Você está na página 1de 18

Acesse em: https://e.tcm.ba.gov.br/epp/validaDoc.

seam Código do documento: 1825b78a-c717-489f-b714-5c8357ecfd37


Processo: 08146e23 - Doc. 28 - Documento Assinado Digitalmente por: FLAVIA SCOLESE RIBEIRO - 29/06/2023 17:04:41
TRIBUNAL DE CONTAS DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO DA BAHIA
AJU: ASSESSORIA JURÍDICA
ORIGEM: CÂMARA DE VEREADORES DO MUNICÍPIO DE CAMAÇARI
PROCESSO Nº 08146e23
PARECER Nº 00978-23

PROCURADORES DO PODER LEGISLATIVO


MUNICIPAL. RECEBIMENTO DE HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS.
POSSIBILIDADE. REQUISITOS.
1) São considerados Advogados Públicos os
Procuradores do Poder Legislativo Municipal,
desde que organizados em carreira, com ingresso
mediante concurso público de provas e títulos, e,
na forma do artigo 85, § 19, do Novo Código de
Processo Civil, desde que preenchidos os
requisitos fixados na legislação de regência,
podem ser beneficiários de honorários
sucumbenciais, nas demandas judiciais para
defesa dos direitos institucionais da Câmara de
Vereadores.
2) Aplica-se aos Procuradores do Poder
Legislativo Municipal, organizados em carreira,
cujo ingresso tenha ocorrido por intermédio de
concurso público de provas e títulos, no que
concerne ao teto remuneratório, o subsídio dos
desembargadores do Tribunal de Justiça do
Estado, como impõe a parte final do artigo 37, XI,
da Constituição da República.
3) A forma de distribuição dos honorários
advocatícios sucumbenciais aos seus respectivos
beneficiários, inclusive a possibilidade de seu
fracionamento para fins de atendimento ao teto
remuneratório, bem como a responsabilidade e o
procedimento, relativos à gestão, processamento
e repasse da aludida verba, devem ser
perquiridos à luz da legislação local que ampara
tal direito, ressalvando-se que a única fonte de
recursos da Câmara Municipal provém do
duodécimo repassado pelo Executivo, não lhe
cabendo o recolhimento ou a movimentação de
qualquer numerário estranho àquele.

A Câmara de Vereadores do MUNICÍPIO DE CAMAÇARI, por intermédio de seus


advogados, Dr. Michel Soares Reis e Dr. Paulo de Tarso Brito Silva Peixoto, no
Acesse em: https://e.tcm.ba.gov.br/epp/validaDoc.seam Código do documento: 1825b78a-c717-489f-b714-5c8357ecfd37
Processo: 08146e23 - Doc. 28 - Documento Assinado Digitalmente por: FLAVIA SCOLESE RIBEIRO - 29/06/2023 17:04:41
expediente endereçado a este Tribunal de Contas dos Municípios do Estado da Bahia,
protocolado sob o nº 08146e23, apresenta os seguintes questionamentos:

“1. Qual o posicionamento deste Colendo Tribunal de Contas quanto à


possibilidade de percepção de honorários sucumbenciais por parte dos
Procuradores Legislativos, especificamente quando em atuação em
processos judiciais em defesa dos interesses da Câmara de Vereadores
(personalidade judiciária)?

2. Em sendo possível, qual a rubrica que deve ser usada pela Câmara para o
seu pagamento?

3. O teto remuneratório pacificado pelo Supremo Tribunal Federal (RE nº


663.696), para Procuradores Municipais, quer seja o subsídio dos
Desembargadores do Tribunal de Justiça, se aplica aos Procuradores do
Legislativo quando em atuação nos processos judiciais em defesa dos
interesses da Casa Legislativa?

4. Caso o somatório da remuneração e dos honorários de sucumbência


ultrapasse o teto remuneratório, é possível o fracionamento do pagamento
desses honorários de sucumbência? Caso não, o respectivo valor excedente
ficará para a Câmara de Vereadores?

5. A própria Câmara de Vereadores pode fazer o repasse dos honorários de


sucumbência estabelecidos em sentença em favor de seus Procuradores ou
tal repasse cabe ao Município? Qual procedimento a ser adotado para seu
pagamento?” (destaques no original)

Inicialmente, registre-se que os pronunciamentos desta Unidade, nos processos de


Consulta, por força do quanto disposto nos artigos 3º, §4º, e 209, parágrafo único,
III, do Regimento Interno deste Tribunal, são confeccionados sempre em tese, razão
pela qual não nos cabe analisar e opinar diante d e caso concreto.

Portanto, as orientações lançadas neste opinativo são dissociadas da realidade


vivenciada no âmbito do Município de Camaçari.

Ademais, ressalte-se que, na casuística, tendo em vista as peculiaridades de cada


situação posta, esta Corte de Contas, mediante decisão do Tribunal Pleno ou da Câmara,
pode emitir pronunciamento discordante sobre o assunto ora tratado.

Dito isso, no que concerne à primeira indagação formulada , a princípio, cumpre


registrar que esta Assessoria Jurídica, em oportunidades anteriores, balizada pela
jurisprudência prevalecente na época e pela orientação desta Corte de Contas, na
Instrução Cameral nº 004/2011 – 1ª Câmara, já se posicionou acerca da i rregularidade do
pagamento de honorários de sucumbência a Procuradores Municipais, sob o argumento

2
Acesse em: https://e.tcm.ba.gov.br/epp/validaDoc.seam Código do documento: 1825b78a-c717-489f-b714-5c8357ecfd37
Processo: 08146e23 - Doc. 28 - Documento Assinado Digitalmente por: FLAVIA SCOLESE RIBEIRO - 29/06/2023 17:04:41
de que tais verbas, “(…) quando a Administração Pública for vencedora, pertencem ao
próprio Poder Público e não aos procuradores que fizeram a defesa da Administração”
(Parecer nº 00363-15).

Todavia, em que pese o entendimento outrora perfilhado, após a vigência do Novo


Código de Processo Civil – NCPC, Lei nº 13.105/2015, a matéria encontra-se dirimida, na
medida em que o Legislador Infraconstitucional assegurou expressamente aos
Advogados Públicos, com atuação na defesa judicial dos interesses da Administração, o
direito de perceberem honorários de sucumbência, conforme se observa da redação do
artigo 85, §19:

“Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do


vencedor.

