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TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 2085079-78.2021.8.26.0000 e código 17110533.
Registro: 2021.0000805416

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Direta de

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FERNANDO ANTONIO FERREIRA RODRIGUES, liberado nos autos em 30/09/2021 às 15:39 .
Inconstitucionalidade nº 2085079-78.2021.8.26.0000, da Comarca de São Paulo,
em que é autor PROCURADOR GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO
PAULO, são réus PREFEITO DO MUNICÍPIO DE ITAQUAQUECETUBA e
PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE ITAQUAQUECETUBA.

ACORDAM, em Órgão Especial do Tribunal de Justiça de São


Paulo, proferir a seguinte decisão: "INDEFERIRAM OS PEDIDOS DE
INGRESSO E DE SUSTENTAÇÃO ORAL DO AMICUS CURIAE;
AFASTARAM A PRELIMINAR; E JULGARAM A AÇÃO PROCEDENTE,
COM RESSALVA. V.U. SUSTENTARAM ORALMENTE OS ADVS. DRS. YURI
RAMON DE ARAÚJO E WILSON FERREIRA DA SILVA.", de conformidade
com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores


PINHEIRO FRANCO (Presidente), EVARISTO DOS SANTOS, JOÃO CARLOS
SALETTI, RENATO SARTORELLI, FERRAZ DE ARRUDA, ADEMIR
BENEDITO, CAMPOS MELLO, CRISTINA ZUCCHI, JACOB VALENTE,
JAMES SIANO, CLAUDIO GODOY, MOREIRA VIEGAS, COSTABILE E
SOLIMENE, TORRES DE CARVALHO, LUCIANA BRESCIANI, ELCIO
TRUJILLO, DÉCIO NOTARANGELI, VIANNA COTRIM, FIGUEIREDO
GONÇALVES, EUVALDO CHAIB, LUIS SOARES DE MELLO, RICARDO
ANAFE, XAVIER DE AQUINO E DAMIÃO COGAN.

São Paulo, 22 de setembro de 2021.

FERREIRA RODRIGUES
RELATOR
ASSINATURA ELETRÔNICA
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Voto nº 36.047

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Ação direta de inconstitucionalidade nº 2085079-78.2021.8.26.0000
Requerente: Procurador-Geral de Justiça do Estado de São Paulo
Requerido: Prefeito e Presidente da Câmara Municipal de Itaquaquecetuba

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FERNANDO ANTONIO FERREIRA RODRIGUES, liberado nos autos em 30/09/2021 às 15:39 .
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
Questionamento de validade da Lei Complementar n. 316, de
02 de dezembro de 2020, de Itaquaquecetuba, que dispõe sobre
adicional de nível universitário aos servidores municipais.

Preliminar de inépcia da petição inicial. Alegação de que o


autor da ação não poderia arguir a inconstitucionalidade da
referida Lei Complementar n. 316/2020, sem pedir,
concomitantemente, a nulidade dos atos normativos anteriores
(envolvendo o mesmo tema), referindo-se (a) à Lei
Complementar Municipal n. 12/1992; (b) à Lei Complementar
Municipal n. 1.204/1990; e (c) ao artigo 14, inciso VIII, da
Resolução n. 13/1995, que retomariam validade diante do
efeito repristinatório de eventual decisão de procedência da
ação.

Rejeição. Eventual restauração (indesejada) de normas


revogadas (com os mesmos vícios) que pode ser resolvida, se
necessário, mediante declaração de inconstitucionalidade por
arrastamento ou, caso se entenda que o arrastamento não pode
ser aplicado de ofício, mediante simples exclusão de efeitos
repristinatórios na própria declaração de inconstitucionalidade
da norma impugnada, independentemente de pedido expresso
do autor, por se tratar de mera técnica de decisão. Nesse sentido
já decidiu o Plenário do Supremo Tribunal Federal1,
reconhecendo que “não obsta a cognição da ação direta a
falta de impugnação de ato jurídico revogado pela norma
tida como inconstitucional, supostamente padecente do
mesmo vício, que se teria por repristinada. Cabe à Corte,
ao delimitar a eficácia da sua decisão, se o caso, excluir
dos efeitos da decisão declaratória eventual efeito
repristinatório quando constatada incompatibilidade com a
ordem constitucional”2

