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Poder Judiciário 125

Estado do Rio de Janeiro


Órgão Especial
REPRESENTAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE
0003627-12.2020.8.19.0000

REPRESENTANTE: EXMO SR PROCURADOR GERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO


REPRESENTADA: MESA DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
LEGISLAÇÃO QUESTIONADA: LEI ESTADUAL Nº 8.658/2019
RELATOR: DESEMBARGADOR WERSON RÊGO

REPRESENTAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI


ESTADUAL Nº 8.658/2019. DEFINIÇÃO DAS IDADES
MÍNIMA E MÁXIMA PARA INGRESSO NAS CARREIRAS
MILITARES DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. AUTORIA
PARLAMENTAR.
1) Consoante o disposto nos artigos 91, caput, e 184, da
Constituição do Estado do Rio de Janeiro, os integrantes da
Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar, na
qualidade de servidores militares estaduais, encontram-se
subordinados ao Governador do Estado.
2) O artigo 112, § 1º, II, “b”, da mesma Carta, estabelece
que são de iniciativa privativa do Governador as leis que
disponham sobre servidores públicos do Estado, seu
regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e
aposentadoria de civis, reforma e transferência de militares
para a inatividade.
3) O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do ARE
878.911 RG/RJ, submetido ao regime de repercussão geral
(Tema 917), firmou a seguinte tese: “Não usurpa
competência privativa do Chefe do Poder Executivo lei que,
embora crie despesa para a Administração, não trata da
sua estrutura ou da atribuição de seus órgãos nem do
regime jurídico de servidores públicos (art. 61, § 1º, II,"a",
"c" e "e", da Constituição Federal).”
4) A definição da idade máxima para se ingresso nas
carreiras das Corporações Militares do Estado do Rio de
Janeiro, além de causar impacto financeiro para a
Adminsitração, eis que enseja repercussão direta na
admissão de novos servidores militares, guarda relação
direta com o regime jurídico de servidores públicos, bem
assim com o provimento de cargos, sendo, portanto,
matéria inserta no campo da discricionariedade do Chefe
do Poder Executivo, estando, pois, a hipótese sub examen
inserida na ressalva contida na parte final da aludida tese.

WERSON FRANCO PEREIRA REGO:16700 Assinado em 20/07/2021 15:32:54


Local: GAB. DES. WERSON FRANCO PEREIRA REGO
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Órgão Especial
4.1) Sendo a legislação impugnada de autoria parlamentar,
forçoso reconhecer o manifesto vício de iniciativa, o que
implica em sua inconstitucionalidade formal.
5) Nos termos do artigo 145, II, da Constituição Estadual,
“compete privativamente ao Governador do Estado
exercer, com o auxílio dos Secretários de Estado, a direção
superior da administração estadual”.
5.1) Logo, sendo o Chefe do Poder Executivo Estadual a
autoridade máxima responsável pela gestão da segurança
pública do Estado, a ele cabe estabelecer o perfil do
candidato que pretende ver como integrante das
Corporções Militares, motivo pelo qual a legislação sub
judicie implica violação ao mencionado dispositivo da Carta
Estadual.
6) A inobservância da iniciativa privativa de lei importa
ofensa ao Princípio da Separação de Poderes, positivado no
artigo 2º, da Constituição da República, reproduzido no
artigo 7º, da Constituição do Estado do Rio de Janeiro,
motivo pelo qual resta, também, configurada a hipótese de
inconstitucionalidade material.
7) Manifesta violação aos artigos 7º, 91, caput, 112, § 1º,
inciso II, alínea “b”, 145, inciso II, e 184, todos da
Constituição do Estado do Rio de Janeiro.
8) Procedência da presente Representação.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Direta de Inconstitucionalidade


n° 0003627-12.2020.8.19.0000 em que é Representante o EXMO SR PROCURADOR
GERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO e Representada a MESA DA ASSEMBLEIA
LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO,

A C O R D A M os Desembargadores que integram o Órgão Especial do


Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade de votos, em julgar
procedente a Representação, nos termos do voto do Desembargador Relator.

Rio de Janeiro, 19 de julho de 2021.

