Você está na página 1de 87

Aula 9 Profs.

Carlos
Roberto e Márcio
Damasceno)
Discursivas p/ Polícia Federal (Agente)
Sem correção - Pós-Edital

Autor:
Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e
Márcio Damasceno)
2 de Fevereiro de 2021

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)

Sumário

Padrões de resposta do bloco de temas 1 – Segurança pública e Sistema carcerário brasileiro ....................3

Tema 1...................................................................................................................................................3

Proposta de solução .............................................................................................................................. 5

Tema 2 ................................................................................................................................................. 6

Proposta de solução ............................................................................................................................... 7

Tema 3.................................................................................................................................................. 8
1405111

Proposta de solução .............................................................................................................................. 9

Tema 4 ................................................................................................................................................ 10

Proposta de solução ............................................................................................................................. 11

Tema 5 ................................................................................................................................................ 12

Proposta de solução ............................................................................................................................. 13

Tema 6 ................................................................................................................................................ 15

Proposta de solução ............................................................................................................................. 16

Tema 7................................................................................................................................................. 17

Proposta de solução ............................................................................................................................. 18

Tema 8 ................................................................................................................................................ 19

Proposta de solução ............................................................................................................................ 20

Tema 9 ............................................................................................................................................... 22

Proposta de solução ............................................................................................................................. 23

Tema 10.............................................................................................................................................. 24

Proposta de solução .............................................................................................................................25

Tema 11 .............................................................................................................................................. 26

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 1


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

Proposta de solução ............................................................................................................................ 28

Bloco de temas 2 – Crime organizado, drogas e armas ............................................................................ 29

Tema 12.............................................................................................................................................. 29

Abordagem teórica .............................................................................................................................. 31

Tema 13 ............................................................................................................................................... 37

Abordagem teórica ..............................................................................................................................39

Tema 14............................................................................................................................................... 41
==1570b7==

Abordagem teórica .............................................................................................................................. 43

Tema 15 .............................................................................................................................................. 48

Abordagem teórica ............................................................................................................................. 49

Tema 16...............................................................................................................................................52

Abordagem teórica .............................................................................................................................. 53

Tema 17 ............................................................................................................................................... 55

Abordagem teórica .............................................................................................................................. 57

Tema 18.............................................................................................................................................. 66

Abordagem teórica .............................................................................................................................. 67

Tema 19............................................................................................................................................... 76

Abordagem teórica .............................................................................................................................. 76

Tema 20 .............................................................................................................................................. 76

Abordagem teórica .............................................................................................................................. 78

Tema 21.............................................................................................................................................. 84

Abordagem teórica ............................................................................................................................. 84

Prática.................................................................................................................................................... 86

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 2


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

SEGUNDA RODADA DE TEMAS


Olá, meus nobres alunos. Bem-vindos à nossa segunda rodada de temas.
Meus nobres, esperamos que nesta aula você já comece a perceber a sua evolução em relação aos textos
produzidos na aula anterior. Cada aula é uma etapa transposta e uma vitória alcançada. Mas, junto a essa
conquista, vem o compromisso e a responsabilidade de escrever textos cada vez melhores.
Para que isso aconteça, é essencial que você incorpore os ensinamentos transmitidos e, efetivamente, passe
a aplicá-los. Nesse sentido, é fundamental que você treine, escreva textos manuscritos, conforme
conversamos nas aulas anteriores.
Aos alunos do curso com correção: vocês poderão escolher para envio qualquer dos temas desta aula.
Contudo, não é obrigatório escolher um tema agora, caso prefiram aguardar os temas da próxima rodada.
Bons estudos!
Instagram: profmarciodamasceno

Prof. Marcio

PADRÕES DE RESPOSTA DO BLOCO DE TEMAS 1 –


SEGURANÇA PÚBLICA E SISTEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO

Tema 1

Inédita
Desde meados da década de 1970, vem-se exacerbando, no Brasil, o sentimento de medo e insegurança.
Não parece infundado esse sentimento. As estatísticas oficiais de criminalidade indicam, a partir dessa
década, a aceleração do crescimento de todas as modalidades delituosas. Crescem mais rápido os crimes
que envolvem a prática de violência, como os homicídios, os roubos, os sequestros, os estupros. Esse
crescimento veio acompanhado de mudanças substantivas nos padrões de criminalidade individual bem
como no perfil das pessoas envolvidas com a delinquência. [...]
Em todo o país, o alvo preferencial dessas mortes são adolescentes e jovens adultos masculinos das
chamadas classes populares urbanas, tendência que vem sendo observada nos estudos sobre mortalidade
por causas externas (violentas). Na Região Metropolitana de São Paulo, registros de mortes violentas
revelam maior incidência nos bairros que compõem a periferia urbana, onde as condições sociais de vida
são acentuadamente degradadas.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 3


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

É provável que parte significativa dessas mortes se deva aos conflitos entre quadrilhas, associados ou não
ao tráfico de drogas. A esse quadro, conviria agregar graves violações de direitos humanos, entre as quais
as mortes praticadas por policiais em confronto com civis, suspeitos de haver cometido crimes, como
também aquelas cometidas por justiceiros e grupos de extermínio. Ademais, ao longo das décadas de 1980
e 1990, observou-se intensificação de casos de linchamentos em todo o Brasil, particularmente nas regiões
metropolitanas de São Paulo e em Salvador (Pinheiro; Adorno; Cardia e col.1999. In www.nevusp.org).
Finalmente, têm-se as mortes violentas provocadas por tensões nas relações intersubjetivas e que pouco
têm em comum com a criminalidade cotidiana. Trata-se de um infindável número de situações, em geral
envolvendo conflitos entre pessoas conhecidas, cujo desfecho acaba, muitas vezes até acidental e
inesperadamente, na morte de um dos contendores. São os conflitos entre companheiros e suas
companheiras, entre parentes, entre vizinhos, entre amigos, entre colegas de trabalho, entre conhecidos
que frequentam os mesmos espaços de lazer, entre pessoas que se cruzam diariamente nas vias públicas,
entre patrões e empregados, entre comerciantes e seus clientes.
As políticas públicas de segurança, justiça e penitenciárias não têm contido o crescimento dos crimes, das
graves violações dos direitos humanos e da violência em geral. A despeito das pressões sociais e das
mudanças estimuladas por investimentos promovidos pelos governos estaduais e federal, em recursos
materiais e humanos e na renovação das diretrizes institucionais que orientam as agências responsáveis
pelo controle da ordem pública, os resultados ainda parecem tímidos e pouco visíveis.
Ao que tudo indica, o crescimento dos delitos não foi acompanhado de uma elevação proporcional do
número de inquéritos e processos penais instaurados. Suspeita-se que o número percentual de condenações
vem caindo desde a década de 1980 e, por consequência, aumentando as taxas de réus isentos da aplicação
de sanções penais. [...]
No domínio das prisões, esses fatos são indicativos de uma crise há tempos instalada no sistema de Justiça
criminal. Todas as imagens de degradação e de desumanização, de debilitamento de uma vida cívica
conduzida segundo princípios éticos reconhecidos e legítimos, parecem se concentrar em torno dessas
“estufas de modificar pessoas e comportamentos”. As prisões revelavam a face cruel de toda essa história:
os limites que se colocam na sociedade brasileira à implementação de uma política de proteção dos direitos
fundamentais da pessoa humana, nela incluído o respeito às regras mínimas estipuladas pela ONU para
tratamento de presos.
ADORNO, S. . Crime e violência na sociedade brasileira contemporânea.
Jornal de Psicologia-PSI, n. Abril/Junh, p. 7-8, 2002. Disponível em:
http://www.depen.pr.gov.br/arquivos/File/crimeeviolencianasociedadebra
sileiracontemporanea.pdf. Acesso em: 08/07/2020 (com adaptações)

A partir das ideias do texto precedente, que tem caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo
acerca do seguinte tema:
VIOLÊNCIA NA SOCIEDADE BRASILEIRA: PROBLEMAS E SOLUÇÕES
Em seu texto, aborde, necessariamente:
a) principais problemas de violência nas grandes cidades; [valor: 4,00 pontos]

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 4


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

b) custos econômicos da violência; [valor: 4,00 pontos]


c) ações na área da segurança pública para solucionar o problema. [valor: 4,40 pontos]

Proposta de solução

O Brasil é um país violento, o que explica ser a segurança pública uma das principais
preocupações dos brasileiros. Face à gravidade da situação, faz-se necessário analisar as causas
da violência, os seus custos e as possíveis soluções para o problema.
Um dos grandes problemas brasileiros é o elevado índice de crimes violentos. Segundo o
Anuário Brasileiro de Segurança Pública (ABSP) de 2020, no ano de 2019,
ocorreram no Brasil mais de 39.000 homicídios dolosos e mais de 66.000 estupros.
Compõe esse cenário de medo e insegurança o elevado número de crimes patrimoniais, entre os
quais se destacam os latrocínios, os roubos de carga e os roubos e furtos de veículos. Essas
engrenagens, integrantes do panorama criminal brasileiro, são movimentadas pelo crime
organizado, o qual se financia por outras atividades responsáveis por disseminar mais violência: o
tráfico de drogas, de armas e o contrabando. [Tópico 1]
Para enfrentar esse contexto de violência, são vultosas as quantias empregadas no
financiamento da segurança pública. Segundo o ABSP de 2019, esse valor foi de 95
bilhões de reais em 2019. Além do impacto fiscal, há a perda prematura de vidas em faixa de
idade economicamente ativa, fato crítico ao se considerar a transição demográfica pela qual passa
o país. Acrescentem-se os gastos com segurança privada e seguros, encarecendo, por exemplo, o
valor dos fretes, e os gastos com o sistema de saúde e assistência social, para atender as vítimas,
pagamento de pensões, licenças médicas e aposentadorias. Esse conjunto de despesas compõe o custo
social da violência no país, estimado em, aproximadamente, 6,0% do Produto Interno
Bruto, segundo o Atlas da Violência. [Tópico 2]

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 5


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

Por fim, as soluções para o problema da violência no Brasil envolvem a criação de


políticas para reduzir e prevenir a ocorrência dos crimes violentos e para o enfrentamento do crime
organizado. Nesse sentido, é necessário consolidar um sistema de governança em segurança
pública capaz de tratar o problema de forma sistêmica, articulando os diversos órgãos e integrando
sistemas e informações. As políticas a serem implementadas devem enfatizar o uso da
inteligência, tecnologia e investigação, com planejamento voltado para uma atuação estratégica e
para a identificação e prisão dos criminosos cujos crimes provocam maiores impactos à sociedade,
bem como priorizar o ataque ao crime organizado, focando, principalmente, na redução do seu
poder econômico e político. [Tópico 3]

Tema 2

Cebraspe – Depen – 2015 – Adaptado


No passado, ligar a Zona Norte à Zona Sul do Rio de Janeiro simbolizava a esperança de aproximar a cidade
partida. Hoje, crimes absurdos unem as zonas da cidade em abraços inconsoláveis. A cada dez minutos,
uma pessoa é vítima de homicídio no Brasil. O discurso oficial de que segurança pública não pode ser só
polícia faz sentido. A conhecida carência de políticas sociais tem parcela imensa de importância nesse
quadro. Segurança não é só polícia, mas é polícia também.
Paula Cesarino Costa. Contágio da indiferença. In: Folha de S.Paulo,
21/5/2015, p. A2 (com adaptações).

Dois fatos trágicos que chocaram o Rio de Janeiro recentemente — a morte de dois jovens em um morro,
depois de uma operação policial, e a de um ciclista na Zona Sul da cidade — têm uma causa semelhante,
que é a incapacidade do poder público de lidar com os jovens pobres, mas a repercussão deles é bastante
diversa, sem que se faça a necessária reflexão sobre isso. Para muitos, trata-se de um problema exclusivo
de segurança pública. Para outros, esse é um problema ainda maior e muito mais complexo.
André Luís Machado de Castro. Menos presídios e mais escolas. In: O
Globo, 22/5/2015, p. 9 (com adaptações).

Aos dezesseis anos, os jovens podem votar, isto é, escolhem os nossos representantes nas câmaras e
assembleias e nos cargos executivos. Emancipados, podem realizar todos os atos da vida civil, inclusive
contrair matrimônio. A verdade é que os jovens de dezesseis anos de idade têm, de regra, capacidade de
entender a conduta criminosa.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 6


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

Carlos Velloso. Jovem de 16 anos é capaz de entender conduta


criminosa. In: O Globo, 22/5/2015, p. 9 (com adaptações).

Em vinte e cinco anos de existência do Estatuto da Criança e do Adolescente, o Estado foi o que mais
infringiu a lei. Não implementou as medidas previstas no estatuto, que têm o intuito de transformar o
adolescente em cidadão do bem. Com raríssimas exceções, os estabelecimentos destinados à
ressocialização dos infratores são calabouços revestidos de violência e desrespeito aos direitos
fundamentais dos jovens. O sistema educacional é ruim. A saúde pública é vergonhosa. Nas regiões de baixa
renda, os jovens são encarados como mão de obra fácil e barata na luta diária pela sobrevivência. Na
periferia urbana, eles são as principais vítimas da violência que todos querem combater.
Correio Braziliense. Editorial: O fiasco da punição a jovens infratores.
23/5/2015, p. 12 (com adaptações).

Considerando que os fragmentos de textos acima têm caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo acerca do seguinte tema.
SEGURANÇA PÚBLICA: DEVER DO ESTADO, DIREITO E RESPONSABILIDADE DE TODOS
Ao elaborar seu texto, faça o que se pede a seguir.
< Dê exemplos de políticas públicas para reduzir a violência e a insegurança. [valor: 4,00 pontos]
< Discorra a respeito do debate atual sobre reduzir ou não a maioridade penal. [valor: 4,00 pontos]
< Comente a respeito do sistema prisional brasileiro e da reincidência criminal. [valor: 4,40 pontos]

Proposta de solução

O sistema de segurança pública brasileiro passa por uma grave crise institucional. Face à
gravidade desse quadro, faz-se necessária a adoção de políticas públicas para reduzir a violência e
a insegurança [introdução sintética].
Para galgar mudanças estruturais que modifiquem de forma consistente a situação descrita,
deve-se investir em soluções focadas na redução das desigualdades sociais, no afastamento dos jovens
da criminalidade, na melhoria da educação, na erradicação da evasão escolar e no fortalecimento
do assistencialismo social. Por meio dessas políticas, o Estado tornar-se-á mais presente,
evitando que esse espaço seja ocupado pelo crime organizado, nas comunidades periféricas e nos
presídios. Adicionalmente, deve-se investir em políticas de segurança pública, como as que visem
a maior integração e coordenação entre os órgãos envolvidos na preservação da ordem social,

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 7


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

proposta a qual se propõe a Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social,


estabelecida pela Lei 13.675/2018. [Tópico 1]
Correlaciona-se a esse tema a discussão sobre a redução da maioridade penal. Trata-se de
tema polêmico, que polariza a sociedade em dois grandes segmentos. De um lado, há os que
defendem a manutenção da maioridade penal em 18 anos, visto que reduzir essa idade não teria
nenhum efeito sobre as verdadeiras causas do problema: deficiência no sistema educacional,
ausência do Estado, falta de oportunidades e outros. De outro, amparados pelo forte apoio popular,
há os defensores da redução da maioridade penal, ponderando que o sistema vigente reforça o
cometimento de crimes por parte dos menores, principalmente pela frouxidão das medidas
socioeducativas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente. [Tópico 2]
Por fim, o sistema prisional brasileiro caracteriza-se pela superlotação, haja vista ser o
número de detentos muito maior que o número de vagas disponíveis. Outrossim, tem como traços
marcantes o péssimo estado de conservação, a alimentação e assistência médica de baixa qualidade
e a falta de uma estrutura capaz de proporcionar trabalho profissionalizante e educação. Na
prática, esses estabelecimentos acabam funcionando como “escolas do crime”, ambientes em que as
organizações criminosas se organizam, articulam-se e recrutam novos componentes. Não sem
razão, o índice de reincidência beira a 25%, o que indica o fracasso do sistema prisional na sua
tarefa de educar e ressocializar o preso. [Conclusão sintética]

Tema 3

Convocada pela Defensoria Pública do Rio, a comunidade do Complexo do Alemão começou a chegar duas
horas antes do combinado. Enfileiraram-se em busca, principalmente, de carteiras de identidade e de
trabalho, ícones da entrada na sociedade formal. Houve duas dúzias de coleta de material genético para
exames de comprovação de paternidade. Foram entrevistadas 180 moradoras sobre saúde, maternidade e
violência doméstica. Uma cidadã transexual foi atrás de orientação para trocar de nome. Mães pediram
tratamento psicológico para filhos com sintomas de síndrome do pânico. Segundo a presidenta da
Associação de Defensores Públicos do Estado do Rio de Janeiro, “quando conversamos, percebemos que a

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 8


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

violência permeia o discurso. Mas os moradores têm outras demandas. Denunciam a falta de alguma
instituição que os defenda da vulnerabilidade”. A agenda dos moradores do Alemão envolve cinco ações:
moradia, saneamento, educação técnico-profissional, políticas para jovens e espaços de lazer, esporte e
cultura.
Flávia Oliveira. Demanda cidadã. In: O Globo, 27/5/2015, p. 28 (com adaptações).

Considerando que o fragmento de texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo acerca do seguinte tema.
SEGURANÇA PÚBLICA: POLÍCIA E POLÍTICAS PÚBLICAS
Ao elaborar seu texto, faça o que se pede a seguir.
< Disserte a respeito da segurança como condição para o exercício da cidadania. [valor: 4,00 pontos]
< Dê exemplos de ação do Estado na luta pela segurança pública. [valor: 4,00 pontos]
< Discorra acerca da ausência do poder público e a presença do crime organizado. [valor: 4,40 pontos]

Proposta de solução

O Brasil é um dos países mais violentos do mundo, o que torna a questão da segurança
pública [tema] um dos principais problemas brasileiros. Trata-se de situação grave e complexa,
cuja solução envolve a atuação da polícia e adoção de políticas públicas
Inicialmente, esclareça-se que a cidadania, de forma ampla, é a condição de cidadão,
tornando o indivíduo sujeito de direitos e também de deveres. Assim, para que a cidadania seja
exercida, é necessário que os integrantes do Estado possam gozar de direitos civis, políticos e sociais,
fato que, em grande medida, depende da garantia de segurança aos cidadãos. Direitos basilares,
como o à vida, à propriedade e à liberdade de locomoção, ficam comprometidos num cenário de
violência, desordem e insegurança. Basta ver que, quando há uma greve das forças policiais,
cenário em que a garantia à segurança é enfraquecida, as cidades tornam-se palcos de chacinas,
saques a estabelecimentos comerciais, e os cidadãos ficam impedidos de se locomover, o que cerceia,
portanto, o pleno exercício da cidadania.
Nesse sentido, deve o Estado desenvolver ações na luta pela segurança pública. Um
exemplo são ações sociais com o objetivo de proporcionar condições de existência dignas à população,

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 9


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

marcando a sua presença e demonstrando a sua capacidade de prover à população, especialmente


aos mais vulneráveis, o exercício de direitos constitucionalmente assegurados. Às polícias,
instituições essenciais na garantia da segurança, também cabem ações. Uma delas envolve a busca
da aproximação junto à comunidade, visando ao desenvolvimento de uma relação de confiança,
com foco na resolução preventiva de problemas e em parceria com os cidadãos. Para isso, é
necessário que cada policial tenha ciência de que sua atuação deve ser norteada pela garantia de
direitos aos cidadãos.
Por fim, pode-se afirmar que a presença do crime organizado decorre, em grande parte, da
ausência do poder público. A carência no oferecimento de serviços essenciais aos cidadãos em
determinadas áreas, como segurança, saúde, educação, tratamento de água e saneamento básico,
engendrou um vazio de poder, o qual foi ocupado pelo crime organizado. Com um discurso voltado
ao assistencialismo, essas facções, na verdade, impõem-se pela disseminação do medo e da violência,
subjugando os locais a regras próprias e criando uma espécie de Estado paralelo. Mencione-se
que esse mesmo fenômeno foi observado no interior dos estabelecimentos carcerários, local de criação
e de fortalecimento das grandes facções criminosas atuantes no país, como o Primeiro Comando
da Capital.

Tema 4

Cespe/Cebraspe – Agente da Polícia Federal – 2009 - Adaptado


Texto fixa duração de dez anos para Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social
O Projeto de Lei 3.734/12, aprovado nesta quarta-feira (11/04/2018) pelo Plenário da Câmara dos Deputados,
prevê a criação do Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social para promover a melhora da
qualidade da gestão das políticas do setor e priorizar ações preventivas e fiscalizatórias de segurança
interna, nas divisas, fronteiras, portos e aeroportos.
O plano terá ainda de assegurar a produção de conhecimento no tema e a avaliação dos resultados das
políticas de segurança pública, contribuindo para a organização dos conselhos de Segurança Pública e
Defesa Social.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 10


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

De acordo com o substitutivo do deputado Alberto Fraga (DEM-DF), o plano nacional terá duração de dez
anos. As ações de prevenção à criminalidade serão prioritárias, e as políticas públicas de segurança não
serão restritas aos integrantes do Sistema Único de Segurança Pública (Susp), devendo considerar um
contexto social amplo e abranger outras áreas do serviço público, como educação, saúde, lazer e cultura.
No caso dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, eles terão até dois anos para elaborar seus planos
correspondentes, sob pena de não poderem receber recursos da União para a execução de programas ou
ações no setor.
Disponível em: https://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/SEGURANCA/555815-
TEXTO-FIXA-DURACAO-DE-DEZ-ANOS-PARA-PLANO-NACIONAL-DE-SEGURANCA-PUBLICA-E-
DEFESA-SOCIAL.html. Acesso: 24 de abril de 2019.

Considerando que o texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo que
aborde, necessariamente, os seguintes aspectos:
 relação entre eficiência policial e direitos do cidadão; [valor: 4,00 pontos]
 finalidade da repressão policial e sua intensidade; [valor: 4,00 pontos]
 aparelho policial como um dos pilares da sociedade democrática. [valor: 4,40 pontos]

Proposta de solução

A Constituição Federal dispõe que a segurança pública é dever do Estado, direito e


responsabilidade de todos e é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das
pessoas e do patrimônio por meio dos órgãos policiais. Desse dispositivo, depreende-se o relevante
papel dos órgãos policiais, qual seja, propiciar condições para o fortalecimento da democracia e o
pleno exercício dos direitos do cidadão. [Introdução]
Inicialmente, frise-se haver uma intrínseca relação entre a eficiência policial e os direitos do
cidadão, pois quanto mais eficiente a polícia, mais os cidadãos terão condições de exercer os direitos
a eles constitucionalmente assegurados. Se ineficiente, torna-se incapaz de garantir a ordem social
e a incolumidade das pessoas e do patrimônio, o que frustrará o exercício de direitos. De uma
atividade policial eficiente dependem direitos tão básicos quanto o próprio direito à vida, a qual
resta ameaçada num ambiente violento, seja pela insuficiência da cobertura policial, seja pelo seu
mau funcionamento. Por isso é fundamental que essa atividade seja desempenhada com elevado

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 11


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

esmero e com o menor custo social possível, de forma que possa atender a um número maior de
pessoas e com mais qualidade. [Tópico I]
Outrossim, deve-se esclarecer que a repressão policial tem como finalidade a preservação da
ordem pública e da paz social. Não obstante seja inerente à atividade policial o uso da força, ela
deve ser sempre exercida de forma proporcional e nos rigorosos ditames da lei, conforme se estabelece
nos Estados democráticos de direito. Nesse sentido, não se concebem operações policiais com o
uso desmedido da violência, ao arrepio do que preconiza o ordenamento jurídico. A intensidade
da ação policial deve ser a necessária para restaurar a normalidade e evitar que os direitos alheios
sejam ofendidos, contexto em que se inadmitem manifestações com abuso de autoridade. [Tópico
2]
Por fim, pode-se afirmar que o aparelho policial é um dos pilares da sociedade democrática.
Na democracia, regime político em que o poder deflui do povo, quem possui direitos, mas, também,
deveres, exige, como condição de existência, a possiblidade do exercício desses direitos, a exemplo do
ato de votar. Consoante o exposto, as polícias ocupam papel de grande relevância nesse sentido,
visto que possibilitam o livre exercício de direitos, além de zelarem pelo cumprimento de deveres,
entre os quais o de respeitar os direitos alheios. Nesse sentido, fica clara a importância da atividade
policial para a democracia, sustentáculo fundamental para o funcionamento da sociedade e para o
pleno gozo dos direitos humanos. [Tópico 3]

Tema 5

A origem da criminalidade
Sem contar as vidas perdidas, o crime custa ao Brasil mais de 100 bilhões de reais. Para curar essa chaga, é
preciso primeiro entender como ela é fabricada.
A sensação de insegurança no Brasil não é sem fundamento. Somos, de fato, um dos países mais violentos
da América Latina, que, por sua vez, é a região mais violenta do globo. O país perde muito com isso.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 12


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

Só por causa dos assassinatos, o homem brasileiro vive um ano e poucos meses a menos, em média. Se esse
homem vive no Rio de Janeiro, o prejuízo é ainda maior: quase três anos a menos. As mulheres também não
passam incólumes. Na cidade de São Paulo, em 2001, o assassinato foi, pela primeira vez, a principal causa
de mortes de mulheres, ultrapassando números de mortes por doenças cerebrovasculares e Aids.
Embora tão grave e nociva, a chaga do crime é pouco entendida no Brasil. Mas, afinal, qual é a origem do
crime?
Existem muitas teorias para explicar o que gera a criminalidade. Cada uma delas se aplica perfeitamente a
pelo menos uma situação criminosa, mas nenhuma consegue explicar o nascedouro de todos os crimes.
Para o antropólogo e cientista político Luiz Eduardo Soares, que foi coordenador de Segurança, Justiça e
Cidadania no governo de Anthony Garotinho (PSB) no Rio de Janeiro, isso acontece porque “crime” é um
conceito muito amplo. “Não há uma teoria geral sobre criminalidade porque não há uma criminalidade ‘em
geral’. Quando falamos em crime, estamos nos referindo à transgressão de uma lei, e isso engloba uma
infinidade de situações diferentes, cada uma favorecida por determinadas condições”, diz ele. Em outras
palavras: crimes diferentes têm causas diferentes. “Um menino de rua que rouba para cheirar cola tem uma
motivação completamente diferente da que move o operador financeiro que lava dinheiro para traficantes.
No entanto, ambos estão cometendo crimes.”
Disponível em: https://super.abril.com.br/ciencia/a-origem-da-
criminalidade/.Acesso em: 06/08/2020. Com adaptações.

Considerando que o fragmento de texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo acerca do seguinte tema.

VIOLÊNCIA NO BRASIL: CAUSAS E SOLUÇÕES


Ao elaborar seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes aspectos:
< raízes da atual violência urbana; [valor: 4,00 pontos]
< responsabilidade do poder público no combate à violência; [valor: 4,00 pontos]
< possíveis medidas a serem tomadas para se enfrentar a criminalidade. [valor: 4,40 pontos]

Proposta de solução

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2020, houve no Brasil


47.773 mortes violentas intencionais em 2019. Apesar de esse número representar uma
redução em relação ao ano anterior, trata-se, ainda, de cifra elevada, que exprime o grau de violência
com a qual convive a sociedade brasileira.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 13


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

Inicialmente, mencione-se que as raízes da violência se associam à elevada desigualdade


social, a qual vulnerabiliza uma grande parcela da população e suprime-lhe o gozo de direitos
sociais básicos, fator que oportuniza uma aproximação da via criminal. Esse cenário conspira
também para a deterioração dos laços familiares, a degradação na transmissão dos valores e o
afastamento da escola, contextos que enfraquecem as travas morais dos indivíduos. Além disso,
mencione-se a histórica impunidade, comprovada pela baixa taxa de esclarecimento nos crimes
violentos. A falta de perspectivas de conduzir uma vida digna, aliada à baixa probabilidade de
punição, encoraja o cometimento de delitos e torna o caminho do crime mais sedutor, convergindo
para o aumento da violência.