Questão, entretanto, que não apresenta relevância no presente


caso, diante da inexistência de efeitos repristinatórios. É que a
Lei Complementar Municipal n. 64/2002, ao instituir o regime
jurídico dos servidores de Itaquaquecetuba, a partir de
1 ADI 3.239, Rel. Min. CEZAR PELUSO, Redator para acórdão Min. ROSA WEBER, Tribunal Pleno, DJe 1º.2.2019.
2 Conforme consta do corpo do voto, “a recusa da repristinação se fundará, na hipótese, em juízo similar ao da declaração
incidente de inconstitucionalidade de norma cuja validade seja prejudicial da decisão a tomar, que sempre se pode dar de ofício e
que nada exclui possa ocorrer no julgamento de uma ação direta de inconstitucionalidade, onde, como sucede no sistema
brasileiro, um mesmo tribunal, o STF, cumule as funções de órgão exclusivo do controle abstrato com o de órgão de cúpula do
sistema difuso”.

Direta de Inconstitucionalidade nº 2085079-78.2021.8.26.0000 2


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26/12/2002, passou a dispor sobre a possibilidade da concessão

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do adicional de nível universitário (nesse novo regime)
primeiramente no inciso V do artigo 129 (como norma geral), e
em seguida, de forma específica (e regulamentada), no artigo
148 e parágrafo único. Fato indicativo de que a Lei 64/2002
revogou tacitamente as normas anteriores sobre o adicional de

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“nível universitário”, inclusive aquelas indicadas pela Mesa
Diretora (LCM n. 12/1992, LCM n. 1.204/1990, e artigo 14,
inciso VIII, da Resolução n. 13, de 31 de agosto de 1995), o
que significa que eventual declaração de inconstitucionalidade
da Lei n. 316/2020, objeto da presente impugnação, não
implicará efeitos repristinatórios dos referidos atos normativos
(já revogados), e tampouco do artigo 148, parágrafo único, da
referida LCM 64/2002 (que recriou o benefício no novo regime
jurídico), pois esse dispositivo (da LCM 64/2002) já foi
declarado inconstitucional na ADIN n.
2211942-50.2019.8.26.0000 (Rel. Des. Jacob Valente, j.
27/05/2020), remanescendo, a partir de então, apenas a
previsão genérica do artigo 129, V (acima mencionado), que
depende de regulamentação. Preliminar de inépcia afastada.

MÉRITO. Adicional de nível universitário. Benefício instituído


em favor de todos os servidores municipais de Itaquaquecetuba
que comprovarem nível superior, independentemente de
aderência do nível de formação às funções do cargo. Alegação
de ofensa à disposição dos artigos 111 e 128 da Constituição
Estadual. Reconhecimento. Vantagem pecuniária que foi
instituída de forma genérica, e sem apontar eventual
necessidade da medida com base no interesse público ou no
atendimento de exigências do bem comum. Conforme lição de
Hely Lopes Meirelles, “não basta seja o servidor titular de
diploma de curso superior para o auferimento da vantagem de
nível universitário”, porque, na verdade, “o que a
Administração remunera não é a habilitação universitária em si
mesma; é o trabalho profissional realizado em decorrência
dessa habilitação, e da qual se presume maior perfeição técnica
e melhor rendimento administrativo”3. Ademais, segundo
doutrina de Diógenes Gasparini, “as vantagens
pecuniárias, sejam adicionais, sejam gratificações, não são
meios para majorar a remuneração dos servidores, nem são
meras liberalidades da Administração Pública. São
acréscimos remuneratórios que se justificam nos fatos e
situações de interesse da Administração”4.

Posicionamento que deve prevalecer, mesmo que se argumente


com a existência de normas semelhantes (envolvendo
vantagens da mesma natureza) no âmbito do Poder Judiciário
(Lei Complementar Estadual n. 1.111/2010) e do Ministério
3 “Direito Administrativo Brasileiro, São Paulo, Malheiros, 2009, 35ª ed. Pp. 499/500.
4 “Direito Administrativo”, São Paulo, Saraiva, 2008, 13ª ed. p. 233.

