O documento é um parecer jurídico sobre um projeto de lei municipal que propõe a criação de um centro de formação para a Guarda Civil Municipal. O parecer conclui que o projeto é inconstitucional porque a criação de órgãos da administração pública municipal é atribuição exclusiva do prefeito, não do poder legislativo, representando uma violação à separação dos poderes.
Descrição original:
Parecer jurídico municipal
Título original
Parecer - nº 161.21- Projeto de Lei 030-21 Centro de Formação da Guarda.
O documento é um parecer jurídico sobre um projeto de lei municipal que propõe a criação de um centro de formação para a Guarda Civil Municipal. O parecer conclui que o projeto é inconstitucional porque a criação de órgãos da administração pública municipal é atribuição exclusiva do prefeito, não do poder legislativo, representando uma violação à separação dos poderes.
O documento é um parecer jurídico sobre um projeto de lei municipal que propõe a criação de um centro de formação para a Guarda Civil Municipal. O parecer conclui que o projeto é inconstitucional porque a criação de órgãos da administração pública municipal é atribuição exclusiva do prefeito, não do poder legislativo, representando uma violação à separação dos poderes.
Assunto: Parecer Autógrafo de Lei nº. 030, de 13 de abril de 2021.
PARECER N.º 161/2021– PGM/GT
Trata-se de pedido de parecer ao Autógrafo de Lei nº. 030, de 29 de abril de
2021, que “institui o Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Segurança da Guarda Civil Municipal de Senador Canedo, e dá outras providências”, enviado pela Câmara Municipal de Senador Canedo ao Chefe do Poder Executivo Municipal para sanção ou veto.
É, em síntese, o relatório.
Segue manifestação:
A atuação dos Municípios limita-se à criação da Guarda Municipal,
destinada à proteção dos bens, serviços e instalações municipais na forma do art. 144, § 8°, da Constituição Federal:
"Art. 144: (...)
§ “8°: Os Municípios poderão constituir guardas municipais
destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei”. (Grifos nossos).
A Constituição conferiu aos municípios autonomia para sua auto-
organização na forma do seu art. 18, e qualquer limitação a essa autonomia deve provir do próprio legislador constituinte, sob pena de violação ao princípio do pacto federativo. O dispositivo acima transcrito assevera que os municípios "poderão" constituir guardas municipais, tratando-se de uma faculdade destes entes. A Lei nº 13.022/2014 (Dispõe sobre o Estatuto Geral das Guardas Municipais) a todo o momento, procura afirmar a autonomia municipal, utilizando expressões como "pode", "fica facultado", senão vejamos:
"Art. 6°: O Município pode criar, por lei, sua guarda municipal."
"Art. 12: É facultada ao Município a criação de órgão de
formação, treinamento e aperfeiçoamento dos integrantes da guarda municipal, tendo como princípios norteadores os mencionados no art. 3°." (Grifos nossos).
"Art. 13: (...)
§ 1º: O Poder Executivo municipal poderá criar órgão
colegiado para exercer o controle social das atividades de segurança do Município, analisar a alocação e aplicação dos recursos públicos e monitorar os objetivos e metas da política municipal de segurança e, posteriormente, a adequação e eventual necessidade de adaptação das medidas adotadas face aos resultados obtidos. "(Grifos nossos).
Assim sendo, não é factível a criação de órgão da estrutura do Poder
Executivo por intermédio de lei de iniciativa parlamentar, na medida em que, tal matéria fora constitucionalmente reservada ao Chefe do Executivo, na forma do art. 61, § 1°, inciso li, alínea "e" da Magna Carta, aplicável aos Municípios por força do art. 29 da Constituição. Neste sentido, confira trecho da seguinte decisão do STF:
"Sendo de competência privativa do chefe do executivo
tratar de matérias atinentes à organização administrativa e provimento de cargos do Poder Executivo, flagrante a inconstitucionalidade formal da Lei parlamentar nº 6.053/93, por vício de iniciativa. [...] APELAÇÃO INTERPOSTA POR ADEMIR ANTÔNIO DEPRÁ- 12. Em razão da declaração de inconstitucionalidade antes referida, e por se apresentar como questão prejudicial à pretensão de direito material, nega-se provimento ao recurso."(AI 830040 ES.Primeira Turma. Min. LUIZ FUX.DJe-066 DIVULG 10-04-2013 PUBLIC 11-04-2013). (Grifos nossos).
Desta forma, resta claro que o projeto de lei em apreço caracteriza
intromissão injustificada do Poder Legislativo no âmbito do Executivo e, consequentemente, afronta ao princípio constitucional da separação dos poderes encartado no art. 2° da Constituição, nesse sentido posicionou-se o Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, senão vejamos:
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI 2.250/02.