WERSON RÊGO
Desembargador Relator
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Órgão Especial

VOTO

Representação de Inconstitucionalidade, com pedido de liminar, ajuizada pelo


Exmo. Sr. Procurador Geral do Estado do Rio de Janeiro, tendo como objeto a Lei
Estadual nº 8.658, de 19 de dezembro de 2019, que “DISPÕE SOBRE A IDADE MÍNIMA
E MÁXIMA PARA INGRESSO NOS QUADROS DAS CARREIRAS MILITARES DO ESTADO
DO RIO DE JANEIRO”,

Alega o representante que a referida Lei seria inconstitucional por vícios


formal e material, ao argumento de que teriam sido violados o artigo 112, § 1º, II, “b”;
o artigo 7º; e o artigo 145, II e VI, “a”, todos da Constituição do Estado do Rio de
Janeiro

Aduz que, a despeito do veto integral apresentado pelo Governador do Estado,


após a tramitação do Projeto de Lei nº 346/2019, de iniciativa parlamentar, a parte
Representada promulgou o diploma legal impugnado, Lei Estadual nº 8.658/2019, que
dispõe sobre as idades mínima e máxima para ingresso nas carreiras militares do
Estado do Rio de Janeiro, elevando-a, neste último caso, para 35 (trinta e cinco) anos.

Sustenta que, ao dispor sobre regras relativas às idades mínima e máxima para
ingresso nas carreiras das Corporações Militares do Estado do Rio de Janeiro, o
diploma legal em berlinda avançou sobre o regime jurídico de servidores públicos,
invadindo a iniciativa privativa reservada à Chefia do Executivo, em manifesta ofensa
ao Pricípio da Separação de Poderes, implicando em vício de inconstitucionalidade
também de ordem material.

Manifestação do Exmo. Sr. Presidente da Assembleia Legislativa do Estado do


Rio de Janeiro, em caráter definitivo, a fls. 19/26, sustentando a inexistência do vício
de iniciativa. Argumenta que a reserva de iniciativa de projeto de lei do Poder
Executivo nos casos de regime jurídico de servidor público somente deve ocorrer
quando se tratar de forças militares e implicar, inequivocamente, aumento de despesa
para o Poder ou Instituição Constitucional cujos servidores estejam abrangidos pelo
tema.

Afirma que a questão relacionada à idade mínima e máxima para ingresso nas
carreiras militares fluminenses, além de não implicar a modificação de sua destinação
estratégica, não importa acréscimo de despesa.

Por fim, alega que a disciplina do diploma legal impugnado atualiza a legislação
anterior, tornando-a compatível, inclusive, com as novas regras previdenciárias. Pugna
pela improcedência do pedido, diante da manifesta constitucionalidade da legislação
em berlinda.
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Órgão Especial
A d. Procuradoria de Justiça manifestou-se, a fls. 28/34, opinando pelo
deferimento da medida cautelar.

A Exma. Sra. Deputada Estadual Martha Mesquita da Rocha, a fls. 37/46,


formulou pedido de intervenção de terceiro, na modalidade de Amica Curiae, o que
restou indeferido pela decisão de fls. 52.

A liminar foi deferida pelo v. acódão de fls. 72/76.

Ofício do Exmo Sr. Presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de


Janeiro, a fls. 217, reiterando sua anterior manifestação de fls. 34/51.

A d. Procuradoria Geral do Estado manifestou-se, a fls. 110, opinando pela


procedência do pedido.

Por sua vez, a d. Procudoria Geral de Justiça pronunciou-se, a fls. 98/105,


também pela procedência da presente Representação.

É o breve relatório do essencial. Passo a decidir.

A legislação impugnada, Lei Estadual 8.658/2019, dispõe sobre as idades


mínima e máxima para ingresso nas carreiras das Corporações Militares do Estado do
Rio de Janeiro, sendo esta a sua redação, in verbis:

“Art. 1º. Esta Lei dispõe sobre as idades mínima e máxima para ingresso nas
Carreiras das Corporações Militares do Estado do Rio de Janeiro.
Art. 2º. As idades para ingresso nas Carreiras das Corporações Militares do
Estado do Rio de Janeiro são de:
I – idade mínima: 18 (dezoito) anos; e,
II – idade máxima: 35 (trinta e cinco) anos.
Art. 3º. As Corporações Militares do Estado do Rio de Janeiro deverão
convocar os candidatos aprovados cujas inscrições foram efetuadas na data
limite e contavam com idade máxima de 35 (trinta e cinco) anos até a data
final de inscrição nos concursos públicos que estejam dentro do prazo de
validade, perdendo eficácia as disposições editalícias contrárias a esta Lei.
Art. 4º. Somente poderão ser convocados os candidatos que tenham sido
aprovados em todas as etapas do concurso público.
Art. 5º. Excetua-se do disposto nesta Lei a convocação dos candidatos
aprovados no Concurso do Corpo de Bombeiros Militares, cujo edital tenha
previsto idade máxima superior à prevista nesta Lei.
Art. 6º. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.”
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Órgão Especial

Consoante o disposto nos artigos 91, caput, e 184, da Constituição do Estado


do Rio de Janeiro, os integrantes da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar, na
qualidade de servidores militares estaduais, encontram-se subordinados ao
Governador do Estado.