Direta de Inconstitucionalidade nº 2085079-78.2021.8.26.0000 3


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Público (Lei Complementar Estadual n. 1.118/2010), pois, nos

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termos do artigo 125, § 2º, da Constituição Federal, normas
infraconstitucionais não podem ser invocadas como parâmetro
de controle para afirmar (ou infirmar) a existência de vicio de
constitucionalidade (ADI n. 3.796/PR). Como ensina GILMAR
FERREIRA MENDES, “não subsiste dúvida de que somente a

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norma constitucional apresenta-se como parâmetro idôneo à
aferição da legitimidade da lei ou ato normativo, no juízo de
constitucionalidade”5.

Ação julgada procedente, ressalvada a irrepetibilidade dos


valores pagos.

Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade ajuizada pelo


PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO, tendo por
objeto a Lei Complementar nº 316, de 02 de dezembro de 2020, do Município de
Itaquaquecetuba, que concede adicional de nível universitário aos servidores que
comprovarem graduação de nível superior (fl. 23). O autor alega que a concessão de
adicional de nível universitário aos servidores públicos efetivos, sem aderência às
funções do cargo, como ocorre no presente caso, viola os princípios da moralidade,
imparcialidade, igualdade, razoabilidade, finalidade e interesse público (artigos 111 e
128 da Constituição Estadual).

Houve deferimento de liminar, em 20/04/2021, para


suspender a eficácia da norma impugnada até decisão definitiva do C. Órgão Especial,
conforme decisão de fls. 228, complementada a fls. 2.665/2.666 (embargos de
declaração n. 50001), bem como decisão de 2.589/2.590, ambas confirmadas pelo
plenário no Agravo Interno n. 50000, interposto pela Mesa Diretora da Câmara
Municipal de Itaquaquecetuba (fls. 2.637/2.641) e no Agravo Interno n. 50003,
interposto pelo Prefeito Municipal de Itaquaquecetuba (fls. 2.686/2.690).

O SINDICATO DOS SERVIDORES PÚBLICOS


MUNICIPAIS DE ITAQUAQUECETUBA pediu sua intervenção nos autos como
“amicus curiae”, mas não obteve deferimento, conforme decisão de fl. 308,
complementada a fl. 2.714 (embargos de declaração n. 50002).

O Prefeito Municipal prestou informações a fls. 2.363/2.378,


alegando que a edição da lei impugnada tomou por base normas semelhantes,
envolvendo adicional de nível universitário, referindo-se à Lei Complementar
Estadual n. 1.111/2010 (referente aos servidores do Judiciário) e à Lei Complementar
Estadual n. 1.118/2020 (referente aos servidores do Ministério Público).

O Presidente da Câmara Municipal prestou informações a fls.


2.430/2.480, acrescentando que a petição inicial não impugna todo complexo normativo
sobre o benefício em questão, daí a caracterização de inépcia da petição inicial. No
5 “Controle de Constitucionalidade”, Ed. Saraiva, SP, 1990, p. 263.

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mérito, defendeu a validade da lei impugnada, e subsidiariamente, caso julgada

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procedente a ação, pediu modulação dos efeitos da decisão.

A douta Procuradoria de Justiça, com as considerações de fls.


2.485/2.502, reiterou os termos da petição inicial, requerendo a procedência da ação.

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O pedido de ingresso de servidores municipais, na condição
de “amicus curiae” (fls. 230/233), também foi indeferido (fl. 2.740).

É o relatório.

Em preliminar, no item “2” de fl. 2.436, a Mesa Diretora da


Câmara Municipal de Itaquaquecetuba, alega que o autor da ação não poderia arguir a
inconstitucionalidade da Lei Complementar Municipal n. 316, de 02 de dezembro de
2020, referente ao adicional de nível universitário, sem pedir, concomitantemente, a
nulidade dos atos normativos anteriores (envolvendo o mesmo tema), referindo-se (a)
à Lei Complementar Municipal n. 12, de 31 de agosto de 1992; (b) à Lei Complementar
Municipal n. 1.204, de 27 de abril de 1990; e (c) ao artigo 14, inciso VIII, da Resolução
n. 13, de 31 de agosto de 1995. Tal se dá, no seu entendimento, porque esses atos
normativos (anteriores), em caso de procedência da ação, retomariam validade por força
do efeito repristinatório da decisão. Diante disso, e considerando que não existe pedido
nesse sentido, e que a petição inicial não pode ser aditada (para inclusão das referidas
normas) depois do recebimento das informações (ADI 4541), pede o não
conhecimento da presente ação direta de inconstitucionalidade.

