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Inês Godinho Turma A 2019/2020
Regulamento Administrativo
Apesar de serem fonte do Direito Administrativo, apresentam-se como fonte secundária, visto
que são precedidos pelas normas e princípios de Direito Internacional e Direito da União
Europeia, pelas normas e princípios constitucionais e pela lei ordinária.
Espécies:
entidades de direito privado e associado ao exercício dessa função está a possibilidade de emanar regulamentos, cujo
regime é regulado também pelo CPA (2º/1 CPA).
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Distinção entre regulamento e a lei: estas figuras só podem ser distinguidas em aspetos
orgânicos e formais, isto é, será uma lei todo o ato normativo que provenha de um órgão com
competência legislativa e que assuma a forma de lei, e será um regulamento o ato normativo
emanado por um órgão com competência regulamentar e que revista a forma de regulamento.
Importa perceber que o regulamento só é válido se uma lei de habilitação conferir competência
para a sua emissão. O regulamento contrário à lei é ilegal. A lei só pode ser impugnada
diretamente com fundamento em inconstitucionalidade junto do TC. Por outro lado, o
regulamento ilegal é, em regra, impugnável administrativa e contenciosamente com
fundamento em ilegalidade, podendo excecionalmente ser impugnado diretamente perante o
TC.
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Distinção entre regulamento e ato administrativo: ambos são atos unilaterais, contudo, o
primeiro é um ato normativo geral e abstrato e o segundo é um ato individual e concreto,
reportando-se a uma pessoa ou pessoas perfeitamente identificadas e visa regular uma certa
situação bem caracterizada. Esta distinção ganha relevância nas matérias de interpretação e
integração (regulamento segue o regime das normas jurídicas e o ato administrativo não), de
vício e formas de invalidade (o regulamento segue o regime das leis e o ato administrativo, em
regra, o do negócio jurídico) e de impugnação contenciosa (os regulamentos podem ser
impugnados em quaisquer tribunais, ao contrário dos atos administrativos que, salvo nos casos
de nulidade, só pode ser anulado pelos tribunais administrativos ou órgãos competentes para a
anulação administrativa. Por outro lado, os termos da impugnação contenciosa são diferentes).
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Competência e Forma:
O Governo tem competência regulamentar de acordo com o artigo 199º alíneas c) e g), sendo
esta exercida em regra pelo Ministro da pasta respetiva, só intervindo o Conselho de Ministros
quando a lei expressamente o preveja (ou por decorrer da circunstância de um assunto ser
levado a Conselho de Ministros e o Conselho entender que deve pronunciar-se sobre ele). Os
regulamentos podem revestir a forma de decreto regulamentar (como os regulamentos
independentes- impedido, com um regime mais exigente, que ao Governo e Administração
recorram a regulamentos independentes em vez de utilizarem diretamente um regulamento um
instrumento legislativo), resolução de Conselho de Ministros (mas estas não têm
necessariamente a natureza de regulamento). Quando o regulamento é emanado por um ou
mais ministros em nome do governo estamos presentes de uma portaria, não sendo esta
aprovada em Conselho de Ministros. Quando o regulamento é emanado por um ministro em
nome do seu ministério e não em nome do Governo, estamos perante um despacho normativo.
Nas Regiões Autónomas, tanto a AL como o GR têm competência regulamentar (227º/1 d) CRP).
O artigo 232º/1 CRP apresenta que a AL tem a competência exclusiva de emanar regulamentos
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que desenvolvam leis emanadas pelos órgãos de soberania, quando esses não reservem para si
essa competência. Pode ainda elaborar regulamentos de execução dos decretos legislativos
regionais. O artigo 231º/6 CRP define que compete exclusivamente ao GR regulamentar a
matéria relativa à sua organização e funcionamento. Este órgão tem ainda uma posição de
excelência em elaborar regulamentos de execução de decretos legislativos regionais. A CRP não
define a forma dos regulamentos, mas os Estatutos político-administrativos das RA definem que
os regulamentos emanados pela AR para executar leis dos órgãos de soberania têm de revestir
a forma de decreto legislativo regional (o que os subtrai do 112º/7 CRP e assumem força de lei
passando a não estar subordinados à lei que regulamentam) e que os regulamentos do GR
assumem a forma de decreto regulamentar regional.
O artigo 241º CRP atribui às autarquias locais o poder regulamentar, sendo este justificado pela
necessidade de responder às especificidades locais e materiais, às quais nem o legislador nem
os regulamentos governamentais estariam em condições de responder. As autarquias locais não
necessitam de uma lei prévia individualizada para cada caso no exercício do seu poder
regulamentar. Normalmente, os regulamentos locais são regulamentos independentes em que
a lei habilitante é a que define as atribuições de cada categoria de autarquias locais e o órgão
competente para os emitir. A forma mais corrente dos regulamentos das autarquias é a postura.
O poder regulamentar pertence à assembleia de freguesia e à assembleia municipal,
necessitando ambas da iniciativa do órgão executivo colegial correspondente (junta de freguesia
e câmara municipal). ´
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Caducidade dos Regulamentos (145º CPA): o regulamento caduca por ocorrerem determinados
factos que produzem esse efeito jurídico, sendo os principais casos de caducidade: o
regulamento ter sido feito para vigorar durante certo período (regulamento temporário ou
sujeito a termo) ou sujeito a uma condição resolutiva; e quando for revogada a lei que se
destinava a executar, sendo que por força do principio da eficiência administrativa, o
regulamento antigo pode subsistir na parte que se mostre materialmente conforme à nova
disciplina apresentada no caso de substituição da lei até um novo regulamento.
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objeto de declaração de ilegalidade com força obrigatória geral, nos termos do CPA (144º) ou
do CPTA (72º e ss.).
Ato Administrativo
Atos coletivos: atos que têm por destinatário um conjunto unificado de pessoas, isto é, um
determinado conjunto orgânico de pessoas. Freitas do Amaral considera que a dissolução de um
órgão colegial é um ato administrativo, visto que se dissolve um determinado órgão colegial
sendo o destinatário visto como uma unidade.
Atos plurais: são aqueles em que a Administração Pública toma uma decisão aplicável por igual
a várias pessoas diferentes. A nomeação de vinte funcionários para vinte vagas é um conjunto
de vinte atos administrativos, sujeitos ao regime do CPA.
Atos gerais: atos que se aplicam de imediato a um grupo inorgânico de cidadãos, todos bem
determinados ou determináveis no local (ex. ordem de um polícia para dispersar quando várias
pessoas estão a ver a montra). Os destinatários são identificáveis individualmente, sendo um
feixe de decisões concretas e individuais, e, portanto, de atos administrativos.
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Atos genéricos: comando administrativo que se dirige a categorias, classes ou grupos de sujeitos
mesmo restritos, como é um comando geral não é um ato administrativo, seguindo o regime do
CPA relativo aos regulamentos.
Natureza Jurídica do ato administrativo: o regime jurídico estabelecido por lei e adotado pela
jurisprudência para o ato administrativo não é, nos traços essenciais, suscetível de ser
reconduzido em bloco ao regime característico do negócio jurídico nem do regime típico da
sentença, na medida em que a atividade administrativa se distingue da atividade privada e das
demais atividades públicas, nomeadamente a jurisdicional. Assim, o ato administrativo é uma
figura com natureza própria e especifica sendo “um ato unilateral de autoridade ao serviços de
um fim da administração pública”. O género ato administrativo compreende duas espécies: atos
discricionários (exercício de poderes discricionários dentro dos limites da lei- semelhante com
negócio jurídico) e atos vinculados (exercício de poderes vinculados, sem liberdade de
conformação do conteúdo da decisão por parte do órgão decisório-semelhante sentença).
