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Prezados alunos,

Com intuito de melhor adequar nosso material à divisão do conteúdo feita pelo edital, editamos
o PDF que reúne os pontos “2. Descentralização e desconcentração da atividade administrativa.”
e “3. Classificação dos Órgãos e Funções da Administração Pública.” e detalhamos ainda mais o
conteúdo específico referente à Administração Direta e Indireta no presente material, incluindo
Autarquias, Empresas Públicas, Sociedade de Economia Mista, Fundações Públicas e Agências
Reguladoras. E fomos além, incluindo o terceiro setor!

Bons estudos!

Administração Direta e Administração Indireta

De acordo com Carvalho Filho, Administração Direta “é o conjunto de órgãos que integram as
pessoas federativas, aos quais foi atribuída a competência para o exercício, de forma
centralizada, das atividades administrativas do Estado.”

Já a Administração Indireta, segundo o mesmo autor, é o conjunto de pessoas administrativas


que, vinculadas à respectiva Administração Direta, têm o objetivo de desempenhar as atividades
administrativas de forma descentralizada.

De uma forma mais simples, é possível dizer que a Administração Direta representa a atuação do
próprio Estado, por intermédio de seus órgãos internos (Exemplo: a União atuando na segurança
do tráfego aquaviário, por intermédio da Marinha do Brasil e da Diretoria Geral de Navegação,
que são órgãos públicos federais). Vê-se que, aqui, não há a constituição de uma nova pessoa
jurídica para o desempenho da atividade, mas tão somente uma organização administrativa
interna.

Por outro lado, a Administração Indireta é formada por pessoas jurídicas, tais como as autarquias
e as empresas estatais, que são criadas para o desempenho de atividades específicas ou, no
segundo caso, até mesmo para a exploração de determinadas atividades econômicas. Aqui,
diferentemente do que vimos na Administração Direta, são criadas novas pessoas jurídicas, que
não se confundem com a estrutura interna do Estado.

Estudaremos as espécies de pessoas jurídicas da Administração Indireta a seguir.

Autarquias

Podemos conceituar as autarquias como pessoas jurídicas de direito público interno, criadas
diretamente através de lei específica, para desempenhar atividade típica de Estado. Exemplos
de autarquias: INSS, IBAMA, INCRA.

Aspectos principais das autarquias:

1) Patrimônio: como as autarquias são pessoas jurídicas de direito público, todos os seus
bens são bens públicos, e, portanto, protegidos pelo regime jurídico específico desses
bens:

(a) alienabilidade condicionada ou inalienabilidade relativa;


(b) impenhorabilidade (assim, os pagamentos decorrentes de decisão judicial
devem seguir o regime dos Precatórios ou RPV);

(c) imprescritibilidade (lembrando que o ordenamento jurídico veda o usucapião


de bens públicos);

(d) não onerabilidade (não se submetendo aos direitos reais de garantia).

2) Regime de pessoal: seus servidores são estatutários (Regime Jurídico Único) e


aprovados mediante concurso público. São considerados agentes públicos, na categoria
“servidores públicos”.

3) Atos e contratos: seus atos ostentam a qualidade de “atos administrativos”. Ademais,


seus contratos também são “contratos administrativos”, com a presença das cláusulas
exorbitantes, garantindo à Administração as prerrogativas que o particular não possui.

4) Privilégios fiscais: as autarquias possuem a imunidade tributária recíproca, contida no


art. 150, §2o da CRFB1, mas somente em relação ao patrimônio, à renda e aos serviços,
vinculados a suas finalidades essenciais.

5) Responsabilidade civil: via de regra, submetem-se à responsabilidade civil OBJETIVA,


conforme o art. 37, §6o da CRFB2. Vale salientar que o respectivo ente federado será
subsidiariamente responsável pelos danos causados pelas autarquias.

6) Prerrogativas processuais: a autarquia se encaixa no conceito de “Fazenda Pública”, e,


portanto, possui as prerrogativas processuais correspondentes, quais sejam: (a) prazo
em dobro para todas as suas manifestações processuais; (b) beneficia-se do duplo grau
de jurisdição, através do instituto da “remessa necessária”; (c) execução de seus débitos
através da sistemática dos precatórios ou, excepcionalmente, por RPV; (d) execução
fiscal para cobrança de seus créditos.

7) Foro processual: a competência para o julgamento das autarquias vai variar de acordo
com o seguinte critério: (a) autarquia federal: deve ser processada e julgada na Justiça
Federal, à luz do art. 109, I da CRFB (salvo nos casos de ações relativas a falência,
acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e do Trabalho); (b) autarquia
estadual/municipal: ações processadas e julgadas pela Justiça Estadual.

Atenção! STF considerou CONSTITUCIONAL lei estadual que condiciona a nomeação dos dirigentes
de autarquias e fundações à prévia aprovação da Assembleia Legislativa. Em sentido diverso,
entendeu INCONSTITUCIONAL exigir essa aprovação prévia da Assembleia Legislativa quando se
tratar de dirigentes da empresas públicas e sociedades de economia mista.

1
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios: (...)
VI - instituir impostos sobre:
b) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros;
§ 2º A vedação do inciso VI, "a", é extensiva às autarquias e às fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, no que
se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços, vinculados a suas finalidades essenciais ou às delas decorrentes.
2
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos
danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos
casos de dolo ou culpa.
Vale destacar a existência de autarquias com qualificações especiais, como os conselhos
profissionais, as agências executivas e as agências reguladoras. Vejamos as principais
características de cada uma delas.

● Conselhos profissionais

Os conselhos profissionais possuem a natureza jurídica de autarquias, sendo, portanto, pessoas


jurídicas de direito público. São criados por lei e exercem poder de polícia administrativo quando
fiscalizam a respectiva atividade profissional (ou seja, são criados para exercer atividade
tipicamente pública).

Os conselhos profissionais tiveram sua natureza autárquica afirmada pelo STF na famosa ADI 1717,
ocasião em que o Supremo considerou que os conselhos profissionais exercem atividades típicas
de Estado. Assim, são também designados como “Autarquias Corporativas”.

Dessa forma, os conselhos profissionais estão submetidos à fiscalização do Tribunal de Contas e,


também, necessitam realizar concurso público para a contratação de pessoal.

Acompanhe a ementa:

EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO DIRETA


DE INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 58 E SEUS PARÁGRAFOS DA LEI
FEDERAL Nº 9.649, DE 27.05.1998, QUE TRATAM DOS SERVIÇOS DE
FISCALIZAÇÃO DE
PROFISSÕES REGULAMENTADAS. 1. Estando prejudicada a Ação, quanto
ao
§ 3º do art. 58 da Lei nº 9.649, de 27.05.1998, como já decidiu o Plenário,
quando apreciou o pedido de medida cautelar, a Ação Direta é julgada
procedente, quanto ao mais, declarando-se a inconstitucionalidade do
"caput" e dos § 1º, 2º, 4º, 5º, 6º, 7º e 8º do mesmo art. 58. 2. Isso porque
a interpretação conjugada dos artigos 5°, XIII, 22, XVI, 21, XXIV, 70,
parágrafo único, 149 e 175 da Constituição Federal, leva à conclusão, no
sentido da indelegabilidade, a uma entidade privada, de atividade típica
de Estado, que abrange até poder de polícia, de tributar e de punir, no
que concerne ao exercício de atividades profissionais regulamentadas,
como ocorre com os dispositivos impugnados. 3. Decisão unânime. (ADI
1717, Relator(a): SYDNEY SANCHES, Tribunal Pleno, julgado em
07/11/2002, DJ 28-03-2003 PP-00063 EMENT VOL-02104-01 PP-
00149)Ponto importante da matéria é a natureza jurídica das anuidades
cobradas pelos Conselhos Profissionais.

Atenção! Tema polêmico!

OAB

Vale lembrar que, majoritariamente, considera-se a OAB um serviço público independente, com
natureza jurídica “sui generis”, pois suas atividades não se restringem à esfera corporativa. Neste
sentido, já decidiu o STF que a OAB não precisa ter suas contas controladas pelo Tribunal de Contas
da União ou fazer concurso para a contratação de pessoal. Nesse sentido, o STF através do Tema 1054
de Repercussão Geral, definiu em 2023 a seguinte tese: O Conselho Federal e os Conselhos Seccionais
da Ordem dos Advogados do Brasil não estão obrigados a prestar contas ao Tribunal de Contas da
União nem a qualquer outra entidade externa.

Em contrapartida, a OAB afirma que: (i) é um órgão sui generis; (ii) não gerencia recursos públicos; (iii)
tal fiscalização prejudicaria a independência da OAB.

Ponto importante da matéria é a natureza jurídica das anuidades cobradas pelos Conselhos
Profissionais.

No Informativo 861 do Supremo Tribunal Federal, decidiu-se que os pagamentos devidos, no caso
de pronunciamento judicial, pelos conselhos de fiscalização NÃO se submetem ao regime de
precatórios.

Isto porque o precatório está associado à programação orçamentária dos entes públicos. Apesar
de os Conselhos de Fiscalização Profissional serem considerados autarquias especiais, eles não
participam do orçamento público e não se confundem com a Fazenda Pública. Assim, os
pagamentos devidos não se submetem ao regime de precatórios (Tema 877 de Repercussão Geral)

● Agências Executivas

São autarquias ou fundações públicas que, por estarem ineficientes, celebram contrato de gestão
com o respectivo Ministério Superior. Dessa forma, a qualificação de “agência executiva” depende
do cumprimento de dois requisitos:

(a) deve possuir um plano de reestruturação;

(b) deve celebrar o contrato de gestão com o Ministério Supervisor correspondente.

A formalização como “agência executiva” será feita por decreto do Presidente da República e a
entidade que receber tal qualificação deverá cumprir um plano de metas definidas no próprio
contrato de gestão. Em contrapartida, receberá maior autonomia gerencial, orçamentária e
financeira.

ATENÇÃO! A Lei 13.934/2019 regulamentou na Administração Federal o chamado “contrato de


esempenho”, previsto no § 8º do art. 37 da Constituição Federal.

