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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIA SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE DIREITO PÚBLICO

DISCENTE: MARIA DE FÁTIMA DA SILVA

Direito Administrativo I

Terceira Avaliação

INSTRUÇÕES

1) Todas as respostas devem ter fundamentação legislativa, jurisprudencial e


doutrinária, tendo por base o sistema do Direito Positivo brasileiro.

2) Todas as respostas devem ser redigidas segundo a Norma Culta da Língua


Portuguesa.

3) A avaliação pode ser feita individualmente, em dupla ou em trio.

4) No caso de dupla ou trio, a responsabilidade dos membros do grupo é


solidária.

5) As respostas devem ser entregues exclusivamente por meio do SIGAA, em


arquivo em PDF, devendo constar obrigatoriamente neste arquivo o(s) nome(s) do(s)
aluno(s).
6) No caso de dupla ou trio, um dos membros pode ficar responsável pela
entrega, desde que registre de imediato no ato, os nomes de todos os integrantes do
grupo.

PRIMEIRA QUESTÃO

O Prefeito do Município de Azul/RN, Apóstolo Calvino Puritano, deseja


criar uma entidade para a fiscalização de bares, restaurantes, casas de show,
boates e casas de recepção, com o objetivo de se garantir o cumprimento da Lei nº
2.650, de 10 de dezembro de 2020:

“Lei nº 2.650, de 10 de dezembro de 2020

Dispõe sobre a polícia de costumes.

O PREFEITO

Faço saber que a Câmara Municipal decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º As condutas descritas nos arts. 50 a 65 do Decreto-lei nº 3.688, de 3


de outubro de 1941 passam a ser atos ilícitos nas atividades sociais ou empresariais
desenvolvidas em bares, restaurantes, casas de show, boates ou casas de recepção.

Art. 2º A prática das condutas tipificadas no art. 1º ensejam as seguintes


sanções, a serem aplicadas de modo acumulativo:

I – interdição do estabelecimento;
II – multa, no valor de R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais) a 150.000,00
(cento e cinquenta mil reais);

III – publicação do auto de infração na imprensa oficial.

Art. 3º Fica autorizada a criação de entidade dotada de personalidade


jurídica própria, no âmbito da administração indireta do Município, para
fiscalizar o cumprimento desta Lei e garantir-lhe a execução.

Parágrafo único. Os atos da entidade prevista no caput podem ser revistos,


a qualquer tempo, pela Secretaria Municipal de Costumes.

Apóstolo Calvino Puritano

Prefeito

Irmã Flor de Cerejeira Puritano

Secretária Municipal dos Costumes”.

O Prefeito lhe dirige a seguinte consulta, uma vez que o(a) Senhor(a) ocupa
o cargo de Procurador-Geral do Município:

(A) Qual espécie de entidade de administração indireta deve ser criada para
dar cumprimento à Lei Municipal nº 2.650/200, e como isso deve ser feito?
Justifique sua resposta (2,0).

Mormente, ressalta-se que, como traz o Decreto-Lei 200/1967, art. 4º, II, “a” e 5º, I,
as autarquias são entes autônomos da administração indireta, sendo, portanto, dotados
de personalidade jurídica própria.
Nestes termos:
Art. 4° A Administração Federal compreende: [...]
II - A Administração Indireta, que compreende as seguintes categorias de
entidades,
dotadas de personalidade jurídica própria:
a) Autarquias;
Art. 5º Para os fins desta lei, considera-se:
I - Autarquia - o serviço autônomo, criado por lei, com personalidade
jurídica,
patrimônio e receita próprios, para executar atividades típicas da
Administração
Pública, que requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão
administrativa e
financeira descentralizada.
Nesse sentido, o art. 18 da CF/88 dispõe acerca da competência para a criação de
autarquias:
Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do
Brasil
compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos
autônomos, nos termos desta Constituição.
Em consonância com o art. 18, pode-se observar o art. 37, XIX, da CF/88 regulamenta a
criação das autarquias:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes
da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios
de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também,
ao
seguinte: [...]
XIX - somente por lei específica poderá ser criada autarquia e autorizada a
instituição
de empresa pública, de sociedade de economia mista e de fundação,
cabendo à lei
complementar, neste último caso, definir as áreas de sua atuação;
Solidificando a fundamentação, segue julgado do STF acerca do reconhecimento da
personalidade jurídica da autarquia.