(…)

§ 19. Os advogados públicos perceberão honorários de sucumbência, nos termos


da lei.

(…)” (grifos aditados)

Da leitura do quanto exposto acima, extrai-se que, ao contrário do que se defendia


anteriormente, os honorários sucumbenciais não constituem patrimônio público, podendo
a sua titularidade ser atribuída também a Advogados Públicos.

Com efeito, tal verba não se confunde com a remuneração fixa, certa e invariável, paga
pela Administração aos seus Procuradores, pelo exercício do cargo, a título de subsídio
ou vencimento. Os honorários sucumbenciais decorrem diretamente de disposição da lei
processual civil e o seu respectivo pagamento é eventual, incerto e variável, além de ser
obrigação atribuída à parte vencida no processo judicial.

Assim sendo, em consonância com a legislação atualizada e com a jurisprudência mais


recente acerca da temática, esta Corte de Contas editou a Instrução Cameral nº
001/2018 – 1ªC, que “Dá nova redação à Instrução Cameral nº 004/2011-1ªC, de 04 de
maio de 2011”, nos seguintes termos:

“É legítima a titularidade dos Procuradores Públicos aos honorários advocatícios


de sucumbência decorrentes da sua atuação na defesa dos interesses do ente
público, nos termos do parágrafo 19, do art. 85, do novo Código de Processo Civil
(Lei nº 13.105/2015) na dependência, contudo, de lei municipal autorizativa a
respeito (…)” (grifos aditados)

3
Acesse em: https://e.tcm.ba.gov.br/epp/validaDoc.seam Código do documento: 1825b78a-c717-489f-b714-5c8357ecfd37
Processo: 08146e23 - Doc. 28 - Documento Assinado Digitalmente por: FLAVIA SCOLESE RIBEIRO - 29/06/2023 17:04:41
Fixada tal premissa e adentrando especificamente no objeto da pergunta sob enfoque,
insta perquirir se os Procuradores do Poder Legislativo Municipal enquadram-se, ou não,
no conceito de Advogados Públicos, para fins de recebimento de honorários de
sucumbência, na forma do artigo 85, § 19, do NCPC.

A resposta pode ser positiva, desde que preenchidos determinados requisitos; se não,
vejamos.

Com efeito, a Constituição Federal, ao tratar da Advocacia Pública, estatui, em seus


artigos 131 e 132, que:

“Art. 131. A Advocacia-Geral da União é a instituição que, diretamente ou através


de órgão vinculado, representa a União, judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe,
nos termos da lei complementar que dispuser sobre sua organização e
funcionamento, as atividades de consultoria e assessoramento jurídico do Poder
Executivo.

§ 1º - A Advocacia-Geral da União tem por chefe o Advogado-Geral da União, de


livre nomeação pelo Presidente da República dentre cidadãos maiores de trinta e
cinco anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada.

§ 2º - O ingresso nas classes iniciais das carreiras da instituição de que trata este
artigo far-se-á mediante concurso público de provas e títulos.

§ 3º - Na execução da dívida ativa de natureza tributária, a representação da União


cabe à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, observado o disposto em lei.

Art. 132. Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal, organizados em


carreira, na qual o ingresso dependerá de concurso público de provas e títulos,
com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as suas fases,
exercerão a representação judicial e a consultoria jurídica das respectivas
unidades federadas.

Parágrafo único. Aos procuradores referidos neste artigo é assegurada


estabilidade após três anos de efetivo exercício, mediante avaliação de
desempenho perante os órgãos próprios, após relatório circunstanciado das
corregedorias.” (grifos aditados)

Malgrado o texto constitucional não tenha feito menção expressa às Procuradorias


Municipais, o entendimento sedimentado no âmbito do E. Supremo Tribunal Federal é no
sentido de que, quando organizados em carreira, com ingresso mediante concurso
público de provas e títulos, os Procuradores Municipais, inclusive aqueles que atuam
vinculados ao Poder Legislativo, são enquadrados como Advogados Públicos.

Nesse sentido, o Exmo. Ministro Luiz Fux, nos autos do Recurso Extraordinário 663.696,
em que figurou como Relator, assentou que:

4
Acesse em: https://e.tcm.ba.gov.br/epp/validaDoc.seam Código do documento: 1825b78a-c717-489f-b714-5c8357ecfd37
Processo: 08146e23 - Doc. 28 - Documento Assinado Digitalmente por: FLAVIA SCOLESE RIBEIRO - 29/06/2023 17:04:41
“De fato, nos Municípios em que existem Procuradorias organizadas, os
advogados públicos municipais desempenham idênticas atribuições às de seus
congêneres no âmbito da União, dos Estados e do Distrito Federal.

Com efeito, os procuradores municipais possuem o munus público de prestar


consultoria jurídica e de representar, judicial e extrajudicialmente, o Município a
que estão vinculados. Nesse diapasão, analisam a legalidade e legitimidade dos
atos municipais, são consultados a respeito de políticas públicas de inegável
relevância social, como saúde, educação e transporte, protegendo o melhor
interesse do órgão administrativo e de seus cidadãos, além de atuarem perante os
mesmos órgãos que a AGU e as Procuradorias Estaduais, tanto na seara
administrativa quanto judicial.

Em vista disso, sendo tais atividades identificadas pela Constituição como funções
essenciais à Justiça, é imperativo que todas as disposições pertinentes à
Advocacia Pública sejam aplicadas às Procuradorias Municipais, sob pena de se
incorrer em grave violação à organicidade da Carta Maior.” (grifos aditados)

O Exmo. Ministro Edson Fachin, em Voto Vogal, também consignou que:

“De fato, muito embora não exista uma obrigatoriedade constitucional aos
Municípios para a instituição de Procuradorias Municipais organizadas nos
mesmos moldes das Procuradorias dos Estados, certo também é que esta é uma
realidade presente em todas as Capitais brasileiras e nas maiores cidades dos
Estados, a fim de fazer frente às complexas questões jurídicas que envolvem a
administração dos interesses locais.

Desse modo, assim como se verifica com as Advocacias já estruturadas da União


(em sentido amplo) e dos Estados, também se afirma que os Procuradores
Municipais constituem carreira típica de Estado, no sentido de serem
imprescindíveis à consecução das atividades administrativas para o melhor
alcance do interesse público.