Art. 37 (...)
§ 8º A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos órgãos e
entidades da administração direta e indireta poderá ser ampliada
mediante contrato, a ser firmado entre seus administradores e o poder
público, que tenha por objeto a fixação de metas de desempenho para o
órgão ou entidade, cabendo à lei dispor sobre:
I - o prazo de duração do contrato;
II - os controles e critérios de avaliação de desempenho, direitos,
obrigações e responsabilidade dos dirigentes;
III - a remuneração do pessoal.

De acordo com o art. 2º da referida lei, “contrato de desempenho é o acordo celebrado entre
o órgão ou entidade supervisora e o órgão ou entidade supervisionada, por meio de seus
administradores, para o estabelecimento de metas de desempenho do supervisionado, com
os respectivos prazos de execução e indicadores de qualidade, tendo como contrapartida a
concessão de flexibilidades ou autonomias especiais”.

● Agências Reguladoras

As agências reguladoras nasceram com inspiração no modelo norte-americano, no qual as


agências possuem ampla independência no exercício de suas funções. No Brasil, tais entidades
foram instituídas a partir da década de 90, período em que o governo resolveu implementar
uma política de privatização, passando à iniciativa privada atividades que geravam gastos para
o Estado (vide o Programa Nacional de Desestatização – Lei n. 8031/90).

Com a liberalização da economia, o Estado passou a demandar a existência de órgãos


reguladores, criados em regime especial para fiscalizar, regular e normatizar a prestação de
serviços públicos por particulares. Assim, pode-se afirmar que tais entidades nasceram a partir
da necessidade de regulação das atividades públicas.

Em suma, são autarquias de regime especial caracterizadas por terem autonomia reforçada em
relação ao poder executivo e ampla concentração de funções públicas (funções administrativas
típicas, normativas e judicantes, ou seja, dirimir conflitos no setor regulado). Ademais, as
agências reguladoras têm por objeto serviços públicos concedidos e atividades econômicas em
sentido estrito de relevante interesse coletivo, ainda que submetidas à livre-iniciativa. Exemplos
de agências reguladoras: ANEEL, ANATEL, ANP, ANCINE.

➔ Características principais:

- As agências reguladoras possuem o chamado “poder normativo”, podendo


regulamentar e normatizar certas atividades de interesse social. Ressalte-se que esse
poder normativo deve ater-se aos aspectos técnicos da matéria, de acordo com a lei.
Além disso, só se obriga o prestador do serviço, e não o seu usuário.

- Nomeação diferenciada de seus dirigentes: estes são nomeados pelo Presidente da


República, após a aprovação do Senado, para exercer mandatos fixos.

Atenção ao julgado presente no Informativo 759 do STF: entendeu o STF ser CONSTITUCIONAL
lei estadual prevendo que os dirigentes de determinada agência reguladora somente poderão
ser nomeados após previamente aprovados pela Assembleia Legislativa. NÃO seria
constitucional, porém, a lei estadual que estabelecesse que os dirigentes somente possam ser
destituídos de seus cargos por decisão exclusiva da Assembleia Legislativa, sem participação do
Governador, visto que isso violaria a separação dos poderes.

#APROFUNDANDO:
A lei que trata dos recursos humanos das agências reguladoras é a Lei nº 9.986/2000, que sofreu alterações
com a Lei nº 13.848, de 2019. O regime jurídico dos servidores de uma agência reguladora é o regime
estatutário, tendo em vista a obrigatoriedade do Regime Jurídico Único das pessoas de direito público.
Quanto aos dirigentes das agências reguladoras, há uma estabilidade diferenciada em relação aos dirigentes
das demais autarquias. Os dirigentes de autarquias comuns em regra são nomeados e exonerados livremente
pelo Chefe do Executivo. Essa é uma forma de controle político do Chefe do Executivo sobre as entidades da
Administração Indireta. Contudo, no que toca aos dirigentes das agências reguladoras, a nomeação e a
exoneração não são livres, o que reforça sua autonomia administrativa.

Quanto à nomeação, o Chefe do Executivo não nomeia o dirigente sozinho. O procedimento é parecido com
o da escolha dos ministros do STF e do STJ. Isto é, o Chefe do Executivo escolhe o nome, e esse nome deve ser
aprovado pela Casa Legislativa respectiva. No âmbito federal é o Senado que deve sabatinar a escolha do
Presidente da República. Além disso, a lei impõe o cumprimento de alguns critérios (objetivos e subjetivos),
tais como conhecimento técnico sobre o setor regulado, reputação ilibada e formação universitária (art. 5º da
Lei nº 9.986/2000).

Quanto à exoneração, inexiste a possibilidade de exoneração ad nutum. O dirigente da agência reguladora


exerce mandato a termo, cujo período pode variar conforme a lei que cria a agência. Vale ressaltar que a Lei
nº 13.848, de 2019, alterou diversos dispositivos nos marcos regulatórios de cada agência reguladora
federal no que tange à duração do mandato, trazendo como padrão um prazo de 5 anos de mandato, vedada
a recondução.

Art. 9o Os Conselheiros e os Diretores somente perderão o mandato em caso de renúncia, de


condenação judicial transitada em julgado ou de processo administrativo disciplinar.

Parágrafo único. A lei de criação da Agência poderá prever outras condições para a perda do mandato.
(Vide Lei nº 13.848, de 2019)

Empresas Públicas

● Empresas estatais

Inicialmente, cabe destacar que a exploração de atividade econômica, conforme a CRFB de


1988, em regra, é feita pela iniciativa privada (à luz do art. 170 e parágrafo único3). Como
exceção, temos essa exploração sendo feita pelo Estado, nos casos imperativos de segurança
nacional e relevante interesse coletivo4.

Além disso, o art. 173, §1o da CRFB dispõe que “a lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa
pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade
econômica de produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços, (...)”. Com isso,
foi editada a Lei n. 13.303/2016.

A denominação “empresas estatais” engloba as empresas públicas e as sociedades de economia

3
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (…).
Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de
autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.

4
Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só
será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme
definidos em lei.
mista, ambas criadas mediante autorização legal, com o posterior arquivamento de seus atos
constitutivos no registro competente.

A empresa pública é pessoa jurídica de direito privado, integrante da Administração Indireta,


sendo criada mediante autorização legal e podendo assumir qualquer forma societária. Seu
capital é formado por bens e valores oriundos de pessoas administrativas. Exemplos de
empresas públicas: BNDES e ECT (Correios).

Já a sociedade de economia mista é pessoa jurídica de direito privado, também integrante da


Administração Indireta, sendo criada mediante autorização legal, sob a forma societária de
sociedade anônima. Seu capital, por sua vez, é formado tanto por bens e valores oriundos de
pessoas administrativas quanto de particulares, com controle acionário do Estado.

Vejamos abaixo as principais diferenças e semelhanças entre as empresas públicas e as


sociedades de economia mista:

EMPRESAS PÚBLICAS SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA


Seu capital é 100% público, ou seja, apenas Possui capital misto (público e privado), ou seja,
pessoas administrativas (públicas ou privadas) tanto as pessoas administrativas quanto os
participam da formação do capital. particulares podem participar da formação do
capital.
OBS: importante lembrar que o seu controle
acionário deve pertencer ao Estado.
Admite qualquer forma societária. Só pode adotar o tipo “sociedade anônima”
como forma societária.
Sua criação depende de lei autorizativa Sua criação também depende de lei autorizativa
específica, de iniciativa do Chefe do Executivo. especifica, de iniciativa do Chefe do Executivo.
OBS: seu nascimento, porém, ocorre com a OBS: seu nascimento, porém, ocorre com a
inscrição dos atos constitutivos no registro inscrição dos atos constitutivos no registro
correspondente. correspondente
Foro processual competente: se a empresa Foro processual competente: como regra, não
pública for federal, a competência é da justiça atrai a competência da justiça federal, mesmo
federal, conforme dispõe o art. 109, I da CRFB. que se trate de sociedade de economia mista
Por outro lado, se a empresa pública for federal.
estadual/municipal, a competência é da justiça Súmula 556 do STF: “é competente a justiça
estadual. comum para julgar as causas em que é parte
sociedade de economia mista”.

EXCEÇÕES:
1) Mandados de segurança contra atos de
império praticados por autoridade de
empresa publica/sociedade de
economia mista (art. 109, VIII CRFB);
2) Se União intervier no processo, como
assistente ou opoente (Súmula 517 do
STF: “as sociedades de economia mista
só têm foro na Justiça Federal quando a
União intervém como assistente ou
opoente”).
Regime de pessoal: regime celetista, devendo Regime de pessoal: também celetista, vide
haver, porém, a realização de concurso público observações sobre o regime de pessoal das
para tanto. empresas públicas.

Patrimônio: possuem bens privados, mas há a Patrimônio: vide observações sobre patrimônio
ingerência de normas de direito público (por das empresas públicas.
exemplo, sua alienação depende do
atendimento de requisitos legais – art. 17 da Lei
8666).

OBS: em regra, os bens das estatais podem ser


penhorados, visto que são bens privados.
Assim, os bens das empresas públicas que
exploram atividade econômica podem ser
penhorados. Ao contrário, tratando-se de bens
das empresas públicas prestadoras de serviços
públicos, a penhorabilidade pode ser afastada
quando estiverem afetados aos serviços
públicos e forem necessários a sua
continuidade.

Quanto à usucapião, seus bens podem ser


adquiridos por usucapião, ainda que utilizados
na prestação de serviços públicos.
Atos: são atos privados, em razão da natureza Atos: vide observações sobre os atos das
privada dessas entidades. empresas públicas.
EXCEÇÃO: atos praticados no desempenho de
funções administrativas, como concurso e
licitações – rememorar a Súmula 333 do STJ
(“cabe mandado de segurança contra ato
praticado em licitação promovida por sociedade
de economia mista ou empresa pública”).
Contratos: as exploradoras de atividades Contratos: vide observações sobre os contratos
econômicas somente celebram contratos das empresas públicas.
privados da Administração, despidos, em regra,
de cláusulas exorbitantes, sendo regidos,
predominantemente, por regras de direito
privado.
Todavia, as prestadoras de serviços públicos,
além de contratos privados, podem celebrar
contratos administrativos.
Responsabilidade civil: aqui também fazemos Responsabilidade civil: vide observações sobre a
uma distinção entre: responsabilidade civil das empresas públicas.
1) Exploradoras de atividade econômica:
em regra, possui responsabilidade
subjetiva. Apenas de forma excepcional
poderá haver sua responsabilização
objetiva, como no caso de relação de
consumo.
2) Prestadoras de serviço público: possui
responsabilidade objetiva, à luz do art.
37, §6o da CRFB.

