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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

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01/08/2018 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 105 RONDÔNIA

RELATOR : MIN. CELSO DE MELLO


REQTE.(S) : GOVERNADOR DO ESTADO DE RONDÔNIA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE RONDÔNIA
INTDO.(A/S) : ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE
RONDÔNIA

E M E N T A: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE –


NORMAS INSCRITAS NA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE
RONDÔNIA QUE DISCIPLINAM MATÉRIA INERENTE AO
REGIME JURÍDICO DOS SERVIDORES PÚBLICOS ESTADUAIS –
LIMITAÇÕES AO PODER CONSTITUINTE DECORRENTE –
PRERROGATIVA QUE NÃO SE REVESTE DE CARÁTER ABSOLUTO –
IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DE DEPUTADO ESTADUAL, POR
AUSÊNCIA DE LEGITIMAÇÃO ATIVA, PROPOR, MEDIANTE NORMA
CONSTITUCIONAL LOCAL, A REGULAÇÃO DE MATÉRIA CUJA
DISCIPLINA, NO PLANO MERAMENTE LEGISLATIVO, ESTEJA
SUJEITA À RESERVA DE INICIATIVA DOS PODERES EXECUTIVO
E/OU JUDICIÁRIO – MEDIDA CAUTELAR ANTERIORMENTE
DEFERIDA PELO PLENÁRIO DESTA SUPREMA CORTE –
REAFIRMAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA PELO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL NO TEMA – PRECEDENTES –
PARECER DA PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA PELA
INCONSTITUCIONALIDADE – AÇÃO DIRETA JULGADA
PROCEDENTE.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do


Supremo Tribunal Federal, em Sessão Plenária, sob a Presidência da
Ministra Cármen Lúcia, na conformidade da ata de julgamentos, por
unanimidade de votos, em julgar procedente o pedido formulado na
ação direta, para declarar a inconstitucionalidade dos §§ 8º e 9º do art. 20,

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do art. 23, “caput” e parágrafo único, e do § 6º do art. 48, todos da


Constituição do Estado de Rondônia, nos termos do voto do Relator.

Brasília, 1º de agosto de 2018.

CELSO DE MELLO – RELATOR

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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 105 RONDÔNIA

RELATOR : MIN. CELSO DE MELLO


REQTE.(S) : GOVERNADOR DO ESTADO DE RONDÔNIA
ADV.(A/S) : LEILA LEÃO BOU LTAIF
INTDO.(A/S) : ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE
RONDÔNIA

RE LAT Ó RI O

O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO – (Relator): A douta


Procuradoria-Geral da República assim resumiu e apreciou a presente
controvérsia constitucional, concluindo, em fundamentado parecer, pela
procedência integral da presente ação direta de inconstitucionalidade
(fls. 152/158):

“Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com


pedido liminar, dos arts. 20, §§ 8º e 9º; 23; e 49, § 6º, da Constituição
do Estado de Rondônia, proposta pelo Governador daquele Estado, por
alegada ofensa aos arts. 2º; 61, § 1º, ‘a’; 169, par. único, 195, § 5º e
§ 8º; e 37, XIII, todos da Constituição Federal.
2. Esse colendo Supremo Tribunal Federal, em 22.11.89, por
maioria, nos termos do voto do então relator, Ministro FRANCISCO
REZEK, vencido o Ministro CÉLIO BORJA, deferiu o pedido de
medida liminar para suspender, até o julgamento do mérito, a eficácia
das normas questionadas, em acórdão assim ementado:

‘AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.


MEDIDA LIMINAR DEFERIDA.
Presença, na espécie, de ‘fumus boni juris’ e ‘periculum in
mora’.
Medida liminar deferida.’ (pag.126)

3. A Assembléia Legislativa do Estado de Rondônia


ofereceu informações a fls. 105/110, defendendo, em síntese, a
constitucionalidade das disposições legais atacadas.

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4. Em seguida, após a manifestação da Advocacia-Geral da


União (fls. 139/149), vieram os autos a esta Procuradoria-Geral da
República.
5. Assim foram editados o art. 23 e seu parágrafo único da
Constituição do Estado de Rondônia ora impugnados:

‘Art. 23 – O servidor que contar três anos completos


consecutivos ou cinco anos intercalados de exercício em cargo
comissionado ou função de confiança fará jus a ter adicionadas,
como vantagem pessoal, ao vencimento do respectivo cargo
efetivo, as vantagens inerentes ao cargo em comissão ou função
de confiança que exerceu.
Parágrafo único. Quando mais de um cargo ou função
de confiança houver sido desempenhado, considerar-se-á, para
efeito de cálculo da importância a ser adicionada ao vencimento,
o valor do cargo ou função de confiança de maior remuneração.’

