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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO

GRANDE DO SUL

LETÍCIA DE MORAES

A LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA PROMOVER A


INVESTIGAÇÃO CRIMINAL.

Ijuí (RS)
2015
LETÍCIA DE MORAES

A LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA PROMOVER A


INVESTIGAÇÃO CRIMINAL.

Trabalho de Conclusão do Curso de


Graduação em Direito.
UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste
do Estado do Rio Grande do Sul.
DCJS- Departamento de Ciências Jurídicas e
Sociais.

Orientador: MSc. Fernando Sodré de Oliveira

Ijuí (RS)
2015
Dedico este trabalho as pessoas mais
importantes da minha vida, meus queridos
pais Alcindo e Rosmeri de Moraes e ao meu
namorado Eduardo Marasca, pelo incentivo,
apoio e confiança em mim depositados
durante toda a minha jornada.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus por ter me sustentado a chegar até aqui. A minha família, que
sempre esteve presente e me incentivou com apoio e confiança nas batalhas da vida e com
quem aprendi que os desafios são as molas propulsoras para a evolução e o desenvolvimento.

Ao meu orientador Professor Fernando Sodré de Oliveira, com quem eu tive o


privilégio de conviver e contar com sua experiência, dedicação e disponibilidade, me guiando
pelos caminhos do conhecimento.

As minhas queridas amigas e colegas de trabalho Letícia Mathias, Francieli Oviedo,


Ana Paula dos Santos Fin, Mariane Berwing, Davieli Daronch e Danieli Giovelli, pois me
ensinaram que há muito mais além de uma amizade verdadeira. Obrigado pelas palavras de
incentivo nos momentos de fraquezas.

A todos no qual convivi ao longo de minha faculdade e que de alguma forma


colaboraram sempre que solicitados, com boa vontade e generosidade, enriquecendo o meu
aprendizado.
“O direito não é mero pensamento, mas sim força
viva. Por isso, a justiça segura, numa das mãos a
balança, no qual pesa o direito, e na outra a
espada, com qual o defende. A espada sem a
balança é a força bruta, a balança sem a espada
é a fraqueza do direito. Ambas se completam e o
verdadeiro estado de direito, só existe onde a
força, com o qual a justiça empunha a espada,
usa a mesma destreza com que maneja a
balança”.

Rudolf Von Lhering


RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso faz uma análise da real função do Ministério
Público, a fim de propiciar a demonstração da legitimidade da função investigatória do
Ministério Público, a partir do perfil Institucional que lhe é conferido na Constituição Federal
de 1988. A questão é polemica e origina-se de diferentes interpretações delineadas aos
dispositivos da Constituição Federal e demais Legislações pertinentes. Os argumentos de
ambas correntes de entendimentos conduzem o juízo à ideia de que o Ministério Público é sim,
órgão legitimado para exercer diligencias investigatórias no âmbito criminal, atividade essa,
que deve ser informada por uma necessidade circunstancial passível de efetivo controle
jurisdicional.

Palavras-chave: Constituição Federal. Legitimidade. Ministério Público.


ABSTRACT

This course conclusion work analyzes the actual function of the Public Ministry, in
order to provide a demonstration of the legitimacy of the investigative function of the Public
Ministry, from the Institutional Profile conferred on it in the Constitution of 1988. The
question is controversy and stems from different interpretations outlined the provisions of the
Federal Constitution and other relevant legislations. The arguments of both current
understandings lead judgment the idea that the public prosecutor is yes, legitimate body to
exercise investigative due diligence in the criminal context, this activity, which must be
informed by a circumstantial necessity subject to effective judicial review.

Keywords: Federal Constitution. Legitimacy. Public Ministry.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 8

1 O MINISTÉRIO PÚBLICO E A POLÍCIA JUDICIÁRIA ............................................ 10


1.2 Garantias e proibições estabelecidas ao Ministério Público ......................................... 13
1.3 Funções essenciais do Ministério Público no ordenamento brasileiro ........................ 16
1.4 A Polícia Judiciária e suas atribuições ........................................................................... 18

2 O MINISTÉRIO PÚBLICO E A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL ................................. 23


2.1 O Ministério Público e o controle externo da atividade policial .................................. 23
2.2 Prós e contras em relação à atuação do Ministério Público na investigação criminal
.................................................................................................................................................. 27
2.3 Investigação criminal presidida pelo Ministério Público sob a ótica dos Tribunais .. 32
2.4 A Proposta de Emenda Constitucional PEC nº 37/2011 ............................................... 33
2.5 Decisão do STF do ano de 2015 sobre a legitimidade do MP para promover a
investigação criminal .............................................................................................................. 35

CONCLUSÃO......................................................................................................................... 38

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 40

ANEXO I ................................................................................................................................. 42
ANEXO II................................................................................................................................ 45
ANEXO III .............................................................................................................................. 47
8

INTRODUÇÃO

A entidade Ministério Público é um órgão que desperta interesse diante de sua


polêmica atuação a respeito de investigações criminais e dos seus limites no desempenho das
atribuições que lhe são conferidas na Constituição Federal.

A Constituição Federal de 1988 conferiu um novo perfil à entidade Ministério Público


para defender os interesses da sociedade reservando a ela a titularidade da ação penal, tendo
assim o grande controle da organização de repressão ao crime.

Neste sentido foi proposta a PEC 37 que objetivava conferir exclusivamente à Policia
atribuições para atuar na investigação criminal. Não obstante, ao se analisar as razões da
rejeição de tal proposta pelos parlamentares percebe-se que houve grande pressão midiática
para este resultado.

Porem, ao se estudar alguns dispositivos constitucionais, pode-se afirmar que, embora


a PEC 37 afirme o contrário, o Ministério Público possui legitimidade para realizar
diligências investigatórias no âmbito criminal, desde que orientada de certa necessidade
circunstancial e submetida a controle jurisdicional.

É notório que o tema em epígrafe vem tomando maiores proporções quando das
investigações que tem o Ministério Publico procedido, especialmente ao grande índice de
criminalidade que enfrentamos atualmente, normalmente com inegável êxito com
acompanhamos em noticias divulgadas pela mídia.

O tema que se propõe debater é justamente as atribuições do órgão Ministerial no


âmbito criminal, referente às diligencias criminais.
9

Para a concretização do trabalho utilizou-se o método de abordagem dedutivo,


mediante pesquisas bibliográficas.

O desenvolvimento da presente pesquisa, tem inicio com a análise da Instituição


Ministério Público, quanto sua origem seus princípios, garantias e proibições e as funções
enquanto Instituição Constitucionalmente encarregada de movimentar a ação penal pública e
realizar a defesa dos interesses individuais indisponíveis, difusos, coletivos e sociais.

No segundo momento, procurou-se tratar a respeito das funções penais do Ministério


Público, abordara-se a, a controvérsia acerca da sua legitimidade para investigar os crimes.
10

1 O MINISTÉRIO PÚBLICO E A POLÍCIA JUDICIÁRIA

O Ministério Público possui, no Brasil, a função de ser o defensor da ordem jurídica,


servindo concomitantemente como uma dos pilares de sustentação do Estado Democrático de
Direito.

Para tanto, é um órgão que desperta interesse diante de sua polêmica atuação a
respeito de investigações criminais e dos seus limites no desempenho das atribuições que lhe
são conferidas na Constituição Federal.

Neste sentido questiona-se se o Ministério Público brasileiro está ou não


constitucionalmente autorizado a realizar as investigações criminais.

A Constituição Federal de 1988 conferiu um novo perfil a entidade Ministério Público


para defender os interesses da sociedade reservando a ela a titularidade da ação penal, tendo
assim o grande controle da organização de repressão ao crime.

Neste sentido foi proposta a PEC 37 que objetivava conferir exclusivamente a Policia
atribuições para atuar na investigação criminal. Não obstante, ao se analisar as razões da
rejeição de tal proposta pelos parlamentares percebe-se que houve grande pressão midiática
para este resultado.

Porém, ao se estudar alguns dispositivos constitucionais, e, perante recente decisão do


STF pode-se afirmar que, o Ministério Público possui sim legitimidade para realizar
diligências investigatórias no âmbito criminal, desde que orientada de certa necessidade
circunstancial e submetida a controle jurisdicional.

1.1 A Instituição do Ministério Público e seus princípios

O Ministério Público não surgiu de repente, num só lugar, por força de algum ato
legislativo, formou-se lenta e progressivamente, em resposta as exigências históricas.

A origem da expressão Ministério Público já se encontrava em textos romanos


clássicos. No sentido de se referir a Instituição, a expressão francesa ministére public, passou
11

a ser usada com frequência nos provimentos legislativos do século XVIII, ora para referir-se a
um magistrado especifico, ora para designar as funções próprias daquele oficio publico.

Mario Vellani (1996, p. 02), ao se referir à expressão Ministério Público diz que esta
“nasceu inadvertidamente, na prática”, quando os procuradores e advogados do rei falavam de
seu próprio ministério.

A Primeira conceituação legal do Ministério Público, deu-se com a Lei complementar


nº 40/81 considerando-o “instituto permanente e essencial à função jurisdicional do Estado,
responsável perante o judiciário pela defesa da ordem jurídica e dos interesses indisponíveis
da sociedade, pela fiel observância da Constituição e das Leis”.

A principal função do Ministério Público está disposta no artigo 127 da Constituição


Federal de 1988, o que por si só tendo certas interpretações divergentes.

Art. 127 CF/88: O Ministério Público é Instituição permanente, essencial a


função jurisdicional do Estado incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica,
do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
§ 1º São princípios institucionais do Ministério Publico, a Unidade a
Indivisibilidade e a independência funcional. (BRASIL, 2014).

Para muitos o Ministério Publico é considerado “Poder”, já para outros é componente


do Poder Legislativo, pois a este é conferida a elaboração da lei e o Ministério Público a
fiscalização do cumprimento da mesma.

Entretanto há pessoas que acreditam que o Ministério Público pertença ao Poder


Judiciário, embora não se configure órgão jurisdicional. Ainda, por obter funções autônomas,
independentes, próprias, constitucionais e com parcela de soberania do Estado, o pensamento
majoritário é que o Ministério Público esta inserido ao Judiciário realizando a execução das
Leis.

Na Constituição Federal de 1988 o Ministério Público é organizado da seguinte forma:


Ministério Público Federal, Ministério Público Militar, Ministério Público do Trabalho,
Ministério Público do Distrito Federal e dos territórios, Ministérios Públicos dos Estados,
todos independentes entre si (art. 128 CF).
12

Cada Ministério Público é organizado por leis complementares distintas de iniciativa


dos respectivos Procuradores Gerais, observados os princípios e atribuições fixados na
Constituição Federal (art. 128 § 5º).

Em 20 de Maio de 1933 foi sancionada a Lei Orgânica do Ministério Publico da União


(LOMPU), a Lei complementar nº 75/93, que dispõe sobre a organização, as atribuições e o
Estatuto do Ministério Publico da União (Ministério Público Federal, do Trabalho, Militar e
do Distrito Federal e Territórios).

De acordo com a Lei Orgânica Nacional do Ministério Público (Lei nº 8.625 de


12.02.1933),e previsto na CF/88, o Ministério Publico é um órgão Constitucional .

As funções do MP somente serão exercidas por membros de carreira, ou seja


aprovados em concurso publico com provas e títulos, sendo assegurada a participação da
OAB. OS Promotores de Justiça deverão residir em sua Comarca de Lotação (art. 129 § 2º da
CF/88). Assim como os membros do judiciário os Promotores estão sujeitos à arguição de
suspeição e impedimentos.

O campo de atuação do Ministério Público na esfera criminal é titular e privativo da


ação penal publica, podendo requisitar inquérito policial e diligências investigatórias. Cabe-
lhe ainda, o controle externo da atividade policial na forma de lei complementar.

Os princípios que regem o Ministério Público, conforme o art. 127 § 1º da CF/88 são:
a unidade a indivisibilidade e a independência funcional, porem a doutrina aponta outros
princípios relacionados a atividade do Ministério Publico, são eles Principio da
indisponibilidade, irrecusabilidade, irresponsabilidade, devolução e substituição.

