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Isto significa que, mesmo decorridos os 3 meses para o particular exercer o ónus
de impugnação, o ato inimpugnável já não está absolutamente seguro, pois ele é um
ato suscetível de ser alvo de ataques por motivos de anulabilidade e,
verdadeiramente, ele pode ser atacado pela AP. Assim, em 2015, consagrou-se uma
grande instabilidade na anulação administrativa, na medida em que os atos podem
ser anulados pela própria AP em prazos relativamente longos (que vão desde 6
meses a 5 anos).
Na anulação vemos uma “AP de controlo”, que se comporta como uma espécie
de juiz, já que afere a invalidade do AA praticado. Pelo contrário, a revogação é uma
figura pensada para a AP apreciar a variação do interesse público e rever decisões
favoráveis constitutivas de direitos, porque há alteração do interesse publico.
Portanto, revogar é ainda “administrar”, é gerir os efeitos de uma relação jurídica
constituída por AA à luz da variação do interesse publico.
Aula 3/05/2017
Caso prático 5:
No nosso caso prático, está em causa a revogação: ela é um ato de 2º grau que se
dirige a fazer cessar os efeitos doutro ato, por se entender que não é conveniente para o
interesse público manter esses efeitos produzidos anteriormente.
Quanto ao respetivo objeto (mediato), são suscetíveis de revogação,
designadamente os atos com eficácia duradoura. É o caso! O ato revogado é o ato
numero 1 e o ato revogatório é o número 2, que revoga a decisão anteriormente
praticado.
O artigo 167º CPA é a norma que rege a revogação. Tem como epígrafe
“condicionalismos aplicáveis à revogação”.
O legislador não diz qual é a regra. Mas a regra é a de que a AP pode revogar seus atos.
Ele diz isso pela negativa, isto é, nós podemos inferir “a contrario” que a regra é a
revogabilidade de AA, o que significa que eles podem ser revogados com fundamento
na sua inconveniência, desde que se observem os condicionalismos previstos na lei.
Ora, após a leitura desses condicionalismos, o que nós vamos concluir é que a regra da
revogabilidade não é absoluta, desde logo porque há atos que não podem simplesmente
ser revogados – proibição da revogação – e há atos que gozam de especial proteção de
estabilidade – restrição à revogação. Há de facto uma regra que permite a revogação,
mas não há um princípio de livre revogação.
Vamos começar por olhar para os vários números do artigo 167º CPA:
(Este prazo joga a favor da AP, ela pode invocar que tomou conhecimento mais
tarde – a AP tem que provar que só conheceu os fatos mais tarde, o prazo não é
contado desde a emissão da licença mas sim desde o conhecimento dos fatos – há
aqui uma certa margem para manipulação).
Isto é sempre possível? Nem sempre é possível, pois se o fosse, teríamos o fim
dos atos constitutivos de direitos. Isto não pode ser uma faculdade geral, mas
uma cláusula acessória aposta a certo tipo de AA.
O ato pode ver a sua consistência degradada, mas desde que o quadro normativo
em causa o permita. A AP gostaria certamente de abusar dela o mais
frequentemente possível, mas o quadro normativo tem que consentir a
precarização.
Isto é novo (2015). Não há ainda experiência quanto a isto. Refere-se a situações
em que seja natural que as coisas se alterem. Por exemplo, quando estejam em
causa bens públicos e a AP quer reaver a posse de tais bens. Ex: Esplanada na
Praça da República. A AP concessiona a exploração privativa de domínio
público, mas reserva-se o direito de revogar a qualquer momento no futuro,
desde que o quadro normativo legal.
Prazo para revogar? Em regra, a revogação é uma competência que pode ser
exercida a todo o tempo, (exceto no caso da alínea c) ao contrário da anulação
( prazo entre 6 meses até 5 anos). A única exceção é o caso da superveniência de
conhecimentos (alínea c), tendo a revogação que ser proferida no prazo de 1 ano
a contar da data do conhecimento dos novos fatos, podendo esse prazo crescer
para 2 anos em casos devidamente fundamentados. Requisitos Cumpridos.
(note-se que não se conta o prazo desde a emissão da licença mas sim desde o
conhecimento do fato).