Outrossim, saliente-se que é dever do poder público combater a violência, como forma de
concretizar a previsão do art. 144, da Constituição Federal de 1988, a qual atribui como
obrigação do Estado a garantia da segurança pública. O Estado, como implementador de
políticas públicas e detentor do monopólio do uso legítimo da força, tem a responsabilidade de
proporcionar aos cidadãos um ambiente onde os direitos, sejam eles políticos, sociais ou civis, possam
ser livremente exercidos, assegurando condições para o pleno desenvolvimento de um regime
democrático. Nesse sentido, é dever do Estado entender as raízes do problema da violência no
país e entender como o crime se estrutura, organizando políticas efetivas para o enfrentamento do
quadro de insegurança social.

Por fim, as medidas a serem tomadas para se enfrentar a criminalidade envolvem a


implementação de políticas públicas para a redução das desigualdades e de inclusão social. São
exemplos nesse sentido a criação de programas de aprendizes e estagiários voltados exclusivamente
para adolescentes em situação de maior vulnerabilidade e a adoção de ações para fortalecimento das
escolas, fomentando a realização de atividades desportivas e culturais para evitar a evasão escolar.
Além disso, como forma de aumentar a eficiência das polícias e reduzir a impunidade, deve-se
enfatizar as áreas de investigação e perícia, implementando-se, por exemplo, metas progressivas

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 14


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

voltadas à resolução de crimes. Para isso, deve-se, contudo, valorizar e fortalecer as polícias, bem
como investir na sua formação.

Tema 6

Cespe/Cebraspe – PF/2018 – Agente


O preâmbulo da Constituição Federal de 1988 (CF) dispõe que o Estado democrático se destina a
assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o
desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e
sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a
solução pacífica das controvérsias.
A missão das forças policiais é garantir ao cidadão o exercício dos direitos e das garantias
fundamentais previstos na CF e nos instrumentos internacionais subscritos pelo Brasil (art. 5.º, § 2.º, da CF).
O cumprimento dessa missão exige preparo dos integrantes das corporações policiais, que devem perseguir
incansavelmente a verdade dos fatos sem se afastar da estrita observância ao ordenamento jurídico
vigente, que deve ser observado por todos, em respeito ao Estado democrático de direito.
Wlamir Leandro Motta Campos. Polícia Federal e o Estado democrático. Internet:
(com adaptações).

O Brasil se efetivou como um país democrático de direito após a promulgação da CF — também


chamada de Constituição Cidadã, por contar com garantias e direitos fundamentais que reforçam a ideia de
um país livre e pautado na valorização do ser humano. Com a ruptura do antigo sistema ditatorial, o Estado
tinha a necessidade de resgatar a importância dos direitos humanos, negligenciados até então, porquanto,
desde 1948, havia-se erigido a Declaração Internacional dos Direitos Humanos no mundo.
Já no art. 1.º da CF, afirma-se a condição de Estado democrático de direito fundamentado em
cidadania e dignidade da pessoa humana. O Brasil, por ser signatário de tratados internacionais de direitos
humanos, tem como princípio, em suas relações internacionais, a prevalência dos direitos humanos.
Yara Gonçalves Emerik Borges. A atividade policial e os direitos humanos. Internet:
(com adaptações).

A partir das ideias dos textos precedentes, que têm caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo acerca do seguinte tema.
O PAPEL DA POLÍCIA FEDERAL NO APRIMORAMENTO DA DEMOCRACIA BRASILEIRA
Em seu texto,

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 15


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

1. Discorra sobre o papel constitucional e social da Polícia Federal e sua relação com os direitos humanos;
[valor: 4,00 pontos]
2. Cite contribuições da Polícia Federal relevantes para a manutenção do Estado democrático de direito,
especialmente relacionadas aos direitos humanos; [valor: 4,00 pontos]
3. Apresente sugestões de implantação de ações e(ou) projetos que possam contribuir futuramente para
o aprimoramento da democracia brasileira. [valor: 4,40 pontos]

Proposta de solução

Inicialmente, esclareça-se que a Polícia Federal (PF), peça central no atual


arcabouço da segurança pública, tem como atribuição constitucional a preservação da ordem
pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, defluindo disso seu relevante papel social.
Nesse sentido, é emblemática a sua atuação na área de segurança pública, zelando pela
preservação da vida dos cidadãos, a exemplo das atividades de prevenção e repressão ao tráfico ilícito
de entorpecentes e drogas afins. A PF, por meio da sua atuação, é instrumento de garantia e
preservação dos direitos humanos, proporcionando a paz social, ambiente imprescindível para o
gozo de direitos. É necessário mencionar que, no desenvolvimento desse papel, a referida instituição
deve ter como referência constante a estrita obediência aos direitos humanos, haja vista ser elemento
responsável pela sua promoção, não pelo seu sufocamento. [Tópico 1]
Desse modo, a PF tem papel decisivo na manutenção do Estado democrático de direito,
haja vista a sua atribuição de zelar pela ordem pública e pela incolumidade das pessoas e do
patrimônio, condição necessária para o pleno exercício dos direitos humanos e das garantias
fundamentais. Nessa linha, exemplifica-se com a prevenção ao cometimento de crimes,
repercutindo no zelo à vida; com a sua atuação no combate à corrupção, poupando recursos públicos
que poderão propiciar serviços de saúde e educação de melhor qualidade; e com suas operações
destinadas ao combate aos crimes contra os direitos humanos (exemplos: tráfico de seres humanos,
exploração sexual de crianças e adolescentes), protegendo a dignidade da pessoa humana, valor
supremo da democracia. [Tópico 2]

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 16


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

Por fim, são exemplos de ações capitaneadas pela PF que podem contribuir futuramente
para o aprimoramento da democracia brasileira: o investimento em ações de capacitação para que
seus agentes internalizem o importante papel da instituição na preservação dos direitos humanos;
a disponibilização de canais que otimizem o tratamento de demandas apresentadas pelos cidadãos
e a disponibilização de relatórios, que darão ciência das atividades desempenhadas, dos recursos
envolvidos e dos resultados obtidos, proporcionando, pois, maior transparência sobre as suas ações.
[Tópico 3]

Tema 7

CESPE | CEBRASPE – PF – Papiloscopista de Polícia Federal - 2018


Sem abrigos, grupos de imigrantes venezuelanos voltaram a acampar na rodoviária e a ficar nas ruas de
Manaus. A crise política, econômica e social na Venezuela, que desencadeou um fluxo migratório para o
Brasil, continua atraindo milhares de imigrantes para o país.
Em busca de sobrevivência, indígenas venezuelanos da etnia Warao começaram a migrar para Manaus
desde o início de 2017. Adultos, idosos e crianças se abrigaram na rodoviária de Manaus e debaixo de um
viaduto na Zona Centro-Sul. Enquanto o maior abrigo foi desativado no Amazonas, a chegada dos
venezuelanos não indígenas só aumentou.
As condições precárias de vida em solo brasileiro podem favorecer a ocorrência de situações degradantes.
Órgãos federais e entidades religiosas anunciaram medidas para cobrar ações concretas da prefeitura da
cidade e dos governos federal e estadual.
Internet: <https://g1.globo.com> (com adaptações).

Lei nº 13.445/2017
Art. 3.º A política migratória brasileira rege-se pelos seguintes princípios e diretrizes:
I – universalidade, indivisibilidade e interdependência dos direitos humanos;
II – repúdio e prevenção à xenofobia, ao racismo e a quaisquer formas de discriminação;
III – não criminalização da migração;
[...]
VI – acolhida humanitária;
[...]
IX – igualdade de tratamento e de oportunidade ao migrante e a seus familiares;
X – inclusão social, laboral e produtiva do migrante por meio de políticas públicas;

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 17


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

XI – acesso igualitário e livre do migrante a serviços, programas e benefícios sociais, bens públicos,
educação, assistência jurídica integral pública, trabalho, moradia, serviço bancário e seguridade social;
XII – promoção e difusão de direitos, liberdades, garantias e obrigações do migrante;
XVII – proteção integral e atenção ao superior interesse da criança e do adolescente migrante;
Internet: <www.planalto.gov.br>

Considerando que os fragmentos de texto apresentados têm caráter unicamente motivador, redija um
texto dissertativo acerca da entrada de imigrantes no Brasil, discutindo estratégias para a prevenção de
crimes e de violências envolvendo imigrantes no país, tanto na condição de agentes quanto na de vítimas.

Proposta de solução

A entrada de imigrantes [tema] é assunto que, recentemente, ganhou maior popularidade,


a partir da entrada massiva de venezuelanos no Brasil. Esse evento provocou impactos na
sociedade, mormente na segurança pública, ensejando a adoção de estratégias para a prevenção de
crimes e de violências envolvendo imigrantes [tese].
A entrada de imigrantes no Brasil gerou notórios impactos, principalmente nas áreas de
maior afluxo. Não obstante as nobres intenções do legislador, que, por meio da edição da Lei de
Migração (Lei 13.445/2017), simplificou a entrada e a permanência de imigrantes
no Brasil, na prática, essa política de “portas abertas” fez surgir uma série de problemas,
destacando-se os afetos à área de segurança. Considerando-se que os serviços públicos, no Brasil,
já não correspondem ao ideal, com a entrada de imigrantes, que farão jus aos mesmos serviços, a
tendência é o colapso, o que gerará insatisfação por parte dos locais. Noutro polo, os imigrantes,
privados de condições de proporcionar o seu sustento, terão o crime como alternativa provável. Isso,
aliás, foi o que se observou, recentemente, com a entrada massiva de venezuelanos no Brasil.
Como forma de neutralizar essas tensões, é imprescindível a adoção de estratégias específicas.
É mister a criação de uma infraestrutura especial nos locais de maior concentração de imigrantes,
com o oferecimento de abrigo e alimentação, além de políticas públicas que visem integrá-los ao
seu novo país, oferecendo condições para que possam ingressar no mercado de trabalho e ter uma

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 18


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

vida digna, longe da criminalidade. Sob o ponto de vista dos locais, é importante a realização de
campanhas de conscientização, informando sobre todos os benefícios que a entrada de imigrantes
já trouxe para a construção do país e estimulando a solidariedade e o espírito humanitário, visto
que, em boa parte dos casos, a migração se justifica pela situação de calamidade enfrentada pelos
imigrantes nos seus países de origem.
Diante do exposto, ressalta-se a necessidade de que a política migratória seja planejada com
cautela, pois, caso contrário, pode-se estimular o sentimento de xenofobia, o que vai de encontro à
cooperação entre os povos, princípio da República Federativa do Brasil nas suas relações
internacionais. [Conclusão]

Tema 8

Ministro Dias Toffoli assina termo que capacita CNJ a estimular adoção de penas alternativas
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministro Dias
Toffoli, e o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, assinaram hoje (24) um termo de execução
descentralizada que permite a transferência inicial de R$ 20 milhões ao CNJ para desenvolver estratégias
que reduzam a superlotação carcerária por meio do incremento da adoção de penas alternativas . [...]Toffoli
saudou a iniciativa como o primeiro passo concreto, dado conjuntamente pelos Poderes Judiciário e
Executivo, para o enfretamento da crise penitenciária no País, e afirmou que a parceria põe em prática um
dos compromissos de sua gestão.
O ministro destacou que a adoção de penas alternativas à prisão para punir o cometimento de delitos de
menor potencial ofensivo exige uma mudança cultural por parte dos juízes, com o objetivo de oferecer uma
opção real ao encarceramento, sem comprometer a segurança pública. Enfatizou ainda que a medida será
uma forma de dar resposta a uma decisão do STF que, em 2015, ao julgar uma ação que pedia à Corte que
reconhecesse a violação de direitos fundamentais da população carcerária e adotasse providências,
reconheceu o estado inconstitucional de coisas no sistema penitenciário brasileiro e determinou o
descontingenciamento de verbas do Funpen e a realização de audiências de custódia em até 24 horas,
contadas do momento da prisão.
“O Conselho Nacional de Justiça pretende, com esses valores repassados pelo Ministério da Segurança
Pública, fazer-se presente em todos os Tribunais do país, oferecendo assistência técnica para a
implementação de um efetivo controle de vagas do sistema prisional, única saída capaz de romper com o
atual quadro caótico em que nos encontramos. Faremos, em cada uma das 27 unidades da federação,

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 19


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

diagnósticos locais relacionados à aplicação e execução das medidas alternativas à prisão, criando
condições para que os serviços de acompanhamento de pessoas que cumprem penas e medidas em
liberdade sejam implantados”, disse o ministro Toffoli.
[...]
Jungmann reconheceu que o Estado brasileiro não tem condições de garantir a vida dos detentos e também
falha no processo de ressocialização da população carcerária que, por não ser aceita de volta à sociedade,
termina por reincidir no crime. “O sistema estatal, com mais de 1.400 unidade prisionais, seja pela
superlotação, seja pela não observância do princípio constitucional da separação dos apenados pelo tipo de
crime cometido, não é capaz de assegurar a vida do detento, e ele então recorre às facções para proteger a
própria vida. Ao fazê-lo, ele faz um juramento e se torna um escravo dessas facções, dentro do sistema ou
fora dele”, admitiu, acrescentando há cerca de 70 facções criminosas, sendo a maioria delas de base
prisional.
Por esse motivo, o ministro da Segurança Pública destacou a importância do estímulo à adoção de penas
alternativas, já que reduzirá o problema da superlotação carcerária e também o controle, a atuação e o
tamanho dessas facções criminosas.
[...]
Com adaptações. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=393619.
Acesso em 20 de maio de 2020.

Considerando que o fragmento de texto apresentados têm caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo acerca da SUPERPOPULAÇÃO CARCERÁRIA NO BRASIL. No seu texto, aborde,
necessariamente,
a) O perfil da população carcerária brasileira; [valor: 4,00 pontos]
b) A superlotação como violação aos direitos humanos; [valor: 4,00 pontos]
c) Alternativas para a redução do encarceramento. [valor: 4,40 pontos]

Proposta de solução

Dados oficiais apontam um cenário de superpopulação carcerária no Brasil. Em


virtude da gravidade dessa situação, faz-se necessário discutir o perfil da população carcerária, a
violação aos direitos humanos decorrentes da superpopulação e as alternativas para reduzir o
encarceramento. [Introdução roteiro]
De acordo com as informações apresentadas pelo Sistema de Informações Estatísticas
do Sistema Penitenciário Brasileiro- Infopen, os principais afetados pelo cenário de

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 20


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

superlotação são homens (cerca de 95%), pardos e negros, jovens (na faixa dos 18 aos 29
anos). Além disso, a massa carcerária caracteriza-se por um baixo nível de escolaridade, com
mais da metade dos presos possuindo apenas o nível fundamental incompleto. A maioria dos
homens teve a sua prisão motivada por: crimes contra o patrimônio, tráfico de drogas e crimes
contra a pessoa. Quanto às mulheres, a maior causa da prisão é o tráfico de drogas, seguido pelos
crimes contra o patrimônio.
A deficiência de vagas nos presídios provoca a superlotação, grave ofensa aos direitos
humanos, principalmente, à dignidade dos presos. As celas, onde se amontoam dezenas de
presidiários, sem condições mínimas de higiene e conforto, ofendem os Tratados
Internacionais dos quais o país é signatário, a Constituição Federal e a Lei de Execução
Penal, no que tange à a necessidade de compatibilidade entre a lotação do estabelecimento
prisional e sua estrutura e finalidade. Além disso, a superlotação compromete a qualidade dos
serviços oferecidos, como a assistência médica, saúde e trabalho, haja vista o desequilíbrio entre a
escassa oferta e a elevada demanda por essas assistências.
Por fim, o problema da superpopulação pode ser amenizado pela difusão de práticas já
existentes no ordenamento jurídico. A primeira delas é a opção de penas alternativas à prisão,
como a prestação de serviços comunitários, em detrimento das penas restritivas de liberdade nos
crimes de menor potencial ofensivo. A segunda é o monitoramento eletrônico de presos,
instrumento de acompanhamento da localização e medida capaz de diminuir o número elevado
de presos provisórios no Brasil. Finalmente, outro instrumento é a intensificação da remição
da pena pelo trabalho e estudo, por meio do qual, uma vez cumpridos seus requisitos, abrevia-se
o tempo de encarceramento, além de contribuir com a ressocialização do detento.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 21


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

Tema 9

Inédita
“Uma recente pesquisa feita no período eleitoral, durante o ano passado, revelou que as duas maiores
preocupações do eleitor brasileiro estavam relacionadas à escalada da violência, ou seja, ao medo de perder
um ente querido de forma violenta ou de sofrer algum tipo de violência pessoal. Realizado pelo instituto
Real Time Data, o levantamento também revelou que 85% dos entrevistados mostravam preocupação
excessiva com a segurança pública.
Essa preocupação não é exclusiva do brasileiro. A grande diferença é que, em outros países, muito já foi
feito para combater a escalada da violência, e grande parte desses esforços só foi possível por conta de
novas tecnologias. Em matéria de segurança pública, não faltam inovações tecnológicas em prol do
combate ao crime”.
Como a tecnologia aprimora o trabalho da polícia. Disponível em:
http://www.ariehalpern.com.br/como-a-tecnologia-aprimora-o-
trabalho-da-policia/. Acesso em: 09 dez. 2019. (Com adaptações)

[...] o Estado Brasileiro além de investir pouco, quando o faz, gasta mal, e, em decorrência da má qualidade
do investimento - não pode dele advir bons frutos - o resultado, em geral, é baixo ou pífio. No que tange à
segurança pública, por exemplo, os altos índices de criminalidade estão diretamente relacionados à falta de
estratégia e inteligência no combate ao crime.
Apenas para ilustrar a questão, cabe mencionar que, no episódio do atentado da Maratona de Boston, a
polícia, graças a uma câmera de circuito fechado de lojas de rua, conseguiu em poucas horas identificar e
prender os responsáveis pelo atentado, que, para a detonação da bomba, utilizaram a rede de telefonia
móvel. Cabe lembrar que, tanto aqui como lá, criminosos utilizam o que há de melhor na tecnologia. A
diferença é que lá o Estado também tem os melhores recursos e aqui, nossa força policial, em geral, não
tem nada ou, quando tem, está sucateado ou inoperante. Como esperar um resultado satisfatório num
Estado em que a polícia vive de favor para comer ou abastecer uma viatura? [...]
Como a tecnologia aprimora o trabalho da polícia. Disponível em:
https://canaltech.com.br/seguranca/Como-a-tecnologia-pode-
ajudar-no-combate-ao-crime/. Acesso em: 09 dez. 2019. (Com
adaptações)

Considerando os textos de apoio acima e seu conhecimento de mundo, elabore um texto dissertativo-
argumentativo sobre o tema:
A INFLUÊNCIA DA TECNOLOGIA NO TRABALHO POLICIAL
Ao elaborar seu texto, aborde os seguintes aspectos:
a) Como a tecnologia pode auxiliar o trabalho policial. [valor: 5,40 pontos]
b) Como o uso da tecnologia na atividade policial pode contribuir para a cidadania. [valor: 3,50 pontos]

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 22


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

c) Apresente eventual risco que envolve a adoção massiva de recursos tecnológicos. [valor: 3,50 pontos]

Proposta de solução

De fato, a tecnologia [assunto] revolucionou os processos produtivos, dotou-os de maior


rapidez e acurácia e alterou a forma de relacionamento entre os seres humanos na
contemporaneidade. Essas transformações trazem um leque de oportunidades na área da segurança
pública e apresentam elevado potencial para aumentar sua eficiência e fortalecer a cidadania [tese].
[Introdução roteiro]

Segundo o Atlas da Violência de 2019, em 2017, houve mais de 65.000


homicídios no Brasil. Números dessa magnitude ensejam forte clamor social por mais eficiência
e racionalidade na segurança pública, o que pode ser obtido por meio de ferramentas tecnológicas.
A utilização desses recursos proporciona a otimização de processos, a redução de custos e a
substituição da mão de obra humana empregada em atividades repetitivas, o que possibilita o
emprego mais estratégico dos recursos humanos. Basta ver o ganho proporcionado pelo uso de
“drones”, os quais podem levantar informações sem a necessidade de exposição dos agentes ao risco,
orientar perseguições, entre outros, bem como todas as contribuições proporcionadas pela difusão da
biometria, destacando-se, nesse cenário, ferramentas que utilizam reconhecimento facial.

Outrossim, no que se refere à cidadania, vê-se que a tecnologia permite o ganho de eficiência
na atividade policial e, por conseguinte, potencializa o aumento do seu espectro protetivo. Logo, o
crescente emprego de ferramentas tecnológicas contribui para a ordem social e preservação da
incolumidade patrimonial e pessoal, condições indispensáveis para o exercício dos direitos do
cidadão. Inexistentes essas condições, não há que se falar em democracia, visto que é sistema no
qual pressupõe o livre exercício do poder titularizado pelo cidadão.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 23


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

Por fim, não obstante as incontestáveis vantagens, é inegável haver riscos associados ao uso
massivo das tecnologias. Um deles decorre do emprego de ferramentas tecnológicas ainda não
totalmente testadas ou aceitas pela comunidade científica, as quais podem ocasionar efeitos adversos
aos pretendidos. Isso ocorreu, por exemplo, com a tecnologia de reconhecimento facial, visto que já
houve casos de erro de identificação, o que implicou a prisão de pessoas inocentes. Há, inclusive,
estudos que apontam margens de erros maiores para mulheres, negros e mulheres negras.

Tema 10

Reconhecimento facial: o que se pode esperar dele?


Trata-se de uma das tecnologias mais inovadoras do momento. Só que é preciso pensá-la melhor
A tecnologia não é nova, mas está cada vez mais avançada. O conceito foi desenvolvido na década de 1960
por Woodrow "Woody" Bledsoe para a Panoramic Research e até hoje os preceitos são os mesmos: boa
parte dos sistemas ainda aposta em imagens 2D, já que a maioria dos bancos de dados de referência têm
apenas esse tipo de foto.
Ela é, portanto, uma forma de autenticação biométrica que permite confirmar uma identidade. O processo
de identificação usa as medidas do formato e da estrutura facial, que são únicas para cada indivíduo. Aí
começam os problemas: embora seja bastante interessante, ela pode ser controversa.
É essa a tecnologia usada no Facebook para sugerir marcações em fotos — e quem tem irmãos sabe que o
sistema pode ser bastante falho na tarefa de diferenciar pessoas com características semelhantes. Isso
porque informações-chave das imagens (como o tamanho e o formato de nariz, boca e olhos, bem como a
distância entre diferentes pontos da face) são comparadas com um banco de dados. Há até quem tenha
processado a rede social por ter sido identificado em imagens sem ser informado.
Disponível em: https://olhardigital.com.br/noticia/reconhecimento-facial-o-que-se-pode-
esperar-dele/84009. Acesso em: 30/07/2020. Com adaptações.

IBM desiste de segmento para pesquisa e desenvolvimento de reconhecimento facial


CEO da companhia defende que uso da tecnologia precisa de um "acordo global"
A IBM anunciou que não está mais trabalhando com o segmento de pesquisa e análise de reconhecimento
facial. A empresa não trabalhará mais com programas para reconhecimento facial de uso geral por tempo
indeterminado já que a tecnologia necessitaria de um "acordo mundial" para entender como e em quais
situações ela deve ser usada, de acordo com empresários da companhia.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 24


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

Arvind Krishna, CEO da IBM, disse que há necessidade de um "diálogo nacional" sobre se e como a
tecnologia deve ser empregada pela polícia. Ele sugeriu a discussão através de uma carta aos membros do
Congresso dos Estados Unidos nessa semana, explicando a decisão da empresa de sair do negócio de
reconhecimento facial.
Além de propor uma discussão global sobre o uso do reconhecimento facial, a IBM declarou que está
encerrando o desenvolvimento e a pesquisa da tecnologia. O CEO da empresa declarou que vai incentivar o
uso de outras tecnologias que possuem maior "transparência e responsabilidade de policiamento".
Disponível em: https://mundoconectado.com.br/noticias/v/14029/ibm-desiste-de-segmento-
para-pesquisa-e-desenvolvimento-de-reconhecimento-facial. Acesso em: 30/07/2020. Com
adaptações.

Considerando que os textos acima são unicamente motivadores, redija um texto dissertativo acerca do
seguinte tema:
RECONHECIMENTO FACIAL: ENTRE O FORTALECIMENTO DA SEGURANÇA PÚBLICA E A AMEAÇA
À DEMOCRACIA
Em seu texto, aborde, necessariamente:
► reconhecimento facial como oportunidade de fortalecimento da segurança pública; [valor: 4,00 pontos]
► reconhecimento facial como ameaça à democracia; [valor: 4,40 pontos]
►o papel do Poder Legislativo na proteção da sociedade. [valor: 4,00 pontos]

Proposta de solução

O uso de tecnologias de reconhecimento facial é uma tendência mundial. Na área da


segurança pública, essa expansão tem gerado expectativas, pelos ganhos que pode proporcionar, mas
também preocupações, pelos riscos que dela decorrem.
Inicialmente, frise-se que o reconhecimento facial pode fortalecer a segurança pública. Por
meio das imagens captadas, pode-se reconhecer pessoas desaparecidas, sequestradas ou vítimas de
tráfico sexual, agilizando as buscas e viabilizando a sua localização. Outrossim, permite a
identificação de pessoas com mandado de prisão em aberto, tornando a atividade policial mais
eficiente e precisa. Essa ferramenta é particularmente poderosa em eventos que reúnem multidões,
situação em que a polícia teria maior dificuldade em atuar. Segundo a Secretaria de Segurança

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 25


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

da Bahia, no carnaval de Salvador de 2020, 42 foragidos foram capturados com a


aplicação das ferramentas de reconhecimento facial.
Não obstante as oportunidades que apresenta, há uma série de riscos associados ao
reconhecimento facial. A profusão de câmeras cria ferramentas com potencial de vigilância em
massa, que, se utilizadas por governos autocráticos, pode instaurar um controle social que viola o
direito à privacidade, à liberdade de locomoção e de manifestação. Nesse sentido, a tecnologia pode
ser utilizada como instrumento de controle e perseguição, valores que não dialogam com o conceito
de democracia. Por outro lado, alguns algoritmos de reconhecimento facial se mostravam
ineficazes na identificação de determinados segmentos. Há pesquisas que apontam até 35% de
erro na identificação de mulheres negras, o que pode reforçar o preconceito e o racismo.
Por fim, cabe ao Poder Legislativo o estabelecimento de balizas para a garantia dos
direitos dos cidadãos. Apesar da existência de um arcabouço legislativo que trata sobre a proteção
dos dados pessoais, como a Lei Geral de Proteção de Dados, ainda não há uma legislação
específica. Nesse sentido, é necessária a criação de leis que protejam a privacidade dos cidadãos,
limitem o compartilhamento de dados provenientes do reconhecimento facial e estabeleçam
salvaguardas para possíveis violações. É necessário também que se coíba a vigilância massiva,
exercida indiscriminadamente sobre toda a população, sem restrição de local e período, e que se
garanta a proteção dos dados contra atos de discriminação e contra a deturpação de seus usos, como
a sua utilização para perseguição dos opositores de quem se encontra no poder.

Tema 11

CESPE | CEBRASPE – PF – Escrivão de Polícia Federal - 2018

A consolidação de um direito brasileiro democrático da criança e do adolescente tem suas origens na


Campanha Criança e Constituinte, antes mesmo da entrada em vigor do Estatuto da Criança e do
Adolescente (Lei nº 8.069/1990), por força de princípios constitucionais que reconheceram a proteção

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 26


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

integral e a prioridade absoluta no estabelecimento de todas as políticas dirigidas à infância e à juventude.


A doutrina da proteção integral interfere, diretamente, na organização de um sistema de justiça
especializado e na adoção de uma legislação especial para regulamentar todas as situações que envolvam
criança ou adolescente, com especial destaque às situações nas quais o adolescente é autor de uma infração
à lei penal.

Karyna Batista Sposato. Por que dizer não à redução da idade penal. Brasília:
UNICEF, 2007, p. 6. Internet: <www.crianca.mppr.mp.br> (com adaptações).

