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CÂMARA MUNICIPAL DE CONTENDA

ESTADO DO PARANÁ

DIVISÃO JURÍDICA

PARECER 073/2020

EMENTA: trata-se da análise jurídico/legal do Projeto


de Lei 019/2019 de autoria do Chefe do Poder
Executivo, que Estima a Receita e Fixa a Despesa do
Município de Contenda e sua Autarquia para o
Exercício Financeiro de 2021.

I – DO CARÁTER OPINATIVO

Tendo em vista o disposto no art. 133 da Constituição Federal, in verbis:

Art. 133. O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por


seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei.

Considerando, ainda, o disposto na Lei nº 8.906, de 1994 (Estatuto da Advocacia


e da Ordem dos Advogados do Brasil):

Art. 7º São direitos do advogado:


I - exercer, com liberdade, a profissão em todo o território nacional;
[...]
§ 2º O advogado tem imunidade profissional, não constituindo injúria,
difamação puníveis qualquer manifestação de sua parte, no exercício de sua
atividade, em juízo ou fora dele, sem prejuízo das sanções disciplinares perante
a OAB, pelos excessos que cometer.

Ressaltando, por fim, a decisão e fundamentação proferida pelo Supremo Tribunal


Federal nos autos do Mandado de Segurança nº 24631/DF:

EMENTA: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. CONTROLE


EXTERNO. AUDITORIA PELO TCU. RESPONSABILIDADE DE
PROCURADOR DE AUTARQUIA POR EMISSÃO DE PARECER
TÉCNICO-JURÍDICO DE NATUREZA OPINATIVA. SEGURANÇA
DEFERIDA. I. Repercussões da natureza jurídico-administrativa do parecer
jurídico: (i) quando a consulta é facultativa, a autoridade não se vincula ao
parecer proferido, sendo que seu poder de decisão não se altera pela
manifestação do órgão consultivo; (ii) quando a consulta é obrigatória, a
autoridade administrativa se vincula a emitir o ato tal como submetido à
consultoria, com parecer favorável ou contrário, e se pretender praticar ato de
forma diversa da apresentada à consultoria, deverá submetê-lo a novo parecer;
(iii) quando a lei estabelece a obrigação de decidir à luz de parecer vinculante,
essa manifestação de teor jurídica deixo de ser meramente opinativa e o
administrador não poderá decidir senão nos termos da conclusão do parecer ou,
então, não decidir. II. No caso de que cuidam os autos, o parecer emitido pelo
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impetrante não tinha caráter vinculante. Sua aprovação pelo superior


hierárquico não desvirtua sua natureza opinativa, nem o torna parte de ato
administrativo posterior do qual possa eventualmente decorrer dano ao erário,
mas apenas incorpora sua fundamentação ao ato. III. Controle externo: É lícito
concluir que é abusiva a responsabilização do parecerista à luz de uma alargada
relação de causalidade entre seu parecer e o ato administrativo do qual tenha
resultado dano ao erário. Salvo demonstração de culpa ou erro grosseiro,
submetida às instâncias administrativo-disciplinares ou jurisdicionais próprias,
não cabe a responsabilização do advogado público pelo conteúdo de seu parecer
de natureza meramente opinativa. Mandado de segurança deferido. (grifo nosso)

II – DA LEGITIMIDADE PARA ELABORAÇÃO DE PARECER

A fundamentação para a elaboração do presente parecer jurídico consta no anexo


I, da Lei Municipal nº 1731/18.

III – DA FUNDAMENTAÇÃO

Verificando o Projeto de Lei em comento não há maiores considerações a serem


feitas. A iniciativa do Projeto, oriundo do Poder Executivo, esta correta, não tendo
que se falar em vício de competência.

No que toca aos princípios orçamentários, não há qualquer observância de


nulidade ou de violação, visto que restou obedecido o princípio da Unidade, da
Universalidade, da Anualidade, da Exclusividade e demais.