Essa preliminar, entretanto, é inconsistente e fica rejeitada.

É que eventual restauração (indesejada) de normas


revogadas (com os mesmos vícios), por força da nulidade da lei impugnada, se fosse o
caso, se resolveria mediante declaração de inconstitucionalidade por arrastamento ou
(caso se entenda que arrastamento também não pode ser aplicado de ofício) mediante
simples exclusão de efeitos repristinatórios na própria declaração de
inconstitucionalidade da norma impugnada, independentemente de pedido expresso
do autor, por se tratar de mera técnica de decisão.

Nesse sentido já decidiu o Plenário do Supremo Tribunal


Federal, reconhecendo que “não obsta a cognição da ação direta a falta de
impugnação de ato jurídico revogado pela norma tida como inconstitucional,
supostamente padecente do mesmo vício, que se teria por repristinada. Cabe à
Corte, ao delimitar a eficácia da sua decisão, se o caso, excluir dos efeitos da
decisão declaratória eventual efeito repristinatório quando constatada
incompatibilidade com a ordem constitucional” (ADI 3.239, Rel. Min. CEZAR

Direta de Inconstitucionalidade nº 2085079-78.2021.8.26.0000 5


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PELUSO, Redator para acórdão Min. ROSA WEBER, Tribunal Pleno, DJe 1º.2.2019).6

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Essa questão, entretanto, é irrelevante no presente caso,
diante da inexistência de efeitos repristinatórios.

É que a Lei Complementar Municipal n. 64/2002, ao

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estabelecer o regime jurídico dos servidores de Itaquaquecetuba, a partir de 26 de
dezembro de 2002, passou a dispor sobre a possibilidade do adicional de nível
universitário, nesse novo regime jurídico, primeiramente no inciso V do artigo 129,
como norma geral (fl. 72), e em seguida, de forma específica (e regulamentada), no
artigo 148 e seu parágrafo único (fl. 77), daí o reconhecimento de revogação tácita das
normas anteriores sobre o mesmo tema, inclusive daquelas indicadas pela Mesa
Diretora (LCM n. 12/1992, LCM n. 1.204/1990, e artigo 14, inciso VIII, da Resolução
n. 13, de 31 de agosto de 1995).

Assim, eventual declaração de inconstitucionalidade da Lei n.


316/2020, não implicará efeitos repristinatórios dos referidos atos normativos (já
revogados), e tampouco do artigo 148, parágrafo único, da LCM 64/2002 (que recriou
o benefício no novo regime jurídico), pois esse dispositivo (da LCM 64/2002) já foi
declarado inconstitucional na ADIN n. 2211942-50.2019.8.26.0000 (Rel. Des. Jacob
Valente, j. 27/05/2020), remanescendo, a partir de então, apenas a previsão genérica do
artigo 129, V (acima mencionado).

No mérito, a ação é procedente.

A norma acoimada de inconstitucional é aquela constante do


documento de fls. 23/24, redigida da seguinte forma:

LEI Nº 316, DE 02 DE DEZEMBRO DE 2020.

Art. 1º - O Adicional de Nível Universitário, instituído pelo Artigo 129,


inciso V, da Lei Complementar Municipal nº 64, de 26 de dezembro de
2002, será devido em razão dos conhecimentos adicionais adquiridos pelo
servidor público de cargo efetivo, comprovados por meio de curso de
graduação de nível superior.

§ 1º - O adicional de que trata este artigo não será concedido quando o


curso de graduação de nível superior constituir requisito ou estiver no
mesmo nível de escolaridade para ingresso no cargo.

§ 2º - Para efeito do disposto neste artigo, serão considerados somente os


cursos e as instituições de ensino reconhecidos pelo Ministério da
Educação, na forma da legislação.

§ 3º - O adicional de que trata este artigo não se incorporará para nenhum


6 Conforme consta do corpo do voto, “a recusa da repristinação se fundará, na hipótese, em juízo similar ao da declaração
incidente de inconstitucionalidade de norma cuja validade seja prejudicial da decisão a tomar, que sempre se pode dar de ofício e
que nada exclui possa ocorrer no julgamento de uma ação direta de inconstitucionalidade, onde, como sucede no sistema
brasileiro, um mesmo tribunal, o STF, cumule as funções de órgão exclusivo do controle abstrato com o de órgão de cúpula do
sistema difuso”.

