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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

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21/08/2017 PRIMEIRA TURMA

AG.REG. NA AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA 457 RORAIMA

RELATORA : MIN. ROSA WEBER


AGTE.(S) : ESTADO DE RORAIMA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE RORAIMA
AGDO.(A/S) : UNIÃO
ADV.(A/S) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
AGDO.(A/S) : MUNICIPIO DE BOA VISTA
ADV.(A/S) : VALENTINA WANDERLEY DE MELLO

EMENTA

AGRAVO REGIMENTAL EM AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA.


PRETENSÃO DECLARATÓRIA DE INTERPRETAÇÃO DO ART. 14, § 2º,
DO ADCT C/C ART. 15 DA LC Nº 41/81. INTERESSE DE AGIR.
AUSÊNCIA. SUPERVENIENTE ENTRADA EM VIGOR DA LEI Nº
10.304/2001 A EXPLICITAR A DECLARAÇÃO BUSCADA PELO AUTOR
E REFORÇAR A CARÊNCIA DA AÇÃO. AGRAVO REGIMENTAL NÃO
PROVIDO.
1. Não se admite ação declaratória sobre pura questão abstrata, seja
de fato ou de direito, menos ainda sobre interpretação da Constituição ou
das leis em geral, uma vez que tal constituiria mera consulta ao Poder
Judiciário, em busca de uma declaração em tese.
2. Carece o autor do interesse processual, condição da ação, diante
de pedido de declaração do que entende seja o teor ou a interpretação do
art. 14 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, c/c art. 15 da
LC nº 41/81, ainda mais diante da superveniente entrada em vigor da Lei
nº 10.304/2001 e do Decreto nº 6.754/2009.
3. Agravo regimental conhecido e não provido, com aplicação, no
caso de votação unânime, da multa prevista no art. 1.021, § 4º, do
CPC/2015, calculada à razão de 5% (cinco por cento) sobre o valor
atualizado da causa.

ACÓRDÃO

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Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do


Supremo Tribunal Federal em conhecer do agravo regimental e negar-lhe
provimento, com aplicação da penalidade prevista no art. 1.021, § 4º, do
CPC/2015, nos termos do voto da Relatora e por unanimidade de votos,
em sessão virtual da Primeira Turma de 11 a 18 de agosto de 2017, na
conformidade da ata do julgamento.

Brasília, 19 de agosto de 2017.

Ministra Rosa Weber


Relatora

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21/08/2017 PRIMEIRA TURMA

AG.REG. NA AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA 457 RORAIMA

RELATORA : MIN. ROSA WEBER


AGTE.(S) : ESTADO DE RORAIMA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE RORAIMA
AGDO.(A/S) : UNIÃO
ADV.(A/S) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
AGDO.(A/S) : MUNICIPIO DE BOA VISTA
ADV.(A/S) : VALENTINA WANDERLEY DE MELLO

RELATÓRIO

A Senhora Ministra Rosa Weber (Relatora): Trata-se de agravo


regimental contra decisão monocrática de minha lavra (fls. 410-26), que
julgou extinta a presente ação cível originária, sem resolução de mérito,
ante a falta de interesse processual do autor.

Eis o teor da decisão impugnada:

“Tratam os presentes autos de Ação Cível Originária


proposta pelo Estado de Roraima contra a União e o Município
de Boa Vista, pretendendo seja a ação julgada procedente para
(sic) declarar como do Autor, todas as terras do ex-território federal de
Roraima, excluídos os títulos definitivos anteriormente expedidos em
nome de terceiros antes de 05 de outubro de 1988 e a faixa de terras de
até 150 quilômetros de largura na área de fronteiras, que
evidentemente pertence à União, nos termos do art. 20, § 2º, da
Constituição Federal (sic), conforme a exordial das fls. 19-20.
Na exposição dos fundamentos do pedido, relata a inicial
que, criado o Território de Roraima em 1943, pelo então
presidente Getúlio Vargas, por meio do Decreto-Lei nº 5.812, de
13 de setembro daquele ano, passaram à propriedade da União,
por força de tal ato normativo, todos os bens que, pertencendo aos
Estados ou municípios na forma da Constituição e das leis em vigor,
se acham situados nos Territórios delimitados no artigo precedente

