Você está na página 1de 13

Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 13

28/03/2022 PLENÁRIO

EMB.DECL. NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 4.636


DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. GILMAR MENDES


EMBTE.(S) : CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS
ADVOGADOS DO BRASIL - CFOAB
ADV.(A/S) : MARCUS VINICIUS FURTADO COÊLHO E
OUTRO(A/S)
EMBDO.(A/S) : CONGRESSO NACIONAL
EMBDO.(A/S) : PRESIDENTE DA REPÚBLICA
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS DEFENSORES
PÚBLICOS - ANADEP
ADV.(A/S) : ILTON NORBERTO ROBL FILHO
ADV.(A/S) : ISABELA MARRAFON
ADV.(A/S) : TATIANA ZENNI DE CARVALHO GUIMARAES
FRANCISCO
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS DEFENSORES
PÚBLICOS FEDERAIS - ANADEF
ADV.(A/S) : CLAUDIO PEREIRA DE SOUZA NETO
ADV.(A/S) : NATALI NUNES DA SILVA
ADV.(A/S) : FERNANDO LUIS COELHO ANTUNES
AM. CURIAE. : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL DO ESTADO DO RIO
DE JANEIRO
ADV.(A/S) : ORLINDO ELIAS FILHO
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO DOS DEFENSORES PÚBLICOS DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO - ADPERJ
ADV.(A/S) : VITOR GUEDES CAVALCANTI E OUTRO(A/S)
AM. CURIAE. : ASSOCIACAO DOS ADVOGADOS DE SAO PAULO
ADV.(A/S) : ROBERTO TIMONER E OUTRO(A/S)
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO DOS DEFENSORES PÚBLICOS DA
BAHIA
ADV.(A/S) : JOSE CARLOS TEIXEIRA TORRES JUNIOR
AM. CURIAE. : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO
PAULO
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL DO ESTADO DE SÃO

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código C8CB-8375-BEE9-BBA1 e senha E2D4-73B5-8470-9C3B
Supremo Tribunal Federal
Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 2 de 13

ADI 4636 ED / DF

PAULO
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO DOS DEFENSORES PÚBLICOS DO
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
ADV.(A/S) : JOÃO BATISTA SCHMITT DE NONOHAY
AM. CURIAE. : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL FEDERAL

Embargos de declaração em ação direta de inconstitucionalidade. 2.


Acórdão que declarou a constitucionalidade do art. 4º, § 6º, da Lei
Complementar 80/94, bem como conferiu interpretação conforme à
constituição ao art. 3º, § 1º, da Lei 8906/94, para determinar que a
capacidade postulatória dos defensores públicos independe de inscrição
na OAB, sendo suficiente a nomeação e posse no cargo de defensor. 3.
Inexistência de omissão quanto aos artigos 11, 13 e 28 da Lei 8906/94 e 94
da Constituição Federal. 4. Embargos de declaração rejeitados.
AC ÓRDÃ O
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do
Supremo Tribunal Federal, em Sessão Plenária, sob a presidência do
Senhor Ministro Luiz Fux, na conformidade da ata de julgamento e das
notas taquigráficas, por unanimidade de votos, rejeitar os embargos de
declaração, nos termos do voto do Relator.
Brasília, Sessão Virtual de 18 a 25 de março de 2022.
Ministro GILMAR MENDES
Relator
Documento assinado digitalmente

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código C8CB-8375-BEE9-BBA1 e senha E2D4-73B5-8470-9C3B
Supremo Tribunal Federal
Relatório