Considerando que as informações precedentes têm caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo a respeito do seguinte tema.
A RESPONSABILIDADE PENAL NO BRASIL
Em seu texto, posicione-se, de forma clara e fundamentada, a respeito da redução da maioridade penal
[valor: 4,00 pontos] e discuta os seguintes aspectos:

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 27


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

1 proteção da criança e do adolescente pelo Estado; [valor: 2,80 pontos]


2 redução/aumento da violência e tratamento dos adolescentes em conflito com a lei como adultos; [valor:
2,80 pontos]
3 papel do poder público na elaboração de políticas sociais com potencial de reduzir o envolvimento de
adolescentes com a violência no Brasil. [valor: 2,80 pontos]

Proposta de solução

Considerando o princípio da proteção integral e o fato que o problema da criminalidade


somente poderá ser superado a partir de políticas públicas eficientes, é indiscutível que a redução da
maioridade penal, além de não contribuir, agravará a situação da segurança no país. Isso porque,
essa medida, além de não atacar as principais causas do problema (desigualdade social, desemprego,
entre outras), provocará aumento da superlotação nos presídios. Além disso, não obstante o
progressivo rigor da legislação penal, a violência não tem se reduzido de forma consistente, o que
põe em xeque mais um movimento nessa direção. [Tópico I]
Arroubos populistas, amplificados em momentos de forte agitação popular, não podem
ofuscar o que propugna a doutrina da proteção integral, a qual exige que os direitos humanos de
crianças e adolescentes sejam respeitados e garantidos de forma ampla e integrada, mediante a
operacionalização de políticas de natureza universal, protetiva e socioeducativa. Tal doutrina
encontra-se consagrada na Constituição Federal, no Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA) e em tratados internacionais dos quais o país é signatário. [Tópico 1]
A adoção das medidas socioeducativas previstas no ECA, e não das penas criminais,
relaciona-se com a finalidade pedagógica que o sistema deve alcançar e decorre do reconhecimento
das condições peculiares de crianças e adolescentes. Ir de encontro a esse espírito, responsabilizando
indivíduos cada vez mais cedo, por certo, contribuirá para o aumento da violência, visto que o
encarceramento no Brasil, além de não recuperar o indivíduo, promove o recrutamento pelo
crime organizado, o que, nesse caso, ocorrerá ainda mais cedo. Acrescente-se que não há nenhum

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 28


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

estudo que comprove a eficácia de medida dessa natureza para a diminuição da criminalidade.
[Tópico 2]
Assim, a redução da maioridade não pode ser utilizada como estratégia do Estado para se
esquivar do seu papel de promotor de políticas públicas, as quais são capazes de gerar mudanças
estruturais na sociedade. Por isso, deve o Estado: investir em políticas de inclusão e redução da
desigualdade social; levar serviços públicos de qualidade e apresentar opções de esporte e lazer a todos
os seus cidadãos e investir na educação como forma de capacitar o jovem para os desafios do mercado
de trabalho. É por meio de ações capazes de modificar a vida dos indivíduos e dar-lhes opções para
uma vida digna que o desafio da segurança pública pode ser superado. [Tópico 3]

BLOCO DE TEMAS 2 – CRIME ORGANIZADO, DROGAS E


ARMAS

Tema 12

Há dez anos o crime organizado parou São Paulo – a cidade mais rica do País. Nesses últimos dez anos,
porém, o crime organizado não parou, seguiu em frente, só cresceu, ampliou suas atuações, expandiu e
variou seus “negócios”. Em 15 de maio de 2006, após a onda de ataques contra agentes de segurança do
Estado iniciada na noite do dia 12, o Primeiro Comando da Capital (PCC) deixou a população da maior
metrópole da América do Sul atônita, amedrontada, acuada. Em razão do pânico motivado pelas mortes
em série, escolas, estabelecimentos comerciais, empresas fecharam mais cedo. Até fóruns criminais e o
Ministério Público dispensaram seus funcionários e abreviaram o expediente. Trabalhadores refugiaram-se
em suas casas. A cidade se calou.
O saldo dos ataques daquele mês de maio revela um quadro de violência sem precedentes no Brasil que
justifica o pânico em São Paulo. Entre os dias 12 e 21, foram 564 mortos em todo o Estado, entre eles 59
agentes públicos. Muitos dos homicídios com características de execução sumária ainda não foram
esclarecidos pela polícia nem punidos pela Justiça. Em um único fim de semana, 94 presídios se rebelaram
e incontáveis ônibus foram incendiados por bandidos em diversas cidades paulistas. Tudo sob comando do
PCC.
Sem aviso prévio à população, mas com conhecimento do Estado, os ataques cessaram. No domingo, dia
14 de maio, após uma reunião no presídio de segurança máxima de Presidente Bernardes entre o líder da

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 29


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

facção criminosa, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, e a cúpula da gestão Claudio Lembo,
substituto de Geraldo Alckmin que disputaria a eleição presidencial mais à frente, a normalidade começaria
a voltar a São Paulo. O Estado, em julho do ano passado, teve acesso ao depoimento à Justiça do delegado
José Luiz Ramos Cavalcanti, que participou da reunião. Ele afirma que uma advogada da facção dizia que os
ataques só parariam se os bandidos tivessem a certeza de que Marcola estava vivo e bem. O governo cedeu
um avião da PM que levou todos até o encontro com o líder. Lá, ele foi convencido a dar a ordem para
encerrar os ataques. Um outro detento, conhecido por “LH”, recebeu um celular e, após os bloqueadores
serem desligados, passou o recado às ruas.

Disponível em: https://infograficos.estadao.com.br/cidades/dominios-do-


crime/. Acesso em: 12 de fevereiro de 2020.

Até os anos 80, as estruturas criminosas limitavam-se ainda a quadrilhas de ação localizada. E ao jogo do
bicho. Ele surgiu no Brasil no fim do século 19, em uma situação inusitada – o dono do antigo Jardim
Zoológico de Vila Isabel, no Rio de Janeiro, vendo-se diante da falência, estimulou a visitação trocando o
ingresso por um papel com o nome de um dos 25 animais do parque; o animal sorteado pagava 20 vezes o
preço do ingresso. Até ser proibido na década de 1890, era um jogo aristocrático, com os resultados dos
sorteios publicados nos jornais. Desde então, mantém a popularidade entre as classes mais baixas graças,
em parte, à facilidade na aposta, uma vez que se pode jogar qualquer quantia. Além disso, é até hoje
considerado contravenção e não crime, o que ajuda os bicheiros a formar quadrilhas poderosas. Não à toa,
muitos especialistas consideram que ainda hoje eles são o grupo mais representativo do crime organizado
no Brasil. “O jogo do bicho contempla boa parte da definição desse termo: tem território definido, faz
lavagem de dinheiro e tem forte penetração na máquina do Estado”, diz Michel Misse, coordenador do
Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana (Necvu), da UFRJ.
O grande divisor de águas, que tornaria o crime organizado muito mais complexo e violento, foi a entrada
com força da cocaína no mercado nacional. A gestão diária do jogo não exigia uma estrutura muito
complexa, mas as drogas sim. Para operar nesse novo mercado, era preciso montar quase uma indústria,
com estratégias para criar e manter pontos de venda e sistema de transporte para garantir a oferta
constante. “A logística da economia da droga exigiu mudanças estruturais na forma como os grupos
atuavam”, diz a antropóloga Jacqueline Muniz, ex-diretora da Secretaria Nacional de Segurança Pública e
professora da Universidade Cândido Mendes (Ucam), do Rio de Janeiro. Em especial, era preciso mais gente
envolvida. E é com o tráfico que a imagem positiva do malandro – “aquela de saber se virar pela cidade” – é
substituída pela do bandido feio e mau.
[...]
Da mesma forma que o crescimento da população nas cidades levou ao aumento da criminalidade, o
crescimento da população nas cadeias levou à radicalização do crime. O berço das principais facções
criminosas do Brasil são os presídios. Aqui, como em outros países, o melhor lugar para o crime se organizar
ou aumentar seu poder é atrás das grades. “Há vários casos no mundo, inclusive de movimentos religiosos,
como os islamitas americanos. É angustiante que isso apareça exatamente entre os bandidos que estão sob

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 30


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

a tutela do Estado”, diz Norman Gall, do Instituto Fernand Braudel, uma ONG de pesquisas econômicas e
sociais.
A primeira a sair dos presídios brasileiros foi o Comando Vermelho (CV), ainda na década de 1970.
Posteriormente, ela teria dado origem a todas as demais grandes facções cariocas. Acredita-se que seus
primeiros líderes tenham convivido com grupos guerrilheiros de esquerda no presídio Cândido Mendes, em
Ilha Grande, Rio de Janeiro, e se inspirado neles para criar sua organização (daí o “vermelho” no nome). A
princípio, eram apenas quadrilhas de ladrões tentando criar uma unidade para facilitar seu trabalho. Com a
chegada das drogas, tornou-se um grupo voltado para o tráfico. A primeira consequência foi exacerbar dois
componentes que já existiam no bicho: o terror aplicado àqueles que se voltassem contra a facção e o
assistencialismo à comunidade. Houve até uma época em que o Comando Vermelho especializou-se em
uma tática Robin Hood: assaltar caminhões com mercadorias e distribuir para os moradores das favelas.

Disponível em: https://super.abril.com.br/historia/o-


pcccrime-s-a/. Acesso em: 12 de fevereiro de 2020.
(com adaptações)

Considerando os textos acima como motivadores, redija um texto dissertativo acerca do seguinte tema.

CRIME ORGANIZADO NO BRASIL

Ao elaborar seu texto, aborde os seguintes aspectos:


1 modo de operação do crime organizado; [valor: 4,20 pontos]
2 relacionamento entre o encarceramento em massa e o crime organizado; [valor: 4,20 pontos]
3 papel do Estado e políticas públicas. [valor: 4,10 pontos]

Abordagem teórica

1. Crime Organizado no Brasil


A Lei 12.850/2013 define organização criminosa como a "associação de 4 (quatro) ou mais pessoas
estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de
obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas
penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional."
O crime organizado é o fenômeno criminal que caracteriza as ações praticadas por uma organização
criminosa. Caracteriza-se, pois, pela sofisticação na prática de crimes (uso intenso de tecnologia;
contratação de especialistas em diversas áreas, como informática; intenso planejamento); pela estrutura
funcional, com divisão de funções, lideranças e departamentos especializados na prática de inúmeros
crimes; reconhecimento dos participantes pertencentes à organização; e capacidade de impor regras
pelo uso do medo.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 31


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

Nos últimos 30 anos, verificou-se o fortalecimento e a expansão do crime organizado no mundo.


Atualmente, atua em diversos tipos de atividades ilícitas: narcotráfico, extorsão, corrupção, prostituição,
exploração sexual de menores, tráfico de pessoas e órgãos, tráfico de armas, pirataria, biopirataria,
formação de milícias e lavagem de dinheiro.
No Brasil, o crime organizado é um dos maiores problemas de segurança pública, principalmente se
considerada a gravidade dos danos que provoca.
Para se ter uma ideia, segundo o Estadão 1, em quatro anos, o total de integrantes do PCC mapeados pelo
censo da organização em outros Estados foi multiplicado por seis. Além de São Paulo, onde o aumento
foi quase de 100%, os Estados que concentram o maior número de bandidos inscritos na facção - os
chamados batizados - são Paraná e Ceará. Cada um tem mais de 2 mil soldados, número equivalente ao
total de integrantes que existia fora do Estado de São Paulo em 2012. Segundo Bruno Manso, pesquisador
da USP, o PCC está presente em 22 cidades e já se tornou um grande fornecedor de armas e drogas para
outras facções2.
Segundo o Estadão3, a organização já movimenta 40 toneladas de cocaína e arrecada a impressionante
quantia de R$ 200 milhões por ano, com atuação em praticamente todas as vertentes do crime. Mais de
80% dos rendimentos do bando, segundo investigações do Ministério Público Estadual (MPE), vêm do
tráfico de drogas. O restante tem origem em assaltos a bancos, sequestros, tráfico de armas, rifas vendidas
à população carcerária e mensalidade de R$ 600 cobrada de cada um dos mais de 10 mil integrantes do PCC
– mais de 7 mil estão presos.
Como visto, o crime organizado manifesta-se das mais diferentes formas. A principal delas é a venda de
substâncias proibidas pelo Estado, cenário em que se insere o tráfico de drogas, grande fonte de
financiamento do crime organizado. Estima-se que o narcotráfico movimente por ano mais de 300 bilhões
de dólares em todo o mundo.
A garantia de segurança para todas as etapas do processo é propiciada pelas armas, o que, naturalmente,
fomenta outra atividade criminosa, o tráfico de armas, num círculo vicioso em que as duas formas de tráfico
se alimentam mutuamente e proporcionam um aumento da violência e da criminalidade.
Outra atividade criminosa bem comum e que tem crescido bastante nos últimos anos é o roubo de cargas.
Dados divulgados pela NTC&Logística, a Associação Nacional do Transporte de Carga e Logística, revelam
que os roubos de carga no País resultaram em um prejuízo superior a R$ 1,5 bilhão no ano passado, com
25.970 ocorrências, contra os 24.563 registradas em 2016, uma alta de 5,8%.

1
Disponível em:https://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,em-4-anos-faccao-cresceu-6-vezes-de-tamanho-fora-de-
sp,70002335584. Acesso em: 12 de fevereiro de 2020.
2
Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2016/05/03/Como-a-superlota%C3%A7%C3%A3o-das-cadeias-contribui-
para-o-fortalecimento-do-crime-organizado. Acesso em: 12 de fevereiro de 2020.
3
Disponível em: https://infograficos.estadao.com.br/cidades/dominios-do-crime/poder-financeiro. Acesso em: 12 de fevereiro de
2020.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 32


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

Pode-se mencionar também, entre as atividades lucrativas desenvolvidas pelo crime organizado, o
contrabando de cigarros a defensivos agrícolas. Um levantamento do Ibope, divulgado no final de 2018
pelo Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO), demonstrou que mais da metade (54%) dos cigarros
que circulam no País são irregulares, ou seja, não possuem registro na Agência Nacional de Vigilância
Sanitária, a Anvisa4. Assim, comprar produtos ilegais é financiar o crime organizado. Isso gera, pois,
violência, corrupção e causa danos à economia do país, visto que inibe a criação de empregos, frustra
receitas tributárias e inibe investimentos.
Outra questão intimamente ligada às organizações criminosas é a lavagem de dinheiro, seja para esconder
o lucro proveniente das infrações penais, seja para reintegrá-lo, com aparência de lícito, a algum sistema
produtivo e empresarial. Essa prática, na maioria das vezes, envolve múltiplas transações, utilizadas para
ocultar e dissimular a origem dos ativos financeiros e possibilitar que eles sejam empregados sem
comprometer os criminosos. Afinal, vultosas quantias que não podem ter sua origem comprovada como
lícita de pouco ou de nada servem, à medida que, a movimentação desse dinheiro atrairia a atenção das
autoridades para as atividades ilícitas desenvolvidas.
O crime organizado também infiltra seus "tentáculos" nas "entranhas" da administração Pública. Por meio
da cooptação de agentes públicos, (de policiais a políticos, passando, inclusive pelo Judiciário e membros
do Ministério Público), ou pela infiltração de informantes numa organização pública, o crime organizado
busca neutralizar as ações repressivas do Estado e obtém enorme potencial para influenciar para tomada
de decisões governamentais que possam favorecer interesses delitivos.
Alguns especialistas apontam que a corrupção que mantém a relação estabelecida entre o crime
organizado e determinados agentes públicos substituiu, em alguns casos, a violência como principal
método de atuação dos grupos criminosos organizados, basta ver a existência de casos em que policiais e
agentes penitenciários, os quais deveriam reprimir as ações do crime organizado, mantém com ele relação
pacífica e promiscua.
Além disso, o crime organizado no Brasil se infiltra no sistema político, o que pode ocorrer por meio das
seguintes práticas: financiamento ilegal de candidatos ou partidos, candidaturas de integrantes de facções
ou de pessoas ligadas a elas e pela capacidade de coação dos eleitores para votarem em candidatos
apoiados por essas organizações. Trata-se de situação bastante sensível, haja vista o comprometimento
desses candidatos e partidos com as causas dos seus patrocinadores. É cenário que afeta a credibilidade e a
confiança nas instituições, aumenta a indiferença da população com o cenário político e, por conseguinte,
enfraquece o Estado democrático de direito.
De acordo com levantamento realizado pela Folha de São Paulo, nas eleições brasileiras de 2016, entre
junho e setembro, 45 políticos brasileiros foram alvo de ataques a tiros. Desses, 28 morreram, 15 em plena

4
Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/gpbc/dentro-da-lei/a-fumaca-que-financia-o-crime-organizado-
8anyzxdcsloeucnaud8zmv31k/. Acesso em 13 de fevereiro de 2020.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 33


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

campanha. O Rio concentrou cerca de metade desses homicídios. Na Baixada Fluminense, tomada por
milícias e pelo narcotráfico, 13 candidatos a vereador foram mortos 5.
Retomando a questão da corrupção, chama a atenção a atuação de milícias de grupos paramilitares,
formados por policiais, agentes penitenciários e vigilantes. As milícias são uma espécie do gênero
organizações criminosas, mas com características particulares como o fato de as milícias serem lideradas,
coordenadas, por agentes do Estado; de nem sempre terem sido encaradas como um problema de
segurança pública, pois nasceram com o discurso de que iriam libertar as comunidades do jugo do tráfico
de entorpecentes; e de terem perfil socioeconômico superior aos jovens do tráfico.
Para se ter uma noção da gravidade da situação, segundo a página G1, a área de atuação dos milicianos
equivale a 1/4 da cidade do Rio: as quadrilhas estão em 37 bairros e 165 favelas da Região Metropolitana. É
um conjunto de territórios em que vivem 2 milhões de pessoas, que, no dia a dia, são coagidas a usar o
transporte, o botijão de gás; a pagar por segurança e pelo sinal de TV; além de consumir água e os alimentos
da cesta básica dessas quadrilhas.
Um levantamento inédito feito pelo The Intercept Brasil, com base em informações obtidas com
exclusividade do Disque Denúncia, mostra que, das 6.475 ligações anônimas que o serviço recebeu em 2016
e 2017 – referentes às atividades de traficantes e paramilitares na capital –, 65% delas denunciam
milicianos6.
Não se pode falar de crime organizado sem mencionar o domínio e controle exercido nas unidades
prisionais: tema a ser tratado no próximo tópico.
2. Política de encarceramento em massa
As diversas facções criminosas existentes no território nacional surgiram no interior de prisões. Segundo o
Sociólogo Gabriel Feltran7-8:
"O PCC nasceu na cadeia, um ano depois do Massacre do Carandiru. [...] Reivindicava reação à opressão
do sistema contra os presos, mas também do preso contra o preso. Legitimou sua autoridade no cárcere
por aplicar medidas expressas de interdição do estupro, do homicídio considerado injusto e,
posteriormente, do crack das prisões sob seu regime. Firmou-se como interlocutor entre os gestores e
funcionários dos presídios porque a disciplina estrita que introduzia nas suas unidades prisionais lhes era
funcional."

5
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/03/assassinatos-em-serie-de-politicos-indicam-uma-colombizacao-
no-pais.shtml. Acesso em: 12 de fevereiro de 2020.
6
Disponível em:https://theintercept.com/2018/04/05/milicia-controle-rio-de-janeiro/. Acesso em: 12 de fevereiro de 2020.
7
Professor do Departamento de Sociologia da Universidade Federal de São Carlos e coordenador científico do Centro de Estudos
da Metrópole. Acesso em: 12 de fevereiro de 2020.
8
Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/como-nascem-faccoes-como-pcc-e-comando-vermelho-alvos-
preferenciais-de-moro/. Acesso em: 12 de fevereiro de 2020.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 34


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

Atribui-se, entre as razões da formação das organizações criminosas nos presídios, a necessidade de se
organizem para a busca de melhores condições aos presos no cárcere, fato que deu a muitas facções um
motivo para a sua existência, além de auxiliar na cooptação de novos membros.
Devido às escolhas no campo da segurança pública e da justiça criminal, o aprisionamento no Brasil
encontra-se em expansão: entre os anos de 2000 e 2017, o número absoluto de presos no país cresceu 212%.
Em 2017, o país alcançou o contingente de 720 mil presos, o que torna o Brasil detentor da terceira maior
população prisional do mundo, superado apenas pelos Estados Unidos, com mais de 2,1 milhões de presos,
e pela China, com mais de 1,6 milhões9.
A manutenção de uma política de encarceramento em massa fortalece mais as organizações criminosas,
uma vez que é na prisão que a sua atuação é mais perigosa e onde o recrutamento acontece de forma mais
eficaz.
São vários os motivos pelos quais isso acontece. Primeiramente, a prisão é o local onde criminosos de menor
periculosidade, muitas vezes envolvidos com tráfico de drogas, têm contato com criminosos experientes, já
recrutados pelo crime organizado. Nesse sentido, os presídios funcionam como a "escola do crime" e a
superlotação proporciona um contingente maior de "alunos" a serem iniciados.
Não é só isso. A disciplina nos interiores dos presídios é determinada não pelo Estado, mas pelas
organizações criminosas, as quais definem as regras de conduta nesses locais. Pesquisadores afirmam que
as facções criam vínculos com os detentos ao financiaram, entre outros, a sua permanência no presídio e as
visitas dos familiares. Nesse sentido, torna-se quase uma condição que os presos se filiem a algum grupo,
inclusive, para evitar estupros e outros tipos de violência.
É uma análise simplista estabelecer a superlotação como causa para o surgimento e fortalecimento do crime
organizado, visto que se trata de um problema cujas raízes são mais complexas, envolvendo, por exemplo,
a desigualdade social, a impunidade e a corrupção de agentes públicos. Contudo, é inequívoco afirmar que
a superlotação cria um ambiente propício para a sua existência e proliferação, pelos motivos acima
mencionados.
3. Ações para combate ao crime organizado

Vamos superar esse último tópico e partir para a prática!


Aqui, há uma variada gama de ações a serem citadas. Você pode mencionar que, de forma mais imediata,
como uma resposta a curto prazo, deve-se buscar a prisão dos membros que ocupam o escalão superior
das organizações criminosas, a recuperação das áreas historicamente dominadas pelo crime organizado, o
isolamento carcerário das lideranças, identificação da estrutura e confisco de seus bens para o
enfraquecimento do poder econômico dessas facções.
A longo prazo, como forma de obter resultados perenes, deve-se envidar esforços em políticas que
reduzam a desigualdade social e dificultem o recrutamento por parte do crime organizado, assunto já

9
Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2019.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 35


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

tratado à exaustão no nosso curso. Sei que muitos de vocês se sentem incomodados com essa abordagem,
que, de certa forma, retira a responsabilidade pelo ato criminoso do próprio indivíduo, mas é uma
abordagem altamente valorizada pelas bancas e validada por estudos que comprovam uma correlação
positiva entre a melhoria dos indicadores socioeconômicos e a redução da criminalidade.
Complementarmente, conforme sugerido no documento “Agenda Segurança Pública É Solução" 10 :
 Priorização do fortalecimento do regime de governança no combate à corrupção, implementação
de melhorias de gestão do sistema prisional que impactem na redução do domínio de facções nos
presídios, bem como ações de enfrentamento do controle territorial e do poder político e econômico das
organizações criminosas.
Para isso, faz-se necessário desenvolver e integrar medidas que envolvem diferentes agentes, tais como
as polícias, as Agências de Regulação, as instituições financeiras, o Ministério Público, o Poder
Judiciário, entre outros, e também o poder de polícia administrativo do estado.
 Criação de um Conselho Nacional de Inteligência sobre crime organizado, nos moldes do Conselho
de Controle de Atividades Financeiras (COAF), capaz de articular os diversos órgãos de inteligência
estaduais e federais com foco no crime organizado interestadual e transnacional. O conselho deve,
inclusive, apoiar na reprodução e coordenação de conselhos de inteligência nos estados, utilizando os
Centros Integrados de Comando e Controle para combate ao crime organizado.
 Enfrentar a corrupção dos agentes públicos por meio do aprimoramento de mecanismos de controle
e transparência de aumento patrimonial, passando pelo fortalecimento de procedimentos para
investigação de aumento patrimonial suspeito e pela perda de bens ou valores que sejam produto ou
proveito, direto ou indireto, de atos ilícitos.
 Reduzir o poder econômico do crime organizado associado ao controle territorial, o que pode ser feito:
o pelo fornecimento de apoio técnico aos estados e municípios para (1) definição de diretrizes para
a regulação de transporte alternativo, com devida normatização, cadastro, controle e
fiscalização e; (2) revisão e auditoria de concessões de transporte coletivo tradicionais;
o pelo fortalecimento da ação de agências reguladoras, como a Agência Nacional de Petróleo
(ANP) e a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), na definição de diretrizes para a (1)
adoção de marcos regulatórios específicos para territórios de alta vulnerabilidade para garantia
de serviço regular e incentivo à adoção de tarifas sociais; (2) fiscalização de revendedoras de gás,
provedoras de internet e televisão à cabo e; (3) estabelecimento de Termo de Conduta de
corresponsabilização no apoio ao enfrentamento da exploração irregular desses serviços;

10
O documento foi gerado com base no consenso entre três das principais organizações que trabalham com a segurança pública
no Brasil, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e os Institutos Sou da Paz e Igarapé. Disponível em:
http://www.forumseguranca.org.br/publicacoes/agenda-seguranca-publica-e-solucao/. Acesso em: 12 de fevereiro de 2020.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 36


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

o pela definição de diretrizes de acompanhamento e fiscalização da gestão condominial e


patrimonial das unidades dos programas federais habitacionais, incorporando a criação de
mecanismos para evitar seu controle por grupos criminosos.
 Enfraquecer o poder político do crime organizado:
o definindo recomendações aos partidos políticos para melhor controle e fiscalização na filiação
de candidatos e na elaboração das nominatas aos pleitos eleitorais;
o ampliando a cooperação entre o Ministério Público Eleitoral, Tribunal Superior Eleitoral,
Tribunais Regionais Eleitorais e promotorias eleitorais para fortalecimento da investigação de
denúncias de compra de votos e de cobrança para viabilização de propaganda eleitoral e
realização de campanha;
o definindo protocolos de análise de dados sobre a concentração de votos para orientação das
investigações sobre envolvimento de organizações criminosas nos pleitos eleitorais.
 Reformular o marco legal da segurança privada no Brasil revisando as condições de operação, a rela-
ção com servidores da segurança pública e os mecanismos de prestação de contas, bem como aumentar
a capacidade de fiscalização do Estado sobre esse setor.