6. Como visto, as normas em tela dispõem acerca da


incorporação de vantagens aos servidores estaduais pelo exercício de
cargos em comissão ou funções de confiança, ou seja, referem-se à
matéria concernente ao regime jurídico de servidores públicos e sua
remuneração, cujo tratamento, na esfera federal, além de possuir
natureza infraconstitucional, é reservado a lei de iniciativa do
Presidente da República, em obediência ao disposto no art. 61, § 1º, II,
‘a’, da Constituição Federal.
7. Certo é que as normas de processo legislativo, inclusive
as de iniciativa reservada do Poder Executivo, são oponíveis ao
constituinte do Estado-membro, que deve observar o modelo de
tripartição de poderes delineado na Constituição da República. Nesse
sentido, copiosa a jurisprudência desse colendo Supremo Tribunal
Federal, exemplificada nas ementas a seguir transcritas:

‘Servidor público: remuneração: equiparação, por


norma constitucional estadual, de Procuradores
Autárquicos e Procuradores do Estado, em vencimentos e
vantagens: inconstitucionalidade formal e material.

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I. Processo legislativo: modelo federal: iniciativa


legislativa reservada: aplicabilidade, em termos, ao poder
constituinte dos Estados-membros.
1. As regras básicas do processo legislativo federal
são de absorção compulsória pelos Estados-membros em
tudo aquilo que diga respeito — como ocorre às que enumeram
casos de iniciativa legislativa reservada — ao princípio
fundamental de independência e harmonia dos poderes, como
delineado na Constituição da República.
2. Essa orientação — malgrado circunscrita em
princípio ao regime dos poderes constituídos do Estado-
-membro — é de aplicar-se em termos ao poder constituinte
local, quando seu trato na Constituição estadual traduza fraude
ou obstrução antecipada ao jogo, na legislação ordinária, das
regras básicas do processo legislativo, a exemplo da área de
iniciativa reservada do executivo ou do judiciário: é o que se dá
quando se eleva ao nível constitucional do Estado-membro
assuntos miúdos do regime jurídico dos servidores públicos, sem
correspondência no modelo constitucional federal, como sucede,
na espécie, com a equiparação em vencimentos e vantagens dos
membros de uma carreira — a dos Procuradores Autárquicos —
aos de outra — a dos Procuradores do Estado: é matéria atinente
ao regime jurídico de servidores públicos, a ser tratada por lei de
iniciativa reservada ao Chefe do Poder Executivo (CF, art. 61,
§ 1º, II, ‘c’).
3. O princípio da irredutibilidade de vencimentos
não inibe a declaração de inconstitucionalidade da norma
de equiparação questionada, cuja invalidade, de resto, não
alcança por si só a identidade da remuneração das carreiras
consideradas, na medida em que, como se afirma, decorre ela de
leis válidas anteriores que a ambas hajam atribuído os mesmos
vencimentos.
II. Controle direto de inconstitucionalidade:
prejuízo. Julga-se prejudicada total ou parcialmente a ação
direta de inconstitucionalidade no ponto em que, depois de seu

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ajuizamento, emenda à Constituição haja abrogado ou derrogado


norma de Lei Fundamental que constituísse paradigma
necessário à verificação da procedência ou improcedência dela
ou de algum de seus fundamentos, respectivamente: orientação
de aplicar-se no caso, no tocante à alegação de
inconstitucionalidade material, dada a revogação primitiva
do art. 39, § 1º, CF 88, pela EC 19/98.’
(ADI-1434/SP, Relator Min. SEPÚLVEDA PERTENCE,
DJ DATA-25-02-00 PP-00050 EMENT VOL-01980-01
PP-00036 , Julgamento em 10/11/1999 – Tribunal Pleno)

