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PLENÁRIO
Trata-se de consulta subscrita pelo Presidente da Câmara de Duas Barras em que são
suscitadas dúvidas acerca de recesso, férias, terço constitucional e 13º salário a vereadores. Eis o
teor dos questionamentos formulados:
o período de recesso parlamentar? Caso não o faça, haverá a perda de tal direito,
sem que haja indenização?
c) Caso o período de descanso das férias dos vereadores não se confunda com o
período de recesso parlamentar e nem seja obrigatório usufruir das férias durante
tal recesso, os vereadores que não usufruíram de tais férias nos anos anteriores (ou
não venham a solicitá-las nos próximos anos) podem, além do recebimento
retroativo do terço constitucional, serem indenizados por conta disso? Seria
possível o pagamento retroativo de tais indenizações?
2.2. Mantém-se assegurado, nos termos do tema nº 484, tese de repercussão geral
reconhecida pelo STF, no bojo do RE 650.898/RS5 , bem como do Prejulgado nº
25/2019 desta Corte6 , o direito ao terço constitucional de férias cujo pagamento
deve ocorrer em algum dos períodos de recesso parlamentar previstos na
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GABINETE DO CONSELHEIRO SUBSTITUTO
MARCELO VERDINI MAIA
A Procuradoria-Geral do Tribunal destaca que a celeuma que deu origem à consulta tem por
fundamento o reconhecimento, por parte do Supremo Tribunal Federal, com repercussão geral, do
direito ao pagamento de terço constitucional de férias e 13º salário a membros do Poder Legislativo
Municipal (RE 650.898), o que também ficou consignado no TCE no âmbito dos processos TCE-RJ
221.454-1/18 e 231.624-0/18. Opina a PGT que a condição de que os Vereadores são eleitos para
atuarem por um período de apenas 4 (quatro) anos, durante o qual espera-se que estejam presentes
na localidade em que vivem os cidadãos que os elegeram, e de que há 55 dias de recesso torna
desarrazoado o reconhecimento de férias adicionais. Com isso, defende a necessidade de
regulamentação própria do parlamento a fim de que as férias sejam gozadas dentro do período de
recesso. Salienta que a existência de funções meramente administrativas durante o recesso induz à
conclusão pela impossibilidade de conversão de férias – que devem ser gozadas no curso do recesso-
em pecúnia. Com isso, o parecer da PGT apresenta a seguinte conclusão:
Primeiro, a matéria da consulta não tem impacto apenas para os vereadores, mas
também para os deputados, e por consequência, membros de Poder. Por isso todos
os aspectos devem estar aqui previstos e mensurados.
Terceiro, o período de recesso parlamentar não se limita aos 30 (trinta) dias, como
bem esclarece a PGT. A título de exemplo, no caso de Duas Barras, o recesso
abrange dois períodos: de 15 de fevereiro a 30 de junho e de 1º de agosto a 15 de
dezembro, totalizando 31 (trinta e um) dias do mês de julho e 61 (sessenta e um)
dias do período de dezembro a fevereiro (LOM art. 18). Na Constituição do Estado
do Rio de Janeiro o período já é outro: são os meses de janeiro e julho (CE art. 107).
Portanto, caso se considere o recesso como férias, teríamos não apenas um
período, mas dois ou três.
Quinto, não havendo óbice legal, não há motivo para vedação à possibilidade do
pagamento em pecúnia de férias não gozadas, sob pena de enriquecimento sem
causa da Administração Pública.
É O RELATÓRIO.
Embora pareça razoável que, por questões usuais de necessidade de serviço, a respectiva
Casa Legislativa estipule como regra que as férias serão usufruídas no período de recesso
parlamentar, já que tradicionalmente esse lapso propicia o descanso aos parlamentares e a pausa
nas atividades ordinárias precípuas do Legislativo, não há óbices, ao menos em termos legais, no
sentido de que haja disposição em sentido diverso. Cabe, portanto, aos próprios detentores do
mandato eletivo, enquanto representantes do povo, a avaliação quanto aos critérios que melhor
poderão propiciar a conciliação da regulamentação de férias com os princípios da moralidade, da
razoabilidade e da eficiência e com o atendimento da finalidade a que se destinam os seus
mandatos. Também é importante consignar que a regulamentação deverá igualmente observar as
prescrições contidas na Constituição Federal, na Lei Orgânica do Município e no Regimento Interno
da Câmara Municipal.
Pelo exposto, eventual regulamentação do tema deve ter efeitos prospectivos, dada a
presunção de que, em não havendo tratamento anterior da matéria, os recessos parlamentares
equivaleriam ao período de descanso e neles estariam inseridas as férias, sendo inviável percepção
retroativa de indenização ou gozo superveniente de períodos de férias anteriores ao da
regulamentação específica.
Tais apontamentos são capazes de suprir a totalidade dos questionamentos postos pelo
consulente.
VOTO:
2.1 – É possível ao Poder Legislativo local, por meio de lei, que deverá ser compatível com a
Constituição Federal, com a Lei Orgânica do Município, com o Regimento Interno da Câmara
Municipal e com os princípios da moralidade e da razoabilidade, regulamentar as férias a que fazem
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MARCELO VERDINI MAIA
jus os agentes políticos detentores de mandato eletivo da respetiva Casa, sendo certo que a matéria
se insere no espaço de conformação do legislador infraconstitucional, inclusive quanto à necessidade
de que os períodos de férias coincidam ou não com o recesso parlamentar e de eventual
possibilidade de conversão em pecúnia por imperiosa necessidade de serviço devidamente
comprovada ou absoluta impossibilidade fática de gozo (a exemplo de cassação de mandato).
2.2 - Eventual regulamentação de férias deve ter efeitos prospectivos, dada a presunção de
que, em não havendo tratamento anterior da matéria, os recessos parlamentares equivaleriam ao
período de descanso e neles estariam inseridas as férias, sendo inviável percepção retroativa de
indenização ou gozo superveniente de períodos de férias anteriores ao da regulamentação
específica.
GCSMVM,