Sobre o Principio da Unidade entendemos que

O Ministério Público é um Órgão só, sob a mesma direção e exercendo


sempre a mesma função, todos os seus representantes disseminados por
comarcas e juizados integram e compõem o mesmo órgão, cada membro fala
e requer em nome da mesma instituição e não em nome próprio.
(MIRABETE, 2005, p.356).
13

Assim, o princípio do juiz natural (apenas um juiz tem o direito e dever de julgar
aquele caso naquela instância), pelo princípio da indivisibilidade, os membros do Ministério
Público estadual podem ser substituídos uns pelos outros. Eles não ficam vinculados a um
processo. Basta o procurador-geral de justiça do estado querer substituí-los (o que não poderia
acontecer, por exemplo, entre magistrados, no judiciário). O mesmo ocorre com o MP federal.

O princípio da independência funcional consiste em afirmar que apesar de o Ministério


Publico ser um órgão hierarquizado ele possui independência e autonomia no exercício de
suas funções.

De acordo com Antônio Augusto Mello de Camargo (1999, p. 107) além da autonomia
funcional, ou seja, a liberdade de exercer o ofício em face de outros órgãos e Instituições do
Estado, a Lei também assegura aos agentes do Ministério Publico a independência funcional,
que é a liberdade com que estes exercem seu oficio, agora em face de outros órgãos da própria
instituição de Ministério Público.

Pelo principio da indisponibilidade entende-se que, sendo o promotor de justiça titular


da ação penal pública sendo essa condicionada ou não, não poderá dispor.

A irrecusabilidade consiste em o membro do ministério Público, não poderá ser


recusado, exceto nos casos previstos em lei de suspeição ou impedimento.

O Principio da Irresponsabilidade afirma que o promotor não poderá ser


responsabilizado pelos atos praticados em oficio de sua função, exceto nos casos de
improbidade administrativa e de prática de ato ilícito. (Art. 37 § 4º e 5º da CF/88)

Pelo principio da Devolução entendemos que o superior pode exercer a função própria
do subordinado como nos casos de avocação, designação, etc. E o principio da substituição
alega que o procurador geral poderá designar outro membro da Instituição para propor
determinada ação penal.

1.2 Garantias e proibições estabelecidas ao Ministério Público


14

De acordo com o Art. 128 § 5º, I, da CF/88, os membros do Ministério Público assim
como os magistrados possuem garantias, onde visa proporcionar mais segurança no exercício
de suas funções.

Art. 128:
§ 5º. Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultada
aos respectivos Procuradores Gerais, estabelecerão a organização, as
atribuições e os Estatutos de cada Ministério Público, observadas,
relativamente aos seus membros:
I -As seguintes Garantias:
a) vitaliciedade, após dois anos de exercício, não podendo perder o cargo
senão por sentença judicial transitado em julgado;
b) inamovibilidade, salvo por motivo de interesse publico, mediante decisão
do órgão colegiado competente do Ministério Publico, pelo voto da maioria
absoluta de seus membros assegurada ampla defesa;
c) irredutibilidade de subsidio, fixada na forma do art. 39 § º e ressalvado o
disposto nos arts. 37,X e XI, 150, II, 153, III, 153, § 2º.,I; (VADE MECUM,
2014).

Entende-se por vitaliciedade que após dois anos de exercício do cargo, o promotor de
justiça não poderá perder o cargo se não por sentença judicial transitada em julgado.

Antônio Augusto Mello de Camargo Ferraz (1999, p.110) diz que como regra geral a
vitaliciedade é garantia em face dos governantes, no Ministério Público passou a ser também
garantia da própria Instituição, que não mais pode demitir seus membros se não por processo
judicial.

A inamovibilidade assegura que, salvo por motivo de interesse publico mediante


decisão do órgão colegiado competente do Ministério Publico devendo ser por voto de dois
terços de seus membros, assegurada a ampla defesa o promotor de justiça não poderá ser
removido para outra comarca ou juízo.

Para Ferraz (1999, p. 110)

Os membros do Ministério Público, porem se essa garantia, se fosse


interpretada no aspecto puramente literal, facilmente poderia ser burlado,
pois, que seria possível retirar todas as atribuições do agente, embora
mantendo formalmente no cargo.

Pela garantia da Irredutibilidade de vencimentos quanto a remuneração está disposto


nos artigos 37, XI; 150, II; 153, III; 153 § 2º, I. Além dessas garantias os membros do
15

Ministério Público gozam também de garantias de foro por prerrogativa de função, conforme
previsto nos artigos 102, I, b; 52, II; 105, I, a; 108, I, a e 96, III.

Asseguradas as garantias que são a vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade, os


membro do Ministério Publico estão proibidos constitucionalmente conforme a art. 128, § 5º,
II da CF/88 à: receber, a qualquer titulo e sob qualquer pretexto honorários, porcentagens e
custas processuais; Exercer a advocacia; participar de sociedade comercial; exercer qualquer
outra função publica, salvo a de magistério; exercer atividade político-partidário; receber
auxilio ou contribuições de pessoas físicas, entidades publicas ou privadas, exceto as previstas
em lei.

Entretanto, nos termos do art. 29, § 3º do Ato das Disposições Constitucionais


Transitórias, dispõe que: Poderá optar pelo regime anterior, no que repeita as garantias e
vantagens, o membro do Ministério Publico admitido antes da promulgação da Constituição,
observando-se, quanto ás vedações, a situação jurídica na data desta.

As funções do M.P. Somente serão exercidas pelos membros de carreira, ou seja


aprovados em concurso publico de provas e títulos, sendo assegurada a participação da OAB
Os promotores de justiça deverão residir na comarca de sua lotação (Art. 129 § 2º CF). É
expressamente proibida a nomeação de promotor Ad Hoc como admitia na Constituição
anterior. Contudo o STJ já admitiu em casos excepcionais, como a paralisação do M.P., que
ninguém pode impedir o funcionamento da justiça.

Assim a possibilidade de nomeação de promotor Ad Hoc, torna-se vedada a mesma era


admitida em caráter excepcional na vigência da constituição anterior segundo o STF.

Pode-se se dizer também, que se anulou o processo de nomeação de promotor Ad Hoc,


por falta de prejuízo para a acusação.

Dispõe no Art. 258 da CRFB de 1988:

Os órgãos do Ministério Público não funcionarão nos processos em que o


juiz ou qualquer das outras partes for seu cônjuge ou parente, consanguíneo
ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, e a eles se
16

estendem, nos que lhes for aplicável as prescrições relativas a suspeições e


impedimentos dos juízes. (BRASIL, 2014).

Portanto, os promotores assim como os membros do judiciário, estão sujeitos à


arguição de suspeição e impedimentos.

1.3 Funções essenciais do Ministério Público no ordenamento brasileiro

Quanto às funções essenciais do Ministério Publico, podemos citar em especial duas


que estão previstas no art. 257 do CPP que são promover a execução da Lei e fiscalizar essa
execução.

O Ministério Público é por excelência ou deveria ser acima de tudo, fiscal da Lei e não
um atropelador desta, pois como expressado pelo STF:

A qualificação do Ministério Público como órgão interveniente, defere-lhe


posição de grande eminencia no contexto da relação processual na medida em
que lhe incumbe o desempenho imparcial da atividade fiscalizadora pertinente
à correta aplicação do direito objetivo. (STF RTJ, 154:426). (BRASIL, 2014).

Com o surgimento do processo acusatório o Ministério Público, passou a realizar


essencialmente o papel de acusador, representando os interesses do Estado em ver atuando o
seu direito de punir através da imposição da vontade da lei penal, conforme dispõe o art. 24
do CPP.

Cabe ao Ministério Publico a persecução criminal, pois é ele o titular da ação punitiva
do Estado quando esta é levada ao juízo. O Estado administração como titular da pretensão
punitiva do Estado tem no Ministério Publico o órgão a quem delega as funções destinadas a
tornar efetivo o direito de punir, (MIRABETE, 2005).

Nos crimes de ação penal privada, tenha ou não feito qualquer aditamento, deve o
Ministério Publico atuar como custos legis, já que o art. 257 do CPP lhe confere a função de
fiscalizar a execução da lei.

Conforme Júlio Fabrini Mirabete (2005, p. 359):


17

Como o processo penal obedece ao principio do contraditório, a ele como


representante da sociedade cabe, a função de acusar em nome da justiça
publica, sendo parte é inquestionável, sua legitimidade ad causam e a
capacidade postulatória como reapresentante do interesse publico, estando
credenciado a todos os atos destinados a efetivação do jus puniendi,
inclusive o de impetrar mandado de segurança contra ato judicial, requisitar
diligencia, ser intimado das audiências e sentenças, inclusive das concessivas
de habeas corpus, a quais pode recorrer.

O mesmo doutrinador afirma ainda:

Em primeira instancia que promove a ação pública é o Promotor de Justiça e


Promotores substitutos. Já em segunda instancia junto aos tribunais, exceto
júri, pequenas causas e especiais, são os Procuradores de Justiça, cujo chefe
da Instituição é o Procurador Geral de Justiça. (MIRABETE, 2005, p. 359)

O Ministério Público é uma autoridade pública encarregada de zelar, em nome da


sociedade e no interesse público, pela aplicação da lei, quando o incumprimento da mesma
implicar sanção penal, tendo em consideração os direitos individuais e a necessária eficácia
do sistema de justiça penal. (REC (2000) 19, aprovada pelo Comitê de Ministros do Conselho
da Europa, em 06 de outubro de 2000, versando sobre o papel do Ministério Público no
sistema de justiça criminal).

Essa ideia sugere uma reflexão para melhor situarmos essa instituição no mundo
jurídico, lança um triplo desafio: contribuir para o desenvolvimento da cidadania; saber sua
real função na persecução penal; reconhecer ainda tratar-se de uma instituição cuja
maturidade parece não ter sido alcançada.

Essa nova configuração do Ministério Público brasileiro segue uma tendência


ocidental no sentido de lhe atribuir a função de garante da ordem jurídica, sem descuidar,
contudo, dos interesses da vítima e do imputado. Muito embora possa parecer impraticável,
eis a realidade jurídica colocada a cargo e ainda esperada dessa instituição.

O elenco das funções institucionais do MP se encontra no art. 129, incisos I a IX da


CF de 1988, todas caracterizadas pela defesa dos interesses indisponíveis, em suas diversas
modalidades:

I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei


18

II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de


relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as
medidas necessárias a sua garantia;
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do
patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e
coletivos;
IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins de
intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos nesta Constituição;
V - defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas;
VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua
competência, requisitando informações e documentos para instruí-los, na
forma da lei complementar respectiva;
VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei
complementar mencionada no artigo anterior;
VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito
policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações
processuais;
IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis
com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria
jurídica de entidades públicas. (VADE MECUM 2014).

A CRFB/88 ampliou o poder investigativo do MP, outorgando-lhe poderes para


expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando
informações e documentos para instruí-los, e para requisitar diligências investigatórias e a
instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos de suas manifestações
processuais.

1.4 A Polícia Judiciária e suas atribuições

A Polícia judiciária é aquela que tem como o principal objetivo reprimir as infrações
penais, e apresentar à justiça aos infratores para suas devidas sanções. A polícia judiciária
também investiga delitos que a policia administrativa não conseguiu abster que fossem
cometidos.

Para Álvaro Lazzarini a polícia judiciária tem a atribuição de auxiliar da repressão


criminal. Já para Hely Lopes Meireles, (1999).