OBS: inexistindo patrimônio suficiente para que


as estatais honrem com suas obrigações, o
respectivo ente federado poderá responder
subsidiariamente.
Imunidade tributária: como regra, o art. 173, §2o Imunidade tributária: vide observações sobre a
da CRFB veda as estatais a concessão de imunidade tributária das empresas públicas.
privilégios fiscais não extensivos às empresas do
setor privado.
Contudo, o STF possui entendimento no sentido
de reconhecer a imunidade tributária do art.
150, inciso VI, “a” da CRFB às empresas estatais
prestadoras de serviços públicos e às estatais
que exercem atividades monopolizadas (Ex:
Correios)
Atenção, porque tal imunidade NÃO se aplica às
empresas estatais exploradoras de atividades
econômicas que atuam no mercado
concorrencial e nem aos serviços públicos que
são remunerados por preços ou tarifas por parte
do usuário.

➔ As sociedades de economia mista se submetem ao regime de precatórios?


Questão importante veiculada no Informativo 812 do STF é a possibilidade ou não de submissão
ao regime de precatórios por parte das sociedades de economia mista. No caso, o STF entendeu
que as sociedades de economia mista que prestam serviços públicos de atuação própria do
Estado e de natureza NÃO concorrencial submetem-se ao regime de precatórios. Vejamos
abaixo algumas ementas:

“Agravo regimental no recurso extraordinário. Constitucional. Sociedade de


economia mista. Regime de precatório. Possibilidade. Prestação de serviço
público próprio do Estado. Natureza não concorrencial. Precedentes. 1. A
jurisprudência da Suprema Corte é no sentido da aplicabilidade do regime
de precatório às sociedades de economia mista prestadoras de serviço
público próprio do Estado e de natureza não concorrencial. 2. A CASAL,
sociedade de economia mista prestadora de serviços de abastecimento de água
e saneamento no Estado do Alagoas, presta serviço público primário e em
regime de exclusividade, o qual corresponde à própria atuação do estado,haja
vista não visar à obtenção de lucro e deter capital social majoritariamente
estatal. Precedentes. 3. Agravo regimental não provido”5.

Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. COMPANHIA


ESTADUAL DE SANEAMENTO BÁSICO. SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA
PRESTADORA DE SERVIÇO PÚBLICO ESSENCIAL. EXECUÇÃO PELO REGIME DE
PRECATÓRIOS. 1. Embora, em regra, as empresas estatais estejam submetidas

5
BRASIL, STF. Ag.Reg. no RE n. 852.302/Alagoas. Relator Ministro Dias Toffoli. Julgamento em 15 de Dezembro de 2015.
Publicação em 29 de Fevereiro de 2016.
ao regime das pessoas jurídicas de direito privado, a jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal é no sentido de que “entidade que presta serviços públicos
essenciais de saneamento básico, sem que tenha ficado demonstrado nos autos
se tratar de sociedade de economia mista ou empresa pública que competiria
com pessoas jurídicas privadas ou que teria por objetivo primordial acumular
patrimônio e distribuir lucros. Nessa hipótese, aplica-se o regime de precatórios”
(RE 592.004, Rel. Min. Joaquim Barbosa). 2. É aplicável às companhias estaduais
de saneamento básico o regime de pagamento por precatório (art. 100 da
Constituição), nas hipóteses em que o capital social seja majoritariamente
público e o serviço seja prestado em regime de exclusividade e sem intuito de
lucro. 3. Provimento do agravo regimental e do recurso extraordinário.
(RE 627242 AgR, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min.
ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 02/05/2017, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-110 DIVULG 24-05-2017 PUBLIC 25-05-2017)

➔ O que são “empresas subsidiárias” de estatais?


São empresas menores controladas por outra estatal (estatais de 2º grau). Nas palavras de
Carvalho Filho:

“Empresas subsidiárias são aquelas cujo controle e gestão das atividades são atribuídos
à empresa pública ou à sociedade de economia mista diretamente criadas pelo Estado.
Em outras palavras, o Estado cria e controla diretamente determinada sociedade de
economia mista (que podemos chamar de primária) e esta, por sua vez, passa a gerir
uma nova sociedade mista, tendo também o domínio do capital votante. É esta segunda
empresa que constitui a sociedade subsidiária. Alguns preferem denominar a empresa
primária de sociedade ou empresa de primeiro grau, e, a subsidiária, de sociedade ou
empresa de segundo grau. Se houver nova cadeia de criação, poderia até mesmo surgir
uma empresa de terceiro grau e assim sucessivamente”

Sobre o tema, Carvalho Filho faz 2 observações:

● Em primeiro lugar, não fica a sua criação ao livre alvedrio da Administração. Nos termos
do art. 37, XX, da CF, sua criação também depende de autorização legislativa. A
exigência reclama, portanto, a participação efetiva da respectiva Casa Legislativa. A
autorização, contudo, não precisa ser dada para a criação específica de cada entidade;
De acordo com o STF, é legítimo que a lei disciplinadora da entidade primária autorize
desde logo a posterior instituição de subsidiárias, antecipando o objeto a que se
destinarão.

● Não se pode perder de vista que as subsidiárias também são controladas, embora de
forma indireta, pela pessoa federativa que instituiu a entidade primária. A subsidiária
tem apenas o objetivo de se dedicar a um dos segmentos específicos da entidade
primária, mas como esta é quem controla a subsidiária, ao mesmo tempo em que é
diretamente controlada pelo Estado, é este, afinal, quem exerce o controle, direto ou
indireto, sobre todas. Por tais motivos, não se pode negar sua condição de pessoas
integrantes da Administração Indireta.

● Sociedades de Mera Participação:


O termo é utilizado por Carvalho Filho para designar o fenômeno administrativo-societário de
participação minoritária do Estado em sociedades privadas, com vistas à realização de algum
interesse público. Tal participação poderia se dar tanto a partir de empresas integrantes da
Administração Indireta (como é o caso das Estatais) ou até mesmo diretamente pelo Estado.
Fundamento Constitucional e Legal:
O fundamento constitucional para essa participação minoritária em empresas privadas estaria
no art. 37, XX da CRFB:

Art. 37, XX - depende de autorização legislativa, em cada caso, a criação


de subsidiárias das entidades mencionadas no inciso anterior, assim
como a participação de qualquer delas em empresa privada;

O dispositivo faz referência à necessidade de autorização legislativa para tal participação, assim
como para a criação de subsidiárias das empresas estatais. No entanto, a doutrina (Ex: Aragão,
Arnold Wald) entende que essa autorização pode se dar de forma genérica na lei que autorizou
a criação da sociedade de economia mista, não sendo necessária lei específica para cada
subsidiária que seria criada ou para cada participação minoritária do Estado. Nesse sentido
também tem entendido o STF (ADI 1649-DF). A Lei 13303/16 também faz menção às EPPs em
seu art. 1º,§7º:

§ 7o Na participação em sociedade empresarial em que a empresa


pública, a sociedade de economia mista e suas subsidiárias não detenham
o controle acionário, essas deverão adotar, no dever de fiscalizar, práticas
de governança e controle proporcionais à relevância, à materialidade e
aos riscos do negócio do qual são partícipes, considerando, para esse fim:
(...)

Qual a diferença entre as “empresas público-privadas” e as “sociedades de economia mista”?


As empresas público-privadas NÃO integram a Administração Pública e não apresentam o controle acionário
pelo Estado, uma vez que a participação deste no capital é minoritária. De acordo com Alexandre Aragão,
trata-se de “sociedade anônima ordinária, sujeita inteiramente ao Direito Privado”, ou seja, não se sujeita
às derrogações de direito público que se impõem às sociedades de economia mita (como a necessidade de
realização de concurso público e licitações).

➔ Privatizações de Estatais e exigência de lei autorizativa:


De acordo com recente julgado do STF, a alienação do controle acionário de empresas
públicas e sociedades de economia mista exige autorização legislativa e licitação.

Por outro lado, não se exige autorização legislativa para a alienação do controle de suas
subsidiárias e controladas. Nesse caso, a operação pode ser realizada sem a necessidade de
licitação, desde que siga procedimentos que observem os princípios da administração pública
inscritos no art. 37 da CF/88, respeitada, sempre, a exigência de necessária competitividade.
STF. Plenário. ADI 5624 MC-Ref/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 5 e 6/6/2019
(Info 943)

Argumentos principais:

● Como a criação das empresas estatais necessita de uma lei prévia autorizando (CF, art.
37, XIX), prevalece o entendimento de que, em razão do paralelismo (simetria) das
formas, a extinção das empresas estatais também deve ser precedida de autorização
legislativa.
● Alienação de participação societária é privatização: a empresa deixa de ser uma
sociedade de economia mista e passa a ser uma empresa privada.
● O art. 4º, I e § 3º, da Lei nº 9.491/97, ainda vigente, exige, nos procedimentos de
desestatizações, que a alienação de participação societária, inclusive de controle
acionário, seja feito por meio de licitação.

Sobre o tema, vale mencionar ainda um precedente importante do STF, analisando dispositivo
da CERJ:

(...) 3. “No julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 234/RJ,


ao apreciar dispositivos da Constituição do Rio de Janeiro que vedavam a
alienação de ações de sociedades de economia mista estaduais, o
Supremo Tribunal Federal conferiu interpretação conforme à
Constituição da República, no sentido de serem admitidas essas
alienações, condicionando-as à autorização legislativa, por lei em
sentido formal, tão-somente quando importarem em perda do controle
acionário por parte do Estado. Naquela assentada, se decidiu também
que o Chefe do Poder Executivo estadual não poderia ser privado da
competência para dispor sobre a organização e o funcionamento da
administração estadual.” (ADI 1348/RJ, DJe 7/3/2008). 4. A autorização
legislativa exigida “há de fazer-se por lei formal, mas só será necessária,
quando se cuide de alienar o controle acionário da sociedade de
economia mista" e demais estatais. (ADI 234 QO/RJ, DJe de 9/5/1997).
(...) STF. Plenário. ADI 1703, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
08/11/2017.