Assim, a estas duas espécies devem ser aplicadas se outra coisa não resultar da natureza
especifica do ato administrativo, respetivamente as regras do negócio jurídico e da sentença. O
papel da vontade no ato administrativo não é idêntico ao papel da vontade no negócio jurídico
ou na sentença e por isso reclama uma consideração própria e singular devido à sua natureza,
aplicando-se mais uma vez esses regimes às duas espécies de atos administrativos nos termos
apresentados quanto ao papel da vontade.
Elementos Subjetivos: o ato administrativo típico pôr em relação dois sujeitos de direito:
Administração e um particular; dois sujeitos de direito, podendo ser duas pessoas
coletivas públicas ou duas pessoas coletivas privadas. Poderá ainda ocorrer que o ato
ponha em relação mais que duas pessoas: atos multipolares, direcionados erga omnes
com eficácia em relação a terceiros, suscetíveis de afetar múltiplos particulares; e os
atos reais, sendo todos os sujeitos destinatários, pois o ato é dirigido erga omnes.
Elementos Formais: todo o ato administrativo tem necessariamente uma forma, isto é,
um modo pelo qual se exterioriza ou manifesta a decisão voluntária em que o ato
consiste. São ainda relevantes as formalidades prescritas pela lei para serem respeitadas
na fase de preparação da decisão ou na própria fase de decisão, consistindo estas nos
trâmites que a lei manda observar com vista a garantir a correta formação da decisão
administrativa à luz do interesse público, bem como o respeito pelos direitos subjetivos
e interesses legítimos dos particulares. As formalidades, ao contrário da forma, não são
elementos do ato, sendo-lhe anteriores, posteriores ou contemporâneas. No entanto,
segundo o princípio da impugnação unitária, a lei admite para além da impugnabilidade
autónoma de atos procedimentais lesivos, a possibilidade de os interessados
impugnarem o ato final com fundamento em ilegalidades cometidas ao longo do
procedimento.
Elementos Objetivos: são o objeto e o conteúdo. O conteúdo é a substância da decisão
voluntária em que o ato consiste, fazendo dele parte a decisão principal tomada
(conteúdo principal, necessário, que permite identificar o ato) e as clausulas acessórias
(conteúdo acessório que é facultativo). O objeto é a realidade exterior sobre a qual o
ato incide.
Elementos Funcionais: são a causa, os motivos e o fim. A causa é a função jurídico-social
de cada tipo de ato administrativo e, por outro lado, o motivo típico imediato de cada
ato administrativo (ex. a causa de nomeação é o preenchimento de lugares vagos). Os
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motivos são todas as razões de agir que impelem o órgão da administração a praticar
um certo ato administrativo ou dotá-lo de um determinado conteúdo. Os motivos
(porquê?) distinguem-se da causa, por esta ser o motivo típico imediato e os motivos
englobam os motivos mediatos e atípicos. Nos motivos determinantes destacam-se os
fundamentos da decisão, isto é, as razões de facto e de direito que determinaram a
decisão. O fim (para quê?) é o objetivo ou finalidade a prosseguir através da prática do
ato administrativo. Devemos distinguir entre o fim legal, isto é, o fim visado pela lei na
atribuição de certa competência a determinado órgão e o fim efetivo, ou seja, o que
seja prosseguido de facto pelo órgão num determinado caso.
Elementos do Ato Administrativo: são as realidades que integram o próprio ato, em si mesmo
considerado, podendo ser essenciais (aqueles sem os quais o ato não existe enquanto tal e nem
é sequer qualificável como ato administrativo) e elementos acessórios (podem ou não ser
introduzidos no ato pela Administração).
Requisitos do Ato Administrativo: exigências que a lei formula em relação a cada um dos
elementos do ato administrativo, dividindo-se em requisitos de validade, sem os quais o ato será
inválido e os requisitos de eficácia, sem os quais o ato será ineficaz.
• Atos Primários: são aqueles que versam pela primeira vez sobre uma determinada
situação da vida.
Atos Impositivos: são aqueles que impõem a alguém que adote uma conduta
ou que colocam o seu destinatário em situação de sujeição a um ou mais efeitos
jurídicos.
▪ Atos de comando: são aqueles que impõem a um particular a adoção
de uma conduta positiva (ordens) ou negativa (proibições).
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• Atos Secundários: são aqueles que versam sobre um ato primário anteriormente
publicado, tendo por objeto um ato primário preexistente ou versando sobre uma
situação que já tinha sido regulada através de ato primário.
Atos Integrativos: são os que visam completar atos administrativos anteriores.
▪ Aprovação: ato pelo qual um órgão da Administração exprime a sua
concordância com um ato anterior existente, já praticado por outro
órgão administrativo, e lhe confere eficácia. Esta aprovação pode ser ou
não tutelar. O ato principal é o ato aprovado, que apenas necessita do
ato de aprovação para lhe atribuir eficácia. Esta difere da autorização
por esta ser prévia, permitir a prática de atos futuros e ser uma
condição de validade (sendo inválido o ato não autorizado). O ato não
aprovado é ineficaz. Esta figura distingue-se da homologação na medida
em que, antes de esta ser praticada, não existe nenhum ato
administrativo, mas sim apenas um parecer ou uma proposta. Assim, a
homologação é um ato administrativo que absorve os fundamentos e
conclusões de uma proposta ou de um parecer apresentados por um
órgão.
▪ Visto: ato pelo qual um órgão competente declara ter tomado
conhecimento de outro ato, sem se pronunciar sobre o seu conteúdo
(visto cognitivo) ou declara não ter objeções de legalidade ou de mérito,
sobre o ato examinado e por isso lhe confere eficácia (visto volitivo). Ao
contrário de na aprovação em que se exprime uma concordância com o
conteúdo e oportunidade do ato, no visto volitivo apenas se expressa a
não objeção, não manifestando a sua opinião de fundo.
▪ Ato Confirmativo: ato administrativo pelo qual um órgão da
Administração reitera e mantém em vigor um ato administrativo
anterior (ex. recurso hierárquico que apenas confirma a decisão do
subalterno).
▪ Ratificação-confirmativa: é o ato pelo qual o órgão normalmente
competente para dispor sobre certa matéria exprime a sua
concordância relativamente a atos praticados, em circunstâncias
extraordinárias, por um órgão excecionalmente competente (ex.
competência excecional atribuída ao Presidente da Câmara). Se o órgão
não ratifica, o ato primário torna-se anulável. Este ato primário é eficaz,
mas não é definitivo (diverso do ato primário que será aprovado, visto
ser definitivo, mas não eficaz).
Atos Saneadores
Atos Desintegrativos
• Atos Instrumentais: são as pronúncias administrativas que não envolvem uma decisão
de autoridade, antes são auxiliares relativamente a atos decisórios.
Simples Declarações: são atos auxiliares pelos quais um órgão ou agente da
Administração exprime oficialmente o conhecimento que tem de certos factos
ou situações. É o caso das participações (atos pelos quais um agente da
autoridade participa um crime de que tomou conhecimento), certificados e
certidões (atos pelas quais a Administração declara ao público quais são os
factos ou situações de que tem conhecimento oficial por se encontrarem
documentados nos seus registos ou nos seus arquivos próprios), atestados e
informações prestadas ao público- são todos declarações de conhecimento. O
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CPA chama a estes atos certificativos (161º/1 alínea j)), mas que podem ser
meras informações verbais que esclarecem apenas. Estes atos limitam-se a
verificar a existência ou a reconhecer a validade de factos ou situações que já
existiam. Têm em princípio eficácia retroativa, valendo o reconhecimento a
partir do momento em que os direitos ou situações reconhecidas nasceram.