E, pode-se dizer, todas as carreiras integrantes do conceito de Advocacia Pública


exercem função estratégica para o Estado Democrático de Direito, seja atuando
preventivamente, em atividade consultiva, direcionando a Administração para um
atuar dentro dos limites da legalidade e da constitucionalidade, seja
posteriormente, defendendo em juízo o interesse dos entes e, consequentemente,
de toda a população.” (destaques no original)

A Exma. Ministra Cármen Lúcia, acompanhando o Relator, ainda especificou:

“Por essa razão e tomando por base o que foi expendido pelo Ministro-Relator, eu
o acompanho - apenas cuido de especificar que quando se menciona
procuradoria, refere-se a procuradores integrantes de uma carreira e não a uma
outra pessoa que possa ser designada, nomeada, comissionada, sem parâmetro
algum - tanto na tese, quanto no caso subjetivamente posto à apreciação.” (grifos
aditados)

Seguindo a mesma linha de raciocínio, o Exmo. Ministro Gilmar Mendes pontuou que:

“(…) Nessa esteira, destaco que apesar de a Constituição Federal não fazer
menção expressa aos procuradores municipais, há que se reconhecer que,
quando organizados em carreira, também exercem o munus de advogados
públicos, realizando atividades congeneres àquelas desempenhadas pelos
advogados da União (incluídos os procuradores), dos Estados e do Distrito

5
Acesse em: https://e.tcm.ba.gov.br/epp/validaDoc.seam Código do documento: 1825b78a-c717-489f-b714-5c8357ecfd37
Processo: 08146e23 - Doc. 28 - Documento Assinado Digitalmente por: FLAVIA SCOLESE RIBEIRO - 29/06/2023 17:04:41
Federal, prestando consultoria jurídica e representando judicial e
extrajudicialmente a municipalidade.” (grifos aditados)

Do mesmo modo, o Exmo. Ministro Marco Aurélio, nos autos da Ação Direta de
Inconstitucionalidade 6.053, ao relatar o seu Voto, assim discorreu sobre os membros da
Advocacia Pública:

“Não se ignora que os membros das carreiras da Advocacia Pública – servidores


efetivos, aprovados mediante concurso público de provas e títulos, responsáveis
pela defesa judicial dos interesses da Administração e pela assessoria e
consultoria judicial do Executivo – submetem-se, a par das prescrições
estatutárias, ao estabelecido na Lei nº 8.906/1994, na forma do § 1º do artigo 3º:

(…)” (grifos aditados)

Ou seja, assim como ocorre, por exemplo, com os Advogados da União, os Procuradores
da Fazenda Nacional, os Procuradores Federais e os Procuradores dos Estados e do
Distrito Federal, os Procuradores Municipais, inclusive os que atuam vinculados ao Poder
Legislativo, podem ser considerados Advogados Públicos, desde que organizados em
carreira, com ingresso mediante concurso público de provas e títulos.

Sobre os Advogados Públicos no âmbito do Poder Legislativo Municipal, Leonardo


Carneiro da Cunha, na obra “A Fazenda Pública em Juízo”, 15ª edição, Editora Forense,
página 17, elucida que:

“Os advogados públicos presentam as pessoas jurídicas de direito público,


estando, entretanto, ligados ao Poder Executivo. Tem sido crescente a criação de
cargos de Procuradores das Assembleias Legislativas e das Câmaras Municipais.
Em outras palavras, há também advogados públicos ligados ao Poder Legislativo.

Os Procuradores das Assembleias Legislativas e os Procuradores das Câmaras


Municipais prestam consultoria e assessoria jurídica a tais órgãos parlamentares.
Ademais, presentam-nos em juízo.

A título exemplificativo, pode-se observar que cabe às Procuradorias dos órgãos


legislativos o exame de todos os atos de concessão ou reconhecimento de direitos
e vantagens dos servidores do Poder Legislativo (aposentadoria, adicionais,
licença etc.), bem como a análise de minutas de contratos e editais de licitação dos
referidos órgãos legislativos (Lei 8.666/1993, art. 38, parágrafo único) no seu
relacionamento com fornecedores e prestadores de serviços.

No desempenho da presentação judicial do Poder Legislativo, cabe, por exemplo,


às suas Procuradorias prestar informações em favor das respectivas Mesas
Diretoras nos mandados de segurança que ataquem atos por elas praticados, além
de elaborar as informações a serem prestadas na defesa da constitucionalidade de
dispositivos da Constituição do Estado, de leis locais ou de resoluções, quando
questionados em Ação Direta de Inconstitucionalidade perante o STF ou o Tribunal
de Justiça do Estado.” (grifos aditados)

6
Acesse em: https://e.tcm.ba.gov.br/epp/validaDoc.seam Código do documento: 1825b78a-c717-489f-b714-5c8357ecfd37
Processo: 08146e23 - Doc. 28 - Documento Assinado Digitalmente por: FLAVIA SCOLESE RIBEIRO - 29/06/2023 17:04:41
Observe-se, porque oportuno, que servidores exclusivamente comissionados da Câmara
de Vereadores, por exemplo, ainda que exerçam atividades de consultoria e assessoria
jurídicas da Edilidade, não podem ser enquadrados como membros da Advocacia
Pública, porque não admitidos mediante concurso público de provas e títulos para
integrar a carreira organizada da Procuradoria do Poder Legislativo Municipal.

Aqui, vale chamar atenção para o fato de que é assente na jurisprudência pátria o
entendimento de que “A Câmara de Vereadores não possui personalidade jurídica,
apenas personalidade judiciária, somente podendo demandar em juízo para defender os
seus direitos institucionais” (Súmula nº 525 Superior Tribunal de Justiça).