Inteiro Teor do Acórdão - Página 3 de 13

28/03/2022 PLENÁRIO

EMB.DECL. NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 4.636


DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. GILMAR MENDES


EMBTE.(S) : CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS
ADVOGADOS DO BRASIL - CFOAB
ADV.(A/S) : MARCUS VINICIUS FURTADO COÊLHO E
OUTRO(A/S)
EMBDO.(A/S) : CONGRESSO NACIONAL
EMBDO.(A/S) : PRESIDENTE DA REPÚBLICA
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS DEFENSORES
PÚBLICOS - ANADEP
ADV.(A/S) : ILTON NORBERTO ROBL FILHO
ADV.(A/S) : ISABELA MARRAFON
ADV.(A/S) : TATIANA ZENNI DE CARVALHO GUIMARAES
FRANCISCO
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS DEFENSORES
PÚBLICOS FEDERAIS - ANADEF
ADV.(A/S) : CLAUDIO PEREIRA DE SOUZA NETO
ADV.(A/S) : NATALI NUNES DA SILVA
ADV.(A/S) : FERNANDO LUIS COELHO ANTUNES
AM. CURIAE. : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL DO ESTADO DO RIO
DE JANEIRO
ADV.(A/S) : ORLINDO ELIAS FILHO
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO DOS DEFENSORES PÚBLICOS DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO - ADPERJ
ADV.(A/S) : VITOR GUEDES CAVALCANTI E OUTRO(A/S)
AM. CURIAE. : ASSOCIACAO DOS ADVOGADOS DE SAO PAULO
ADV.(A/S) : ROBERTO TIMONER E OUTRO(A/S)
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO DOS DEFENSORES PÚBLICOS DA
BAHIA
ADV.(A/S) : JOSE CARLOS TEIXEIRA TORRES JUNIOR
AM. CURIAE. : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO
PAULO
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL DO ESTADO DE SÃO

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código C981-97B1-3484-634A e senha 26AC-4457-0247-A195
Supremo Tribunal Federal
Relatório

Inteiro Teor do Acórdão - Página 4 de 13

ADI 4636 ED / DF

PAULO
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO DOS DEFENSORES PÚBLICOS DO
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
ADV.(A/S) : JOÃO BATISTA SCHMITT DE NONOHAY
AM. CURIAE. : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL FEDERAL

RE LAT Ó RI O

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES (RELATOR): Trata-se de


embargos de declaração, opostos pelo Conselho Federal da ordem dos
Advogados do Brasil, contra acórdão que julgou improcedente a presente
ação direta de inconstitucionalidade.
O Embargante alega obscuridades e omissões no acórdão
embargado, na medida em que deixou dúvidas quanto à possibilidade da
permanência dos defensores que assim desejarem nos quadros da Ordem,
bem como quanto à inscrição obrigatória daqueles que, porventura,
tenham autorização legal para o exercício da advocacia fora das funções
institucionais ou ainda que venha a exercer a advocacia após deixarem a
instituição.
Sustenta que o acórdão também deveria tratar da impossibilidade de
participação dos defensores no quinto constitucional e do exercício de
outras prerrogativas conferidas à advocacia.
Requer a modulação dos efeitos para fixar a legitimidade dos
registros efetivados e mantidos até a decisão.
Em síntese, entende que “o resultado da presente ADI ocasiona uma
reformulação dos conceitos e da estrutura da advocacia, notadamente para a
advocacia pública, inaugurando um entendimento onde, no rol das funções
essenciais à justiça, a defensoria se distancia da advocacia para se aproximar,
quanto às suas características institucionais e status jurídicos, do órgão
ministerial”, o que “permite o surgimento de dúvidas e justo receio de novas
controvérsias em torno da questão”.
É o relatório.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código C981-97B1-3484-634A e senha 26AC-4457-0247-A195
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. GILMAR MENDES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 5 de 13

28/03/2022 PLENÁRIO

EMB.DECL. NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 4.636


DISTRITO FEDERAL

VOTO

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES (RELATOR): Inicialmente,


ressalto que os embargos de declaração são cabíveis para sanar a
ocorrência de obscuridade, contradição ou, ainda, suprir omissão de
ponto ou questão da decisão embargada, bem como para corrigir erro
material (art. 1.022 do CPC). No presente caso, não se verifica nenhuma
dessas hipóteses.
Com efeito, os embargos de declaração não constituem meio
processual cabível para reforma do julgado, não sendo possível atribuir-
lhes efeitos infringentes, salvo em situações excepcionais, não
vislumbradas na hipótese. Confira-se, a propósito, precedentes de ambas
as turmas desta Corte:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE


VÍCIOS DE FUNDAMENTAÇÃO NO ACÓRDÃO
EMBARGADO. REJEIÇÃO. 1. O acórdão embargado contém
fundamentação apta e suficiente a resolver todos os pontos do
recurso que lhe foi submetido. 2. Ausentes omissão,
contradição, obscuridade ou erro material no julgado, não há
razão para qualquer reparo. 3. Cabe a majoração de honorários
advocatícios em julgamento de embargos de declaração.
Inteligência do art. 85, § 11, do Código de Processo Civil de
2015. 4. Embargos de Declaração rejeitados. Fixam-se
honorários advocatícios adicionais equivalentes a 10% (dez por
cento) do valor a esse título arbitrado na causa, já considerada,
nesse montante global, a elevação efetuada na decisão anterior
(CPC/2015, art. 85, § 11). (ARE-AgR-ED 971.691, Rel. Min.
ALEXANDRE DE MORAES, Primeira Turma, DJe 9.5.2018)

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO MATÉRIA ELEITORAL

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código EFDC-737A-55A4-8BDD e senha 29E8-94E2-1F75-162F
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. GILMAR MENDES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 6 de 13

ADI 4636 ED / DF

INOCORRÊNCIA DE CONTRADIÇÃO, OBSCURIDADE,


OMISSÃO OU ERRO MATERIAL (CÓDIGO ELEITORAL, ART.
275 C/C CPC, ART. 1.022) PRETENDIDO REEXAME DA
CAUSA CARÁTER INFRINGENTE INADMISSIBILIDADE NO
CASO ALEGADA VIOLAÇÃO AO PRECEITO INSCRITO NO
ART. 5º, XL, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA AUSÊNCIA
DE OFENSA DIRETA À CONSTITUIÇÃO PRECEDENTES
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS. OS
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NÃO SE REVESTEM,
ORDINARIAMENTE, DE CARÁTER INFRINGENTE Não se
revelam cabíveis os embargos de declaração quando a parte
recorrente a pretexto de esclarecer uma inexistente situação de
obscuridade, omissão, contradição ou erro material (Código
Eleitoral, art. 275 c/c CPC, art. 1.022) vem a utilizá-los com o
objetivo de infringir o julgado e de, assim, viabilizar um
indevido reexame da causa. Precedentes. (ARE-AgR-ED
1.042.577, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, DJe
10.4.2018)

Os requerentes apontam suposta omissão do julgado para “esclarecer


questões importantes que não foram contempladas pelo acórdão, embora tenham
sido expostas na ação e possuam relevância jurídica para o caso”. Os pontos a
serem integrados seriam três:
“a. a possibilidade de manutenção da inscrição de
defensores nos quadros da OAB, sendo obrigatória para
aqueles que, porventura, possuam autorização legal para o
exercício da advocacia enquanto defensores ou que venham
exercê-la após deixarem o cargo;
b. esclarecimento quanto ao enquadramento institucional
dos defensores públicos para fins de concorrerem ao quinto
constitucional na vaga destinada à advocacia, bem como para
gozarem de outras prerrogativas da advocacia;
c. modulação dos efeitos para estabelecer a legitimidade
das inscrições realizadas e mantidas ativas até a decisão ora
embargada, uma vez que inexistia impedimento legal para o
cadastro dos defensores.”

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código EFDC-737A-55A4-8BDD e senha 29E8-94E2-1F75-162F
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. GILMAR MENDES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 7 de 13

ADI 4636 ED / DF

Inicialmente, destaco que a petição inicial impugna, apenas, o


“inciso V, especificamente do trecho ‘e jurídicas’, e da íntegra do § 6º,
ambos do art. 4º Lei Complementar 80/1994 (com a redação dada pelo art.
1º da Lei Complementar nº 132/2009)”. O inconformismo da embargante
refere-se, apenas, à declaração de constitucionalidade do §6º do art. 4º, da
Lei Complementar 80/1994, que tem o seguinte teor:
“§6º A capacidade postulatória do Defensor Público
decorre exclusivamente de sua nomeação e posse no cargo
público.”