Na revogação, a AP elimina o ato, mas não destrói os efeitos dele. Eis a regra,
prevista no 171º, mas logo na mesma norma diz que pode produzir efeitos
retroativos, quando tal seja favorável para o particular.
Quem pode revogar? Até agora falou-se na AP. Ver o artigo 169º CPA.
Artigo 169º - a iniciativa pode partir do particular mas a revogação pode
também surgir pela iniciativa da AP – dos “órgãos competentes”, isto é, os seus
autores e os respetivos superiores (hierárquico, delegante, superintendente,
tutelante).
17-05-2017
Os casos de nulidade
Apenas existem, desde 2015, nulidades por determinação da lei, art.161º CPA.
Ou seja, significa que temos de olhar para as várias alíneas do art.161º CPA
e leis avulsas para aí inferir quais as hipóteses legalmente previstas de ato
administrativo nulo, pelo que não existe no CPA uma cláusula geral de atos
nulos. Portanto, só há nulidade por determinação da lei.
Assim, não pode valer como AA, uma decisão sem autor, sem destinatário, sem
fim publico, sem conteúdo, sem forma. Ou seja, basta olhar para as alíneas do
art.161º CPA e aí ver o que a nossa jurisprudência considera por hipóteses,
evidentes para um cidadão médio, de “ofensa insuportável dos valores básicos
da legalidade”.
Os casos de anulabilidade
a) O conteúdo do ato anulável não possa ser outro, por o ato ser de conteúdo
vinculado ou a apreciação do caso concreto permita identificar apenas uma
solução como legalmente possível;
b) O fim visado pela exigência procedimental ou formal preterida tenha sido
alcançado por outra via;
c) Se comprove, sem margem para dúvidas, que, mesmo sem o vício, o ato teria
sido praticado com o mesmo conteúdo.
É o caso do ato praticado sem a fundamentação, que pode ser objeto de uma
ratificação posterior, praticando-se o ato com a respetiva fundamentação. Por
exemplo, o Diretor Geral pode ratificar o ato do Diretor Regional; a CM pode
ratificar atos da sua competência, que foram praticados pelo Presidente da CM,
fazendo-os seus, retirando-lhes a ilegalidade, art.164º CPA. PRÁTICA
CORRENTE
Ela só é possível se o ato for divisível em partes, pois se não for não é
possível. Por exemplo, na atribuição de uma licença, exige-se ao destinatário da
mesma que faça alguma coisa, mas essa exigência é ilegal. A reforma é a
redução do ato – a decisão da AP vai eliminar a ferida, o ponto defeituoso do
AA, de forma a tornar o ato são.
E os efeitos? Os efeitos retroagem à data dos atos a que respeitam. O ato ilegal
produz efeitos desde que foi praticado e manter-se-á, pois o ato que o vem sanar,
sanará tudo desde o início, art.164º/5 CPA.
Sujeito
O ato tem de ser praticado por um sujeito, em sentido subjetivo ou funcional da AP.
Requisitos de validade do AA quanto ao sujeito:
Se isto não for cumprido, há vícios relativos ao sujeito – usurpação de poder, falta
de atribuições, incompetência e falta de legitimação. Serão nulos os atos praticados com
usurpação de poder ou fora das atribuições, por órgão territorialmente incompetente, ou
com faltas graves de legitimação (pelo que nem todos os casos de legitimação levam à
nulidade. As faltas graves são a falta de convocatória do órgão colegial, etc).
Objeto
Estatuição
Quanto aos vícios, há que distinguir o conteúdo nos atos vinculados e nos
atos discricionários:
Quanto à forma, esta designa manifestação exterior do AA, isto é, forma como a
decisão se exterioriza (forma orla, escrita, eletrónica) – principio liberdade de
forma.
Vícios de forma
24-05-2017
*6 Setembro 2015
Atenção - não se verifica neste caso nenhuma das 3 hipóteses em que, apesar da
invalidade, não se produz o efeito anulatório, art.163º/5 CPA, logo o juiz NÃO estará
impedido de anular.