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(fls.04). Acresce que, com o advento da CF/88 e a transformação


do Território no novel Estado de Roraima, os bens havidos
como da União, nos termos do decreto-lei mencionado,
passaram à titularidade do novo Estado.
Ainda segundo as alegações autorais, o Estado de
Roraima, criado pela Constituição Federal de 1988, permaneceu
política e administrativamente como Território Federal até 1º de
janeiro de 1991, data em que empossados os agentes políticos
eleitos em 1990. E isso porque efetivamente instalado apenas
com a posse dos agentes políticos, conforme a dicção do § 1º do
art. 14 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, in
verbis:
Art. 14 (...)
§ 1º - A instalação dos Estados dar-se-á com a posse
dos governadores eleitos em 1990.
(…)
Narra a inicial, na sequência, que no dia 26 de janeiro de
1990, o então governador de Roraima, já sob a égide da Constituição
de 1988, porém ainda nomeado pelo Poder Executivo da União,
baixou o Decreto nº 118, publicado no Diário Oficial do dia 26 do
mesmo mês e ano, transferindo a título gratuito a área de terras
descrita no referido decreto para a titularidade do Município de
Boa Vista (fls. 06).
Tais terras, explique-se, pertenciam ao referido Município
antes da criação do Território, ocasião na qual, conforme já
assentado, transferidas para o domínio da União. Confira-se o
texto do Decreto nº 118/88:
Art. 1º - É reintegrada ao patrimônio da Prefeitura
Municipal de Boa Vista a área de terras de 4.349,6094
(quatro mil, trezentos e quarenta e nove hectares, sessenta
hares e noventa centiares) com perímetro de 28.154 m
(vinte e oito mil, cento e cinquenta e quatro metros
lineares) que é limitado ao Norte pelo rio Cauamé, com
um desenvolvimento de 7.635m, e Este, por uma linha
reta, que partindo de um lugar denominado Tapera do
Campos à margem do rio Branco, termina o Igapó

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chamado Curupira como desenvolvimento de 5.970 m, e


pelo Oeste, pelos rios Caranau e Paricuman por uma linha
reta que ligando os dois rios fazem um desenvolvimento
do 1.269 m, e Frente com 5.970m.
Art. 2º - A área definida no art. 1º é objeto de Título
Definitivo expedido pelo Estado do Amazonas em 30 de
janeiro de 1899 a favor da Intendência Municipal de Boa
Vista, reconhecida legítima pelo Instituto nacional de
Colonização e Reforma Agrária INCRA, conforme ofício
nº 437, de 13 de setembro de 1976.
Art. 3º - São estremeados da reintegração:
I os loteamentos instituídos pelo Governo de
Roraima, bem como os lotes do objeto de contrato de
promessa de compra e venda e de posse celebrados com o
Governo;
II os lotes sobre os quais incidem benfeitorias
realizadas por pessoas jurídicas de direito público;
III as áreas a que se referem o item II e o § 2º do item
XI, ambos do art. 20 da Constituição Federal;
IV os lotes de propriedade legalmente definida;
V os lotes destinados à construção das instalações
dos Órgãos do Poder Judiciário, do Ministério Público e
da Defensoria Pública do Estado, dos órgãos do Poder
Judiciário da União, do Ministério Publico Federal e da
Representação da Advocacia Geral da União e do Campus
da Universidade Federal de Roraima;
VI os terrenos públicos do Estado, e os terrenos cuja
propriedade tenha sido requerida ao Governo do Estado
até a data de publicação deste decreto )L);
Art. 4º - Este Decreto (L) entra em vigor na data de
sua publicação.
(…)
Nessa linha, sustenta o Estado autor a
inconstitucionalidade do Decreto nº 118/90. Defende a tese de
que, sendo Roraima ainda um território federal quando da
alienação das terras, impunha-se a observância do art. 48, V, da

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Constituição Federal.
Informa, ato-contínuo, que o Decreto nº 118/90 veio a ser
anulado pelo Governador eleito do Estado, por meio do Decreto
nº 279, de 05 de junho de 1992, diante do rosário de ilegalidades
cometidos pelo seu predecessor (sic, fls. 18), por supostamente
eivado de nulidade insanável, passível de correção pela via
administrativa.
Tal anulação, contudo - ainda segundo a inicial, não se
mostrou suficiente para tranquilizar a população roraimense
quanto à situação fundiária do Estado, o que o obriga ao
ajuizamento de diversas ações para a reivindicação de imóveis
transferidos a sua titularidade com o ato de criação pela CF/88.
Daí o interesse no provimento judicial declaratório, a uma só
vez, de pertencerem ao ente federativo autor todas as terras
que compunham o ex-território federal de Roraima.
Regularmente citados, os réus contestaram o feito, tendo a
União pugnado pelo reconhecimento de sua ilegitimidade
passiva para a causa e da impossibilidade jurídica do pedido
deduzido. O Município de Boa Vista, por seu turno, arguiu, em
sede de preliminares, a carência da ação e a litispendência. No
mérito, aduziu que o objeto da presente lide constitui,
precipuamente, a base territorial do ente federativo municipal,
um de seus elementos constitutivos, visto não se poder falar de
município sem uma base territorial autônoma. Alega, na
sequência, que a Constituição foi clara ao determinar que os
novos Estados teriam sua criação e implantação procedidas sob
os mesmos critérios adotados quando da criação do Estado de
Rondônia, quais sejam, os postos na Lei Complementar nº 41,
de 22 de dezembro de 1981. Argumenta, por fim, que o atacado
Decreto nº 118/90 foi editado com estrita obediência à Lei
Complementar mencionada, bem como ratificado
expressamente pela Assembleia Legislativa do Estado de
Roraima, por meio do Decreto Legislativo nº 13/1992.
Às fls. 174-84, o Ministério Público Federal enfatiza a
abrangência do pedido deduzido, não limitado às terras
transferidas ao Município de Boa Vista, e sim a alcançar terras