As páginas 15 a 17 do acórdão, todavia, expressamente analisam o


referido dispositivo, concluindo pela sua constitucionalidade, nos
seguintes termos:
“ (…)
A Lei Complementar 80, atualizada pela Lei
Complementar 132, em nenhum momento determina que os
defensores públicos se inscrevam ou permaneçam filiados aos
quadros da Ordem dos Advogados do Brasil. Sendo lei especial
e posterior, nada impede que ela dispense os Defensores
Públicos da inscrição na OAB para o exercício de suas funções.
Esse, inclusive, é o entendimento exarado no parecer da
Procuradoria-Geral da República, cujo trecho, por oportuno,
transcrevo:

“(...) Se a estrutura em carreira da Defensoria Pública


‘opera como garantia da independência técnica da
instituição’, não faz sentido algum vincular seus membros
ao poder disciplinar da OAB.
Também em dois julgados mais recentes, essa Corte
proclamou a autonomia da Defensoria Pública, em face do
Executivo e em face da própria OAB. No primeiro caso,
teve por inconstitucional lei que a subordinava ao
Governador de Minas Gerais, mediante integração a
Secretaria de Estado; no segundo, declarou

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código EFDC-737A-55A4-8BDD e senha 29E8-94E2-1F75-162F
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. GILMAR MENDES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 8 de 13

ADI 4636 ED / DF

inconstitucional norma que tornava obrigatória a


celebração de convênio exclusivo entre a Defensoria
Público do Estado de São Paulo e a seccional local da
OAB.
Portanto, em conclusão quanto a esse ponto, não há
disposição constitucional que autorize entendimento de
que os Defensores Públicos devam estar inscritos na OAB
para atuarem como tal. Muito pelo contrário, o tratamento
dispensado a essa instituição livra-a de ingerências
externas, especialmente no que diz respeito ao exercício
das funções que lhe são típicas. (...)”

Registre-se ainda que raciocínio semelhante foi placitado


pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) no julgamento do REsp
1.710.155/CE. Nesse precedente, mesmo que em sede de
controle difuso de constitucionalidade, a Corte conferiu
interpretação conforme à Constituição ao artigo 3º da Lei
8.906/94, afastando a obrigatoriedade de inscrição na OAB por
parte dos membros da Defensoria Pública. O principal
fundamento da decisão do STJ residiu na tese de que "os
defensores não são advogados públicos, possuem regime
disciplinar próprio e têm sua capacidade postulatória
decorrente diretamente da Constituição Federal. Transcreve-se
a ementa do acórdão:

ADMINISTRATIVO. CARREIRA DA DEFENSORIA


PÚBLICA. DESNECESSIDADE DE INSCRIÇÃO NA
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL.
INTERPRETAÇÃO CONFORME À CONSTITUIÇÃO DO
ART. 3º, § 1º, DA LEI 8.906/1994. APLICAÇÃO DO ART.
4º, § 6º, DA LEI COMPLEMENTAR 80/1994.
1. Inicialmente, verifica-se que a argumentação em
torno da condenação em honorários veio
desacompanhada da indicação de qual dispositivo de lei
federal teria sido violado, o que impede impossibilita o
exame do recurso interposto com base na alínea "a" do art.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código EFDC-737A-55A4-8BDD e senha 29E8-94E2-1F75-162F
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. GILMAR MENDES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 9 de 13

ADI 4636 ED / DF

105, III, da Constituição.