Fundações

● Fundações públicas

Inicialmente, devemos destacar a diferença entre fundações públicas e fundações privadas em


nosso ordenamento jurídico pátrio:

PRIVADAS: art. 62 do CC.


Trata-se de um patrimônio destacado por
um fundador para uma finalidade
específica (ou seja, temos aqui a
personificação de um patrimônio
privado). Assim, submetem-se às normas
de direito civil.

FUNDAÇÕES
PÚBLICAS: formadas a partir da
destinação de um patrimônio público.
Depende de lei específica para sua
criação, tendo finalidade pública e
integrando a Administração Indireta do
ente instituidor.

Visto isso, vale destacar que o entendimento majoritário é o de que as fundações públicas
podem ser de direito público ou de direito privado, a depender da opção legislativa e da
presença ou não de prerrogativas públicas. Este também é o entendimento adotado pelo STF:

“A qualificação de uma fundação instituída pelo Estado como sujeita ao regime


público ou privado depende: I – do estatuto de sua criação ou autorização; II –
das atividades por ela prestadas. As atividades de conteúdo econômico e as
passíveis de delegação, quando definidas como objetos de dada fundação, ainda
que essa seja instituída ou mantida pelo Poder Público, podem se submeter ao
regime jurídico de direito privado.” (RE 716378)

Para facilitar, basta entender a fundação pública de direito público como uma autarquia, o que
implicará uma maior proximidade com suas características (por isso, as fundações públicas de
direito público também são chamadas de FUNDAÇÕES AUTÁRQUICAS). Por outro lado, as
fundações públicas de direito privado se aproximam mais das empresas públicas, conforme
veremos.

De forma sistematizada, vejamos as principais características e diferenças entre essas 2 espécies


de fundações públicas:

FUNDAÇÃO PÚBLICA DE DIREITO PÚBLICO FUNDAÇÃO PÚBLICA DE DIREITO PRIVADO


Criadas diretamente por meio de lei específica Criadas a partir de autorização legal específica,
(até porque são consideradas como autarquias ficando suas áreas de atuação dependendo da
fundacionais), não dependendo de registro edição de lei complementar – inteligência do art.
posterior. 37, XIX da CRFB6.
OBS: em razão da simetria, sua extinção também OBS: em razão da simetria, sua extinção também
dependerá, em princípio, de lei. dependerá, em princípio, de lei.
Formadas pela destinação de um patrimônio Formadas pela destinação de um patrimônio
público. público.
Constituídas sob o regime de direito público, Constituídas sob o regime de direito privado, não
submetendo-se a regime integralmente público, usufruindo, portanto, dos benefícios da Fazenda
valendo-se de todas as prerrogativas estatais Pública – possuem regime híbrido/misto.
(como no caso de privilégios processuais e
fiscais).
Integram a Administração Indireta, Integram a Administração Indireta, submetendo-
submetendo-se às restrições dos princípios de se às restrições dos princípios de direito público.
direito público.
Sofrem o controle e fiscalização realizado pela
Sofrem o controle e fiscalização realizado pela
Administração Direta e controle orçamentário Administração Direta (afastando-se, assim, o
do Tribunal de Contas. controle pelo Ministério Público Estadual) e
controle orçamentário do Tribunal de Contas.
Não possui finalidade lucrativa e desenvolve Não possui finalidade lucrativa e desenvolve
atividades socialmente relevantes. atividades socialmente relevantes.
Patrimônio composto por bens públicos, Patrimônio composto por bens privados,
submetendo-se ao regime de direito público todavia, não afastamos algumas prerrogativas de

6
XIX – somente por lei específica poderá ser criada autarquia e autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de
economia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste último caso, definir as áreas de sua atuação.
(alienação condicionada, impenhorabilidade, direito público (como a impenhorabilidade de
imprescritibilidade e não onerabilidade). bens afetados à prestação de serviços públicos).
Regime de pessoal: estatutário. Regime de pessoal: celetista.

ATENÇÃO! A estabilidade especial do artigo 19


do ADCT não se estende aos empregados das
fundações públicas de direito privado, aplicando-
se tão somente aos servidores das pessoas
jurídicas de direito público. (STF, RE 716378)
Atos e contratos administrativos Seus atos são privados e seus contratos são
considerados como “contratos privados da
Administração”, embora sofra a incidência de
regras de direito público (concurso para
contratação de pessoal, licitação para celebrar
contratos) – nesse sentido, os atos que são
praticados em procedimentos públicos serão
considerados atos administrativos, até mesmo
para fins de controle.
Foro processual: tratando-se de entidades Foro processual: justiça estadual.
federais, serão julgadas pela justiça federal
(inteligência do art. 109, I CRFB, já que são
consideradas autarquias fundacionais), com
exceção das ações de falência, as de acidente de
trabalho e as sujeitas a justiça eleitoral e do
trabalho.
Sendo fundações estaduais ou municipais, serão
julgadas pela justiça estadual.
Responsabilidade: objetiva, de acordo com o Responsabilidade: a responsabilidade será
art. 37, §6o da CRFB. objetiva se estivermos diante de fundações
estatais de direito privado prestadoras de
serviços públicos.

Terceiro Setor

O terceiro setor não é especificamente abrangido pelo Edital do TJRJ, todavia, é importante
compreender seu funcionamento e posição perante o Direito Administrativo no Brasil.

De início, podemos estabelecer uma organização didática em três setores:

1º Setor 2º Setor 3º Setor


Estado (Administração Direta e Mercado (concessionárias e Sociedade civil (serviços sociais
Administração Indireta) permissionárias de serviços autônomos, entidades de
públicos); apoio, organizações sociais,
organizações da sociedade civil
de interesse público – sendo
este rol meramente
exemplificativo). Neste ponto,
estudaremos o terceiro setor e
as pessoas que o integram.

Além dos órgãos e entidades integrantes da Administração Pública Direta e Indireta, temos outras
pessoas jurídicas que prestam atividades de interesse público, muito embora NÃO integrem a
Administração Pública, nem a Direta e nem a Indireta. Tratam-se dos “entes de cooperação” ou
“entidades estatais”.

Conceito: “são entidades da sociedade civil, sem fins lucrativos, que desempenham atividades de
interesse social mediante vínculo formal de parceria com o Estado”7.

Estas pessoas jurídicas possuem regime jurídico preponderante de direito privado, muito embora haja
a incidência parcial de normas de direito público, bem como a sujeição aos controles realizados pela
Administração Pública e pelo Tribunal de Contas. Assim, possuem caráter híbrido: são “públicas”, visto
que executam atividades sociais e recebem recursos públicos, porém, são “não estatais”, já que não
integram a Administração Pública.

Rafael Oliveira elenca as características comuns das entidades do terceiro setor:

➢ São criadas pela iniciativa privada;


➢ Não possuem finalidade lucrativa;
➢ Não integram a Administração Pública;
➢ Prestam atividades privadas de relevância social;
➢ Possuem vínculo legal ou negocial com o Estado;
➢ Recebem benefícios públicos.

● Serviços sociais autônomos

São pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, que são criadas por lei e prestam
atividades de interesse público em favor de certas categorias sociais ou profissionais. Exemplos: SESI,
SESC, SENAC, SENAI.

Sua criação depende de lei. Essa exigência decorre da necessidade de uma lei que institua as
contribuições sociais, espécie de tributo. Logo, é uma autorização legislativa para a criação de tributos
e para o seu repasse a tais entidades.

Estas pessoas são criadas por Confederações privadas, após autorização legal, para prestarem serviço
de amparo a determinadas categorias profissionais. Recebem contribuições sociais que são cobradas
de forma compulsória da iniciativa privada8, instituídas pela União, que exerce a fiscalização sobre tais
entidades.

7
OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. Curso de Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2016. p.
199.
8
Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto no at. 195 as atuais contribuições compulsórias dos empregadores sobre a folha de
salários, destinadas as entidades privadas de serviço social e de formação profissional vinculadas ao sistema sindical.
Vale ressaltar que o STF possui entendimento no sentido de que quando o produto das contribuições
ingressa nos cofres dos serviços sociais autônomos, perde o caráter de recurso público, devido a
natureza jurídica de direito privado de tais entidades.

OBS 1: Os serviços sociais autônomos NÃO se submetem ao regime dos precatórios para o pagamento
de débitos oriundos de decisão judicial, conforme entendeu o STF, pois são pessoas jurídicas de direito
privado.

OBS 2: Por ostentarem natureza jurídica de direito privado e não integram a Administração Indireta.
Vale ressaltar que o STF entende que, muito embora não haja a exigência de concurso público, isso
não as exime de manterem um padrão de objetividade e de eficiência na contratação e gastos com
pessoal.

➔ Gozam de imunidade tributária?


Os serviços sociais autônomos não gozam de imunidade tributária recíproca, por não integrarem a
Administração Direta ou Indireta.
No entanto, destaque-se que as entidades integrantes do Sistema “S” gozam de isenção tributária
especial por expressa disposição dos arts. 12 e 13 da Lei n. 2.613/55. (STF. 1ª Turma. ARE 739369 AgR)
Ademais, à luz do art. 150, VI, “c” da CRFB, as instituições de educação e de assistência social sem fins
lucrativos gozam da imunidade tributária quanto aos impostos, desde que atendam aos requisitos
previstos na lei. Desta forma, as entidades do sistema S podem gozar de imunidade por este
dispositivo, porque promovem cursos para a inserção de profissionais no mercado de trabalho (logo,
são consideradas instituições de educação e assistência social).

Por fim, vale lembrar que a competência para julgamento de causas envolvendo tais entidades é da
Justiça Comum Estadual, como regra (Súmula 516 do STF: O Serviço Social da Indústria – SESI – está
sujeito à jurisdição da justiça estadual).

● Entidades de apoio

São pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, que exercem serviços não exclusivos,
relacionados a pesquisa, saúde, desenvolvimento institucional, ciência e educação. São fundações
instituídas por particulares (e por isso estão sujeitas à fiscalização pelo Ministério Publico), com o fim
de auxiliar a Administração Pública, mas não a integram.

Em âmbito federal, temos a Lei n. 8958 de 1994, que estabelece normas sobre as relações entre as
instituições federais de ensino superior e pesquisa científica e tecnológica e as fundações de apoio.
Entretanto, cabe ressaltar que os demais entes federados possuem autonomia para editar suas
próprias legislações acerca do tema.