Acerca da matéria envolvendo a Câmara de Vereadores em Juízo, o professor Isaac


Newton Carneiro, na obra “Manual de Direito Municipal Brasileiro”, 2ª edição, 2018,
páginas 519/520, ensina que:

“Vimos há pouco que a câmara de vereadores, enquanto poder, reconhecido pela


Constituição Federal não possui personalidade jurídica. A falta desta sua
personificação, contudo, não a impede de buscar a defesa dos interesses do
colegiado em juízo, em que pese existirem certas limitações. No caso da
representação processual da Câmara, sabemos que ela pode agir em juízo para
defender suas competências, prerrogativas e bens; e isto acontece porque,
primeiro, não fosse assim não haveria garantia para que a sua própria atuação
fosse protegida e as eventuais demandas contra as condutas criadas no seu seio
fossem resolvidas por aqueles que ali atuaram. Na melhor expressão, aquele que
pode exercitar situações jurídicas, demandando poderes e interesses, deve ter
direito de ir ao Poder Judiciário defender-se e atuar para garantir seus interesses.
Não fosse assim, dada a garantia máxima de acesso ao Judiciário, estaria fadado
ao fracasso aquele que tem competências, mas não tem personalidade jurídica
para realizar este poder. Portanto, a Câmara pode ir ao Judiciário pelos caminhos
que garantem a consecução de seus poderes, ou seja, agindo nos casos e
situações jurídicas que detêm interesses ou competências.

É claro que esta busca ao judiciário deve ser feita na exclusiva satisfação dos
interesses concedidos constitucionalmente. Assim, não há margem de vontade
para as câmaras de vereadores proporem medidas que busquem interesses
políticos. Todas as ações devem estar revestidas de uma clara demonstração de
interesse de agir. Ou seja, a relação entre a finalidade do procedimento e as
razões previstas nas competências constitucionais deve ficar patente. (…)” (grifos
aditados)

Dessa maneira, a Câmara Municipal somente pode demandar em Juízo em casos


específicos, vale dizer, para defender prerrogativas institucionais, estando os honorários
advocatícios sucumbenciais, portanto, estritamente, relacionados a tais feitos.

7
Acesse em: https://e.tcm.ba.gov.br/epp/validaDoc.seam Código do documento: 1825b78a-c717-489f-b714-5c8357ecfd37
Processo: 08146e23 - Doc. 28 - Documento Assinado Digitalmente por: FLAVIA SCOLESE RIBEIRO - 29/06/2023 17:04:41
Nesses termos, são considerados Advogados Públicos os Procuradores do Poder
Legislativo, desde que organizados em carreira, com ingresso mediante concurso público
de provas e títulos, e, na forma do artigo 85, § 19, do Novo Código de Processo Civil,
podem ser beneficiários de honorários sucumbenciais, nas demandas judiciais para
defesa dos direitos institucionais da Câmara de Vereadores.

Veja-se que, como expressamente exposto no dispositivo legal acima mencionado, a


implementação do direito sob estudo depende de prévia regulamentação, mediante a
edição de Lei local, tratando, dentre outros, sobre a forma de recolhimento, de gestão, de
processamento e de distribuição da parcela aos Procuradores .

É o que se observa, por exemplo, da leitura da Lei Federal nº 13.327/2016, que, dentre
outras matérias, dispõe sobre o pagamento de honorários advocatícios de sucumbência
aos ocupantes dos seguintes cargos: Advogado da União; Procurador da Fazenda
Nacional; Procurador Federal; Procurador do Banco Central do Brasil; e dos quadros
suplementares em extinção previstos no artigo 46 da Medida Provisória nº 2.229-43/2001.

Preceituam os artigos 29 a 32 e 35 da Lei Federal nº 13.327/2016 :

“Art. 29. Os honorários advocatícios de sucumbência das causas em que forem


parte a União, as autarquias e as fundações públicas federais pertencem
originariamente aos ocupantes dos cargos de que trata este Capítulo.

Parágrafo único. Os honorários não integram o subsídio e não servirão como base
de cálculo para adicional, gratificação ou qualquer outra vantagem pecuniária.

Art. 30. Os honorários advocatícios de sucumbência incluem:

I - o total do produto dos honorários de sucumbência recebidos nas ações judiciais


em que forem parte a União, as autarquias e as fundações públicas federais;

II - até 75% (setenta e cinco por cento) do produto do encargo legal acrescido aos
débitos inscritos na dívida ativa da União, previsto no art. 1º do Decreto-Lei nº
1.025, de 21 de outubro de 1969;

III - o total do produto do encargo legal acrescido aos créditos das autarquias e das
fundações públicas federais inscritos na dívida ativa da União, nos termos do § 1º
do art. 37-A da Lei nº 10.522, de 19 de julho de 2002.

Parágrafo único. O recolhimento dos valores mencionados nos incisos do caput


será realizado por meio de documentos de arrecadação oficiais.

Art. 31. Os valores dos honorários devidos serão calculados segundo o tempo de
efetivo exercício no cargo, para os ativos, e pelo tempo de aposentadoria, para os

8
Acesse em: https://e.tcm.ba.gov.br/epp/validaDoc.seam Código do documento: 1825b78a-c717-489f-b714-5c8357ecfd37
Processo: 08146e23 - Doc. 28 - Documento Assinado Digitalmente por: FLAVIA SCOLESE RIBEIRO - 29/06/2023 17:04:41
inativos, com efeitos financeiros a contar da publicação desta Lei, obtidos pelo
rateio nas seguintes proporções:

I - para os ativos, 50% (cinquenta por cento) de uma cota-parte após o primeiro
ano de efetivo exercício, crescente na proporção de 25 (vinte e cinco) pontos
percentuais após completar cada um dos 2 (dois) anos seguintes;

II - para os inativos, 100% (cem por cento) de uma cota-parte durante o primeiro
ano de aposentadoria, decrescente à proporção de 7 (sete) pontos percentuais a
cada um dos 9 (nove) anos seguintes, mantendo-se o percentual fixo e
permanente até a data de cessação da aposentadoria.

§ 1º O rateio será feito sem distinção de cargo, carreira e órgão ou entidade de


lotação.

§ 2º Para os fins deste artigo, o tempo de exercício efetivo será contado como o
tempo decorrido em qualquer um dos cargos de que trata este Capítulo, desde que
não haja quebra de continuidade com a mudança de cargo.

§ 3º Não entrarão no rateio dos honorários:

I - pensionistas;

II - aqueles em licença para tratar de interesses particulares;

III - aqueles em licença para acompanhar cônjuge ou companheiro;

IV - aqueles em licença para atividade política;

V - aqueles em afastamento para exercer mandato eletivo;

VI - aqueles cedidos ou requisitados para entidade ou órgão estranho à


administração pública federal direta, autárquica ou fundacional.

