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DISCIPLINA DE DIREITO CIVIL I

AULA 12

Profª Me. Cristiane Dalla Valle

1.1 PRESCRIÇÃO

1.1.1 Conceito

Prescrição é fato jurídico em sentido estrito (ordinário) e se configura como


medida de ordem pública imposta para garantir segurança jurídica às relações
jurídicas, pois se um direito fica pendente de forma indefinida, haveria eterna
instabilidade no sistema jurídico.
É sabido que, uma vez violado um direito subjetivo é assegurado ao seu titular
buscar a prestação jurisdicional para exigir seu direito. Esta garantia de exigibilidade do
direito pela via jurisdicional é chamada pretensão. A prescrição afeta justamente
esta pretensão.
Prescrição é, portanto, medida que limita no tempo a PRETENSÃO do sujeito
sobre determinado direito, conforme TARTUCE: "Na prescrição, nota-se que ocorre a
extinção da pretensão; todavia o direito em si permanece incólume, só que sem
proteção jurídica para solucioná-lo".
Havendo inércia do titular do direito em exigi-lo no tempo adequado, seu direito
PRESCREVE, ou seja, não pode mais ser exigido pela via jurisdicional. Não resta
extinto o direito, mas sim sua exigibilidade. Ou seja, o direito continua existindo, mas
seu titular não poderá mais solicitar ao judiciário seu cumprimento compulsório. A
prescrição é medida de punição do titular do direito em razão da sua inércia.

Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue,
pela prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206.

Na prática, a impossibilidade de exigir o direito acaba tornando-o sem eficácia, já


que dependerá unicamente da boa vontade do devedor em cumprir seu dever. Mas, se
ainda resta esta opção, não há como se falar em perda do direito e sim somente em
perda da pretensão, persistindo o dever na forma de uma obrigação natural, na esfera
moral do devedor.
A prescrição pode ser alegada a qualquer tempo, pelos interessados (art. 193,
CC) e deve ser alegada de ofício, pelo juiz, mesmo que não alegada pelas partes, por
se constituir em questão de ordem pública.

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As partes não podem reduzir ou ampliar prazos prescricionais por convenção
(art. 192, CC) e também não podem renunciar a ele, salvo o beneficiário da prescrição,
que pode renunciar a ela caso ela já tenha se consumado e desde que não prejudique
terceiros (art. 191, CC).
A regra geral é de que as pretensões são sempre prescritíveis, a exceção está
em alguns casos expressos pela lei onde os direitos são imprescritíveis em decorrência
de sua natureza, como ocorre com os direitos de personalidade, por exemplo.

1.1.2 Prazos

a) Contagem:

Inicia-se no dia útil seguinte a violação do direito e termina no último dia do


prazo fixado em lei.
A contagem do prazo prescricional segue a mesma ideia de contagem dos
prazos processuais: exclui-se o primeiro dia do prazo e computa-se o último dia do
prazo (art. 224, CPC). Se o último dia cair em sábado, domingo ou feriado, prorroga-se
o prazo até o dia útil seguinte (art. 224, §1º, CPC).

b) Prazos:

Regra Geral: Quando a lei não determinar prazo específico, a prescrição se


opera em 10 ANOS (art. 205, CC).
Exceções (rol exemplificativo):

6 MESES ART. 59, Lei 7.357/85 (cheques)


1 ANO Art. 206, §1º, I - V, CC
Arts. 445 e 446, CC
Arts. 500 e 501, CC
2 ANOS Art. 206, §2º, CC
3 ANOS Art. 206, §3º, I - IX, CC
4 ANOS Art. 206, §4º, CC
5 ANOS Art. 206, §5º, I - III, CC
Art. 25, Lei 8.906/94 (honorários advocatícios)
Art. 27, CDC (defeitos nos produtos e serviços)

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1.1.3 Impedimento, Suspensão e Interrupção

Há situações previstas em lei que obstruem o prazo prescricional, as quais estão


elencadas pelos arts. 197 - 204, CC.
As causas impeditivas obstam o INÍCIO do prazo prescricional, ou seja, são
situações que ocorrem antes do início do prazo de prescrição, que impedem que ele
comece a fluir. Finda a causa de impedimento, o prazo começa a contar.
As causas suspensivas são verificadas APÓS O INÍCIO do prazo prescricional e
suspendem o seu fluxo, ou seja, obstam temporariamente o curso do prazo que já se
iniciou. Finda a causa de suspensão, o prazo começa a contar novamente de onde
parou.
Por fim, as causas interruptivas são verificadas quando ocorre uma situação que
demonstra o exercício da pretensão pelo titular do direito, anulando sua situação de
inércia.
Diferentemente da suspensão, finda a causa de interrupção, o prazo começa a
contar novamente desde o seu início, desconsiderando-se prazo porventura já
transcorrido. A interrupção da prescrição de um direito só ocorre uma vez, não
podendo haver interrupções reiteradas ou sucessivas.