Já entendeu o STF que as fundações de apoio às universidades públicas possuem personalidade


jurídica de direito privado, com patrimônio e administração próprios, não integrando a Administração
Pública Indireta. Assim, suas ações são julgadas pela justiça comum estadual.

As fundações de apoio necessitam realizar licitação para firmar contratos?


Não. Segundo o art. 3o da Lei n. 8958, na execução de convênios, contratos, acordos e demais ajustes
abrangidos pela lei, que envolvam recursos provenientes do poder público, as fundações de apoio
adotarão regulamento especifico de aquisições e contratações de obras e serviços, a ser editado por
meio de ato do Poder Executivo, em cada nível de governo.
Além disso, podem ser contratadas, por prazo determinado e sem licitação, à luz do art. 24, inciso XIII
da Lei 86669.

● Organizações Sociais (OS)

De acordo com a Lei n. 9637, “o Poder Executivo poderá qualificar como organizações sociais pessoas
jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujas atividades sejam dirigidas ao ensino, à pesquisa
científica, ao desenvolvimento tecnológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e à
saúde, atendidos aos requisitos previstos nesta Lei”.

Assim, as organizações sociais são entidades privadas, qualificadas na forma da Lei 9637, que celebram
o chamado “contrato de gestão” com o Estado para cumprir metas de desempenho e receber
benefícios públicos.

Quanto ao contrato de gestão, este deverá preencher os requisitos do art. 7o da Lei10 e será fiscalizado
pelo órgão ou entidade supervisora da área de atuação correspondente a atividade fomentada e,
também, fiscalizado pelo Tribunal de Contas.

A aprovação da qualificação como “organização social” é uma competência discricionária do Ministro


ou titular de órgão supervisor ou regulador da área de atividade correspondente ao seu objeto social
e do Ministro de Estado da Administração Federal e Reforma do Estado (atualmente, correspondente
ao Ministro do Planejamento).

● Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP)

As organizações da sociedade civil de interesse público estão regidas pela Lei n. 9790, que em seu art.
1o dispõe: “Podem qualificar-se como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público as pessoas
jurídicas de direito privado sem fins lucrativos que tenham sido constituídas e se encontrem em
funcionamento regular há, no mínimo, 3 (três) anos, desde que os respectivos objetivos sociais e
normas estatutárias atendam aos requisitos instituídos por esta Lei”.

Tais objetivos sociais estão elencados no art. 3o da Lei, dentre eles: promoção da assistência social,
promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico, promoção gratuita da
educação e da saúde, promoção da segurança alimentar e nutricional, etc.

9
Art. 24. É dispensável a licitação: XIII - na contratação de instituição brasileira incumbida regimental ou estatutariamente
da pesquisa, do ensino ou do desenvolvimento institucional, ou de instituição dedicada à recuperação social do preso, desde
que a contratada detenha inquestionável reputação ético-profissional e não tenha fins lucrativos.
10
Art. 7o Na elaboração do contrato de gestão, devem ser observados os princípios da legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade, economicidade e, também, os seguintes preceitos:
I - especificação do programa de trabalho proposto pela organização social, a estipulação das metas a serem atingidas e os
respectivos prazos de execução, bem como previsão expressa dos critérios objetivos de avaliação de desempenho a serem
utilizados, mediante indicadores de qualidade e produtividade;
II - a estipulação dos limites e critérios para despesa com remuneração e vantagens de qualquer natureza a serem percebidas
pelos dirigentes e empregados das organizações sociais, no exercício de suas funções.
Parágrafo único. Os Ministros de Estado ou autoridades supervisoras da área de atuação da entidade devem definir as demais
cláusulas dos contratos de gestão de que sejam signatários.
OBS: atenção com as entidades que NÃO podem ser qualificadas como OSCIP, à luz do art. 2o da Lei
979011.

Além disso, a qualificação da OSCIP é uma atividade vinculada, de acordo com o art. 1o, §2o da Lei: “A
outorga da qualificação prevista neste artigo é ato vinculado ao cumprimento dos requisitos instituídos
por esta Lei”. Nesse sentido, cumprindo os requisitos previstos na Lei, a entidade deverá ser
qualificada como OSCIP.

Uma vez qualificadas, as entidades que cumprirem os requisitos previstos no art. 1o poderão firmar
um “termo de parceria” com o Poder Público, que estabelecerá metas de desempenho e, dessa forma,
as entidades poderão receber recursos orçamentários do Estado. Vale lembrar que a celebração do
termo de parceria será precedida de consulta aos Conselhos de Políticas Públicas das áreas
correspondentes de atuação existentes, nos respectivos níveis de governo.

Quais seriam, então, as diferenças entre organizações sociais (“OS”) e organizações da sociedade
civil de interesse publico (“OSCIP”)?

Para compreender melhor essas diferenças, vejamos o quadro comparativo abaixo:

OS OSCIP
Sua qualificação é discricionária Sua qualificação é vinculada
A competência para qualificação é do A competência para qualificação é do
ministério ou órgão regulador responsável Ministério da Justiça12.
pela área de atuação da entidade.
Há a necessidade de presença de Não há a necessidade de representantes do
representantes do poder público no órgão de poder público, sendo a presença facultativa do
deliberação superior da OS.

11
Art. 2o Não são passíveis de qualificação como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, ainda que se dediquem
de qualquer forma às atividades descritas no art. 3o desta Lei:
I - as sociedades comerciais;
II - os sindicatos, as associações de classe ou de representação de categoria profissional;
III - as instituições religiosas ou voltadas para a disseminação de credos, cultos, práticas e visões devocionais e confessionais;
IV - as organizações partidárias e assemelhadas, inclusive suas fundações;
V - as entidades de benefício mútuo destinadas a proporcionar bens ou serviços a um círculo restrito de associados ou sócios;
VI - as entidades e empresas que comercializam planos de saúde e assemelhados;
VII - as instituições hospitalares privadas não gratuitas e suas mantenedoras;
VIII - as escolas privadas dedicadas ao ensino formal não gratuito e suas mantenedoras;
IX - as organizações sociais;
X - as cooperativas;
XI - as fundações públicas;
XII - as fundações, sociedades civis ou associações de direito privado criadas por órgão público ou por fundações públicas;
XIII - as organizações creditícias que tenham quaisquer tipo de vinculação com o sistema financeiro nacional a que se refere
o art. 192 da Constituição Federal.
12
Art. 5o Cumpridos os requisitos dos arts. 3o e 4o desta Lei, a pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos, interessada
em obter a qualificação instituída por esta Lei, deverá formular requerimento escrito ao Ministério da Justiça, instruído com
cópias autenticadas dos seguintes documentos:
I - estatuto registrado em cartório;
II - ata de eleição de sua atual diretoria;
III - balanço patrimonial e demonstração do resultado do exercício;
IV - declaração de isenção do imposto de renda;
V - inscrição no Cadastro Geral de Contribuintes.
Art. 6o Recebido o requerimento previsto no artigo anterior, o Ministério da Justiça decidirá, no prazo de trinta dias, deferindo
ou não o pedido. (…).
servidor público na composição do conselho
ou diretoria da entidade.
O vinculo jurídico celebrado é o contrato de O vinculo jurídico celebrado é o termo de
gestão. parceria. OBS: para recordar: OSCIP celebra
termo de Parceria.
O fomento é feito por meio do repasse de O fomento é feito por meio do repasse de
recursos orçamentários, permissão de uso de recursos orçamentários e permissão de uso de
bens públicos e cessão especial de servidor. bens públicos.

OBS: as particularidades de cada parceria com o terceiro setor dependerão da regulação do tema a
partir de legislação federal, estadual e municipal. No Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, a Lei n.
5498/2009, legislação aplicável ao tema, estabelece algumas peculiaridades, como ocorre ao prever
o caráter vinculado da qualificação como “organização social”13.

Questões Objetivas

(1) (FGV - Prefeitura do Rio de Janeiro - Fiscal de Rendas - 2023)


O prefeito do Município Beta, após a adoção dos procedimentos necessários, almejava criar
duas empresas públicas, sendo uma delas destinada a desempenhar atividade econômica em
sentido amplo, e a outra, a desempenhar atividade econômica em sentido estrito.

Ao questionar sua assessoria a respeito dessa possibilidade, foi-lhe corretamente respondido


que a atividade econômica em sentido:
A) estrito, bem como a atividade econômica em sentido amplo, podem ser
desempenhadas por empresa pública, sendo que, no exercício da última, terá os
mesmos direitos e obrigações das empresas privadas;
B) estrito, bem como a atividade econômica em sentido amplo, podem ser
desempenhadas por empresa pública, sendo que, no exercício da primeira, terá
direitos e obrigações diferenciados em relação às empresas privadas;
C) estrito, bem como a atividade econômica em sentido amplo, podem ser
desempenhadas por empresa pública, sendo que, no exercício da última, terá direitos
e obrigações diferenciados em relação às empresas privadas;
D) amplo é privativa dos particulares, logo, só é possível a criação de empresa pública
para desempenhar atividade econômica em sentido estrito, tendo os mesmos direitos
e obrigações que as empresas privadas;
E) estrito é privativa dos particulares, logo, só é possível a criação de empresa pública
para desempenhar atividade econômica em sentido amplo, tendo direitos e
obrigações diferenciados em relação às empresas privadas.