Art. 32. Os honorários não integrarão a base de cálculo, compulsória ou facultativa,


da contribuição previdenciária.” (destaques no original)

“Art. 35. Os órgãos da administração pública federal direta, autárquica e


fundacional adotarão as providências necessárias para viabilizar o crédito dos
valores discriminados no art. 30 diretamente na instituição financeira mencionada
no inciso V do caput do art. 34, sem necessidade de transitar pela conta única do
Tesouro Nacional.

§ 1º Enquanto o disposto no caput não for operacionalmente viável, os honorários


serão creditados na instituição financeira mencionada no inciso V do caput do art.
34.

§ 2º Para cumprimento do disposto no § 1º, o total do produto dos honorários


advocatícios será objeto de apuração e consolidação mensal e será creditado, pela
administração pública federal, até o décimo quinto dia do mês subsequente, nos
termos de acordo de cooperação técnica a ser firmado entre a Advocacia-Geral da
União e o Ministério da Fazenda.” (destaques no original)

No que diz respeito à segunda questão , observa-se que a mesma não apresenta
contornos jurídicos a serem enfrentados por esta Assessoria Jurídica, na medida em que
envolve matéria eminentemente contábil/técnica.

9
Acesse em: https://e.tcm.ba.gov.br/epp/validaDoc.seam Código do documento: 1825b78a-c717-489f-b714-5c8357ecfd37
Processo: 08146e23 - Doc. 28 - Documento Assinado Digitalmente por: FLAVIA SCOLESE RIBEIRO - 29/06/2023 17:04:41
Portanto, esta Unidade, em manifestação anterior, sugeriu o direcionamento do presente
opinativo à Superintendência de Controle Externo - SCE, para fins de ciência e de
complementação, se entender pertinente.

Acolhida a mencionada recomendação, o feito foi encaminhado à SCE, que procedeu à


remessa do processo à Diretoria de Assistência aos Municípios – DAM, para atendimento
do quanto solicitado.

De acordo com o Parecer emitido pela DAM, com relação ao questionamento 2, registrou
que (página 8 do documento nº 23):

“No tocante à dúvida suscitada, é preciso ressaltar que a fonte de financiamento


da Câmara Municipal advém dos repasses de duodécimos feitos mensalmente
pelo Poder Executivo. Desse modo, conforme preceituado no art.168 da CF/88,
cabe àquele Poder repassar até o dia 20 de cada mês, os valores necessários à
manutenção e funcionamento do legislativo que, por não dispor de receita própria,
conta apenas com tais recursos.

Art. 168. Os recursos correspondentes às dotações orçamentárias,


compreendidos os créditos suplementares e especiais, destinados
aos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, do Ministério Público
e da Defensoria Pública, ser-lhes-ão entregues até o dia 20 de cada
mês, em duodécimos, na forma da lei complementar a que se refere o
art. 165, § 9º.”.

A vista disso, as verbas devidas aos advogados públicos devem,


necessariamente, transitar pelo orçamento do Poder Executivo com a rubrica
“Receita de Ônus de Sucumbência”, a quem compete realizar a movimentação
orçamentária necessária ao repasse para o Poder Legislativo.

Para operacionalizar a movimentação, caso exista dotação prevista, o Executivo


poderá se valer da descentralização de crédito orçamentário, por meio da
operação “destaque de crédito”, que consiste na transferência de créditos
orçamentários à unidade orçamentária, no caso, a Câmara Municipal, conferindo-
lhe poderes para a utilização dos recursos que lhes foram dotados. Desse modo,
a unidade executora cumprirá a finalidade da ação objeto da descentralização,
que na hipótese prevista na consulta é o adimplemento de despesa com
honorários de sucumbência aos Procuradores Legislativos.

A outra possibilidade consiste na movimentação orçamentária através da abertura


de crédito adicional especial, por tratar-se de despesa não prevista no orçamento,
utilizando-se como fonte de recurso o excesso de arrecadação, conforme art.43,
inciso II da Lei nº 4.320/1964.” (destaques no original)

Com relação ao terceiro questionamento apresentado , vale anotar que o E. STF, nos
autos do citado RE 663.696, decidiu que:

“DIREITO ADMINISTRATIVO. REPERCUSSÃO GERAL. CONTROVÉRSIA DE


ÍNDOLE CONSTITUCIONAL ACERCA DO TETO APLICÁVEL AOS
PROCURADORES DO MUNICÍPIO. SUBSÍDIO DO DESEMBARGADOR DE

10
Acesse em: https://e.tcm.ba.gov.br/epp/validaDoc.seam Código do documento: 1825b78a-c717-489f-b714-5c8357ecfd37
Processo: 08146e23 - Doc. 28 - Documento Assinado Digitalmente por: FLAVIA SCOLESE RIBEIRO - 29/06/2023 17:04:41
TRIBUNAL DE JUSTIÇA, E NÃO DO PREFEITO. FUNÇÕES ESSENCIAIS À
JUSTIÇA. RECURSO EXTRAORDINÁRIO PROVIDO.
1. Os procuradores municipais integram a categoria da Advocacia Pública inserida
pela Constituição da República dentre as cognominadas funções essenciais à
Justiça, na medida em que também atuam para a preservação dos direitos
fundamentais e do Estado de Direito.
2. O teto de remuneração fixado no texto constitucional teve como escopo, no que
se refere ao thema decidendum, preservar as funções essenciais à Justiça de
qualquer contingência política a que o Chefe do Poder Executivo está sujeito,
razão que orientou a aproximação dessas carreiras do teto de remuneração
previsto para o Poder Judiciário.
3. Os Procuradores do Município, consectariamente, devem se submeter, no que
concerne ao teto remuneratório, ao subsídio dos desembargadores dos Tribunais
de Justiça estaduais, como impõe a parte final do art. 37, XI, da Constituição da
República.
4. A hermenêutica que exclua da categoria “Procuradores” – prevista no art. 37, XI,
parte final, da CRFB/88 – os defensores dos Municípios é inconstitucional, haja
vista que ubi lex non distinguit, nec interpres distinguere debet.
5. O termo “Procuradores”, na axiologia desta Corte, compreende os procuradores
autárquicos, além dos procuradores da Administração Direta, o que conduz que a
mesma ratio legitima, por seu turno, a compreensão de que os procuradores
municipais, também, estão abrangidos pela referida locução. Precedentes de
ambas as Turmas desta Corte: RE 562.238 AgR, Rel. Min. Teori Zavascki,
Segunda Turma, DJe 17.04.2013; RE 558.258, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
Primeira Turma, DJe 18.03.2011.
6. O texto constitucional não compele os Prefeitos a assegurarem aos
Procuradores municipais vencimentos que superem o seu subsídio, porquanto a lei
de subsídio dos procuradores é de iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo
municipal, ex vi do art. 61, §1º, II, “c”, da Carta Magna.
7. O Prefeito é a autoridade com atribuição para avaliar politicamente, diante do
cenário orçamentário e da sua gestão de recursos humanos, a conveniência de
permitir que um Procurador do Município receba efetivamente mais do que o Chefe
do Executivo municipal.
8. As premissas da presente conclusão não impõem que os procuradores
municipais recebam o mesmo que um Desembargador estadual, e, nem mesmo,
que tenham, necessariamente, subsídios superiores aos do Prefeito.
9. O Chefe do Executivo municipal está, apenas, autorizado a implementar, no seu
respectivo âmbito, a mesma política remuneratória já adotada na esfera estadual,
em que os vencimentos dos Procuradores dos Estados têm, como regra, superado
o subsídio dos governadores.
10. In casu, (a) o Tribunal de Justiça de Minas Gerais reformou a sentença
favorável à associação autora para julgar improcedentes os pedidos, considerando
que o art. 37, XI, da Constituição da República, na redação conferida pela Emenda
Constitucional 41/03, fixaria a impossibilidade de superação do subsídio do
Prefeito no âmbito do Município; (b) adaptando-se o acórdão recorrido
integralmente à tese fixada neste Recurso Extraordinário, resta inequívoco o direito
da Recorrente de ver confirmada a garantia de seus associados de terem, como
teto remuneratório, noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do
subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal.
11. Recurso extraordinário PROVIDO.” (destaques no original e aditados)