Tema 13

Isolamento das lideranças criminosas


Logo no início do ano, a Secretaria de Operações Integradas (Seopi) coordenou a maior transferência de
líderes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital para unidades do Sistema Penitenciário Federal
por meio da Operação Imperium. A união das forças de segurança pública contou também com
o Departamento Penitenciário Nacional (Depen), a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal, a Força
Nacional de Segurança Pública, a Polícia Militar, a Polícia Civil e a Secretaria de Administração Penitenciária
do Estado de São Paulo, a Força Aérea Brasileira (FAB), o Exército Brasileiro e a Agência Brasileira de
Inteligência (Abin).
Com a edição da Portaria nº 157/2018, as visitas sociais no Sistema Penitenciário Federal passaram a ser
exclusivamente por meio de parlatório, minimizando as chances de comunicação dos presos com o exterior
dos presídios.
De janeiro a novembro de 2019, o Sistema Penitenciário Federal recebeu 324 presos. O número corresponde
a um aumento de 93% do total de inclusões realizadas no mesmo período de 2018.
Disponível em: https://www.novo.justica.gov.br/news/combate-ao-crime-organizado-com-
isolamento-de-liderancas-e-enfraquecimento-do-poder-
economico#:~:text=Isolamento%20
das%20lideran%C3%A7as%20criminosas&text=Com%20a%20edi%C3%A7%C3%A3o%20da
%20Portaria,com%20o%20exterior%20dos%20pres%C3%ADdios. Acesso em: 02/09/2020.
Com adaptações.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 37


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

Operação da PF mira poder financeiro de facção do crime


Desde a manhã desta segunda-feira, 31/08, a Polícia Federal deflagrou, juntamente com a Força Integrada
de Combate ao Crime Organizado (FICCO), coordenada pela própria PF, a operação Caixa Forte 2, com o
objetivo de investigar o tráfico de drogas e a lavagem de dinheiro praticados por facção criminosa com
atuação em todo o território nacional.
Os dados obtidos na Operação Caixa Forte – Fase 01 (investigação que identificou os responsáveis pelo
chamado “Setor do Progresso” da facção, que se dedica à lavagem de dinheiro proveniente do tráfico)
revelaram que os valores auferidos com o comércio ilícito de drogas eram, em parte, canalizados para
inúmeras outras contas bancárias da facção, inclusive para as contas do “Setor da Ajuda”, aquele
responsável por recompensar membros da facção recolhidos em presídios.
Foram identificados 210 integrantes do alto escalão da facção, recolhidos em Presídios Federais, que
recebiam valores mensais por terem ocupado cargos de relevo na organização criminosa ou executado
missões determinadas pelos líderes, como, por exemplo, execuções de servidores públicos.
A atuação da Polícia Federal visa desarticular a organização criminosa por meio de sua descapitalização,
atuando em conformidade com as diretrizes do órgão de enfrentamento à criminalidade organizada por
meio da abordagem patrimonial, além da prisão de lideranças.
Disponível em: https://portalcontexto.com/operacao-da-pf-mira-poder-financeiro-de-faccao-
do-crime/. Acesso em: 03/09/2020. Com adaptações.

PF investiga postos e distribuidora de combustível em operação contra lavagem de dinheiro de facção


criminosa
Segundo as investigações, PCC movimentou R$ 30 bilhões. Justiça determinou bloqueio de R$ 730 milhões e
interdição de 70 empresas. 13 pessoas foram presas.
A Polícia Federal em São Paulo realizou nesta quarta-feira (30) uma operação para desarticular um esquema
de lavagem de dinheiro do PCC, facção que atua dentro e fora dos presídios do país, feito por meio de postos
de gasolina e uma distribuidora de combustível. A facção movimentou ao menos R$ 30 bilhões.
Segundo a investigação, o principal alvo era a prisão de um homem conhecido como Alemão, cuja família é
dona de cerca de 50 postos. As investigações também apontam o envolvimento dele com a morte de
Rogério Jeremias de Simone, conhecido como Gegê do Mague, que foi um dos chefes da facção.
Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/09/30/policia-federal-faz-
operacao-contra-lavagem-de-dinheiro-do-trafico-de-drogas.ghtml. Acesso em: 18/01/2021.
Com adaptações.

Considerando que os fragmentos de texto acima têm caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo acerca do seguinte tema.

A ESTRATÉGIA DE COMBATE AO CRIME ORGANIZADO PELO ISOLAMENTO DAS SUAS


LIDERANÇAS E ENFRAQUECIMENTO DO SEU PODER ECONÔMICO

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 38


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

Ao elaborar seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes aspectos:


< objetivo do isolamento dos líderes das facções criminosas nos presídios federais; [valor: 4,10 pontos]
< ações do Estado para o enfraquecimento do seu poder econômico; [valor: 4,10 pontos]
< repercussões do enfraquecimento do seu poder econômico na segurança pública. [valor: 4,20 pontos]

Abordagem teórica

A introdução geral sobre esse tema já foi passada no tema anterior, motivo pelo qual serei bem objetivo
nesta abordagem teórica.
Sabe-se que o crime organizado é um dos principais problemas de segurança pública do país. Diante dos
resultados insatisfatórios no que tange ao combate às atividades do crime organizado (tráfico de drogas,
de armas, de pessoas, de animais, contrabando, etc.), as corporações policiais vêm se aperfeiçoando e
buscando uma abordagem de enfrentamento mais qualificada.
Sabe-se também que os recursos financeiros do tráfico são oriundos das atividades ilícitas que
desempenham, gerenciados dentro dos presídios. Nesse sentido, de acordo com o Plano Nacional de
Política Criminal e Penitenciária (2020-2023):

O crime organizado, que tem como base o tráfico ilícito de drogas e, de permeio, o contrabando de armas e
a corrupção, movimenta no planeta cifras que representam três vezes o Produto Interno Bruto (PIB) do
Brasil, a ponto de transformar-se em um dos maiores empreendimentos financeiros do mundo. Os sistemas
bancários e de capitais, em escala global, se encarregam de fazer circular e promover a lavagem desse
dinheiro contaminado com substâncias entorpecentes, que traz graves consequências sociais e alimenta a
violência. Esse fenômeno está bem presente no Brasil. As facções criminosas (que comandam a
criminalidade e possuem como suporte financeiro os recursos oriundos do tráfico de drogas e atividades
afins) foram criadas dentro dos presídios e fazem destes o seu "home office", de onde fortalecem os seus
laços de poder.
Estas considerações revelam que a preocupação em eliminar os ganhos financeiros com a comercialização
de drogas ilícitas é tão ou mais importante quanto cuidar dos tipos penais pertinentes a essa modalidade
de criminalidade. Até porque a finalidade do tráfico de entorpecentes é a obtenção de lucro. Ir para a prisão,
mas conservar os ganhos financeiros da atividade ilícita, em certo sentido, compensa e serve para que a
pessoa ou a organização que ela integra permaneça na criminalidade e tenha poder de liderança.
Além disso, como vimos acima, tão importante quanto prender, é quebrar a cadeia de comando,
desarticular a capacidade de organização e evitar que os recursos financeiros sejam movimentados.
Nesse escopo é que se insere o isolamento das lideranças criminosas nos presídios federais. Lá eles ficam
isolados, sem receber visitas íntimas, têm os contatos com os advogados monitorados e somente possíveis
por meio dos parlatórios (os presos se comunicam sob proteção de um espesso vidro e com uso de

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 39


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

interfones) 11. A possibilidade de serem introduzidos celulares ou drogas nessas prisões é bem restrita. O
objetivo é, portanto, diminuir a capacidade de liderança e coordenação das organizações que chefiam.
Sobre as ações do Estado para a redução do poder econômico, são cabíveis várias medidas.
Introdutoriamente, é importante a leitura do seguinte fragmento12, o qual apresenta uma mudança de
abordagem por parte da PF e PRF. Observem as declarações dessas corporações:

PRF: Segundo o chefe da Coordenação-Geral de Comunicação Social da PRF (CGCOM), Anderson Poddis, a
instituição tem aliado inteligência e tecnologia da comunicação para tornar mais efetivas as abordagens
a veículos nas estradas, em vez de realizar fiscalizações por amostragem como no passado.
Ele diz que a estratégia se intensificou neste ano com a operação Tamoio, que teve oito edições até o
momento, para combate ao tráfico de drogas e armas (apreensões de armas de fogo pela PRF somaram 1.855
até outubro, alta de 7% ante o total de 2019).
"Com o policiamento orientado por inteligência, ao invés de eu precisar abordar dez veículos para identificar
um ilícito, eu vou direto naquele veículo que está com o ilícito. Isso aumenta muito a precisão e a qualidade
das abordagens", afirma ele, defendendo a importância das apreensões para "descapitalizar" uma cadeia
de crimes. "A droga nunca anda sozinha. Há outros ilícitos que orbitam o comércio de drogas, como tráfico de
armas, lutas por territórios, furto e roubo de veículos (usados para compra de entorpecentes)", ressalta.
PF: "Ao rastrear-se o lucro do tráfico, é possível segui-lo até aqueles que, efetivamente, recebem grandes
quantias e acumulam vasto patrimônio e que também são os principais responsáveis pela articulação da
atividade criminosa. O foco da abordagem patrimonial, ainda, permite que se retire dos traficantes os
recursos necessários para movimentar a ampla rede logística para movimentar grandes quantidades de
drogas, bem como para a capacidade de corromper e de enfrentar o Estado", disse ainda a corporação.

Assim, tanto a PF quanto a PRF têm buscado atuar de forma mais estratégica, com o uso de inteligência e
tecnologia. O objetivo é fazer com que as operações, realmente, abalem a estrutura do crime organizado,
algo que não se consegue apenas com pequenas apreensões de droga, vendidas por pessoas de baixo valor
estratégico às organizações e que são facilmente substituíveis a baixo custo.
Veja, por exemplo, que, com o policiamento orientado por inteligência, ao invés de serem abordados dez
veículos para identificar um ilícito, a fiscalização vai direto naquele veículo que está com o ilícito, o que
aumenta muito a precisão e a qualidade das abordagens.
Já a PF, como vimos, tem direcionado suas atividades no sentido de propor ações investigativas que
atinjam, não apenas os recursos financeiros dessa organização, mas a estrutura que possibilita a utilização
lícita dessas quantias, ou seja, a lavagem de dinheiro (ver caso do último texto motivador).
À BBC News Brasil, a PF informou que operações contra a lavagem de dinheiro do tráfico de drogas
levaram à apreensão de R$ 1,13 bilhão (até o início de dezembro de 2020), em bens como mansões,
fazendas, veículos e embarcações de luxo, aeronaves, joias e dinheiro em espécie, valor recorde que

11
Disponível em: https://istoe.com.br/o-combate-ao-pcc/. Acesso em 18 de janeiro de 2021.
12
Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-55264932. Acesso em 18 de janeiro de 2021.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 40


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

representa praticamente o dobro do registrado em todo o ano passado (R$ 653,8 milhões)13. Para que você
entenda como funcionam essas operações, segue uma breve explicação 14:
Mais do que apreender grandes quantidades de droga, inviabilizando a principal fonte de renda da facção, o
que mais a polícia paulista deseja é minar o grupo financeiramente. Assim, somente no ano passado a polícia
paulista retirou R$ 481 milhões dos caixas da facção. Mais do que isso, a polícia fechou uma das importantes
torneiras de lavagem de dinheiro que o PCC vinha utilizando para ampliar seu poder econômico: as remessas
feitas por doleiros, em operações a cabo, dos reais obtidos com a venda de drogas para o exterior. Nessas
movimentações cambiais, os elevados valores obtidos com a droga eram convertidos em dólares, retornando
ao País, depois de devidamente esquentados, em operações feitas por empresas fantasmas e laranjas. Uma
dessas casas de câmbio, a TOV, era usada também por doleiros de empreiteiras e políticos corruptos
envolvidos em crimes de desvio de verbas públicas.
Além da repressão à lavagem de dinheiro, é de suma importância o sequestro patrimonial dos criminosos,
com a prisão das lideranças e com a identificação dos núcleos financeiros das organizações criminosas.
O pacote anticrime tornou mais simples a realização de leilões dos bens apreendidos. Em 2020, até início
de dezembro, a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) realizou 107 leilões (contra 11 em
2019), que já arrecadaram R$125,3 milhões para o Fundo Nacional Antidrogas (alta de 27% ante os R$ 91,7
milhões de 2019).
Em relação à pergunta final, pode-se afirmar que o enfraquecimento do poder econômico das organizações
criminosas apresenta repercussões positivas sobre a segurança pública, pois menos recursos financeiros
significa menos poder. Com menos dinheiro, as facções criminosas perdem a capacidade de contratar seus
“soldados” para operacionalizar o negócio; de comprar armas, drogas e outros produtos ilícitos; de
patrocinar campanhas políticas para eleger candidatos que, se eleitos, venham a lhe dar guarida; e de
subornar agentes públicos para que sejam coniventes com as práticas delituosas.
Vamos à prática.

Tema 14

Como as cadeias viraram fábricas de facções criminosas

[...]

Embora o CV tenha sido pioneiro, a força do PCC ainda não encontra paralelo no Brasil. Desde que foi criado,
em 1993, o “Partido do Crime” segue um rigoroso estatuto, atualizado com 18 artigos que regram a conduta

13
Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-55264932. Acesso em 18 de janeiro de 2021.
14
Disponível em: https://istoe.com.br/o-combate-ao-pcc/. Acesso em 18 de janeiro de 2021.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 41


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

de seus membros. Itens como a “luta contra a opressão do sistema prisional” e valores relacionados à
lealdade seduzem novos integrantes. Assim como um sindicato ou um clube fechado, o PCC cobra de seus
membros não só fidelidade, mas também uma mensalidade. Em troca, oferece proteção, status e
possibilidade de subir na carreira do crime. A sistemática é tão bem-sucedida que outras facções se inspiram
no modelo. Privatizado pelas facções, o sistema prisional entrou num moto-perpétuo. Quanto mais gente
atrás das grades, mais os grupos criminosos se expandem.

São Paulo é exemplo desse mecanismo: o PCC controla 90% dos presídios – isso num estado que concentra
mais de um terço da população carcerária nacional. Nem toda essa massa é de membros ativos. Mas basta
haver a presença da sigla para que seus códigos de convivência sejam impostos. “Quando o réu entra, ele
ganha o papel higiênico de um ‘faxina’ e entende que isso vem do ‘comando’. Ninguém vai forçá-lo a
cometer um atentado, mas ele fica com uma dívida moral, no mínimo, e segue a disciplina”, explica o
defensor público Bruno Shimizu, doutor em Criminologia pela USP.

Foi em São Paulo que o PCC promoveu a maior demonstração de força já feita pelo crime organizado no
Brasil. Os atentados de maio de 2006 pararam a cidade por quatro dias. Mais de 50 policiais morreram e
outra centena de bandidos perdeu a vida. Ao mesmo tempo, 74 presídios acataram as ordens do comando
e entraram em rebelião. O governo foi obrigado a sentar e negociar com os criminosos. “É impossível
administrar o sistema penitenciário brasileiro sem o apoio das organizações informais de presos”,
acrescenta Shimizu.

Sob a tutela do estado, o crime se radicalizou. Foram-se os tempos do bandido malandro, cantado na
música e retratado com certa dignidade pela literatura. Entraram em cena os funks saudando carnificinas e
exaltando massacres. Espremidas atrás das grades, as facções aproveitam cada brecha aberta pelo poder
público. Nascem, crescem e se multiplicam à medida que mais detentos são colocados para dentro das
cadeias. [...]

Disponível em: https://super.abril.com.br/comportamento/como-as-cadeias-


viraram-fabricas-de-faccoes-criminosas/. Acesso em 06 de junho de 2020.

Considerando que o texto precedente tem caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo-
argumentativo a respeito do seguinte tema.
DISFUNÇÃO DO SISTEMA CARCERÁRIO, CRIME ORGANIZADO E TRÁFICO DE DROGAS:
ENGRENAGENS DE UMA MÁQUINA CHAMADA VIOLÊNCIA
Em seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes aspectos:
1. a relação entre o sistema carcerário e o crime organizado; [4,20 pontos]
2. a relação entre o crime organizado e o tráfico de drogas; [4,20 pontos]
3. a relação da superpopulação carcerária com o crime de tráfico. [4,10 pontos]

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 42


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

Abordagem teórica

1. Sistema carcerário, crime organizado e tráfico de drogas

Segundo a Organização das Nações Unidas, o Brasil é o segundo país mais violento da América do Sul 15.
Essa posição nada honrosa possui um conjunto de fatores como causas, tais como as disfunções do sistema
carcerário, o crime organizado e o tráfico de drogas.
A Lei 12.850/2013 define organização criminosa como a "associação de 4 (quatro) ou mais pessoas
estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de
obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas
penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional."
O crime organizado é o fenômeno criminal que caracteriza as ações praticadas por uma organização
criminosa. Caracteriza-se, pois, pela sofisticação na prática de crimes (uso intenso de tecnologia;
contratação de especialistas em diversas áreas, como informática; intenso planejamento); pela estrutura
funcional, com divisão de funções, lideranças e departamentos especializados nas práticas de inúmeros
crimes; reconhecimento dos participantes pertencentes à organização; e capacidade de impor regras
pelo uso do medo.
Inicialmente, é necessário ter em mente que o crime organizado é um dos principais problemas de
segurança pública no Brasil. Trata-se da "empresa do crime", especializada no cometimento dos mais
diversos tipos de infrações, entre eles:
 o tráfico de drogas, concebido como a sua principal e mais lucrativa atividade;
 o tráfico de armas, fundamental para a manutenção da hegemonia e do controle dos negócios
empreendidos;
 roubos de cargas, modalidade que tem sido bastante comum, inclusive, nos grandes centros urbanos;
 assalto a agências bancárias e roubos com o uso de explosivos, ocorridos, inclusive, nas cidades do
interior do país (atividade conhecida como Novo Cangaço);
 contrabando e descaminho de mercadorias, que vão de cigarros a agrotóxicos. Trata-se de crimes
facilitados pela vigilância deficiente da extensa fronteira do Brasil.
Em face à gravidade desse problema, é fundamental entender as circunstâncias em que se formaram, bem
como as causas e os fatores que contribuíram para o seu fortalecimento no país.
O embrião do crime organizado remete às penitenciárias brasileiras. As maiores facções criminosas do país,
Primeiro Comando da Capital e Comando Vermelho, foram formadas dentro das penitenciárias nacionais.
Vejam o caso do PCC: a motivação para a sua criação era a de que, criando uma hierarquia entre os presos,

15
Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2019/07/08/brasil-e-o-segundo-pais-mais-violento-da-america-do-sul-
aponta-onu.ghtml. Acesso em: 06 de junho de 2020.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 43


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

seria possível evitar conflitos internos, como o que serviu de estopim para a rebelião no Carandiru, e ainda
combater os maus tratos e exigir, junto ao Estado, melhores condições para os presos.
Além de ter a sua gestação ligada ao sistema carcerário, o crime organizado também encontrou nas
prisões um ambiente propício para o seu fortalecimento. Por isso, diz-se que o crime organizado foi um
efeito colateral do elevado encarceramento no Brasil, pois quanto mais pessoas são presas, mais mão de
obra é posta à disposição do crime organizado.
Além disso, a popularização do uso de celulares e as fragilidades no sistema de segurança propiciaram que
os presos pudessem dispor desses aparelhos, o que facilitou a organização e tornou possível a coordenação
das facções de dentro das prisões. Daí serem as prisões chamadas de "escritórios do crime" ou "home office
do crime".
Esse poder de coordenação e organização ficou bem claro nos atentados de 2006: motivados pela
transferência de presos para a penitenciária 2 de Presidente Venceslau, unidade de segurança máxima no
interior paulista, 74 presídios acataram, ao mesmo tempo, as ordens do comando e entraram em rebelião.
A violência no interior dos presídios transbordou para as ruas com a realização de inúmeros atentados e
uma onda de violência que resultou em 564 mortes16. A cidade de São Paulo parou por quatro dias e só
retornou à normalidade diante de um suposto encontro secreto entre a cúpula do governo paulista com o
preso chamado Marcola, considerado como líder do PCC.
As facções conseguem arregimentar muitos membros por vários motivos:
 Ao entrarem nas penitenciárias, os egressos da sociedade se unem aos grupos por proteção, como
forma de terem uma lida menos árdua na prisão. Nesse caso, o alistamento acaba sendo uma questão
de sobrevivência.
 Outros, viciados em drogas, adquirem dívidas com os fornecedores existentes nas prisões, as quais
serão pagas com "serviços" para as facções após serem colocados em liberdade.
 Muitos também se filiam pelo discurso sedutor dos elementos da facção. Cria-se um discurso de união
dos presos contra as injustiças e a opressão dentro da prisão, contra o sistema opressor e,
particularmente, contra os policiais, ao passo que se estimula um espírito de lealdade e respeito à
facção17. O crime organizado, sob o discurso de formação de grupo, oferece uma causa para muitas
pessoas absolutamente desnorteadas, sem nenhum ideal na vida, dando-lhes um motivo pelo qual
devem lutar.
 Além disso, as facções oferecem certas benesses, como ajuda para bancar advogados, doação de cestas
básicas a familiares e pagamento de viagens para aqueles que moram longe. Isso cria um vínculo que
se estenderá para além do período de encarceramento, pois, mesmo posto em liberdade e mesmo que
não queira, terá uma conta para pagar à facção.

16
Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2016-05/crimes-de-maio-causaram-564-mortes-
em-2006-entenda-o-caso. Acesso em 06 de junho de 2020.
17
Nesse sentido, é bem ilustrativo o Estatuto do PCC, disponível em: https://pt.wikiquote.org/wiki/Estatuto_do_PCC.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 44


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

Para finalizar essa parte, como forma de aprofundamento, leia com atenção ao seguinte texto extraído do
Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 201918:
"[...] Policiamento ostensivo, melhoria na gestão das polícias, aprisionamentos em flagrante, no final das
contas, acabaram produzindo efeitos colaterais inesperados, como o aprisionamento massivo e a perda do
controle no interior das prisões. Ou melhor: a terceirização do controle para os presos, que precisaram
estabelecer um esquema de autogestão para sobreviver naqueles ambientes que o estado não parecia ter
competência, dinheiro ou até mesmo interesse de administrar.
Erros dessa dimensão produzem consequências, são ações que produzem reações. Prisões superlotadas, ao
invés de diminuírem o crime, com o passar do tempo, fortaleceram os chefes de facções e multiplicaram
grupos que mimetizavam no sistema penitenciário o modelo do Primeiro Comando da Capital – que já havia
sido inventado em São Paulo em 1993. [...]"
[...] o PCC só se fortalece a partir das políticas públicas implementadas pelo Estado. Foram essas ações na
área de segurança e Justiça que deram ao grupo a possibilidade de construir o mecanismo de mediação no
interior dos presídios no Estado.
O PCC, portanto, é um dos efeitos colaterais dessas políticas públicas aplicadas em São Paulo. Ao controlar
os presídios superlotados e criar um discurso de união entre os presos contra o “sistema opressor”, o PCC
conseguiu mediar as relações do mundo do crime, criando uma rede de parceiros, estabelecendo regras,
protocolos, debatendo punição aos desviantes, etc. A consolidação desse novo modelo de negócio criminal
permitiu que o PCC se expandisse para outros mercados brasileiros e para países nas fronteiras da América
do Sul. [...]
O Estado, que não acreditava na capacidade de articulação política e comercial dos presos, acabou
involuntariamente criando o ambiente ideal para o PCC crescer e se fortalecer. Quanto mais pessoas eram
presas, maior ficava o poder dos chefes, que passam a ter ascendência entre filiados e simpatizantes com
uma retórica sedutora. Entre as máximas do grupo, uma das mais repetidas era “o crime fortalece o crime”.
Aproveitando a revolta de meninos que se sentiam perseguidos e massacrados pelos policiais nas periferias,
o PCC soube canalizar o ódio dos garotos para aqueles que apontavam como os reais inimigos, os policiais.
[...]

Exploraremos agora a questão referente ao tráfico de drogas.


Segundo o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), o comércio ilegal de drogas
movimenta cerca de US$ 400 bilhões a cada ano19. Esse expressivo montante explica o interesse do crime
organizado, que passa a ter o tráfico de drogas como a sua principal fonte de renda.

18
Disponível em: http://www.forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2019/09/Anuario-2019-FINAL-v3.pdf. Acesso em: 03 de
junho de 2020.
19
Disponível em: https://igarape.org.br/en/precisamos-falar-sobre-drogas/. Acesso em 10/01/2020.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 45


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

Com o suporte financeiro propiciado pelo tráfico, as facções crescem em tamanho, complexidade e
sofisticação, constituindo-se num sério problema a ser combatido pelo Estado. Prova disso é a existência
de várias áreas inacessíveis pelo Estado; locais em que, pela sua própria ausência, assumiu o comando um
"poder paralelo", determinando as regras de conduta, mediando a relação entre os indivíduos, prestando
assistência aos que necessitarem, oferecendo serviços básicos, entre uma série de outras coisas.
O dinheiro obtido com o tráfico é utilizado, entre outras finalidades, para compra de armas, as quais servem
para garantir a segurança da facção, para atemorizar a população encontrada nas áreas dominadas e para
garantir o funcionamento da logística do tráfico, dos centros produtores até a sua venda.
O controle dos pontos e rotas por onde a droga é escoada tem sido, inclusive, alvo de guerras entre as
facções. Esses conflitos resultam em rebeliões nos presídios e guerra nas ruas, causando uma onda de
violência e mortes. Foi o que ocorreu em 2016 com o assassinato do traficante Jorge Rafaat pelo PCC, na
cidade de Pedro Juan Caballero, fronteira com Ponta Porã (MS). Esse evento tinha como pano de fundo o
controle do mercado criminal na fronteira a partir do acesso privilegiado à droga produzida e comercializada
na Bolívia, no Peru e no Paraguai.
Reforçando esses pontos, observem o que consta no Plano Nacional de Política Criminal e Penitenciária20:
O alicerce financeiro propiciado com o tráfico de entorpecentes fomenta o surgimento de organizações
sofisticadas, com poderio econômico-financeiro a ponto de desafiar o próprio Estado, estabelecendo um
poder paralelo, não apenas com a prática de ações subvertendo a ordem pública, mas, até mesmo, por meio
da realização de atividades assistencialistas às famílias dos integrantes das facções, especialmente dos que
estão presos.
O crime organizado, que tem como base o tráfico ilícito de drogas e, de permeio, o contrabando de armas
e a corrupção, movimenta no planeta cifras que representam três vezes o Produto Interno Bruto (PIB)
do Brasil, a ponto de transformar-se em um dos maiores empreendimentos financeiros do mundo. Os
sistemas bancários e de capitais, em escala global, se encarregam de fazer circular e promover a lavagem
desse dinheiro contaminado com substâncias entorpecentes, que traz graves consequências sociais e
alimenta a violência.
Esse fenômeno está bem presente no Brasil. As facções criminosas (que comandam a criminalidade e
possuem como suporte financeiro os recursos oriundos do tráfico de drogas e atividades afins) foram criadas
dentro dos presídios e fazem destes o seu home office, de onde fortalecem os seus laços de poder.
Recentemente, a sociedade brasileira ficou estarrecida e amedrontada com a revelação pelos meios de
comunicação de uma operação de resgate liderada por conhecida organização criminosa, ao custo da
impressionante cifra de mais de 100 milhões de reais.
Essa mesma organização criminosa, segundo dados informais, possuiria arrecadação anual que a coloca
entre as 10 (dez) maiores empresas no País, em termos de faturamento.

20
Disponível em: http://depen.gov.br/DEPEN/depen/cnpcp/plano_nacional-
1/Plano_Nacional_de_Politica_Criminal_e_Penitenciaria_2020_2023__FINAL_.pdf. Acesso em 06 de junho de 2020.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 46


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

Estas considerações revelam que a preocupação em eliminar os ganhos financeiros com a comercialização
de drogas ilícitas é tão ou mais importante quanto cuidar dos tipos penais pertinentes a essa modalidade de
criminalidade. Até porque a finalidade do tráfico de entorpecentes é a obtenção de lucro. Ir para a prisão,
mas conservar os ganhos financeiros da atividade ilícita, em certo sentido, compensa e serve para que a
pessoa ou a organização que ela integra permaneça na criminalidade e tenha poder de liderança.
Outro ponto importante a ser citado é a relação entre o tráfico de drogas e a superpopulação carcerária.
A representatividade dos presos pela Lei de Drogas é extremamente relevante no universo prisional:
segundo dados do Infopen 2019, entre o total de presos, respondem por tráfico de drogas,
aproximadamente, 20% dos homens e 51% das mulheres.
Diante desse quadro e a par de entrar na polêmica sobre a descriminalização das drogas, a discussão da
superpopulação passa pela forma que o Estado trata o tráfico de drogas. Sabe-se que a Lei nº 11.343, de
2006, não definiu critérios objetivos para a distinção entre o mero uso e o tráfico de entorpecentes, o que
acaba dando margem ao subjetivismo dos operadores jurídicos e policiais quando da tipificação das
condutas.
A forma como se dá a repressão ao tráfico de drogas atualmente não enfrenta o problema no seu âmago.
Isso porque os que vêm a ser presos são os "soldados rasos" da facção, elementos facilmente substituíveis,
cuja prisão em nada afeta a estrutura da "empresa" e apenas contribui para o inchaço dos estabelecimentos
prisionais. A subjetividade acima mencionada, por sua vez, faz com que usuários sejam enquadrados como
traficantes, alimentando o sistema carcerário com elementos de baixa periculosidade, mas que, a partir
desse ponto, pelo contexto das penitenciárias brasileiras, têm o potencial de saírem em situação pior do que
a que adentraram.
A forma mais eficaz de combate ao tráfico é estrangulá-lo financeiramente. Por meio de ações de
inteligência, de caráter intersetorial, é necessário monitorar o caminho de recursos ilegais e identificar seus
beneficiários, ou seja, acompanhar o caminho do dinheiro para desarticular a facção e prender quem
realmente interessa. Por outro, as Polícias Federal e Rodoviária Federal devem realizar operações para
apreender o fluxo de drogas e armas e, devido ao caráter transfronteiriço, engendrar operações que
envolvam os países de onde partem as drogas, como Peru e Bolívia.

