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POSSIBILIDADE DE LIMITAÇÃO NA ATUAÇÃO DOS VEREADORES

Em consonância com os artigos 29 a 31 da Constituição Federal, são competências da


Câmara de Vereadores:

● elaborar a Lei Orgânica do Município;


● fiscalizar e julgar as contas do Executivo;
● legislar sobre assuntos de interesse local.

Para o interesse sindical, cabe destacar a atribuição do Vereador de representação. Nos


moldes da Constituição, o Vereador é responsável por buscar no seio da sociedade as
preocupações coletivas, trazendo para o debate na Câmara questões relacionadas à
segurança pública, saneamento, limpeza, educação, saúde, agricultura, meio ambiente,
entre outros temas de interesse comum.

Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com
o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros
da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios
estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e
os seguintes preceitos:
VIII - inviolabilidade dos Vereadores por suas opiniões, palavras e votos no
exercício do mandato e na circunscrição do Município;
IX - proibições e incompatibilidades, no exercício da vereança, similares, no
que couber, ao disposto nesta Constituição para os membros do Congresso
Nacional e na Constituição do respectivo Estado para os membros da
Assembléia Legislativa;
X - julgamento do Prefeito perante o Tribunal de Justiça;
XI - organização das funções legislativas e fiscalizadoras da Câmara
Municipal;
XII - cooperação das associações representativas no planejamento
municipal;
XIII - iniciativa popular de projetos de lei de interesse específico do
Município, da cidade ou de bairros, através de manifestação de, pelo
menos, cinco por cento do eleitorado;
XIV - perda do mandato do Prefeito, nos termos do art. 28, parágrafo único .
A título exemplificativo, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro publicou um ato no Diário
Oficial, baseado na Lei Orgânica do Município, para estabelecer os limites e direitos dos
vereadores para visitas de fiscalização em órgãos públicos. A legislação, de mais de 30
anos atrás, deixa claro que os parlamentares têm total acesso aos órgãos públicos, sem
necessidade de agendamento ou autorização. Documentos precisam ser requisitados com
24 horas de antecedência.

No entanto, imperioso mencionar teoria da separação dos poderes, que é uma forma de
descentralizar o poder e evitar abusos, fazendo com que um poder controle o outro ou, ao
menos, seja um contrapeso. Essa teoria é derivada do pensamento de Montesquieu, que
afirmava que Todo homem que detém o poder tende a abusar dele. Seguindo o
pensamento dessa corrente, tudo estaria perdido se o poder de fazer as leis, o de executar
as resoluções públicas e o de punir crimes ou solver pendências entre particulares se
reunissem num só homem ou associação de homens.

Assim, esse mecanismo assegura que nenhum poder irá sobrepor-se ao outro, trazendo
uma independência harmônica nas relações de governança.

A disposição de separação dos Poderes está constante tanto em nossa Constituição


Federal, como na nossa Constituição Estadual, em seu art.5º. Vejamos:

Artigo 5º - São Poderes do Estado, independentes e harmônicos entre


si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

Com efeito, incorre-se em hipótese de violação ao princípio da separação de poderes


quando o poder de fiscalização do Legislativo sobre o Executivo é irrestrito. Assim, para que
estejamos de acordo com a Carta Magna e, inclusive, com a própria Constituição Estadual,
é necessário respeitar determinados limites. Outrossim, evidente se mostra a indevida
ingerência do Legislativo no Executivo.

Ao exercer livre – e demasiado- acesso às repartições e instalações públicas municipais,


aos seus documentos e às suas informações, no exercício de sua função fiscalizadora,
pode-se construir uma narrativa de violação ao princípio da Separação dos Poderes,
desequilibrando o sistema de freios e contrapesos que busca a harmonia na atuação dos
Poderes.

Ademais, nossa Constituição Estadual também dispõe:


Art. 12. Às Câmaras Municipais, no exercício de suas funções
legislativas e fiscalizadoras, é assegurada a prestação de informações
que solicitarem aos órgãos estaduais da administração direta e
indireta situados nos Municípios, no prazo de dez dias úteis a contar
da data da solicitação.