Conforme exposto anteriormente, desde que organizados em carreira, cujo ingresso


tenha ocorrido por intermédio de concurso público de provas e títulos, também
enquadram-se como Advogados Públicos os Procuradores do Poder Legislativo
Municipal.

11
Acesse em: https://e.tcm.ba.gov.br/epp/validaDoc.seam Código do documento: 1825b78a-c717-489f-b714-5c8357ecfd37
Processo: 08146e23 - Doc. 28 - Documento Assinado Digitalmente por: FLAVIA SCOLESE RIBEIRO - 29/06/2023 17:04:41
De tal sorte, na linha do entendimento sedimentado pelo E. STF, nos autos do RE
663.696, com repercussão geral reconhecida, aplica-se aos mesmos, no que concerne
ao teto remuneratório, o subsídio dos desembargadores do Tribunal de Justiça do
Estado, como impõe a parte final do artigo 37, XI, da Constituição da República, transcrito
a seguir:

“Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios
de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao
seguinte:

(…)

XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos


públicos da administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos,
pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente ou não,
incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza, não poderão
exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal
Federal, aplicando-se como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos
Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do
Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do
Poder Legislativo e o subsídio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça,
limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio
mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do
Poder Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos
Procuradores e aos Defensores Públicos;

(…)” (grifos aditados)

Ressalve-se, porque oportuno que, como explanou o Exmo. Redator da ADI 6.053,
Ministro Alexandre de Moraes, o teto remuneratório em questão incide sobre o somatório
do subsídio com os honorários de sucumbência porventura percebidos mensalmente
pelos Advogados Públicos, vejamos:

“A Lei 8.906/1994, que regulamenta o Estatuto da Advocacia e a Ordem dos


Advogados do Brasil, e a Lei 13.105/2015 (Código de Processo Civil), bem como a
legislação local ora impugnada, atribuem os honorários advocatícios nos
processos judiciais que envolvam a Fazenda Pública aos advogados públicos,
sendo inegável o caráter salarial e retributivo dessas parcelas, recebíveis por
serviços prestados de maneira eficiente no exercício da função pública.

Assim, em relação à observância do teto remuneratório constitucional, previsto no


artigo 37, XI, da Constituição Federal, pouco importa a discussão sobre a natureza
jurídica da verba honorária sucumbencial, detalhada pela Advocacia-Geral da
União (doc. 96), mas sim o fato de serem percebidas pelos advogados públicos
como parcela remuneratória salarial e, consequentemente, estarem sujeitas ao
limitador previsto constitucionalmente.

A possibilidade de percepção de honorários sucumbenciais por parte dos


advogados públicos, portanto, não se desvencilha por completo das imposições
decorrentes do regime jurídico de direito público a que se submetem esses

12
Acesse em: https://e.tcm.ba.gov.br/epp/validaDoc.seam Código do documento: 1825b78a-c717-489f-b714-5c8357ecfd37
Processo: 08146e23 - Doc. 28 - Documento Assinado Digitalmente por: FLAVIA SCOLESE RIBEIRO - 29/06/2023 17:04:41
agentes públicos, pois são valores percebidos por agentes públicos em função
mesmo do exercício de cargo estritamente público. Por essa razão, nada obstante
compatível com o regime de subsídio, sobretudo quando estruturado como um
modelo de remuneração por performance, com vistas à eficiência do serviço
público, a possibilidade de advogados públicos perceberem verbas honorárias
sucumbenciais não afasta a incidência do teto remuneratório estabelecido pelo art.
37, XI, da Constituição Federal.

Não é por outra razão, a propósito, que, no âmbito federal, o art. 102-A da Lei
13.898/2019 (Lei de Diretrizes Orçamentárias da União para 2020), acrescido pela
Lei 13.957/20019, introduziu no ordenamento infraconstitucional regra segundo a
qual “para fins de incidência do limite de que trata o inciso XI do art. 37 da
Constituição, serão considerados os pagamentos efetuados a título de honorários
advocatícios de sucumbência”.