A polícia judiciária é a que o estado exerce sobre as pessoas sujeitas a sua


jurisdição, através dos órgãos auxiliares para a repressão de crimes e
contravenções tipificadas nas leis penais. Essa policia é eminentemente
repressiva, pois, só atua após o cometimento do delito e visa, precipuamente,
a identificação do criminoso e de sua condenação penal. Para tanto o Poder
Judiciário é auxiliado pela policia civil, cuja missão primordial é investigar
os fatos e a autoria do delito para a consequente ação penal.
19

A Polícia Judiciária vem sendo vista como sinônimo de Polícia de Investigação,


inclusive por parte dos próprios membros das Polícias Civis, seja no âmbito da União, seja no
âmbito dos Estados, mas há, portanto, uma distinção que se sustenta na própria interpretação
literal do art. 144, § 4º da Constituição Federal, que assim dispõe:

Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem


ressalvadas a competência da União, as funções de polícia judiciária e
a apuração de infrações penais, exceto as militares. (VADE MECUM, 2014).

Percebe-se que o legislador destinou às polícias civis, pelo menos, duas atividades
originárias e distintas: as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto
as militares. Ate então se torna fácil a interpretação, a questão se torna um pouco mais
complexa quando buscamos definir o que são, em sua essência, esses serviços.

Quanto à apuração de infrações penais, nos apresenta como a atividade de


investigação criminal, ou seja, uma pesquisa que reúne dados de fontes diversas e os organiza
objetivando reconstruir de maneira a se desvendar um fato já ocorrido, definido como
infração penal, permitindo-se a responsabilização penal do seu agente. Comumente é o que se
chama de desvendar a autoria e a materialidade de um delito.

Para Nestor Távora, um respeitado processualista da atualidade, que aborda o tema


policia judiciária define:

De atuação repressiva, que age, em regra, após a ocorrência de infrações


penais, visando angariar elementos para apuração da autoria e constatação da
materialidade delitiva. Neste aspecto, destacamos o papel da Polícia Civil
que deflui do art. 144, §4º, da CF, verbis:... No que nos interessa, a polícia
judiciária tem a missão primordial de elaboração do inquérito policial.
Incumbirá ainda à autoridade policial fornecer às autoridades judiciárias as
informações necessárias à instrução e julgamento dos processos; realizar
diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério Público; cumprir os
mandados de prisão e representar, se necessário for, pela decretação de
prisão cautelar (art. 13 do CPP). (TÁVORA, 2009).

Para se compreender que a expressão “funções” no plural em que é utilizada na Carta


Magna evidencia um conjunto de atividades classificadas como de polícia judiciária.
Classificam-se essas funções de polícia judiciária todo o apoio e o auxílio necessário à
eficácia das ordens emanadas do Poder Judiciário. Nada adiantaria ao Estado Democrático de
20

Direito a existência de um juiz cujas ordens fossem ignoradas ou não se efetivassem e, nesse
aspecto, o cumprimento de mandados, por excelência, se apresentaria como função de polícia
judiciária, proposição aceita pacificamente na doutrina.

Para Mirabete citado por Fernando Capez (2005, p.67), a polícia judiciária “é uma
instituição de direito público, destinado a manter a paz pública e a segurança individual”.
Portanto, há uma distinção entre a polícia administrativa da polícia judiciária assim descrito
também pelo professor Celso Bastos (2001, p. 153):

Diferenciam-se ainda ambas as polícias pelo fato de que o ato fundado na


polícia administrativa exaure-se nele mesmo. Dada uma injunção, ou
emanada uma autorização, encontra-se justificados os respectivos atos, não
precisando ir buscar o seu fundamento em nenhum ato futuro. A polícia
judiciária busca seu assento em razões estranhas ao próprio ato que pratica.
A perquirição de um dado acontecimento só se justifica pela intenção de
futuramente submetê-lo ao Poder Judiciário. Desaparecida esta
circunstância, esvazia-se igualmente a competência para a prática do ato.

E continua:

Dos ensinamentos expostos, e percebendo os limites de atuação destes dois


ramos da atividade policial voltados para a segurança pública, podemos
concluir que: a polícia de segurança é composta por uma polícia
administrativa, que age de forma preventiva, independente de autorização
judicial e com o objetivo de impedir a ocorrência do crime; e, por uma
polícia judiciária, que age de forma repressiva, com base numa futura
submissão dos seus atos ao Poder Judiciário, visando à elucidação do crime
já perpetrado.
Diante destas assertivas, resta-nos averiguar quais órgãos policiais
brasileiros tem atribuições para exercerem as funções de polícia
administrativa e quais terão as atribuições para exercerem as funções de
polícia judiciária.
A Carta Política de 1988, em seu artigo 144, estabelece quais os órgãos
policiais brasileiros existem e em que atividade policial eles são
responsáveis pela segurança pública. E o mandamento é imperativo:
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de
todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das
pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I- polícia federal;
II- polícia rodoviária federal;
III- polícia ferroviária federal
IV- polícias civis;
V- polícias militares e corpos de bombeiros militares;
Por mais que se queira inferir, por questões corporativistas, a existência de
um órgão de “polícia judiciária” no Brasil, seja em âmbito estadual ou
federal, isto não existe! Apenas aqueles citados nos incisos de I a V, do art.
144, referidos, são órgãos policiais. O que existe isto sim são órgãos
21

policiais com atribuições de exercer as funções de polícia administrativa e as


funções de polícia judiciária. (BASTOS, 2001, p. 153).

O autor foi bem-sucedido ao afirmar sem meios termos que não existe órgão de
segurança pública denominada “polícia judiciária”, tratando-se, pois, de funções atribuídas a
determinado órgão, necessariamente inserido nos incisos do artigo 144 como relatado. Dessa
forma, temos uma impropriedade técnica no Estado do Mato Grosso, onde a Polícia Civil é
legalmente denominada de Polícia Judiciária Civil.

Em se tratando de uma análise conceitual, podemos dizer que o citado professor


avançou em se identificar o órgão, distinguindo-o de funções ou atividades por ele realizadas.
Mais viável é agora o caminho na conceituação e compreensão do que sejam essas funções.

Não é exigido muito para se compreender que a expressão “funções” no plural em que
é utilizada na Carta Magna evidencia um conjunto de atividades classificadas como de polícia
judiciária, mas quais são elas?

Comumente classificam-se como funções de polícia judiciária todo o apoio e o auxílio


necessário à eficácia das ordens emanadas do Poder Judiciário. Nada adiantaria ao Estado
Democrático de Direito a existência de um juiz cujas ordens fossem ignoradas ou não se
efetivassem e, nesse aspecto, o cumprimento de mandados, por excelência, se apresentaria
como função de polícia judiciária, proposição aceita pacificamente na doutrina.

Enxergar, entretanto, as funções de polícia judiciária somente sob esse ponto de vista
traz inquietações que foram e ainda são ignoradas desde o estabelecimento da nova ordem
constitucional.

Então, podemos afirmar que a Polícia Administrativa possui maior discricionariedade,


já que atua independentemente de autorização judicial, visando a impedir a realização de
crimes.

Já a Polícia Judiciária tem sua atuação regida, entre outros dispositivos legais, pelo
Código de Processo Penal, predominando o seu caráter repressivo, pois sua principal função é
punir os infratores das leis penais. De acordo com seu próprio nome, a Polícia Judiciária atua
22

em auxílio à Justiça, apurando as infrações criminais e as respectivas autorias. Nesse sentido,


Guilherme de Souza Nucci (2005, p. 123) destaca que:

O nome polícia judiciária tem sentido na medida em que não se cuida de


uma atividade policial ostensiva (típica da Polícia Militar para a garantia da
segurança nas ruas), mas investigatória, cuja função se volta a colher provas
para o órgão acusatório e, na essência, para que o Judiciário avalie no futuro.

Para melhor abordar a questão da diferenciação entre as categorias de polícia,


recorremos a Álvaro Lazzarini, citado pela professora Maria Sylvia Di Pietro:

A linha de diferenciação está na ocorrência ou não de ilícito penal. Com


efeito, quando atua na área do ilícito puramente administrativo (preventiva
ou repressivamente), a polícia é administrativa. Quando o ilícito penal é
praticado, é a polícia judiciária que age. (LAZZARINI, 2000, apud DI
PIETRO, 2002, p. 112).

Assim, a Polícia Judiciária tem a finalidade de apurar as infrações penais e as suas


autorias, através do inquérito policial, procedimento administrativo de caráter inquisitivo, o
qual consiste na realização de uma investigação preliminar ao processo penal.

No entanto, a partir do próximo capitulo, verificar-se-á a inserção do Ministério


Publico, na investigação criminal.
23

2 O MINISTÉRIO PÚBLICO E A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL

Nesse capitulo trata-se da polêmica atuação do Ministério Público ao apurar ilícitos


criminais exercendo a investigação no âmbito Criminal, dispensando a atuação da polícia
judiciária.

Em face à competência atribuída por Lei, possibilita-se o controle externo da atividade


policial.

2.1 O Ministério Público e o controle externo da atividade policial

Em seu artigo 129, inciso VII a Constituição Federal instituiu o controle da atividade
policial, remetendo à legislação complementar da União e dos Estados de iniciativa facultada
ao Ministério Público. Sendo assim as Leis Orgânicas dos Ministérios Públicos da União e
dos Estados da Federação regulamentam a forma de efetivação e realização do controle
externo.

A lei não é clara no sentido de definir um conceito de controle externo da atividade


policial, então de acordo com o professor Hugo Nigro Mazzilli (2003, p. 64) esse controle
externo: “é um sistema de vigilância e verificação administrativa teologicamente dirigido à
melhor coleta de elementos de convicção, que se destinam a formar a “opinio delictis” do
Promotor de Justiça, fim último do próprio inquérito policial”.

Já o Promotor Paranaense Rodrigo Guimarães (2002, p. 64) definiu, de forma mais


completa, o controle externo da atividade policial como sendo:

[...] conjunto de normas que regulam a fiscalização exercida pelo Ministério


Público em relação à Polícia, na prevenção, apuração e investigação de fatos
definidos como infrações penais, na preservação dos direitos e garantias
constitucionais das pessoas presas, sob custódia direta da Polícia e no
cumprimento das determinações judiciais).

Observa-se que em seu conceito, o autor abrangeu tanto as atividades das Polícias
Administrativas como as das Polícias Judiciárias como objeto do referido controle externo.
24

Conforme Hugo Nigro Mazzilli (1989, p. 117):

Por certo não é intuito do legislador, criar verdadeira hierarquia ou disciplina


administrativa, subordinando a autoridade policial e seus funcionários aos
agentes do Ministério Público. Na área funcional, se o promotor de justiça
verificar a ocorrência de quaisquer faltas disciplinares, tendo esse órgão
ministerial atribuições de controle externo - forma irrecusável de correição
sob a polícia judiciária - há de dirigir-se aos superiores hierárquicos do
funcionário público faltoso (Delegado de Polícia, escrivão, investigador,
carcereiro etc.), indicando as falhas e as providências que entenda cabíveis,
para que a autoridade administrativa competente possa agir.

O Controle Externo da Atividade Policial é classificado segundo o Promotor Rodrigo


Guimarães (2002, p. 65), em duas formas: Ordinário e Extraordinário.

Assim, a primeira espécie de controle externo da atividade policial, é


denominada de controle externo ordinário, consistente naquela atividade
ministerial exercida corriqueiramente, seja através dos controles realizados
na verificação do trâmite dos inquéritos policiais, e conseqüente
cumprimento de diligências requisitadas, seja através de visitas periódicas
(ao menos mensais) às Delegacias de Polícia e organismos policiais, a fim de
verificar a regularidade dos procedimentos policiais e da custódia dos presos
que porventura se encontrem no local. [...] Já no que se usou
denominar controle externo extraordinário, observa-se que este se dará
quando da verificação concreta de um ato ilícito por parte de alguma
autoridade policial no exercício de suas funções.

Esses controles Externos Ordinários e Externos Extraordinários são exercidos pelos


Procuradores ou Promotores do Ministério Publico da União ou dos Ministérios Públicos dos
Estados, sobre os órgãos policiais elencados no artigo144 da Constituição Federal.

A Lei que estabeleceu a organização, as atribuições e o estatuto do Ministério Público


da União, a Lei Complementar nº 75 de 20 de Maio de 1993, definiu em seu artigo 3º as
premissas básicas do Controle Externo da Atividade Policial pelo MPU: (Lei Complementar
nº 75/2003).