Direta de Inconstitucionalidade nº 2085079-78.2021.8.26.0000 6


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efeito e sobre ele não incidirá vantagem de qualquer natureza, exceto o

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biênio e o quinquênio e os décimos já incorporados, já que servirá para o
cálculo da contribuição previdenciária, na forma da lei, ressalvados os
direitos dos servidores nomeados para cargo de provimento efetivo,
anterior a Emenda Constitucional nº 20/1998, para os quais, o Adicional
integrará os proventos de
aposentadoria.

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§ 4º - Ao Servidor detentor de cargo de provimento efetivo, nomeado
para cargo de provimento em Comissão, receberá o adicional de Nível
Universitário, mas com base no vencimento de seu cargo efetivo.

§ 5º - O pagamento do adicional será devido a partir da data do despacho


que lhe conceder, após regular processo administrativo que avaliará os
requisitos legais para a sua concessão, respeitando-se o direito adquirido
daqueles que já receberam até 31 de agosto de 2020.

Artigo 2º - O Adicional de Nível Universitário incidirá sobre os


vencimentos brutos equivalentes à base de contribuição previdenciária do
cargo em que o servidor estiver em exercício, da seguinte forma:

I - 50% (cinquenta por cento), em se tratando de diploma de graduação


em curso superior.

Art. 3º. As despesas decorrentes da execução desta Lei Complementar


correrão por conta de disposições próprias do orçamento, suplementadas
em caso de necessidade.

Art. 4º. Esta Lei Complementar entrará em vigor na data da sua


publicação, retroagindo seus efeitos a primeiro de setembro de 2020,
revogando-se o artigo 148, Parágrafo Único, da Lei Complementar
Municipal nº 64, de 26 de dezembro de 2002.

Vê-se, daí, que o denominado adicional de nível aniversário


foi instituído em favor dos servidores municipais de Itaquaquecetuba mediante simples
apresentação de diploma de graduação, de forma genérica, e sem apontar eventual
necessidade da medida (com base no interesse público ou no atendimento de
exigências do bem comum), o que, por si só, justifica o reconhecimento de procedência
da ação.

Conforme lição de Hely Lopes Meirelles, “não basta seja o


servidor titular de diploma de curso superior para o auferimento da vantagem de
nível universitário”, porque, na verdade, “o que a Administração remunera não é a
habilitação universitária em si mesma; é o trabalho profissional realizado em
decorrência dessa habilitação, e da qual se presume maior perfeição técnica e
melhor rendimento administrativo”7.

Ademais, segundo doutrina de Diógenes Gasparini, “as


vantagens pecuniárias, sejam adicionais, sejam gratificações, não são meios para
majorar a remuneração dos servidores, nem são meras liberalidades da
7 “Direito Administrativo Brasileiro, São Paulo, Malheiros, 2009, 35ª ed. Pp. 499/500.

Direta de Inconstitucionalidade nº 2085079-78.2021.8.26.0000 7


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Administração Pública. São acréscimos remuneratórios que se justificam nos fatos

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e situações de interesse da Administração” (“Direito Administrativo”, São Paulo,
Saraiva, 2008, 13ª ed. p. 233), daí o reconhecimento de inconstitucionalidade do
benefício impugnado, não só por ofensa à disposição do artigo 128 da Constituição
Estadual, mas também por violação aos princípios da moralidade e da razoabilidade
(CE, art. 111.

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Não custa lembrar, sob esse aspecto, que o Supremo Tribunal
Federal admite a razoabilidade como parâmetro de aferição da constitucionalidade
material dos atos estatais, enfatizando, por exemplo, que “todos os atos emanados do
poder público estão necessariamente sujeitos, para efeito de sua validade material,
à indeclinável observância de padrões mínimos de razoabilidade”.

É que a exigência do padrão de razoabilidade visa a inibir e a


neutralizar eventuais abusos do Poder Público, notadamente no desempenho de suas
funções normativas, porque “a teoria do desvio de poder, quando aplicada ao plano
das atividades legislativas, permite que se contenham eventuais excessos
decorrentes do exercício imoderado e arbitrário da competência institucional
outorgada ao Poder Público, pois o Estado não pode, no desempenho de suas
atribuições, dar causa à instauração de situações normativas que comprometem e
afetam os fins que regem a prática da função de legislar” (ADI nº 2667 MC/DF, Rel.
Min. Celso de Melo, j. 19/06/2002).