Art. 13. É competência do Município, além da prevista na Constituição


Federal e ressalvada a do Estado:
I - exercer o poder de polícia administrativa nas matérias de interesse
local, tais como proteção à saúde, aí incluídas a vigilância e a
fiscalização sanitárias, e proteção ao meio-ambiente, ao sossego, à
higiene e à funcionalidade, bem como dispor sobre as penalidades por
infração às leis e regulamentos locais;
II - dispor sobre o horário e dias de funcionamento do comércio local e de
eventos comerciais temporários de natureza econômica;
III - regular o tráfego e o trânsito nas vias públicas municipais, atendendo à
necessidade de locomoção das pessoas portadoras de deficiência;
IV - dispor sobre autorização, permissão e concessão de uso dos bens
públicos municipais;
V - promover a proteção ambiental, preservando os mananciais e coibindo
práticas que ponham em risco a função ecológica da fauna e da flora,
provoquem a extinção da espécie ou submetam os animais à crueldade;
VI - disciplinar a localização, nas áreas urbanas e nas proximidades de
culturas agrícolas e mananciais, de substâncias potencialmente perigosas;
VII - promover a coleta, o transporte, o tratamento e a destinação final dos
resíduos sólidos domiciliares e de limpeza urbana;
VIII - fomentar práticas desportivas formais e não-formais;
IX - promover a acessibilidade nas edificações e logradouros de uso público
e seus entornos, bem como a adaptação dos transportes coletivos, para
permitir o acesso das pessoas portadoras de deficiências ou com
mobilidade reduzida.

Art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e


patrimonial do Estado e dos órgãos e entidades da administração direta e
indireta, e de quaisquer entidades constituídas ou mantidas pelo Estado,
quanto à legalidade, legitimidade, moralidade, publicidade, eficiência,
eficácia, economicidade, aplicação de subvenções e renúncia de receitas,
será exercida pela Assembléia Legislativa mediante controle externo e pelo
sistema de controle interno de cada um dos Poderes, observado o disposto
nos arts. 70 a 75 da Constituição Federal.
Nesse sentido, entendemos que, em que pese nossa Constituição Estadual disponha que é
competência do Município exercer o poder de polícia administrativa nas matérias de
interesse local, tais como proteção à saúde, aí incluídas a vigilância e a fiscalização
sanitárias, a mesma também limita tal atuação quando estabelece que é assegurada a
prestação de informações que solicitarem aos órgãos estaduais da administração direta e
indireta situados nos Municípios, no prazo de dez dias úteis a contar da data da solicitação.

Assim, a nossa CE impede o exercício irrestrito e indiscriminado da função fiscalizadora


pelo Legislativo e que não serve de fundamento para a legislação, até porque estaria se
usurpando do poder.

A previsão de acesso irrestrito de vereadores a locais e documentos do Poder Público


afronta à separação dos poderes, à Constituição Federal e à Constituição Estadual.

Assim entendeu o Órgão Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo ao reconhecer a


inconstitucionalidade de uma lei, de iniciativa parlamentar, que regulamentava o livre acesso
dos vereadores às repartições e instalações públicas municipais. Vejamos:

Lei municipal que "dispõe sobre o livre acesso dos vereadores aos
órgãos e repartições públicas". Previsão de acesso irrestrito de
vereadores a locais e documentos do Poder Público. Afronta à
separação dos poderes. Previsão ampla, genérica e ilimitada.
Ausência de fixação de quaisquer critérios, como justificativa da
diligência ou pertinência temática com o trabalho parlamentar.
Excesso verificado. Fiscalização pelo Poder Legislativo. Função
constitucional típica. Controle externo do Executivo pelo Legislativo
deve ser dar em consonância com as demais regras e princípios
constitucionais. Previsão na Constituição Estadual de ferramentas
para exercício do controle externo pelo Legislativo. Ação julgada
procedente. (TJSP; Direta de Inconstitucionalidade
2120320-50.2020.8.26.0000; Relator: Márcio Bartoli; Órgão Especial;
Data do Julgamento: 03/02/2021)

Isso posto, conclui-se que o poder de fiscalização da Câmara de Vereadores sobre a


Prefeitura não é irrestrito, sujeitando-se aos limites impostos pela própria Constituição.
A partir de tal conclusão, pode-se verificar duas possibilidades:

● · investigação, pelo Ministério Público, no sentido de verificar se o vereador cometeu


abuso de autoridade ao visitar as unidades;
● representar, perante o Conselho de Ética da Câmara, para avaliação de abuso de
autoridade e quebra de decoro.

Em que pese haja a disposição de livre acesso do vereador às repartições públicas, não lhe
confere o direito de abusar de suas prerrogativas e violar direitos assegurados.

As atividades de fiscalização fazem parte da atividade parlamentar desde que não


desrespeitem a lei e nem representem abuso de autoridade. É necessário que essas
fiscalizações não se deem de maneira a confrontar a Constituição Federal.

Pode-se dar o ponto de partida para uma eventual quebra de decoro parlamentar,
exatamente por um abuso no exercício de direito (tese que deverá ser construída e
avaliados impactos políticos em tal atuação do Sindicato).

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