Art. 3º O Ministério Público da União exercerá o controle externo da


atividade policial tendo em vista:
a) o respeito aos fundamentos do Estado Democrático de Direito, aos
objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, aos princípios
informadores das relações internacionais, bem como aos direitos assegurados
na Constituição Federal e na lei;
b) a preservação da ordem pública, da incolumidade das pessoas e do
patrimônio público;
c) a prevenção e a correção de ilegalidade ou de abuso de poder;
25

d) a indisponibilidade da persecução penal;


e) a competência dos órgãos incumbidos da segurança pública.

Já os tipos de medidas adotadas pelo Ministério Público da União, para realizar o


controle externo da atividade Policial estão expostos no Capitulo III, artigos 9º e 10º da LC
75/1993.

Art. 9º O Ministério Público da União exercerá o controle externo da


atividade policial por meio de medidas judiciais e extrajudiciais podendo:
I - ter livre ingresso em estabelecimentos policiais ou prisionais;
II - ter acesso a quaisquer documentos relativos à atividade-fim policial;
III - representar à autoridade competente pela adoção de providências para
sanar a omissão indevida, ou para prevenir ou corrigir ilegalidade ou abuso
de poder;
IV - requisitar à autoridade competente para instauração de inquérito policial
sobre a omissão ou fato ilícito ocorrido no exercício da atividade policial;
V - promover a ação penal por abuso de poder.
Art. 10. A prisão de qualquer pessoa, por parte de autoridade federal ou do
Distrito Federal e Territórios, deverá ser comunicada imediatamente ao
Ministério Público competente, com indicação do lugar onde se encontra o
preso e cópia dos documentos comprobatórios da legalidade da prisão.

Sobre o art. 9° e seus incisos, Aury Lopes Jr. (2003, p. 151) afirma: “nada mais faz do
que dispor acerca do acesso a estabelecimentos e documentos, possibilidade que o promotor
fiscalize a legalidade da atuação policial e exerça um limitado controle formal do inquérito”.

Perante o art. 10º o Promotor Rodrigo Guimarães (2002, p. 78) destacou que:

A principal inovação da Lei Orgânica do Ministério Público da união


limitou-se àquela medida prevista no art. 10, supra transcrita, que estabelece
a obrigatoriedade de imediata comunicação da prisão de qualquer pessoa ao
Ministério Público, com indicação do local e motivos de sua prisão.

Portanto, o controle externo da atividade policial pelo Ministério Público, foi


instituído pela Constituição Federal de 1988, porem, não produziu efeitos com sua entrada em
vigor, já que dependia de regulamentação.

Foi a partir da Lei Complementar 75 de 1993 que houve a primeira regulamentação


para o âmbito do Ministério Público da União. Já no âmbito do Ministério Público dos
Estados, a Lei nº 8.625 de 1993 não versou sobre o controle externo da atividade policial,
mas, em seu art. 80 possibilitou a aplicação subsidiária da Lei Orgânica do MPU.
26

O Controle Externo realizado pelo Ministério Público estende-se a todos os órgãos


policiais existentes no Brasil, já que são os responsáveis pela atividade policial. Logo, o
Ministério Público Federal controla a Polícia Federal, a Rodoviária Federal e a Ferroviária
Federal; o Ministério Público Militar exerce o controle externo sobre as polícias judiciárias
militares; o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios controla a polícias militar e
civil, os corpos de bombeiros militares do DF e Territórios; e os Ministérios Públicos
Estaduais controlam as polícias civis, as militares e os corpos de bombeiros militares dos
estados da Federação, e ainda, as Guardas Municipais.

No intuito de evitar irregularidades e abusos por parte de nossos organismos policiais,


os quais têm a missão de garantir a segurança pública, porém, muitas vezes, acabam
cometendo crimes, ilegalidades, desmandos, abusos de poder, torturas. Percebemos como é
grande a importância do Ministério Publico, atuando no Controle Externo Policial. Porem,
necessitamos da efetivação desse controle externo para aperfeiçoar e agilizar a colheita de
provas pelas polícias judiciárias.

A Resolução 20/2007 do Conselho Nacional do Ministério Público ampliou o rol de


atribuições para o exercício do controle externo tentando uniformizá-lo, já que cada estado da
Federação tem seu próprio Ministério Público Estadual, e assim, normas diferentes a respeito
desse assunto.

Poderia ainda, ter invocado a disciplina de inquéritos policiais pelo Ministério Público,
pois assim facilitaria o controle externo em casos de irregularidades, no qual,
excepcionalmente, o MP poderia assumir a condução da investigação criminal, controlando
efetivamente a atividade policial.

É válido destacar que como titular da ação penal, o Ministério Público precisa ter os
elementos necessários para a propositura da denúncia, portanto, o controle externo da
atividade policial é essencial para que se possa ter uma boa investigação criminal, obtendo as
provas suficientes para a realização da Justiça.
27

2.2 Prós e contras em relação à atuação do Ministério Público na investigação criminal

A atuação do Ministério Público nas investigações criminais divide a grande maioria


dos juristas, dentre os favoráveis citamos Valter Foleto Santin (2001, p. 251) que diz:

é maciça a aceitação da atuação investigatória do Ministério Publico. Essa


participação na apuração de crimes já era defendida anteriormente por
Alckimin, Frederico Marques, Helio Bicudo, Márcio Antônio Inacarato,
Ubirajara do Mont' Serrat Faria Salgado entre outros […].
Desde a década de 70 muitos desses autores colaboraram com seus
ensinamentos a respeito do tema, sempre no sentido de possibilitar ao
Ministério Publico a atuação nas atividades investigatórias, tanto na fase do
inquérito como na fase do processo, propriamente dita, inclusive concedendo
o parquet a chefia de investigação criminal.

A Permissão legal para que o Ministério Público possa atuar na investigação criminal
está prevista nos artigos 127 e 129 da Constituição Federal.

O labor do M.P. está atrelado às destinações constitucionais que lhe foram conferidas.
Isso se da em razão das infrações penais afrontam os interesses da comunidade, ou seja, os
interesses sociais e, além disso, ofender a ordem jurídica uma vez que transgride os tipos
penais estabelecidos no ordenamento penal. Valter Foleto Santin (2007, p. 240).

É um grande contra-senso, garantir privativamente o exercício da ação penal


e impedir o desempenho de atos investigatórios, quem pode o mais
(promover a ação pena), pode o menos (fazer a investigação criminal).

No entendimento de Pedro Lenza (2009, p. 613):

A possibilidade de investigação pelo MP decorreria de sua atribuição de


promover privativamente a ação penal publica, na forma da lei (art.129, I)
assim como das atribuições estabelecidas nos incisos VI e VIII do art. 129 da
CF/88, apresentando-se como atividade totalmente compatível com suas
finalidades constitucionais.

A Constituição Federal em seu artigo 129 inciso IX possibilita ao órgão Ministério


Público “exercer outras funções que lhe sejam conferidas, desde que compatíveis com sua
finalidade”. Portanto, é possível conferir ao Ministério Público a atuação na investigação, pois
essa função é totalmente compatível com sua finalidade. Nas palavras de Valter Foleto Santin
(2007, p. 240) ainda sobre o artigo 129:
28

é norma constitucional aberta, que se amolda perfeitamente à finalidade


institucional de defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis. […]
inclusive para maior eficiência do exercício da ação penal […].

Outra justificativa considerável é que a Investigação Criminal não é de competência


exclusiva da policia judiciaria, e, portanto, pode ser realizada pelo Ministério Publico, como
ensina o paragrafo único do artigo 4º do Código de Processo Penal:

Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no


território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das
infrações penais e da sua autoria.
Parágrafo único. A competência definida neste artigo não excluirá a de
autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função.
(VADE MECUM, 2014).

Segundo o disposto em lei, a competência atribuída à policia judiciaria para apurara os


delitos e suas autorias, não excluirá e de autoridades administrativas. Contudo o Ministério
Público, órgão estatal administrativo, tem competência para dirigir atividades investigatórias.

Há também outras legislações especiais que garantem ao Ministério Público a atuação


nas atividades investigatórias. Como por exemplo, a Lei 8.625 de 1993 (Lei Orgânica
Nacional do Ministério Público dos Estados). Artigo 41 parágrafo único da Lei 8.625/93:

Parágrafo único. Quando no curso de investigação, houver indício da prática


de infração penal por parte de membro do Ministério Público, a autoridade
policial, civil ou militar remeterá, imediatamente, sob pena de
responsabilidade, os respectivos autos ao Procurador-Geral de Justiça, a
quem competirá dar prosseguimento à apuração. (BRASIL, 1993).

Nesse sentido temos o artigo 8º inciso V, da Lei complementar nº 75/1993:

Art. 8º Para o exercício de suas atribuições, o Ministério Público da União


poderá, nos procedimentos de sua competência:
V - realizar inspeções e diligências investigatórias.

É plenamente passível que o Ministério Público investigue diretamente os fatos


delituosos a fim de captar elementos que achar imprescindível ao oferecimento da denúncia.
Conforme Valter Foleto Santin (2007, p. 242):

Com muito mais ação o MP pode colher dados complementares, para


alicerçar melhor a ação penal ou ate mesmo para eventual convicção da
29

inocorrência dos fatos ou da participação do indiciado. Os interesses do


indivíduo e da sociedade estarão bem mais protegidos, porque a atividade
acusatória do MP poderá ser exercida de forma mais segura, adequada,
embasada e de acordo com fatos e realidade.

De acordo com a legitimidade não há base alguma em dizer que a lei não conferiu ao
Ministério Público poderes investigatórios. Como nada no direito é absoluto, além das
posições favoráveis existem posições desfavoráveis quanto à atuação do Ministério Público na
investigação Criminal.

Explica Valter Foleto Santin (2001, p. 243): “O poder de investigação do Ministério


Público não é pacifico”. O doutrinador diz ainda: “Atualmente, o poder investigatório do
Ministério Público, vem sendo questionado em recursos e ações diretas de
inconstitucionalidade, nas instancias superiores, por indiciados e entidade associativa
policial”.

De acordo com noticia do STF (2008), ocorreram várias ações de


inconstitucionalidade movidas principalmente pela ADEPOL – Associação dos delegados de
polícia. Uma delas foi a ADI 3806, na qual questiona dispositivos da Lei 8.625/93, da Lei
Complementar 75/93 e a totalidade da Resolução 13/06 do Conselho Nacional do Ministério
Público.

Ainda, conforme noticia do ST, em ação com pedido de cautelar, a Adepol alega
ofensa constitucional do contido nessas leis em relação às atribuições de membros do MP que
“passarão a colher, diretamente e sem qualquer controle, as provas da fase preliminar e,
depois, a de emitir a „opinio delicti‟ [suspeita de existência de delito], desencadeando a ação
penal, com base nas provas produzidas, ao seu talante (arbítrio)”.

Para o advogado que representa a Adepol de acordo com a Constituição Federal e o


sistema processual em vigor, a participação do MP na fase de produção de provas, na
instauração e, ao mesmo tempo, presidindo o inquérito penal, “tornaria nula toda a ação
penal”, pois estaria violado o devido processo legal, de acordo com o artigo 5º, inciso LIV da
Constituição, segundo o entendimento da noticia do STF.
30

Em relação à Lei 8.625/93, a Adepol afirma a inconstitucionalidade material das


alíneas a, b, c, do inciso I, bem como o inciso II, do artigo 26. Da mesma forma, a Lei
Complementar 75/93 é questionada em relação ao disposto nos incisos I, II e III do artigo 7º;
incisos I, II, IV, V, VII e IX do artigo 8º; além dos artigos 38 e 150, incisos I, II e III.

Quanto à Resolução nº 13/06, o advogado afirma haver inconstitucionalidade formal,


já que a norma só poderia ser editada pela União, a quem cabe legislar sobre direito
processual, de acordo com o artigo 22, inciso I, da Constituição. O relator dessa ação foi o
ministro Ricardo Lewandowski.