PARCELAMENTO DO SOLO URBANO. MUNICÍPIO DE APARECIDA DE GOIÂNIA. CONDICIONAMENTO DA APROVAÇÃO DE PROJETO DE LOTEAMENTO À AUTORIZAÇÃO LEGISLATIVA. ATO EMINENTEMENTE ADMINISTRATIVO. COMPETÊNCIA DO EXECUTIVO. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES. ARTIGO 2º DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE GOIÁS. PEDIDO PROCEDENTE. Declara-se a inconstitucionalidade, por violação ao princípio da separação dos Poderes, estabelecido no artigo 2º da Constituição do Estado de Goiás, em observância compulsória da Constituição da República, de dispositivos da Lei 2.250/02, do Município de Aparecida de Goiânia-GO, que condicionam a instalação de novos loteamentos do solo urbano, desmembramentos e remanejamentos de imóveis, à autorização legislativa municipal, porquanto se trata de atividade tipicamente administrativa, da competência privativa do Executivo Municipal. AÇÃO DIRETA JULGADA PROCEDENTE. (TJGO, ACAO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 94175- 72.2014.8.09.0000, Rel. DES. ITANEY FRANCISCO CAMPOS, CORTE ESPECIAL, julgado em 28/10/2015, DJe 1926 de 09/12/2015) (grifo nosso)
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. EMENDA N.10/2013,
QUE ALTEROU A LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO DE GOIANIRA. PARCELAMENTO DO SOLO URBANO. CONDICIONAMENTO DA APROVAÇÃO DE PROJETO DE LOTEAMENTO À AUTORIZAÇÃO LEGISLATIVA. ATO EMINENTEMENTE ADMINISTRATIVO. COMPETÊNCIA DO EXECUTIVO. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES. ARTIGO 2º DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE GOIÁS. Declara-se a inconstitucionalidade, por violação ao princípio da separação dos Poderes, estabelecido no artigo 2º da Constituição do Estado de Goiás, em observância compulsória da Constituição da República, dos artigos 167-A e 168, da Emenda n. 10/2013, que alterou a Lei orgânica do Município de Goianira, condicionando a instalação de novos loteamentos do solo urbano, desmembramentos e remanejamentos de imóveis à autorização legislativa municipal, porquanto se trata de atividade tipicamente administrativa, da competência privativa do Executivo Municipal. AÇÃO DIRETA JULGADA PROCEDENTE. (TJGO, ACAO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 448150- 33.2014.8.09.0000, Rel. DES. ITANEY FRANCISCO CAMPOS, CORTE ESPECIAL, julgado em 24/02/2016, DJe 1995 de 28/03/2016) (grifo nosso) A proposta legislativa apresenta INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL, pois é matéria de iniciativa exclusiva do Chefe do Poder Executivo, relativa às funções do quadro de carreira do pessoal municipal e da estrutura organizacional administrativa, para desempenho das atividades típicas da Administração..
Compulsando a legislação e os princípios norteadores da Administração
Pública, vemos também que a Constituição Estadual em seu art. 77, incs. I e V são cabalmente afrontadas com o mencionado Projeto/Autógrafo de Lei, que assim dispõe:
"Art. 77 - Compete privativamente ao Prefeito:
I - exercer a direção superior da administração municipal; [...] “V - dispor sobre a estruturação, atribuições e funcionamento dos órgãos da administração municipal;” (grifo nosso) Vislumbram-se em referidos dispositivos legais, que a iniciativa de leis que disponham de atribuições e funcionamentos dos órgãos, por parte do legislativo é inconstitucional.
Sendo, este também, o entendimento do Egrégio Tribunal de Justiça do
Estado de Goiás, nos julgados abaixo:
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE AFEITA À LEI
COMPLEMENTAR MUNICIPAL N. 110/15 DE APARECIDA DE GOIÂNIA/GO. CONTROLE CONCENTRADO. VÍCIO FORMAL DE INICIATIVA. ARTIGOS 127, § 1º, I, E 130 DA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL DE GOIÁS (CE). VÍCIO MATERIAL. IMPOSIÇÃO AO ESTADO DE ATRIBUIÇÕES, DEVERES E ÔNUS DE ORDEM ADMINISTRATIVA. ARTIGOS 4º, I, ‘F’; 5º, IV; E 6º, V, DA CE. CRIAÇÃO DE ÁREA DE PRESERVAÇÃO SEM INICIATIVA DO PODER PÚBLICO E SEM OBSERVÂNCIA DA LEGISLAÇÃO APLICÁVEL À ESPÉCIE. ARTIGOS 20, 37, III, E 132, § 2º E § 3º DA CE. 1. A partir da leitura dos artigos 127, § 1º, I, e 130 da Constituição Estadual de Goiás; artigo 7º, incisos XI, XV, XVI, parágrafo único, IX, da Lei Orgânica do Município de Aparecida de Goiânia, bem como do artigo 22-A, da Lei Federal n. 9.985/00, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, observa-se que a iniciativa de lei que cria unidade de preservação ambiental é reservada ou privativa do Prefeito Municipal, devendo ser por ele proposta, porquanto é o único com competência para sua elaboração. Nesse viés, a Lei Complementar Municipal nº 110 de 01 de dezembro de 2015 de Aparecida de Goiânia, por ter sido idealizada pelo Poder Legislativo Municipal, deve ser declarada inconstitucional, por vício formal de iniciativa. 2. A lei em referência ainda está eivada de vício material, ao impor ao Chefe do Executivo Municipal, de forma desproporcional, inadequada e sem autorização legal para tanto, atribuições, deveres e ônus de ordem administrativa que são da sua própria competência funcional, conclusão que se infere dos artigos 4º, I, ‘f’; 5º, IV; e 6º, V, da Constituição Estadual de Goiás. 3. Igualmente de ordem material, é o vício da lei advindo da criação de área de preservação, sem observância da legislação pertinente e da necessária iniciativa do Poder Executivo, o que afronta os artigos 20, 37, III, e 132, § 2º e § 3º da CE. 4. PEDIDO INICIAL JULGADO PROCEDENTE. LEI MUNICIPAL DECLARADA INCONSTITUCIONAL POR VÍCIO FORMAL E MATERIAL. (TJGO, ACAO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 449505- 44.2015.8.09.0000, Rel. DES. GERSON SANTANA CINTRA, CORTE ESPECIAL, julgado em 23/11/2016, DJe 2198 de 27/01/2017) (grifo nosso) Logo, não cabe ao Legislativo exercer atos que se traduzem em indevida intromissão de competência exclusiva do Executivo e, consequentemente, em ofensa ao princípio da independência dos Poderes.