Por sua vez, o artigo 112, § 1º, II, “b”, da mesma Carta, estabelece que são de
iniciativa privativa do Governador as leis que disponham sobre servidores públicos do
Estado, seu regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria de
civis, reforma e transferência de militares para a inatividade. Confira-se:

Art. 112. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer


membro ou Comissão da Assembleia Legislativa, ao Governador do Estado, ao
Tribunal de Justiça, ao Ministério Público, a Defensoria Pública e aos cidadãos,
na forma e nos casos previstos nesta Constituição.
§ 1º. São de iniciativa privativa do Governador do Estado as leis que:
(...)
II - disponham sobre:
(...)
b) servidores públicos do Estado, seu regime jurídico, provimento de cargos,
estabilidade e aposentadoria de civis, reforma e transferência de militares
para a inatividade; (...) (grifei)

Inicialmente, cumpre salientar que, considerando que a legislação em berlinda


fixa critério etário para ingresso nas Corporações Minlitares do Estado, a toda
evidência, que a matéria por ela tratada enseja repercussão direta na admissão de
novos servidores militares e, consequentemente, causa impacto financeiro.

Nesse particular, merece destaque o seguinte trecho da manifestação do


Parquet, de fls. 98/105:

“É certo que a fixação de critério etário para ingresso nas Corporações


Minlitares, ao delimitar os candidatos aptos à inscrição nos respectivos
certames, acaba por repercutir na esfera relacionada à admissão dos
aprovados. Exemplificativamente, observamos que um critério etário mais
alargado possibilita maior número de candidatos e de possíveis aprovados,
enquanto um critério mais restritivo limita o número de habilitados à
participação no respectivo concurso. Claro, portanto, que não se pode afastar a
repercussão no campo da admissão de pessoal e, consequentemente, de
reflexos na esfera orçamentária.”
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Órgão Especial
Com efeito, o e. Supremo Tribunal Federal, no julgamento do ARE 878.911
RG/RJ, submetido ao regime de repercussão geral (Tema 917), firmou a seguinte tese:

“Não usurpa competência privativa do Chefe do Poder Executivo lei que,


embora crie despesa para a Administração, não trata da sua estrutura ou da
atribuição de seus órgãos nem do regime jurídico de servidores públicos (art.
61, § 1º, II,"a", "c" e "e", da Constituição Federal).” – grifei.

Pois bem. A definição da idade máxima para o ingresso nas carreiras das
Corporações Militares do Estado do Rio de Janeiro guarda relação direta com o regime
jurídico de servidores públicos, bem assim com o provimento de cargos, sendo,
portanto, matéria inserta no campo da discricionariedade do Chefe do Poder
Executivo.

A hipótese sub examen insere-se, pois, na ressalva contida na parte final da


aludida tese.

Destarte, considerando-se o fato de que a legislação impugnada é de autoria


parlamentar, forçoso reconhecer o manifesto vício de iniciativa, o que implica em sua
inconstitucionalidade formal.

Ademais disso, nos termos do artigo 145, II, da Constituição Estadual,


“compete privativamente ao Governador do Estado exercer, com o auxílio dos
Secretários de Estado, a direção superior da administração estadual”.

Logo, sendo o Chefe do Poder Executivo Estadual a autoridade máxima


responsável pela gestão da segurança pública do Estado, a ele cabe estabelecer o perfil
do candidato que pretende ver como integrante das Corporções Militares, motivo pelo
qual a legislação sub judicie implica violação ao mencionado dispositivo da Carta
Estadual.

Por fim, cabe ressaltar, como bem destacado no i. parecer de fls. 98/105, “que
as regras de iniciativa para a propositura de leis foram concebidas com o propósito de
preservar o campo de atuação dos Poderes, a fim de impedir que um deles venha a
subjugar ou mesmo suprimir os demais. Isso porque Poderes ilimitados militam contra
a própria existência do Estado Democrático de Direito.”

