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CÂMARA MUNICIPAL DE CONTENDA

ESTADO DO PARANÁ

DIVISÃO JURÍDICA

PARECER 010/2019

EMENTA: trata-se da análise jurídico/legal do Projeto


de Lei 007/2020 de autoria do Poder Executivo, que
Institui o Conselho Municipal do Trabalho, Emprego e
Renda e o respectivo Fundo Municipal do Trabalho do
Município de Contenda, e dá outras providências.

I – DO CARÁTER OPINATIVO

Tendo em vista o disposto no art. 133 da Constituição Federal, in verbis:

Art. 133. O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por


seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei.

Considerando, ainda, o disposto na Lei nº 8.906, de 1994 (Estatuto da Advocacia


e da Ordem dos Advogados do Brasil):

Art. 7º São direitos do advogado:


I - exercer, com liberdade, a profissão em todo o território nacional;
[...]
§ 2º O advogado tem imunidade profissional, não constituindo injúria,
difamação puníveis qualquer manifestação de sua parte, no exercício de sua
atividade, em juízo ou fora dele, sem prejuízo das sanções disciplinares perante
a OAB, pelos excessos que cometer.

Ressaltando, por fim, a decisão e fundamentação proferida pelo Supremo Tribunal


Federal nos autos do Mandado de Segurança nº 24631/DF:

EMENTA: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. CONTROLE


EXTERNO. AUDITORIA PELO TCU. RESPONSABILIDADE DE
PROCURADOR DE AUTARQUIA POR EMISSÃO DE PARECER
TÉCNICO-JURÍDICO DE NATUREZA OPINATIVA. SEGURANÇA
DEFERIDA. I. Repercussões da natureza jurídico-administrativa do parecer
jurídico: (i) quando a consulta é facultativa, a autoridade não se vincula ao
parecer proferido, sendo que seu poder de decisão não se altera pela
manifestação do órgão consultivo; (ii) quando a consulta é obrigatória, a
autoridade administrativa se vincula a emitir o ato tal como submetido à
consultoria, com parecer favorável ou contrário, e se pretender praticar ato de
forma diversa da apresentada à consultoria, deverá submetê-lo a novo parecer;
(iii) quando a lei estabelece a obrigação de decidir à luz de parecer vinculante,
essa manifestação de teor jurídica deixo de ser meramente opinativa e o
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administrador não poderá decidir senão nos termos da conclusão do parecer ou,
então, não decidir. II. No caso de que cuidam os autos, o parecer emitido pelo
impetrante não tinha caráter vinculante. Sua aprovação pelo superior
hierárquico não desvirtua sua natureza opinativa, nem o torna parte de ato
administrativo posterior do qual possa eventualmente decorrer dano ao erário,
mas apenas incorpora sua fundamentação ao ato. III. Controle externo: É lícito
concluir que é abusiva a responsabilização do parecerista à luz de uma alargada
relação de causalidade entre seu parecer e o ato administrativo do qual tenha
resultado dano ao erário. Salvo demonstração de culpa ou erro grosseiro,
submetida às instâncias administrativo-disciplinares ou jurisdicionais próprias,
não cabe a responsabilização do advogado público pelo conteúdo de seu parecer
de natureza meramente opinativa. Mandado de segurança deferido. (grifo nosso)

II – DA LEGITIMIDADE PARA ELABORAÇÃO DE PARECER

A fundamentação para a elaboração do presente parecer jurídico consta no anexo


I, da Lei Municipal nº 1731/18.

III – DA FUNDAMENTAÇÃO

Inicialmente, impende salientar que a emissão de parecer não substitui a vontade


dos Ilustres Vereadores que compõe as Comissões especializadas, porquanto estas são
compostas pelos representantes eleitos e constituem-se em manifestação efetivamente
legítima.
Dessa forma, a opinião jurídica exarada neste parecer não tem força vinculante,
podendo seus fundamentos serem utilizados ou não pelos membros desta Casa. De
qualquer sorte, torna-se de suma importância algumas considerações sobre a possibilidade
e compatibilidade da nova sistemática adotada para o processo legislativo no âmbito desta
Casa de Leis.

