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A LEI DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA
Rubens André Gonçalves Dusi
AULA 4
DA PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
Aula 4 - Da Prescrição e Decadência
SUMÁRIO
4 NOÇÕES INTRODUTÓRIAS.............................................................................................................................4
4.1 DA PRESCRIÇÃO........................................................................................................................................... 5
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................................................... 13
REFERÊNCIAS........................................................................................................................................................... 15
PROBIDAD
E
IMPROBID
ADE
Estamos caminhando muito bem até o momento, já partindo para a reta final.
Nesta aula, temos como proposta o estudo dos institutos da Prescrição e da Decadência
e sua eventual aplicação no âmbito da improbidade administrativa.
4 NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
Antes de iniciar o conteúdo específico desta aula, vamos assistir a um pequeno vídeo
institucional da Advocacia-Geral da União, que é um dos legitimados para propor a ação civil
pública de improbidade administrativa (veremos na aula 5), que bem sintetiza o que foi analisado
até agora em nossas aulas.
VÍDEO
Veja, colega, que de maneira simples o vídeo traz alguns preceitos da Lei de Improbidade
Administrativa, fala do autor do ato ímprobo (agente público e terceiro), traça as condutas descritas
nos artigos 9° a 11 da LIA e comenta um pouco sobre suas sanções.
De tudo que foi analisado até o presente momento, percebe-se que a LIA tem uma gama
de princípios, hipóteses e critérios por meio dos quais podemos indicar ser a lei um excelente
instrumento colocado à disposição do Direito para mitigar os riscos de lesão ao erário em sentido
amplo, o que importa a todos nós cidadãos.
Contudo, para que esse mister seja alcançado, a lei não é bastante em si mesma. Para se
alcançar a efetividade das sanções constantes do art. 12 da LIA, há dependência direta da atuação
célere dos legitimados para propositura da chamada ação de improbidade administrativa –
Ministério Público e a pessoa interessada -, na forma do art. 17, como será melhor analisado na
aula 5.
E nessa linha de raciocínio, (OLIVEIRA, 2016, p. 649) lembra que, por mais grave que seja o
ato de improbidade administrativa, a atuação repressiva do Estado deve ser efetuada dentro dos
prazos prescricionais previstos na lei, homenageando-se, assim, o princípio da segurança jurídica.
Para o autor, tal instituto pode ser conceituado como a perda da possibilidade de formulação
de pretensões, em razão da inércia do interessado (OLIVEIRA, 2016, p. 649).
O conceito da prescrição e sua distinção com a decadência são temas com os quais os
operadores do Direito têm mais dificuldade. De modo a facilitar nossa compreensão, buscamos no
Direito Civil as diretrizes para elucidar tais questões, especialmente com as novas orientações do
Código Civil de 2002 (CC/2002).
Tartuce (2016, p. 320), ao mencionar a obra de Agnelo Amorim Filho, traz a compreensão
de que a prescrição está associada às ações condenatórias, vale dizer, às relacionadas com
direitos subjetivos. Desse modo, a prescrição está relacionada com deveres, obrigações e com
a responsabilidade decorrente da inobservância das regras ditadas pelas partes ou pela ordem
jurídica.
Para ilustrar a distinção, o autor menciona ser decadencial, e não prescricional, o comando
da Súmula 494 do STF: “A ação para anular a venda de ascendente a descendente, sem o
consentimento dos demais, prescreve em vinte anos, contados da data do ato”. Como não se trata
de direito à pretensão condenatória, e sim desconstitutiva (desconstituir a venda), o prazo não é
prescricional. Aplica-se o prazo geral de decadência do art. 179 do CC/2002.
Desse modo, tendo em vista que a ação de improbidade administrativa revela uma
pretensão, sendo, então, ação de conteúdo condenatório, não há que se falar em decadência no
âmbito da improbidade administrativa.
