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CÂMARA MUNICIPAL DE CONTENDA

ESTADO DO PARANÁ

DIVISÃO JURÍDICA

PARECER 004/2021

EMENTA: trata-se da análise jurídico/legal do Projeto


de Lei 001/2021 de autoria do Poder Executivo, que
dispõe sobre a autorização para efetuar a Abertura de
Crédito Adicional Suplementar no valor de R$
2.342.709,91 (dois milhões e trezentos e quarenta e
dois mil e setecentos e nove reais e noventa e um
centavos) no Orçamento do Município de Contenda
para o exercício de 2021.

I – DO CARÁTER OPINATIVO
Tendo em vista o disposto no art. 133 da Constituição Federal, in verbis:

Art. 133. O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por


seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei.

Considerando, ainda, o disposto na Lei nº 8.906, de 1994 (Estatuto da Advocacia


e da Ordem dos Advogados do Brasil):

Art. 7º São direitos do advogado:


I - exercer, com liberdade, a profissão em todo o território nacional;
[...]
§ 2º O advogado tem imunidade profissional, não constituindo injúria,
difamação puníveis qualquer manifestação de sua parte, no exercício de sua
atividade, em juízo ou fora dele, sem prejuízo das sanções disciplinares perante
a OAB, pelos excessos que cometer.

Ressaltando, por fim, a decisão e fundamentação proferida pelo Supremo Tribunal


Federal nos autos do Mandado de Segurança nº 24631/DF:

EMENTA: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. CONTROLE


EXTERNO. AUDITORIA PELO TCU. RESPONSABILIDADE DE
PROCURADOR DE AUTARQUIA POR EMISSÃO DE PARECER
TÉCNICO-JURÍDICO DE NATUREZA OPINATIVA. SEGURANÇA
DEFERIDA. I. Repercussões da natureza jurídico-administrativa do parecer
jurídico: (i) quando a consulta é facultativa, a autoridade não se vincula ao
parecer proferido, sendo que seu poder de decisão não se altera pela
manifestação do órgão consultivo; (ii) quando a consulta é obrigatória, a
autoridade administrativa se vincula a emitir o ato tal como submetido à
consultoria, com parecer favorável ou contrário, e se pretender praticar ato de
forma diversa da apresentada à consultoria, deverá submetê-lo a novo parecer;
(iii) quando a lei estabelece a obrigação de decidir à luz de parecer vinculante,
essa manifestação de teor jurídica deixo de ser meramente opinativa e o
administrador não poderá decidir senão nos termos da conclusão do parecer ou,
então, não decidir. II. No caso de que cuidam os autos, o parecer emitido pelo
impetrante não tinha caráter vinculante. Sua aprovação pelo superior
hierárquico não desvirtua sua natureza opinativa, nem o torna parte de ato
administrativo posterior do qual possa eventualmente decorrer dano ao erário,

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mas apenas incorpora sua fundamentação ao ato. III. Controle externo: É lícito
concluir que é abusiva a responsabilização do parecerista à luz de uma alargada
relação de causalidade entre seu parecer e o ato administrativo do qual tenha
resultado dano ao erário. Salvo demonstração de culpa ou erro grosseiro,
submetida às instâncias administrativo-disciplinares ou jurisdicionais próprias,
não cabe a responsabilização do advogado público pelo conteúdo de seu parecer
de natureza meramente opinativa. Mandado de segurança deferido. (grifo nosso)

II – DA LEGITIMIDADE PARA ELABORAÇÃO DE PARECER

A fundamentação para a elaboração do presente parecer jurídico consta no anexo


I, da Lei Municipal nº 1731/18.

III – DA FUNDAMENTAÇÃO

A Constituição Federal, no Capítulo II, que trata das Finanças Públicas, prevê, no
art. 167, II e V, a vedação de realização de despesas que excedam os créditos
orçamentários ou adicionais e a impossibilidade de abertura de crédito suplementar ou
especial sem prévia autorização legislativa e sem indicação dos recursos correspondentes.