Diante do exposto, declaro a constitucionalidade da percepção de honorários de


sucumbência pelos advogados públicos e julgo PARCIALMENTE PROCEDENTE
O PEDIDO para, conferindo interpretação conforme à Constituição ao art. 23 da
Lei 8.906/1994, ao art. 85, § 19, da Lei 13.105/2015, e aos arts. 27 e 29 a 36 da
Lei 13.327/2016, estabelecer que a somatória dos subsídios e honorários de
sucumbência percebidos mensalmente pelos advogados públicos não poderá
exceder ao teto dos Ministros do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, conforme o
que dispõe o art. 37, XI, da Constituição Federal.” (grifos aditados)

No que tange à quarta e à quinta perguntas apresentadas, registre-se que, consoante


já explicitado anteriormente, a forma de distribuição dos honorários advocatícios
sucumbenciais aos seus respectivos beneficiários, inclusive a possibilidade de seu
fracionamento para fins de atendimento ao teto remuneratório, bem como a
responsabilidade e o procedimento, relativos à gestão, processamento e repasse da
aludida verba, devem ser perquiridos à luz da legislação local que ampara tal direito.

Ressalve-se, contudo, com relação ao ingresso de receita no âmbito do Poder Legislativo


Municipal, que, até o advento da Emenda Constitucional nº 25/2000, admitia-se a
execução das suas despesas pelo Executivo local.

Após a referida Emenda, que acrescentou o artigo 29-A à Constituição Federal, bem
como a entrada em vigor da Lei de Responsabilidade Fiscal, a execução das despesas
do Poder Legislativo, obrigatoriamente, passou a ser efetivada de forma direta.

Veja-se que o Poder Executivo apenas arrecada receitas públicas e, de acordo com o
artigo 168 da CF, repassa, até o dia 20 de cada mês, valores necessários à manutenção
e funcionamento dos outros Poderes, que, por não terem receita própria, contam apenas
com tais recursos. Eis o teor do citado artigo 168 da CF:

13
Acesse em: https://e.tcm.ba.gov.br/epp/validaDoc.seam Código do documento: 1825b78a-c717-489f-b714-5c8357ecfd37
Processo: 08146e23 - Doc. 28 - Documento Assinado Digitalmente por: FLAVIA SCOLESE RIBEIRO - 29/06/2023 17:04:41
“Art. 168. Os recursos correspondentes às dotações orçamentárias,
compreendidos os créditos suplementares e especiais, destinados aos órgãos dos
Poderes Legislativo e Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública, ser-
lhes-ão entregues até o dia 20 de cada mês, em duodécimos, na forma da lei
complementar a que se refere o art. 165, § 9º.

(...)”

O próprio Legislador Constituinte Derivado não previu a possibilidade de outra fonte de


receita para o Poder Legislativo, a não ser a proveniente do repasse do duodécimo.

Importante pontuar que a sistemática introduzida pelo artigo 29-A da Carta Magna,
alterada pela Emenda Constitucional nº 58/2009, trata da limitação do total da despesa
do Poder Legislativo, representada por percentuais, variáveis de acordo com a faixa
populacional, a serem aplicados sobre o somatório da receita tributária e transferências
constitucionais efetivamente arrecadadas pela Municipalidade no exercício anterior.
Confira-se:

“Art. 29-A. O total da despesa do Poder Legislativo Municipal, incluídos os


subsídios dos Vereadores e excluídos os gastos com inativos, não poderá
ultrapassar os seguintes percentuais, relativos ao somatório da receita tributária e
das transferências previstas no § 5º do art. 153 e nos arts. 158 e 159, efetivamente
realizado no exercício anterior:

I - 7% (sete por cento) para Municípios com população de até 100.000 (cem mil)
habitantes;

II - 6% (seis por cento) para Municípios com população entre 100.000 (cem mil) e
300.000 (trezentos mil) habitantes;

III - 5% (cinco por cento) para Municípios com população entre 300.001 (trezentos
mil e um) e 500.000 (quinhentos mil) habitantes;

IV - 4,5% (quatro inteiros e cinco décimos por cento) para Municípios com
população entre 500.001 (quinhentos mil e um) e 3.000.000 (três milhões) de
habitantes;

V - 4% (quatro por cento) para Municípios com população entre 3.000.001 (três
milhões e um) e 8.000.000 (oito milhões) de habitantes;

VI - 3,5% (três inteiros e cinco décimos por cento) para Municípios com população
acima de 8.000.001 (oito milhões e um) habitantes.

§ 1º A Câmara Municipal não gastará mais de 70% (setenta por cento) de sua
receita com folha de pagamento, incluído o gasto com o subsídio de seus
Vereadores.

§ 2º Constitui crime de responsabilidade do Prefeito Municipal:

I - efetuar repasse que supere os limites definidos neste artigo;

II - não enviar o repasse até o dia 20 (vinte) de cada mês; ou

14
Acesse em: https://e.tcm.ba.gov.br/epp/validaDoc.seam Código do documento: 1825b78a-c717-489f-b714-5c8357ecfd37
Processo: 08146e23 - Doc. 28 - Documento Assinado Digitalmente por: FLAVIA SCOLESE RIBEIRO - 29/06/2023 17:04:41
III - enviá-lo a menor em relação à proporção fixada na Lei Orçamentária.

§ 3º Constitui crime de responsabilidade do Presidente da Câmara Municipal o


desrespeito ao § 1º deste artigo.”

Tem-se, pois, que, com a nova disciplina constitucional, o estabelecimento da previsão


orçamentária das Câmaras de Vereadores deixou de ficar ao arbítrio da vontade
Legislativa Municipal, tendo sido limitada por critérios objetivos.

Sendo assim, não mais prevalece o entendimento de que o repasse de recursos do


Executivo se fará pela real necessidade da Câmara ou pela simples liberação das verbas
consignadas no orçamento do Município para a manutenção do Poder Legislativo.

Estabeleceu-se que os recursos pertencentes ao Poder Legislativo não serão liberados


apenas com base na simples previsão hipotética da receita municipal, mas, sim, levando
em consideração a receita efetivamente realizada no exercício anterior.

Ou seja, para fixação do orçamento da Câmara de Vereadores, deve ser observado o


limite máximo de gastos conferidos ao Poder Legislativo Municipal, já que o Prefeito não
poderá efetuar repasses que superem este valor máximo de gastos, sob pena de incorrer
em crime de responsabilidade, nos termos do § 2º, inciso I, do artigo 29-A da CF.

Desta feita, o Prefeito deverá transferir para a Câmara o valor dos duodécimos mensais,
conforme vaticina o artigo 168 da CF, acima transcrito.