Além disso, como outras frentes no combate qualificado ao tráfico de drogas, a desburocratização da venda
de produtos do tráfico e o isolamento carcerário das lideranças, com a transferência para unidades do
Sistema Penitenciário Federal.
Para arrematar, segundo o Plano Nacional de Política Criminal e Penitenciária21:
" [...] Com efeito, em consonância com dados coletados em pesquisa de campo na elaboração de tese de
doutorado de Semer (2019), as pessoas presas pelo crime de tráfico de entorpecentes não são os grandes
traficantes, mas, sim, quando não meras mulas, simples operários do tráfico, representados por jovens
presos em flagrante, primários, integrantes da classe baixa, desempregados, negros ou pardos e com a

21
Disponível em: http://depen.gov.br/DEPEN/depen/cnpcp/plano_nacional-
1/Plano_Nacional_de_Politica_Criminal_e_Penitenciaria_2020_2023__FINAL_.pdf. Acesso em 06 de junho de 2020.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 47


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

defesa sendo realizada pela defensoria pública. Essa tese compreendeu a análise de 800 sentenças de 8
estados (São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Goiás, Pará, Bahia e Maranhão).
Além de os que comandam o tráfico invariavelmente não serem presos, na medida em que as investigações
não chegam neles – pois 88,75% das prisões decorrem de situação de flagrante delito, em que a pessoa
portava pequena quantidade de droga (SEMER, 2019) –, aquele que ontem estava na rua, mas agora está
preso, dá lugar no mercado do tráfico a outro jovem, que, mais cedo ou mais tarde, vai ser preso ou ser vítima
da própria criminalidade da qual ele tem participação como coadjuvante.
Quanto à questão das drogas, sem ingressar no debate sobre a criminalização ou não do uso para fins
recreativos, é necessária uma política mais voltada para a redução de danos, o que abrange a adoção de
estratégia pertinente para diminuir a violência. A Lei nº 11.343, de 2006 (BRASIL, 2006), sem embargo das
alterações promovidas pela recente Lei nº 13.840, de 2019 (BRASIL, 2019), não se ocupou de estabelecer
critérios objetivos para a distinção entre o mero uso e o tráfico de entorpecentes, a fim de arrefecer o
subjetivismo dos operadores jurídicos quando da tipificação das condutas, deixando, assim, de seguir as
diretrizes implantadas por alguns países, como é o caso de Portugal, que utiliza como referencial a
quantidade de droga. Essa medida é necessária para evitar o encarceramento como traficantes de pessoas
que, pela quantidade de substância entorpecente encontrada em seu poder, não é razoável que sejam
consideradas como tal ou, então, ainda que caracterizada essa condição, não deve ser punida,
necessariamente, com a pena de prisão. [...]"
É isso. Se você chegou até aqui, estará bem preparado para dissertar sobre assunto dos mais relevantes.
Parabéns e nos vemos na próxima.

Tema 15

Rio tem 3,7 milhões de habitantes em áreas dominadas pelo crime organizado; milícia controla 57% da
área da cidade, diz estudo
Mapa dos Grupos Armados do Rio, lançado nesta segunda (19), aponta que três facções do tráfico juntas
dominam 15,4% do território da capital.
Uma pesquisa inédita sobre a expansão de organizações criminosas no Rio revela que milícia e tráfico estão
presentes em 96 dos 163 bairros da cidade. Nessas áreas subjugadas vivem cerca de 3,76 milhões de
pessoas, do total de 6.747.815 habitantes — segundo estima o IBGE.
O estudo, batizado de Mapa dos Grupos Armados do Rio de Janeiro, identificou que milicianos controlam
área maior do que traficantes de drogas na capital fluminense.
Segundo o levantamento, até o fim de 2019, as milícias dominavam 25,5% dos bairros do Rio. O percentual
representa 57,5% da superfície territorial da cidade, onde vivem 33,1% dos habitantes do município – ou
seja, mais de 2 milhões dos cerca de 6,74 milhões de habitantes calculados pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 48


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

Disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/10/19/rio-tem-37-milhoes-


de-habitantes-em-areas-dominadas-pelo-crime-organizado-milicia-controla-57percent-da-
area-da-cidade-diz-estudo.ghtml. Acesso em: 19 de outubro de 2020 (com adaptações).

Considerando que o fragmento de texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo acerca do seguinte tema:

O CRESCIMENTO DAS MILÍCIAS COMO AMEAÇA À SEGURANÇA PÚBLICA

Ao elaborar seu texto, faça o que se pede a seguir.


a) os elementos caracterizadores de uma milícia; [valor: 4,20 pontos]
b) o modo de atuação dessas organizações; [valor: 4,10 pontos]
c) em que medida as milícias constituem uma ameaça à segurança pública. [valor: 4,20 pontos]

Abordagem teórica

Segundo El País22, as milícias cariocas já controlam 25,5% dos bairros do Rio de Janeiro, em um total de
57,5% do território da cidade. As três principais facções criminosas do tráfico de drogas — Comando
Vermelho, Terceiro Comando e Amigos dos Amigos — possuem juntas o domínio de outros 34,2% dos
bairros e 15,4% do território. Ao todo, 3,7 milhões de pessoas vivem em local controlado por algum grupo
criminoso, ou o equivalente a 57,1% da população. Os números são de 2019 e, de acordo com os
pesquisadores, impressionam pelo rápido crescimento dos grupos milicianos, que só começaram a se
articular no início dos anos 2000; depois, portanto, das facções criminosas, formadas desde o início da
década de 1990.
Esses números, por si sós, dão a dimensão do problema. Mas, afinal, o que são milícias, como elas funcionam
e porque podem ser consideradas uma ameaça à segurança pública.
As milícias são grupos armados, formados em comunidades urbanas de baixa renda, que utilizam da força
para obter lucro e poder. Surgiram, inicialmente, com a proposta de livrar a população desses locais da ação
do tráfico, mas, com o passar do tempo, as suas reais intenções foram se descortinando. No início,
chegaram, inclusive, a serem vistas como "mal menor", por livrar a população do jugo dos traficantes,
situação que o Estado não conseguia resolver.
Assim como o tráfico, as milícias também possuem suas facções. Uma das mais conhecidas é a Liga da
Justiça. Há ainda a milícia chamada Escritório do Crime, que atua na zona oeste do município do Rio de
Janeiro e que surgiu da exploração imobiliária ilegal em atividades como grilagem, construção, venda e

22
Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2020-10-19/milicias-ja-dominam-um-quarto-dos-bairros-do-rio-de-janeiro-com-
quase-60-do-territorio-da-cidade.html. Acesso em: 19 de janeiro de 2021.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 49


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

locação ilegal de imóveis. São formadas, basicamente, por policiais e ex-policiais militares, bombeiros,
vigilantes, agentes penitenciários e agentes privados de segurança.
Apesar desse "modelo de negócio" ter surgido no Rio de Janeiro, já se espalhou pelo Brasil. Veja o seguinte
fragmento de texto23:
Já foram detectados grupos similares em outros Estados. “Não existe deslocamento de membros como
nos comandos do tráfico, porque são funcionários públicos e dominam as áreas que trabalham ou vivem.
Mas há muita transferência de know-how para formar e manter uma milícia”, revela o promotor. Para
dimensionar a expertise, há milícia no Rio com carnê de pagamento e até SAC (Serviço de Atendimento
ao Consumidor). Não é bagunça: o crime é muito bem organizado.
Há exemplos da Amazônia até o Pampa. Em Pelotas (RS), 30 policiais, entre eles comandantes da Brigada
Militar, foram presos acusados de formação de milícia porque cobravam de comerciantes uma taxa de
segurança, e seus integrantes torturavam suspeitos de roubo nos dias de folga da corporação. Há casos
semelhantes nos municípios de Porto Alegre e Alvorada. Já uma CPI da Assembleia Legislativa do Pará
apontou a presença de três grupos que atuam na periferia de Belém. As organizações lideradas por PMs
extorquem empresários, promovem chacinas e disputam pontos de narcotráfico.
No Nordeste, em todos os Estados há ações milicianas. Na Bahia, se repete um crime já comum no Rio:
invasão dos condomínios do programa “Minha Casa Minha Vida”. Em Salvador e Feira de Santana, foi
expulso quem não pagou a taxa de segurança. Na capital baiana, bairros periféricos têm “paisanos”
controlando internet, tv a cabo, gás, vans e moto-táxis.
Tais grupos se mantêm com os recursos financeiros provenientes da extorsão da população. Os
milicianos oferecem para os estabelecimentos comerciais ou para os moradores dos locais por eles
dominados a chamada “taxa de segurança”, um valor para se obter uma espécie de proteção, a qual são
coagidos a pagar. Nesse sentido, prestam um serviço que, teoricamente, deveria ser oferecido pelo Estado,
em virtude do pagamento de impostos pela população.
Seus negócios, contudo, vão além disso. Com o passar do tempo, passaram à exploração clandestina de gás
e televisão a cabo, a máquinas caça-níqueis, à agiotagem, a incutir ágio sobre venda de imóveis, etc.
Segundo fonte jornalística24:
Aos poucos, as milícias passaram a cobrar comissões sobre a venda de imóveis e terrenos negociados pelos
moradores, a dominar o transporte irregular das mototáxis e vans, a controlar a instalação de TV a cabo
pirata (o “gato net”) e de máquinas caça-níqueis. Outro ramo lucrativo é o monopólio da venda de itens como
cocos verdes, botijões de gás e crédito pessoal (com a vantagem do baixo risco de inadimplência – atraso
significa morte). Ao revender os produtos e serviços superfaturados, as milícias viram os seus lucros, armas
e poder se multiplicar.

23
Disponível em: https://tab.uol.com.br/edicao/milicias/#page13. Acesso em: 19 de janeiro de 2021.
24
Disponível em: https://super.abril.com.br/comportamento/as-milicias-de-verdade/. Acesso em: 19 de janeiro de 2021.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 50


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

Os crimes praticados por essa máfia não se restringem a esse leque. Como os traficantes, os milicianos
espancam, torturam e matam pessoas que tentam resistir. Os ataques não acontecem apenas em locais
afastados. Há relatos de crimes de milicianos em áreas com muitas pessoas, durante o dia e sem
preocupação nenhuma em esconder a sua identidade. Afinal, a matança faz parte do trabalho de “proteger”
a comunidade.
Há também o perigoso relacionamento das milícias com o processo eleitoral. Aos poucos, infiltraram-se
no meio político, elegendo muitos candidatos graças aos chamados votos de curral eleitoral. Esses políticos,
obviamente, passarão a defender os interesses da milícia e buscarão impedir medidas que as desfavoreçam,
o que possibilita que, cada vez mais, essas estruturas cresçam.
Vejam o seguinte exemplo25:
Eduardo Cunha, presidente da Câmara Federal cassado e preso, liderou só em uma zona eleitoral do
município do Rio nas eleições de 2014. Foi na de número 179, que compreende os bairros de Rio das Pedras e
Gardênia Azul, os redutos milicianos mais tradicionais. Cunha fez campanha por lá em dobradinha com
Domingos Brazão, deputado estadual citado durante a CPI das Milícias e acusado de envolvimento em uma
máfia de combustíveis. Seu irmão, Chiquinho Brazão se reelegeu vereador em 2016 graças à mesma zona
eleitoral 179. Os irmãos Brazão frequentaram os mesmos palanques que Sérgio Cabral, Eduardo Paes e
outros peemedebistas. Antes, a milícia teve grande crescimento durante o governo de Rosinha Garotinho
(2003-2006), que não reconhecia presença paramilitar no Estado. Já o então prefeito César Maia chamava a
milícia de "problema menor".
A mistura das milícias com a política se mostrou especialmente explosiva em 2016 nos municípios da Baixada
Fluminense, onde 14 assassinatos estão relacionados com candidaturas e grupos armados. De tão
assustados, os políticos evitaram atos à noite e caminhadas em determinados bairros. A Polícia Federal está
investigando a denúncia que as milícias chegaram a cobrar até R$ 120 mil de candidatos para colar cartazes
e fazer campanha em seus domínios no subúrbio e região metropolitana do Rio.
Nesse sentido, a presença de milícias pode também ser apontada como uma ameaça à democracia, visto
que são capazes de corromper o processo eleitoral e submeter a população à um ordenamento jurídico
paralelo, cujos direitos e deveres são por eles estabelecidos conforme a sua conveniência.
Além disso, em certos locais, tem-se verificado uma relação de aliança entre as milícias e o narcotráfico, o
que tem sido chamado de narcomilícia. Se antes eram estruturas rivais, atualmente, observa-se uma relação
de colaboração, manifestada, por exemplo, pela proteção dos pontos de venda de drogas contra ataques
de outras facções ou pela venda ou aluguel do controle territorial para que determinada facção assuma o
controle do tráfico local. Assim, essa interação dificulta ainda mais o combate a um grande problema da
segurança pública, o tráfico de drogas. Veja o seguinte trecho:

25
Disponível em: https://tab.uol.com.br/edicao/milicias/#page13. Acesso em: 19 de janeiro de 2021.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 51


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

Investigações do DGHPP apontam que, em algumas localidades, milicianos arrendaram pontos para
traficantes da facção aliada montarem bocas de fumo. Isso teria acontecido na Favela da Coreia, em
Senador Camará, e em Água Santa.
— Os paramilitares querem obter lucro de todas as formas. Não se preocupam com nada nem com ninguém.
O tráfico passou a ser tolerado, assim como alguns tipos de roubos — afirma o delegado Antônio Ricardo [...]
Por fim, segundo o art. 288-A do Código Penal (CP), é crime, punido com reclusão de 4 a 8 anos, constituir,
organizar, integrar, manter ou custear organização paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão com
a finalidade de praticar qualquer dos crimes no CP.

Tema 16

CEBRASPE - Escrivão de Polícia Federal/2009


Nos últimos anos, o mundo foi colocado diante de uma realidade nova: os sindicatos do crime ultrapassaram
as fronteiras geográficas dos países, com os objetivos de obter maiores resultados nas operações delituosas
e assegurar proteção e impunidade a seus agentes.
Em razão disso, a comunidade das nações entendeu a importância da criação de acordos internacionais para
uma ação conjunta contra o crime transnacional organizado. No ano de 1998, a Assembleia Geral da
Organização das Nações Unidas (ONU) determinou a criação de um comitê de trabalho com o fim específico
de elaborar uma convenção internacional para enfrentar esses crimes.
Em dezembro de 1999, realizou-se em Palermo, Itália, uma reunião para a assinatura da Convenção das
Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional - a Convenção de Palermo -, que identificou que
os países estão diante de um gravíssimo problema, que só pode ser eliminado mediante uma ação conjunta
da comunidade das nações.
Essa Convenção, que foi adotada pela ONU em novembro de 2000, na Assembleia Geral do Milênio, é
suplementada por três documentos que abordam áreas específicas de atuação do crime organizado: o
protocolo para prevenir, suprimir e punir o tráfico de pessoas, especialmente mulheres e crianças; o
protocolo contra o contrabando de imigrantes por terra, ar e mar; o protocolo contra a fabricação ilegal e o
tráfico de armas de fogo, incluindo peças, acessórios e munições.
O problema da corrupção também foi abordado nos documentos; neles há propostas para agravar as
sanções contra esse tipo de crime. A Convenção trata, ainda, de aspectos relacionados com a extradição de
criminosos e a transferência de presos, respeitando a legislação nacional dos países.
O Congresso Nacional do nosso país aprovou, em maio de 2003, o texto da Convenção de Palermo, e o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pelo Decreto nº 5.015, de 12 de março de 2004, sacramentou a adesão
do Brasil a esse documento.
Convenção de Palermo (fragmento). In: Estudos Avançados.
USP, 21 (61), 2007, p. 102 (com adaptações).

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 52


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

Considerando que o texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo,
abordando, necessariamente, os seguintes aspectos:
 importância da Convenção de Palermo; [valor: 4,20 pontos]
 crime organizado e direitos humanos; [valor: 4,20 pontos]
 medidas de combate ao poder financeiro do crime organizado. [valor: 4,10 pontos]

Abordagem teórica

Pessoal, vejam que este tema recapitula várias discussões já travadas nos textos anteriores. Por esse
motivo, ater-me-ei apenas ao que não foi abordado anteriormente.
Segundo a UNODC (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime):
"A Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, também conhecida como
Convenção de Palermo, é o principal instrumento global de combate ao crime organizado
transnacional. Ela foi aprovada pela Assembleia-Geral da ONU em 15 de novembro de 2000, data em que
foi colocada à disposição dos Estados-membros para assinatura, e entrou em vigor no dia 29 de setembro de
2003.
A Convenção é complementada por três protocolos que abordam áreas específicas do crime organizado:
 Protocolo Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e
Crianças (Protocolo de Palermo);
 Protocolo Relativo ao Combate ao Tráfico de Migrantes por Via Terrestre, Marítima e Aérea; e
 Protocolo contra a fabricação e o tráfico ilícito de armas de fogo, suas peças e componentes e
munições
A Convenção representa um passo importante na luta contra o crime organizado transnacional e
significa o reconhecimento por parte dos Estados-membros da gravidade do problema, bem como a
necessidade de promover e de reforçar a estreita cooperação internacional a fim de enfrentar o crime
organizado transnacional.
Os Estados-membros que ratificaram este instrumento se comprometem a adotar uma série de medidas
contra o crime organizado transnacional, incluindo a tipificação criminal na legislação nacional de atos como
a participação em grupos criminosos organizados, lavagem de dinheiro, corrupção e obstrução da justiça. A
convenção também prevê que os governos adotem medidas para facilitar processos de extradição,
assistência legal mútua e cooperação policial. Adicionalmente, devem ser promovidas atividades de
capacitação e aprimoramento de policiais e servidores públicos no sentido de reforçar a capacidade das
autoridades nacionais de oferecer uma resposta eficaz ao crime organizado."
Ainda segundo a UNODC, o crime organizado transnacional é uma das principais ameaças à segurança
pública e representa um entrave para o desenvolvimento social, econômico e político das sociedades em

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 53


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

todo o mundo. Trata-se de um fenômeno multifacetado que se manifesta em diferentes tipos de crime, tais
como tráfico de drogas, tráfico de seres humanos, contrabando de migrantes, tráfico de armas, lavagem de
dinheiro, entre outros.
Como se sabe, com a evolução nos transportes nas comunicações, o crime organizado globalizou-se e
internacionalizou as suas ações. Nesse contexto, surgiu a necessidade de se estabelecer um acordo global
para obstruir as atividades criminosas e aprimorar a cooperação internacional na investigação, detenção e
indiciamento de suspeitos. Entendeu-se ser fundamental uma atuação articulada para enfrentar, com
maior eficiência, grupos criminosos dispersos ao redor do mundo, que muitas vezes possuem alta
capacidade de comunicação e organização.
Assim, como forma de proporcionar uma repressão uniforme, dificultando a ocorrência de brechas a serem
exploradas por essas organizações, surge a Convenção de Palermo, instrumento universal contra a
delinquência organizada de cunho transfronteiriço.
Resumidamente, a Convenção de Palermo trata dos seguintes pontos: normas de criminalização
(organizações criminosas, lavagem de dinheiro, corrupção e responsabilização); normas sobre confisco e
apreensão do produto desses crimes; normas de cooperação jurídica internacional, cooperação policial e
extradição; normas de proteção a testemunhas; entre outros.
A Convenção de Palermo realmente impulsionou os países que a ratificaram a tomarem medidas para
conter o avanço do crime organizado. Na frente legislativa, desenvolveram-se leis; na executiva, políticas
públicas.
Veja o caso do Brasil. Uma vez aprovado o texto da Convenção e de seus Protocolos pelo Poder Legislativo,
o Poder Executivo promulgou os Decretos 5.015, 5.016 e 5.017, todos de 2004, e o Decreto 5.941 de 2006,
momento a partir do qual os instrumentos passaram a vigorar no Brasil, fortalecendo o combate ao crime
organizado e permitindo maior mobilização social em torno do tema.
Para desenvolver o tópico "criminalidade organizada e direitos humanos", o ponto inicial é pensar nas
atividades desenvolvidas pelo crime organizado e no seu modo de operar.
Primeiramente, as atividades (tráfico de armas, drogas, pessoas, crimes ambientais, contrabando etc.)
consistem em grande desrespeito aos direitos humanos sob as mais diversas formas. O tráfico de armas
coloca em circulação armas ilegais nas mãos de pessoas mal intencionadas, além de aumentar a intensidade
das guerras. Tudo isso leva à morte, o que atenta ao direito fundamental da vida. O tráfico de drogas torna
mais fácil o acesso a substâncias capazes de levar à dependência e arruinar vidas e famílias.
O tráfico de pessoas consiste em violação grave à dignidade da pessoa humana, em que indivíduos são
considerados apenas como objetos mercantis e utilizados com o fim exclusivo de gerar lucro àqueles que os
exploram. Atinge pessoas em situação de precariedade e vulnerabilidade, sendo um dos exemplos mais
flagrantes de violação aos direitos humanos e de negação da dignidade da pessoa. O contrabando,
conforme será visto em tema específico, consiste numa ofensa ao Estado, à economia e à saúde pública. Os
crimes ambientais, como a exportação ilegal de madeira, atentam contra o direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, previsto na Constituição Federal de 1988 (CF/1988).

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 54


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

Pessoal, no final das contas, as atividades desempenhadas pelo crime organizado, por serem
invariavelmente ilegais, consistem, em maior ou menor intensidade, em danos à segurança pública, dever
do Estado, direito e responsabilidade de todos (art. 144, CF/1988).
Além disso, recorde-se o imenso gasto com segurança pública, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança
Pública de 2020, em 2019, foram gastos 95 bilhões de reais no Brasil nessa área. Certamente, boa parte
desse valor seria economizado se não houvesse o crime organizado. Esse recurso poderia ser utilizado para
construir escolas, hospitais, habitações etc. Assim, o crime organizado, ainda que de maneira indireta,
impede investimentos sociais em saúde, educação, moradia, entre outros direitos fundamentais dos
indivíduos.
Por outro lado, sabe-se que o seu modo de operar inclui violência, terror, atentados, perversão, emprego
de crianças em atividades criminosas, objetificação da mulher, assassinatos em massa, torturas, entre
outras condutas afrontosas aos direitos humanos. Algumas dessas facções, inclusive, possuem tribunais que
julgam não apenas os seus membros, mas também aqueles que de alguma forma as prejudiquem (lembram-
se do assassinato do repórter Tim Lopes?).
Passemos agora ao terceiro tópico, medidas de combate ao poder financeiro do crime organizado. Já
exploramos isso em outros temas, mas façamos uma breve revisão.
As medidas envolvem:
 Combate à lavagem de dinheiro (investimento em pesquisa, inteligência, tecnologia, contratação e
capacitação de pessoal especializado no tema) de modo a inviabilizar o uso dos ativos, bloquear
contas bancárias, fechar empresas de fachada etc.
 Criação de uma estrutura legal que ampare o confisco, o bloqueio e a expropriação dos bens obtidos
ilicitamente.
 Fortalecimento do policiamento nas fronteiras, com a integração de todos os órgãos responsáveis
pela repressão dos crimes transfronteiriços.
 Criação de centros integrados de inteligência, alimentados por todas as corporações responsáveis
pela segurança pública.
 Articulação internacional para intercâmbio de informações e realização de operações conjuntas.
Ficamos por aqui. Até logo!

Tema 17

Droga é qualquer substância capaz de modificar o funcionamento fisiológico (normal), mental ou


comportamental de um indivíduo. Inclui medicamentos (drogas lícitas) e plantas. As drogas capazes de
alterar o funcionamento mental ou psíquico são denominadas drogas psicotrópicas ou simplesmente
psicotrópicos. Costumamos usar a palavra droga para falar de substâncias que apresentam potencial de
abuso e que podem causar dependência.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 55


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

A história das drogas acompanha a história da humanidade. Temos relatos muito antigos do uso de chás e
álcool em rituais religiosos ou em comemorações. A alteração da consciência é algo que desperta a
curiosidade do homem e o leva a experimentar substâncias psicoativas.
A dependência de drogas (lícitas e ilícitas) é consequência de uma interação entre os genes, a sequência
temporal dos ambientes externos aos quais estamos sujeitos durante a vida e eventos aleatórios de
interações moleculares que ocorrem dentro das células individuais. São essas as interações que devem ser
incorporadas em uma explicação adequada acerca da formação da dependência. Uma grande parte das
pessoas se envolverá em uso ocasional, porém outra parte se tornará dependente, possivelmente devido a
uma memória que a droga cria no cérebro, nos sistemas de gratificação cerebrais. Memória esta que é
despertada principalmente em diversas situações emocionais e ambientais. Nessas situações, através de
mecanismos desconhecidos, o indivíduo sente necessidade da droga. A incidência de alcoolismo em filhos
de pais dependentes de álcool é de três a quatro vezes maior do que entre os filhos de não dependentes.
Estudos em gêmeos também tendem a confirmar esta predisposição. Existem vários modelos propostos
para explicar este fenômeno, mas nenhum comprovado definitivamente.
Causas e Consequências das Drogas. Disponível em:
http://arquivo.edemocracia.camara.leg.br/web/politica-sobre-drogas/wikilegis/-
/wiki/Main/In%C3%ADcio/pop_up?_36_viewMode=print. Acesso em: 19 de
fevereiro de 2020.

OMS: cannabis é droga ilícita mais consumida no mundo, com 180 milhões de usuários.
A cannabis é a droga psicoativa ilícita mais usada no mundo, com mais de 180 milhões de usuários
globalmente. Apesar disso, segundo novo relatório divulgado este mês pela Organização Mundial de Saúde
(OMS), ainda há menos conhecimento sobre seus efeitos sociais e na saúde quando comparado ao álcool e
ao tabaco.
A estimativa da OMS é de que haja 181,8 milhões de usuários de cannabis — em suas preparações mais
comuns, como maconha e haxixe — com idade entre 15 e 64 anos no mundo.
Somente na Europa, 11,7% dos jovens (com idade entre 15 e 34 anos) usaram cannabis no ano passado,
percentual que sobe para 15,2% no grupo entre 15 e 24 anos. Do total de usuários globais, estima-se que
13,1 milhões sejam dependentes.
Disponível em: https://nacoesunidas.org/oms-cannabis-e-droga-ilicita-
mais-consumida-no-mundo-com-180-milhoes-de-usuarios/. Acesso
em: 19 de fevereiro de 2020.