4.1 DA PRESCRIÇÃO
Prazo prescricional
Prazo de até 5 anos previsto em lei específica
Prazo de até 5 anos
Da data da apresentação à
Após o término do exercício de Nas faltas disciplinares puníveis com administração pública da prestação
mandato, cargo em comissão ou demissão, nos casos de exercício de de contas final pelas entidades
função de confiança. cargo efetivo ou emprego. referidas no parágrafo único do art.
1º da LIA.
Nos incisos I e II, percebemos que há prazos distintos para agentes públicos com natureza
jurídica diversa.
No âmbito da Administração Pública Federal, tal prazo é de 5 anos, conforme o art. 132
combinado com o art. 142 da Lei 8.112/1990.
(...)
IV - improbidade administrativa;
Como os demais entes federativos (Estados, Distrito Federal e Municípios) têm autonomia
para legislar sobre a matéria, cada estatuto irá disciplinar os prazos de prescrição relacionados à
sanção administrativa de demissão.
Na hipótese do inciso III, inserida pela Lei 13.019/2014, o prazo prescricional de 5 anos
diz respeito aos atos de improbidade administrativa imputados às entidades mencionadas no
parágrafo único do art. 1° da LIA1, e a sua contagem terá início a partir da data da apresentação da
prestação de contas final à Administração Pública.
Como não poderia deixar de ser, a prescrição tem os seus casos particulares. Vamos a eles?
a) Empregados públicos
De início, vale mencionar a situação dos empregados públicos, que não têm uma lei
específica estabelecendo prazo de prescrição quando da aplicação da penalidade administrativa
de demissão.
1 As que recebem subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público bem como daquelas para
cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com menos de cinquenta por cento do patrimônio ou da
receita anual, limitando-se, nestes casos, a sanção patrimonial à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres
públicos.
b) Servidor temporário
Tem-se entendido, contudo, que o prazo prescricional para essa categoria de agentes
públicos deve ser o do inciso I do art. 23 da LIA, qual seja, 5 anos. Nesse sentido, entre outros, é a
linha de pensamento de Oliveira (2016, p. 658).
c) Cargos políticos
E se o prefeito for eleito para outro cargo, ainda que no mesmo ente federativo?
Segundo Oliveira (2016, p. 653), essa hipótese não se confunde com reeleição, e o início da
contagem do prazo prescricional quinquenal ocorre com o término do mandato no qual o ato de
improbidade foi praticado.
Ainda nesse campo do Direito Eleitoral, o autor menciona as hipóteses em que a legislação
eleitoral exige o afastamento do cargo eletivo como condição de elegibilidade, a chamada
‘desincompatibilização’, que é o afastamento definitivo ou temporário do agente de seu respectivo
cargo ou função para concorrer a determinado cargo político.
Com o afastamento definitivo, rompe-se o vínculo do agente político, sendo esse o termo
inicial do prazo prescricional da ação de improbidade.
d) Terceiros
Nesse ponto, o autor traz situação interessante: a hipótese de a prática da improbidade ser
atribuída conjuntamente ao terceiro e a agentes diversos (comissionados, estatutários), integrantes
de entes federativos diversos. Para Oliveira, a lei não esclarece qual agente público seria utilizado
como paradigma para definição do prazo prescricional do terceiro. Eis sua resposta, verbis:
Entendemos que o ideal seria considerar o prazo prescricional para ação de improbidade
em face do terceiro deve ser de cinco anos. Conforme já afirmado anteriormente, as
lacunas na legislação administrativa devem ser supridas, preferencialmente, pela
aplicação analógica de normas administrativistas e não pelo Código Civil. Nesse contexto,
a legislação administrativa, normalmente, consagra o prazo prescricional de cinco anos
(exemplos: arts. 173 e 174 do CTN; art. 21 da Lei no. 4.717;1965; Decreto no. 29.910; 1932;
art. 54 da Lei no. 9.784;1999, entre outros), aplicável, portanto, às ações de improbidade
administrativa propostas em face do terceiro. O prazo prescricional para o terceiro evitaria
eventuais discussões em relação às hipóteses de improbidade praticada por agentes
diversos, com prazos prescricionais distintos.