2. O mérito do recurso gira em torno da necessidade
de inscrição dos Defensores Públicos na Ordem dos
Advogados do Brasil, questão notoriamente controversa
nos Tribunais locais do País. 3. A Quinta Turma do
Superior Tribunal de Justiça, no RHC 61.848/PA, assentou
que "os defensores não são advogados públicos, possuem
regime disciplinar próprio e têm sua capacidade
postulatória decorrente diretamente da Constituição
Federal".
4. A Constituição de 1988 abordou expressamente a
Defensoria Pública dentro das funções essenciais à
Justiça, ao lado do Ministério Público, da Advocacia e da
Advocacia Pública, com as quais não se confunde.
5. Defensores Públicos exercem atividades de
representação judicial e extrajudicial, de advocacia
contenciosa e consultiva, o que se assemelha bastante à
Advocacia, tratada em Seção à parte no texto
constitucional. Ao lado de tal semelhança, há inúmeras
diferenças, pois a carreira está sujeita a regime próprio e a
estatutos específicos; submetem-se à fiscalização
disciplinar por órgãos próprios, e não pela OAB;
necessitam aprovação prévia em concurso público, sem a
qual, ainda que se possua inscrição na Ordem, não é
possível exercer as funções do cargo, além de não haver
necessidade da apresentação de instrumento do mandato
em sua atuação. 6. À vista dessas premissas, e
promovendo o necessário diálogo das fontes, tem-se que o
Estatuto da Advocacia não é de todo inaplicável aos
Defensores Públicos, dada a similitude com a advocacia
privada das atividades que realizam. Dessa forma,
impensável afastar, por exemplo, a inviolabilidade por
atos e manifestações (art. 2º, § 3º, da Lei 8.906/1994) ou o
sigilo da comunicação (art. 7º, III).
Entretanto, por todas as diferenças, aceita-se regime
díspar previsto em legislação especial.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código EFDC-737A-55A4-8BDD e senha 29E8-94E2-1F75-162F
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. GILMAR MENDES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 10 de 13

ADI 4636 ED / DF

7. Em conclusão, o art. 3º, § 1º, da Lei 8.906/1994


merece interpretação conforme à Constituição para
obstar a necessidade de inscrição na OAB dos membros
das carreiras da Defensoria Pública, não obstante se exija
a inscrição do candidato em concurso público. Ademais,
a inscrição obrigatória não pode ter fundamento nesse
comando em razão do posterior e específico dispositivo
presente no art. 4º, § 6º, da Lei Complementar 80/1994. 8.
Recurso Especial conhecido e provido, com inversão do
ônus da sucumbência. (REsp 1710155/CE, Rel. Ministro
HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
01/03/2018, DJe 02/08/2018). (...)”

Registro que os artigos 11, 12, 28 da Lei 8906/94 (Estatuto da


Advocacia) não foram objeto de análise nesta ação, não sendo atingidos
pela declaração de constitucionalidade da norma aqui impugnada.
Esclareço que a interpretação conforme à Constituição ao art. 3º, § 1º,
da Lei 8.906/94 apenas determina que os membros da Defensoria Pública
podem exercer todas as funções relacionadas ao cargo de defensor
público, possuindo para tanto capacidade postulatória, apenas com a
nomeação e posse no cargo de defensor, não sendo necessário possuir
inscrição junto à OAB. Nesse sentido, transcrevo o seguinte trecho do
acórdão embargado:

“(…) Forte nos fundamentos apresentados acima, concluo,


portanto, que a Lei Complementar nº 80, lei de regência da
carreira de Defensor Público, em nada viola a Constituição
Federal ao dispor, no atual §6º do artigo 4º, que a capacidade
postulatória do defensor decorre de nomeação e posse no cargo,
sendo descabida a pretensão formulada na inicial da presente
ação.
Ademais, considerando que a aplicação literal do Estatuto
da OAB pode vir a contrariar o fundamento da presente
decisão, confiro ainda interpretação conforme à Constituição ao
art. 3º, § 1º, da Lei 8.906/1994, a fim de afastar qualquer

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código EFDC-737A-55A4-8BDD e senha 29E8-94E2-1F75-162F
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. GILMAR MENDES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 11 de 13

ADI 4636 ED / DF

interpretação que resulte no condicionamento da capacidade


postulatória dos membros da Defensoria Pública à inscrição dos
Defensores Públicos na Ordem dos Advogados do Brasil. (...)”