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em todo o território estadual. Confira-se:


(...)
É sumamente estranhável, em verdade, que assim
argumentem o Autor ESTADO DE RORAIMA e o Réu
MUNICÍPIO DE BOA VISTA, visto como a ampla latitude
desde ação faz-se manifesta, eis que decorre dos estritos
termos do petitum formulado, o qual sem qualquer
ressalva almeja ver:
... a mesma julgada procedente, para declarar
como do autor todas as terras do ex-território federal
de Roraima, excluídos os títulos definitivos
anteriormente expedidos em nome de terceiros antes
de 05 de outubro de 1988 e a faixa de terras de até
150 quilômetros de largura na área de fronteiras, que
evidentemente pertence à União, nos termos do art.
20 § 2º da Constituição Federal.
(...)
(fls. 178)
Ao invocar a amplitude do pedido, fez o Parquet acostar
aos autos farta documentação procedente da FUNAI, a fim de
sustentar a legitimidade passiva da União para a causa, uma
vez abarcadas pelo litígio fatalmente áreas de territórios
tradicionalmente ocupados por índios, indiscutivelmente bens
da União, nos termos da CF/88, não excluídos de forma
expressa do pedido.
Decisão à fl. 305, na qual reconhecida a legitimidade
passiva ad causam da União.
Intimadas, as partes não apresentaram requerimento de
novas provas, além dos documentos já carreados aos autos,
tendo sido, na sequência, intimadas para apresentarem
alegações finais (RI/STF art. 249).
A União, ponderando haver robusta prova da existência
de territórios indígenas na área em litígio, prova esta que
apontaria com precisão o nome da terra indígena, o grupo e o
Município de localização dos aldeamentos (documentação de
fls. 188/279), requer a improcedência do pedido relativamente a

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essas áreas.
Em seu parecer, o MPF arguiu a inépcia da inicial, ao
argumento de não decorrer, a conclusão pretendida,
logicamente da narração dos fatos articulados, e da
impossibilidade jurídica do pedido. Acresce que teria havido
alteração do pedido após a fase postulatória, o que é vedado
pela legislação processual.
Por fim, comparece o Estado de Roraima,
intempestivamente, apresentando suas considerações finais (fls.
334/370), nas quais pugna pelo não acolhimento dos
requerimentos de extinção do processo sem resolução do
mérito, especialmente a alegação de inépcia da petição inicial,
trazida pelo MPF em sua última manifestação. No ponto,
informa que tanto as partes passivas quanto o Ministério
Público retiram suas conclusões de interpretação equivocada do
pedido deduzido na exordial. Com efeito, esclarece, no esteio
do quanto ponderado pelo MPF na manifestação das fls. 174-84,
que a presente ação não possui como objeto apenas a gleba de
4.349,6094 ha alienada ao Município de Boa Vista. Este seria,
segundo alega, apenas um exemplo arrolado na inicial da
situação fundiária instalada, bem como da necessidade de se obter
um provimento judicial declaratório que se apresente como baliza,
para que outras questões semelhantes não venham a surgir (fls. 354).
O pedido deduzido se referiria, ao contrário, à totalidade de
terras anteriormente integrantes do domínio da União Federal
no ex-Território Federal de Roraima (fls. 253). Em outras
palavras, o provimento declaratório pretendido há de abranger
todo o território do Estado, excluídos, apenas, as áreas objeto de
direito de terceiros por título legítimo anterior à CF/88 e os bens
por esta Carta reservados à União, v.g. as terras
tradicionalmente ocupadas pelos índios.
Quanto ao mérito, defende a procedência do pedido
declaratório, reiterando os termos da exordial.
Intimadas as partes intimadas a se manifestarem sobre a
possibilidade de remessa dos autos à Câmara de Conciliação e
Arbitragem da Administração Pública Federal - CCAF, vieram a