1.2 DECADÊNCIA

1.2.1 Conceito

É a perda de um direito em função do seu não exercício pelo seu titular. É a


extinção de um direito pela inércia do seu titular. A decadência é chamada também de
caducidade.
No caso da decadência há a perda do próprio direito e não somente de sua
pretensão, como o caso da prescrição. Se o titular do direito deixa de exercê-lo no
lapso de tempo determinado, ele perde o direito, em função da decadência. Isso
significa que em uma relação jurídica o titular do direito tem um prazo para exercê-lo,
sob pena de perde-lo.
A decadência sempre recai sobre direito do tipo potestativos, que são aqueles
onde o titular tem faculdade de exercê-lo.
A decadência pode ser legal ou convencional.
A decadência legal não pode ser objeto de renúncia, a convencional pode ser
renunciada (art. 209, CC).
As decadências legal ou convencional podem ser alegadas a qualquer tempo,
pelos interessados. A decadência legal deve ser alegada de ofício, pelo juiz, mesmo

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que não alegada pelas partes, por se constituir em questão de ordem pública (art. 210,
CC). A convencional não pode ser alegada de ofício.

1.2.2 Prazos

a) Contagem:

Inicia-se no dia útil seguinte a violação do direito e termina no último dia do


prazo fixado em lei.
A contagem do prazo prescricional segue a mesma ideia de contagem dos
prazos processuais: exclui-se o primeiro dia do prazo e computa-se o último dia do
prazo (art. 224, CPC). Se o último dia cair em sábado, domingo ou feriado, prorroga-se
o prazo até o dia útil seguinte (art. 224, §1º, CPC).

b) Prazos:

Regra Geral: A anulação do negócio jurídico quando a lei não fixar prazo
específico é de 02 ANOS (Art. 179, CC).
Exceções (rol exemplificativo):

3 DIAS - 60 DIAS Art. 516, CC


120 DIAS Art. 23, Lei 12.016/09
180 DIAS Art. 504, CC
Art. 1560, CC
6 MESES Art. 51, §5º, CC
1 ANO Art. 2027, CC
2 ANOS Art. 550, CC
3 ANOS Art. 45, CC
Arts. 1556 - 1557, CC
4 ANOS Art. 178, CC
Art. 1909, CC
10 ANOS Art. 1389, III, CC

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1.2.3 Impedimento, Suspensão e Interrupção

Por regra geral, a decadência não pode ser impedida, suspensa ou interrompida,
se configurando como prazos peremptórios (as partes não podem modificá-lo,
diferentemente dos dilatórios).
As exceções ficam por conta das hipóteses destacadas pelo art. 208, CC: o
prazo de decadência não flui contra absolutamente incapazes e não flui em relação aos
relativamente incapazes e as pessoas jurídicas que têm ação contra os seus
assistentes ou representantes legais.

** OBSERVAÇÃO: É cabível a alegação de prescrição e decadência nas instâncias


superiores? Não!
A jurisprudência determina uma restrição à alegação da prescrição e da
decadência, impedindo que ela seja alegada nas instâncias superiores (RESP e
REXT), salvo se já estiver sendo debatida desde a instância ordinária.
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Referências bibliográficas:
BRASIL. Lei 10.406 de 11/01/02 (CC). Brasília, DF: Diário Oficial da União, 2002.
CASCALDI, Luís de Carvalho; SANTOS, José Carlos Van Cleef de Almeida. Manual de
Direito Civil. 2ª Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Vol. I: Teoria Geral do Direito
Civil. 35º Ed. São Paulo: Saraiva, 2018.
FILHO, Rodolfo Pamplona; GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo Curso de Direito Civil:
Parte Geral. Vol. I. 21ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2019.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: parte geral. Vol. I. 1ª Ed. São
Paulo: Saraiva, 2016.
PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de Direito Privado. Tomo II. 4ª
Ed. São Paulo: RT, 1974.
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Lei de Introdução e Parte Geral. 14ª Ed. Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2018.
VENOSA, Sílvio de Salva. Direito Civil: Parte Geral. Vol. I. 18º Ed. SP: Atlas, 2018.
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Exercício 1.

