Você está na página 1de 6

PARECER

Nº 2127/2015 1

- PL – Poder Legislativo. Fixação do


subsídio dos Vereadores.
Modalidade legislativa. Quorum de
deliberação. Prazo.

CONSULTA:

A Consulente, Câmara Municipal, solicita alguns esclarecimentos


acerca da fixação dos subsídios dos vereadores que para melhor
compreensão serão transcritos ao longo da resposta.

Nesse sentido esclarece que a população estimada pelo IBGE,


em 2014, para o Município foi de 39.761 habitantes, aplicando-se, portanto
a limitação de 30% do subsídio do Deputado Estadual, conforme art. 29,
VI, "b", da Constituição Federal.

RESPOSTA:

Inicialmente, esclarecemos que a matéria em apreço já foi objeto


de aprofundado estudo por este Instituto denominado "O Subsídio dos
Vereadores" e disponível para leitura no sitio eletrônico que o IBAM
mantém na rede mundial de computadores - Internet - no endereço http://
lam.ibam.org.br/estudo_detalhe.asp?ide=176.

Posto isto passamos a responder objetivamente cada questão


posta na consulta:

a) Há algum outro diploma legislativo que trata da matéria,


colocando limites para a fixação dos subsídios dos Vereadores?

A princípio não, é a Constituição Federal que estabelece as


regras que devem ser adotadas no momento da fixação do subsídio dos
Vereadores, podendo a Lei Orgânica dispor a respeito desde que não as

1PARECER SOLICITADO POR JOSÉ ANTONIO CONTI JÚNIOR,PROCURADOR JURÍDICO - CÂMARA


MUNICIPAL (ANDRADAS-MG)

1
contrarie. Segue abaixo as regras constantes da Constituição:

(i) O art. 29, IV da CF trata do limite máximo para a fixação dos


subsídios dos Vereadores, porém deixou para as Câmaras Municipais o
poder de fixar o valor do subsídio, desde que respeite o que dispõe a
Constituição (fixados de acordo com o número de habitantes, em
percentuais dos subsídios dos Deputados Estaduais).

"Art. 29, VI - o subsídio dos Vereadores será fixado pelas


respectivas Câmaras Municipais em cada legislatura para a
subsequente, observado o que dispõe esta Constituição,
observados os critérios estabelecidos na respectiva Lei Orgânica e
os seguintes limites máximos (...)".

(ii) O art. 29, VII da CF estabelece que o total da despesa com a


remuneração dos Vereadores não poderá ultrapassar o montante de cinco
por cento da receita do Município. Entende-se por receita do Município o
conjunto de recursos financeiros obtido de fontes próprias e permanentes,
que integram o Patrimônio na qualidade de elemento novo, que produzem
acréscimos financeiros, sem, contudo, gerar obrigações, reservas ou
reivindicações de terceiros. Essas receitas resultam de leis, contratos,
convênios de tributos de lançamento direto e outros.

(iii) Aos Vereadores também se aplicam as limitações previstas


no art. 29 A da CF, que se refere expressamente à despesa total do
Legislativo Municipal, incluídos os subsídios dos Vereadores e excluídos
os gastos com os inativos, que:

"não poderá ultrapassar os seguintes percentuais,


relativos ao somatório da receita tributária e das transferências
previstas no §5° do art. 153 e nos arts. 159 e 159, efetivamente
realizado no exercício anterior:

I - 8% (oito por cento) para Municípios com população até


100.000 (cem mil) habitantes;

(...)

2
§1° A Câmara Municipal não gastará mais de setenta por
cento de sua receita com folha de pagamento, incluído o gasto com
o subsídio de seus Vereadores".

Além dos limites impostos pela própria Constituição, como já dito,


deverá ser levado em consideração a natureza, o grau de
responsabilidade, bem como a complexidade de tais cargos.

b) Qual será a modalidade legislativa eleita para a fixação,


Decreto ou Resolução?

Existe uma discussão nacional cujo ponto nevrálgico diz respeito


ao entendimento manifesto por alguns de que há de se fixar o subsídio dos
Vereadores através de Decreto Legislativo e o de outros, de que a fixação
se deva fazer por Resolução e de um terceiro grupo que afirma ser a Lei a
norma adequada à fixação.

Este conflito surgiu com a Emenda Constitucional 25/2000 que


suprimiu a afirmação de que o subsídio dos Vereadores haveria de ser
fixado em lei, mas manteve inalterado o comando Constitucional no
tocante a fixação dos subsídios do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos
Secretários Municipais, que permaneceriam por lei de iniciativa da Câmara
Municipal. Esse posicionamento não encontra respaldo, pois se o
legislador quisesse determinar a espécie normativa a ser aplicada no
momento da fixação dos subsídios dos Vereadores, não excluiria do texto
a afirmação "por lei de Iniciativa da Câmara Municipal", deixando expresso
como propõe a outros ocupantes da função de agentes políticos.

Tampouco se considera o Decreto Legislativo como a norma


adequada, uma vez que tem o condão de gerar efeito externo, sendo
muito usado, por exemplo, para sustar atos regulamentadores do Poder
Executivo, não seria esta norma, por consequência lógica, a mais
adequada à fixação dos subsídios.