É o que tem decidido este C. Órgão Especial em casos


semelhantes:

“DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE EM FACE DO § 2º DO


ART. 156 DA LEI Nº 55, DE 09 DE DEZEMBRO DE 1997, COM A
REDAÇÃO DADA PELO ART. 1º DA LEI Nº 461, DE 28 DE
OUTUBRO DE 2011, AMBAS DO MUNICÍPIO DE IPIGUÁ. NORMA
QUE ESTABELECE ADICIONAL DE NÍVEL UNIVERSITÁRIO AOS
SERVIDORES MUNICIPAIS DE IPIQUÁ. Benefício genérico, pago
mediante mera apresentação de título universitário, em favor de
servidores titulares de funções e cargos cujo provimento já demanda nível
superior de escolaridade. Descabimento. Vantagem que não atende ao
interesse público ou às exigências do serviço, bem como ofende aos
princípios constitucionais da moralidade, razoabilidade e finalidade.
Configurada violação aos arts. 111, 128 e 144 da Constituição Paulista.
Precedentes. Ação procedente, com efeito ex tunc, ressalvada a
irrepetibilidade dos valores recebidos de boa-fé até a data do julgamento
desta ação” (ADIN n. 2256454-21.2019.8.26.0000, Rel. Desª Cristina
Zucchi, j. 24/06/2020).

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. Arguição em face


da expressão “inativos e pensionistas” constantes do art. 1º da Lei n°
1.706, de 13 de dezembro de 2011 e em face da concessão de vantagem

Direta de Inconstitucionalidade nº 2085079-78.2021.8.26.0000 8


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remuneratória decorrente da conclusão de nível universitário constante do

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artigo 21 da Lei n° 1.901, de 28 de março de 2.019, da lei n° 1.224, de 30
de agosto de 1.993 dos artigos 29 e 30 da Lei n° Lei n° 1.098, de 04 de
julho de 1.989. Cabimento. Auxílio-alimentação a inativos e pensionistas.
Natureza indenizatória de despesas com refeição realizadas por servidor
no exercício de função. Impossibilidade de extensão para inativos e
pensionistas. Súmula Vinculante 55 e Súmula 680, ambas do STF.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FERNANDO ANTONIO FERREIRA RODRIGUES, liberado nos autos em 30/09/2021 às 15:39 .
Violação aos princípios da razoabilidade e do interesse público. Ofensa
aos art. 111 e 128 da CE. Precedentes do Órgão Especial.
Reconhecimento do caráter irrepetível dos valores percebidos até o
julgamento. Vantagem remuneratória decorrente da conclusão de nível
universitário. A concessão de gratificação de nível universitário genérica,
indistinta e universal, a todos servidores públicos, viola os princípios
moralidade, imparcialidade, igualdade, razoabilidade, finalidade e
interesse público. Afronta ao disposto nos art. 111 e 128 da CE. A
vantagem remuneratória meramente decorrente da conclusão de nível
universitário não observa o interesse público ou às exigências do serviço,
mas apenas o interesse privado dos próprios servidores. Precedentes do
Órgão Especial. Ação procedente” (ADIN n. 2277330-
94.2019.8.26.0000, Rel. Des. James Siano, j. 10/06/2020).