‘EMENTA: I. Processo legislativo: modelo federal:


iniciativa legislativa reservada: aplicabilidade, em
termos, ao poder constituinte dos Estados-membros.
1. As regras básicas do processo legislativo federal
são de absorção compulsória pelos Estados-membros em
tudo aquilo que diga respeito — como ocorre às que enumeram
casos de iniciativa legislativa reservada — ao princípio
fundamental de independência e harmonia dos poderes, como
delineado na Constituição da República.
2. Essa orientação — malgrado circunscrita em
princípio ao regime dos poderes constituídos do Estado-
-membro — é de aplicar-se em termos ao poder constituinte
local, quando seu trato na Constituição estadual traduza fraude
ou obstrução antecipada ao jogo, na legislação ordinária, das
regras básicas do processo legislativo, a partir da área de
iniciativa reservada do executivo ou do judiciário: é o que se
dá quando se eleva ao nível constitucional do Estado-membro
assuntos miúdos do regime jurídico dos servidores públicos,
sem correspondência no modelo constitucional federal,
a exemplo do que sucede na espécie com a disciplina de licença
especial e particularmente do direito à sua conversão em
dinheiro.’
(ADI-276/AL, Relator Min. SEPÚLVEDA PERTENCE,
DJ DATA-19-12-97 PP-00040 EMENT VOL-01896-01
PP-00020, J. em 13/11/1997 – Tribunal Pleno)

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8. Da mesma forma, porque contrária à regra de iniciativa


exclusiva do Chefe do Executivo para projetos de lei dispondo acerca
de aposentadoria de servidores públicos (art. 61, § 1º, II, ‘c’, CF/88),
padece de inconstitucionalidade formal o § 8º do art. 20 da
Constituição do Estado de Rondônia, pois disciplina os proventos a
serem recebidos pelo servidor público no ato de sua aposentação, como
depreende-se do seu teor, ‘in verbis’:

‘§ 8º – o servidor público, ao completar 25, 30 ou 35 anos,


na forma da lei, de efetivo exercício, ao se aposentar, receberá um
aumento de gratificação equivalente a vinte por cento de seus
vencimentos ou remuneração, ou ascenderá à classe
imediatamente superior, se houver.’

9. Quanto à análise de uma possível


inconstitucionalidade material do § 8º do art. 20, acima
transcrito, restou prejudicada com o advento da Ementa
Constitucional nº 20, que introduziu novas regras sobre a
aposentadoria dos servidores públicos.
10. Por sua vez, o § 9º do art. 20 da Constituição do Estado de
Rondônia assim dispõe:

‘§ 9º – o salário mínimo dos diplomados pelos cursos


regulares superiores mantidos pelas Escolas de Engenharia, de
Química, de Arquitetura, de Zootecnia, de Agronomia e de
Veterinária é fixado em nove vezes o piso nacional de salários ou
seu equivalente.’

11. Referido dispositivo estabelece piso em múltiplo de


piso salarial, o que, além de violar a regra de iniciativa reservada do
Chefe do Poder Executivo (art. 61, § 1º, II, ‘a’), ofende a norma
contida no art. 37, XIII, que proíbe a vinculação de quaisquer espécies
remuneratórias para efeito de remuneração de serviço público.

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12. Sobre o tema, traz-se à colação a seguinte ementa do


acórdão proferido pelo plenário desse colendo Supremo Tribunal
Federal no julgamento da ADI 1064:

‘ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL. EC Nº 1/93


QUE ACRESCENTOU PARÁGRAFO ÚNICO AO
ART. 35 DA CARTA ESTADUAL, INSTITUINDO
SALÁRIO MÍNIMO PROFISSIONAL PARA
ENGENHEIROS, QUÍMICOS, ARQUITETOS,
AGRÔNOMOS E MÉDICOS VETERINÁRIOS.
Manifesta ofensa ao princípio constitucional da
iniciativa privativa do Chefe do Poder Executivo para leis
que têm por objeto remuneração de servidores. Norma que, de
outra parte, institui vinculação de vencimentos de servidores
estaduais a índice ditado pelo Governo Federal, garantindo-lhes
reajustamento automático, independentemente de lei específica
do Estado, contrariando a norma do art. 37, XIII, da CF e
ofendendo a autonomia do Estado-membro. Procedência da ação,
com declaração de inconstitucionalidade do texto indicado.’
(ADI 1064/MS, Relator Ministro Ilmar Galvão, 7/8/97,
DJ de 26/9/97).

13. Embora o texto do art. 37, XIII, da Constituição


Federal tenha sido alterado, a mudança, ‘in casu’, não é
substancial, de forma a acarretar a prejudicialidade da presente ação
direta, porquanto a proibição de vinculação automática de
vencimentos de servidores públicos já existia na redação originária
daquele dispositivo constitucional.
14. Já o § 6º do art. 48 da Constituição do Estado de
Rondônia foi editado nos seguintes termos:

‘Parágrafo sexto – Fica assegurado aos ocupantes do


Grupo Ocupacional – Atividade de Auditoria, inspeção e
Controle do Tribunal de Contas do Estado a isonomia funcional
com os ocupantes dos cargos do grupo ocupacional – Tributação,
Arrecadação e Fiscalização da Secretaria de Estado da Fazenda.’