AI 390824
Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA
Julgamento: 22/04/2010
Publicação: 04/05/2010

Decisão
ordinária. Equiparação salarial incorporada por força de lei e cancelada por
decreto. Direito adquirido. Violação ao princípio da hierarquia das leis. Autarquia
estadual. Pretensão do Estado do Maranhão em integrar a lide como litisconsorte
passivo necessário. A autarquia estadual, por dispor de patrimônio próprio, responde
individualmente por suas obrigações e sujeita-se aos pagamentos a que for
condenada, sem responsabilidade da entidade estadual a que pertence, não tendo o
Estado que a criou legitimidade para integrar a relação processual como litisconsorte
passivo necessário.
(AI 390824 / MA – MARANHÃO AGRAVO DE INSTRUMENTO Relator(a): Min.
JOAQUIM BARBOSA Julgamento: 22/04/2010).

Dado o exposto, temos que o entende de administração indireta a ser criado é a


autarquia, criado a partir da lei Municipal proferida pelo Prefeito do Município.

(B) Como devem ser criados os cargos, empregos ou funções públicas que
vão estruturar a entidade a ser criada? É obrigatória a realização de concurso
público para provimento (ou contratação) para o preenchimento de todos eles? É
possível se estabelecer uma reserva de vagas para evangélicos no acesso a esses
cargos, empregos ou funções públicas? Qual o regime de trabalho que deve ser
adotado para os agentes públicos que comporão o quadro de pessoal da referida
entidade? Justifique sua resposta (2,0).
A CF em seu art. 61, §1º, II, “a”, traz:

Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer


membro ou
Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso
Nacional,
ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais
Superiores,
ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos
previstos
nesta Constituição.
§ 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: [...]
II - disponham sobre:
a) criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração direta e
autárquica ou aumento de sua remuneração;

De acordo com a leitura do dispositivo, aplicando o “Princípio da Simetria” que


exige que os Estados, o Distrito Federal e os Municípios adotem, sempre que possível,
em suas respectivas Constituições e Leis Orgânicas (Lei Orgânica é como se fosse a
“Constituição do Município”), os princípios fundamentais e as regras de organização
existentes na Constituição da República (Constituição Federal)- principalmente
relacionadas a estrutura do governo, forma de aquisição e exercício do poder,
organização de seus órgãos e limites de sua própria atuação. E atentando-se para os três
pontos principais do principio da simetria:
1. Esse princípio não é único e absoluto. Deve ser interpretado em conjunto com
as demais normas jurídicas da Constituição Federal;
2. O ponto de referência para a aplicação da simetria é a Constituição Federal e
não a Constituição Estadual;
3. A partir da Constituição Federal de 1988 o Brasil tem como “Forma de
Estado”, o que se chama de “Federalismo de Três Níveis”, sendo os entes federados:
União, Estados e Municípios – além do Distrito Federal, que possui estrutura mista -,
todos eles com autonomia administrativa (competência para a auto-organização de seus
órgãos e serviços), legislativa (competência para editar leis, inclusive sua Lei Orgânica -
autoconstituição) e política (competência para eleger os integrantes do Executivo e do
Legislativo).
Os cargos podem ser criados então, pelo chefe do executivo, no caso o Prefeito
do Município.
Com relação a obrigatoriedade de concurso público, obrigatoriedade de concurso
público, a CF/88 estabelece a obrigatoriedade para os cargos e empregos públicos, mas
possibilita a nomeação para cargos em comissão, de livre nomeação e exoneração, como
também impõe que as funções de confiança serão exercidas por servidores ocupantes de
cargos efetivos.
Assim dispõe:
Art. 37. [...]
II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia
em
concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a
complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as
nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e
exoneração;
V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes
de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores de
carreira nos casos, condições e percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se
apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento;
A Lei 8.112/1990 que dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos
civil da União, das autarquias e das fundações públicas federais, define em seu art. 3º
que: “Cargo público é o conjunto de atribuições e responsabilidades previstas na
estrutura organizacional que devem ser cometidas a um servidor”. Ainda no Art. 3o
da recém citada Lei, consta em seu parágrafo único, que “Os cargos públicos, acessíveis
a todos os brasileiros, são criados por lei, com denominação própria e vencimento pago
pelos cofres públicos, para provimento em caráter efetivo ou em comissão”.
Cargo público, conceitualmente, é o menor centro hierarquizado de competência da
administração direta, autárquica e fundacional pública, criado por lei ou resolução, com
denominação própria e número certo. (GASPARINI, 1995).
Segundo Carvalho Filho (2013, p. 611), “Cargo público é o lugar dentro da organização
funcional da administração direta e de suas autarquias e fundações públicas que,
ocupado por servidor público, tem funções específicas e remuneração fixadas em lei ou
diploma a ela equivalente”.
Moraes (2005, p. 312 apud MIRANDA) ao comentar o art. 184 da Constituição de
1946, o qual dispunha que “Os cargos públicos são acessíveis, a todos os brasileiros,
observados os requisitos que a lei estabelecer”, observava que o princípio de igual
acessibilidade dos cargos públicos aos brasileiros não eliminaria, por si só, a lei que
aceitasse entrada no serviço público a estrangeiros.
Salienta-se também, que os cargos em comissão e as funções de confiança vão se
relacionar exclusivamente às atribuições de direção, chefia e assessoramento, que são
exercidas exclusivamente por servidores estatutários, ocupantes de cargos efetivos.
Os tribunais trazem entendimento consoante, segue:

EMENTA Agravo regimental no recurso extraordinário. Direito Administrativo.


Contrato temporário. Reconhecimento de estabilidade sem a prévia realização de
concurso público. Impossibilidade. Precedentes. 1. É pacífica a jurisprudência da Corte
no sentido de que a estabilidade é atributo de cargo público cujo provimento seja
antecedido de prévia aprovação em concurso público de provas ou de provas e títulos,
não se podendo admitir, em face do regime constitucional vigente, a figura da
estabilidade do servidor contratado temporariamente. 2. Agravo regimental não provido.
(RE 847418 AgR, Relator(a): DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em
15/03/2016, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-083 DIVULG 28-04-2016 PUBLIC 29-
04-2016).
Acerca da reserva de vagas para evangélicos, temos que:
A Constituição Federal coloca, em seu artigo 3º, como objetivo da República
Federativa do Brasil, a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,
sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Para tanto, prevê em seu
artigo 5º, caput, como direito e garantia fundamental, a igualdade perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza.
Além do princípio da igualdade (CF, art. 5º, inciso I) há o princípio da laicidade
estatal, consagrado, expressamente, no artigo 19, inciso I, da Carta Magna, o qual veda
à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a estabelecerem cultos
religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embarcar-lhes o funcionamento ou manter com
eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da
lei, a colaboração de interesse público.
Nesse sentido, manter reservas de vagas fundamentadas na religião professada,
pode vir a sofrer questionamento em relação a sua constitucionalidade. Quanto ao
regime de trabalho a ser adotado para os agentes públicos da entidade administrativa a
ser criada, é o Regime Jurídico Único, o regime dos servidores da administração direta,
regulamentado pela Lei 8.112/1990.
(C) Qual o alcance da competência da Secretaria Municipal de Costumes,
haja vista a redação do art. 3º, parágrafo único, da Lei Municipal nº 2.650/2020?
Justifique sua resposta (1,0).
Por serem entes autônomos que agem por direito próprio, as autarquias, segundo
Celso Bandeira de Mello: “gozam de direito próprio, de liberdade administrativa nos
limites da lei que as criou; não são subordinadas a órgão algum do Estado, mas apenas
controladas [...]

SEGUNDA QUESTÃO

OBSERVAÇÃO: A RESPOSTA DA SEGUNDA QUESTÃO NÃO PODE


DEIXAR DE CONSIDERAR A LEGISLAÇÃO ESTADUAL EM VIGOR

João da Silva foi aposentado com proventos integrais no cargo de Auditor


Fiscal do Estado do Rio Grande do Norte em 29 de novembro de 2005.

Em 6 de maio de 2019, o Tribunal de Contas do Estado (TCE) constatou


que o ato administrativo que concedeu os proventos de João da Silva padecia de
vício quanto ao motivo, haja vista o referido servidor não ter preenchido os
requisitos constitucionais de tempo de serviço exigidos para a concessão do
benefício previdenciário em apreço. Na oportunidade, tomou a decisão de
determinar ao Poder Executivo a reforma imediata o ato impugnado, passando a
pagar a João da Silva proventos proporcionais.
João da Silva foi comunicado informalmente por colegas seus ainda em
atividade que, assim que a Administração Direta for comunicada oficialmente
dessa decisão, procederá a imediata reforma de seus proventos.

João da Silva lhe procura, fazendo-lhe as seguintes indagações:

(B) Quais são as garantias de João da Silva no caso concreto, em sede de


processo administrativo? Justifique sua resposta (2,5).

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