GABARITO: C
Para responder essa questão, torna-se necessário compreender as disposições constitucionais acerca
das áreas de atuação de empresas públicas na economia. Diz a CF:

13
Art. 4º Preenchidos os requisitos exigidos nesta lei, bem como preenchidos eventuais requisitos específicos, será deferida,
pelo Governador do Estado ou por delegação ao Secretário de Estado ou a Servidor Público, a qualificação da entidade como
organização social.
Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração
direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando
necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse
coletivo, conforme definidos em lei.
§ 1º A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade
de economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica
de produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços,
dispondo sobre: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
I - sua função social e formas de fiscalização pelo Estado e pela sociedade;
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
II - a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive
quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários;
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
III - licitação e contratação de obras, serviços, compras e alienações,
observados os princípios da administração pública; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 19, de 1998)
IV - a constituição e o funcionamento dos conselhos de administração e
fiscal, com a participação de acionistas minoritários; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 19, de 1998)
V - os mandatos, a avaliação de desempenho e a responsabilidade dos
administradores. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
Logo, a atividade econômica em sentido estrito, bem como a atividade econômica em sentido amplo,
podem ser desempenhadas por empresa pública, sendo que, no exercício da última, terá direitos e
obrigações diferenciados em relação às empresas privadas

(2) (FGV - PGM - Procurador do Município - 2023)


Nino, prefeito de Niterói, determinou que a Procuradoria do Município apresentasse parecer
versando sobre a viabilidade jurídica e os requisitos necessários para a desestatização da
sociedade de economia mista XYZ e da subsidiária desta, denominada ABC. Tício, procurador
do Município, foi instado a se manifestar e, ao estudar o caso concreto, verificou que: a) a lei
que autorizou a criação da sociedade de economia mista não tratou da sua desestatização,
tampouco da sua extinção; b) há uma lei local que trata sobre o programa de desestatização
na municipalidade.

Nesse cenário, de acordo com o Supremo Tribunal Federal, é correto afirmar que:
A) como a lei que criou a sociedade de economia mista XYZ não trata da sua
desestatização, esta independe da edição de lei específica, bastando a inclusão da
estatal na legislação que trata, genericamente, sobre o programa municipal de
privatização e a realização de licitação, que poderá ser afastada, caso o Município
apresente proposta compatível com os valores do mercado. Para fins de
desestatização da subsidiária ABC, é dispensável autorização legislativa e licitação,
mostrando-se necessária a observância dos princípios reitores da Administração
Pública;
B) como a lei que criou a sociedade de economia mista XYZ não trata da sua
desestatização, esta independe da edição de lei específica, bastando a inclusão da
estatal na legislação que trata, genericamente, sobre o programa municipal de
privatização e a realização de licitação. Para fins de desestatização da subsidiária ABC,
é dispensável autorização legislativa e licitação, mostrando-se necessária a
observância dos princípios reitores da Administração Pública;
C) para fins de privatização da sociedade de economia mista XYZ, é imprescindível a
edição de lei específica, por intermédio da atuação da Câmara dos Vereadores, bem
como a observância de processo licitatório, para se obter, dentre outros fins, a
proposta mais vantajosa para o erário. Em relação à subsidiária ABC, o Município
prescinde de autorização legislativa e de licitação, não estando adstrito a limites ou
condicionantes constitucionais ou legais;
D) para fins de privatização da sociedade de economia mista XYZ e da subsidiária ABC, é
imprescindível a edição de lei específica, por intermédio da atuação da Câmara dos
Vereadores, bem como a observância de processo licitatório, para se obter, dentre
outros fins, a proposta mais vantajosa para o erário;
E) para fins de privatização da sociedade de economia mista XYZ e da subsidiária ABC, é
imprescindível a autorização, por meio da edição de ato normativo infralegal por
parte do prefeito, bem como a observância de processo licitatório, para se obter,
dentre outros fins, a proposta mais vantajosa para o erário.

GABARITO: B
A questão abarca conhecimentos jurisprudenciais acerca da desestatização o privatização de
empresas estatais. É desnecessária, via de regra, lei específica para inclusão de sociedade de economia
mista ou de empresa pública em programa de desestatização. Vejamos o julgado do STF:

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. REQUERIMENTO DE


MEDIDA CAUTELAR. LEIS FEDERAIS NS. 9.491/1997 E 13.334/2016.
DESESTATIZAÇÃO DE EMPRESAS PÚBLICAS E SOCIEDADES DE ECONOMIA
MISTA. IMPUGNAÇÃO GENÉRICA. CONHECIMENTO PARCIAL DA AÇÃO.
CONSTITUCIONALIDADE DA AUTORIZAÇÃO LEGAL GENÉRICA PARA A
DESESTATIZAÇÃO DE EMPRESAS ESTATAIS. AÇÃO PARCIALMENTE
CONHECIDA E, NESSA PARTE, JULGADA IMPROCEDENTE. 1. Não se conhece
da ação direta de inconstitucionalidade na qual a impugnação às normas é
apresentada de forma genérica. Precedentes. 2. Para a desestatização de
empresa estatal é suficiente a autorização prevista em lei que veicule
programa de desestatização. Precedentes. 4. Autorização legislativa
genérica é pautada em princípios e objetivos que devem ser observados
nas diversas fases deliberativas do processo de desestatização. A atuação
do Chefe do Poder Executivo vincula-se aos limites e condicionantes legais
previstos. 5. Ação direta parcialmente conhecida quanto à impugnação da
autorização de inclusão de empresas estatais no plano de desestatização
prevista no caput do art. 2º e no § 1º do inc. I do art. 6º da Lei n. 9.491/1997
e, nessa parte, julgado improcedente o pedido.

(ADI 6241, Relator(a): CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em


08/02/2021, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-054 DIVULG 19-03-2021 PUBLIC
22-03-2021)

(...)A alienação do controle acionário de empresas públicas e sociedades de


economia mista exige autorização legislativa e licitação.
Por outro lado, não se exige autorização legislativa para a alienação do
controle de suas subsidiárias e controladas. Nesse caso, a operação pode
ser realizada sem a necessidade de licitação, desde que siga procedimentos
que observem os princípios da administração pública inscritos no art. 37 da
CF/88, respeitada, sempre, a exigência de necessária competitividade.

STF. Plenário. ADI 5624 MC-Ref/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado
em 5 e 6/6/2019 (Info 943).

(3) (FGV - TRF 1 - Juiz Federal Substituto - 2023)

Uma empresa prestadora de serviços de transporte interestadual terrestre recebe autuação


da agência reguladora Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) com identificação
da infração e aplicação das sanções de multa e suspensão da atividade. Resolve então ajuizar
ação questionando a resolução da agência que tipifica as condutas infracionais e prescreve as
sanções correspondentes, por violação ao princípio constitucional da legalidade.

Sobre o poder regulador das agências no Brasil, é correto afirmar que:

A) a decisão da agência reguladora (ANTT) pode ser revista em recurso hierárquico;


B) a agência reguladora é autarquia especial e recebe da lei que a institui uma delegação
para exercer seu poder de regulação;
C) o principal papel das agências reguladoras é a gestão dos contratos de outorga de
serviços públicos, sem atividade de regulação autônoma;
D) as agências executivas são espécies de agências reguladoras que atuam em atividades
típicas do Estado conforme definidas no contrato de gestão;
E) conforme recente julgamento da ADI 5906, o Supremo Tribunal Federal entendeu
pela impossibilidade de a agência reguladora definir em resolução as infrações e suas
sanções.

GABARITO: B

Conforme estudamos, as agências reguladoras são autarquias de regime especial caracterizadas por
terem autonomia reforçada em relação ao poder executivo e ampla concentração de funções públicas
(funções administrativas típicas, normativas e judicantes, ou seja, dirimir conflitos no setor regulado).

A assertiva E da questão em tela menciona a ADI 5906. Vejamos a ementa:

Ementa: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. AGÊNCIAS REGULADORAS E


PODER REGULAMENTAR. ART. 24, VIII, E ART. 78-A DA LEI 10.233/2011.
RESOLUÇÃO ANTT 233/2003. PREVISÃO LEGAL DA COMPETÊNCIA PARA A
AGÊNCIA REGULADORA EDITAR REGULAMENTO SOBRE INFRAÇÕES
ADMINISTRATIVAS. PREVISÃO DAS SANÇÕES CABÍVEIS E CRITÉRIOS
MÍNIMOS PARA A REGULAMENTAÇÃO. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO AO
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. IMPROCEDÊNCIA.
1. As Agências Reguladoras, criadas como autarquias especiais pelo Poder
Legislativo (CF, art. 37, XIX), recebem da lei que as instituem uma delegação
para exercer seu poder normativo de regulação, competindo ao Congresso
Nacional a fixação das finalidades, dos objetivos básicos e da estrutura das
Agências, bem como a fiscalização de suas atividades.
2. As Agências Reguladoras não poderão, no exercício de seu poder
normativo, inovar primariamente a ordem jurídica sem expressa delegação,
tampouco regulamentar matéria para a qual inexista um prévio conceito
genérico, em sua lei instituidora (standards), ou criar ou aplicar sanções não
previstas em lei, pois, assim como todos os Poderes, Instituições e órgãos do
poder público estão submetidas ao princípio da legalidade (CF, art. 37,
caput).
3. No caso em julgamento, a Lei 10.233/2003, com as alterações redacionais
supervenientes, fixou os critérios mínimos indispensáveis para o exercício,
pela Agência Reguladora, da competência para imposição de sanções pela
prática de infrações administrativas.
4. As disposições emanadas da Resolução ANTT 233/2003 obedecem às
diretrizes legais, na medida em que protegem os interesses dos usuários,
relativamente ao zelo pela qualidade e pela oferta de serviços de transportes
que atendam a padrões de eficiência, segurança, conforto, regularidade,
pontualidade e modicidade das tarifas, assim como a cominação das penas
não desborda da parâmetros estabelecidos em lei. 5. Ação Direta julgada
improcedente. (ADI 5906, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/
Acórdão: ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em 06/03/2023,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-056 DIVULG 15-03-2023 PUBLIC 16-03-2023)

Portanto, diante disso, a alternativa A está incorreta, porque é conferido às agências reguladoras a
competência para solucionar conflitos no setor regulado, aplicando o direito ao caso concreto. Essa
decisão, em regra, não está sujeita a recurso para a Administração direta (recurso hierárquico
impróprio), tendo em vista que se trata de decisão técnica, salvo disposição legal em sentido contrário.

A assertiva B reflete o entendimento fixado pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF)
transcrito supra. Que, por sua vez, invalida a assertiva E, visto que o STF validou regras que autorizam
a ANTT a definir, por meio de resolução, infrações e penalidades administrativas sobre o serviço de
transporte rodoviário.

A alternativa C e D, por sua vez, estão incorretas, já que a gestão dos contratos de outorga de serviços
públicos não configura o principal papel das agências reguladoras. A principal atuação é aquela
relacionada ao exercício do poder normativo de regulação. E, além disso, as agências executivas não
são espécies de agências reguladoras. A agência executiva é uma autarquia ou fundação pública que
recebe uma qualificação jurídica que confere a ela maior autonomia gerencial, orçamentária e
financeira.