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15. A discussão acerca da inconstitucionalidade material


do artigo acima transcrito não é passível de ser examinada em
sede de controle concentrado, em virtude da promulgação da
Emenda Constitucional nº 19, que modificou a redação dos arts. 37,
XIII, e 39, § 1º, da Constituição Federal, que serviam como parâmetro
de constitucionalidade.
16. É que o art. 37, XIII, da Constituição da República
passou a vigorar sem a ressalva do art. 39, § 1º, que, em sua redação
original, preconizava:

‘A lei assegurará aos servidores da administração direta


isonomia de vencimentos para cargos de atribuições iguais ou
assemelhados do mesmo Poder ou entre servidores dos Poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário, ressalvadas as vantagens de
caráter individual e as relativas à natureza ou ao local de
trabalho.’

17. Extirpada a isonomia da ordem constitucional,


impossível fazer-se, em sede de controle concentrado de
constitucionalidade, a verificação da semelhança entre as atribuições
dos cargos em exame, necessária para aferir se a equiparação à época
em que foi editada era materialmente válida, em face da norma
do art. 37, inciso XIII, da Constituição Federal.
18. Ocorre, entretanto, que referido artigo da Constituição do
Estado de Rondônia, também, como os anteriormente examinados,
ressente-se do vício de inconstitucionalidade formal, pois transgride a
competência reservada do Chefe do Poder Executivo para dar início a
projetos de lei acerca da remuneração de servidores públicos.
19. Destarte, forçoso concluir que não há, num exame mais
acurado e de cognição exauriente, razão para se modificar o
entendimento esposado por esse Excelso Pretório quando do
julgamento da medida cautelar.
20. Ante o exposto, opino pela procedência da presente
ação direta, para declarar a inconstitucionalidade do art. 23,
parágrafo único; dos §§ 8º e 9º do art. 20; e do § 6º do art. 48, todos da
Constituição do Estado de Rondônia.” (grifei)

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Este é o relatório, de cujo texto a Secretaria remeterá cópia a todos


os eminentes Senhores Ministros deste Egrégio Tribunal (Lei nº 9.868/99,
art. 9º, “caput”; RISTF, art. 172).

__________________________________________

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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 105 RONDÔNIA

VOTO

O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO – (Relator): A


Assembleia Legislativa do Estado de Rondônia, ao exercer o poder
constituinte decorrente que lhe foi atribuído pela Constituição da
República (ADCT, art. 11, “caput”), elaborou e promulgou a Constituição
daquela unidade da Federação, introduzindo em seu texto as normas ora
impugnadas, que tratam de regime jurídico-administrativo dos servidores
públicos estaduais (arts. 20, §§ 8º e 9º, 23, “caput” e parágrafo único, e 48,
§ 6º).

Todos sabemos, Senhora Presidente, que a autonomia dos


Estados-membros constitui um dos fundamentos essenciais da
configuração conceitual da organização federativa do Estado brasileiro.

Dessa prerrogativa político-jurídica das entidades regionais deriva


o seu poder de auto-organização, que lhes permite definir, mediante
deliberação própria, uma ordem constitucional autônoma.

A Constituição estadual, portanto, representa, no plano local, a


expressão mais elevada do exercício concreto do poder de
auto-organização deferido aos Estados-membros pela Lei Fundamental
da República.

Essa eminente prerrogativa institucional, contudo, não se reveste


de caráter absoluto. Acha-se, ao contrário, submetida, quanto ao seu exercício,
a limitações jurídicas impostas pela própria Constituição Federal, que,
no art. 25, “caput”, estabelece que “Os Estados organizam-se e regem-se

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pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta


Constituição” (grifei).

Delineado esse contexto, cabe advertir que o Estado-membro,


a pretexto de exercer o seu poder constituinte decorrente (que é, por essência,
juridicamente subordinado e, portanto, secundário), não pode transgredir
os postulados fundamentais que regem, no plano de nossa organização
político-jurídica, as relações institucionais entre os Poderes, notadamente
aqueles princípios constitucionais que dispõem sobre a prerrogativa de
instauração do processo de positivação formal do Direito, inclusive no
âmbito das comunidades autônomas locais.