Atos Opinativos: atos pelos quais um órgão da administração emite o seu ponto
de vista fundamentado acerca de uma questão técnica ou jurídica.
▪ Informações Burocráticas: opiniões prestadas pelos serviços ao superior
hierárquico competente para decidir.
▪ Recomendações: atos pelos quais se emite uma opinião,
consubstanciando um apelo a que o órgão competente ou outro
destinatário decida de certa maneira, mas que não o obrigam a tal. São
opiniões reforçadas, na medida em que não apresentam apenas uma
opinião, propõem que ela seja seguida, incentivando ou apelando ao
órgão decisório que resolva no sentido apresentado ou que o órgão ou
outro destinatário atue de certo modo. Não são opiniões vinculativas,
mas o destinatário delas acarreta com a responsabilidade de as ter
ignorado.
▪ Pareceres: são atos opinativos elaborados por peritos especializados em
certos ramos do saber ou por órgãos colegiais de natureza consultiva.
Estes poderão ser obrigatórios ou facultativos, consoante a lei imponha
ou não a necessidade de eles serem emitidos e poderão ser vinculativos
ou não vinculativos, conforme a lei imponha ou não a necessidade de
as suas conclusões serem seguidas pelo órgão decisório competente. A
regra apresentada no artigo 91º/2 CPA é a de que, salvo disposição
expressa em contrário, os pareceres legalmente previstos são
obrigatórios e não vinculativos. Aos pareceres falta autonomia para,
sem mediatização de um outro ato jurídico produzirem efeitos jurídicos
numa esfera externa ao órgão emitente. No entanto, se os pareceres
forem vinculativos, o órgão que emite o parecer é que realmente
decide, sendo o ato posterior apenas uma formalização do que já estava
pré-determinado- o ato administrativo passa a ter dois autores. Se o
parecer for obrigatório e não existir gera um vício de forma; se for
obrigatório e também vinculativo, a sua falta gera uma dupla
ilegalidade: vicio de forma e incompetência (a competência era
conjunta e um dos órgãos não se pronunciou). Os pareceres devem
sempre ser fundamentados e concluir de um modo expresso e claro
sobre todas as questões indicadas na consulta, sob pena de serem nulos
(92º/1 e 161º/2 alínea c), segunda parte CPA). Os números 2, 5 e 6 do
artigo 92º CPA apresentam que em regra a lentidão da administração
consultiva não deve bloquear a eficiência da administração ativa.
• Quanto ao autor:
Decisão: todo o ato administrativo (148º CPA). As decisões individuais são
aquelas que são praticadas por atos individuais.
Deliberação: apenas as decisões (coletivas) tomadas por órgãos colegiais,
mediante um procedimento deliberativo.
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Procedimento Administrativo
A atividade administrativa não se esgota na tomada de decisões, visto que antes e depois de
cada decisão há sempre um conjunto de passos a tomar. A atividade da Administração Pública
é em larga medida uma atividade processual, isto é, sobre cada assunto, começa num
determinado ponto e depois caminha por fases, desenrola-se de acordo com um certo modelo,
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avança pela prática de atos que se encadeiam uns nos outros e pela observância de certos
trâmites, de certas formalidades e de certos prazos que se sucedem numa determinada
sequência- esta que se denomina procedimento administrativo.
Em suma, a regulamentação visa garantir a melhor ponderação da decisão a tomar à luz da lei e
do interesse público e, por outro lado, assegurar o respeito pelos interesses e direitos legítimos
dos particulares (ver acórdão do STA de 1950). São típicas normas do Direito Administrativo que
procuram conciliar as exigências do interesse coletivo com as exigências legitimas dos interesses
individuais.
Tese Processualista (Marcello Caetano, Marques Guedes, Rui Manchete, Alberto Xavier
e Freitas do Amaral): o procedimento administrativo é um autêntico processo,
considerando que o procedimento administrativo e o processo judicial são espécies do
mesmo género. Freitas do Amaral apresenta que, apesar de não ter dúvidas da distinção
entre o procedimento administrativo e o processo judicial, considera que são duas
espécies diferentes, mas no mesmo género- o processo, isto é, a sucessão ordenada de
atos e formalidades tendentes à formação ou à execução de uma vontade funcional.
Tese Anti Processualista (Afonso Queiró e Rogério Soares): o procedimento não é um
processo, considerando que o processo judicial e o procedimento administrativo são
géneros diversos.
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dada integral satisfação destes direitos, o interessado pode requerer uma intimação da
autoridade administrativa competente (104º-108º CPTA).
g) Participação dos particulares na formação das decisões que lhes respeitem: este
princípio está presente no artigo 267º/5 da CRP e no artigo 12º do CPA. Este manifesta-
se de diversas formas (direito de formular sugestões à Administração Pública, direitos
de lhe prestar informações e o ónus dos interessados durante a fase da instrução do
procedimento), sendo a mais relevante o direito de audiência prévia dos particulares
relativamente à tomada de qualquer decisão administrativa que lhes diga respeito. A Lei
nº 83/95 define os casos e termos em que é conferido e pode ser exercido o direito de
participação popular em procedimentos administrativos.
h) Principio da decisão: vem estabelecido no artigo 13º do CPA, tendo como conteúdo a
pretensão de que a administração se pronuncie sempre que para tanto é solicitada pelos
particulares e também facilitar a proteção dos particulares (ou qualquer pessoa pública
ou privada cuja posição jurídica esteja dependente de uma decisão procedimental da
competência de um órgão administrativo) em face a omissões administrativas ilegais,
garantindo, por exemplo, o direito de reagir em tribunal contra a passividade
administrativa pela existência de um dever legal de decidir.
i) Princípio da gratuitidade: presente no artigo 15º do CPA.
j) Proteção de dados pessoais: presente no artigo 18º do CPA.
k) Cooperação leal com a União Europeia: presente no artigo 19º do CPA, explicado pela
crescente participação da União Europeia no processo de decisão da Administração
Nacional e pela participação de instituições e organismos da primeira em
procedimentos administrativos nacionais. Assim, a Administração Nacional está
vinculada a prestar informações que forem solicitadas pela União Europeia, bem como
apresentar propostas ou colaborar com a Administração Pública de outros estados.
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A Atuação da Administração Pública sem pleno respeito pelas formas legais do procedimento:
Estado de Necessidade: por vezes ocorrem situações nas quais a lei permite à
Administração uma atuação imediata e urgente com vista à salvaguarda de bens
essenciais, mesmo que para isso os agentes administrativos tenham de ignorar o
respeito de regras estabelecidas para circunstâncias normais. Este é regulado no artigo
3º/2 do CPA e conjugando com os artigos 19º e 266º/2 CRP, surge um afloramento de
um princípio geral de direito administrativo que considera o estado de necessidade
como causa de exclusão da ilicitude. O Estado de Necessidade deverá ter como
pressupostos: situação de autêntica necessidade a resolver; natureza imperiosa do
interesse público a defender; excecionalidade da situação; ausência de alternativas
menos gravosas.