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fazê-lo expressamente no sentido do desinteresse na sugerida


composição.
Autos conclusos.
É o relatório do essencial. Decido:
1. Prevê o vigente Código de Processo Civil que o
interesse da parte autora no ajuizamento de uma demanda
pode estar circunscrito ao provimento de uma declaração pelo
Poder Judiciário. Confira-se:
Art. 4º. O interesse do autor pode limitar-se à
declaração:
I - da existência ou da inexistência de relação
jurídica;
II - da autenticidade ou falsidade de documento.
Parágrafo único. É admissível a ação declaratória,
ainda que tenha ocorrido a violação do direito.
Trata-se, a ação declaratória, de ação destinada a que o
juiz certifique ou declare uma relação jurídica havida entre as
partes, eliminando a falta de certeza que a sombreava. Não
terão tais ações, como largamente sabido, sentenças executáveis,
sendo a mera declaração judicial, com força de coisa julgada -
nesta força residindo sua utilidade maior -, bastante para
satisfazer o interesse do autor.
Sem cuidar de esmiuçar a vasta casuística relativa ao
cabimento da ação declaratória, cumpre assentar que, a
exemplo do que ocorre com as demais espécies de ação,
somente será cabível a declaratória quando do seu sucesso
puder resultar a satisfação, para o autor, do bem da vida que
vem a juízo pleitear. Em outras palavras, uma demanda
somente poderá ser ajuizada se presente o interesse processual,
um dos três institutos que compõem a tríade das condições da
ação.
Conforme bem assenta a doutrina pátria, somente haverá
interesse processual se do processo puder advir resultado
favorável ao demandante, sendo certo que existem dois fatores
sistemáticos muito úteis para a aferição do interesse de agir, como
indicadores da presença desses: a necessidade da realização do

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processo e a adequação do provimento jurisdicional postulado.


Outrossim, haverá utilidade quando a providência
requerida se revele apta a tutelar, de maneira tão completa quanto
possível, a situação jurídica do requerente. Sem antever no
provimento pretendido a capacidade de oferecer essa espécie de
vantagem a quem o postula, nega-se a ordem jurídica a emiti-lo e,
mais que isso, nega-se a desenvolver aquelas atividades
ordinariamente predispostas à sua emissão (processo, procedimento,
atividade jurisdicional).
Tais considerações se mostram cabíveis na espécie, tendo
em vista que é exatamente a partir do contexto doutrinário que
permeia o cabimento das ações meramente declaratórias,
espécie de que ora se vale o autor, mormente no que diz
respeito às particularidades do interesse de agir em tais
hipóteses, que se há de analisar as arguições de carência da ação
lançadas pelas partes rés, obviamente em face do pedido
deduzido na exordial.
Ora, de tudo quanto arrazoado pelo autor, vê-se que quer
ver declaradas como de sua propriedade todas as terras que, à
época da existência do território federal de Roraima,
constituíam patrimônio da União e que, com o advento da
Constituição Federal de 1988, passaram ou deveriam ter
passado à titularidade do então recém-criado Estado de
Roraima. Em outras palavras, pretende que o Judiciário declare
ou certifique o alcance do disposto na Constituição Federal e a
Lei Complementar nº 41/81, esta última referida pelo ADCT no
§2º de seu art. 14. Confira-se o Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias:
Art. 14. Os Territórios Federais de Roraima e do
Amapá são transformados em Estados Federados,
mantidos seus atuais limites geográficos.
§ 1º - A instalação dos Estados dar-se-á com a posse
dos governadores eleitos em 1990.
§ 2º - Aplicam-se à transformação e instalação dos
Estados de Roraima e Amapá as normas e critérios
seguidos na criação do Estado de Rondônia, respeitado o

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disposto na Constituição e neste Ato.


§ 3º - O Presidente da República, até quarenta e cinco
dias após a promulgação da Constituição, encaminhará à
apreciação do Senado Federal os nomes dos governadores
dos Estados de Roraima e do Amapá que exercerão o
Poder Executivo até a instalação dos novos Estados com a
posse dos governadores eleitos.
§ 4º - Enquanto não concretizada a transformação em
Estados, nos termos deste artigo, os Territórios Federais de
Roraima e do Amapá serão beneficiados pela transferência
de recursos prevista nos arts. 159, I, "a", da Constituição, e
34, § 2º, II, deste Ato.
Bem assim, confira-se a Lei Complementar nº 41/81:
Art. 15 - Ficam transferidos ao Estado de Rondônia o
domínio, a posse e a administração dos seguintes bens
móveis e imóveis:
I - os que atualmente pertencem ao Território Federal
de Rondônia;
II - os efetivamente utilizados pela Administração do
Território Federal de Rondônia;
III - rendas, direitos e obrigações decorrentes dos
bens especificados nos incisos I e II, bem como os relativos
aos convênios, contratos e ajustes firmados pela União, no
interesse do Território Federal de Rondônia.
Não é necessário muito esforço para que se perceba que o
pretendido pela parte autora constitui a declaração da
interpretação do dispositivo constitucional acima citado,
combinado com o art. 15 da Lei Complementar nº 41/81. De
outro flanco, igualmente observa-se que o Estado de Roraima
formula demanda acintosamente abstrata, não se referindo a
qualquer relação jurídica específica, concreta, que deseje seja
declarada existente ou inexistente, sendo esta, como antes se
assentou, a hipótese de cabimento da ação declaratória. Pontue-
se que, conforme o próprio autor, seu pedido e sua causa de
pedir nem mesmo são relativos ao território objeto do citado
Decreto nº 118/88. Apenas pede que se declare como suas as