Impende relembrar que a análise da fase introdutória do processo de


formação das leis permite nela distinguir, em face da própria
excepcionalidade de que se reveste, a modalidade de iniciativa exclusiva de sua
instauração.

Nesse contexto, a Lei Fundamental da República elegeu


determinados núcleos temáticos para submetê-los, em regime de absoluta
exclusividade, à iniciativa de determinados órgãos ou agentes estatais,
fazendo-o mediante disciplina também aplicável ao procedimento de
elaboração constitucional, de tal modo que será igualmente vedado ao
Estado-membro introduzir regras de índole constitucional na Carta Política
local veiculadoras, por iniciativa de Deputados Estaduais, de temas para cuja
regulação exista, no que concerne à elaboração de leis, reserva de iniciativa
em favor do Poder Executivo ou do Poder Judiciário.

Isso significa que, onde houver restrição em matéria de elaboração de


leis, como sucede nas hipóteses do art. 61, § 1º, II, do art. 96, I, “d”, e II, e,
ainda, do art. 125, § 1º, “in fine”, todos da Constituição da República, aí
também haverá limitação ao exercício do poder de formulação
constitucional, no que concerne aos Deputados Estaduais, o que justifica,
em face da doutrina e da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a

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impossibilidade jurídica de parlamentares locais proporem, mediante


iniciativa própria, normas constitucionais veiculadoras de tratamento
normativo peculiar, p. ex., ao regime jurídico de servidores públicos.

A natureza especial que assume a cláusula referente à iniciativa


reservada das leis (e, também, das normas constitucionais) caracteriza, em
nosso sistema de direito, derrogação que excepciona o princípio geral da
legitimação concorrente para a instauração do processo de formação das
espécies normativas. Disso decorre, portanto, que não se deve presumir a
incidência da cláusula de reserva, que deve resultar, necessariamente, como
no caso ora em exame, de explícita previsão constitucional.

Cabe registrar, por oportuno, o magistério de JOSÉ AFONSO DA


SILVA (“Curso de Direito Constitucional Positivo”, p. 497/498, 10ª ed.,
1995, Malheiros), para quem a outorga do poder de instauração do
processo legislativo qualificada, “ope constitutionis”, pela nota da
privatividade afasta – em função do caráter extraordinário de que se reveste –
a possibilidade jurídica da coparticipação de terceiros na fase introdutória
do procedimento de produção normativa.

Nesse quadro delineado pela própria Constituição da República, a ação


legislativa do Estado-membro revela-se essencialmente condicionada pela
necessidade de fiel observância e submissão às diretrizes constitucionais
referentes ao postulado da iniciativa reservada, em tema de formação das
leis.

O desrespeito à prerrogativa de iniciar o processo de positivação


formal do Direito, gerado pela usurpação do poder sujeito à cláusula
de reserva, traduz vício jurídico de gravidade inquestionável, cuja
ocorrência reflete típica hipótese de inconstitucionalidade formal, apta a
infirmar, de modo irremissível, a própria integridade jurídica do ato
normativo eventualmente editado.

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Não se pode perder de perspectiva, neste ponto – e especialmente no


que concerne ao sentido da locução constitucional regime jurídico dos
servidores públicos –, que tal expressão exterioriza o conjunto de normas
que disciplinam os diversos aspectos das relações, estatutárias ou
contratuais, mantidas pelo Estado com os seus agentes.

Trata-se, em essência, de noção que, em virtude da extensão de sua


abrangência conceitual, compreende, como enfatiza a jurisprudência desta
Corte (ADI 1.381-MC/AL, Rel. Min. CELSO DE MELLO – ADI 2.867/ES,
Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.), todas as regras referentes
(a) às formas de provimento, (b) às formas de nomeação, (c) à realização
do concurso, (d) à posse, (e) ao exercício, inclusive as hipóteses de
afastamento, de dispensa de ponto e de contagem de tempo de serviço,
(f) às hipóteses de vacância, (g) à promoção e respectivos critérios, bem
como avaliação do mérito e classificação final (cursos, títulos, interstícios
mínimos), (h) aos direitos e às vantagens de ordem pecuniária,
(i) às reposições salariais e aos vencimentos, (j) ao horário de trabalho e
ao ponto, inclusive os regimes especiais de trabalho, (k) aos adicionais
por tempo de serviço, gratificações, diárias, ajudas de custo e
acumulações remuneradas, (l) às férias, licenças em geral, estabilidade,
disponibilidade, aposentadoria, (m) aos deveres e proibições,
(n) às penalidades e sua aplicação e (o) ao processo administrativo.