Urgência: todas as situações da vida real em que, pela sua especial gravidade ou
perigosidade, a Administração Pública tem o poder legal de efetuar uma intervenção
imediata, sob pena de, se for mais demorada, se frustrar a possibilidade de atingir os
fins de interesse público postos por lei a seu cargo. A urgência é uma realidade ordinária,
ainda que eventual da ação da administração pública, visto que está prevista na lei para
situações em que ocorra um perigo atual e iminente que ameace a satisfação de um
interesse publico legalmente protegido e imponha uma atuação imediata e inadiável,
mas apenas tem lugar quando se verifiquem situações de perigo. Por outro lado, os
procedimentos em urgência traduzem formas simplificadas de agir (ex. 26º/2 CPA) e a
atuação administrativa urgente está em qualquer caso prevista na lei- é uma atuação
legal especial, e não uma atuação excecional. Tanto a urgência como o estado de
necessidade se mostram enquadrados na ideia de exigência pública de ação imediata
da Administração e importam a legitimação de atuações que, à luz das normas
consagradas, seriam inválidas. A urgência e o estado de necessidade são, no entanto,
figuras distintas: existem situações de estado de necessidade que não dão lugar a
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Requisitos de Validade do Ato Jurídico, isto é, exigências que a lei faz relativamente a cada um
dos elementos deste para que o ato possa ser válido.
• Quanto aos sujeitos: o ato tem de inscrever no âmbito das atribuições da entidade a
que pertence o órgão seu autor, o órgão tem de ter competência para a prática do ato
administrativo e o órgão tem de ser concretamente legitimado para o exercício dessa
competência (ex. órgão colegial esteja regularmente constituído). A autoria real é do
órgão (do seu titular), mas a autoria jurídica é imputada por lei à pessoa coletiva. Quanto
aos destinatários do ato administrativa, a lei existe que sejam identificados de forma
adequada (151º/1 b) CPA), tendo este ato que assegurar o conhecimento claro e certo
de quem é seu destinatário, para permitir a imputação subjetiva dos respetivos efeitos
a uma determinada pessoa.
• Quanto à forma e às formalidades: a regra no direito português é a de que todas as
formalidades prescritas por lei são essenciais, sendo a sua omissão causa de ilegalidade
do ato administrativo. Esta regra tem como exceções: as formalidades que a lei declarar
indispensáveis: as cuja omissão ou preterição não tenha impedido a consecução do
objetivo visado pela lei ao exigi-las (degradação das formalidades essenciais em
formalidades não essenciais); formalidades meramente burocráticas, de caráter
interno, tendentes a assegurar apenas a boa marcha dos serviços. A preterição em
certas formalidades pode ser suprível, isto é, se forem cumpridas em momento
posterior ainda vão a tempo de garantir os objetivos para que foram estabelecidas. Por
outro lado, a preterição de certas formalidades pode ser insuprível, ou seja, têm de ter
lugar no momento em que lei exige que sejam observadas (ex. audiência do arguido
antes de ser punido).
Obrigação de fundamentar o ato (formalidade essencial-152º a 154º CPA): a
fundamentação de um ato administrativo consiste na enunciação explicita das
razões que levaram o seu autor da praticar esse ato ou a dotá-lo de certo
conteúdo. O artigo 152º/1 apresenta-nos o elenco de atos que devem ser
fundamentados, sendo aqueles que são lesivos de interesses de terceiros. Qual
a razão de ser do dever de fundamentar? Esclarecer concretamente a motivação
do ato, permitindo a reconstrução do iter cognoscitivo que levou à adoção de
um ato com determinado conteúdo. Permite ainda a defesa do particular, que
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pelo ato) terá de ser determinado, possível e lícito e no caso de atos certificativos terá
de ser verdadeiro. A lei exige que a vontade em que o ato administrativo se traduz seja
esclarecida e livre. Poderão ser apostas ao ato administrativo clausulas acessórias,
sendo estas válidas se não contrariarem a lei ou o fim a que o ato se destina, se tiverem
uma relação direta com o conteúdo principal do ato e respeitarem os princípios jurídicos
aplicáveis, nomeadamente o da proporcionalidade. No entanto, a aposição de clausulas
acessórias a atoa administrativos de caráter vinculativo só é admissível quando a lei o
preveja ou quando vise assegurar a verificação futura de pressupostos legais ainda não
preenchidos no momento da prática do ato (149º/2 CPA). Se a clausula teve um peso
preponderante e exprime o motivo determinante da prática do ato, a invalidade dessa
acarreta a invalidade do próprio ato, pois presume-se que a Administração não o teria
praticado independentemente da condição. Na situação diversa, o ato é válido e a
clausula tem-se como não escrita.
• Quanto ao fim: a lei exige que o fim efetivamente prosseguido pelo órgão da
administração coincida com o fim legal, isto é, com o fim que a lei teve em vista ao
conferir os poderes para a prática do ato, isto é, aquele interesse público cuja realização
o legislador pretende quando confere à Administração um determinado poder de agir.
No domínio dos atos vinculados, o fim não tem autonomia, não sendo relevante. O
critério prático para a determinação do fim do ato é o do motivo principalmente
determinante: exige-se que o motivo principalmente determinante da prática de um ato
administrativo coincida com o fim tendo em vista pela lei ao conferir o poder
discricionário. Caso não seja assim, o ato é ilegal e inválido. Se apenas os motivos
secundários não coincidirem com o fim legal, o ato não será inválido, a menos que algum
desses motivos seja causa de nulidade.
Eficácia: efetiva produção de efeitos jurídicos pelo ato, a projeção na realidade da vida dos
efeitos jurídicos que integram o conteúdo de um ato administrativo. A eficácia será o fenómeno
de não-produção de efeitos num dado momento, qualquer que seja a sua causa.
Requisitos de eficácia de um ato administrativo, isto é, aquelas exigências que a lei faz para que
o ato administrativo, uma vez praticado, possa produzir efeitos jurídicos. A regra no direito
português é a de que o ato administrativo produz efeitos desde o momento da sua prática
(princípio da imediatividade dos efeitos jurídicos). O artigo 155º/2 CPA apresenta-nos que o ato
administrativo se considera praticado logo que se encontrem reunidos, nos termos definidos
pela lei, os seus elementos essenciais. Este princípio da imediatividade comporta duas exceções:
o ato pode produzir efeitos a partir de um momento anterior ao da sua prática, tendo eficácia
retroativa (156º); ou poderá produzir apenas os seus efeitos em momento posterior ao da sua
prática, tendo eficácia diferida ou condicionada (157º).
• Casos de Eficácia Retroativa: este tipo de eficácia é regra quando, pela sua própria
natureza, os atos administrativos se reportem a atos anteriores. Esta eficácia surge
como uma faculdade do autor do ato quando não ponha em causa a segurança jurídica
e confiança na Administração. Têm eficácia retroativa os atos administrativos que se
limitem a interpretar atos anteriores e aqueles a que a lei atribua efeito retroativa
(156º/1). No artigo 156º/2 enumera-se as situações em que o autor do ato pode
atribuir-lhe eficácia retroativa: quando a retroatividade seja favorável aos interessados
e não lese direitos ou interesses legalmente protegidos de terceiros, desde que à data
a que se pretende remontar a eficácia do ato já existissem pressupostos justificativos
dos efeitos a produzir, isto é, que o autor já fosse competente para tomar a decisão e
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Invalidade
Noção: valor jurídico negativo que afeta o ato administrativo em virtude da sua inaptidão
intrínseca para a produção dos efeitos jurídicos que deveria produzir. Existem outras fontes de
invalidade para além da ilegalidade.
