACERCA DA CIÊNCIA
INEQUÍVOCA DA AUTORA DO FATO JURÍDICO DESDE QUE PRATICADO.
REVISÃO OBSTADA PELA SÚMULA 7/STJ. 4. MULTA DO ART. 1.021, § 4º,
DO CPC/2015. NÃO CABIMENTO. 5. AGRAVO IMPROVIDO.
(...)
4. O mero não conhecimento ou a improcedência do agravo
interno não enseja a necessária imposição da multa prevista no art. 1.021,
§ 4º, do CPC/2015, tornando-se imperioso para tal que seja nítido o
descabimento do recurso, o que não se verifica na espécie.
5. Agravo interno a que se nega provimento" (AgInt no REsp 1.698.787/DF, 
Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA
TURMA, julgado em 22/6/2020, DJe 25/6/2020).
       
Ante o exposto, nego provimento ao agravo interno.
É o voto.
 

 
TERMO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA
AgInt no REsp 1.846.866 / SC
Número Registro: 2019/0329689-5 PROCESSO ELETRÔNICO

Número de Origem:
0001325482003824003850001 1325482003824003850001 00013254820038240038 13254820038240038
38030013256 038030013256

Sessão Virtual de 02/02/2021 a 08/02/2021

Relator do AgInt
Exmo. Sr. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA

Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO

AUTUAÇÃO

RECORRENTE : PETROPAM POSTO DE ABASTECIMENTO MARITIMO LTDA


RECORRENTE : AVELINO LAURO RUDNICK
RECORRENTE : VALDIR MAURÍCIO RUDNICK
ADVOGADOS : JOVENIL DE JESUS ARRUDA - SC012065
RODRIGO XAVIER LEONARDO - PR027175
ROGÉRIO ULRICH - SC019166
CARLOS ADAUTO VIRMOND VIEIRA - SC006544
ALEX MECABÔ - PR083283
RECORRIDO : MÁRIO CEZAR LINK KONELL
ADVOGADOS : ELEMAR BUETTGEN - SC002903
GUSTAVO BUETTGEN - SC028909

ASSUNTO : DIREITO CIVIL - EMPRESAS - SOCIEDADE - INGRESSO E EXCLUSÃO DOS


SÓCIOS NA SOCIEDADE

AGRAVO INTERNO

AGRAVANTE : MÁRIO CEZAR LINK KONELL


ADVOGADOS : ELEMAR BUETTGEN - SC002903
GUSTAVO BUETTGEN - SC028909
AGRAVADO : PETROPAM POSTO DE ABASTECIMENTO MARITIMO LTDA
AGRAVADO : AVELINO LAURO RUDNICK
AGRAVADO : VALDIR MAURÍCIO RUDNICK
ADVOGADOS : JOVENIL DE JESUS ARRUDA - SC012065
RODRIGO XAVIER LEONARDO - PR027175
ROGÉRIO ULRICH - SC019166
CARLOS ADAUTO VIRMOND VIEIRA - SC006544
ALEX MECABÔ - PR083283

TERMO

A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, decidiu negar provimento
ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Nancy Andrighi, Paulo de Tarso Sanseverino, Marco Aurélio Bellizze e Moura
Ribeiro votaram com o Sr. Ministro Relator.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino.

Brasília, 08 de fevereiro de 2021

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