Dessa forma, a Carta Magna impõe zelo pelas contas públicas, evitando o déficit
orçamentário e, por consequência, barra a abertura inconsequente de créditos, preservando
o princípio do equilíbrio orçamentário.

Relativamente ao que toca a indicação de recursos correspondentes e a


movimentação de numerário propriamente dito, não cabe, a essa Divisão Jurídica, devido a
falta de conhecimento técnico-contábil, se manifestar a respeito.

Atenta-se que a despesa, segundo o projeto de lei ora em análise trata de Crédito
Adicional Suplementar. Nesse ponto algumas considerações deverão ser feitas.

Segundo a Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, que “Estatui Normas Gerais de


Direito Financeiro para elaboração e contrôle dos orçamentos e balanços da União, dos
Estados, dos Municípios e do Distrito Federal”, os créditos adicionais classificam-se, de
acordo com o art. 40 e 41 em suplementares, especiais e extraordinários. In verbis:

Art. 40. São créditos adicionais, as autorizações de despesa não computadas ou


insuficientemente dotadas na Lei de Orçamento.
Art. 41. Os créditos adicionais classificam-se em:
I - suplementares, os destinados a refôrço de dotação orçamentária;
II - especiais, os destinados a despesas para as quais não haja dotação
orçamentária específica;
III - extraordinários, os destinados a despesas urgentes e imprevistas, em caso
de guerra, comoção intestina ou calamidade pública.
Art. 42. Os créditos suplementares e especiais serão autorizados por lei e
abertos por decreto executivo.

É possível analisar que a necessidade de abertura de crédito constante no Projeto


de Lei 001/2021 se enquadra na classificação de “suplementar”, do art. 41, I do diploma

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legal supracitado. Sendo que, tal modalidade de crédito, para fins de esclarecimento, ocorre
quando não há suficiência de recursos para a realização de determinada despesa.

Este instrumento viabiliza a criação de novo item de despesa, sendo autorizado


por lei específica. Caso a lei de autorização seja promulgada nos últimos quatro meses do
exercício, poderá ser reaberto no exercício seguinte nos limites de seu saldo, sendo
incorporado ao orçamento do exercício financeiro subseqüente.

Ainda, tal diploma normativo prevê, em consonância com a Constituição Federal,


que a abertura de créditos seja realizada mediante comprovação de recursos e exposição
pormenorizada da justificativa. In verbis:

Art. 43. A abertura dos créditos suplementares e especiais depende da existência


de recursos disponíveis para ocorrer a despesa e será precedida de exposição
justificativa. (Veto rejeitado no D.O. 05/05/1964)

Como já apontado acima, os esclarecimentos acerca da existência de recursos e


movimentação financeira deverão ser elaborados pela Divisão Administrativa, competente
para tal ato.

Ainda, há que se considerar que o presente projeto de lei parece estar de acordo
com as exigências legais dispostas no parágrafo único do art. 8º, combinado com o inciso I
do art. 50 da Lei Complementar n. 101, de 2000, Lei de Responsabilidade Fiscal, que
determinam a necessidade da demonstração e individualização dos recursos vinculados a
finalidade específica.

Com efeito, o parágrafo único do art. 8º da LC n. 101/00 dispõe que “os recursos
legalmente vinculados a finalidade específica serão utilizados exclusivamente para atender
ao objeto de sua vinculação, ainda que em exercício diverso daquele em que ocorrer o
ingresso.”

Por sua vez, o inciso I do art. 50 do referido diploma legal estabelece que “a
disponibilidade de caixa constará de registro próprio, de modo que os recursos vinculados
a órgão, fundo ou despesa obrigatória fiquem identificados e escriturados de forma
individualizada”.

V - DA CONCLUSÃO

Examinado o projeto de Lei nº 001/2021 a luz da Constituição Federal e dos


demais diplomas legais, é possível concluir, s. m. j., que o presente projeto é
CONSTITUCIONAL e apresenta conformidade legal, podendo ser levado a apreciação dos
nobres Vereadores.
É o parecer.

Contenda, 15 de janeiro de 2021

BRUNA SCHLICHTING
ADVOGADA
OAB/PR 65.180
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