“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE -LEI Nº 1.028/2013 DO
MUNICÍPIO DE TERRA ROXA QUE SUBMETE OS PROJETOS DE LOTEAMENTO À APROVAÇÃO DO LEGISLATIVO MUNICIPAL - VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA INDEPENDÊNCIA E HARMONIA DOS PODERES - ART. 7º DA CE - INCONSTITUCIONALIDADE POR VÍCIO MATERIAL. AÇÃO PROCEDENTE.” (TJPR, Órgão Especial, Rel. Des. José Augusto Gomes Aniceto, ADI 11242601 PR 1124260-1, J. 6-10- 2014, publicação DJ 1434, de 14-10-2014) (grifo nosso)
“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI ORGÂNICA DO
MUNICÍPIO DE MARAVILHA. ART. 154, § 1º. CONDICIONAMENTO DA APROVAÇÃO DE PROJETO DE LOTEAMENTO À AUTORIZAÇÃO LEGISLATIVA. ATO EMINENTEMENTE ADMINISTRATIVO. COMPETÊNCIA DO EXECUTIVO. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES. CE, ART. 32. PEDIDO PROCEDENTE. É inconstitucional, por malferir o princípio da separação dos Poderes, norma que condiciona à autorização legislativa a aprovação de projeto de loteamento, porquanto tal ato é de competência do Executivo. ” (TJSC, Órgão Especial, Rel. Des. Sérgio Izidoro Heil, ADI 197235 SC 2011.019723-5, j. 4-10-2011) (grifo nosso)
“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI MUNICIPAL Nº
2.931/2009. PARCELAMENTO DO SOLO. FINS URBANOS E DE IMPLANTAÇÃO DE LOTEAMENTO FECHADO. INICIATIVA PARLAMENTAR. VÍCIO. MATÉRIA DE COMPETÊNCIA EXCLUSIVA DO PODER EXECUTIVO. VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INDEPENDÊNCIA E HARMONIA ENTRE OS PODERES. REPRESENTAÇÃO ACOLHIDA. Compete privativamente ao Executivo Municipal a aprovação de projetos de edificação e planos de loteamento, arruamento e zoneamento urbano, haja vista tratar-se de atividade tipicamente administrativa. Interfere na competência privativa atribuída ao Executivo Municipal, violando o princípio fundamental da separação dos poderes, a edição de normas, por iniciativa da Câmara de Vereadores, que disponham sobre o parcelamento do solo urbano, mercê do artigo 12, da Lei nº 6.766/79, bem como dos artigos 170, inciso V, e 171, inciso I, a e b, da Constituição do Estado de Minas Gerais.” (TJMG, Corte Superior, Rel. Des. Brandão Teixeira, ADI 1.0000.09.509112-0/000), j. 25-5-2011, j. 5-8-2011)
Por essas razões, demonstrado os óbices que impedem a sanção do
Autógrafo de Lei nº. 030, de 29 de abril de 2021, em virtude da inconstitucionalidade formal, esta Procuradoria opina pelo veto total ao Projeto em referência, por ser matéria de iniciativa do Chefe do Poder Executivo Municipal.
Esclarecendo que, nos termos do § 1º do art. 30 da Lei Orgânica do
Município, o VETO se dará dentro do prazo de 15 (quinze) dias, contados daquele em que o receber, devendo apresentar no prazo subsequente de 48 (quarenta e oito) horas, à Câmara Municipal, as razões do veto.
É o parecer. S.M.J
PROCURADORIA GERAL DO MUNICÍPIO DE SENADOR
CANEDO, AOS 07 (SETE) DIAS DO MÊS DE MAIO DO ANO DE 2021.