• Ilegalidade do ato administrativo: o ato administrativo é ilegal por ser contrário à lei
(que inclui a Constituição, lei ordinária, regulamentos, contratos administrativos,
clausulas de caráter normativo, atos normativos constitutivos de direitos com força de
“caso decidido”). A ilegalidade pode revestir diversas formas, sendo essas os vícios do
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Extinção e Modificação
Nos atos de execução instantânea os efeitos cesso imediatamente com a prática do ato. Nos
atos de execução continuada os efeitos perduram no tempo, só se extinguido decorrido certo
período. A certos atos podem ser apostos um termo final ou uma condição resolutiva, cessando
os efeitos do ato quando se atinge esse termo ou verificada a condição. Para além destas
situações, um órgão administrativo pode praticar atos expressamente destinados a extinguir os
efeitos de um ato anterior, quer fazendo cessar esses efeitos para o futuro, quer destruindo-os
desde o momento da sua prática. Neste sentido, importa atender à revogação (165º/1 CPA) e
anulação administrativa (165º/2 CPA). A modificação do ato administrativo pode ocorrer por
diversas razões, mas na maior parte dos casos, modificar um ato interfere sempre com todos ou
partes dos efeitos jurídicos de um ato anterior.
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Revogação: é o ato administrativo que decide extinguir, por razões de mérito, conveniência ou
oportunidade, no todo ou em parte, os efeitos de um ato administrativo anterior. O órgão que
exerce a revogação elimina a disciplina resultante do ato revogado abstendo-se de introduzir
uma nova disciplina. A finalidade é a melhor prossecução do interesse público atual. Tem na sua
base um juízo de mérito, sendo uma nova valoração administrativa dos efeitos atuais ou
potenciais de um ato administrativo anterior, à luz do interesse público. Será ainda admitida a
revogação sancionatória, isto é, impõem-se a revogação como sanção administrativa pelo
incumprimento, pelo particular, de clausulas, deveres ou obrigações que o ato primário lhe
impusera, tendo como finalidades o impedimento da ocorrência de uma transformação do ato
administração em decisão pública mantida para fins exclusivos de caráter privado e a efetivação
da função sancionatória do Direito. Se um ato revogatório não tiver estas finalidades, carece de
desvio de poder. A revogação, em regra, apenas produz efeitos para o futuro- eficácia ex nunc
(“desde agora”) (171º/1 primeira parte). A atribuição de eficácia ex tunc à revogação não pode
ser feita livremente, sob pena de se prejudicar a tutela da confiança dos particulares. Assim, a
revogação com eficácia ex nunc ocorrerá quando o órgão administrativo competente mude de
critério e resolva extinguir um ato anterior, que primeiro julgou conveniente ao interesse
público, mas que agora considera inconveniente. A eficácia ex tunc poderá ser utilizada nos
casos em que não seja afetada a confiança que os particulares depositaram na Administração
(171º/1 segunda parte CPA). A base da eficácia da revogação é a ideia de que as mudanças de
critério dos órgãos administrativos só podem afetar o futuro, não o passado, só o afetando a
título excecional (ex. particulares concordam). Salvo se a lei dispuser de forma diferente,
seguindo o princípio geral de direito, as revogações sancionatórias não têm caráter retroativo.
A revogação e anulação administrativas são atos secundários, visto que os seus efeitos jurídicos
recaem sobre um ato anteriormente praticado, não se concebendo a sua existência desligada
desse ato preexistente. Estas figuras têm como conteúdo a decisão de extinguir os efeitos do
ato anterior que é seu objeto. Note-se que são atos administrativos e por isso seguem o regime
desses.
Figuras afins:
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Regra da modificabilidade dos atos administrativos: os atos administrativos são em regra e por
natureza modificáveis, tendo os órgãos administrativos a faculdade de, respeitados, certos
limites, extinguir os efeitos dos atos que anteriormente praticaram, desde que os reputem como
inválidos ou inconvenientes. Ora, a modificabilidade é uma característica própria do ato
administrativo, pois a função administrativa visa regular situações presentes ou futuras em
regra.
Atos insuscetíveis de revogação ou anulação administrativa: atos nulos (166º/1 alínea a) CPA),
visto que não se pode destruir efeitos inexistentes; atos cujos efeitos já tenham sido destruídos
através de anulação contenciosa ou de revogação com eficácia retroativa (166º/1 alíneas b) e c)
CPA), visto que faltam os efeitos obre os quais possa recair o ato revogatório ou anulatório; e
atos cujos efeitos tenham caducado ou se encontrem todos produzidos ou esgotados, não
podendo estes ser alvo de revogação com eficácia ex nunc, pois já não estão a produzir efeitos.
Podem, no entanto, ser alvo de anulação administrativa ou revogação com eficácia retroativa,
pois pode eliminar-se os efeitos já produzidos pelo ato e que perdurem na ordem jurídica
(166º/2).
(1) Atos Livremente Revogáveis: ora, os atos administrativos são por norma livremente
revogáveis, produzindo a revogação em regra efeitos para o futuro. Tudo se percebendo
atendendo ao princípio constitucional da prossecução do interesse público a que a
administração está vinculada. Contudo, a revogação deve ser sempre tomada com
precaução e não de forma completamente descondicionada (ex. princípio da igualdade
pode excluir a revogação de um ato válido desfavorável).
(2) Atos de Revogação Proibida: o ato administrativa, face a impossibilidade de revogação,
mas deve revogar o ato, sob pena de ilegalidade por violação de lei. Não podem revogar-
se atos que tenham sido praticados no exercício de poderes vinculativos ou de estrita
obediência a uma imposição legal (167º/1 primeira parte CPA), sob pena de ser
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praticada por revogação ilegal por se gerar uma violação da lei inicialmente acatada.
Também não podem ser revogados os atos válidos de que resultem para o seu autor
obrigações legais ou direitos irrenunciáveis (167º/1 segunda parte), pois revogar esse
ato seria ignorar a obrigação importa por uma lei, e consequentemente violar essa lei
ou renunciar a um direito que a lei considera irrenunciável, sendo, portanto, uma
revogação ilegal.
(3) Atos constitutivos de direitos: podem ser revogáveis, mas dentro de certas condições,
atendendo ao princípio da segurança jurídica e proteção da confiança. Para este efeito
consideram-se atos constitutivos de direitos os atos administrativos que atribuam ou
reconheçam situações jurídicas de vantagem ou eliminem ou limitem deveres, ónus,
encargos ou sujeições, salvo quando a sua precariedade decorra da lei ou da natureza
do ato (167º/3 CPA). Estes atos atribuem posições jurídicas subjetivas de vantagem a
particulares, e, portanto, à luz do princípio da confiança, os cidadãos têm o direito de
poder confiar que as decisões incidentes sobre os seus direitos ou posições jurídicas,
alicerçadas normas jurídicas e válidas, produzem efeitos previstos e prescritos pelas
normas jurídicas e válidas. Existe, por isso, uma tendencial irrevogabilidade dos atos
constitutivos de direitos. São excluídos desses atos constitutivos de direitos, os atos
precários que são praticados em cenários de incerteza ou de risco e atendendo que
surgem da necessidade de salvaguarda da capacidade de reagir perante novas
circunstâncias objetivas ou tendo em conta novas informações ou conhecimentos
entretanto adquiridos pela Administração. Os atos constitutivos de direitos podem,
segundo o artigo 167º/2 CPA alíneas a) e b), ser revogados na parte em que seja
desfavoráveis aos interesses dos seus destinatários ou no caso de todos os interessados
darem a sua concordância à revogação do ato, desde que não se trate de direitos ou
interesses indisponível. Estes dois casos têm em comum o facto de a revogação não
prejudicar as posições subjetivas dos particulares, no todo ou então com consentimento
dos interessados. A revogação de atos constitutivos de direitos torna-se possível ainda
nos casos em que nem sequer existe razão de ser para a criação de uma situação de
confiança legitima, ou seja, se tiver sido imposta uma reserva de revogação (167º/1
alínea d) e 149º CPA), visto que o seu destinatário sabe desde inicio que o ato pode ser
revogado. Por último, este género de atos pode ser revogado para garantir a prevalência
do interesse público, isto é, mesmo que exista uma situação de confiança legitima,
entendesse que o interesse público deve prevalecer face aos interesses privados,
exigindo-se que a lei pague ao particular uma indemnização. Assim, desde que seja
demonstrada, fundamentadamente, a existência de um interesse público cuja
satisfação à luz de um juízo de ponderação deva prevalecer sobre o interesse privado
de um particular na manutenção do ato e desde que se garanta ao particular uma justa
indemnização pecuniária, deve ser possível a revogação de um ato constitutivo de
direitos, apesar de termos que atender que esta situação é claramente excecional.