No caso ora em exame, o legislador constituinte estadual, ao


elaborar as normas pertinentes ao regime jurídico-administrativo dos
servidores públicos estaduais, antecipou-se ao Chefe do Poder Executivo,
impondo-lhe, em matéria sujeita à sua exclusiva esfera de iniciativa, um
vínculo jurídico subordinante que lhe afetou a discricionariedade na
formulação inicial de propostas legislativas.

A rigidez normativa que qualifica as regras ora impugnadas inibe o


titular do poder de iniciativa das leis de exercer, em toda a sua plenitude,
nas matérias postas sob cláusula de reserva, a prerrogativa constitucional

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a ele inerente, que abrange a possibilidade de formulação inicial, ainda


que suscetível de confirmação legislativa posterior, do regime jurídico
dos servidores públicos estaduais.

O comportamento institucional da Assembleia Legislativa, ao


veicular, sob a forma de norma constitucional, o regramento de matéria
peculiar ao regime jurídico dos membros e servidores vinculados aos
Poderes do Estado, incidiu em usurpação do poder de iniciativa das leis (e,
também, de normas constitucionais) reservado, com exclusividade, ao Chefe
do Poder Executivo estadual.

Essa “estranha forma de legislar ordinariamente por meio de emendas


constitucionais” – como a ela, certa vez, referiu-se, em artigo doutrinário, o
saudoso ANACLETO DE OLIVEIRA FARIA (“in” “Revista da
Procuradoria-Geral do Estado de São Paulo”, vol. 13/15, p. 89/104) – tem
incidido na censura jurídica desta Suprema Corte, que já ressaltou, em
diversos precedentes, a impossibilidade de o Legislativo estadual valer-se
dessa forma instrumental, para dispor, normativamente, sobre temas a
respeito dos quais não lhe assiste, no plano do ordenamento
infraconstitucional, qualquer poder de iniciativa.

Cumpre referir, neste ponto, que a jurisprudência firmada pelo


Supremo Tribunal Federal, em sucessivos julgamentos, na matéria em
questão (ADI 89/MG, Rel. Min. ILMAR GALVÃO – ADI 231/RJ,
Rel. Min. MOREIRA ALVES – ADI 821/RS, Rel. Min. GILMAR MENDES –
ADI 3.295/AM, Rel. Min. CEZAR PELUSO – ADI 3.555/MA, Rel. Min.
CEZAR PELUSO – ADI 3.627/AP, Rel. Min. TEORI ZAVASCKI, v.g.) tem
repelido esse comportamento institucional das Assembleias Legislativas
estaduais:

“A iniciativa reservada das leis que versem o regime


jurídico dos servidores públicos revela-se, enquanto prerrogativa
conferida pela Carta Política ao Chefe do Poder Executivo,
projeção específica do princípio da separação de poderes.

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Incide em inconstitucionalidade formal a norma inscrita


em Constituição do Estado que, subtraindo a disciplina da
matéria ao domínio normativo da lei, dispõe sobre provimento de
cargos que integram a estrutura jurídico-administrativa do Poder
Executivo local.”
(ADI 248/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO)

“Ação Direta de Inconstitucionalidade. 2. Emenda


Constitucional nº 35/2005, do Estado do Rio de Janeiro, que cria
instituição responsável pelas perícias criminalística e médico-legal.
3. Inconstitucionalidade formal: matéria de iniciativa
privativa do Chefe do Poder Executivo. 4. Violação, pelo poder
constituinte decorrente, do princípio da separação de poderes,
tendo em vista que, em se tratando de Emenda à Constituição
estadual, o processo legislativo ocorreu sem a participação do Poder
Executivo. 5. Precedentes. 6. Ação julgada procedente.”
(ADI 3.644/RJ, Rel. Min. GILMAR MENDES – grifei)

“CARTA ESTADUAL – MATÉRIA RESERVADA


À INICIATIVA DO GOVERNADOR –
INCONSTITUCIONALIDADE. Surge inconstitucional
disciplina, na Carta do Estado, de matéria cuja iniciativa de
projeto é reservada ao Governador, como ocorre se, mediante
preceito, dispõe-se sobre a revisão concomitante e automática de
valores incorporados à remuneração de servidores públicos em razão
do exercício de função ou mandato quando reajustada a remuneração
atinente à função ou ao cargo paradigma – artigo 89, § 6º, da
Constituição do Estado do Rio de Janeiro. (...).”
(ADI 3.848/RJ, Rel. Min. MARCO AURÉLIO – grifei)

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.