Analisamos, que dentre os princípios consagrados na Constituição Federal, está o


princípio federativo, do qual decorre o estabelecimento de um sistema de repartição de
competências entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios, inclusive em matéria
legislativa.

O artigo 18 da Constituição Federal de 1988, inaugurando o tema da organização


do Estado, prevê que:

Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do


Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,
todos autônomos, nos termos desta Constituição.

O termo “autonomia política”, sob o ponto de vista jurídico, congrega um


conjunto de capacidades conferidas aos entes federados para instituir a sua organização,
legislação, administração e governo próprios.

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A autoadministração e a autolegislação, contemplando o conjunto de


competências materiais e legislativas previstas na Constituição Federal para os Municípios,
é tratada no artigo 30 da Lei Maior, nos seguintes termos:

Art. 30. Compete aos Municípios:


I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;
(…)

Em relação à matéria de fundo, os conselhos municipais possuem fundamento na


Constituição Federal de 1988, em razão do reconhecimento da cidadania como fundamento
da República Federativa do Brasil e da democracia como forma de aquisição e exercício do
poder.

O Brasil, desde a Constituição Federal de 1988, vem aprimorando e enriquecendo


os meios de participação popular no setor público, seja quanto ao acesso aos cargos
públicos, seja quanto à contribuição direta do povo nas decisões políticas de Estado.
Instrumentos como o concurso público, a iniciativa popular, o referendo, o plebiscito, a
ação popular e os conselhos municipais fortificam o regime democrático e conferem maior
legitimidade ao setor público, que passa a estar sob constante fiscalização da sociedade.
Nesse sentido, o artigo 29, inciso XII da CF/88 estabelece:

Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o
interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da
Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos
nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes
preceitos:

(…)

XII - cooperação das associações representativas no planejamento municipal;

O artigo 76 da Lei Orgânica Municipal assim estabelece:

Art. 76. O Município, na sua atuação, atenderá aos princípios da democracia


participativa, dispondo, através de lei, sobre a criação dos Conselhos
Municipais nas diversas áreas, integrados por representantes populares dos
usuários dos serviços públicos, disciplinando a sua composição e
funcionamento, compreendidas nas suas prerrogativas, entre outras:

I - A participação através de propostas, e nas discussões de planos, programas,


projetos, a partir do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado, Plano
Plurianual, Diretrizes Orçamentárias e Orçamento Anual.

II - O acompanhamento da execução dos programas, e a fiscalização da


aplicação de recursos

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Veja-se, pois, que a Lei Orgânica confere um amplo grau de liberdade para o
Executivo definir, de acordo com os critérios que entender mais convenientes, a
estruturação e o funcionamento dos conselhos municipais, motivo pelo qual não se vê
irregularidade no presente projeto de lei, tendo em vista que há participação popular,
conforme se dispõe o art. 3º, §1º do projeto.

Assim, tem-se que foram observadas as normativas gerais acerca da estruturação,


da composição e do funcionamento do Conselho Municipal, inclusive quanto à paridade
entre membros da administração, das entidades públicas, classistas e da sociedade civil
organizada, como exige o art. 76 da Lei Orgânica Municipal.

Ainda é criado o Fundo Municipal do Trabalho, que busca destinar recursos para a
gestão da respectiva política, em consonância ao Sistema Nacional de Emprego – SINE.

Quanto ao fundo, não se vislumbra qualquer irregularidade sobre sua constituição


e gerenciamento, tendo em vista a exposição clara da lei a respeito do tema.

V - DA CONCLUSÃO

Examinado o projeto de Lei nº 007/2020 a luz da Constituição Federal e dos


demais diplomas legais, é possível concluir, s. m. j., que o presente projeto é
CONSTITUCIONAL e apresenta conformidade legal, podendo ser levado a apreciação dos
nobres Vereadores.

É o parecer.

Contenda, 18 de fevereiro de 2020

BRUNA SCHLICHTING
ADVOGADA
OAB/PR 65.180

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