Com efeito, a inobservância da iniciativa privativa de lei importa ofensa ao


Princípio da Separação de Poderes, positivado no artigo 2º, da Constituição da
República, reproduzido no artigo 7º, da Constituição do Estado do Rio de Janeiro,
motivo pelo qual resta, também, configurada a hipótese de inconstitucionalidade
material.
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Órgão Especial

Nesse sentido, precedentes deste e. Órgão Especial que se amoldam à


hipótese do caso concreto:

0052231-04.2020.8.19.0000 - DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE


Des(a). MARCO ANTONIO IBRAHIM - Julgamento: 22/02/2021 - OE -
SECRETARIA DO TRIBUNAL PLENO E ORGAO ESPECIAL
Representação por inconstitucionalidade. Lei Estadual nº 8.184/2018, que
altera dispositivos da Lei nº 6.720/2014, instituidora de planos de cargos,
carreiras e remuneração da Fundação de Apoio à Escola Técnica do Estado do
Rio de Janeiro - FAETEC. Alegação de vícios de ordem formal e material, por se
tratar de lei de autoria parlamentar que, ao reduzir a carga horária de cargos
específicos, dispôs sobre o regime jurídico de agentes públicos, invadindo a
competência privativa do Chefe do Poder Executivo, em ofensa aos artigos 7º e
112, § 1º, II, a e b, da Constituição Estadual. Acolhimento da tese do
representante. Jurisprudência pacífica do Supremo Tribunal Federal no sentido
de reconhecer a usurpação de iniciativa reservada ao Chefe do Poder Executivo,
em caso de lei que altera jornada de trabalho de servidor público (regime
jurídico). Diploma impugnado que reduz a carga horária de servidores
integrantes da Administração Pública Estadual, dispondo, portanto, sobre seu
regime jurídico. Inconstitucionalidade formal. Violação ao princípio da
separação de Poderes. Representação julgada procedente. (grifei)

0061308-08.2018.8.19.0000 - DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE


Des(a). ELTON MARTINEZ CARVALHO LEME - Julgamento: 09/11/2020 - OE -
SECRETARIA DO TRIBUNAL PLENO E ORGAO ESPECIAL
REPRESENTAÇÃO POR INCONSTITUCIONALIDADE. LEI MUNICIPAL Nº
3.041/2018. CONCESSÃO DE VALE-TRANSPORTE AOS SERVIDORES DE BARRA
DO PIRAÍ. VÍCIO DE INICIATIVA PARLAMENTAR. COMPETÊNCIA PRIVATIVA DO
CHEFE DO PODER EXECUTIVO PARA TRATAR SOBRE REGIME JURÍDICO DE
SERVIDORES PÚBLICOS. INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL. VIOLAÇÃO AO
ART. 213, § 1º, I E II, DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.
DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE. ATRIBUIÇÃO DE EFEITOS EX NUNC.
CONFIRMAÇÃO DA MEDIDA CAUTELAR DEFERIDA. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO.
1. Representação por Inconstitucionalidade, objetivando a declaração de
inconstitucionalidade da Lei Municipal nº 3.041, de 15/10/2018, que dispõe
sobre a manutenção do benefício do vale-transporte aos servidores da
Prefeitura Municipal de Barra do Piraí e dá outras providências. 2. Hipótese em
exame que se insere na ressalva contida na parte final da tese fixada pelo
Supremo Tribunal Federal ao julgar o Tema 917 sob o regime de repercussão
geral, por versar sobre regime jurídico de servidores públicos. 3. Os artigos 112,
§ 1º, II, "b" e 145, III, da Constituição do Estado do Rio de Janeiro estabelecem a
competência privativa do Chefe do Poder Executivo para deflagrar o processo
legislativo no que se refere à disciplina dos temas ali elencados, sendo de
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Órgão Especial
observância obrigatória por parte dos municípios, em razão do princípio da
simetria, à luz do art. 345 da referida Constituição Estadual. 4. Ao dispor sobre
a concessão de vale-transporte aos servidores públicos municipais, a referida
lei abordou matéria relativa ao regime jurídico de servidores, de competência
privativa do Chefe do Poder Executivo, incorrendo em vício formal de
inconstitucionalidade, posto que emanada a lei de proposição de origem
parlamentar, por violação às normas que estabelecem a competência
legislativa, bem como ao princípio da separação dos poderes inserto no art.
7º da Constituição Estadual. 5. Precedentes do Supremo Tribunal Federal e
deste Tribunal. 6. Inconstitucionalidade material, por violação ao artigo 213, §
1º, I e II, da Constituição do Estado do Rio de Janeiro, norma igualmente de
reprodução obrigatória, com base no princípio da simetria relativamente ao
artigo 169, § 1º, I e II, da Constituição Federal, tendo em vista que o ato
normativo impugnado concede vantagem significativa para servidores sem a
existência de prévia dotação orçamentária e autorização específica na Lei de
Diretrizes Orçamentárias, em evidente ofensa, ainda, ao princípio
constitucional da responsabilidade da gestão fiscal. 7. Atribuição de efeito ex
nunc, a teor do art. 27 da Lei nº 9.868/99 e do art. 108, § 2º, do Regimento
Interno deste Tribunal de Justiça, em razão da segurança jurídica e do
excepcional interesse social. 8. Procedência do pedido, para declarar a
inconstitucionalidade formal e material da Lei nº 3.041/2018, com efeitos ex
nunc, confirmando-se a medida cautelar deferida. (grifei)

