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PARECER

Nº 1791/2015 1

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PL – Poder Legislativo. Projeto de lei.
Iniciativa parlamentar. Publicação da
lista de medicamentos distribuídos
em site da Prefeitura. Reserva de
Administração. Violação ao Princípio
da Separação dos Poderes.

CONSULTA:

A Câmara Municipal indaga, sobre projeto de lei de iniciativa


parlamentar, que cria no âmbito da Prefeitura Municipal, através da
Secretária de Saúde, o Sistema de Informação de Medicamentos
distribuídos pela Municipalidade, através das farmácias coordenadas pela
mesma.

RESPOSTA:

Primeiramente em relação à regulação do serviço de saúde


prestado pelo Município, deve-se analisar até que ponto poderia a lei
sobre o tema ser de iniciativa parlamentar, uma vez que as unidades de
saúde integram a estrutura sob comando do Prefeito e somente lei de sua
iniciativa poderia lhes impor atribuições e obrigações (art. 61, §1°, II, "e",
CF), sob pena de violação ao aludido princípio da separação dos poderes
(art. 2° da CF).

Ocorre que o projeto de lei em análise, é, sem qualquer dúvida,


inconstitucional, uma vez que não se presta a regular serviços públicos e

1PARECER SOLICITADO POR HAMILTON FLÁVIO DE LIMA,CONSULTOR JURÍDICO - CÂMARA MUNICIPAL


(ARAGUARI-MG)
sim interferir no poder de gestão que é conferido ao Prefeito, que exerce a
direção superior da Administração, conforme dispõe o inciso II do art. 84
da Constituição Federal, aplicável aos Municípios por simetria, nos termos
do art. 29. Ao modificar procedimentos atinentes a sua organização
administrativa interna, obrigando a publicação da lista de medicamentos
distribuídos através das farmácias do Município, configura uma ingerência
indevida na reserva de administração, postulado constitucional que
impede a ingerência normativa do Poder Legislativo em matérias sujeitas à
exclusiva competência administrativa do Poder Executivo. Sobre o
princípio constitucional da Reserva de Administração é conveniente a
citação de trecho do seguinte Acórdão proferido pelo Supremo Tribunal
Federal:

"O princípio constitucional da reserva de administração


impede a ingerência normativa do Poder Legislativo em matérias
sujeitas à exclusiva competência administrativa do Poder Executivo
(...) Essa prática legislativa, quando efetivada, subverte a função
primária da lei, transgride o princípio da divisão funcional do poder,
representa comportamento heterodoxo da instituição parlamentar e
importa em atuação ultravires do Poder Legislativo, que não pode,
em sua atuação político-jurídica, exorbitar dos limites o exercício
de suas prerrogativas institucionais". (STF - Tribunal Pleno. ADI-
MC n° 2.364/AL. DJ de 14/12/2001, p.23, Rel. Min. CELSO DE
MELLO).

Em complemento, como expressa o art. 2° da CF, os Poderes


Executivo e Legislativo são independentes entre si, não podendo um
interferir no outro, o que impede a Câmara de usurpar competências
especialmente atribuídas ao Chefe do Executivo, com exclusividade.

Nesse sentido, é oportuno a citação do Acórdão proferido pela


Ministra Cármen Lúcia do Supremo Tribunal Federal:
"Por considerar usurpada a competência privativa do
Chefe do Poder Executivo para iniciar projetos de leis que
disponham sobre organização e funcionamento da Administração
Pública (arts. 61, §1°, II, "e", e 84, II e VI da CF), o Plenário, em
conclusão, julgou parcialmente procedente pedido formulado em
ação direta ajuizada pelo Governador do Estado do Rio Grande do
Sul para declarar a inconstitucionalidade do art. 4° da Lei gaúcha
11.591/2001 - v. Informativo 338. O preceito adversado dispõe que
o Poder Executivo, por intermédio da Secretaria do Meio Ambiente,
definirá as tecnologias que poderão ser utilizados no Sistema de
Carga e Descarga Fechado de combustíveis e regulamentará as
penalidades pelo não cumprimento da presente lei, bem como o
destino das multas aplicadas. Entendeu-se que a norma, de
iniciativa da assembléia legislativa, teria fixado novas atribuições
para órgão vinculado à Administração Direta." (STF, ADI 2800/RS,
Rel. orig. Min. Maurício Corrêa, red. p/ o acórdão, Min. Cármen
Lúcia, 17.03.2011).

Da mesma sorte, transcrevemos o Enunciado n°02/2004 do


IBAM:

"Processo Legislativo. Inconstitucionalidade de projeto de


lei originário do Legislativo que: 1) crie programa de governo; e 2)
institua atribuições ao Executivo e a órgãos a ele subordinados."

Ademais, a imposição de encargos a órgãos do Poder Executivo


é vedada pelo art. 63, I da CF e invade a competência privativa do Prefeito
a quem cabe exclusivamente realizar escolhas para a melhor promoção do
direito social à saúde (art. 196, CF), de acordo com as possibilidades
orçamentárias e de sua política de governo.

Por todo o exposto, concluímos pela inconstitucionalidade do


Projeto de Lei em análise, por afronta ao art. 2° e art. 61, §1°, II, "e" da
Constituição Federal, ressalvando a possibilidade de envio de indicação
ao Alcaide, para que este implemente as medidas se achar conveniente e
oportuno.

É o parecer, s.m.j.

Camila Paolino Pereira


da Consultoria Jurídica

Aprovo o parecer

Marcus Alonso Ribeiro Neves


Consultor Jurídico

Rio de Janeiro, 17 de julho de 2015.

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