E, como sabido, no momento em que a Casa Legislativa vai fixar


os subsídios dos seus membros, o faz em sua competência exclusiva, e a
norma a ser editada não depende de sanção ou veto do Poder Executivo
para sua vigência. Portanto, o entendimento deste Instituto é de que a

3
Resolução, cuja temática trata de economia interna e matéria exclusiva da
Câmara, é o instrumento correto para a fixação dos subsídios dos
Vereadores, após a vigência da Emenda Constitucional n° 25/2000.

Trata-se, assim, do meio adequado para fixação dos subsídios


dos Vereadores, posto que, como ato legislativo, se perfaz como perfeito e
acabado no momento em que a Mesa Diretora da Casa de Leis promulga
e faz publicar não dependendo de qualquer manifestação do Poder
Executivo.

Nesse sentido, o posicionamento do citado mestre


administrativista, Hely Lopes Meirelles, verbis:

"Resolução são atos administrativos normativos


expedidos pelas altas autoridades do Executivo (mas não pelo
Chefe do Executivo, que só deve expedir decretos) ou pelos
presidentes de tribunais, órgãos legislativos e colegiados
administrativos, para disciplinar matéria de sua competência
específica (...)". (In Direito Administrativo Brasileiro - 34ª Ed.
Malheiros Editores - 2008 - p. 185).

Corroborando esse entendimento o mestre Celso Antônio


Bandeira de Mello, ao analisar o tema quanto à exigência de lei para
fixação ou alteração de remuneração, afirma em nota:

"Tal preceito, como já foi dito, concerne apenas a cargos,


funções ou empregos no Executivo. Isto porque no Legislativo tal
matéria não é disciplinada por lei, mas por resolução". (In Curso de
Direito Constitucional Positivo - 35ª Ed. Revista e Atualizada -
Malheiros Editores, p. 274 - nota 20 - jan 2012).

Portanto, esse é o entendimento que decorre da exigência


constitucional, do já citado inciso IV do artigo 29 e, diante destas
ponderações, é possível afirmar ser a Resolução a forma correta para a
fixação dos subsídios dos Vereadores, e não outra espécie normativa,
lembrando que se os subsídios tiverem sido fixados por lei, isso não lhes
retira a validade, podendo tais subsídios virem a ser fixados para a
próxima legislatura por Resolução, visto que autorizada pela Constituição

4
Federal, art. 29, VI, com a redação que lhe deu a Emenda Constitucional n
° 25/00, já não se refere à lei para fixar subsídios de Vereadores.

c) Há quorum específico para aprovação?

No que tange ao quorum para a aprovação das proposituras,


versa o art. 47 da CF/88 que "salvo disposição constitucional em contrário,
as deliberações de cada Casa e de suas Comissões serão tomadas por
maioria dos votos, presente a maioria absoluta de seus membros".

Tratando desta questão específica, a regra geral é de que como


a fixação do subsídio dos Vereadores deve ser por meio de Resolução,
cujo quorum de aprovação se dá pela votação da maioria simples,
presente a maioria absoluta de seus membros. Entende-se por maioria
simples o primeiro número inteiro após a metade dos presentes.

Entretanto, caso o Regimento Interno estabeleça um quorum


específico que contrarie a norma vigente, este como é um ato de
economia interna (interna corporis), irá se sobrepor ao que diz a regra
geral, ou seja, não há que se falar em simetria do quorum. Será o
Regimento Interno a estabelecer qual a especificidade para aprovação.

d) Qual o prazo para a propositura e aprovação da matéria?

É mandamento constitucional que a fixação do subsídio dos


Vereadores deve ocorrer de acordo com os princípios da anterioridade,
materializada pela fixação em uma legislatura para vigência na
subsequente; da moralidade e impessoalidade, motivo pelo qual devem
ser fixados antes de serem conhecidos os novos eleitos e pelo princípio da
irrevisibilidade, estabelecendo que fixados os subsídios ficam eles
inalterados durante toda a legislatura, permitida, apenas, a respectiva
atualização monetária (art. 37, X CF/88).

Esse posicionamento é acertado posto que, em assim


determinado, afasta-se definitivamente a possibilidade do "legislar em
causa própria" ou ainda "no interesse próprio", que poderia ser nefasto
para o Município, e mesmo tendo em conta que alguns Vereadores podem
ser reeleitos, não é de se pensar que possa haver interferência decisiva na

5
legislatura seguinte.

Além disso, a data de fixação deve ocorrer com observância da


data-limite eventualmente prevista na Lei Orgânica Municipal, em
obediência à prescrição do art. 29, caput da CF:

"O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois


turnos, com o interstício mínimo de 10 dias, e aprovada por dois
terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará,
atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição do
respectivo Estado e os seguintes preceitos (...)"

Em suma, pode a LOM estabelecer data limite para aprovação da


propositura desde que seja de uma legislatura para outra e antes de
conhecido o resultado das eleições. Caso a LOM seja omissa esta é a
data limite para promulgação e publicação da Resolução.

É o parecer, s.m.j.

Camila Paolino Pereira


da Consultoria Jurídica

Aprovo o parecer

Marcus Alonso Ribeiro Neves


Consultor Jurídico

Rio de Janeiro, 20 de agosto de 2015.

Você também pode gostar