Considerando que os fragmentos de texto acima têm caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo acerca do seguinte tema.
A PROBLEMÁTICA DAS DROGAS ILÍCITAS NO BRASIL
Em seu texto, posicione-se, de forma clara e fundamentada, a respeito da descriminalização do uso de
drogas ilícitas [valor: 4,40 pontos] e discuta os seguintes aspectos:
a. As consequências do uso de drogas ilícitas para a sociedade. [valor: 2,50 pontos]

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 56


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

b. A influência dos aspectos geográficos do Brasil para o agravamento do problema. [valor: 2,50 pontos]
c. O uso da maconha para fins medicinais: contra ou a favor? [valor: 3,00 pontos]

Abordagem teórica

1. Problemática das drogas


Segundo a organização mundial de saúde (OMS), droga é qualquer substância que, introduzida no
organismo, interfere no seu funcionamento. No Brasil, a Lei 11.343/2006, a famosa Lei de Drogas, não
definiu quais substancias são consideradas drogas ilícitas no Brasil, tarefa a cargo da Anvisa que, por meio
da Portaria 344/1998, listou tais substâncias.
Segundo os dados do 3° Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira,
coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), 3,2% dos brasileiros usaram substâncias ilícitas nos 12
meses anteriores à pesquisa, o que equivale a 4,9 milhões de pessoas. Esse percentual é muito maior entre
os jovens: 7,4% das pessoas entre 18 e 24 anos haviam consumido drogas ilegais no ano anterior à
entrevista.
Essa mesma pesquisa detectou que a substância ilícita mais consumida no Brasil é a maconha: 7,7% dos
brasileiros de 12 a 65 anos já a usaram ao menos uma vez na vida. Em segundo lugar, fica a cocaína em pó:
3,1% já consumiram a substância. Aproximadamente 1,4 milhão de pessoas entre 12 e 65 anos relataram
ter feito uso de crack e similares alguma vez na vida, o que corresponde a 0,9% da população de pesquisa.
São números consideráveis e isso tem uma série de repercussões. Envolve:
1) a segurança pública, visto ser o tráfico a principal fonte de financiamento do crime organizado. Além
disso, pela enorme recorrência do crime, consome em demasia os recursos das polícias.
2) a saúde pública, haja vista os impactos do uso de drogas à saúde humana, sejam eles emocionais, físicos
ou mentais;
3) a sociedade, pois o uso de drogas e principalmente a dependência, além de impactarem fortemente as
relações sociais do usuário, desestrutura as famílias as quais eles pertencem;
4) a economia:
a) pelos gastos nos cuidados de dependentes: entre 2005 e 2015, foram 604.965 internações
provocadas pelo uso de substâncias ilícitas no Brasil segundo o Ministério da Saúde. Estima-se que
os gastos do SUS com usuários de drogas já ultrapassaram 9 bilhões de reais em uma década 26; e
b) na mobilização de toda a máquina estatal para o combate, a apuração e a punição dos crimes
relacionados ao tráfico;

26
Disponível em: https://www.hojeemdia.com.br/primeiro-plano/gastos-do-sus-com-dependentes-qu%C3%ADmicos-chegam-a-r-
9-1-bilh%C3%B5es-em-uma-d%C3%A9cada-1.440635. Acesso em: 20 de fevereiro de 2020.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 57


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

5) a superlotação no sistema carcerário, visto que se estima que 1/3 dos atuais presos responde por tráfico
de drogas.
Sobre esse último ponto, é interessante observar o aumento no número de presos após a entrada em vigor
da nova Lei de Drogas em 2006. Entre 2005 a 2013, o aumento do número de presos por tráfico foi de 339%.
Segundo o site de notícias G127:

A Lei 11.343/2006 teve como um dos seus principais objetivos dar tratamento jurídico distinto ao usuário e
ao traficante. Segundo ela, a posse para o consumo pessoal continua sendo crime, mas não mais deve
ser apenada com reclusão e detenção, mas somente nas hipóteses do artigo 28 da referida lei 28, a exemplo
da prestação de serviços à comunidade. Ocorreu, portanto, a despenalização da posse para consumo
próprio.
A conduta referente ao tráfico é também tratada como crime, mas, nesse caso, com a pena de reclusão de
5 (cinco) a 15 (quinze) anos. Segundo a referida lei, em seu art. 33, é crime: "Importar, exportar, remeter,
preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer
consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar".

27
Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/um-em-cada-tres-presos-do-pais-responde-por-trafico-de-
drogas.ghtml. Acesso em 18 de fevereiro de 2020.
28
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:
I - advertência sobre os efeitos das drogas;
II - prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 58


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

Um dos grandes problemas da lei é que não há um critério objetivo para separar o usuário do traficante.
Segundo o §2° do art. 28 da Lei de Drogas: "para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o
juiz atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se
desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente".
Essa subjetividade é alvo de frequentes críticas por parte dos opositores do atual modelo, visto que a decisão
do juiz se traficante ou usuário pode ser influenciada pelos preconceitos do julgador, o que pode acabar
reproduzindo mais discriminação e segregação social.
O assunto sobre a descriminalização das drogas ocupa a centralidade nos debates. Tramita no STF o
Recurso Extraordinário 635.659, que questiona a constitucionalidade da criminalização do porte de drogas
para uso pessoal (art. 28 da Lei 11.343/2006), por violar a intimidade e a vida privada. Três dos onze ministros
do Supremo já votaram a favor da liberação do porte de maconha para uso pessoal: Gilmar Mendes, Edson
Fachin e Luís Roberto Barroso. Atualmente, a votação encontra-se suspensa. Há também inúmeras
propostas legislativas de alteração na Lei de Drogas com o propósito de descriminalizar o uso de drogas,
mas também no sentido de deixar a legislação mais rigorosa.
Feito esse apanhado inicial, entremos no assunto da descriminalização e legalização do uso de drogas.
Trata-se de assunto polêmico. Nenhuma decisão, tanto para manter o atual modelo como para alterá-lo,
estará livre de críticas.
Inicialmente, é necessário estabelecer uma diferenciação. Na descriminalização, o ato deixa de ser ilícito
apenas do ponto de vista penal, mas ainda pode ser considerada como ilícito civil ou administrativo e pode
sofrer sanções como multas, prestação de serviços ou frequência em cursos de reeducação. Já a legalização
significa que o ato ou a conduta passou a ser permitido por meio de uma lei, que pode regulamentar a prática
e determinar suas restrições e condições, bem como prever punições para quem descumprir as regras
estabelecidas pela legislação. Por exemplo, o consumo de álcool e tabaco é legalizado, mas possui
restrições, pois não podem ser vendidos a menores e possuem regras de produção e venda.
Superado esse primeiro ponto, mencione-se haver diversos modelos no mundo, desde os que não punem
na esfera criminal e usam apenas sanções cíveis até os modelos mais severos inspirados na iniciativa de
“guerra às drogas”, em que uma dose para consumo próprio pode gerar a aplicação de penas elevadíssimas.
Também, há modelos que descriminalizam e legalizam, como o do Uruguai, que criou uma autarquia para
regular esse novo mercado.
Vejamos agora algumas linhas argumentativas que podem ser usadas para sustentar a sua tese.
Caso você entenda a descriminalização das drogas como vantajosa para a sociedade como um todo,
uma excelente abordagem é a existência de uma desfuncionalidade na atual legislação, que, pela sua
subjetividade na diferenciação do traficante e do usuário, acaba levando aos presídios réus primários, de
baixa periculosidade, dos quais a prisão em nada afeta a estrutura do crime.
É muito comum que jovens sem antecedentes criminais, desarmados, sozinhos ao serem flagrados com
pequena quantidade de drogas (a média de apreensão de maconha no estado do Rio ficou entre 10 e 15

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 59


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

gramas nos últimos anos) 29, acabem sendo imputados como traficantes com base num juízo subjetivo
influenciável pelo local da ocorrência e pela cor da pele e não por fatores que considerem qual a relevância
daquela prisão para a estrutura do crime organizado.
Segundo A Folha30, pessoas flagradas em territórios sob domínio de facções têm maiores chances de serem
acusadas de associação para tráfico, além do processo por tráfico de drogas — independentemente de
maiores indícios de que pertencem, de fato, a algum grupo. Isso acaba elevando o quantum da pena e, por
vezes, impossibilita a concessão de liberdade provisória. Assim, indivíduos detidos em partes diferentes da
cidade, com a mesma quantidade de droga, podem ter destinos bem diferentes: enquanto um pode
aguardar o julgamento em liberdade o outro cumpre prisão preventiva.
É consenso que a atual política brasileira sobre drogas ilícitas não tem obtido sucesso quanto à redução
de crimes. O exponencial aumento de pessoas presas em decorrência de delitos associados ao uso e ao
tráfico delas demonstra que não tem havido efetiva prevenção ou dissuasão do uso ou do comércio de
substâncias psicoativas proibidas. Nosso atual modelo investiga e pune crimes menos graves em
detrimento dos mais graves, encarcera exageradamente presos provisórios e reproduz a desigualdade
social e racial do país.
Assim, esse sistema, pautado na "guerra às drogas", acaba por criar soldados para o tráfico devido ao
encarceramento em massa, mas, em contrapartida, não há nenhum estudo que mostre redução nos índices
de consumo ou uso problemático das drogas, mesmo com o endurecimento da legislação.
As pequenas ocorrências, que respondem pela grande maioria dos casos e que ocupam a polícia e
perícia e congestionam o sistema judiciário, em muito pouco contribuem para atacar a raiz do
problema: as grandes organizações criminosas. Nesse sentido, retirar o consumo de drogas da esfera
criminal, passando a tratá-lo como um problema de saúde pública, diminui o estigma acerca do usuário
de drogas, aumenta o acesso de pessoas que têm problemas com drogas a serviços de saúde, reduzindo os
danos, facilita a construção de políticas públicas para o atendimento de usuários, desafoga o já caótico
sistema prisional e ajuda a polícia a focar no desmantelamento das grandes organizações que lucram com
o tráfico. Veja o elucidativo da "Agenda Segurança Pública é Solução":

"Outro impacto positivo de mudanças na política de drogas é a reorientação da ação policial. Hoje, uma
ocorrência de apreensão de pequena quantidade de drogas retira um policial da rua por horas para fazer
seu registro. No Rio de Janeiro, em 50% das ocorrências em 2015, foram apreendidas até 10 gramas de
maconha31. Apenas 1% das operações em que houve apreensão de maconha no estado entre 2010 e
2016 foi responsável por 85% do volume apreendido desta droga ao longo do período. Foram, em sua
maioria, ações com envolvimento de inteligência e planejamento. Pesquisa recente aponta que, no estado

29
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/04/para-deixar-de-enxugar-gelo-sangue-e-lagrimas-e-preciso-
rever-lei-de-drogas.shtml. Acesso em: 20 de fevereiro de 2020.
30
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/04/morar-em-favela-do-rio-e-agravante-em-condenacao-por-
trafico-de-drogas.shtml. Acesso em: 20 de fevereiro de 2020.
31
Panorama das apreensões de Drogas no Rio de Janeiro (2010-2016); Instituto de Segurança Pública (ISP); 2016. Disponível em
https://bit.ly/2lFi43Q. Acesso em: 21 de fevereiro de 2020.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 60


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

de São Paulo, em metade das ocorrências de tráfico de drogas registradas pela polícia, a quantidade de
drogas envolvida era inferior a 40 gramas. Nos casos de tráfico de crack registrados, a quantidade era
inferior a 10 gramas32.

O modelo calcado na repressão não obteve resultados significativos na redução do consumo de drogas. No
mundo, foram gastos mais de 2,5 trilhões de dólares em esforços no controle das drogas. Apesar disso, vê-
se que o consumo não tem diminuído, muito pelo contrário. Basta ver o caso dos EUA: os elevados
investimentos para a repressão às drogas – deflagrados em 1971 pelo então presidente norte-americano
Richard Nixon por meio da chamada “Guerra às Drogas” (War on Drugs) – não se refletiram em redução do
número de usuários. Os EUA gastam cerca de 20 bilhões por ano só na aplicação da lei de drogas.
Nota-se, uma tendência mundial a descriminalizar o uso privado de pequenas porções de drogas ilícitas, ou
pelo menos da mais comum delas – a maconha – com políticas públicas de redução de danos, de assistência
social, médica e psicológica a dependentes, oferta de alternativas a quem deseja ou necessita afastar-se do
vício, ou mesmo, para aqueles cujo uso é "recreativo", com previsão de medidas menos sancionadoras.
Segundo essa tendência, é necessário olhar para as drogas como um problema a ser resolvido sob a ótica
da saúde pública e não sob a do direito penal a partir de uma perspectiva que não se baseia na perseguição,
mas na informação, no atendimento médico e nos serviços aos dependentes.
Nesse sentido, há exitosos resultados alcançados em países como Portugal. Nos 30 países que não
criminalizam o usuário, não houve aumento do consumo de drogas e, em alguns casos, houve importantes
reduções em faixas etárias sensíveis, como os jovens, fruto do investimento em estratégias de prevenção 33.
Essa estratégia tem propiciado que os dependentes químicos migrem do consumo de drogas mais pesadas
para drogas mais leves e tem evitad0, nesse grupo, a proliferação de doenças transmissíveis por meio de
seringas para injetar a droga, como a AIDS.
Sob o ponto de vista econômico, com a legalização haveria o aumento das receitas decorrentes da
tributação das drogas. Segundo o levantamento da Consultoria Legislativa da Câmara de Deputados 34,
estimou-se que as receitas dos tributos incidentes sobre a maconha renderiam aos cofres públicos cerca de
R$ 5 bilhões. Além disso, o fim do mercado ilegal de drogas certamente irá gerar empregos em diversos
setores da economia e transferir empregos do mercado ilegal para o mercado formal de trabalho, nas
atividades de cultivo, beneficiamento e comercialização das drogas.
Em sentido oposto, os proibicionistas acreditam que a liberação não diminuiria o consumo, muito pelo
contrário, acentuaria os problemas hoje existentes. A facilidade do acesso introduziria jovens cada vez mais

32
Instituto Sou da Paz, Apreensões de Drogas no Estado de São Paulo, 2018. Disponível em https://bit.ly/2LeTJ3X.
33
Segurança Pública é Solução. Disponível em: http://www.forumseguranca.org.br/wp-
content/uploads/2018/08/FBSP_Agenda_prioritaria_eleicoes_2018-1.pdf. Acesso em: 20 de fevereiro de 2020.
34
Disponível em: https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/estudos-e-notas-tecnicas/publicacoes-da-consultoria-
legislativa/areas-da-conle/tema10/impacto-economico-da-legalizacao-das-drogas-no-brasil. Acesso em: 20 de fevereiro de
2020.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 61


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

cedo no mundo das drogas e o uso de drogas legais, mais leves, serviria como porta de entrada para drogas
mais pesadas, como heroína e cocaína.
A flexibilização da política de combate às drogas, geralmente focada na garantia à liberdade individual e
autodeterminação, esconde uma visão individualista, predominante no mundo moderno. O uso de drogas
provoca profundos abalos não só na vida do indivíduo, mas na de todos a sua volta. Segundo o
levantamento nacional sobre o consumo de álcool e drogas (Lenad), feito em 2013, existem no País cerca
de 8 milhões de dependentes químicos; para cada um desses doentes são afetados, em média, quatro
familiares35.
Não se pode garantir que a flexibilização da legislação diminuiria o número de usuários, o que é algo muito
crítico dado que os efeitos à saúde do uso das drogas não podem ser ignorados. Segundo o relatório da
OMS "The health and social effects of nonmedical cannabis use"36, entre os efeitos de curto prazo, há alguma
evidência na comunidade científica mundial de que o uso de cannabis pode causar problemas coronários e
pulmonares. Além disso, a associação entre a cannabis e a piora de doenças como psicose e esquizofrenia
tem sido reconhecida nas últimas duas décadas. O relatório afirmou ainda que o uso diário de cannabis
durante anos e décadas parece produzir perdas persistentes de memória e cognição, especialmente quando
seu uso começa na adolescência.
Além de serem causadores de inúmeras doenças, como câncer de pulmão no caso da maconha e HIV e
hepatite C no caso de drogas injetáveis como a heroína, podem levar à morte por “overdose”,
principalmente quando o quadro converge para situação de dependência.
A cocaína, o crack e a heroína são as drogas que causam forte dependência química. Com a dependência
instalada, as atividades de lazer são abandonadas, assim como eventos sociais e o trabalho, e o uso da
substância passa a ser prioridade na vida dessa pessoa. O consumo começa a acontecer em quantidades
cada vez maiores, a fim de obter os efeitos iniciais, e logo depois aparece a síndrome de abstinência, com
sintomas físicos como tremores, sudorese, taquicardia, entre outros, tudo resultado da dependência
química.
Acrescentou ainda que o uso regular da cannabis durante a adolescência (14 a 16 anos) está associado a
consequências mais severas e persistentes do que seu uso durante a vida adulta. Segundo El País 37, um
estudo da revista The Lancet Psychiatry concluiu que os adolescentes – menores de 17 anos – que consomem
maconha diariamente têm 60% a menos de probabilidade de concluir o ensino médio ou de conseguir um
diploma universitário em comparação aos que nunca fumaram a droga. Segundo essa revista, com o
consumo habitual de maconha nessa idade seus usuários têm sete vezes mais probabilidades de tentarem
suicídio, 18 vezes mais de se tornarem dependentes de maconha e oito vezes mais de consumirem outras
drogas na vida adulta.

35
Disponível em: https://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,legalizar-a-maconha-imp-,1541287. Acesso em: 22 de fevereiro
de 2020.
36
Disponível em: https://www.who.int/substance_abuse/publications/msbcannabis.pdf. Acesso em: 22 de fevereiro de 2020.
37
Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2014/09/10/sociedad/1410353598_102164.html. Acesso em: 22 de fevereiro de
2020.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 62


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

Além disso, a liberação levaria ao colapso o já sobrecarregado Sistema de Saúde. Para uma medida dessa
envergadura, seria necessário preparo prévio do sistema de saúde pública tanto quantitativamente como
qualitativamente para receber novas e diferentes demandas sociais. Isso porque, com a flexibilização, os
usuários sentir-se-iam mais confortáveis para buscar assistência dos aparelhos públicos de saúde, além da
possibilidade concreta de aumento no número de usuários e potencialmente de dependentes.
A liberação também não acabaria com o narcotráfico. Basta ver o que ocorre com o tabaco: mesmo com
o controle do Estado sobre esse mercado, o cigarro é o produto mais contrabandeado no Brasil,
operacionalizado pelo crime organizado. Assim, essa mudança tem potencial para a formação de um
mercado paralelo e para migrar a luta entre facções para o ramo da fabricação das drogas.
Além disso, de acordo com levantamento da Consultoria Legislativa da Câmara de Deputados, a maconha
deve movimentar, anualmente, no Brasil, R$ 6,68 bilhões. A cocaína gera outros R$ 4,69 bilhões; o crack,
R$ 2,95 bilhões; e o ecstasy, R$ 1,189 bilhão. Assim, a descriminalização ou legalização somente da
maconha, sem considerar drogas mais pesadas, não faria cessar o lucro do crime organizado com o tráfico.
Também, mesmo nessa hipótese, não se pode dizer que o tráfico de maconha irá acabar, o qual pode migrar
sua atividade para a venda de maconha mais potente (maior percentual de tetrahidrocanabinol - THC,
principal substância psicoativa encontrada na planta cannabis sativa). Frise-se que a maconha usada hoje já
é dez vezes mais potente do que a consumida há duas décadas: o conteúdo de THC era de 0,5%; hoje é de
5%.
O Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou nota de esclarecimento em que se manifesta contra a
mudança das regras atuais. Segundo o CFM38: "A Autarquia entende que a descriminalização do uso de drogas
ilícitas para consumo pessoal terá como resultado o aumento de consumo e de usuários." e que "o crescimento
no número de usuários implicará também no aumento de casos de dependência química, com consequente
repercussão nas famílias e na sociedade".
Como exemplo, pode-se discorrer sobre a existência de locais onde a legalização da droga demonstrou ser
uma experiência desastrosa. Por exemplo, cinco anos após a legalização da maconha no Colorado, estado
americano pioneiro no assunto, o número de pessoas que visitam prontos-socorros com problemas
relacionados à maconha aumentou e hospitais registraram mais casos de doenças mentais associadas ao
consumo da planta39. Segundo reportagem de O Globo, os números falam por si sós: quase o dobro dos
habitantes do Colorado fuma maconha em comparação ao resto dos EUA; o número de adultos que usa
aumentou muito desde a legalização.
Outro local que pode ser citado é o Uruguai. Segundo El País, o Uruguai, após a legalização da maconha,
registrou um aumento no número de homicídios vinculados ao acerto de contas entre narcotraficantes, bem
como o aumento no consumo de drogas sintéticas e o aumento no número de usuários de maconha.

38
Disponível em: http://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=26531:2016-11-02-15-56-
09&catid=3. Acesso em: 22 de fevereiro de 2020.
39
Disponível em: https://oglobo.globo.com/sociedade/cinco-anos-apos-liberacao-da-maconha-colorado-colhe-os-primeiros-
impactos-da-decisao-23774876. Acesso em: 22 de fevereiro de 2020.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 63


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

2. Localização do Brasil
De acordo com o relatório do Departamento de Estado dos Estados Unidos sobre as estratégias
internacionais de controle de narcóticos 40, o Brasil é o segundo maior consumidor de cocaína no mundo e,
muito provavelmente, o maior consumidor de produtos que têm a cocaína como base, como o crack. Isso
ocorre, em parte, pela incapacidade de conter o fluxo de narcóticos ilegais que fluem através de suas
fronteiras.
O Brasil tem uma fronteira seca de 16.400 km (três vezes maior que a fronteira EUA - México) e uma costa
marítima de 7.000 km, portos e aeroportos com uma logística enorme para transportar cargas e pessoas
para o mundo todo. O que, por um lado, é uma vantagem, por outro, é um problema, principalmente
quando se trata de fiscalização da entrada de produtos proibidos no país. Sua extensa área e as infinitas
possibilidades de escoamento de mercadorias pelo seu território também é fator que dificulta o controle do
que circula em território nacional.
Nesse contexto, o Brasil acaba ocupando um protagonismo indesejável: serve como refúgio para traficantes
procurados (lembram-se de Juan Carlos Abadia?); é importante rota de distribuição de drogas para a
Europa; provedor dos materiais químicos para a produção; base para a lavagem de dinheiro; e, como já
vimos, possui grande mercado consumidor.
O Brasil tem fronteiras com dez países. O problema não é, por si só, o número de países, mas o fato de o
Brasil ser fisicamente ligado a países como Venezuela, o Peru, a Bolívia e a Colômbia, grandes produtores
mundiais de maconha e cocaína. Isso é fator decisivo para que o país abrigue a principal rota da droga que
sai desses países com destino à Europa.
De acordo com autoridades da Polícia Federal, da Receita Federal e do Ministério Público, a principal rota
do tráfico da cocaína que passa pelo Brasil começa na Bolívia. Ela então cruza o Paraguai e entra no Brasil
pela fronteira terrestre – especialmente nas regiões das cidades de Ponta Porã (MS) e Foz do Iguaçu (PR).
De lá, segue escondida em veículos por rodovias brasileiras – especialmente no Mato Grosso do Sul e interior
de São Paulo.41
Não para por aí. O narcotráfico tem, regularmente, alterado as suas rotas para dificultar a fiscalização.
Nesse sentido, de acordo com o Atlas da Violência de 2019:

Outras novas rotas foram exploradas ao Norte do país, cujas mercadorias provenientes da Bolívia e do
Peru chegavam, principalmente, ao Acre, sendo transportadas, posteriormente, para outras Unidades
Federativas (UFs), na rota do Rio Solimões, chegando depois ao Nordeste e, em particular, ao Ceará e ao
Rio Grande do Norte , para serem levadas à Europa.

40
Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2014/09/21/politica/1411333264_428018.html. Acesso em: 22 de fevereiro de
2020.
41
Disponível em: https://www.uol/noticias/especiais/a-rota-maritima-da-cocaina.htm#a-rota-da-droga?cmpid=copiaecola

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 64


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

Aliás, os conflitos que observamos entre facções criminosas em 2017 no nordeste se deu, entre outros
motivos, pelo domínio de mercados varejistas e de novas rotas internacionais de tráfico de entorpecentes,
que atravessam por estados do Norte do país e chegam ao Nordeste.
Outrossim, os portos marítimos brasileiros se tornaram um ponto de passagem fundamental na rota do
tráfico de cocaína entre os países andinos que a produzem e o mercado consumidor na Europa. Só no ano
de 2016, a Receita Federal e a Polícia Federal, em operações conjuntas, encontraram e apreenderam 15
toneladas da droga em contêineres. A quantia é nove vezes maior do que o que foi apreendido nos principais
aeroportos do país42.
Além do mar e terra, há ainda o fluxo aéreo, operacionalizado por pequenos aviões que utilizam as inúmeras
pistas de pouso espalhadas no país. Trata-se de mais um meio de burlar a fiscalização e estabelecer novos
canais para o escoamento da droga produzida nos países andinos.
3. Uso medicinal da maconha no Brasil

Acompanhando uma tendência mundial e como forma de proporcionar maior qualidade de vida à
população afetada por algumas enfermidades, a regulamentação de produtos à base de maconha no Brasil
foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em dezembro de 2019. A Lei de Drogas
já contemplava a possibilidade de a União autorizar o plantio, a cultura e a colheita exclusivamente para fins
medicinais ou científicos, mas faltava a regulamentação para o assunto.
Antes da regulamentação, o paciente com indicação médica para o uso de produtos à base de maconha
precisava de autorização para importação, concedida judicialmente ou por meio da Anvisa. As farmácias
não podiam vender os medicamentos, mesmo que produzidos pela indústria internacional. Com a decisão,
produtos feitos com cannabis para uso medicinal podem ser vendidos em farmácias e drogarias sem
manipulação, mediante prescrição médica, e ficam sujeitos à fiscalização da agência.
A Cannabis produz mais de 80 tipos de canabinoides. Os que têm propriedades medicinas mais conhecidas
são o CBD (canabidiol) e o THC (tetrahidrocanabinol). O CBD não provoca efeitos psicoativos e pode ser
indicado para: crises epiléticas/convulsões, autismo, inflamações, efeitos neuroprotetores. O THC provoca
efeitos psicoativos e pode ser indicado para: dor crônica, espasticidade muscular, náusea induzida por
quimioterapia e inflamações.
O cultivo da planta em território brasileiro, mesmo para fins científicos e medicinais, foi rejeitado, ou seja,
ainda é proibido. Com isso, empresas interessadas em produzir no país vão precisar importar substratos de
matéria-prima semielaborada. Não será permitida a importação da planta ou de partes dela.
Essa decisão rendeu várias críticas partindo dos que desejam plantar a erva em casa. Haja vista a
necessidade de importação e a comercialização por parte de empresas, os produtos ainda continuarão com
preços altos, o que inviabiliza a sua aquisição por parte da população de menor poder aquisitivo. Os que não
tiverem recursos, naturalmente, poderão recorrer ao Judiciário para que este autorize o particular a plantar

42
Disponível em: https://www.uol/noticias/especiais/a-rota-maritima-da-cocaina.htm#tematico-1?cmpid=copiaecola

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 65


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

pés de maconha em casa para consumo próprio. Por outro lado, a liberação para o plantio poderia significar
um primeiro passo rumo à legalização/descriminalização, algo que a alta cúpula do atual Executivo quer
evitar.
A maconha pode ser usada como planta medicinal para diminuir a dor ou para ajudar a tratar diversas
doenças. Desde a década de 1960, são feitos estudos e pesquisas sobre o uso medicinal da maconha, que
pode ser usada para casos de epilepsia, esclerose, autismo, câncer, glaucoma, tratamento da dor e
Alzheimer, por exemplo.
Apesar de ser algo menos polêmico que a discussão sobre a legalização da maconha, o seu uso medicinal
não é isento a debates. O próprio Conselho Federal de Medicina (CFM) já se manifestou contra a
regulamentação proposta pela Anvisa. Argumenta-se que o número de estudos científicos de valor ainda é
muito pequeno para autorizar o cultivo da cannabis com a finalidade de produzir o canabidiol. Menciona-se
também a necessidade de avaliação dos efeitos colaterais do uso prolongado de derivados da cannabis, algo
que ainda não foi explorado. Não se pode esquecer, também, que, como qualquer remédio, há
contraindicações, algo que também não está completamente mapeado pela ciência.
Critica-se também o modelo adotado em que o plantio é vetado para pessoa física, como já mencionado.
Da maneira como foi construído, com tantos custos e restrições, eliminou-se, também, a possibilidade da
entrada de pequenas empresas. Nesse sentido, argumenta-se que, pelo valor que o produto chegará às
drogarias, somente as pessoas de maior poder aquisitivo poderão adquiri-la.
Essas dificuldades fazem com que as pessoas que necessitam do tratamento à base de canabidiol acabem
obtendo o produto de forma ilícita. Outrossim, afasta a população mais carente do pleno acesso à saúde –
art. 196 da Constituição. Ademais, inibe o Brasil de desenvolver pesquisas nessa área, privando a
comunidade científica de participar ativamente nesse campo, sem falar que prejudica igualmente a
economia do País, na medida em que fecha as portas de interessante mercado de trabalho, impede a
abertura de outro nicho para a atuação da indústria farmacêutica e, enfim, deixa de fomentar a economia e
a consequente geração de renda.