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terras que a CF/88, em tese, afirma serem suas. Tais


circunstâncias da presente demanda põe em evidência a
carência de interesse processual do autor, em sua vertente de
necessidade e utilidade.
É que, anote-se, remansosa a jurisprudência pátria quanto
à necessidade de que a ação declaratória tenha por objeto,
obrigatoriamente, uma relação jurídica concreta, decorrente de
fatos precisos e determinados ou, conforme de maneira excepcional
franqueado pelo inciso II do art. 4º do Código de Processo Civil,
a falsidade ou autenticidade de um documento. Não se admite,
assim, ação declaratória sobre pura questão abstrata, seja de
fato ou de direito, menos ainda sobre interpretação da
Constituição ou das leis em geral, uma vez que tal constituiria
mera consulta ao Poder Judiciário, em busca de uma declaração
em tese.
Em seus comentários acerca do referido dispositivo legal,
Nelson Nery Júnior e Rosa Maria de Andrade Nery
prelecionam:
1. Interesse na ação declaratória. É inadmissível a
utilização de ação declaratória como forma de consulta ao
Poder Judiciário, motivo pelo qual não cabe ação
declaratória para simples interpretação de tese jurídica ou
de questão de direito (RTJ 113/1322, RJTJSP 94/81). Daí ser
condição para o ajuizamento da ação a necessidade de se
ir a juízo pleitear a tutela jurisdicional, com força de coisa
julgada, sobre a existência ou inexistência de relação
jurídica ou sobre autenticidade ou falsidade de
documento. A incerteza ou dúvida sobre a relação jurídica
são circunstâncias subjetivas, razão porque irrelevantes
para a caracterizarem o interesse processual na ação
declaratória (Lopes. Ação declaratória, 3.4.3.1, p. 53). Mas
se não houver dúvida ou incerteza sobre a relação jurídica
descabe ação declaratória (RJTJSP 107/325, 107/83.
Cuide-se de outro exemplo da jurisprudência pátria sobre
o tema, aqui transcrita apenas no pertinente à matéria
examinada:

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TRIBUTÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO


DECLARATÓRIA. MULTA MORATÓRIA. FALTA DE
INTERESSE DE AGIR. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM
RESOLUÇÃO DE MÉRITO. ART. 138, DO CTN. ART. 61,
DA LEI N.º 9.430/96. INTERPRETAÇÃO.
1. A ação declaratória não é servil à simples
interpretação de tese jurídica ou de questão de direito,
revelando a sua propositura com esse escopo ausência de
interesse de agir, posto transfigurar o judiciário como
mero órgão de consulta.
2. In casu, o Tribunal a quo, ao analisar a situação
fática dos autos, aduziu que:
A demanda formulada é abstrata, não se referindo a
qualquer relação jurídica existente: a autora apenas pede
que, nas eventuais denúncias espontâneas que porventura
possa vir a fazer, não lhe seja exigida a multa de mora
(fl. 136).
3. O interesse jurídico-processual, uma das condições
do exercício do direito de ação, deflui do binômio
necessidade-utilidade da prestação jurisdicional, sendo
certo que: O interesse, como conceito genérico, representa
a relação entre um bem da vida e a satisfação que o
mesmo encerra em favor de um sujeito. Esse interesse
assume relevo quando juridicamente protegido fazendo
exsurgir o direito subjetivo de natureza substancial. Ao
manifestar seu interesse, o sujeito do direito pode ver-se
obstado por outrem que não reconhece aquela proteção
jurídica. Em face da impossibilidade de submissão do
interesse substancial alheio ao próprio por via da
violência, faz-se mister a intervenção judicial para que se
reconheça, com a força da autoridade, qual dos dois
interesses deve sucumbir e qual deles deve sobrepor-se. À
negação de submissão de um interesse ao outro,
corresponde um tipo de interesse que é o de obter a
prestação da tutela jurisdicional, com o fim de fazer
prevalecer a aspiração própria sobre a de outrem,