Sobre o conteúdo da Aula 12, analise as questões abaixo, verificando se


alternativa é verdadeira ou falsa, e confira as respostas:
a) ( ) Prescrita a obrigação jurídica, converte-se em obrigação natural, não podendo
ser exigida coercitivamente, por meio de prestação jurisdicional.
b) ( ) A prescrição pode ser impedida, interrompida ou suspensa nos casos
expressos em lei, não podendo se dizer o mesmo da decadência, que não sofre
obstrução em nenhuma hipótese.

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c) ( ) O juiz deve conhecer de ofício a decadência prevista em lei e também a
convencionada livremente pelas partes.
d) ( ) É válida a renúncia à decadência fixada em lei.
e) ( ) As partes podem alterar, por acordo, os prazos de prescrição.

Sobre o conteúdo da Aula 12, analise as questões abaixo, verificando a


alternativa correta, e confira as respostas:

1) Analise as seguintes assertivas sobre prescrição no Direito Civil:


I. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição.
II. Não pode a prescrição ser alegada de ofício pelo juiz.
III. As partes podem alterar o prazo de prescrição previsto em lei.

Quais estão corretas?

a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas III.
d) Apenas I e II.
e) Apenas II e III.

2) A prescrição, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor, ocorre em:
a) 02 anos;
b) 05 anos;
c) 10 anos;
d) 03 anos;
e) Nenhuma das alternativas.

3) De acordo com o Código Civil brasileiro, assinale a alternativa que indica


corretamente o prazo prescricional de pretensão do vencedor para haver do
vencido o que despendeu em juízo e da pretensão de reparação civil,
respectivamente.
a) 1 e 3 anos
b) 3 e 3 anos
c) 3 e 5 anos
d) 5 e 3 anos
e) 5 e 5 anos

4) Quanto ao instituto da decadência, é INCORRETO afirmar que:


a) salvo disposição legal em contrário, se aplicam à decadência as normas que
impedem, suspendem ou interrompem a prescrição;
b) salvo disposição legal em contrário, não se aplicam à decadência as normas que
impedem, suspendem ou interrompem a prescrição;
c) é nula a renúncia à decadência fixada em lei;
d) deve o juiz, de ofício, conhecer da decadência, quando estabelecida por lei;
e) se a decadência for convencional, a parte a quem aproveita pode alegá-la em
qualquer grau de jurisdição, mas o juiz não pode suprir a alegação.

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5) A decadência é instituto que, quando de sua ocorrência, fulmina o próprio
direito, cuidando o Código Civil de contemplar previsões genéricas a seu
respeito a partir do art. 207. Acerca da decadência, é correto dizer:
a) Não se admite, em nenhuma hipótese, a renúncia à decadência.
b) A decadência pode ser alegada qualquer grau de jurisdição.
c) Decorrendo de convenção entre as partes a decadência, deve o Juiz conhecê-la de
ofício.
d) À decadência não se aplica, a rigor, as regras que impedem, suspendem ou
interrompem a prescrição.
e) Nenhuma das alternativas anteriores está correta.

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Exercício 2. A partir do material disponibilizado referente aos conteúdos da Aula
12, resolva as seguintes questões:
a) Diferencie conceitualmente, prescrição e decadência.
b) A prescrição e a decadência podem ser alegadas nas instâncias superiores?

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GABARITO - Exercício 1.

- Questões verdadeiro ou falsa:

a) Alternativa VERDADEIRA. Vide art. 189, CC.


b) Alternativa FALSA. Vide art. 208, CC.
c) Alternativa FALSA. Vide art. 210, CC.
d) Alternativa FALSA. Vide art. 209, CC.
e) Alternativa FALSA. Vide art. 192, CC.

- Questões multipla escolha:

1) a;
2) c;
3) d;
4) a;
5) d;

GABARITO - Exercício 2. SERÁ DISPONIBILIZADO JUNTAMENTE COM A VÍDEO


AULA DE RESOLUÇÃO DAS QUESTÕES.

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