Tema 18

Cespe – Oficial PM AL – 2012


Segundo o Ministério da Justiça, são assassinadas, por ano, no Brasil, nada menos que 50 mil pessoas, média
de 136 mortes por dia, número equivalente ao observado em guerras civis. Ressalte-se que esses números
se referem às vítimas que morrem no local do crime. Não há dados a respeito das que morrem
posteriormente em decorrência das agressões. São vítimas, na quase totalidade, do crime organizado, cujo
epicentro é o tráfico de drogas. De acordo com o segundo Levantamento Nacional de Álcool e Drogas, o
Brasil é o segundo maior mercado consumidor mundial de cocaína e derivados, com 20% do mercado
global, e o maior mercado de crack. Nada menos.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 66


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

Kátia Abreu. Drogas, a peste do século. In: Folha de S.Paulo, p. B5 (com


adaptações).

As estatísticas denunciam: o uso de drogas e a criminalidade estão cada vez mais próximos. Dados do
Programa Ação pela Vida, da Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF), obtidos com exclusividade pelo
Jornal de Brasília, revelam a relação direta entre o número de homicídios e o uso de entorpecentes. De
acordo com o levantamento, 64% das vítimas de homicídio faziam uso ou estavam sob efeito de drogas,
sendo esse o fator principal dos casos de mortes violentas no DF.
O estudo faz parte do relatório de Exames Toxicológicos do Instituto Médico Legal (IML) e reuniu 188 casos
de assassinatos ocorridos até março deste ano. Os dados serão usados pelo plano, que tem como um de
seus eixos o enfrentamento ao uso e ao tráfico de drogas, por meio da integração das forças policiais.
Entre os casos de assassinatos, 65% estavam relacionados a crimes como roubos, furtos, uso de drogas,
homicídios, ameaça e lesão corporal. “Esse estudo serve como uma base sólida para comprovar que o grupo
de risco de pessoas comprometidas com o crime está sendo vítima de homicídio. Em quase 100% dos casos,
vítima e autor possuem um perfil muito semelhante. Ambos com passagens pela polícia, quase sempre por
crimes vinculados ao consumo e tráfico de drogas”, afirma o secretário de Segurança Pública, Sandro
Avelar.

Disponível em: https://jornaldebrasilia.com.br/cidades/violencia-e-drogas-


problemas-que-caminham-lado-a-lado/. Acesso em 04/09/2019. (Com
adaptações)

Considerando que os fragmentos de texto acima têm caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo acerca do tema a seguir.

DROGAS E VIOLÊNCIA: A NECESSÁRIA ATUAÇÃO DO ESTADO

Ao elaborar seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes aspectos:

a) Narcotráfico como símbolo do crime organizado em escala global. [valor: 4,20 pontos]
b) Relação entre drogas (produção, comercialização e consumo) e violência. [valor: 4,20 pontos]
c) Ação esperada do poder público diante do problema das drogas e do crime organizado. [valor:
4,10 pontos]

Abordagem teórica

Pessoal, antes de começarmos, vejam essa questão:


TCE/PA – Aplicação: 2016
Drogas são um problema de saúde pública, e não devem ser vistas pela lente do sistema judiciário criminal. A
posição do presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, durante um debate sobre a dependência

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 67


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

da heroína dá força a manifestações recentes de especialistas que se opõem à repressão policial para combater
o consumo de entorpecentes. Recente relatório científico reuniu dados para afirmar que a chamada guerra às
drogas causa danos à saúde pública. Essas argumentações jogaram pressão sobre a primeira sessão especial
sobre drogas da Assembleia Geral das Nações Unidas, realizada em abril de 2016.
Considerando que o fragmento de texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo acerca do seguinte tema.
UM GRANDE DESAFIO: A CIVILIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA FRENTE ÀS DROGAS ILÍCITAS
Ao elaborar seu texto, aborde os seguintes aspectos:
1 drogas ilícitas e crime organizado global; [valor: 3,50 pontos]
2 relação entre tráfico de drogas e violência; [valor: 3,00 pontos]
3 alternativas à denominada guerra às drogas. [valor: 3,00 pontos]

Perceberam como a questão é praticamente idêntica? Por isso, eu afirmo que a melhor preparação é a
que mescla questões antigas com questões inéditas. Eis o porquê de essa ser nossa proposta pedagógica.

1. Narcotráfico como símbolo do crime organizado


Segundo o relatório da ONU43, a manufatura global de cocaína alcançou, em 2016, seu nível mais alto de
toda a história, com uma estimativa de produção de 1.410 toneladas. A maior parte da cocaína mundial
vem da Colômbia, mas o relatório também mostra que a África e a Ásia estão emergindo como centros de
tráfico e consumo da droga.
A cannabis foi a droga mais amplamente consumida em 2016, com 192 milhões de pessoas tendo-a utilizado
ao menos uma vez ao longo do último ano. O número global de usuários de cannabis continua a aumentar
e aparenta ter expandido em aproximadamente 16% na última década até 2016, refletindo, assim, um
aumento similar na população global.

Pelo lado da produção, tanto o ópio quanto a cocaína bateram recordes, enquanto as drogas sintéticas
continuam se expandindo. A produção mundial de cocaína em 2017 atingiu um nível histórico, com 1.976
toneladas, 25% a mais do que no ano anterior, e 70% dessa produção com pureza de 100% vem da Colômbia.
Globalmente, em torno de 35 milhões de pessoas sofrem de transtornos decorrentes do uso de drogas e
necessitam de tratamento, de acordo com o mais recente Relatório Mundial sobre Drogas pelo Escritório
das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC).
Segundo esse relatório, o consumo de drogas nunca matou tanto e o mercado ilegal nunca foi tão lucrativo.
A ONU elevou a sua estimativa de mortes vinculadas ao consumo de drogas no mundo para 585 mil em

43
Disponível em: https://www.unodc.org/lpo-brazil/pt/frontpage/2018/06/relatorio-mundial-drogas-2018.html. Acesso em: 28
de abril de 2019.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 68


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

2017, acima dos 450 mil óbitos que ocorreram em 2015. Em 2017, estima-se que 271 milhões de pessoas —
ou 5,5% da população mundial entre 15 e 64 anos — usaram drogas no ano anterior44.
A ONU estima que o tráfico movimenta 400 bilhões de dólares no mundo, valor equivalente ao PIB do
México.
Voltando os olhos para o nosso país, vejamos parte de uma reportagem da Revista Veja45, que introduzirá a
nossa discussão sobre drogas, violência e crime organizado.

“Se fosse uma empresa, o PCC seria hoje a décima sexta maior do país, à frente de gigantes como a
montadora Volkswagen. Trata-se de um império corporativo em que os produtos são as drogas ilícitas.
Os clientes são dependentes químicos. Os fornecedores são criminosos paraguaios, bolivianos e
colombianos. Os métodos são o assassinato, a extorsão, a propina e a lavagem de dinheiro. As áreas de
diversificação são os assaltos a bancos, o roubo de carga e o tráfico de armas. Apenas com a venda de drogas
para o consumo no território nacional, a organização alcança um faturamento anual da ordem de 20,3
bilhões de reais, sem incluir as receitas com roubo de cargas e assalto a banco.”

Segundo Nexo46, de acordo com o último Relatório Mundial sobre Drogas, de 2016, o Brasil é a principal
rota de passagem da cocaína cultivada na Colômbia, na Bolívia e no Peru e enviada à Europa e à Ásia. A
América do Sul responde por 60% das apreensões de cocaína no mundo e por praticamente toda a
produção, numa área aproximada de 185.000 campos de futebol. Além de abastecer o mercado consumidor
europeu e asiático, a cocaína que cruza o Brasil muitas vezes passa também pela África antes de chegar ao
destino final. De todas as apreensões de cocaína na África, 51% apontam o Brasil como rota de passagem.

O volume monetário movimentado pelo setor explica o interesse do crime organizado. Os elevados
lucros dessa atividade, que ocorre em dimensão crescentemente mundializada, explica a poderosa
presença de redes criminosas globais que se dedicam à exploração desse negócio. Essas organizações
criminosas estendem suas teias em todas as direções, atingindo desde instituições financeiras que
processam a lavagem do dinheiro obtido a setores governamentais de diversos países.
Em grande parte, o sucesso do tráfico de drogas se justifica pela forma organizada em que se estrutura, o
que é consequência da atuação do crime organizado47. Para que a droga flua dos centros produtores e
chegue até aos seus consumidores é necessária uma rede capaz de operacionalizar esse processo. Esse
papel é desempenhado pelo crime organizado que, de forma eficiente, consegue driblar toda a estrutura

44
Disponível em: https://nacoesunidas.org/onu-1-em-cada-7-pessoas-no-mundo-com-transtorno-por-uso-de-drogas-recebe-
tratamento/. Acesso em 10/01/2020.
45
Edição 2498 de outubro de 2016. Conteúdo disponível em: https://www.politize.com.br/pcc-e-faccoes-criminosas/ Acesso em:
24 de julho de 2019.
46
Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/explicado/2017/01/14/Lei-de-Drogas-a-distin%C3%A7%C3%A3o-entre-
usu%C3%A1rio-e-traficante-o-impacto-nas-pris%C3%B5es-e-o-debate-no-pa%C3%ADs. Acesso em 10/01/2020.
47
O crime organizado ou organizações criminosas são termos que caracterizam grupos, por vezes de abrangência internacional,
envolvidos no cometimento de variadas espécies de crimes, tais como o tráfico de drogas e o de pessoas.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 69


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

fiscalizatória e distribuir as drogas produzidas em alguns países para diversas partes do planeta. Assim,
narcotráfico e crime organizado são estruturas imbricadas, faces de uma mesma moeda.
Aliás, é importante frisar que a ausência do Estado é uma das causas do domínio territorial exercido pela
criminalidade organizada. A sua constante evolução é uma grave ameaça à sociedade e ao próprio Estado
democrático de direito, seja pela lesividade das infrações cometidas, seja pela influência que exercem
dentro do próprio Estado. Não é à toa que a Constituição Federal (art. 5°, XLII) estabelece ser o tráfico ilícito
de entorpecentes infração inafiançável e insuscetível de graça ou anistia.
O volume de dinheiro que circula no narcotráfico faz com que as facções disputem os mercados varejistas
e novas rotas de narcotráfico de forma acirrada, empregando todos os meios de que dispõem para
garantir sua posição, o que relaciona drogas a violência. Os constantes conflitos entre as facções, quer nos
presídios, quer nas ruas, por vezes, tomam proporções gigantescas e, além dos próprios integrantes,
acabam ocasionando a morte de inocentes, vítimas do fogo cruzado entre essas facções.
Assim, as drogas tendem a ser motivo para o cometimento de uma série de crimes, principalmente nas
localidades periféricas nos grandes centros urbanos. Em face à ausência do Estado, reina nessas áreas um
“poder paralelo”, que possui regras próprias e ignora os direito e garantias fundamentais. Esses grupos
cometem execuções, chacinas e outras brutalidades com o objetivo de se fortalecer e aumentar o seu
poderio e influência.
Observem, como forma de comprovar a relação intrínseca entre tráfico de drogas e violência, o
elucidativo trecho do Atlas da Violência de 2019:

A tensão na disputa por mercados varejistas e por novas rotas de narcotráfico chegou ao limite em 2013,
quando, em Mato Grosso, os integrantes do CV – facção que possuía a hegemonia no estado – passaram a
impedir que o PCC atraísse e fizesse a filiação e batismo de novos faccionados (Manso e Dias, 2018). Tal
procedimento, que passou a ser adotado em outras regiões, fez com que as rusgas entre as duas maiores
facções – e seus aliados regionais – aumentassem gradativamente nos anos seguintes.
Finalmente, o assassinato do traficante Jorge Rafaat pelo PCC, em 15 de julho de 2016, na cidade de Pedro
Juan Caballero, fronteira com Ponta Porã (MS), acentuou ainda mais a disputa do narconegócio, uma vez
que que tinha como pano de fundo o controle do mercado criminal na fronteira e, por conseguinte, a obtenção
de um grande diferencial competitivo, com a integração vertical da cadeia de valor, a partir do acesso
privilegiado à droga produzida e comercializada na Bolívia, no Peru e no Paraguai (Manso e Dias, 2018).
Finalmente, no início de 2017, a guerra entre as maiores facções penais brasileiras eclodiu de forma
generalizada, primeiro dentro dos presídios e depois nas ruas.
No dia 1º de janeiro de 2017, houve uma rebelião no Complexo Prisional Anísio Jobim, em Manaus, quando
integrantes do PCC e da Família do Norte (FDN), aliada do CV, se enfrentaram, tendo como resultado
56 mortes. No dia 14, outros 26 detentos foram mortos na Prisão Estadual de Alcaçuz, no Rio Grande do
Norte, nas escaramuças entre o PCC e o Sindicato do Crime (SDC), aliado do CV. Nesse período, em 15 dias
o saldo foi de 138 homicídios nas prisões brasileiras, com episódios que atingiram também os sistemas
penitenciários de Roraima, Paraíba, Alagoas, São Paulo, Paraná e Santa Catarina.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 70


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

Para poder enfrentar essa guerra pelo domínio dos pontos de vendas, as organizações criminosas precisam
de armamento pesado. Por isso, associada ao tráfico de drogas, encontra-se a intensificação do mercado
de armas, o que também contribui para a escalada da violência.
Além disso, o consumo de drogas também estimula a violência pela dependência que, de forma geral, causa
a seus usuários. A insuficiência de recursos para satisfazer o vício ou a necessidade de quitar dívidas leva ao
cometimento de roubos, furtos, latrocínios, entre outros; o que também contribui para o aumento da
violência.
Não se pode ignorar que a ilegalidade dessa atividade faz da violência o único meio de solução de conflitos.
Assim, caso um pagamento seja inadimplido, a solução não virá por meio de uma demanda judicial, e sim
pelo emprego da violência. Essa mesma regra se aplica às disputas comerciais, à proteção dos territórios,
etc.
Assim, viu-se que as drogas ilícitas são um dos grandes elementos fomentadores da violência. A disputa
pelo domínio de áreas de abastecimento e venda de drogas, em si mesma marcada pela brutalidade,
envolve facções criminosas, que, no mais das vezes, assumem o controle dessas regiões, dificultando a ação
do poder público, atemorizando a população e atraindo crianças e jovens para seu serviço.

2. Ação esperada do poder público


Antes de começarmos, vamos ver o que a sua beanca pensa sobre o assunto. Sabe a questão do TCE/PA
que eu mostrei no início da abordagem teórica? O seu terceiro tópico questionador foi: "alternativas à
denominada guerra às drogas ".
A resposta da douta banca examinadora veio assim:

" Por fim, no que se refere ao terceiro aspecto proposto (“alternativas à denominada guerra às drogas”),
espera-se que o candidato faça uso do próprio texto motivador, ou seja, reconheça os pífios resultados
obtidos pela estratégia bélica de combate às drogas, muitas vezes criminalizando o dependente, e
mencione estar havendo uma mudança de perspectiva (que até mesmo a ONU tende a adotar), o que
pressupõe ver a questão como sendo de saúde pública e exige a ampliação da ação do Estado em áreas
conflagradas pelo tráfico e o oferecimento de alternativas viáveis de vida para sua população, como o
amparo aos dependentes."

Exploremos alguns pontos adicionais na linha do combate às drogas como problema de saúde pública.
Pode-se argumentar que, em face ao aumento da quantidade de droga consumida, a eficácia das políticas
de combate a essas substâncias tem sido alvo de frequentes questionamentos. De maneira geral, há pouca
informação sobre o número de usuários no país. Segundo o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para
Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas48, 2,6% dos entrevistados (brasileiros acima de 14 anos) usaram
maconha e 1,7% usou cocaína nos 12 meses anteriores à pesquisa.

48
Disponível em: http://inpad.org.br/wp-content/uploads/2014/03/Lenad-II-Relat%C3%B3rio.pdf. Acesso em:
10/01/2020.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 71


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

Com efeito, a estratégia bélica de combate às drogas por meio da repressão e da criminalização dos
dependentes não tem gerado resultados positivos, visto que, até o momento, não foram capazes de evitar
que os usuários deixem de consumir essas substâncias. O efeito, aliás, tem sido contrário: o consumo acaba
acontecendo em situações de maior risco e, por receio dos usuários e pela estigmatização, a busca por
tratamento acaba sendo reduzida.
Diante dos pífios resultados até o momento obtidos na guerra contra as drogas, é forte o posicionamento
de que as drogas são um problema de saúde pública. Essa mudança de paradigma significa enxergar o
usuário como alguém que necessita de cuidados e, portanto, do suporte do Estado, e não pela lente do
sistema judiciário criminal, como um delinquente.
Nesse sentido, é necessário que o Estado estruture melhor as políticas públicas e as medidas protetivas,
olhando com cuidado a situação dos dependentes químicos. Uma das ações foi a criação da Rede de
Atenção Psicossocial:

A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) estabelece os pontos de atenção para o atendimento de pessoas com
problemas mentais, incluindo os efeitos nocivos do uso de crack, álcool e outras drogas. A Rede integra o
Sistema Único de Saúde (SUS). A Rede é composta por serviços e equipamentos variados, tais como: os
Centros de Atenção Psicossocial (CAPS); os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT); os Centros de
Convivência e Cultura, as Unidade de Acolhimento (UAs), e os leitos de atenção integral (em Hospitais
Gerais, nos CAPS III).
Fonte: http://www.crianca.mppr.mp.br/arquivos/File/publi/raps/conheca_raps_rede_atencao_psicossocial.pdf

As RAPS foram criadas para ampliar e articular os pontos de atenção à saúde para pessoas com sofrimento
psíquico e garantir liberdade e respeito aos seus direitos sociais, visando à reintegração social e autonomia
do usuário. Baseiam-se na "política de redução de danos", concepção na qual se busca o atendimento do
usuário sem cobrar abstinência, ou seja, sem exigir que abandonem completamente o uso de drogas. São
exemplos de ações nessa linha de tratamento o oferecimento de seringas descartáveis para usuários de
drogas injetáveis para evitar a contaminação com o HIV, o oferecimento de moradia e renda para moradores
de rua que usam drogas e o fomento para a aproximação entre usuário e família, entre outros.
Outra grande crítica à política de criminalização é sua aplicação seletiva pelo Poder Judiciário. A Lei
11.343/2006 prevê a despenalização da posse para o consumo pessoal. Embora seja considerada como
crime, ao infrator não se aplicará a pena de prisão, inclusive para os reincidentes. Já o tráfico é punido com
prisão de 5 a 15 anos.
A subjetividade reside no fato de que não há um critério objetivo para diferenciar o usuário do traficante,
pois, segundo a lei: "Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá à natureza e
à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias
sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente".
Os que são contrários à criminalização argumentam que, na prática, isso serve como mais um mecanismo
de discriminação de parcelas socialmente marginalizadas, tais como negros e pobres. Há estudos que

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 72


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

demonstram incongruência nas decisões em casos semelhantes, modificada, apenas, a categoria social do
réu.
Num contexto de extrema escassez de recursos, é também relevante tratar sobre a elevada quantidade de
recursos consumidos na repressão. Além do expressivo contingente policial envolvido nas ações de
combate, estima-se que 1/3 dos presos responde por tráfico de drogas, fato que explica, em grande parte,
o cenário de superlotação dos presídios.
Por fim, não se pode deixar de mencionar que tramita no STF o Recurso Extraordinário 635.659, que
questiona a constitucionalidade do porte de drogas para uso pessoal (art. 28 da Lei 11.343/2006)49, por violar
a intimidade e a vida privada. Três dos onze ministros do Supremo já votaram a favor da liberação do porte
de maconha para uso pessoal: Gilmar Mendes, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso.
Para Mendes, as sanções descritas no dispositivo passam a ter caráter exclusivamente administrativo, pois
a punição criminal “estigmatiza o usuário e compromete medidas de prevenção e redução de danos, bem como
gera uma punição desproporcional ao usuário, violando o direito à personalidade”. Afirmou também que: "a
criminalização da posse de drogas para uso pessoal é inconstitucional, por atingir, em grau máximo e
desnecessariamente, o direito ao livre desenvolvimento da personalidade, em suas várias manifestações, de
forma, portanto, claramente desproporcional".
Como eu falei, as políticas do atual governo não refletem esse entendimento. Em consulta ao site do
Ministério da Justiça, menciona-se que, de acordo com a Política Nacional sobre Drogas, instituída pelo
Decreto n. 9.761/2019, o eixo de redução de oferta envolve, prioritariamente, ações de:
a) repressão ao uso de drogas ilícitas;
b) combate ao narcotráfico, à corrupção, à lavagem de dinheiro, ao crime organizado e a crimes conexos;
c) gestão de ativos criminais vinculados ao narcotráfico.
Segundo a Secretaria Especial do Desenvolvimento Social50, a nova Política Nacional sobre Drogas tem
como eixos:
- busca a construção de uma sociedade protegida do uso de drogas lícitas e ilícitas;
- deixa de ser de redução de danos passando a promover a abstinência;
- considera aspectos legais, culturais e científicos, em especial, a posição majoritariamente contrária da
população brasileira quanto às iniciativas de legalização de drogas;

49
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:
I - advertência sobre os efeitos das drogas;
II - prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.
50
Disponível em: http://mds.gov.br/area-de-imprensa/noticias/2019/abril/governo-federal-implementa-nova-politica-nacional-
sobre-drogas. Acesso em: 10/01/2020.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 73


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

- deverão ações, programas, projetos de cuidados, prevenção e reinserção social visar à abstinência em relação
ao uso de drogas;
- reconhece as Comunidades Terapêuticas como forma de cuidado, acolhimento e tratamento do dependente
químico;
- reconhece a corrupção, a lavagem de dinheiro e o crime organizado vinculado ao narcotráfico como as
principais vulnerabilidades a serem alvo das ações de redução da oferta;
- assegura políticas públicas para redução da oferta de drogas, por intermédio de atuação coordenada,
cooperativa e colaborativa dos integrantes do Sistema Único de Segurança Pública e de outros órgãos
responsáveis pela persecução criminal em todos os níveis da Federação;
- reconhece o vínculo familiar, a espiritualidade, os esportes, entre outros, como fatores de proteção ao uso
indevido e à dependência do tabaco, do álcool e de outras drogas, observando a laicidade do Estado.
Assim, vê-se uma nítida mudança de abordagem. Passa-se a privilegiar uma abordagem repressiva,
dedicando atenção especial à redução da oferta de drogas, à abstinência, ao fortalecimento das
Comunidades Terapêuticas (entidades privadas destinadas à internação dos usuários) e a um discurso
contrário à legalização de drogas.
Arrematando a discussão, segundo a Fiocruz51:
A partir do governo Bolsonaro, vê-se um endurecimento ainda maior das políticas de repressão ao uso e
tráfico de drogas, com a aprovação do Projeto de Lei 37/2013, o qual foi transformado na lei 13.840 no dia
5 de junho de 2019. A nova Política Nacional sobre Drogas (2019) prevê o tratamento baseado na
abstinência – não mais na redução de danos; no apoio a comunidades terapêuticas (geralmente de cunho
religioso) e no estímulo à visão de que são as circunstâncias do flagrante que devem determinar se o
indivíduo é um usuário ou um traficante. Tal modelo acaba por privilegiar a internação compulsória e
distanciar o cidadão do sistema de saúde, assim como se mostra ineficaz no que tange à reabilitação dos
usuários de drogas.
Segundo O Globo:
Governo muda política de drogas e dá guinada em tratamento de dependência química
Investimentos federais se voltam para comunidades religiosas, que adotam modelo de reclusão e
abstinência, diferente da prática de redução de danos usada na rede pública de saúde
Uma em cada quatro comunidades terapêuticas do país — voltadas ao tratamento de dependentes
químicos — é financiada pelo governo federal. Em março, o Ministério da Cidadania assinou contratos
com 496 delas, para um repasse de R$ 153,7 milhões ao ano. São sobretudo ligadas a religiões,
católicas e evangélicas, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).Em abril, publicou-
se o decreto com a nova Política Nacional de Drogas (PNAD). A tônica é a promoção da abstinência —

51
Disponível em: https://cee.fiocruz.br/?q=node/997. Acesso em: 10/01/2020.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 74


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

modelo das comunidades que receberam verbas federais. Algumas têm psicólogos e assistentes
sociais, mas sem aparato médico. A base do tratamento é a internação.
Em caminho diferente estão os Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD), da rede
pública, que, por lei, devem ter equipe multiprofissional, como psiquiatras e psicólogos. Os 331 Caps
AD do país recebem ao ano R$ 158 milhões do governo federal.
Neles, o modelo é o da redução de danos, conjunto de estratégias que tem, entre outros objetivos como
a melhoria de vida do sujeito, a abstinência.
Para especialistas, como a psiquiatra Nicola Worcman, com o decreto e o repasse de verbas às
comunidades terapêuticas, definiu-se uma mudança na política pública para tratamento de
dependência química no país. Para ela, o tema é complexo.
— Não há consenso entre os pesquisadores sobre o modelo ideal. A discussão sobre o uso de drogas
encarna um dos piores temores da sociedade, a degradação moral. A ciência pode ser contaminada
por ideologias, e a maior contribuição que se pode oferecer é não dar ênfase a uma ou outra posição
ideológica — diz a psiquiatra.
Por fim, independentemente da sua opinião sobre o tema, algumas questões são quase unânimes. Vou falar
sobre elas agora.
Vive-se tempos de exacerbado individualismo e fortíssima competitividade por conquistas materiais e
ascensão social. Alia-se a isso a valorização de uma visão hedonista da vida, conforme a qual a busca do
prazer e do sentimento individual da felicidade a tudo justifica. Esse sentimento parece estimular as
pessoas, sobretudo as mais jovens, a fazer uso de mecanismos que as afastem das agruras do cotidiano e
lhes ofereçam momentos de intensa satisfação, ainda que efêmera.
Assim, o caminho das drogas reflete, muitas vezes, uma forma de fuga dos problemas enfrentados pelo
indivíduo, oriundos ou potencializados por tribulações sociais. De fato, não se pode apartar a questão das
drogas de outros grandes dilemas sociais como a desigualdade social, falta de emprego, prestação
deficiente de serviços públicos e a ausência do Estado justamente nos locais onde isso é mais necessário.
Nesse sentido, deve-se priorizar a atuação do Estado nos pontos dominados pelo tráfico, de forma a
retomar o seu controle e fortalecer a sua presença. Nesses locais, é fundamental proporcionar
oportunidades, principalmente aos jovens, o que, certamente, dificultaria o seu aliciamento por parte das
organizações criminosas.
Pode também ser mencionada a importância de um maior diálogo e esclarecimento sobre o assunto, ainda
visto como um tabu. Nesse sentido, deve-se investir em ações de cunho educacional, seja na escola, seja
em campanhas publicitárias, nas quais se fortaleça a mensagem sobre todos os perigos envolvidos no
consumo das drogas, bem como o seu poder letal.
Vistos todos esses pontos, acredito estarmos em condições de resolver às questões. Mãos à obra.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 75


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

Tema 19

TCE/PA – Aplicação: 2016


Drogas são um problema de saúde pública, e não devem ser vistas pela lente do sistema judiciário criminal.
A posição do presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, durante um debate sobre a
dependência da heroína dá força a manifestações recentes de especialistas que se opõem à repressão
policial para combater o consumo de entorpecentes. Recente relatório científico reuniu dados para afirmar
que a chamada guerra às drogas causa danos à saúde pública. Essas argumentações jogaram pressão sobre
a primeira sessão especial sobre drogas da Assembleia Geral das Nações Unidas, realizada em abril de 2016.
O Globo, 31/3/2016, p. 25 (com adaptações).