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definindo o Judiciário qual delas é a que encontra


proteção jurídica. Essa situação que reclama a intervenção
judicial sob pena de um dos sujeitos sofrer um prejuízo
em razão da impossibilidade de autodefesa é que
caracteriza o interesse de agir.' Por essa razão, já se
afirmou em bela sede doutrinária que a função
jurisdicional não pode ser movimentada sem que haja um
motivo. Destarte, como de regra, o interesse substancial
juridicamente protegido nada tem a ver com o interesse
meramente processual de movimentar a máquina
judiciária. Assim, v.g., não pode o credor mover uma ação
de cobrança sem que a dívida esteja vencida, tampouco
pode o locador despejar o inquilino antes de decorrido o
prazo de notificação que a lei lhe confere para desocupar
voluntariamente o imóvel etc.. Advirta-se, entretanto, que
alguns direitos só podem ser exercidos em juízo, como por
exemplo, o direito à separação entre os cônjuges, ou o
direito-dever de interditar alguém que esteja sofrendo de
suas faculdades mentais etc.. Nesses casos, o interesse de
agir nasce juntamente com o direito substancial; por isso,
por exemplo, um casal não pode separar-se
extrajudicialmente, tampouco é possível interditar-se
alguém por ato particular de vontade. Tratam-se de
hipóteses de jurisdição necessária, onde o interesse de agir
é imanente. Outrossim, cada espécie de ação reclama um
interesse de agir específico. Assim, na ação declaratória
em que a parte pleiteia que o Estado-juiz declare se é
existente ou não uma determinada relação jurídica, mister
que paire dúvida objetiva e jurídica sobre a mesma, para
que o judiciário não seja instado a definir um pseudo
litígio como mero órgão de consulta. Em consequência,
não cabe ação declaratória para interpretação do direito
subjetivo; bem como para indicar qual a legislação
aplicável ao negócio jurídico objeto mediato do pedido.
(Luiz Fux, in "Curso de Direito Processual Civil", Vol.. I, 3ª
Ed., Rio de Janeiro, 2008, págs.. 162/163).

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(...)
5. Recurso especial a que se nega provimento.
(REsp. 1106764/RJ, STJ, Primeira Turma Rel. Min.
Luiz Fux, j. 20/10/2009, Dje. 02/02/2010). (Grifos inovados)
Assim sendo, reitero, carece a parte autora do necessário
interesse processual, condição da ação, nos termos do art. 267,
VI, do Código de Processo Civil, diante do pedido de
declaração do que o autor entende seja o teor ou a interpretação
do art. 14 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.
Ademais, não fosse a parte autora carente de interesse
processual desde o nascedouro da presente demanda, forçoso
seria reconhecer a superveniência da perda de tal condição da
ação, haja vista que a declaração buscada nos autos foi
materializada pela da Lei nº 10.304, de 05 de novembro de
2001, a qual, segundo sua ementa, transfere ao domínio dos
Estados de Roraima e do Amapá terras pertencentes à União e dá
outras providências.
Dispõe o art. 1º da referida norma:
Art. 1º. As terras pertencentes à União
compreendidas nos Estados de Roraima e do Amapá
passam ao domínio desses Estados, mantidos seus atuais
limites e confrontações, nos termos do art. 14 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias.
O regulamento da lei referida veio em 2009, por meio do
Decreto nº 6.754, de 28 de janeiro, o qual dispôs:
Art. 1º. Ficam transferidas gratuitamente ao Estado
de Roraima as terras públicas situadas em seu território
que estejam arrecadadas e matriculadas em nome da
União, em cumprimento ao disposto no art. 1º da Lei nº
10.304, de 05 de novembro de 2001.
A evidente ausência de interesse processual se fortalece,
por qualquer ângulo, após a edição do diploma legal em
referência, ensejador em qualquer hipótese da perda do objeto
da demanda, de todo desnecessária a tutela jurisdicional.
Esclareça-se, por pertinente, que a edição pelo Poder
Legislativo Federal da referida Lei nº 10.304/2001 não implica o

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reconhecimento de que, anteriormente a ela, haveria


necessidade/utilidade para o ajuizamento da presente ação.
Como enfatizado, esta demanda não tem por objeto relação
jurídica específica, cuja existência se pretendesse declarar.
Objetivado, a rigor, acertamento sobre o conteúdo de lei em
tese, o que é, conforme já bastante repisado, de todo inviável
nesta via, flagrante sua inadequação ao fim proposto.
Por fim, de salientar que a eficácia do disposto no art. 14
do ACDT, assim como da Lei nº 10.304/2001, com a efetiva
transferência das terras devolutas para a titularidade do Estado
de Roraima por meio do competente registro imobiliário, não se
deu de maneira automática, mas necessitou, como ainda
necessita, de atuação positiva da União, haja vista
imprescindível destacar-se das ditas terras aquelas objeto de
reserva ao domínio da União, nos termos do art. 20 da
Constituição Federal.
Assim sendo, a mera declaração pretendida efeito prático
algum traria ao Estado autor, absolutamente inapta para a
resolução da situação das terras devolutas do Estado, objetivo
este declarado pelo Estado autor nas razões finais das fls. 334-
70.
Este Supremo Tribunal Federal tem assentado reiteradas
vezes que, à luz do art. 20, II, III, IV, VIII, IX e X, da Constituição
Federal de 1988, a arrecadação e o registro das terras a que se
referem os arts. 14 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias e 1º da Lei nº 10.304/2001 não prescindem da
anterior identificação das glebas que serão mantidas sob a
titularidade da União.
Cito, nesse sentido, as Ações Cíveis Originárias nºs. 926,
de relatoria do Min. Luiz Fux, 596, Min. Marco Aurélio, 943, de
relatoria do Min. Joaquim Barbosa e 653, 729, 768 e 744, todas
de relatoria da Min Ellen Gracie, tendo sido a ACO Nº 653
julgada pelo Tribunal Pleno, em decisão assim ementada:
MANDADO DE SEGURANÇA. GLEBAS
PERTENCENTES À UNIÃO. REGISTRO EM NOME DO
ESTADO DE RORAIMA. LEI 10.303/2001. AUSÊNCIA DE