“Ação direta de inconstitucionalidade. Tietê. Artigos 34 a 36 e 38 da


Resolução n. 06, de 07 de dezembro de 2009, da Câmara Municipal de
Tietê. Remuneração dos servidores vinculados ao Poder Legislativo.
Iniciativa legiferante reservada da Câmara Municipal. Concessão de
gratificação de nível universitário e de auxílio-alimentação a inativos e
pensionistas. Ofensa aos artigos 111, 128 e 144, da Constituição Estadual.
Jurisprudência pacífica do STF e deste Órgão Especial sobre a
inconstitucionalidade de ato normativo que concede benefício de caráter
indenizatório a funcionários inativos e pensionistas. Vantagem com
caráter reparatório e natureza pro labore faciendo. Inteligência da Súmula
680 e da Súmula Vinculante n. 55, ambas do STF. Concessão genérica de
adicional de qualificação a servidores públicos que possuam diploma
universitário, sem critérios objetivos determinados. Violação dos
princípios da legalidade, moralidade, impessoalidade, razoabilidade e
interesse público. Vantagem pecuniária que deve ser orientada única e
exclusivamente à valorização do profissional cujo grau universitário
tenha correlação lógica e direta com as atribuições elementares ao cargo.
Fixação do quantum do adicional em percentual subjetivamente escolhido
em ato administrativo individual. Descabimento. Possibilidade de escolha
aleatória, subjetiva, pessoal e diferenciada dos percentuais de
gratificação. Ofensa à legalidade, à moralidade, à impessoalidade e ao
interesse público. Violação dos arts. 5º, caput, 19, caput, 20, III, 111, 128
e 144 da Constituição do Estado de São Paulo. Procedência do pedido,
sem modulação de efeitos” (ADIN n. 2205976-09.2019.8.26.0000, Rel.
Des. Antonio Celso Aguilar Cortez, j. 29/01/2020).

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. Arts. 2º (na parte


que deu nova redação ao art. 298, da Lei nº 2.018/86) e 3º, ambos da Lei
Municipal nº 2.458 de 25.03.92, dispondo sobre a concessão de adicional
de nível universitário a servidores públicos municipais.
Inconstitucionalidade material. Benefício genérico, pago mediante mera
apresentação de título universitário, em favor de servidores titulares de
funções e cargos cujo provimento já demanda nível superior de
escolaridade. Descabimento. Vantagem não atende ao interesse público

Direta de Inconstitucionalidade nº 2085079-78.2021.8.26.0000 9


fls. 2761

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

ou às exigências do serviço. Ofensa a princípios constitucionais,

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 2085079-78.2021.8.26.0000 e código 17110533.
mormente os da moralidade, razoabilidade, interesse público e eficiência.
Configurada violação aos arts. 111 e 128 da Constituição Estadual.
Precedentes. Modulação. Descabimento. Efeitos. Invalidação da norma ex
tunc, ressalvada a não repetição dos valores percebidos de boa-fé até a
data do presente julgamento. Ação procedente, com observação” (ADIN
n. 2042678-69.2018.8.26.0000, Rel. Des. Evaristo dos Santos, j.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FERNANDO ANTONIO FERREIRA RODRIGUES, liberado nos autos em 30/09/2021 às 15:39 .
22/08/2018)

No caso, não se vislumbrando qualquer das hipóteses


previstas no artigo 27 da Lei n. 9.868/1999, sobretudo diante dos fundamentos do
reconhecimento de inconstitucionalidade (ofensa à moralidade, razoabilidade e
interesse público), seria incoerente e contraditório conceder modulação temporal dos
efeitos do julgado, com base em alegação de excepcional interesse social.

Impõe-se, entretanto, o reconhecimento de irrepetibilidade


dos valores já pagos, por razões de segurança jurídica, não “por desamor ou menosprezo
à lei, mas por ser impossível desconhecer o valor adquirido por certas situações de fato
constituídas sem dolo, mas eivadas de infrações legais a seu tempo não percebidas ou
decretadas” (Miguel Reale, in “Revogação e Anulamento do Ato Administrativo”,
Forense, 1968, p. 83).

Conforme já decidiu este C. Órgão Especial em caso


semelhante, “não se afigura lógico ou razoável exigir a reposição de todos os valores
pagos ao funcionalismo público municipal com esteio na legislação ora tida por
inconstitucional, máxime porque se trata de verbas de caráter alimentício, percebidas de
boa-fé, afigurando-se, portanto, irrepetíveis” (ADIN nº 2128351-35.2015.8.26.0000,
Rel. Des. Paulo Dimas Mascaretti, j. 09/12/2015).

Ante o exposto, julgo procedente a ação para declarar a


inconstitucionalidade da Lei n. 316, de 02 de dezembro de 2020, do Município de
Itaquaquecetuba, ressalvada a irrepetibilidade dos valores recebidos de boa-fé pelos
servidores até a data da concessão da liminar.

FERREIRA RODRIGUES
Relator

Direta de Inconstitucionalidade nº 2085079-78.2021.8.26.0000 10

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