Não foram obtidos sucessos nessas ações, no sentido de impedir a investigação


ministerial. O posicionamento desfavorável à atuação do MP defende que a investigação
criminal é função exclusiva da policia judiciaria, tendo como base o artigo 144 § 1º, IV da
Constituição Federal. Segundo esse entendimento o ordenamento jurídico elegeu
exclusivamente o órgão policial para realizar essas atividades investigatórias.

Para Fábio Motta Lopes (2009, p. 88), “o fato de ser o inquérito policial dispensável
como preceitua o Código de Processo Penal (CPP), não transfere ao Ministério Publico a
função investigatória […]”. Diante desse argumento, que foi atribuída à legitimidade a Policia
Judiciaria para realizar os atos investigatórios, e que não há dispositivo legal afirmando o
contrario, é que a doutrina desfavorável vai se sustentando. Para Fábio Motta Lopes (2009, p.
91):

A CF, ao explicar as funções do Ministério Publico,tratou da atuação da


Instituição na Investigação Criminal no inciso VIII do artigo 129.
Conferindo ao órgão ministerial, apenas o poder de requisitar diligências
investigatórias e a instauração do Inquérito Policial.

Segundo o doutrinador o MP na posição de titular da ação penal, detém a faculdade de


requisitar à policia judiciaria, novas diligencias, bem como a instauração do Inquérito Policial.
Para ele em nenhum momento, foi concedida a possibilidade de atuação direta do órgão,
ocorrendo uma deficiência no dispositivo legal.
31

No que tange a Lei Orgânica Nacional do Ministério Publico o mesmo posicionamento


é adotado, uma vez que esta não atribui ao Órgão Acusatório, o poder de desempenhar
atividades de cunho investigatório no âmbito Criminal. (LOPES, 2009, p. 93).

Também é adotado como argumento contrário, à atuação ministerial na atividade


investigatória, o princípio da paridade de armas, que nada mais é do que a concessão
igualitária de ambas as partes de meios justos e efetivos na participação no procedimento, de
modo que uma das partes não pode ter seus poderes expandidos de forma a reduzir os poderes
da outra.

Nesse sentido, afirma Fábio Motta Lopes (2009, p. 98): “Conceder ao MP, pessoal e
diretamente, a produção de provas na fase pré – processual, fere o principio da paridade de
armas […]”. Devem estar em pé de igualdade à acusação e a defesa. Entretanto, ao conceder
ao MP a legitimidade para desempenhar os atos investigatórios, estaria prejudicando a defesa.

A doutrina contrária a investigação ministerial, ainda afirma que o órgão responsável


pela investigação deve se mostrar imparcial. E essa imparcialidade do MP, pode causar danos
significativos ao acusado, réu. Conforme Fábio Motta Lopes (2009. p. 99-100):

Sendo o parquet, parte impossível de se exigir neutralidade ou


imparcialidade, durante a fase pré-processual, razão pela qual não se pode
aceitar que possa, isoladamente, investigar infrações penais, por restar
evidente a tendência de selecionar aquilo que interessar apenas à acusação.
Mostra-se inconcebível, portanto, a tese que uma parte, ao investigar seja
imparcial […].

Sendo assim, por força da ausência da imparcialidade, não é possível a legitimidade do


MP, nas atividades persecutórias. Segundo Tourinho Filho (2010, p. 343):

[…] Sempre que o Ministério Público procede a investigações […] ele


procura, apenas, as provas que lhe interessam, e os casos que tem
repercussão […] embora devessem agir com absoluta imparcialidade,
mesmo porque, sendo o Estado o titular do direito de punir, repugna-lhe uma
condenação iníqua.

Dentre os argumentos, afirma-se a inexistência do Controle das atividades ministeriais


na investigação. Para Fábio Motta Lopes (2009, p. 102): “Assumida a investigação pelo
32

parquet, possuirá o órgão ministerial um poder sem controle, permitindo-se a uma das partes
a colheita de provas e, posteriormente, o desencadeamento da ação penal ao seu talante”.

Resultante desta analise de falta de fiscalização, é levantada outra situação, qual seja a
concentração de execução e fiscalização.

[…] Não se pode conferir a uma instituição a função de exercer o controle de


outro órgão e, ao mesmo tempo, autorizar que pratique os mesmos atos
atribuídos a organização controlada. Portanto a realização de investigação
direta pelo MP, seria incompatível com a função de controle. (LOPES, 2009,
p. 103).

Contudo, o Ministério Público fica impedido de atuar diretamente na realização das


investigações criminais, pois, sua principal função é fiscalizar.

2.3 Investigação criminal presidida pelo Ministério Público sob a ótica dos Tribunais

Para entender de forma mais precisa a visão dos Tribunais em relação a Legitimidade
do Ministério Público na investigação criminal realizou-se uma pesquisa de jurisprudências
em relação ao entendimento do Supremo Tribunal Federal nos anos de 2013, 2014 e 2015.

Percebe-se nos acórdãos colacionados do STF (Supremo Tribunal Federal),(anexo I)


que atualmente é possível a investigação direta do Ministério Público, alegando ser provido
de legitimidade. Porém esse entendimento ainda não é pacificado, pois há julgamentos não
favoráveis, porem mais antigos aos anos pesquisados.

Já o STJ (Supremo Tribunal de Justiça), tendo em vista a súmula 234 “a participação


de membro do Ministério Público, na fase investigatória criminal não acarreta seu
impedimento ou suspeição para o oferecimento da denúncia”.

Para Valter Foleto Santin (2001, p. 245) no que diz respeito ao STJ: “há confirmação
pacifica da atuação do Ministério Publico na fase investigatória, conforme se desprende
diversas decisões”.

Portanto, o entendimento do STJ, também é pacifico, conforme mostra jurisprudências


colacionas (anexo II).
33

O TJRS (Tribunal Superior do Rio Grande do Sul) também possui posicionamento


favorável quanto à investigação criminal prescindida pelo M.P, de acordo com as
jurisprudências analisadas (Anexo III).

2.4 A Proposta de Emenda Constitucional PEC nº 37/2011

A Proposta de Emenda Constitucional número 37 do ano de 2011, conhecida como


PEC 37, foi um Projeto apresentado pelo deputado Lourival Mendes (PT do B – MA).Esse
projeto sugeria incluir um novo parágrafo ao Artigo 144 da Constituição Federal, que trata da
Segurança Pública. O item adicional traria a seguinte redação: "A apuração das infrações
penais de que tratam os §§ 1º e 4º deste artigo, incumbem privativamente às polícias federais
e civis dos Estados e do Distrito Federal, respectivamente".

A justificativa apresentada pelo deputado Lourival Mendes, é que não haveria


prejuízos para a investigação criminal em comissões parlamentares de inquérito (CPIs), o que
é garantido por outro dispositivo presente na Carta Magna.

Porém, ele citou um livro do desembargador Alberto José Tavares da Silva, em que
diz "a investigação de crimes não está incluída no círculo das competências legais do
Ministério Público", levando diversos processos a serem analisados e questionados nos
tribunais superiores.

A ideia da PEC 37 era exatamente de retirar do Ministério Público a possibilidade da


Investigação Criminal, incumbindo privativamente às polícias federais e civis dos Estados e
do Distrito Federal. Diante da tramitação da PEC 37 ocorreram grandes movimentos
nacionais, onde diversas organizações lançaram a campanha "Brasil contra a impunidade",
acusando a proposta de beneficiar criminosos.

Para essa afirmação, foram utilizados dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ),
esse grupo alegava que apenas 11% das ocorrências sobre crimes comuns são convertidos em
investigações policiais e, no caso dos homicídios, somente 8% são apurados.

Na mesma alegação, apontavam que graças ao trabalho do Ministério Público Federal


foram propostas 15 mil ações penais entre 2010 e 2013. E que, se tais casos fossem
34

repassados à Polícia Federal, os crimes poderiam não ser julgados. Eles acabariam prescritos
caso as investigações não se concluíssem a tempo.

Participaram da campanha a Associação Nacional dos Membros do Ministério Público


(CONAMP), o Conselho Nacional de Procuradores-Gerais (CNPG), a Associação Nacional
dos Procuradores da República (ANPR), a Associação Nacional do Ministério Público do
Distrito Federal e Territórios (AMPDFT), a Associação Nacional dos Procuradores do
Trabalho (ANPT) e a Associação Nacional do Ministério Público Militar (ANMPM).

Certamente, pela pressão da comunidade em geral que foi exposta em forma de


manifestações que tomaram as ruas de diversas capitais do país durante o mês de junho. É
que a Proposta de Emenda Constitucional PEC 37, foi rejeitada pelo plenário.

De acordo com noticia do STF foram 430 votos contrários e 9 favoráveis, além de
duas abstenções. Se fosse aprovada, o poder de investigação criminal seria exclusivo das
polícias federais e civis, retirando esta atribuição de alguns órgãos e, sobretudo, do Ministério
Público.

O Conselho Nacional do Ministério Público defendia o poder investigatório do MP e


em 09 de maio de 2011 promoveu uma audiência pública na Câmara dos Deputados. O
conselheiro Mario Bonsaglia afirmou:

Os poderes investigatórios são essenciais para o pleno desempenho pelo


Ministério Público de sua função de titular privativo da ação penal pública.
Impedir que o Ministério Público possa fazer investigações importa em
violação à autonomia funcional da instituição e à independência funcional de
seus membros, que estão garantidas na Constituição, deixando o Ministério
Público em situação de total dependência da polícia.1

Na mesma ocasião, Bonsaglia lembrou ainda:

Encontram-se regradas pela Resolução n. 13 do Conselho Nacional do


Ministério Público (CNMP), que estabelece prazos, mecanismos de controle
e garantia de acesso por parte dos investigados e advogados. Além disso, os
poderes investigatórios do Ministério Público estão hoje respaldados pela
jurisprudência do STJ e do STF, decorrendo da Constituição Federal, da Lei
Complementar 75/93 e da Lei 8625/93.2

1
http://www.cnmp.mp.br/portal/comites/143-uncategorised/1336-audiencia-publica229
2
http://www.cnmp.mp.br/portal/comites/143-uncategorised/1336-audiencia-publica229
35

De acordo com notícia publicada no site Congresso em Foco, dentre os


posicionamentos contrários à aprovação da PEC 37, encontra-se o ex-ministro e presidente do
STF na época Joaquim Barbosa, explanou achar péssimo, pois, a sociedade brasileira não
merecia uma coisa dessas, ele entende ainda, que a emenda, se aprovada, aumentará a
interferência política em inquéritos policiais (já que as polícias Federal e Civil são
subordinadas ao Executivo); retirará da investigação um organismo o MP que em
praticamente todo o mundo civilizado participa da apuração criminal; e representará um
retrocesso no combate ao crime.

2.5 Decisão do STF do ano de 2015 sobre a legitimidade do MP para promover a


investigação criminal

Ocorreu recentemente, uma sessão dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF)
realizada no dia 14 de maio de 2015, no qual, o mesmo reconheceu a legitimidade do
Ministério Público para promover, por autoridade própria, investigações de natureza penal e
fixou os requisitos para a atuação do Ministério Público.

Esse debate surgiu ao decidirem sobre um recurso de um prefeito de Ipanema (Minas


Gerais) que questionava a possibilidade de o órgão realizar apurações independentemente da
polícia, o STF, por maioria de 7 votos a 4, entendeu que esse poder não contraria a Constituição.

Embora proferido num caso específico, o entendimento servirá de orientação para demais
processos semelhantes que tramitam em tribunais inferiores.

Ministros deixaram claro que, assim como nas investigações da polícia, aquelas
feitas pelo Ministério Público também deverão garantir à defesa acesso às provas
produzidas contra o investigado e garantir a ele direito de ficar calado e assistência de
advogados durante depoimentos.

O MP, no entanto, não poderá fazer alguns atos próprios da polícia esses serão somente
autorizados pela Justiça, como executar mandados de busca domiciliar, fazer interceptação
telefônica e conduzir coercitivamente pessoa sob investigação.
36

Em 2012, o relator, ministro Cezar Peluso votou no sentido de limitar a investigação do


MP a casos excepcionais quando, por exemplo, policiais ou membros do MP estiverem envolvidos
no delito ou quando a polícia deixar de abrir inquérito.