(4) (FGV - ALE MA - Técnico de Gestão Administrativa - 2023)

O Estado do Maranhão visa a constituir uma empresa pública para fins de realizar atividade
de relevante interesse coletivo na área de tecnologia da informação, a qual atuará em regime
de concorrência com outras sociedades empresárias do respectivo setor.

Diante dessa situação hipotética, é correto afirmar que a mencionada entidade administrativa
A) tem personalidade jurídica de direito público, que é criada por lei e integra o conceito
de Fazenda Pública, cujos bens são públicos e o regime de pessoal é dotado de
estabilidade.
B) deve ser constituída, mediante autorização legislativa, como sociedade anônima, cujo
capital social pode ser integralizado por sociedades empresárias que não compõem a
Administração Pública, cujos bens são públicos e o regime de pessoal é o celetista.
C) não tem personalidade jurídica própria, sendo criada por lei como órgão integrante
da Administração Direta do respectivo Estado, que tem bens públicos e regime de
pessoal dotado de estabilidade.
D) deve ser criada, mediante autorização legislativa, como pessoa jurídica de direito
privado, cujo capital será integralizado por entes políticos ou entidades
administrativas, cujos bens são privados e o regime de pessoal é o celetista.
E) não pode ser criada, na medida em que o Estado não pode atuar em setor submetido
à livre concorrência, ainda que caracterizado o relevante interesse coletivo, diante do
princípio da livre iniciativa.

GABARITO: D
A questão versa sobre conhecimentos básicos de sociedades e empresa pública. Conforme
estudamos, são criadas mediante autorização legislativa, como pessoa jurídica de direito privado, cujo
capital será integralizado por entes políticos ou entidades administrativas, cujos bens são privados e
o regime de pessoal é o celetista. Vejamos os conceitos da Lei 13.303:
Art. 3º Empresa pública é a entidade dotada de personalidade jurídica de
direito privado, com criação autorizada por lei e com patrimônio próprio,
cujo capital social é integralmente detido pela União, pelos Estados, pelo
Distrito Federal ou pelos Municípios.
Parágrafo único. Desde que a maioria do capital votante permaneça em
propriedade da União, do Estado, do Distrito Federal ou do Município, será
admitida, no capital da empresa pública, a participação de outras pessoas
jurídicas de direito público interno, bem como de entidades da
administração indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios.
Art. 4º Sociedade de economia mista é a entidade dotada de personalidade
jurídica de direito privado, com criação autorizada por lei, sob a forma de
sociedade anônima, cujas ações com direito a voto pertençam em sua
maioria à União, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios ou a
entidade da administração indireta.

(5) (FGV - TJ GO - Juiz Leigo - 2022)

No processo de modernização da Administração Pública brasileira, marcado pela adoção de


uma concepção neoliberal de política econômica voltada à redução do aparato estatal, a
crescente transferência à iniciativa privada de atividades até então exercidas pelo Estado fez
surgir a necessidade de fiscalização e controle das pessoas privadas que assumiam a
incumbência da prestação de serviços públicos, em regra sob a forma de concessão ou
permissão. Com inspiração no modelo norte-americano de regulação econômica e social,
atribuiu-se às chamadas agências reguladoras o papel precípuo de controle da prestação de
serviços públicos e do exercício de atividades econômicas, de modo a adequar a atuação
desses atores privados aos fins colimados pela Administração, notadamente a proteção do
consumidor.

Dentre as peculiaridades das agências reguladoras, a doutrina especializada costuma destacar


a natureza jurídica de:
A) autarquia sob regime especial e a gestão por dirigentes estáveis exercentes de
mandatos fixos que asseguram certa independência em relação ao governo, além do
poder normativo, consistente na edição de normas técnicas que ostentam status
legal;
B) empresa pública sob regime especial e a gestão por dirigentes titulares de cargos
efetivos que asseguram certa independência em relação ao governo, além do poder
normativo, consistente na competência para regulamentar as leis que disciplinam o
respectivo setor;
C) autarquia sob regime especial e a gestão por dirigentes titulares de cargos efetivos
que asseguram certa independência em relação ao governo, além do poder
normativo, consistente na competência para regulamentar as leis que disciplinam o
respectivo setor;
D) autarquia sob regime especial e a gestão por dirigentes estáveis exercentes de
mandatos fixos que asseguram certa independência em relação ao governo, além do
poder normativo, consistente na edição de normas técnicas capazes de integrar a
legislação aplicável ao setor, sem criar ou extinguir direitos e obrigações;
E) órgão público sob regime especial e a gestão por dirigentes exercentes de funções de
confiança que garantem o alinhamento às diretrizes do Poder Executivo, além do
poder normativo, consistente na edição de normas técnicas capazes de integrar a
legislação aplicável ao setor, sem criar ou extinguir direitos e obrigações.

GABARITO: D
Conforme estudado, cada agência reguladora é disciplinada por uma lei específica. Assim, não é
possível, a princípio, falar em um regime jurídico único aplicado a toda e qualquer agência reguladora.
A doutrina majoritária, por sua vez, tem entendido que há certas características comuns à maioria das
agências reguladoras: poder normativo; autonomia decisória; autonomia econômico-financeira; e
independência administrativa (regime jurídico especial das agências reguladoras).
O poder normativo é balizado pelos limites legais e representa a manifestação do exercício das suas
competências, de natureza exclusivamente administrativa.
A primeira assertiva está incorreta em decorrência da parte final “a edição de normas técnicas que
ostentam status legal;” A legislação confere autonomia às agências reguladoras para editar atos
administrativos normativos - não ostentam status legal, razão pela qual está incorreta a alternativa.

A alternativa B indica erroneamente “empresa pública sob regime especial”, quando na verdade é de
autarquias de regime especial.

A assertiva C, por sua vez, está incorreta, pois não são titulares de cargo efetivo, mas sim agente com
estabilidade diferenciada, caracterizada pelo exercício de mandato a termo. Nesse contexto, tem-se
que a gestão das agências reguladoras é realizada por meio de exercentes de mandato e não por
titulares de cargos efetivos.

Por fim, a letra E, utiliza a nomenclatura incorreta de “órgão público sob regime especial”, quando
seriam autarquias de regime especial. Restando, portanto, a letra D correta.
(6) (FGV - RFB - Analista Tributário da Receita Federal – 2023)
Hospital Dod é uma sociedade de economia mista estadual que realiza atividade típica de
Estado na área da saúde e que não tem intuito de obtenção de lucro, de modo que atua em
regime não concorrencial.

Em decorrência de uma série de demandas ajuizadas em seu desfavor, seus dirigentes estão
com fundadas dúvidas acerca do reconhecimento pelo Supremo Tribunal Federal de
peculiaridades relativas ao respectivo regime jurídico enquanto entidade da Administração
Indireta, sendo correto afirmar que
A) a entidade administrativa em questão integra o conceito de Fazenda Pública.
B) deve a ela ser reconhecida imunidade tributária recíproca.
C) a responsabilização civil da entidade por erro médico de seus agentes apenas pode
decorrer de dolo ou culpa.
D) os bens de sua titularidade podem ser penhorados, ainda que utilizados na realização
de suas atividades.
E) não é possível atribuir a tal entidade nenhuma prerrogativa reconhecida para os entes
federativos.

GABARITO: B
A questão abarca conhecimentos sobre o tema de Administração Indireta atrelado à conhecimentos
da jurisprudência do STF. Nesse contexto, como estamos diante de uma sociedade de economia mista
estadual que realiza atividade típica de Estado na área da saúde e que não tem intuito de obtenção
de lucro, de modo que atua em regime não concorrencial, deve-se reconhecer-lhe imunidade
tributária recíproca, conforme entendimento consolidado do STF:
DIREITO TRIBUTÁRIO. AGRAVO INTERNO EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
IMUNIDADE TRIBUTÁRIA RECÍPROCA. SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA
DELEGATÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO. EXTENSÃO. POSSIBILIDADE.
1. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal se consolidou no sentido
de que as empresas públicas e sociedades de economia mista delegatárias
de serviços públicos de prestação obrigatória e exclusiva do Estado são
beneficiárias da imunidade tributária recíproca prevista no art. 150, VI, a,
da Constituição Federal. Precedentes.
2. Inaplicável o art. 85, § 11, do CPC/2015, uma vez que não houve fixação
de honorários advocatícios contra o recorrente.
3. Agravo interno a que se nega provimento.
(STF - RE: 905900 MG 3198487-38.2007.8.13.0079, Relator: ROBERTO
BARROSO, Data de Julgamento: 07/12/2020, Primeira Turma, Data de
Publicação: 14/12/2020)

OBS: Se há negociação em bolsa de valores e esteja voltada à remuneração de capital, a Sociedade de


Economia Mista ou a Empresa Pública não faz jus à imunidade tributária recíproca, conforme
entendimento do STF:

TRIBUTÁRIO. IPTU. IMUNIDADE RECÍPROCA. SOCIEDADE DE ECONOMIA


MISTA. NATUREZA JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO. PARTICIPAÇÃO
ACIONÁRIA DISPERSA E NEGOCIADA EM BOLSA DE VALORES. EXAME DA
RELAÇÃO ENTRE OS SERVIÇOS PÚBLICOS PRESTADOS E O OBJETIVO DE
DISTRIBUIÇÃO DE LUCROS A INVESTIDORES PÚBLICOS E PRIVADOS COMO
ELEMENTO DETERMINANTE PARA APLICAÇÃO DA SALVAGUARDA
CONSTITUCIONAL. SERVIÇO PÚBLICO DE SANEAMENTO BÁSICO SEM FINS
LUCRATIVOS. CF/88, ARTS. 5º, II, XXXV, LIV E LV; 37, INCISOS XIX E XXI E § 6º;
93, IX; 150, VI; E 175, PARÁGRAFO ÚNICO. PRECEDENTES QUE NÃO SE
ADEQUAM PERFEITAMENTE AO CASO CONCRETO. IMUNIDADE QUE NÃO
DEVE SER RECONHECIDA. REDATOR PARA ACÓRDÃO (ART. 38, IV, B, DO
RISTF). FIXAÇÃO DA TESE DE REPERCUSSÃO GERAL.
[...]
7. Proposta de tese de repercussão geral: Sociedade de economia mista,
cuja participação acionária é negociada em Bolsas de Valores, e que,
inequivocamente, está voltada à remuneração do capital de seus
controladores ou acionistas, não está abrangida pela regra de imunidade
tributária prevista no art. 150, VI, a, da Constituição, unicamente em razão
das atividades desempenhadas.
(STF - RE: 600867 SP, Relator: JOAQUIM BARBOSA, Data de Julgamento:
29/06/2020, Tribunal Pleno, Data de Publicação: 30/09/2020)