Ainda, podemos referir os casos da alínea c) do artigo 167º/1 CPA, em que será possível
a revogação dos atos constitutivos de direitos, quando supervenientemente surgem
conhecimentos técnicos e científicos ou existe uma alteração objetiva das circunstâncias
de facto, em face das quais não seriam praticados os atos. O prazo para a revogação
fundada nestas razões é de 1 ano (ou dois fundadamente) a contar do conhecimento ou
da alteração. A revogação leva a que os particulares tenham direito a uma indemnização
por sacrifício, salvo nos casos em que a afetação do direito, elimine ou restrinja o
conteúdo essencial desse direito, tendo o beneficiário de boa fé do ato revogado direito
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Se estiverem em causa atos constitutivos de direitos, o prazo será de um ano a contar da data
da respetiva emissão (168º/2 CPA), salvo nas seguintes circunstâncias (se a lei ou o DUE não
fixarem prazo diferente) em que o prazo é de 5 anos a contar da respetiva emissão (168º/4 CPA):
a) quando o respetivo beneficiário tenha utilizado artificio fraudulento com vista à obtenção da
sua prática; b) apenas com eficácia para o futuro, quando se trate de atos constitutivos de
direitos à obtenção de prestações periódicas, no âmbito de uma relação continuada; c) quando
se trate de atos constitutivos de direito cuja legalidade possa ser objeto de fiscalização
administrativa para além do prazo de 1 ano com imposição do dever de restituição das quantias
indevidamente auferidas. A anulação de atos constitutivos de direito atribui aos beneficiários
que desconhecessem sem culpa a existência da invalidade e tenham auferido, tirado partido ou
feito uso da vantagem em que o ato os colocava, o direito de serem indemnizados pelo danos
anormais que sofram em consequência da anulação (168º/6 CPA).
Os efeitos da anulação administrativa estão presentes nos artigos 171º e 172º CPA,
apresentando que os efeitos do ato anulado têm-se como não produzidos, tornando-se os atos
de execução e os atos consequentes do ato renovado ilegais e as operações materiais
desencadeadas ao abrigo do ato revogado tornam-se ilícitas. Tudo se passa como se o ato nunca
tivesse existido. A administração tem o dever de reconstituir a situação que existiria se o ato
anulado não tivesse sido praticado.
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um órgão incompetente praticar um ato, o órgão competente sobre essa matéria pode
anular administrativamente o ato, mas não pode revogá-los, visto que o dever de anular
atos ilegais não inclui o poder de revogar por motivos de mérito. O órgão incompetente
não pode nem revogar nem anular o ato, visto que o autocontrolo da validade do ato e
a revogação estão associados à competência dispositiva, a qual o órgão não tem.
Superior Hierárquico: o superior hierárquico tem competência para revogar a anular
administrativamente o ato praticado pelo seu subalterno, com a ressalva de que não
pode revogar atos praticados ao abrigo da competência exclusiva do subalterno, ou seja,
esta faculdade do superior hierárquico só existe nos casos de competência comum
(fundamento é a competência dispositiva) e competência própria (fundamento é o
poder de supervisão). O exercício desta faculdade pode resultar da avocação do superior
hierárquico ou da interposição de recurso hierárquico por parte do interessado (169º/1
CPA e 197º/1 CPA).
Delegante/ Subdelegante: este tem poderes de revogar ou anular administrativamente
os atos praticados pelo delegado ou pelo subdelegado, no âmbito dos poderes cujo
exercício lhes foi transferido (169º/4 CPA). O fundamento é a ideia de que se o
delegante pode a qualquer momento revogar o ato de delegação, pode também anular
ou revogar os atos praticados ao abrigo dessa delegação, desde que os considere ilegais
ou inconvenientes.
Órgão com poderes de superintendência e tutela: a competência de revogar e anular os
atos praticados pelo órgãos sujeitos a superintendência e tutela só existe a título
excecional, quando é expressamente incluída nos poderes e superintendência e tutela,
não sendo uma competência geral dos órgãos que exercem poderes de
superintendência e tutela (169º/5 CPA).
A revogação dos atos ilegais é um poder vinculado, existindo um dever de revogar. Existem
certos casos em que atendendo ao princípio da legalidade e a um dever de justiça a
administração tem de anular os atos que considera ilegais: A) atos ilegais apreciados em sede
de reclamação; B) atos ilegais apreciados em sede de recurso hierárquico; C) atos ilegais
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O efeito repristinatório só faz sentido ser colocado nos casos em que existam duas revogações
e/ou anulações consecutivas, e, portanto, na maioria dos casos a revogação e anulação não têm
efeito repristinatório.
Nas situações em que o efeito repristinatório faz sentido ponderar teremos duas situações: (1)
quanto à revogação (171º/2 CPA), tratando-se de um ato de carater discricionário, a produção
ou não deste efeito depende da vontade que o órgão administrativo manifestar quanto a isso,
existindo se houver declaração do órgão, não sendo possível presumi-lo no seu silêncio; (2)
quanto à anulação, ela produz efeito repristinatórios e, quando tenha por objeto a anulação de
um ato revogatório, só não determina a repristinação do ato revogado se a lei ou o ato de
anulação assim expressamente dispuserem (171º/4 CPA). Podemos concluir que, em regra, a
revogação e anulação administrativa têm uma natureza negativa ou destrutiva, visando
extinguir e não repor em vigor atos anteriormente circunstâncias, não obstante as circunstâncias
em que podem ter natureza constitutiva ou repristinatório.
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A suspensão paralisa temporariamente os efeitos jurídicos de um ato, podendo esta ter como
fonte a lei, ato administrativo ou decisão de um tribunal administrativo. A suspensão legal
ocorre quando certos factos, nos termos da lei, produzem automaticamente o efeito suspensivo
(ex. subordinação de um ato a condição suspensiva ou a termo inicial e impugnação contenciosa
administrativa de atos insuscetíveis de imediata impugnação contenciosa- 189º/1 CPA). A
suspensão administrativa ocorre sempre um órgão para o efeito competente decida, por ato
administrativo, suspender um ato administrativo anterior. Que órgão podem proceder a essa
suspensão: órgãos a quem a lei confere expressamente esse poder; órgão competente para a
decisão final, enquanto medida provisória requerida pelos interessados ou ordenada
oficiosamente no quadro de um procedimento de revogação ou anulação administrativa (89º e
90º); e o órgão competente para apreciar a impugnação administrativa facultativa (189º/2). A
suspensão jurisdicional é aquela que pode ser decidida pelo tribunal administrativo competente,
através da adoção de uma providência cautelar conservatória , destinada a assegurar a utilidade
da sentença que haja de ser proferida numa ação de impugnação de atos administrativos (ex.