O prazo prescricional para o agente público sem vínculo efetivo com a Administração
Pública, que se mantém em cargos comissionados por períodos sucessivos, tem por termo inicial
o término do último exercício, quando da extinção do vínculo com a Administração. Por exemplo:
determinado agente exerce o cargo de Secretário de Administração de algum órgão público por
2 anos; depois de Coordenador na área de segurança por 1 ano; depois de Assessor por mais 2
e assim sucessivamente. Nesse caso, o prazo apenas começa a contar após o encerramento do
último vínculo.
Note-se, contudo, que o prazo é o mesmo do servidor ocupante de cargo efetivo: 5 anos.
O art. 37, § 5º, da CF estabelece o seguinte: “Art. 37 (...)§ 5º A lei estabelecerá os prazos de
prescrição para ilícitos praticados por qualquer agente, servidor ou não que causem prejuízos ao
erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento”.
Valendo-nos uma vez mais das lições de Oliveira (2016, p. 664), a regra é a prescrição,
definida pelo legislador infraconstitucional, tendo em vista o princípio da segurança jurídica, que
tem por objetivo a estabilidade das relações sociais. A exceção é a imprescritibilidade admitida
apenas nas hipóteses expressamente previstas na Constituição.
Essa é a tônica do Tribunal de Contas da União, nos termos da Súmula 282: “As ações
de ressarcimento movidas pelo Estado contra os agentes causadores de danos ao erário são
imprescritíveis”.
Entretanto, como quase tudo no Direito, o assunto não é pacífico. Para Oliveira (2016), o
destaque dado pelos que defendem a prescrição das ações de ressarcimento é o fato de que a
imprescritibilidade é uma exceção ao princípio da segurança jurídica que só pode ser admitida nos
casos expressa e taxativamente colocados na Lei Maior, como exemplos os incisos XLII e XLIV do
art. 5º, a saber: imprescritibilidade dos crimes de racismo e da ação de grupos armados, civis ou
militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático, respectivamente.
Ressalte-se, contudo, que não é para qualquer caso de improbidade administrativa, e sim
para aqueles que forem praticados dolosamente. Registro, a seguir, a distinção:
Agora que já compreendemos melhor o instituto da prescrição, podemos tratar das regras
procedimentais a ela aplicadas. Por se tratar de ordem pública, a prescrição deve ser decretada
de ofício pelo Juiz, ou seja, sem necessidade de provocação da parte interessada. Em razão dessa
natureza pública, não cabe renúncia, tampouco alteração dos prazos prescricionais.
A resposta é: sim! Ela pode ser interrompida pela notificação válida do requerido para
apresentar a sua manifestação preliminar, nos termos do art. 17, § 7º, da LIA.
De acordo com o Novo Código de Processo Civil (NCPC), o marco interruptivo da prescrição
opera-se com o despacho que ordena a citação, retroagindo à data da propositura da ação (§ 1º do
art. 240 do NCPC). A lei processual, advirta-se, tem aplicação subsidiária na improbidade, isto é, na
ausência de regra específica (própria), vale o NCPC.
Frise-se, de acordo com o NCPC, que, caso o juiz aplique a prescrição, a outra parte deve
ser intimada para sobre ela se manifestar, conforme o art. 10: “O juiz não pode decidir, em grau
algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes
oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício.”
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse sentido, vimos que a ação de improbidade administrativa revela uma pretensão,
sendo, então, ação de conteúdo condenatório, tendo plena aplicação, o que não se dá com o
instituto da decadência, por sua natureza jurídica diversa da condenatória.
SIGAMOS
ADIANTE!
REFERÊNCIAS
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Improbidade administrativa, prescrição e outros prazos
extintivos. São Paulo: Atlas, 2012.
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil. 7. ed. São Paulo: Método, 2016.