Soma-se precedente do e. Supremo Tribunal Federal:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE – LEI Nº 10.640/1998 DO ESTADO


DE SANTA CATARINA – DIPLOMA LEGISLATIVO QUE RESULTOU DE INICIATIVA
PARLAMENTAR – CONCESSÃO DE VALE-TRANSPORTE A SERVIDORES PÚBLICOS,
INDEPENDENTEMENTE DA DISTÂNCIA DO DESLOCAMENTO – USURPAÇÃO DO
PODER DE INICIATIVA DO PROCESSO LEGISLATIVO RESERVADO,
NOTADAMENTE, AO GOVERNADOR DO ESTADO – OFENSA AO PRINCÍPIO
CONSTITUCIONAL DA SEPARAÇÃO DE PODERES. INCONSTITUCIONALIDADE
FORMAL – AÇÃO DIRETA JULGADA PROCEDENTE. PROCESSO LEGISLATIVO E
INICIATIVA RESERVADA DAS LEIS O desrespeito à prerrogativa de iniciar o
processo legislativo, que resulte da usurpação do poder sujeito à cláusula de
reserva, traduz vício jurídico de gravidade inquestionável, cuja ocorrência
reflete típica hipótese de inconstitucionalidade formal, apta a infirmar, de
modo irremissível, a própria integridade do ato legislativo eventualmente
editado. Situação ocorrente na espécie, em que diploma legislativo estadual,
de iniciativa parlamentar, institui vale-transporte em favor de servidores
públicos, independentemente da distância do seu deslocamento: concessão de
vantagem que, além de interferir no regime jurídico dos servidores públicos
locais, também importa em aumento da despesa pública (RTJ 101/929 – RTJ
132/1059 – RTJ 170/383, v.g.). A usurpação da prerrogativa de iniciar o
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Órgão Especial
processo legislativo qualifica-se como ato destituído de qualquer eficácia
jurídica, contaminando, por efeito de repercussão causal prospectiva, a
própria validade constitucional da norma que dele resulte. Precedentes.
Doutrina. Nem mesmo a ulterior aquiescência do Chefe do Poder Executivo
mediante sanção do projeto de lei ainda quando dele seja a prerrogativa
usurpada, tem o condão de sanar esse defeito jurídico radical. Insubsistência da
Súmula nº 5/STF, motivada pela superveniente promulgação da Constituição
Federal de 1988. Doutrina. Precedentes. SIGNIFICAÇÃO CONSTITUCIONAL DO
REGIME JURÍDICO DOS SERVIDORES PÚBLICOS (CIVIS E MILITARES) – A locução
constitucional “regime jurídico dos servidores públicos” corresponde ao
conjunto de normas que disciplinam os diversos aspectos das relações,
estatutárias ou contratuais, mantidas pelo Estado com os seus agentes. Nessa
matéria, o processo de formação das leis está sujeito, quanto à sua válida
instauração, por efeito de expressa reserva constitucional, à exclusiva
iniciativa do Chefe do Poder Executivo. Precedentes. (ADI 1809 / SC - SANTA
CATARINA - AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - Relator(a): Min.
CELSO DE MELLO - Julgamento: 29/06/2017 - Publicação: 10/08/2017 - Órgão
julgador: Tribunal Pleno) - grifei.

À conta de tais fundamentos, voto no sentido de se julgar procedente a


presente Representação, para declarar a inconstitucionalidade da Lei Estadual nº
8.658, de 19 de dezembro de 2019, por manifesta violação aos artigos 7º, 91, caput,
112, § 1º, inciso II, alínea “b”, 145, inciso II, e 184, todos da Constituição do Estado do
Rio de Janeiro.

Rio de Janeiro, 19 de julho de 2021.

WERSON RÊGO
Desembargador Relator

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