Considerando que o fragmento de texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo acerca do seguinte tema.
UM GRANDE DESAFIO: A CIVILIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA FRENTE ÀS DROGAS ILÍCITAS
Ao elaborar seu texto, aborde os seguintes aspectos:
1 drogas ilícitas e crime organizado global; [valor: 4,20 pontos]
2 relação entre tráfico de drogas e violência; [valor: 4,20 pontos]
3 alternativas à denominada guerra às drogas. [valor: 4,10 pontos]

Abordagem teórica

Pessoal, todos os aspectos necessários à resolução deste tema foram passados na abordagem anterior. Por
este motivo, em relação a ele, somente apresentarei a proposta de solução na aula subsequente.

Tema 20

O atual presidente do Brasil expediu um decreto que facilita a posse de armas. O decreto altera o Estatuto
do Desarmamento, aprovado em 2003, que limita o acesso a armamentos no Brasil. A principal mudança do
decreto é a definição mais flexível de quem tem “efetiva necessidade” de ter uma arma – há o pressuposto
de que as informações prestadas sejam verdadeiras e a Polícia Federal apenas as examina. Outra
modificação importante é o aumento do prazo de validade da autorização de posse de cinco para dez anos.
Internet: <www.bbc.com> (com adaptações).
Em um ano e meio, desde 2019, já foram editados, pelo menos, onze decretos, uma lei e quinze portarias
do Exército que trarão como consequência a fragilização dos instrumentos de controle e fiscalização de
armas de fogo e munições, o aumento do número de armas em circulação no país, a obstacularização do

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 76


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

combate ao tráfico ilegal dessas armas e a facilitação de sua obtenção por criminosos, como traficantes e
milicianos.
Dos onze decretos publicados em 2019, seis continuam em vigor. Das quinze portarias do Exército, incluídas
aqui as publicadas em conjunto com o Ministério da Justiça, sobre munições, pelo menos cinco foram
revogadas, três delas justamente as que foram editadas após reuniões técnicas com o Tribunal de Contas
da União (TCU), a Polícia Federal e o Ministério Público Federal (MPF). A quantidade de revogações totais
ou parciais dos textos aponta para a ausência de reflexão, embasamento técnico e avaliação de impactos
em sua produção.
Mas o que mudou? Se antes, ao contrário do que diz o lobby armamentista, já havia inúmeras possibilidades
para que as pessoas tivessem acesso a armas, desde que cumprissem determinados requisitos, após essa
produção normativa, o cidadão comum passou a ter acesso facilitado a armamentos, inclusive a alguns de
maior calibre, e a poder comprar munições em maior quantidade. Regras específicas sobre ampliação do
acesso a armas e da quantidade de munições que podem ser adquiridas por determinadas categorias, em
especial os chamados CACs – colecionadores, atiradores e caçadores –, também foram flexibilizadas.
Mecanismos de controle de armas e munições, como as marcações, que possibilitavam rastreamento
desses produtos, deixaram de existir.
Atlas da Violência 2020.
Um publicitário paulistano resolveu adquirir uma arma depois de ficar refém, com a família, em um assalto
dentro de casa. O tio dele, empresário, passou a usar carro blindado após ter sido baleado em uma tentativa
de assalto. “A gente tenta se proteger da forma que pode, até onde nosso dinheiro alcança”, disse ele.
Internet: <www1.folha.uol.com.br> (com adaptações).
Dono de pizzaria reage a assalto e mata criminosos na Zona Norte de São Paulo
Um homem e um adolescente foram baleados em Pirituba após cometerem crime. Comerciante é atirador
esportivo e possui porte de arma.
Dois assaltantes foram mortos após serem baleados pelo dono de uma pizzaria que reagiu a um assalto na
madrugada desta quarta-feira (20) em Pirituba, na Zona Norte de São Paulo.
Os bandidos chegaram a pé e anunciaram o assalto. No entanto, eles foram surpreendidos pelo dono do
estabelecimento que possui posse de arma.
O primeiro foi atingido, correu e caiu na frente do local e morreu. O outro assaltante, um adolescente de 15
anos, foi socorrido e morreu no hospital.
As cápsulas dos tiros ficaram espalhadas pelo chão. Com os criminosos foram encontrados um celular
roubado, relógio, dinheiro e duas armas falsas.
Uma pistola .40, que pertence ao dono da pizzaria, que é atirador esportivo, também foi apreendida. A arma
é legalizada e a documentação foi apresentada na delegacia.
Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2021/01/20/dono-de-pizzaria-reage-a-assalto-e-mata-
criminosos-na-zona-norte-de-sp.ghtml. Acesso em 21 de janeiro de 2021.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 77


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

Motivado pela leitura dos textos anteriores, redija um texto dissertativo que responda, de forma
fundamentada, ao seguinte questionamento:

A FACILITAÇÃO DA POSSE E DO PORTE DE ARMAS DE FOGO CONTRIBUI PARA A REDUÇÃO DA


INSEGURANÇA PÚBLICA?

Abordagem teórica

Pessoal, como vocês perceberam, dessa vez, não temos tópicos questionadores. Embora esse tipo de
questão aparecesse com mais frequência num passado nem tão distante, atualmente, não é esse o padrão
da Cebraspe. Contudo, é necessário estar preparado para tudo. Por isso, incluí a questão nesse formato.
Em termos práticos, o que muda é que você deverá escolher os seus tópicos frasais. Assim, você deve
incluir entre os seus pontos semânticos os tópicos adotados para corroborar a sua tese.
Por falar em tese, como o tema da sua redação é uma pergunta, não dá para escorregar. Você deve se
posicionar quanto ao tema e isso deve ficar claro logo na sua introdução. Afinal, a facilitação da posse e
porte de armas de fogo contribui para a redução da insegurança pública?
1. Armas de fogo

Segundo o Atlas da Violência de 2020, em 2018, 41.179 pessoas foram assassinadas por arma de fogo no
país, o que correspondeu a uma taxa de 19,8 por 100 mil habitantes. Apesar de representar uma redução
em relação ao ano anterior, ainda se trata de um número muito alto, o que dá maior relevância à discussão
sobre a flexibilização de posse/porte de armas de fogo.
De fato, a posse/porte de armas divide opiniões. Para os que defendem o acesso às armas de forma mais
facilitada aos cidadãos bem-intencionados, as armas devem ser vistas como instrumento de proteção da
sociedade contra a ação dos meliantes.
Por essa abordagem, o desarmamento estimula a violência, haja vista que os criminosos, cientes de que a
população estará indefesa, lançam-se com maior destemor ao cometimento de delitos. Para eles, a
restrição do acesso às armas só prejudica o cidadão, visto que os criminosos, por óbvio, não respeitam as
proibições impostas pelo Estatuto do Desarmamento. Corrobora esse fato as constantes apreensões de
armamento de todos os tipos, inclusive os de uso privativo das Forças Armadas (canhões AT4, Carl Gustaf,
metralhadoras .50, entre outros).
Segundo esse grupo, em face à comprovada ineficácia do Estado em combater o crime, preventiva e
repressivamente, e proporcionar a segurança, Direito Fundamental previsto no caput art. 5° da
Constituição Federal (CF/1988)52, a posse de uma arma de fogo representaria a única forma eficaz de
proteção contra ações criminosas. Isso é especialmente necessário nas propriedades rurais, as quais

52
Constituição Federal, art. 5º: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes:

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 78


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

frequentemente têm sido alvo de criminosos, que se aproveitam do policiamento quase inexistente nos
locais mais ermos.
Entre outros, esse grupo ampara seus argumentos no caput art. 5° da CF/1988, o qual dispõe ser inviolável
o direito à vida e propriedade, sendo, portanto, razoável que o cidadão possa adotar os meios para
preservação da sua integridade física e de seu patrimônio. Além disso, menciona-se o direito à legitima
defesa, excludente de ilicitude prevista no art. 25 do Código Penal: “art. 25 – Entende-se em legítima defesa
quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu
ou de outrem”.
Outrossim, em 2005, o povo brasileiro foi consultado sobre a proibição do comércio de armas de fogo e
munições no país. Estava em pauta a alteração no art. 35 do Estatuto do Desarmamento (Lei nº
10.826/2003), que tornava proibida a comercialização de arma de fogo e munição em todo o território
nacional. Como resultado do referendo, os brasileiros rejeitaram a alteração na lei, optando por manter
o comércio legal de armas de fogo, ou seja, zelando pelo direito de comprar armamento, caso assim o
desejarem. Para os que são refratários ao desarmamento, se a população optou pela liberdade de
comercialização, optou pelo direito à aquisição de armas, sendo, por isso, um argumento contra o referido
Estatuto.
Menciona-se também o fracasso do Estatuto do Desarmamento, pois, mesmo com todas as restrições
para o acesso às armas, os dados mostram que não houve redução no número de mortes. Assim, os únicos
a se desamarem foram os civis; os criminosos estão, a cada dia, mais bem esquipados. De acordo com o
Atlas da Violência 2019, em 2016 se manteve o mesmo índice de mortes de arma de fogo de 2003, cerca de
70%. Assim, não houve o ganho propalado pelos seus defensores.
Por fim, defendem também serem menores os índices de criminalidade nos países cuja aquisição de armas
é mais facilitada. Argumentam que o desarmamento é, historicamente, uma estratégia para o
enfraquecimento da sociedade, deixando-a mais vulnerável à ação de governos com viés autoritário. Assim,
desarmar a população seria estratégia adotada com objetivo de dominação e concentração de poder.
Vejamos, agora, o outro lado da moeda. Essa é a posição que eu recomendo adotarem para fins de prova.
A livre formação de suas próprias convicções ideológicas é direito inalienável do candidato, contudo
recomendo recorrer a posições mais avalizadas pela comunidade científica53 e, no caso, as pesquisas são
quase unânimes em apontar no sentido que mais armas significam mais crimes.
Você pode ser contra o desarmamento e pode construir sua redação sob essa premissa. Contudo, existem
inúmeras evidências científicas em sentido contrário, o que pode dar muito mais força a seus argumentos.
Além disso, a depender da sua habilidade com as palavras, você pode deixar transparecer uma posição mais

53
Segundo o Atlas da Violência de 2019 (pg. 78): De fato, há consenso na literatura científica internacional sobre os efeitos
perniciosos da difusão de armas de fogo na sociedade. Por exemplo, Conti fez uma análise intitulada “Dossiê Armas, Crimes e
Violência: o que nos dizem 61 pesquisas recentes”. Segundo o autor: “90% das revisões de literatura são contrárias à tese
“mais Armas, menos Crimes”. Das 10 revisões de literatura ou meta-análises publicadas em periódicos com revisão por pares
entre 2012 e 2017, nove concluíram que a literatura empírica disponível é amplamente favorável à conclusão de que a
quantidade de armas tem efeito positivo sobre os homicídios, sobre a violência letal e sobre alguns outros tipos de crime.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 79


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

radical e que a banca pode entender como ofensa aos direitos humanos, algo que não costuma ser
perdoado.
Para fundamentar o que eu disse, veja alguns exemplos54:
 O prof. John J. Donohue III (Univ. Stanford), um dos mais proeminentes pesquisadores mundiais sobre
os efeitos da difusão de arma de fogo, publicou, junto com colegas, em abril de 2019, no Jornal of
Empirical Legal Studies, o mais abrangente artigo científico sobre o efeito da flexibilização do porte
de armas nos EUA (onde a lei difere de estado para estado). Nesse trabalho, eles concluíram que a
flexibilização da lei fez aumentar entre 13% a 15% a taxa de crimes violentos em 10 anos.
 No Brasil, Cerqueira (2014) mostrou evidências de que a cada 1% a mais de armas de fogo em
circulação há um aumento de 2% na taxa de homicídio. Resultados qualitativamente idênticos
foram obtidos em duas teses de doutorado na EPGE/FGV e na USP, onde os autores utilizaram
métodos quantitativos também sofisticados. Além disso, nesses trabalhos não se verificou qualquer
relação da difusão da arma de fogo com a diminuição de crimes contra o patrimônio.
 Cerqueira e De Mello (2013) encontraram que, se não fosse o Estatuto do Desarmamento, a taxa de
homicídio teria aumentado 12% acima da verificada, entre 2004 e 2007.
 Além dos estudos que demonstram que a maior difusão de arma de fogo faz aumentar a insegurança
pública, vários trabalhos científicos mostram que a presença de uma arma de fogo no lar conspira
contra a segurança da família, pois faz aumentar inúmeras vezes as chances de algum morador sofrer
homicídio, suicídio ou um acidente fatal, inclusive, envolvendo crianças, como, por exemplo, foi
descrito em Dahlberg et al. (2004).
Além disso, podem ser mencionados os seguintes pontos55:
1. Como falado, uma arma de fogo dentro do lar faz aumentar as mortes violentas dos moradores, seja por
questões que envolvem crimes passionais e feminicídios, seja porque aumenta barbaramente as chances de
suicídio, ou ainda porque aumentam-se as chances de acidentes fatais, inclusive envolvendo crianças. Por
exemplo, Dahlberg et al. (2004) mostraram que o risco de um homem cometer suicídio em casas onde há
armas aumenta 10,4 vezes. Segundo Fowler et al. (2017), em função de acidentes domésticos envolvendo
armas de fogo, a cada ano 1.300 crianças são mortas nos EUA e 5.790 são internadas.
2. Uma parte significativa dos crimes violentos letais intencionais é perpetrada por razões interpessoais. No
Brasil, cerca de 4% dessas mortes ocorrem por latrocínio. Por outro lado, alguns trabalhos, como o de Dirk e
Moura (2017), com dados do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro, mostraram que, no total dos
casos de crimes letais intencionais conhecidos, mais de 20% das mortes ocorrem por questões interpessoais,
como brigas de vizinho, crimes passionais, brigas de bar, etc. Portanto, o indivíduo com uma arma de fogo
na mão que se envolve em um conflito aumenta as chances de ocorrência de uma tragédia.

54
Atlas da Violência de 2019.
55
Atlas da Violência de 2019.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 80


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

3. Significativa parcela das armas legais são extraviadas ou roubadas e terminam em algum momento
caindo na ilegalidade, o que faz com que o preço da arma no mercado ilegal diminua e facilita o acesso a armas
para os criminosos contumazes. A CPI das Armas realizada pela Assembleia Legislativa do estado do Rio de
Janeiro, mostrou dados robustos sobre a questão. Em 10 anos, no estado do Rio de Janeiro, foram extraviadas
ou roubadas 17.662 armas das empresas de vigilância ou segurança privada. Nessa mesma CPI mostrou-se que,
das armas ilegais apreendidas, 68% tinham sido armas legais num primeiro momento e vendidas no território
nacional e 18% tinham sido armas desviadas das Forças Armadas ou polícias. Ou seja, 86% das armas ilegais
foram em algum momento legais e depois desviadas para o crime. Numa pesquisa mais recente de 2017,
produzida pelo Instituto Sou da Paz, intitulada De onde vêm as armas do crime apreendidas no Nordeste,
reafirmou-se a conclusão da CPI do RJ, em que grande parcela das armas aprendidas possuía registro legal
anterior.
4. A arma de fogo no ambiente urbano é um bom instrumento de ataque, mas um péssimo instrumento de
defesa, em vista do fator surpresa. Aliás, as mortes de inúmeros policiais nos dias de folga atestam esse ponto.
De outra forma, uma pesquisa do IBCCRIM mostrou que uma vítima de um assalto, quando armada, possui
56% a mais de chances de ser morta do que a vítima desarmada.
Bem, superada essa primeira parte, continuemos.
Para aqueles que são a favor do desarmamento, as armas são símbolo de morte e destruição. Defendem
que estimular a aquisição de armas pela população irá levar a sociedade ao colapso, na medida em que
questões banais, corriqueiras, poderiam culminar em lesões graves ou mortes pelo fato de alguns dos
indivíduos estarem armados. Assim, o indivíduo, por estar armado, fica encorajado a dar respostas violentas
para a solução de conflitos interpessoais.
Além disso, o possuidor de armas fica com maior poder para coagir, para ameaçar. Isso é crítico quando
se está falando de violência doméstica, situação na qual, muitas vezes, a vítima é mantida em silêncio em
decorrência das ameaças feitas pelo agressor. Sob o viés econômico, o aumento da facilidade e do acesso
às armas significa diminuição do custo da arma, o que viria a facilitar a aquisição do armamento pelo
criminoso no mercado ilegal.
Argumenta-se também que é necessário ter elevada destreza, preparo físico e psicológico para que o
possuidor possa fazer um bom uso do seu armamento; caso contrário, além de não evitar a investida
criminosa, fatalmente, o portador terá a vida ceifada e a sua arma capturada. Questionam também o fato
de que, se os próprios policiais, que são preparados para lidar com a situação, muitas vezes são
surpreendidos e não conseguem reagir, com muito mais razão um cidadão comum, na maioria dos casos,
também não seria.
Nesse sentido, conforme lembrado pela pesquisadora Isabel Figueiredo, no Anuário Brasileiro de Segurança
Pública 2019, não há fronteiras entre as armas legais e as armas que alimentam a criminalidade violenta. É
a arma que o “cidadão de bem” comprou para “se defender” que estará envolvida logo mais em um roubo,
um sequestro relâmpago e até mesmo em um homicídio. A intensidade do problema pode ser mensurada

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 81


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

pelos seguintes dados. Considerando apenas os dados do Sinarm 56, pelo menos 11.119 armas de fogo
foram extraviadas, perdidas, furtadas ou roubadas em 2018 e outras 13.835, em 2017.
Acrescente-se que, não obstante os opositores ao Estatuto do Desarmamento argumentarem que haveria
critérios rígidos para o acesso e a manutenção da posse/porte de arma, os seus defensores argumentam que
não há garantias de que esse processo seria isento de corrupção, o que ocasionaria a existência de uma
série de indivíduos sem o mínimo de preparo para conduzir armamento.

O ESTATUTO DO DESARMAMENTO (Lei 10.826/2003)57


Cerqueira e Mello (2013) apresentaram evidências de que, entre 2004 e 2007, a taxa de homicídios seria 11%
maior, caso o Estatuto do Desarmamento não tivesse sido sancionado.
Considerando-se a taxa de homicídios por arma de fogo por 100 mil habitantes, esse índice cresceu a uma
velocidade de 5,8%, 5,9% e 6,0% em média a cada ano, em um período de quatro anos (1999 a 2003), catorze
anos (1989 a 2003), ou 23 anos (1980 a 2003), antes do Estatuto do Desarmamento. Por seu turno, nos quinze
anos após o Estatuto (entre 2003 e 2018), a velocidade de crescimento anual dessas mortes diminuiu para
0,9%.
Ou seja, antes de 2003, quando foi sancionado o Estatuto do Desarmamento, a velocidade de crescimento das
mortes era cerca de 6,5 vezes maior do que a que passou a vigorar no período subsequente. No entanto, no
que se refere aos homicídios por outros meios, que não a arma de fogo, a velocidade de crescimento, antes ou
após o Estatuto, não se alterou tanto.
Acompanhe o seguinte gráfico:

56
O Sistema Nacional de Armas - Sinarm, instituído no Ministério da Justiça, no âmbito da Polícia Federal, com circunscrição em
todo o território nacional, é responsável pelo controle de armas de fogo em poder da população, conforme previsto na Lei
10.826/03 (Estatuto do Desarmamento).
57
Conforme Atlas da Violência de 2020 e de 2019.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 82


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

Basicamente, o gráfico mostra que, considerando as trajetórias de letalidade no período anterior ao Estatuto
do Desarmamento (tanto num prazo mais longo – 14 anos – quando num prazo mais curto – 3 anos, para
projetar o futuro), enquanto verificamos trajetórias idênticas de homicídios por outros meios, entre 2003 e
2017, há, por outro lado, uma clara mudança na trajetória das mortes por armas de fogo, que teriam crescido
muito mais do que os dados efetivamente observados. Portanto, ainda que outros fatores possam explicar a
mudança de padrão de letalidade após 2003, esses fatores alternativos teriam que dar conta de explicar por
que a mudança ocorre exatamente em 2003 e por que a mudança ocorre apenas para a violência armada e
não por outros meios. Tais exercícios trazem, portanto, uma forte sugestão do efeito do Estatuto do
Desarmamento para frear a violência armada no país.
Além disso, retrucam que, grande parte da pressão pelo fim do Estatuto é oriunda da indústria bélica,
interessada em ampliar o mercado consumidor58. Por fim, há ainda argumentos religiosos, haja vista o fato
de que a doutrina cristã (referência para maior parte dos cidadãos brasileiros) repudia a violência e preconiza
o pacifismo e a resolução de conflitos por meio do diálogo.

58
De acordo com o Small Arms Survey, a indústria de arma brasileira movimenta por ano, cerca de cem milhões de dólares o
Brasil é o quarto maior exportador de armas leves do mundo.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 83


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

Por fim, pesquisas realizadas pelo instituto Datafolha, em 2019, mostraram que 66% dos entrevistados
concordam com a afirmação de que “a posse de armas deve ser proibida, pois representa ameaça à vida de
outras pessoas”. Já 31% concordam que “possuir uma arma legalizada deveria ser um direito do cidadão
para se defender”. Assim, essa pesquisa demonstrou que a maioria dos brasileiros é contra flexibilizações
de posse e de porte de armas de fogo, o que fortalece o discurso dos seus opositores.
Bem, muita coisa. Agora você está devidamente “armado” de argumentos. Vamos à prática.

Tema 21

Cespe/Cebraspe – PC-DF – 2013 - Adaptada


As armas de brinquedo devem sair de circulação no Distrito Federal em até dez meses, mas a polêmica sobre
a proibição delas parece estar longe do fim. A lei distrital, sancionada recentemente, impede a fabricação,
a comercialização e a distribuição de peças semelhantes ou não aos armamentos convencionais. Estão
inclusas as que disparam balas, bolas, espuma, luz, laser e assemelhados, as que produzem sons e as que
projetam quaisquer substâncias. A aprovação da norma repercutiu nacionalmente e também fora do Brasil,
com reportagem no jornal britânico The Guardian.
Correio Braziliense, 29/9/2013, p. 27 (com
adaptações).

Considerando que o fragmento de texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo acerca do seguinte tema:
O CERCO ÀS ARMAS COMO ESTRATÉGIA DE COMBATE À VIOLÊNCIA
Ao elaborar seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes aspectos:
 Percepções diversas acerca das armas, de instrumento de proteção a símbolo de morte e destruição.
[valor: 5,40 pontos]
 Efeito educativo pretendido com a proibição da venda de armas de brinquedo. [valor: 3,50 pontos]
 Limitações de uma medida legal como a proibição de venda de armas de brinquedo. [valor: 3,50 pontos]

Abordagem teórica

Pessoal, o pano de fundo da questão de agente da PC-DF foi a então recente publicação da Lei 5.180/2013,
cujo principal objeto é a proibição da fabricação, a venda, a comercialização e a distribuição, a qualquer
título, de armas de brinquedo.
Essa proibição se estende, inclusive, a brinquedos que disparem bala, bola, espuma, luz, laser e
assemelhados, que produzam sons ou que projetem quaisquer substâncias que permitam a sua associação
com arma de fogo.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 84


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

Tema bastante polêmico. Afinal, em que medida a proibição da venda de armas de brinquedo pode
contribuir para a redução dos alarmantes índices de violência?
1. Armas de fogo

Pessoal, para economizar espaço aqui, vocês podem consultar a abordagem teórica da questão anterior.
Resolve, com sobras, o caso.
Interessante a forma como a sua banca apresenta o primeiro tópico questionador: "Percepções diversas
acerca das armas, de instrumento de proteção a símbolo de morte e destruição."
Acompanhem com atenção. Diferentemente da questão anterior, você não vai se manifestar para um dos
dois lados (pró ou contra desarmamento). Você irá, elegantemente, expor os dois lados da questão. Não é
necessário emitir a sua opinião.
O complicador é que você terá algo entre 10 a 15 linhas para falar sobre algo que poderia se desdobrar em
duas redações autônomas. Portanto, objetividade.
2. Efeito educativo pretendido com o fim das armas de brinquedo

Com a proibição, certamente, pretendeu-se evitar o contato prematuro das crianças com esse tipo de
instrumento, idade em que estão em formação da sua personalidade, ainda sem plena capacidade de
discernimento.
Visou-se também evitar a banalização do uso desse artefato, banindo o uso das armas do imaginário
infantil. Assim, trata-se de uma questão educativa, com o objetivo de dar o exemplo desde a tenra idade,
sobre os perigos do uso das armas.
Além disso, visa a evitar o cometimento de delitos. A restrição na oferta de armas de brinquedo pode evitar
o uso de simulacros para a perpetração de crimes como roubos, extorsões, entre outros.
3. Limitações de uma medida legal como a proibição da venda das armas de brinquedo

Pessoal, o problema da violência no Brasil é extremamente complexo. Vamos ter alguns temas para falar
exclusivamente sobre o assunto.
Por melhor que seja a lei e por mais ampla que seja a sua adoção, a ação legiferante não é suficiente para
resolução de um problema dessa envergadura.
Para resolver o problema da violência é necessário atacar as suas causas, originadas, grande parte, pela
educação precária, pelo desemprego, pela precariedade da assistência social, pela desigualdade social
e pela marginalização de segmentos sociais invisíveis aos olhos da sociedade e do governo.
Medidas de caráter repressivo, podem, apenas, aliviar os problemas no curto prazo. Estão distantes de
fornecerem soluções para o problema. Por isso, é necessária a adoção de medidas de caráter estruturante
e preventivo, o que passa pela melhoria da educação, promoção do crescimento econômico, pelo incentivo
à prática esportiva e pela efetivação de políticas públicas de inclusão social e erradicação da pobreza. Bem-
sucedidas essas ações, é natural que o caminho da criminalidade se torne menos sedutor.

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 85


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella


Carlos Roberto
Aula 9 Profs. Carlos Roberto e Márcio Damasceno)
1405111

Não se pode olvidar da colaboração do sistema de segurança pública no enfrentamento do problema. Além
de em ações ostensivas, é fundamental investir em inteligência na atividade policial, como forma de
amplificar os efeitos das suas atividades. Além disso, os profissionais devem ser valorizados, bem
remunerados e bem treinados.
Por fim, é também necessário combater fortemente a impunidade, “combustível” para o cometimento de
infrações penais. O Brasil não possui um índice nacional de crimes de homicídio solucionados, mas estima-
se que essa taxa não seja maior que 10%. Então seria necessário investir fortemente nas áreas de
investigação, bem como na otimização do processo judicial para que a impunidade não estimule o
cometimento de crimes.
Assim, sem menosprezar a iniciativa legislativa, que é fundamental, é necessária uma série de providências,
em diversas frentes, para conduzir o índice de homicídios no Brasil a patamares civilizatórios.
Entendo que essa breve revisão é suficiente para resolver à questão. Mãos à obra.

PRÁTICA
Caro aluno, agora é com você! Treine bastante com os temas expostos, lembrando-se sempre de aplicar o
conhecimento acumulado nas aulas anteriores, tanto sob o ponto de visto da estrutura, quanto dos aspectos
gramaticais.
Lembre-se de nos encaminhar seu texto, se assim desejar, por meio da área do aluno, de forma manuscrita
digitalizada, conforme explicado na aula 00 do curso.
Para a sua redação, é importante especificar o número do texto escolhido no campo apropriado. Você pode
nos encaminhar um arquivo único (em pdf) ou colar as imagens digitalizadas dentro de um documento em
Word.
As questões discursivas serão devolvidas exclusivamente ao aluno, por meio da área destinada ao curso no
site do Estratégia Concursos.
Desejamos um excelente trabalho a todos!

Discursivas p/ Polícia Federal (Agente) Sem correção - Pós-Edital 86


www.estrategiaconcursos.com.br 86

05992943536 - Maria Stella

Você também pode gostar