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REGULAMENTAÇÃO. 1. Dispondo a Lei 10.303/2001


estarem excluídas, da transferência ao Estado de Roraima,
as terras relacionadas nos incisos II, III, IV, VIII, IX e X do
art. 20 da Constituição Federal, e havendo expressa
previsão de regulamentação no prazo de 180 dias, tem-se
por antijurídico o precipitado registro das glebas em nome
do Estado-membro, antes mesmo de esgotado o referido
prazo, e sem a necessária e prévia identificação daquelas
que serão mantidas em nome da União. 2. Segurança
concedida. (Rel. Min. Ellen Gracie, DJ 04.02.2005, p. 7)
Como se vê, a declaração ora pretendida, a par de já
constante da legislação ordinária, não tem o condão de
autorizar, automaticamente, a arrecadação e o registro das
terras devolutas estaduais em favor do ente federativo autor.
Por todo o exposto, carecendo o autor de interesse
processual, julgo extinta a presente Ação Cível Originária,
sem resolução de mérito, forte no art. 267, VI, do Código de
Processo Civil, bem assim no art. 21, §1º, do Regimento Interno
desta Corte.
Condeno o Estado Autor, sucumbente, em honorários
advocatícios, os quais arbitro em R$ 5.000,00 (cinco mil reais),
levando em consideração os parâmetros do artigo 20, § 4º, do
CPC, notadamente o tempo de tramitação da causa, a instância
em que se desenvolveu e a fase processual em que se encontra.
Sem custas processuais, pois litigante a Fazenda Pública.
Publique-se. Intimem-se.
Após o trânsito em julgado, dê-se baixa e arquivem-se os
autos.” (destaques do original)

Defende a agravante, em síntese, que diversamente do quanto


trazido na decisão agravada, a lide apresentada é concreta diante da edição
do Decreto nº 118/90 pelo então Governador nomeado pelo Presidente da
República, justamente no período de transição entre o ex-Território Federal de
Roraima e a eleição do primeiro Governador do (novo) Estado de Roraima.

Sustenta que seu argumento é o de que o Governador não possuía

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competência para fazer a doação das terras referidas naquele decreto e ali
discriminadas, pois anterior à primeira composição da Assembleia
Legislativa, razão pela qual inexistente autorização legislativa para o ato,
portanto nulo de pleno direito.

Sustenta, também, que pela petição de fls. 334-70 esclarecera que “a


sentença declaratória da qual o Estado de Roraima necessita – e isso ficou bem
claro, na petição inicial – quanto à gleba específica de 4.349,6094ha, é a de que
estando ela incluída no conjunto formado por ‘todas as terras do ex-Território
Federal de Roraima’, em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da
Constituição Federal, dela a União não poderia dispor, uma vez que já reservada,
como bem de domínio da nova pessoa jurídica de direito público criada, a
instalar-se em 1º de janeiro de 1991”.

Ressalta que no decorrer da instrução, se manifestou no sentido de


que as terras tradicionalmente ocupadas por índios também estariam fora
do pedido, por serem bens da União, bem como todos os listados no art.
20 da Constituição Federal.

Por fim, sustenta que, embora a edição da Lei nº 10.304/2001, não se


caracterizou a perda do objeto da presente ação porque nesta se objetiva
demonstrar o vício do Decreto nº 118/90, bem como pelo fato de que os imóveis
ali referidos (que seriam de propriedade do novo Estado) foram doados –
equivocadamente – para o Município de Boa Vista, razão pela qual a legislação
referida não alcança tais imóveis, doados de forma ilegal.

Intimados, os agravados apresentaram contrarrazões ao agravo (a


União, fls. 447-52 e o Município de Boa Vista, fls. 458-73).

É o relatório.

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Voto - MIN. ROSA WEBER

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21/08/2017 PRIMEIRA TURMA

AG.REG. NA AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA 457 RORAIMA

VOTO

A Senhora Ministra Rosa Weber (Relatora): Senhor Presidente,


preenchidos os pressupostos genéricos, conforme os arts. 317 e seguintes
do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, conheço do agravo
regimental.