EMENDA CONSTITUCIONAL QUE DISPÕE SOBRE
REGIME JURÍDICO DOS SERVIDORES MILITARES DO
ESTADO DE RONDÔNIA. PROJETO ORIGINADO NA
ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA. INCONSTITUCIONALIDADE
FORMAL. VÍCIO RECONHECIDO. VIOLAÇÃO À RESERVA

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DE INICIATIVA DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO. AÇÃO


JULGADA PROCEDENTE.
I – À luz do princípio da simetria, a jurisprudência desta
Suprema Corte é pacífica ao afirmar que, no tocante ao regime
jurídico dos servidores militares estaduais, a iniciativa de lei
é reservada ao Chefe do Poder Executivo local por força do
artigo 61, § 1º, II, ‘f’, da Constituição.
II – O vício formal não é superado pelo fato de a
iniciativa legislativa ostentar hierarquia constitucional.
III – Ação direta julgada procedente para declarar a
inconstitucionalidade do artigo 148-A da Constituição do
Estado de Rondônia e do artigo 45 das Disposições Constitucionais
Transitórias da Carta local, ambos acrescidos por meio da Emenda
Constitucional 56, de 30 de maio de 2007.”
(ADI 3.930/RO, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI –
grifei)

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.


EMENDA CONSTITUCIONAL QUE DISPÕE SOBRE
REGIME JURÍDICO DOS SERVIDORES PÚBLICOS DO
ESTADO DE MATO GROSSO. PROJETO ORIGINADO NA
ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA. INCONSTITUCIONALIDADE
FORMAL. VÍCIO RECONHECIDO. VIOLAÇÃO À RESERVA
DE INICIATIVA DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO.
EXISTÊNCIA, TAMBÉM, DE VÍCIO DE
INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL. LIMITE ÚNICO.
SUBSÍDIOS DE PARLAMENTAR LIMITADO AO DOS
DESEMBARGADORES. VINCULAÇÃO DE ESPÉCIES
REMUNERATÓRIAS. IMPOSSIBILIDADE. AÇÃO JULGADA
PROCEDENTE.
I – A iniciativa de lei que disponha sobre o regime jurídico
dos servidores públicos é reservada ao Chefe do Poder
Executivo local por força do artigo 61, § 1º, II, ‘c’, da Constituição
Federal.
…..................................................................................................

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IV – Ação direta julgada procedente para declarar a


inconstitucionalidade da Emenda Constitucional 54, de 26 de
agosto de 2008, que modificou o art. 145, §§ 2º e 4º, da Constituição
do Estado de Mato Grosso.”
(ADI 4.154/MT, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI –
grifei)

Essa orientação jurisprudencial, que já se delineara na vigência do


regime constitucional anterior (RTJ 46/441 – RTJ 57/358 – RTJ 57/384 –
RTJ 92/1000 – RTJ 99/555 – RTJ 108/980, v.g.), segue prestigiada, agora sob
a égide da vigente Constituição da República, pelo Plenário desta Corte
(ADI 2.616/PR, Rel. Min. DIAS TOFFOLI – ADI 2.654/AL, Rel. Min. DIAS
TOFFOLI – ADI 4.284/RR, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI –
ADI 5.075/DF, Rel. Min. ROBERTO BARROSO, v.g.), que, ao realçar esse
particular aspecto da controvérsia constitucional, assim se tem pronunciado:

“1. A inserção, no texto constitucional estadual, de


matéria cuja veiculação por lei se submeteria à iniciativa
privativa do Poder Executivo subtrai a este último a
possibilidade de manifestação, uma vez que o rito de aprovação
das Constituições de Estado e de suas emendas, a exemplo do que se
dá no modelo federal, não contempla sanção ou veto da chefia
do Executivo.
2. ‘In casu’, trata-se de dispositivo de Constituição
Estadual que dispõe sobre política remuneratória de servidores
públicos do Poder Executivo, o que, como já reiteradas vezes
decidido por esta Corte, traduz-se em burla à reserva de
iniciativa legislativa do tema à chefia do Poder Executivo
estadual, à luz do disposto no art. 61, § 1º, II, ‘a’, da Constituição
Federal, norma de reprodução obrigatória em sede estadual por
força do princípio da independência e harmonia entre os Poderes
(art. 2º) e que não pode ser afastada nem mesmo no exercício do
Poder Constituinte Decorrente. Precedentes do STF: ADI 3295,
Rel. Min. Cezar Peluso, j. 30.06.2011; ADI 3930, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, j. 16.09.2009; ADI 4154, Rel. Min. Ricardo