Não vislumbro, igualmente, omissão quanto à necessidade de


modulação de efeitos da decisão, visto que o acórdão embargado apenas
declara a constitucionalidade do exercício do cargo de defensor por
aqueles que não se encontrem registrados na OAB.
Quanto aos defensores públicos que porventura exerçam também
advocacia privada, não obstante a vedação constitucional constante do
art. 134, § 1º, da Constituição Federal, tal atividade não se confunde com
as funções do cargo de defensor público, sendo, portanto, o exercício da
advocacia privada regida pelo Estatuto da Ordem dos Advogados do
Brasil.
Por óbvio, aos defensores públicos que deixem o cargo e desejem se
dedicar à advocacia privada, por qualquer motivo, será exigido inscrição
na OAB, nos termos da norma de regência.
Verifico, portanto, que as alegações da requerente se limitam a
suscitar matéria já analisada por esta Corte, não havendo de se falar em
omissão, obscuridade ou contradição.
Ante o exposto, rejeito os presentes embargos de declaração.
É como voto.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código EFDC-737A-55A4-8BDD e senha 29E8-94E2-1F75-162F
Supremo Tribunal Federal
Extrato de Ata - 28/03/2022

Inteiro Teor do Acórdão - Página 12 de 13

PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA

EMB.DECL. NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 4.636


PROCED. : DISTRITO FEDERAL
RELATOR : MIN. GILMAR MENDES
EMBTE.(S) : CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL -
CFOAB
ADV.(A/S) : MARCUS VINICIUS FURTADO COÊLHO (18958/DF, 167075/MG,
2525/PI, 463101/SP) E OUTRO(A/S)
EMBDO.(A/S) : CONGRESSO NACIONAL
EMBDO.(A/S) : PRESIDENTE DA REPÚBLICA
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS DEFENSORES PÚBLICOS - ANADEP
ADV.(A/S) : ILTON NORBERTO ROBL FILHO (38677/DF, 43824/PR, 48138-
A/SC)
ADV.(A/S) : ISABELA MARRAFON (0008565/MT)
ADV.(A/S) : TATIANA ZENNI DE CARVALHO GUIMARAES FRANCISCO
(24751/DF)
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS DEFENSORES PÚBLICOS FEDERAIS
- ANADEF
ADV.(A/S) : CLAUDIO PEREIRA DE SOUZA NETO (34238/DF, 96073/RJ,
417250/SP)
ADV.(A/S) : NATALI NUNES DA SILVA (24439/DF)
ADV.(A/S) : FERNANDO LUIS COELHO ANTUNES (39513/DF, 236002/RJ)
AM. CURIAE. : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
ADV.(A/S) : ORLINDO ELIAS FILHO (16748/RJ)
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO DOS DEFENSORES PÚBLICOS DO ESTADO DO RIO
DE JANEIRO - ADPERJ
ADV.(A/S) : VITOR GUEDES CAVALCANTI (131908/RJ) E OUTRO(A/S)
AM. CURIAE. : ASSOCIACAO DOS ADVOGADOS DE SAO PAULO
ADV.(A/S) : ROBERTO TIMONER (156828/SP) E OUTRO(A/S)
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO DOS DEFENSORES PÚBLICOS DA BAHIA
ADV.(A/S) : JOSE CARLOS TEIXEIRA TORRES JUNIOR (17799/BA)
AM. CURIAE. : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL DO ESTADO DE SÃO PAULO
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO DOS DEFENSORES PÚBLICOS DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
ADV.(A/S) : JOÃO BATISTA SCHMITT DE NONOHAY (42276/RS)
AM. CURIAE. : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL FEDERAL

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, rejeitou os embargos de


declaração, nos termos do voto do Relator. Plenário, Sessão
Virtual de 18.3.2022 a 25.3.2022.

Composição: Ministros Luiz Fux (Presidente), Gilmar Mendes,


Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Rosa Weber,

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código B095-3E10-4B00-727D e senha 017E-FB83-4548-EDDD
Supremo Tribunal Federal
Extrato de Ata - 28/03/2022

Inteiro Teor do Acórdão - Página 13 de 13

Roberto Barroso, Edson Fachin, Alexandre de Moraes, Nunes Marques


e André Mendonça.

Carmen Lilian Oliveira de Souza


Assessora-Chefe do Plenário

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código B095-3E10-4B00-727D e senha 017E-FB83-4548-EDDD

Você também pode gostar