Você está na página 1de 2

FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

DEPARTAMENTO DE DIREITO ECONÔMICO, FINANCEIRO E TRIBUTÁRIO

Disciplina: DIREITO TRIBUTÁRIO I


Professores: Luís Eduardo Schoueri e Roberto Quiroga Mosquera
Turma: 4º Ano Diurno/Noturno

Seminário – 1º semestre de 2023

Caso 2B – Conceito de Tributo

Dr. Nicácio, famoso dermatologista brasileiro, dedica-se, há anos, à


realização de procedimentos de harmonização facial em pacientes de todo o
Brasil.
O mercado de harmonizações faciais, entretanto, encontra-se cada vez
mais saturado, muito por conta do crescente número de profissionais que têm
oferecido tal serviço. Resultado é que, nos últimos anos, são comuns as notícias
a respeito de procedimentos desastrosos e realizados por profissionais não
capacitados.
Diante de tal quadro, o Governo do Estado de São Paulo reuniu diversos
profissionais, acadêmicos e experts no assunto para desenvolver um curso de
especialização em harmonização facial, que passou a ser oferecido em parceria
com a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo a partir do ano de
2015. Tal curso, conforme previsão legal, é requisito necessário à obtenção de
licença para a realização de procedimentos de harmonização facial, sob pena de
multa.
Buscando adequar-se à nova realidade, Dr. Nicácio ingressou no curso
ainda no ano de 2015, concluindo as aulas no mês de novembro daquele ano,
mas sem ter pagado alguns boletos emitidos pela Secretaria da Saúde do Estado
de São Paulo.
Em razão disso, em janeiro de 2023, Dr. Nicácio foi surpreendido com a o
ajuizamento de ação de execução pela Procuradoria do Município de São Paulo,
por meio do qual era cobrada taxa relativa à mensalidade do curso de
especialização em harmonização facial.
Dr. Nicácio buscou ajuda de uma banca de advocacia para obter
informações legais a respeito da cobrança. O escritório contratado explicou que
a taxa foi instituída pela Lei Estadual nº 10.00X, de 1º de janeiro de 2014 (“Lei nº
10.00X/14”), que possui a seguinte redação:
Art. 1º Fica instituído, a partir de 1º de janeiro de 2015, o curso de
especialização em harmonização facial, a ser oferecido pela
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Parágrafo único: todo o profissional que desejar se habilitar à
realização de procedimentos de harmonização facial deverá
frequentar as aulas do curso, sob pena de serem aplicadas as multas
previstas em norma regulamentar.

Art. 2º O curso possuirá a duração de 10 (dez) meses, devendo cada


aluno matriculado recolher taxa mensal de R$ 2.000,00 (dois mil
reais), a ser cobrada pela Secretaria da Saúde do Estado de São
Paulo mediante a emissão de boleto.
Parágrafo único: em razão da essencialidade do curso, o não
pagamento da taxa mensal não implicará a exclusão do aluno, sendo-
lhe garantida a obtenção do certificado.

Art. 3º Caberá à Procuradoria do Estado de São Paulo executar os


valores da taxa a que se refere o artigo anterior, que deixarem de ser
recolhidos pelos alunos matriculados no curso.
Parágrafo único: o prazo para o ajuizamento da ação de execução
reger-se-á pelo disposto no art. 205 do Código Civil1.

Ao examinar com mais vagar o caso, o escritório também apontou para


uma possível prescrição da ação para a cobrança da taxa, uma vez que, em seu
entendimento, o prazo aplicável seria aquele constante no art. 174 do Código
Tributário Nacional2 (em virtude da natureza tributária da cobrança), e não
aquele constante no art. 205 do Código Civil, como pretende a legislação
estadual.
À luz da matéria “Conceito de Tributo”, elaborem:
(i) como representantes do Contribuinte (grupo 2), os argumentos
cabíveis para justificar a natureza tributária da taxa, e consequente
prescrição da ação de execução; e
(ii) como representantes do Fisco (grupo 3), os argumentos cabíveis
para justificar a natureza não tributária da taxa, e consequente
inocorrência da prescrição da ação de execução.
Esclareça-se que demais argumentos que transbordem da temática
“Conceito de Tributo” poderão ser suscitados, devendo, porém, os debates em
sala se centrar no tema da aula para a resolução do caso.

1Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.
2Art. 174. A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco anos, contados da
data da sua constituição definitiva.

Você também pode gostar