Ele foi acompanhado à época por Ricardo Lewandowski e, neste dia 14 de maio, também
por Dias Toffoli. Também votaram a favor do poder investigatório do MP os ministros Gilmar
Mendes, Celso de Mello, Joaquim Barbosa, Luiz Fux e Ayres Britto. E, Rosa Weber e Cármen
Lúcia aderiram a essa posição.

Marco Aurélio Mello votou contra a investigação do Ministério Publico em qualquer


situação. Em seu voto, sustentou que o MP pode somente fiscalizar as diligências da polícia,
exercendo o controle sobre a legalidade de suas atividades.

Legitimar a investigação por parte do titular da ação penal é inverter a ordem


natural das coisas. Quem surge como responsável pelo controle não pode exercer
atividade controlada. O desenho constitucional relativo ao Ministério Público na
seara penal pauta-se na atividade de controle externo da polícia. Deve ser tutor
das garantias constitucionais, disse Marco Aurélio (informação verbal)3.

Já Rosa Weber, por sua vez, entendeu que, a exemplo da investigação realizada por outros
órgãos como em crimes, pela Receita; em crimes financeiros, pelo Banco Central; ou em crimes
contra a administração realizada, pela Controladoria Geral da União (CGU) ou pelo Tribunal de
Contas da União (TCU) o MP também poderia fazer as apurações em crimes comuns.
A ministra, no entanto, ressaltou que eventuais erros e abusos deverão ser corrigidos pelo
Judiciário.

Reconhecer o poder de investigação do Ministério Público em nada afeta as


atribuições da polícia e não representa qualquer diminuição do papel
relevantíssimo por ela conduzida. As melhores investigações decorrem de
atuação conjunta, um contribuindo para atividade do outro. Afirmou Rosa Weber
(informação verbal)4.

Ao final do julgamento, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que chefia o


Ministério Público no país, ressaltou que os dois órgãos devem atuar de modo "cooperado".

3
Retirado de: https://www.youtube.com/watch?v=XwErX37629I
4
Retirado de: https://www.youtube.com/watch?v=XwErX37629I
37

Não se quer aqui estabelecer cisão entre Ministério Público de um lado e polícia
de outro. O que se quer é a cooperação de ambos. Não se trata aqui de estabelecer
o trabalho de um contra o do outro.
"É dia de festa para o Ministério Público Federal e para o MP brasileiro porque
hoje conseguimos alcançar uma situação que buscamos há mais de 10 anos. (...)
Uma peleja que se arrastava há mais de dez anos, e nesse período, aguardávamos
ansiosos para o bem, não de um interesse corporativo, mas da sociedade como
um todo. Essa vitória justa e histórica ocorre quase 27 anos após a promulgação
da constituição e assegura ao MP o cumprimento de sua árdua missão
constitucional (informação verbal)5.

Percebemos, portanto, que se tornou majoritário no STF o entendimento que o


ministério público é órgão legítimo para promover a investigação criminal.

Enfim, ante todo o exposto, o Ministério Público não deve e não foi privado de
investigar delitos criminais, porquanto tem demonstrado seriedade, capacidade e agilidade em
cumprir essa tarefa, sempre visando à realização da justiça.

5
Retirado de: https://www.youtube.com/watch?v=XwErX37629I
38

CONCLUSÃO

É possível concluir, tendo em vista, tudo o que foi explanado e à proporção que gerou
o tema estudado, que há conceitos em nosso ordenamento jurídico que devem ser repensados,
sobretudo a cerca da investigação criminal e suas peculiaridades.

O Ministério Público é uma das Instituições estatais mais importantes da sociedade


moderna, uma vez que lhe é incumbido a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e
dos interesses sociais, pela Constituição Federal.

Apesar de vários entendimentos no sentido de impedir a atuação ministerial na


investigação criminal, alegando ser atividade exclusiva da policia judiciaria, bem como a
violação à imparcialidade, é correto afirmar, que o Ministério Público possui sim,
legitimidade para promover a investigação Criminal.

Tendo o órgão ministerial a titularidade da ação penal pública, nada mais justo, que o
mesmo possua acesso direto nos elementos probatórios, a fim de formar a opinio delecti com
maior precisão.

Em face ao princípio da universalização das investigações, esse monopólio da


exclusividade da policia judiciaria na investigação criminal foi derrotado. Pois o rol dos
órgãos legitimados foi ampliado e dentro deles encontra-se o Ministério Público.

Tendo em vista o grande aumento da criminalidade e a complexidade dos crimes,


muitas vezes difíceis de desvendar e que se assegura ainda mais a possibilidade da atuação do
parquet na investigação criminal.
39

A legitimidade do MP atuar na investigação criminal já é um entendimento majoritário


na doutrina e jurisprudência, tudo se encaminha para o mesmo posicionamento, levando em
consideração a Súmula 234 do STJ.

O que se tem em vista com a atuação do Ministério Público, não é a presidência do


inquérito policial, e muito menos diminuir ou retirar as funções da policia Judiciária. O
inquérito continua sendo presidido pelo Delegado de Policia, e nenhuma função será retirada
das mãos dos órgãos policiais, que continuaram atuando nas investigações de crimes.

O que se objetiva com esse trabalho é propor uma atuação em conjunto, isto é,
Ministério Público e Polícia, ambos os órgãos estatais de persecução penal atuando atrelados
pela sociedade.

Podemos evidenciar aqui, que o tema proposto neste trabalho acadêmico, obteve uma
conclusão positiva em termos de entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF), o qual
julgou em sessão plenária do dia 14 de maio de 2015 a Legitimidade do MP para promover a
Investigação no âmbito Criminal.

Diante disso, entendo ser um grande avanço para justiça Brasileira, pois há essa
necessidade de aproximação entre os órgãos com a ideia de buscar a celeridade e a eficácia,
tanto na investigação de crimes, quanto na ação penal de modo a satisfazer os interesses da
sociedade.
40

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Mauro Fonseca. Ministério Público e sua investigação criminal. Porto Alegre:
Fundação Escola Superior do Ministério Público, 2001.

BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito administrativo. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2001.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 35. ed. São Paulo: Saraiva,
2014.

_______. Lei nº 8.625, de 12 de fevereiro de 1993. Dispõe sobre. Lei Orgânica Nacional do
Ministério Público. Disponível em:<www.planalto.com.br>. Acesso em 05 jan. 2015.

_______. Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Dispõe sobre. Código de processo penal.
Disponível em: <www.planalto.com.br>. Acesso em: 04 out. 2014.

CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 17 ed. São Paulo: Atlas S.A, 2005.

CONSELHO Nacional do Ministério Público. Audiência pública. Disponível em:


<http://www.cnmp.mp.br/portal/comites/143-uncategorised/1336-audiencia-publica229>.
Acesso em: 29 jan. 2015.

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

____________. Direito administrativo. 18. ed. São Paulo: Atlas, 2004.

DOTTI, René Ariel. O Ministério Público e a Policia Judiciaria: relações formais e


desencontros materiais. Porto Alegre: Sérgio Fabris Editor, 2014.

FERRAZ, Antônio Augusto Mello de Camargo. Ministério Público: instituição e processo.


2. ed. São Paulo: Atlas, 1999.

GOMES, Luiz Flávio. Ministério Público não tem poder para presidir investigação, Revista
Consultor jurídico, 20 maio 2004.

GUIMARÃES, Rodrigo Régnier Chemim. Controle externo da atividade policial pelo


Ministério Público. Curitiba: Juruá, 2002.

MAZZILI, Hugo Nigro. Introdução ao Ministério Público. São Paulo: Saraiva, 1997.
41

____________. O controle externo da atividade policial, Revista dos Tribunais, v. 664, p.


392.

____________. Regime jurídico do Ministério Público. 2. ed. São Paulo, Editora Saraiva,
1995.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro, São Paulo: Malheiros, 1999.

____________. Direito administrativo brasileiro. 25. ed. São Paulo: Malheiros, 1996.

____________. Direito municipal brasileiro. 7. ed. São Paulo: Malheiros, 1995.

MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. São Paulo:
Malheiros, 2006.

____________. Curso de direito administrativo. 17. ed. São Paulo: Malheiros, 2004.

MIRABETE, Júlio Fabrini. Processo penal. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2005.

MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

SILVA, José Afonso da, Curso de direito constitucional positivo. 17. ed. Editora Revista do
Tribunais, 2000.

____________. Curso de direito constitucional positivo. 19. ed. São Paulo: Malheiros,
2000.

TÁVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de direito processual penal. 7.


ed. [S.l.]: Ed. Juspodivm, 2014.

____________. Curso de direito processual penal. 3. ed. [S.l.]: Editora Juspodivm, 2009.

VADE MECUM. Constituição Federal de 1988. São Paulo: Saraiva, 2014.


42

ANEXO I

"HABEAS CORPUS" SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO - DESCABIMENTO -


QUEBRA DOS SIGILOS BANCÁRIO E FISCAL - DETERMINAÇÃO DEVIDAMENTE
FUNDAMENTADA - IMPRESCINDIBILIDADE DA MEDIDA - PREVALÊNCIA DO
INTERESSE DA SOCIEDADE NA APURAÇÃO DOS FATOS - INVESTIGAÇÃO CRIMINAL
PRESIDIDA DIRETAMENTE PELO MINISTÉRIO PÚBLICO - POSSIBILIDADE - HABEAS
CORPUS NÃO CONHECIDO. 1. Os Tribunais Superiores restringiram o uso do "habeas corpus" e
não mais o admitem como substitutivo de recursos e nem sequer para as revisões criminais. 2. A
garantia de sigilo fiscal e bancário não se reveste de caráter absoluto, devendo ceder se, verificados
fortes indícios de participação do paciente em operações financeiras suspeitas, se mostrar
imprescindível. 3. Na fase investigativa deve prevalecer o interesse da sociedade na apuração da
realidade dos fatos. 4. Admite-se que o Ministério Público proceda a investigações criminais. 5.
"Habeas corpus" não conhecido por ser substitutivo do recurso cabível.
(STJ - HC: 120141 MG 2008/0247175-2, Relator: Ministro MOURA RIBEIRO, Data de Julgamento:
07/11/2013, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 14/11/2013)

Ementa: 1) Penal. Constitucional. A litispendência pressupõe a existência de duas ações pendentes


idênticas, fenômeno inocorrente, quando se está diante de uma ação penal e de um inquérito policial,
procedimento investigativo que não se confunde com aquela. Inexistência de litispendência que
também se constata em decorrência da ausência de identidade absoluta entre a peça de denúncia
encartada nestes autos e aquela presente no Inquérito nº 3.273, consoante já decidido pelo juízo a quo.
2) Busca e apreensão válida, porquanto precedida de regular autorização judicial. Ausência de
nulidade da referida medida cautelar em decorrência de a diligência ter contado com a participação de
membros do Ministério Público e da Receita Estadual, na medida em que é da atribuição dos agentes
da Receita Estadual colaborar com a Polícia Judiciária na elucidação de ilícitos tributários, o que os
autoriza a acompanhar as diligências de busca e apreensão. 3) Ministério Público. Investigação
criminal conduzida diretamente pelo Ministério Público. Legitimidade. Fundamento constitucional
existente. 4) A investigação direta pelo Ministério Público possui alicerce constitucional e destina-se à
tutela dos direitos fundamentais do sujeito passivo da persecução penal porquanto assegura a plena
independência na condução das diligências. 5) A teoria dos poderes implícitos (implied powers)
acarreta a inequívoca conclusão de que o Ministério Público tem poderes para realizar diligências
investigatórias e instrutórias na medida em que configuram atividades decorrentes da titularidade da
ação penal. 6) O art. 129, inciso IX, da Constituição da República predica que o Ministério Público
pode exercer outras funções que lhe forem conferidas desde que compatíveis com sua finalidade, o que
se revela como um dos alicerces para o desempenho da função de investigar. 7) O art. 144 da carta de
1988 não estabelece o monopólio da função investigativa à polícia e sua interpretação em conjunto
com o art. 4º, parágrafo único, do Código de Processo Penal legitima a atuação investigativa do
parquet. 8) O direito do réu ao silêncio é regra jurídica que goza de presunção de conhecimento por
todos, por isso que a ausência de advertência quanto a esta faculdade do réu não gera, por si só, uma
nulidade processual a justificar a anulação de um processo penal, especialmente na hipótese destes
autos em que há dez volumes e os depoimentos impugnados foram acompanhados por advogados. 9)
O acervo probatório dos autos é harmônico no sentido de que não há provas de que o demandado
concorreu para o cometimento dos delitos narrados na denúncia. In casu, a imputação de
responsabilidade penal ao réu pelo fato de ter desempenhado a função de diretor em sociedade
empresária investigada implicaria o indevido reconhecimento da responsabilidade penal objetiva
vedada por nosso ordenamento jurídico. 10) É que a imputação de que o réu inseria nos documentos
fiscais dados falsos sobre a natureza do carvão adquirido no afã de cometer delitos ambiental e fiscal
restou afastada por toda a prova oral, a qual, além de exonerá-lo de culpa penal, destacou seu
protagonismo como defensor do meio ambiente. 11) Deveras, ainda que assim não o fosse, os trechos
degravados das conversas do imputado com representantes do Ministério Público anunciam um
ambiente contraditório ao acolhimento da condenação, na medida em que o imputado recusara a
43

assinatura de um TAC (termo de ajustamento de conduta) afirmando-se inocente perante o Ministério


