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26/05/2023, 14:57 Teste nº 1

PARECER EM AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE


 
 
Autos nº. 172.202-0/3-00
Requerente: Prefeito Municipal de Indaiatuba
Objeto: Lei nº 5.236, de 12 de Novembro de 2007 (art.3º), do Município de
Indaiatuba
 

Ementa: “Ação direta de inconstitucionalidade. Lei n. 5.236, de 12


de Novembro de 2007 (art.3º), do Município de Indaiatuba, de
iniciativa parlamentar. Procedência. Redução de verba honorária
em caso de pagamento espontâneo de débito tributário. Matéria de
iniciativa legislativa reservada do Chefe do Poder Executivo.
Violação ao princípio da separação dos poderes (Constituição
Estadual: arts. 5º e 144).  As regras básicas do processo legislativo
federal são de absorção obrigatória no plano estadual – e,
consequentemente, no municipal – por sua implicação com o
princípio fundamental da separação dos poderes. Preceito
extensível e de observância simétrica que limita a auto-organização
dos Estados e Municípios” (ADI 168.670-0/3-00)
 

Colendo Órgão Especial

Excelentíssimo Senhor Desembargador Presidente

Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, movida pelo


Prefeito Municipal de Indaiatuba, tendo por objeto o art.3º da Lei
Municipal n.º 5.236, de 12 de Novembro de 2007, daquele município,
que “Dá nova redação ao inciso I, do art.256 da Lei n. 1.284, de 20
de dezembro de 1.973, que institui o Código Tributário do Município

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de Indaiatuba, modificando a aplicação de juros de mora sobre


débitos tributários, e dá outras providências”.

Sustenta o autor que o projeto que a antecedeu teve nascedouro


por iniciativa do Poder Executivo, mas recebeu emenda pela Câmara
Municipal e que, depois de aprovado, foi vetado pelo Poder Executivo.
O veto foi derrubado e, afinal, a lei foi promulgada pelo Presidente
da Câmara Municipal.

A Lei teve a vigência e eficácia suspensas ex nunc, atendendo-se


ao pedido liminar (fls. 50).

O Presidente da Câmara Municipal se manifestou a fls. 80/88,


em defesa da lei impugnada. Afirmou que o projeto de lei é de
iniciativa do Chefe do Poder Executivo Municipal e que a Câmara
acrescentou apenas a questionada emenda  e que se ateve a sua
competência legislativa.

A Procuradoria-Geral do Estado declinou da defesa do ato


impugnado, observando que o tema é de interesse exclusivamente
local (fls. 76/78).

Este é o breve resumo do que consta dos autos.

A presente ação direta deve ser julgada procedente, apesar do


enorme respeito que merece a orientação do Supremo Tribunal
Federal que, reiteradamente, tem decidido pela inexistência de
reserva de iniciativa em se tratando de lei tributária, conforme se
depreende do seguinte julgado:

         "A Constituição de 1988 admite a iniciativa parlamentar na


instauração do processo legislativo em tema de direito tributário.  A
iniciativa reservada, por constituir matéria de direito estrito, não se
presume e nem comporta interpretação ampliativa, na medida em que,
por implicar limitação ao poder de instauração do processo legislativo,

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deve necessariamente derivar de norma constitucional explícita e


inequívoca. O ato de legislar sobre direito tributário, ainda que para
conceder benefícios jurídicos de ordem fiscal, não se equipara,
especialmente para os fins de instauração do respectivo processo
legislativo, ao ato de legislar sobre o orçamento do Estado." (ADI
724-MC, Rel. Min. CELSO DE MELLO, julgamento em 7-5-92, DJ de
27-4-01)

Ocorre que a inconstitucionalidade apontada não se


fundamenta na forma apontada de reserva de iniciativa, mas, de fato,
no campo da administração pública e na dissipação do erário, ao
permitir que o contribuinte inadimplente, que faça pagamento
espontâneo de débito tributário tenha reduzida a verba honorária
para 1% do montante devido.

Portanto, verifica-se a ocorrência de contraste inadmissível


entre a lei em exame e a Lei Maior paulista, sob os seguintes aspectos.
Vejamos.

As normas que tratam da reserva de iniciativa, longe de


normas de direito estrito, ou de exceção, refletem com sutileza as
nuances e a evolução do principio da separação de poderes. As regras
de fixação de competência para a iniciativa do processo legislativo
têm como corolário o princípio da separação dos poderes, que nada
mais é do que o mecanismo jurídico que serve à organização do
Estado, definindo órgãos, estabelecendo competências e marcando as
[1]
relações recíprocas entre esses mesmos órgãos .

Assim, um parlamentar tanto tem a iniciativa de projetos


como pode propor a alteração nos projetos vindos do Executivo.
Entretanto, ao insinuar-se na questão tributária - vital para a
manutenção dos serviços públicos - a Câmara  deve  atentar a que 
eventuais alterações devam  estar  em conformidade    com  o plano
plurianual, a lei de  diretrizes orçamentárias  e  a proposta   

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orçamentária,  leis essas  de iniciativa exclusiva do Executivo, sendo


que, especialmente a segunda 'disporá sobre as alterações na 
legislação tributária'.

É evidente, portanto, que a concessão de benefícios a


determinada categoria de pessoas acaba por interferir na
administração municipal, reduzindo receitas, o que pode comprometer
a atuação do Chefe do Poder Executivo.

Há sério risco em legitimar esse comportamento do


legislador municipal, pois seria uma perigosa forma de permitir sua
interferência nas finanças públicas e, indiretamente, na atuação do
Poder Executivo.

[2]
Importante lembrar da lição de Alfredo Buzaid : “O
antagonismo que pode surgir entre as leis se afere não tanto pela
hierarquia quanto pela usurpação ou abuso de poder”.

A emenda ao projeto de lei que resultou na Lei n. 5.236,


de 22 de novembro de 2007, ora examinada, resultou de processo
legislativo iniciado por vereador (fls. 25), sem que fosse apresentado
qualquer estudo tributário específico. Aliás, sem qualquer tipo de
planejamento orçamentário.

A atuação do legislador municipal, por isso, pode


interferir diretamente na administração municipal, o que não pode ser
aceito.

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Por fim, anote-se também, que o legislativo municipal, ao


referir-se à verba honorária sucumbencial, enveredou, indevidamente,
por artéria legislativa referente ao Processo Civil (art.20), de reserva
do Chefe do Executivo da União (art.22, inc.I da CF), sendo que as
regras básicas do processo legislativo federal são de absorção
obrigatória no plano estadual – e, consequentemente, no municipal –
por sua implicação com o princípio fundamental da separação dos
poderes, preceito extensível e de observância simétrica que limita a
auto-organização dos Estados e Municípios (ADI 168.670-0/3-00).

Diante do exposto, nosso parecer é no sentido da integral


procedência desta ação direta, declarando-se a inconstitucionalidade
do art.3º da Lei Municipal nº 5.236, de 22 de novembro de 2007, do
Município de Indaiatuba.

São Paulo, 12 de maio de 2009.

 
        Maurício Augusto Gomes
        Subprocurador-Geral de Justiça
        - Assuntos Jurídicos -
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[1]
Manoel Gonçalves Ferreira Filho, Do Processo Legislativo, São Paulo: Saraiva, p.
111/112.
[2]
Da ação direta, São Paulo: Saraiva, 1958, p. 46.

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