Neste caso não poderá ratificar o ato, a ratificação serve para sanar vícios
de carater procedimental, competência, forma, não para vícios de conteúdo, de
natureza substancial, pelo que a AP não pode praticar novo ato ratificante sem
incorrer no mesmo vicio do ato ratificado, pois é um vicio do conteúdo. O sentido
decisório não pode ser alterado pois o vício é de conteúdo. Se através da ratificação o
órgão competente pratica um novo AA com o mesmo conteúdo do ato anterior,
neste caso, o indeferimento, acabará por reincidir no vicio determinante de
invalidação. Não há aproveitamento.
Licença – ato constitutivo de direito.
Quanto à primeira questão, pelo facto de não ter havido notificação, não há
vicio, falta eficácia (ATENÇÃO!! FALTA DE NOTIFICAÇÃO NÃO É VICIO,
POIS NÃO ESTÁ EM CAUSA INVALIDADE, MAS SIM INEFICÁCIA), para o
ato produzir efeitos o ato tem de ser notificado. Um AA praticado pela CM, que ordena
a demolição, exige ter presente o art.160º CPA, segundo o qual os atos que
constituam encargos ou deveres para o destinatário, neste caso o dever de demolir,
têm de ser obrigatoriamente notificados, caso contrário, não produzem efeitos
jurídicos. A relevância das comunicações (notificações e publicações) obrigatórias
como condições de oponibilidade (de efeitos desfavoráveis) – fase integrativa do
procedimento de emanação do ato é aqui obrigatória, caso o AA não seja
regularmente notificado, o destinatário não tem conhecimento do mesmo, logo o
AA não produz efeitos e a AP não pode executar.
Por outro lado, a regra no DA é a de que os AA não são sempre receptícios, não
precisam de chegar ao destinatário para produzir efeitos, contudo os atos constitutivos
de deveres ou encargos devem ser notificados aos seus destinatários – associa-se esta
ideia à necessidade de colaboração do destinatário do ato na estatuição, isto é, aquele
contra quem corre uma ordem de demolição, para poder demolir tem de ser notificado,
para a execução do ato.
Quanto à segunda questão, quanto ao ato exequível, a decisão camarária
que ordena a demolição de um edifício consubstancia um ato exequível, isto é,
necessita de uma atividade administrativa de execução para produção dos efeitos
visados – fundamentação e conceito de exequibilidade.
Quanto à prova, o STA tem exigido que para este tipo de desvio de poder ter
relevância anulatória é preciso que o órgão atue com dolo, isto é, com o propósito,
consciente e deliberado de prosseguir o fim ilegal, o que dificulta a prova. Pelo
contrário, para anular a decisão administrativa, o desvio de poder por motivos de
interesse publico basta invocar o erro, não sendo necessário provar qualquer
intencionalidade ao prosseguir um fim que se revela contrário à lei.
Por outro lado, quanto às consequências, a partir de 2015, são nulos por força
da lei os atos praticados com desvio de poder para fins de interesse privado,
art.161º/2/e) – a nulidade produz efeitos ex tunc, a nulidade é declarada e produz esses
efeitos, pelo que o ato não produz qualquer efeito. A nulidade é invocável a todo o
tempo; parte-se do principio de que o ato nulo é absolutamente improdutivo, contudo
hoje é claro que o CPA permite o reconhecimento jurídico de efeitos jurídicos a
situações de facto decorrentes de atos nulos por força do decurso do tempo, em
harmonia com os princípios da boa fé, da proteção da confiança e da proporcionalidade,
art.162º/3.
No nosso caso prático, trata-se de uma nulidade por determinação da lei, sujeito
ao principio da não taxatividade, associando-se o critério de gravidade do vicio à ideia
de evidência para interessado, segundo um padrão de “cidadão médio”, ou seja o
vicio tem de ser grave e evidente para um padrão de cidadão médio; ou seja, são
vícios que para um cidadão médio tornam nítida uma ofensa insuportável aos
valores básicos da legalidade. Daí a nulidade ser regime excecional.
Por fim, os atos nulos só podem ser objeto de reforma ou conversão, art.164º/2.
Por outro lado, Filipe invoca que não foi ouvido, ou seja, falta audiência prévia
dos interessados (apesar de haver casos de dispensa de audiência prévia, não é o caso),
pois estamos perante um procedimento disciplinar, onde é obrigatório ouvir o
interessado, pelo que é um vicio na estatuição, aspetos formais, concretamente vicio
procedimental, viola-se um direito fundamental, art.269º/3 e art.32º/10 CRP.