Público, que não infirmou essa assertiva. 12) A condenação, como destacado pela escola clássica
penal, deve provir de fatos claros como a água e a luz, o que inocorre no caso sub judice,
recomendando a absolvição do acusado por falta de provas. 13) Agravos regimentais prejudicados.
Pedido de condenação julgado improcedente, nos termos do que previsto no art. 386, V, do Código de
Processo Penal (V – não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal).
(STF - AP: 611 MG , Relator: Min. LUIZ FUX, Data de Julgamento: 30/09/2014, Primeira Turma,
Data de Publicação: ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-241 DIVULG 09-12-2014 PUBLIC 10-12-
2014)

RECURSO ORDINÁRIO EM “HABEAS CORPUS” – PRETENDIDA SUSTENTAÇÃO ORAL NO


JULGAMENTO DO “AGRAVO REGIMENTAL” – INADMISSIBILIDADE –
CONSTITUCIONALIDADE DA VEDAÇÃO REGIMENTAL (RISTF, ART. 131, § 2º) –
PRETENDIDO TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL – NECESSIDADE DE INDAGAÇÃO
PROBATÓRIA – INVIABILIDADE NA VIA SUMARÍSSIMA DO “HABEAS CORPUS” –
LEGITIMIDADE JURÍDICA DO PODER INVESTIGATÓRIO DO MINISTÉRIO PÚBLICO –
JURISPRUDÊNCIA (SEGUNDA TURMA DO STF) – INEXISTÊNCIA DE
CONSTRANGIMENTO ILEGAL – JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
CONSOLIDADA QUANTO À MATÉRIA VERSADA NO RECURSO – POSSIBILIDADE, EM
TAL HIPÓTESE, DE O RELATOR DA CAUSA DECIDIR, EM ATO SINGULAR, A
CONTROVÉRSIA JURÍDICA – COMPETÊNCIA MONOCRÁTICA DELEGADA, EM SEDE
REGIMENTAL, PELA SUPREMA CORTE (RISTF, ART. 192, “CAPUT“, NA REDAÇÃO DADA
PELA ER Nº 30/2009, C/C O ART. 312) – RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO.
IMPOSSIBILIDADE DE SUSTENTAÇÃO ORAL EM SEDE DE “AGRAVO REGIMENTAL” . -
Não cabe sustentação oral em sede de “agravo regimental”, considerada a existência de expressa
vedação regimental que a impede (RISTF, art. 131, § 2º), fundada em norma cuja constitucionalidade
foi expressamente reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ 137/1053 – RTJ 152/782 – RTJ
158/272-273 – RTJ 159/991-992 – RTJ 184/740-741 – RTJ 190/894, v.g.). PRETENDIDO
TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL – POSSIBILIDADE EXCEPCIONAL, DESAUTORIZADA,
NO ENTANTO, NO CASO, EM FACE DA NECESSIDADE DE INDAGAÇÃO PROBATÓRIA,
INCABÍVEL NA VIA SUMARÍSSIMA DO PROCESSO DE “HABEAS CORPUS” . - A extinção
anômala do processo penal condenatório, em sede de “habeas corpus”, embora excepcional, revela-se
possível, desde que se evidencie – com base em situações revestidas de liquidez – a ausência de justa
causa. Para que tal controle jurisdicional se viabilize, no entanto, impõe-se que inexista qualquer
situação de iliquidez ou de dúvida objetiva quanto aos fatos subjacentes à acusação penal, pois o
reconhecimento da ausência de justa causa, para efeito de extinção do procedimento persecutório,
reveste-se de caráter extraordinário, quando postulado em sede de “habeas corpus”. Precedentes . - A
liquidez dos fatos constitui requisito inafastável na apreciação da justa causa, pois o remédio
processual do “habeas corpus” não admite dilação probatória, nem permite o exame aprofundado de
matéria fática, nem comporta a análise valorativa de elementos de prova. Precedentes. É PLENA A
LEGITIMIDADE CONSTITUCIONAL DO PODER DE INVESTIGAR DO MINISTÉRIO
PÚBLICO, POIS OS ORGANISMOS POLICIAIS (EMBORA DETENTORES DA FUNÇÃO DE
POLÍCIA JUDICIÁRIA) NÃO TÊM, NO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO, O MONOPÓLIO
DA COMPETÊNCIA PENAL INVESTIGATÓRIA . - O poder de investigar compõe, em sede penal,
o complexo de funções institucionais do Ministério Público, que dispõe, na condição de “dominus
litis” e, também, como expressão de sua competência para exercer o controle externo da atividade
policial, da atribuição de fazer instaurar, ainda que em caráter subsidiário, mas por autoridade própria
e sob sua direção, procedimentos de investigação penal destinados a viabilizar a obtenção de dados
informativos, de subsídios probatórios e de elementos de convicção que lhe permitam formar a “opinio
delicti”, em ordem a propiciar eventual ajuizamento da ação penal de iniciativa pública. Doutrina.
Precedentes: HC 85.419/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO – HC 89.837/DF, Rel. Min. CELSO DE
MELLO – HC 91.613/MG, Rel. Min. GILMAR MENDES – HC 91.661/PE, Rel. Min. ELLEN
GRACIE – HC 93.930/RJ, Rel. Min. GILMAR MENDES – HC 94.173/BA, Rel. Min. CELSO DE
MELLO – HC 97.969/RS, Rel. Min. AYRES BRITTO – RE 535.478/SC, Rel. Min. ELLEN
GRACIE, v.g.).
44

(STF - RHC: 122839 SP , Relator: Min. CELSO DE MELLO, Data de Julgamento: 07/10/2014,
Segunda Turma, Data de Publicação: DJe-211 DIVULG 24-10-2014 PUBLIC 28-10-2014)

PENAL. PROCESSO PENAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. MINISTÉRIO PÚBLICO.


PODERES DE INVESTIGAÇÃO. OFENSA AOS ARTIGOS 5º, LIV e LV, 129, VIII, e 144, TODOS
DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA NOS AUTOS DO
RE 593.727, RELATOR MIN. CEZAR PELUSO. SOBRESTAMENTO. Decisão: Trata-se de
Recurso Extraordinário interposto por MIGUEL JORGE e FADEL NETO, com arrimo nas alíneas a e
b do permissivo Constitucional, contra acórdão assim do: “APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME DE
DESVIO DE VERBA PÚBLICA (ART. 1º, INCISO I, DO DECRETO-LEI Nº 201/67-10 VEZES).
PRELIMINAR DE NULIDADE DAS PROVAS OBTIDAS EM PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO REALIZADO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. ORGÃO MINISTERIAL
PROVIDO DE LEGITIMIDADE PARA PROCEDER A INVESTIGAÇÃO. MÉRITO. PLEITO DE
ABSOLVIÇÃO ANTE A ATIPICIDADE DA CONDUTA. INOCORRÊNCIA. CONJUNTO
PROBATÓRIO QUE AFERE A PRESENÇA DO ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO. DOLO
CARCTERIZADO. PLEITO DE APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
INVIABILIDADE. BEM JURÍDICO TUTELADO ATINGIDO. MORALIDADE PÚBLICA E
PROBIDADE ADMINISTRATIVA MACULADAS. ROGATIVA DE ADEQUAÇÃO DA PENA.
PROCEDÊNCIA. NECESSÁRIO AFASTAMENTO DAS CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS DA
“CULPABILIDADE E CIRCUNSTÂNCIA DO CRIME”. CONSIDERADAS DESFAVORÁVEIS.
FUNDAMENTAÇÃO EXARADA INERENTE AO TIPO PENAL. CONTINUIDADE DELITIVA
CARACTERIZADA. PERPETRAÇÃO CONTÍNUA POR 10 VEZES DO TIPO DELITIVO.
RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO, E DE OFÍCIO READEQUADA A FRAÇÃO DE
AUMENTO PELO CRIME CONTINUADO PARA 1/6 (UM SEXTO) E SUBSTITUIDA A PENA
CORPORAL POR DUAS RESTRITIVAS DE DEIREITO.” Os embargos de declaração opostos
foram rejeitados. O recorrente alega, em síntese, violação aos artigos 5º, LIV e LV, 129, VIII, e 144. §
4º todos da Constituição Federal. Sustenta a ausência de justa causa para a ação penal, pela
inconstitucionalidade das provas juntadas com a denúncia, ante a impossibilidade de investigação
exclusiva do Ministério Público. Requer seja admitido e provido o presente recurso para anular os
acórdãos recorridos, por apresentarem relevantes omissões. É o relatório, decido. A matéria encontra-
se pendente de apreciação pelo Pleno, em face da repercussão geral reconhecida no RE n. 593.727,
Relator o Ministro Cezar Peluso, DJ de 29.10.2009, em acórdão assim ementado: “EMENTA: Recurso
Extraordinário. Ministério Público. Poderes de investigação. Questão da ofensa aos arts. 5º, incs. LIV
e LV, 129 e 144, da Constituição Federal. Relevância. Repercussão geral reconhecida . Apresenta
repercussão geral o recurso extraordinário que verse sobre a questão de constitucionalidade, ou não, da
realização de procedimento investigatório criminal pelo Ministério Público.” Ex positis, determino o
sobrestamento do Recurso Extraordinário, até a decisão de mérito do Plenário no RE n. 593727.
Publique-se. Int.. Brasília, 5 de fevereiro de 2015.Ministro Luiz FuxRelatorDocumento assinado
digitalmente
(STF - RE: 850737 PR , Relator: Min. LUIZ FUX, Data de Julgamento: 05/02/2015, Data de
Publicação: DJe-029 DIVULG 11/02/2015 PUBLIC 12/02/2015).
45

ANEXO II

PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PODER INVESTIGATÓRIO DO


MINISTÉRIO PÚBLICO. LEGITIMIDADE. I - O art. 557, § 1º-A, do CPC, permite ao relator dar
provimento ao recurso caso a decisão afronte a jurisprudência dominante nos Tribunais Superiores,
não importando em violação ao princípio da colegialidade. Precedentes. II - Na esteira de precedentes
desta Corte, malgrado seja defeso ao Ministério Público presidir o inquérito policial propriamente dito,
não lhe é vedado, como titular da ação penal, proceder a investigações. A ordem jurídica, aliás, lhe
confere tais poderes - art. 129, incisos VI e VIII, da Constituição Federal, e art. 26 da Lei nº
8.625/1993. (Precedentes). Agravo regimental desprovido.
(STJ , Relator: Ministro FELIX FISCHER, Data de Julgamento: 05/03/2015, T5 - QUINTA
TURMA)

PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM HABEAS CORPUS. BUSCA E APREENSÃO.