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Lewandowski, j. 26.05.2010; ADI 3644, Rel. Min. Gilmar Mendes,


j. 04.03.2009; ADI 3555, Rel. Min. Cezar Peluso, j. 04.03.2009 etc..
…..................................................................................................
4. Pedido julgado procedente, para declaração de
inconstitucionalidade do art. 47, ‘caput’, da Constituição do
Estado da Bahia. (…).”
(ADI 3.777/BA, Rel. Min. LUIZ FUX – grifei)

As razões que venho de expor permitem atribuir legitimidade


jurídica à tese exposta pelo autor, que bem demonstrou a relação de
conflito hierárquico-normativo entre os princípios fundamentais
consagrados pela Carta Política e as normas estatais ora impugnadas.

Sendo assim, tendo em consideração as razões expostas, notadamente os


precedentes invocados, e acolhendo, ainda, o douto parecer do eminente
Procurador-Geral da República, julgo procedente a presente ação
direta, para declarar a inconstitucionalidade dos §§ 8º e 9º do art. 20,
do art. 23, “caput” e parágrafo único, e do § 6º do art. 48, todos da
Constituição do Estado de Rondônia.

É o meu voto.

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01/08/2018 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 105 RONDÔNIA

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO – Presidente, são 14


processos envolvendo ataque a leis estaduais. A única justificativa
aceitável para a Advocacia-Geral da União intervir nesses processos está
na Constituição Federal. Ela o faz como curadora da norma impugnada. E
esse princípio lembra-me de outro de Direito Penal: o pior acusado em
processo-crime merece defesa. Portanto, previu-se que haveria a defesa,
pela Advocacia-Geral da União, da lei questionada. Atua como curadora
do ato normativo e não deve maltratar a curatelada, que é a lei. Por isso
faço ressalvas, apenas ressalva, quanto aos processos que estão nos itens
9, 10, 12 e 14 da lista.

O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO – (Relator): Conheço


e respeito a posição do eminente Ministro MARCO AURÉLIO na questão
referida por Sua Excelência.

O meu voto reflete o entendimento dominante na jurisprudência do


Supremo Tribunal Federal a propósito da atuação do Advogado-Geral da
União no processo de fiscalização concentrada de constitucionalidade.

Esta Suprema Corte firmou diretriz jurisprudencial a respeito do


sentido e do alcance da norma inscrita no § 3º do art. 103 de nossa Carta
Política, enfatizando que o Advogado-Geral da União – que, em princípio,
atua como curador da presunção de constitucionalidade do ato impugnado
(RTJ 131/470 – RTJ 131/958 – RTJ 170/801-802, v.g.) – não está obrigado a
defender o diploma estatal, se este veicular conteúdo normativo já
declarado incompatível com a Constituição da República pelo Supremo
Tribunal Federal em julgamentos proferidos no exercício de sua
jurisdição constitucional, tal como sucede no caso ora em exame.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO – É só por coerência.


Desde o início, sustento esse entendimento.

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Extrato de Ata - 01/08/2018

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PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 105


PROCED. : RONDÔNIA
RELATOR : MIN. CELSO DE MELLO
REQTE.(S) : GOVERNADOR DO ESTADO DE RONDÔNIA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE RONDÔNIA
INTDO.(A/S) : ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE RONDÔNIA

Decisão: O Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto do


Relator, julgou procedente o pedido formulado na ação direta, para
declarar a inconstitucionalidade dos §§ 8º e 9º do art. 20, do
art. 23, caput e parágrafo único, e do § 6º do art. 48, todos da
Constituição do Estado de Rondônia. Presidiu o julgamento a
Ministra Cármen Lúcia. Plenário, 1º.8.2018.

Presidência da Senhora Ministra Cármen Lúcia. Presentes à


sessão os Senhores Ministros Celso de Mello, Marco Aurélio, Gilmar
Mendes, Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli, Luiz Fux, Rosa Weber,
Roberto Barroso, Edson Fachin e Alexandre de Moraes.

Procuradora-Geral da República, Dra. Raquel Elias Ferreira


Dodge.

p/ Doralúcia das Neves Santos


Assessora-Chefe do Plenário

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