Como ato de Gestão, a organização do orçamento não pode sofrer valoração por
parte desta divisão, tendo em vista que o estabelecimento de metas e prioridades da
Administração Pública são de competências exclusiva do gestor público, que deve alocar
os recursos segundo sua conveniência e oportunidade, salvo os casos em que a própria
Constituição Federal estabelece de forma diversa.

Observa-se, somente, a questão de alinhamento com as demais leis orçamentárias


estabelecidas para o Município, análise que deverá ser realizada por profissional técnico
especializado. Vide parecer da Divisão Administrativa.

Quanto ao aspecto contábil (classificação do art. 11 da Lei nº 4320/64), as receitas


públicas dividem-se em:

a) Receitas correntes: são aquelas receitas públicas que se esgotam dentro do


período anual, como os casos das receitas e impostos que se extinguem no decurso da
execução orçamentária. Compreendem as receitas tributárias, patrimoniais, industriais,
entre outras. São as receitas destinadas a cobrir as despesas orçamentárias que visam à
manutenção das atividades governamentais.

Art. 11 (…)
§ 1º São Receitas Correntes as receitas tributárias, de contribuições,
patrimonial, agropecuária, industrial, de serviços e outras e, ainda, as
provenientes de recursos financeiros recebidos de outras pessoas de direito

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público ou privado, quando destinadas a atender despesas classificáveis em


Despesas Correntes.

b) Receitas de capital: são aquelas receitas públicas que alteram o patrimônio


duradouro do Estado, como os produtos de empréstimo contraídos pelo Estado a longo
prazo. Compreendem, assim, a constituição de dívidas, a conversão em espécie de bens e
direitos, dentre outros.

Art. 11, § 2º - São Receitas de Capital as provenientes da realização de recursos


financeiros oriundos de constituição de dívidas; da conversão, em espécie, de
bens e direitos; os recursos recebidos de outras pessoas de direito público ou
privado, destinadas a atender despesas classificáveis em Despesas de Capital e,
ainda, o superávit do Orçamento Corrente.

No que toca à periodicidade (classificação doutrinária), as receitas públicas


dividem-se em:

a) Receitas ordinárias: são aquelas receitas públicas recebidas com regularidade


no movimento normal das atividades do ente federativo, como a arrecadação de tributos.

b) Receitas extraordinárias: são aquelas receitas públicas não


permanentes/usuais que ocorrem, por exemplo, no caso de guerra e doações.

Quanto à origem (classificação doutrinária), as receitas públicas dividem-se em:

a) Receitas originárias: são aquelas receitas públicas que decorrem da exploração


da própria atividade econômica do ente federativo. Decorrem dos próprios bem do ente
federativo.

São exemplos, o preço público; alienação ou aluguel de bens; indenizações,


arrecadação da loteria; dentre outros.

b) Receitas derivadas: são aquelas receitas públicas que decorrem do patrimônio


do particular ou do pagamento por este feito em contraprestação de serviços públicos
prestados. Sendo compulsórias quando o comportamento previsto em lei assim estabelecer,
como nos casos de tributos e multas tributárias.

Temos por exemplo o auferimento de renda que implica na obrigação de pagar


imposto de renda, enquanto ter um bem imóvel implica na obrigação de pagar IPTU.

c) Receitas de transferência obrigatória (arts.157 a 162 da CF/88): são aquelas


receitas públicas que foram arrecadas por um ente federativo, em razão de a este ter sido
dada a competência tributária, mas que, por determinação legal, devem ser repassadas a
outro ente federativo na totalidade ou em parte.

IV - DA CONCLUSÃO

Examinado o projeto de Lei nº 019/2019 a luz da Constituição Federal e da Lei


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Complementar 101/00 é possível concluir, salvo melhor juízo, que o presente


projeto é CONSTITUCIONAL e está de acordo com as normas legais estabelecidas.
Atente-se para o fato da necessidade de Audiência Pública e para o prazo de aprovação.
É o parecer.

Contenda, 06 de outubro de 2020

BRUNA SCHLICHTING
ADVOGADA
OAB/PR 65.180

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