PODERES INVESTIGATÓRIOS DO MINISTÉRIO PÚBLICO. NULIDADE INEXISTENTE.
PRÉVIA AUTORIZAÇÃO JUDICIAL. RECURSO DESPROVIDO. 1. Esta Corte assentou
entendimento no sentido de que, em princípio, são válidos os atos investigatórios realizados pelo
Ministério Público, cabendo-lhe ainda requisitar informações e documentos, a fim de instruir seus
procedimentos administrativos, com vistas ao oferecimento da denúncia. 2. Está implícito o poder de
investigação criminal do Ministério Público, porquanto diretamente ligado ao cumprimento de sua
função de promover, privativamente, a ação penal pública. 3. Os procedimentos realizados pelo
Ministério Público, na hipótese dos autos, revestem-se de legalidade, uma vez que investidos do
legítimo poder de investigação e, no que tange à busca e apreensão, antecedida da necessária
determinação judicial. 4. Não há que se falar em cerceamento do exercício da ampla defesa, uma vez
que, nos termos da súmula vinculante nº 14 do STF, o acesso aos dados colhidos sob sigilo é restrito
aos documentos já colacionados aos autos, não se estendendo às diligências ainda em curso, sob pena
de tornar ineficaz o meio de coleta de prova, tal qual a busca e apreensão cuja validade discute o
recorrente. 5. Recurso desprovido.
(STJ - RHC: 32523 MG 2012/0073988-4, Relator: Ministro GURGEL DE FARIA, Data de
Julgamento: 16/10/2014, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 30/10/2014)

AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NOS EMBARGOS DE


DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL. PROCESSO PENAL. INVESTIGAÇÃO
CONDUZIDA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. POSSIBILIDADE. JURISPRUDÊNCIA PACÍFICA
DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. DECISÃO MONOCRÁTICA. ART. 557-A DO CPC.
ART. 27, § 5º, DA LEI N. 8.038/90. INAPLICABILIDADE. AUSÊNCIA DE QUESTÃO
PREJUDICIAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. AGRAVO IMPROVIDO. 1. Inexistindo
qualquer matéria prejudicial no recurso extraordinário em relação ao especial, não se mostra possível
aplicar o disposto no art. 27, § 5º, da Lei n. 8.038/90. 2. A jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça possui entendimento pacífico no sentido de ser possível ao Ministério Público instaurar
procedimento administrativo e conduzir diligências investigatórias, podendo requisitar documentos e
informações que entender necessários ao exercício de suas atribuições, circunstância que viabiliza,
inclusive, o julgamento monocrático do recurso especial, consoante o disposto no art. 557-A, § 1º, do
CPC. 3. Agravo regimental a que se nega provimento.
(STJ, Relator: Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, Data de Julgamento: 24/04/2014, T5 -
QUINTA TURMA)

PENAL E PROCESSUAL. INÉPCIA DA DENÚNCIA. NÃO OCORRÊNCIA. LEI PENAL EM


BRANCO. NORMA COMPLEMENTAR CRIMES SOCIETÁRIOS. INDIVIDUALIZAÇÃO DAS
CONDUTAS DOS ACUSADOS. DESNECESSIDADE. INVESTIGAÇÃO REALIZADA PELO
MINISTÉRIO PÚBLICO. POSSIBILIDADE. OFERECIMENTO DE SUSPENSÃO CONDICIONAL
DO PROCESSO. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. 1. A jurisprudência do Superior Tribunal de
46

Justiça, acompanhando a orientação da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, firmou-se no


sentido de que o habeas corpus não pode ser utilizado como substituto de recurso próprio, sob pena de
desvirtuar a finalidade dessa garantia constitucional, exceto quando a ilegalidade apontada for
flagrante, hipótese em que se concede a ordem de ofício. 2. O art. 1º, I, da Lei n. 8.176/1991, ao
proibir o comércio de combustíveis em desacordo com as normas estabelecidas na forma da lei, é
norma penal em branco em sentido estrito, não exigindo complementação mediante lei formal,
podendo sê-lo por normas administrativas infralegais, como é o caso da Portaria n. 116, de 5 de julho
de 2000, da Agência Nacional do Petróleo - ANP. 3. O Superior Tribunal de Justiça entende que é
desnecessária a descrição individualizada das condutas de cada acusado nos crimes societários, sendo
suficientes para garantia do direito de defesa a narrativa do fato e a indicação da suposta participação
dos denunciados. 4. Não há ilegalidade na investigação criminal encetada pelo Ministério Público.
Precedentes. 5. Inviável a apreciação diretamente pelo STJ da alegada nulidade do processo ante o não
oferecimento de proposta de suspensão condicional do processo, porquanto tal tema não foi analisado
pelo Tribunal de origem, sob pena de incidir-se em indevida supressão de instância. 6. Habeas corpus
não conhecido.
(STJ - HC: 249473 MG 2012/0154490-0, Relator: Ministro GURGEL DE FARIA, Data de
Julgamento: 24/02/2015, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 03/03/2015)
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ANEXO III

Ementa: HABEAS CORPUS. DELITOS DOLOSOS CONTRA A VIDA. HOMICÍDIO


QUALIFICADO. Quando do despacho liminar, assentei: "Argüi, a defesa, preliminarmente, o
trancamento da ação penal decorrente da incompetência ministerial para a investigação criminal.
Segundo se apreende das peças trasladadas, a autoridade policial de Pelotas, na data de 01JUL2003,
instaurou o inquérito policial de n.º 1228/2003, a fim de apurar, em tese, um crime de homicídio. Em
18JAN2011, o agente ministerial, diante da ausência de elementos de que possibilitassem o
oferecimento de denúncia, requereu o arquivamento do inquérito policial (fls. 319/320 do feito
originário - autos em apenso), tendo o digno magistrado acolhido o pedido (fls. 318/319 do feito
originário - autos em apenso - decisão parcialmente trasladada). Posteriormente, isto é, em
01ABR2014, o Parquet, mediante a promoção de fls. 321 e verso (autos em apenso), requereu o
desarquivamento do inquérito policial, diante da obtenção de novos endereços em que o ora paciente
poderia ser localizado. Asseverou, ainda, a existência de denúncia anônima, no sentido de que a arma
do crime estaria em poder da pessoa de alcunha "Mamaro", postulando a expedição de mandado de
busca e apreensão dirigido à residência deste. Prosseguiu-se, antão, com o oferecimento da peça
vestibular acusatória, que atribuiu ao acusado Emilio Oliviel Abraão Souza o cometimento do delito
tipificado no artigo 121, § 2º, inciso IV, do Código Penal. Na mesma oportunidade, o agente
ministerial requereu a decretação da prisão preventiva do ora paciente (fls. 02/03 verso do feito
originário - autos em apenso). Verifica-se, então, que a investigação sobre o cometimento do delito de
homicídio teve como origem o inquérito policial 1228/2003, presidido pelo Sr. Delegado de Polícia,
complementado pelo procedimento investigatório criminal tombado sob o n.º 00826.0004/2014, da 1ª
Promotoria Criminal de Pelotas. Sobre o tema - possibilidade do Ministério Público
realizar investigação criminal -, não se desconhece a divergência existente tanto na doutrina, como na
jurisprudência pátria, existindo fortes argumentos em prol das duas posições. Norberto Avena, in
Processo Penal Esquematizado, resume bem os fundamentos adotados pelas duas posições. (...) Anoto,
então, que me filio a posição que entende que o Ministério Público, muito embora não possa presidir o
inquérito policial, tem legitimidade para investigar e coletar provas para formação de sua convicção.
(...) Diante dos argumentos expostos, afasto a tese de incompetência do Ministério Público para
realizar a investigação criminal, suscitada pelo combativo defensor. Lado outro, postula a defesa o
trancamento da ação penal, por ausência de justa causa, ante a ausência de indícios suficientes de
autoria. No ponto, tenho que o deferimento o pedido, neste momento, é por demais prematuro,
fazendo-se necessário o prévio envio de informações pe Outrossim, não podemos olvidar que o pedido
de trancamento da ação penal, perseguida em sede de liminar, tem caráter satisfativo e sua concessão
esvaziaria o exame da matéria pele Colegiado. Não é possível, assim, a concessão da tutela antecipada.
(...) Assim sendo, também indefiro o pedido de trancamento da ação penal por ausência de justa causa.
Postula a defesa, outrossim, a revogação da constrição cautelar imposta ao acusado, sob o fundamento
da ausência de pressupostos legais. No ponto, tenho que melhor sorte socorre à defesa, não obstante
estejam presentes os requisitos de admissibilidade da prisão preventiva - crime doloso, punido com
pena privativa de liberdade máxima superior a 04 (quatro) anos de reclusão - e a existência da
materialidade delitiva (Auto de Necropsia e Mapa das Regiões Anatômicas - fls. 26/28 do feito
originário - autos em apenso). Explico. In casu, o paciente foi ouvido, em 14JUL2003, na condição de
testemunha, ocasião em que descreveu os fatos que presenciou no dia do delito. Posteriormente, o Sr.
Delegado de Polícia tentou reinquiri-lo, não obtendo êxito, diante da sua não localização. Em
18JAN2011, o agente ministerial, ante a ausência de elementos de que possibilitassem o oferecimento
de denúncia, requereu o arquivamento do inquérito policial, tendo o digno magistrado acolhido o
pedido. Já em 01ABR2014, o Parquet, mediante a promoção de fls. 321 e verso (autos em apenso),
requereu o desarquivamento do obtenção de novos endereços em que o ora paciente poderia ser
localizado. Novamente não foi possível a intimação do paciente, tendo sido decretada, em
conseqüência, a sua prisão preventiva, sob o fundamento de que ele estaria, há mais de uma década,
fugindo das autoridades policiais. (...) Verifica-se, então, que a prisão preventiva do paciente, em
princípio, está calcada tão somente na circunstância do mesmo não ter sido localizado para ser
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reinquirido, estando, em tese, furtando-se a prestar novo depoimento, não existindo outra prova mais
robusta que o aponte como o autor do crime. Pois bem. Se é certo que a evasão do distrito da culpa é
motivo idôneo para decretação da prisão, não é menos correto afirmar que este fundamento, por si só,
dissociado de outras provas, não permite a constrição cautelar. Veja-se que até o requerimento de
prisão preventiva formulado pelo agente ministerial, o paciente figurava como testemunha, passando à
condição de acusado a partir do momento em que não foi localizado para ser reinquirido. Outrossim,
trata-se o paciente de pessoa primária e de bons antecedentes. Assim sendo, não vislumbro, por ora, a
necessidade da manutenção de sua custódia. Diante do exposto, defiro em parte a liminar postulada,
para o fim de conceder ao paciente Emilio Oliviel Abraão Souza o direito de aguardar em liberdade o
trâmite do processo contra ele movido, mediante as seguintes condições, cujo descumprimento
acarretar recolhimento à prisão; manter o endereço atualizado nos autos; comparecer quinzenalmente
perante o juízo processante, a fim de informar e justificar suas atividades; fazer-se presente a todas as
audiências, sempre que intimado e não se ausentar da comarca de sua residência, por mais de trinta
dias, sem prévia autorização da autoridade processante. Oficie-se à autoridade apontada como coatora,
comunicando-lhe a concessão da liminar acima deferida, solicitando-lhe que expeça o competente
alvará de soltura em prol do paciente, se por "AL" não estiver preso, bem como colha o compromisso
antes referido e advirta-o das conseqüências do descumprimento das condições impostas. Tal decisão
vai mantida, evitando o desgastante e desnecessário prende e solta, que, por muitas das vezes, serve
apenas para desestabilizar o já tão fragilizado sistema prisional. LIMINAR RATIFICADA. ORDEM
CONCEDIDA, EM PARTE. (Habeas Corpus Nº 70062140843, Segunda Câmara Criminal, Tribunal
de Justiça do RS, Relator: José Antônio Cidade Pitrez, Julgado em 12/02/2015).

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