CPTA 112º/2 alínea a)).
A retificação é o ato administrativo secundário que visa emendar os erros de calculo (operações
matemáticas) ou os erros materiais (redação) contidos num ato administrativo primário
anterior. Ocorre quando existem erros na expressão da vontade do órgão administrativo
(174º/1 CPA). Se os erros forem manifestos, ou seja óbvios, evidentes e ostensivos, aplica-se o
regime especial (174º CPA). Se não forem manifestos, segue-se o regime geral da revogação. O
artigo 174º CPA apresenta: os erros manifestos podem ser retificados pelo órgão competente
para a revogação do ato; pode ser retificado a todo o tempo, mesmo depois de expirado o tempo
mais longo que existisse para a revogação; pode ser lugar oficiosamente ou a pedido dos
interessados; tem efeitos retroativos; e deve ser feita sob a forma e com publicidade usadas
para a prática do ato retificado. A administração quando toma conta do erro tem o dever jurídico
de o ratificar.
Ratificação: ato pelo qual o órgão competente decide sanar um ato inválido anteriormente
praticado, suprindo a ilegalidade que o vicia.
Reforma; ato administrativo pelo qual se conserva de um ato anterior a parte não afetada de
ilegalidade.
Conversão: ato administrativo pelo qual se aproveitam os elementos válidos de um ato ilegal
para com eles se compor um outro ato que seja legal.
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Os atos nulos são insanáveis, ou seja, não se pode suprir a ilegalidade que os vicia, mas através
da reforma e conversão, é possível que se elimine a ilegalidade da parte do ato viciada ou que
se elimine os elementos viciados e com os elementos sãos se pratique um ato de tipo diferente.
Execução
Para que ocorra execução coerciva é necessário que: a) exista um ato administrativo que de
forma imediata, crie ou estabeleça deveres ou encargos para um particular, obrigando-o a uma
determinada prestação; b) verifique a recusa do destinatário do ato de efetuar o seu
cumprimento voluntário; c) a lei não se oponha à execução por via administrativa.
O artigo 176º/1 CPA regula os casos em que a Administração pode exercer a execução, mas esse
artigo ainda não se encontra em vigor, vigorando o artigo 149º/2 CPA de 1991 (que determina
que a Administração pode sempre executar coercitivamente os seus atos executórios por via
administrativa, mas ao executar, só pode fazê-lo pelas formas e nos termos previstos no CPA ou
admitidos por outras leis), visto que necessidade que sejam determinados os casos de
habilitação especifica da Administração para executar os seus próprios atos, o que ainda não
ocorreu.
Princípios Gerais de Execução: (1) princípio da legalidade da execução, isto é, toda a execução
coativa por via administrativa terá de ser feita com base em habilitação legal especifica e pelas
formas e nos termos por ela previstos, salvo os casos de urgente necessidade pública e nos casos
e medidas policiais de coação direta. A execução coerciva de obrigações pecuniárias é sempre
possível nos termos do processo de execução fiscal, ou seja, quando por força de um ato
administrativo, devam ser pagas prestações pecuniárias a uma pessoa coletiva pública, ou por
ordem desta, segue-se na falta de pagamento voluntário no prazo fixado, o processo de
execução fiscal (176º/2 e 179º CPA); (2) principio do ato administrativo prévio: a administração
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não pode realizar operações materiais e executivas sem ser com base um ato administrativo
anterior que as legitime (ato exequendo- 177º/1 CPA); (3) principio da procedimentalização da
execução: a execução segue sempre um procedimento próprio e autónomo, que se inicia com a
emissão de uma decisão fundada de proceder à execução, na qual o órgão competente
determina o conteúdo e os termos da execução (177º/2 CPA); (4) principio da subsidiariedade:
a administração apenas pode impor as suas decisões pela força, se esgotou a possibilidade de
as mesmas serem voluntariamente cumpridas pelos destinatários, sendo a execução notificada
ao destinatário que tem um prazo para o cumprimento da obrigação (177º/3 CPA); (5) principio
da proporcionalidade: na execução devem ser usados meios que envolvam um melhor prejuízo
para direitos e interesses dos particulares (178º/1 CPA); (6) principio da humanidade da
execução: a administração não pode utilizar meios de coação que violem direitos fundamentais
ou sejam contrários ao respeito pela pessoa humana.
Regime da execução:
a) Pagamento de quantia certa (179º/1 CPA): a lei portuguesa não autoriza a execução
forçada por via administrativa nestes casos, sendo o único caminho a seguir o da via
judicial, através do processo de execução fiscal nos tribunais tributários, nos termos da
lei tributária, sendo isto uma exceção ao privilégio da execução prévia.
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Espécies:
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Sabemos que a responsabilidade civil consiste na obrigação de responder pelos danos causados
a outrem (obrigação de indemnizar). Embora a responsabilidade da Administração tenha
algumas particularidades, não é inteiramente diversa da responsabilidade do direito privado, na
medida em que a Administração responde tanto extracontratualmente como contratualmente.
Por outro lado, sempre que a Administração atue ao abrigo de normas de direito privado, fora
do âmbito do próprio exercício da função administrativa também poderá ficar constituída no
direito de indemnizar danos causados a terceiros (501º CC, 22º CRP), assim como fica incumbida
de responder pelos prejuízos causados no âmbito do incumprimento dos contratos de direito
privado celebrados pela Administração (406º/1, 798º e 800º/1). Quanto ao exercício da função
administrativa, isto é, no exercício de prerrogativas de poder público ou que sejam reguladas
por disposições ou princípios de direito administrativo, aplica-se o Regime da Responsabilidade
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Civil Extracontratual do Estado e das demais Entidades Públicas (RCEEP), mesmo às pessoas
coletivas de direito privado e respetivos trabalhadores, titulares de órgãos sociais,
representantes legais ou auxiliares. Quanto aos contratos administrativos deverá ter-se em
conta o Código dos Contratos Públicos (CCP).
A responsabilidade civil tem como principal função ressarcir ou indemnizar prejuízos que,
segundo o curso normal dos acontecimentos, não deveriam ter ocorrido, isto é, colocar o lesado
na situação em que o mesmo se encontraria, caso tudo se tivesse passado como seria de esperar
de acordo com o que é habitual ocorrer. O exercício da função administrativa implica
frequentemente o uso de poderes de autoridade, que podem levar a que em consequência de
tal exercício sejam causados prejuízos aos particulares. No caso de a administração atuar de
forma ilegal ou ilícita parece bastante obvio que irá recair sobre si a obrigação de indemnizar os
prejuízos causados por essa atuação. No entanto, a Administração pode ser obrigada a
indemnizar prejuízos causados por condutas licitas, devido ao risco inerente ao exercício de
certas atividades especialmente perigosas ou devido ao facto de tal ato lícito impor aos
particulares um sacrifício especial dos seus direitos (ex. estado de necessidade).