A Constituição do Estado da Bahia, de igual forma, em seu artigo 163, disciplina que:

“Art. 163 - Os recursos correspondentes às dotações orçamentárias,


compreendidos os créditos suplementares e especiais, destinados aos órgãos dos
Poderes Legislativo, Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública,
serão entregues até o dia 20 de cada mês, em duodécimos, na forma da Lei
Complementar a que se refere o art. 159, § 9º.”

Extrai-se, pois, que, conquanto o Poder Legislativo não detenha competência para
arrecadar receitas públicas, a Constituição Federal garante recursos necessários para o
seu devido funcionamento, estabelecendo data para repasse do seu duodécimo, que
representa o recurso para cobertura das suas respectivas despesas.

15
Acesse em: https://e.tcm.ba.gov.br/epp/validaDoc.seam Código do documento: 1825b78a-c717-489f-b714-5c8357ecfd37
Processo: 08146e23 - Doc. 28 - Documento Assinado Digitalmente por: FLAVIA SCOLESE RIBEIRO - 29/06/2023 17:04:41
Acrescente-se, por oportuno, que a elaboração do orçamento a ser executado pela
Câmara Municipal é de competência do próprio Legislativo, que deve encaminhá-lo ao
Poder Executivo para ser inserido na Proposta Orçamentária do Município.

Isso porque, em obediência ao princípio da unidade, o orçamento deve ser uno, ou seja,
cada ente governamental deve elaborar um único orçamento. Tal princípio é mencionado
no caput do artigo 2º da Lei nº 4.320/1964 e visa evitar múltiplos orçamentos dentro da
mesma pessoa política. Dessa forma, todas as receitas previstas e despesas fixadas, em
cada exercício financeiro, devem integrar um único documento legal dentro de cada nível
federativo – a Lei Orçamentária Anual.

Registre-se, ainda, que a Lei de Diretrizes Orçamentárias e a Lei Orçamentária Anual do


Município poderão fixar percentuais inferiores aos previstos nos incisos do artigo 29-A da
CF, desde que seja suficiente para o custeio de todos os gastos concernentes à
manutenção e funcionamento da Câmara Municipal.

Os limites estabelecidos pelo legislador no artigo 29-A da Carta Magna constituem-se


num marco a não ser transposto, não sendo, portanto, parâmetro ou autorização para
gastos totais do Legislativo Municipal.

Com efeito, o aludido dispositivo constitucional não cuida de repasse de duodécimo para
as Câmaras Municipais. Fixa limites para as despesas totais do Poder Legislativo
Municipal.

Quando o orçamento da Câmara Municipal for suficiente para o custeio de todos os


gastos concernentes à manutenção e funcionamento do Poder, não se faz necessário
qualquer alteração orçamentária.

Feitos tais esclarecimentos, tem-se que o Poder Legislativo, em decorrência da sua


autonomia financeira e administrativa, asseguradas no artigo 2º da CF, deve arcar com
as despesas inerentes à sua manutenção e funcionamento, devendo inserir, em seu
orçamento, dotações próprias para atender a tais finalidades.

16
Acesse em: https://e.tcm.ba.gov.br/epp/validaDoc.seam Código do documento: 1825b78a-c717-489f-b714-5c8357ecfd37
Processo: 08146e23 - Doc. 28 - Documento Assinado Digitalmente por: FLAVIA SCOLESE RIBEIRO - 29/06/2023 17:04:41
Com base nos argumentos dispostos acima, esta Corte de Contas, há muito, sustenta o
entendimento de que a única fonte de recursos da Câmara Municipal prov ém do
duodécimo repassado pelo Executivo, não lhe cabendo o recolhimento ou a
movimentação de qualquer numerário estranho àquele.

Diante do exposto, conclui-se que:

1) São considerados Advogados Públicos os Procuradores do Poder Legislativo


Municipal, desde que organizados em carreira, com ingresso mediante concurso
público de provas e títulos, e, na forma do artigo 85, § 19, do Novo Código de
Processo Civil, desde que preenchidos os requisitos fixados na legislação de
regência, podem ser beneficiários de honorários sucumbenciais, nas demandas
judiciais para defesa dos direitos institucionais da Câmara de Vereadores;

2) De acordo com a área técnica desta Corte, “(…) as verbas devidas aos
advogados públicos devem, necessariamente, transitar pelo orçamento do Poder
Executivo com a rubrica “Receita de Ônus de Sucumbência”, a quem compete
realizar a movimentação orçamentária necessária ao repasse para o Poder
Legislativo. Para operacionalizar a movimentação, caso exista dotação prevista, o
Executivo poderá se valer da descentralização de crédito orçamentário, por meio
da operação “destaque de crédito” (…). A outra possibilidade consiste na
movimentação orçamentária através da abertura de crédito adicional especial (…)”.

3) Aplica-se aos Procuradores do Poder Legislativo Municipal, organizados em


carreira, cujo ingresso tenha ocorrido por intermédio de concurso público de
provas e títulos, no que concerne ao teto remuneratório, o subsídio dos
desembargadores do Tribunal de Justiça do Estado, como impõe a parte final do
artigo 37, XI, da Constituição da República; e

4) A forma de distribuição dos honorários advocatícios sucumbenciais aos seus


respectivos beneficiários, inclusive a possibilidade de seu fracionamento para fins
de atendimento ao teto remuneratório, bem como a responsabilidade e o
procedimento, relativos à gestão, processamento e repasse da aludida verba,

17
Acesse em: https://e.tcm.ba.gov.br/epp/validaDoc.seam Código do documento: 1825b78a-c717-489f-b714-5c8357ecfd37
Processo: 08146e23 - Doc. 28 - Documento Assinado Digitalmente por: FLAVIA SCOLESE RIBEIRO - 29/06/2023 17:04:41
devem ser perquiridos à luz da legislação local que ampara tal direito, ressalvando-
se que a única fonte de recursos da Câmara Municipal provém do duodécimo
repassado pelo Executivo, não lhe cabendo o recolhimento ou a movimentação de
qualquer numerário estranho àquele.

Salvo melhor juízo, essa é a orientação da Assessoria Jurídica do Tribunal de Contas dos
Municípios do Estado da Bahia, formulada de acordo com as normas vigentes à época
deste Parecer.

À consideração superior.

Salvador, 29 de junho de 2023.

Flavia Scolese Ribeiro


Assessora Jurídica

18

Você também pode gostar