(7) (FGV - MPE GO - Analista Jurídico - 2022)


Em matéria de contrato de desempenho, a Constituição da República dispõe que a autonomia
gerencial, orçamentária e financeira dos órgãos e entidades da administração direta e indireta
A) não poderá ser ampliada mediante contrato a ser firmado entre seus administradores
e o poder público, que tenha por objeto a fixação de metas de desempenho para o
órgão ou entidade, por expressa vedação constitucional.
B) não poderá ser ampliada mediante contrato a ser firmado entre seus administradores
e o poder público, que tenha por objeto a fixação de metas de desempenho para o
órgão ou entidade, exceto se houve prévia autorização legislativa, por meio de
emenda à constituição.
C) poderá ser ampliada mediante contrato a ser firmado entre seus administradores e o
poder público, que tenha por objeto a fixação de metas de desempenho para o órgão
ou entidade, desde que haja prévia autorização do Ministério Público e do Tribunal
de Contas.
D) poderá ser ampliada mediante contrato a ser firmado entre seus administradores e o
poder público, que tenha por objeto a fixação de metas de desempenho para o órgão
ou entidade, cabendo à lei dispor sobre o prazo de duração do contrato, vedada
inovação legal sobre os controles e critérios de avaliação de desempenho, direitos,
obrigações e responsabilidade dos dirigentes, bem como a remuneração do pessoal.
E) poderá ser ampliada mediante contrato a ser firmado entre seus administradores e o
poder público, que tenha por objeto a fixação de metas de desempenho para o órgão
ou entidade, cabendo à lei dispor sobre o prazo de duração do contrato, os controles
e critérios de avaliação de desempenho, direitos, obrigações e responsabilidade dos
dirigentes, bem como a remuneração do pessoal.

GABARITO: E
Analisemos a questão com base na Constituição Federal. Diz o Art. 37:

Art. 37 (...)
§ 8º A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos órgãos e
entidades da administração direta e indireta poderá ser ampliada mediante
contrato, a ser firmado entre seus administradores e o poder público, que
tenha por objeto a fixação de metas de desempenho para o órgão ou
entidade, cabendo à lei dispor sobre:
I - o prazo de duração do contrato;
II - os controles e critérios de avaliação de desempenho, direitos,
obrigações e responsabilidade dos dirigentes;
III - a remuneração do pessoal.
Portanto, aplicou-se o conhecimento literal da letra de lei.

(8) (FGV - MPE GO - Promotor de Justiça Substituto - 2022)

O Estado Beta editou legislação que (i) define a saúde pública como área de atuação passível
de exercício por fundação pública de direito privado; (ii) autoriza a instituição de fundações
públicas de direito privado destinadas à prestação de serviços de saúde (hospitais e institutos
de saúde); e (iii) atribui a essas entidades autonomia gerencial, orçamentária e financeira,
além de estabelecer o regime celetista para contratação de seus funcionários.
No caso em tela, de acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a mencionada
legislação estadual é:
A) inconstitucional, haja vista que essas fundações públicas de direito privado não
podem prestar serviços de saúde, sendo certo que tais fundações são veladas pelo
Ministério Público Estadual;
B) constitucional, e essas fundações públicas de direito privado fazem jus à isenção das
custas processuais e integram a Administração Pública indireta, mas não estão
sujeitas ao controle finalístico pela Secretaria Estadual de Saúde;
C) inconstitucional, haja vista que deve ser adotado o regime jurídico estatutário para
seus servidores por se tratar de fundações públicas, gozando essas entidades das
prerrogativas processuais, como isenção de custas;
D) constitucional, e essas fundações públicas de direito privado não fazem jus à isenção
das custas processuais, mas integram a Administração Pública indireta e estão sujeitas
ao controle financeiro e orçamentário realizado pelo Tribunal de Contas;
E) inconstitucional, haja vista que deve ser adotado o regime jurídico estatutário para
seus servidores por se tratar de fundações públicas, mas suas contratações
prescindem de prévia licitação.

GABARITO: D
A presente questão versa sobre fundações públicas. As fundações públicas (instituídas pelo Poder
Público, como é o caso) podem ser de direito público ou de direito privado, as de direito público
equiparam-se às autarquias, possuindo regime de direito público. As fundações públicas de direito
privado – mesmo detentoras de um regime híbrido (ou seja, predominantemente regido pelo direito
privado, mas sofrendo intervenções de normas de direito público) – devem ter como finalidade o
exercício “de uma atividade de interesse social (...) sendo comum que as fundações públicas se
destinem às atividades culturais, de assistência social, de defesa e promoção dos direitos de minorias,
de assistência médica e hospitalar, de educação, de pesquisa etc.” Nesse sentido, os pontos i) e ii) da
legislação estão em conformidade com o ordenamento.
Todavia, o entendimento do Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça no sentido de
que as fundações públicas de direito privado não possuem direito à isenção das custas processuais.
Vejamos a a ADI 4247/RJ e o Informativo 676 do STJ:
ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO - CONTROLE ABSTRATO DE
CONSTITUCIONALIDADE. Cabe à Advocacia-Geral da União a defesa do ato
normativo impugnado - art. 103, § 3º, da Constituição Federal. FUNDAÇÃO -
NATUREZA. A fundação, pouco importando a espécie de serviços a serem
prestados, é pessoa jurídica de direito privado, sendo possível a criação
mediante lei ordinária e a regência, pela consolidação das Leis do Trabalho,
da relação jurídica mantida com os prestadores de serviços (STF - ADI: 4247
RJ, Relator MARCO AURÉLIO, Data de Julgamento: 04/11/2020, Tribunal
Pleno, Data Publicação: 08/03/2021

STJ, INFO 676: As fundações públicas de direito privado não fazem jus à
isenção das custas processuais. A isenção das custas processuais somente
se aplica para as entidades com personalidade de direito público. Dessa
forma, para as Fundações Públicas receberem tratamento semelhante ao
conferido aos entes da Administração Direta é necessário que tenham
natureza jurídica de direito público, que se adquire no momento de sua
criação, decorrente da própria lei.

(9) (FGV - TRT 13 - Analista Judiciário - Área Judiciária - 2022)

Os Conselhos Profissionais são criados por lei, possuem personalidade jurídica de direito
público, exercem uma atividade tipicamente pública, qual seja, a fiscalização do exercício
profissional, bem como são dotados de poder de polícia e poder arrecadador.

Nesse contexto, em tema de regime jurídico desses conselhos de fiscalização profissionais,


que têm natureza jurídica de autarquias especiais, de acordo com o Supremo Tribunal Federal
é correto afirmar que
A) não se submetem a controle pelo Tribunal de Contas.
B) não se aplica a obrigatoriedade de concurso público para ingresso de pessoal.
C) não se aplica o teto constitucional de remuneração dos servidores e não têm
autonomia financeira e orçamentária.
D) não se aplica o regime dos precatórios para pagamentos de dívidas decorrentes de
decisão judicial.
E) integram a administração pública direta e se submetem ao controle pelo tribunal de
contas.

GABARITO: D
Como é de costume da banca FGV, mais uma vez a questão cobra explicitamente conhecimentos
acerca da jurisprudência do STF. Conforme o Informativo 861 do STF, "Os pagamentos devidos, em
razão de pronunciamento judicial, pelos Conselhos de Fiscalização não se submetem ao regime de
precatórios".

(10) (FGV - SF - Advogado - 2022)


Determinada pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos e qualificada como
Organização Social (OS), observadas as formalidades legais, celebrou regularmente
instrumento jurídico próprio com o ente federativo Alfa, que tem por objeto o gerenciamento,
a operacionalização e a execução de ações e serviços de saúde na Unidade Hospitalar Beta.

No segundo mês à frente do hospital público Beta, a OS verificou que, para melhor exercer
suas obrigações e de maneira a viabilizar a prestação com mais eficiência do serviço de saúde,
seria importante a cessão de servidores públicos do ente Alfa para a OS.
O órgão da advocacia pública do ente Alfa, levando em consideração as normas de regência,
emitiu parecer no sentido de que a cessão de servidores pretendida é
A) vedada pela lei, pois, em razão de sua natureza, o termo de fomento em vigor veda
ao ente Alfa a cessão de servidores para a OS, haja vista que a organização já é
remunerada para a prestação dos serviços.
B) possível, eis que, ao Poder Executivo do ente Alfa, é facultada a cessão especial de
servidor para a OS, com ônus para o ente de origem, em razão do contrato de gestão
em vigor.
C) vedada pela lei, pois, em razão de sua natureza, o contrato de gestão em vigor veda
ao ente Alfa a cessão de servidores para a OS, haja vista que a organização já é
remunerada para a prestação dos serviços.
D) vedada pela lei, pois, em razão da natureza do serviço prestado, o termo de
colaboração em vigor veda ao ente Alfa a cessão de servidores para a OS, haja vista
que a organização já é remunerada para a prestação dos serviços.
E) possível, eis que, ao Poder Executivo do ente Alfa, é facultada a cessão especial de
servidor para a OS, com ônus para a OS cessionária, em razão do termo de parceria
em vigor.

GABARITO: B

Apresentamos aqui uma questão que testa conhecimentos acerca do Terceiro Setor para fins de
fixação de conhecimento. Consoante a Lei nº 9.637/1998, em seu Art. 14: “Art. 14. É facultado ao
Poder Executivo a cessão especial de servidor para as organizações sociais, com ônus para a origem”.
Portanto, resta correta a assertiva B, já que o órgão da advocacia pública do ente Alfa emitiu parecer
no sentido de que a cessão especial de servidores pretendida é possível.

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