A responsabilidade civil pressupõe uma indemnização (3º RCEEP; 562º e 566º/1 CC), ou seja, o
direito à eliminação ou reparação, na medida do possível do dano real, e não uma compensação,
isto é, o direito a uma prestação patrimonial de valor correspondente ao de certo bem que a
prestação vai substituir no património do credor. Veja-se que pode haver responsabilidade
direta da Administração sem concomitante responsabilidade dos titulares dos seus órgãos,
agentes ou representantes, e vice-versa. A responsabilidade da Administração é, portanto, a
obrigação jurídica que recai sobre qualquer pessoa coletiva pública de indemnizar os danos que
tiver causado aos particulares, seja no exercício da função administrativa seja no exercício de
atividades de gestão privada.
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Responsabilidade Objetiva:
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São os meios criados pela ordem jurídica com a finalidade de evitar ou sancionar as violações do
direito objetivo, as ofensas dos direitos subjetivos ou dos interesses legítimos dos particulares,
ou o demérito da ação administrativa, por parte da Administração Pública.
As garantias dos particulares poderão ser garantias políticas (órgãos políticos do Estado),
garantias administrativas (órgãos da administração pública) e garantias contenciosas (tribunais),
sendo o critério de distinção destas o dos órgãos a quem é confiada a efetivação das garantias.
Garantias Políticas: não constituem uma forma eficaz de proteção dos direitos dos particulares,
por não serem inteiramente suficientes (não abrangem muitos casos e dentro dos que
abrangem, não englobam todos os aspetos relevantes) nem inteiramente seguras (vão ser
apreciadas segundo critérios de conveniência política.
Direito de Petição, quando exercido perante qualquer órgão de soberania (52º/1 CRP).
Direito de Resistência (21º CRP).
Garantias Administrativas: são aquelas que se efetivam através da atuação e decisão de órgãos
da administração pública. Estas existem como forma de mecanismos de controlo da atividade
da própria administração, para assegurar o respeito da legalidade e da observância do dever de
boa administração, e, também, para assegurar o respeito pelos direitos subjetivos ou os
interesses legítimos dos particulares. Apesar de mais efetivas que as garantias políticas, as
garantias administrativas não são inteiramente satisfatórias, visto que, por vezes, os órgãos da
administração também se movem por preocupações políticas e, por outro lado, guiam-se em
certos casos por critérios de eficiência na prossecução do interesse público do que pelo desejo
rigoroso e escrupuloso de respeitar a legalidade e os direitos subjetivos ou os interesses
legítimos dos particulares.
Garantias Petitórias
o Direito de Petição: consiste na faculdade de dirigir pedidos à Administração
Pública para que tome determinadas decisões, preste informações ou permita
o acesso a arquivos seus ou a processos pendentes. Visa obter da Administração
Pública algo. Neste direito cabem: o direito de reagir contra a omissão legal de
atos administrativos, solicitando a emissão do ato pretendido (184º/1 alínea b)
CPA); direito à informação dos interessados sobre procedimentos que lhe digam
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respeito (82º CPA) ou que provem ter interesse legítimo na matéria (85º CPA)-
direito à informação procedimental; direito de consulta do processo e de obter
passagem de certidões (83º e 85º CPA); direito de todas as pessoas de acesso
aos arquivos e registos administrativos, mesmo que não se encontre em curso
qualquer procedimento que lhes diga diretamente respeito- direito à
informação não procedimental que resulta do principio da administração
aberta, com as exceções do artigo 83º CPA; direito à informação pública geral
(48º/2 CRP), que é um direito fundamental de cidadania.
o Direito de Representação: facultade de pedir ao órgão administrativo que
tomou uma decisão que a reconsidere ou a confirme, em vista de previsíveis
consequências negativas da sua execução. O particular exerce este direito para
que a Administração responda, atendendo às consequências da decisão e, se
for esse o caso que confirme em forma escrita a decisão em causa, de modo a
excluir a responsabilidade de quem executa o ato (ex. funcionários exercem
direito de representação contra ordens dos superiores hierárquicos que
considerem ilegais, para excluir a sua responsabilidade).
o Direito de Queixa: faculdade de promover a abertura de um processo que
culminará na aplicação de uma sanção a qualquer entidade sujeita ao poder
sancionatório da Administração. A queixa desencadeia o poder sancionatório,
isto é, o poder de aplicar sanções administrativas a alguém. A queixa incide
exclusivamente no comportamento de certa pessoa, não sobre atos jurídicos.
o Direito de Denúncia: ato pelo qual o particular leva ao conhecimento de certa
autoridade a ocorrência de um determinado facto ou a existência de uma certa
situação sobre os quais aquela autoridade tenha, por dever de ofício, a
obrigação de investigar. Veja-se que toda a queixa é uma denúncia, mas nem
toda a denúncia é uma queixa, pois em toda a queixa se faz a denúncia de um
comportamento de alguém, mas só há queixa quando ela tem por objeto o
comportamento de uma certa unidade, podendo haver denuncias que tenham
por objeto outras realidades que não o comportamento de pessoas singulares
ou coletivas.
o Direito de Oposição Administrativa: contestação que em certos procedimentos
administrativos os contrainteressados têm o direito de apresentar para
combater quer os pedidos formulados por outrem à Administração quer as
iniciativas da Administração que esta tenha resolvido divulgar ao público. Não
há obrigação de a Administração decidir de acordo com as oposições
formuladas, mas tem obrigação de as ouvir, de as ponderar e explicar
fundadamente os motivos por que considera, se for esse o caso, que tais
oposições não têm razão de ser. Consiste num pedido dirigido à Administração
Pública para que considere as razões ou pontos de vista de um particular.
Garantias Impugnatórias: aqueles em que, perante um ato já praticado, os particulares
são admitidos por lei a impugnar (atos administrativos perante órgãos da
Administração) esse ato, ou seja, atacá-lo com determinados fundamentos com vista à
sua revogação, anulação administrativa ou modificação (184º/ 1 e 2). A legitimidade de
impugnação é reconhecida aos particulares que se considerem lesados nos seus direitos
subjetivos ou interesses legítimos pelo ato em causa e ainda a todos quantos possam
intervir procedimentalmente na defesa de interesses difusos (186º/1 CPA). Já não
podem recorrer administrativamente aqueles que tenham aceitado, sem reserva,
expressa ou tacitamente, um ato administrativo depois de praticado (186º/2 CPA).
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Garantias Contenciosas: são garantias dos particulares que se efetivam através dos tribunais,
sendo a forma mais eficaz de defesa dos direitos subjetivos e interesses legítimos dos
particulares. A expressão “contencioso administrativo” utilizada na lei pode referir-se: ao
conjunto de tribunais administrativos (sentido orgânico); à atividade desenvolvida pelos
tribunais administrativos (sentido funcional); à matéria da competência dos tribunais
administrativos (sentido material); como sinónimo dos meios processuais que os particulares
podem utilizar contra a Administração através de tribunais administrativos (sentido
instrumental); conjunto de normas jurídicas reguladoras da intervenção dos tribunais
administrativos ao serviço da garantia dos particulares (sentido normativo). Só o sentido
material é que é corretamente denominado de “contencioso administrativo”, pois este
corresponde ao conjunto de litígios que envolvem a administração pública e que hajam de ser
solucionados pelos tribunais administrativos ao abrigo da legislação aplicável, em especial a que
é constituída por normas de direito administrativo.
Note-se os artigos 3º/1 e 71º/2 CPTA que expressam a ideia de que aos tribunais não compete
apreciar o mérito da ação administrativa, mas a respetiva legalidade, quer no domínio de
poderes inteiramente vinculados, quer no dos contornos vinculados do poder discricionário,
devendo existir sempre um respeito pelo princípio da separação de poderes.
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