As razões expostas no recurso não são suficientes para lograr a


alteração do julgado.

Patente a falta de interesse de agir do autor no pleito de declaração


do já contido na Constituição Federal, no §2º do art. 14 do ADCT, bem
como no art. 15 da Lei Complementar nº 41/81. Extrai-se dos citados
preceitos que ficam transferidos ao Estado de Roraima o domínio, a posse e a
administração dos seguintes bens móveis e imóveis: I. os que atualmente
pertencem ao Território Federal de Roraima; II. os efetivamente utilizados pela
Administração do Território Federal de Roraima e; III. rendas, direitos e
obrigações decorrentes dos bens especificados nos incisos I e II, bem como os
relativos aos convênios, contratos e ajustes firmados pela União, no interesse do
Território Federal de Roraima.

Um segundo fundamento também afasta o interesse de agir, como


ressaltado pela União em suas contrarrazões de agravo: como informa o
próprio autor na inicial (fls. 18-9), juntando cópia do documento (fls. 23-
6), o Decreto nº 118/90, editado pelo então Governador nomeado pelo
Presidente da República à época, Romero Jucá Filho, foi anulado pelo
Decreto nº 279/92, editado pelo primeiro Governador eleito do Estado de
Roraima Ottomar de Sousa Pinto.

Acresça-se um terceiro fundamento a afastar o interesse de agir do


ora agravante: a declaração buscada nos autos foi ratificada pela Lei nº

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Voto - MIN. ROSA WEBER

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ACO 457 AGR / RR

10.304/2001 que, segundo sua ementa, transfere ao domínio dos Estados de


Roraima e do Amapá terras pertencentes à União e dá outras providências e
dispõe em seu art. 1º que: as terras pertencentes à União compreendidas nos
Estados de Roraima e do Amapá passam ao domínio desses Estados, mantidos
seus atuais limites e confrontações, nos termos do art. 14 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias.

Não bastasse, tal lei foi regulamentada pelo Decreto nº 6.754/2009


que dispõe em seu art 1º: ficam transferidas gratuitamente ao Estado de
Roraima as terras públicas situadas em seu território que estejam arrecadadas e
matriculadas em nome da União, em cumprimento ao disposto no art. 1º da Lei
nº 10.304, de 05 de novembro de 2001.

Por fim, a mera declaração pretendida não traria efeito prático ao


autor, absolutamente inapta para a resolução da situação das terras
devolutas do Estado, pois esta Suprema Corte tem assentado reiteradas
vezes que, à luz do art. 20, II, III, IV, VIII, IX e X, da Constituição Federal,
a arrecadação e o registro das terras a que se referem os arts. 14 do Ato
das Disposições Constitucionais Transitórias e 1º da Lei nº 10.304/2001
não prescindem da anterior identificação das glebas que serão mantidas
sob a titularidade da União (ACOs nºs. 926, de relatoria do Min. Luiz Fux,
596, Min. Marco Aurélio, 943, de relatoria do Min. Joaquim Barbosa e 653,
729, 768 e 744, todas de relatoria da Ministra Ellen Gracie, tendo sido a
ACO Nº 653 julgada pelo Tribunal Pleno.

Incabível, deste modo, a reforma da decisão agravada, que descreve


a completa ausência de interesse de agir do autor.

Agravo regimental conhecido e não provido, com aplicação, no caso


de votação unânime, da multa prevista no art. 1.021, § 4º, do CPC/2015,
calculada à razão de 5% (cinco por cento) sobre o valor atualizado da
causa.

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Voto - MIN. ROSA WEBER

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ACO 457 AGR / RR

É como voto.

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Extrato de Ata - 21/08/2017

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PRIMEIRA TURMA
EXTRATO DE ATA

AG.REG. NA AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA 457


PROCED. : RORAIMA
RELATORA : MIN. ROSA WEBER
AGTE.(S) : ESTADO DE RORAIMA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DE RORAIMA
AGDO.(A/S) : UNIÃO
ADV.(A/S) : ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO
AGDO.(A/S) : MUNICIPIO DE BOA VISTA
ADV.(A/S) : VALENTINA WANDERLEY DE MELLO (077RR/RR)

Decisão: A Turma, por unanimidade, conheceu do agravo e negou-


lhe provimento, com aplicação da penalidade prevista no art.
1.021, § 4º, do CPC/2015, nos termos do voto da Relatora. Primeira
Turma, Sessão Virtual de 11 a 18.8.2017.

Composição: Ministros Marco Aurélio (Presidente), Luiz Fux,


Rosa Weber, Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes.

Disponibilizou processos para esta Sessão o Ministro Edson


Fachin, não tendo participado do julgamento desses processos o
Ministro Alexandre de Moraes por sucedê-lo na Primeira Turma.

Carmen Lilian Oliveira de Souza


Secretária da Primeira Turma

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