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Carlos
Roberto e Márcio
Damasceno)
Discursivas p/ Polícia Federal (Agente)
Sem correção - Pós-Edital
Autor:
Carlos Roberto
Aula 10 (Profs. Carlos Roberto e
Márcio Damasceno)
5 de Fevereiro de 2021
Sumário
Tema 12.................................................................................................................................................3
Tema 13 ................................................................................................................................................. 7
Tema 14...............................................................................................................................................
1405111
10
Tema 15............................................................................................................................................. 13
Tema 16 ............................................................................................................................................ 15
Tema 17............................................................................................................................................. 18
Tema 18 ........................................................................................................................................... 20
Tema 19 ............................................................................................................................................ 23
Tema 20 ...........................................................................................................................................25
Tema 21.............................................................................................................................................. 28
Tema 22 .............................................................................................................................................. 30
Tema 23.............................................................................................................................................. 40
Tema 24 ..............................................................................................................................................45
Tema 25 .............................................................................................................................................. 53
Tema 26 ..............................................................................................................................................63
Tema 27 ............................................................................................................................................... 71
Tema 28 .............................................................................................................................................. 77
Tema 29 ..............................................................................................................................................85
Tema 30.............................................................................................................................................. 89
Prática.................................................................................................................................................... 99
Prof. Marcio
Tema 12
Há dez anos o crime organizado parou São Paulo – a cidade mais rica do País. Nesses últimos dez anos,
porém, o crime organizado não parou, seguiu em frente, só cresceu, ampliou suas atuações, expandiu e
variou seus “negócios”. Em 15 de maio de 2006, após a onda de ataques contra agentes de segurança do
Estado iniciada na noite do dia 12, o Primeiro Comando da Capital (PCC) deixou a população da maior
metrópole da América do Sul atônita, amedrontada, acuada. Em razão do pânico motivado pelas mortes
em série, escolas, estabelecimentos comerciais, empresas fecharam mais cedo. Até fóruns criminais e o
Ministério Público dispensaram seus funcionários e abreviaram o expediente. Trabalhadores refugiaram-se
em suas casas. A cidade se calou.
O saldo dos ataques daquele mês de maio revela um quadro de violência sem precedentes no Brasil que
justifica o pânico em São Paulo. Entre os dias 12 e 21, foram 564 mortos em todo o Estado, entre eles 59
agentes públicos. Muitos dos homicídios com características de execução sumária ainda não foram
esclarecidos pela polícia nem punidos pela Justiça. Em um único fim de semana, 94 presídios se rebelaram
e incontáveis ônibus foram incendiados por bandidos em diversas cidades paulistas. Tudo sob comando do
PCC.
Sem aviso prévio à população, mas com conhecimento do Estado, os ataques cessaram. No domingo, dia
14 de maio, após uma reunião no presídio de segurança máxima de Presidente Bernardes entre o líder da
facção criminosa, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, e a cúpula da gestão Claudio Lembo,
substituto de Geraldo Alckmin que disputaria a eleição presidencial mais à frente, a normalidade começaria
a voltar a São Paulo. O Estado, em julho do ano passado, teve acesso ao depoimento à Justiça do delegado
José Luiz Ramos Cavalcanti, que participou da reunião. Ele afirma que uma advogada da facção dizia que os
ataques só parariam se os bandidos tivessem a certeza de que Marcola estava vivo e bem. O governo cedeu
um avião da PM que levou todos até o encontro com o líder. Lá, ele foi convencido a dar a ordem para
encerrar os ataques. Um outro detento, conhecido por “LH”, recebeu um celular e, após os bloqueadores
serem desligados, passou o recado às ruas.
Até os anos 80, as estruturas criminosas limitavam-se ainda a quadrilhas de ação localizada. E ao jogo do
bicho. Ele surgiu no Brasil no fim do século 19, em uma situação inusitada – o dono do antigo Jardim
Zoológico de Vila Isabel, no Rio de Janeiro, vendo-se diante da falência, estimulou a visitação trocando o
ingresso por um papel com o nome de um dos 25 animais do parque; o animal sorteado pagava 20 vezes o
preço do ingresso. Até ser proibido na década de 1890, era um jogo aristocrático, com os resultados dos
sorteios publicados nos jornais. Desde então, mantém a popularidade entre as classes mais baixas graças,
em parte, à facilidade na aposta, uma vez que se pode jogar qualquer quantia. Além disso, é até hoje
considerado contravenção e não crime, o que ajuda os bicheiros a formar quadrilhas poderosas. Não à toa,
muitos especialistas consideram que ainda hoje eles são o grupo mais representativo do crime organizado
no Brasil. “O jogo do bicho contempla boa parte da definição desse termo: tem território definido, faz
lavagem de dinheiro e tem forte penetração na máquina do Estado”, diz Michel Misse, coordenador do
Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana (Necvu), da UFRJ.
O grande divisor de águas, que tornaria o crime organizado muito mais complexo e violento, foi a entrada
com força da cocaína no mercado nacional. A gestão diária do jogo não exigia uma estrutura muito
complexa, mas as drogas sim. Para operar nesse novo mercado, era preciso montar quase uma indústria,
com estratégias para criar e manter pontos de venda e sistema de transporte para garantir a oferta
constante. “A logística da economia da droga exigiu mudanças estruturais na forma como os grupos
atuavam”, diz a antropóloga Jacqueline Muniz, ex-diretora da Secretaria Nacional de Segurança Pública e
professora da Universidade Cândido Mendes (Ucam), do Rio de Janeiro. Em especial, era preciso mais gente
envolvida. E é com o tráfico que a imagem positiva do malandro – “aquela de saber se virar pela cidade” – é
substituída pela do bandido feio e mau.
[...]
Da mesma forma que o crescimento da população nas cidades levou ao aumento da criminalidade, o
crescimento da população nas cadeias levou à radicalização do crime. O berço das principais facções
criminosas do Brasil são os presídios. Aqui, como em outros países, o melhor lugar para o crime se organizar
ou aumentar seu poder é atrás das grades. “Há vários casos no mundo, inclusive de movimentos religiosos,
como os islamitas americanos. É angustiante que isso apareça exatamente entre os bandidos que estão sob
a tutela do Estado”, diz Norman Gall, do Instituto Fernand Braudel, uma ONG de pesquisas econômicas e
sociais.
A primeira a sair dos presídios brasileiros foi o Comando Vermelho (CV), ainda na década de 1970.
Posteriormente, ela teria dado origem a todas as demais grandes facções cariocas. Acredita-se que seus
primeiros líderes tenham convivido com grupos guerrilheiros de esquerda no presídio Cândido Mendes, em
Ilha Grande, Rio de Janeiro, e se inspirado neles para criar sua organização (daí o “vermelho” no nome). A
princípio, eram apenas quadrilhas de ladrões tentando criar uma unidade para facilitar seu trabalho. Com a
chegada das drogas, tornou-se um grupo voltado para o tráfico. A primeira consequência foi exacerbar dois
componentes que já existiam no bicho: o terror aplicado àqueles que se voltassem contra a facção e o
assistencialismo à comunidade. Houve até uma época em que o Comando Vermelho especializou-se em
uma tática Robin Hood: assaltar caminhões com mercadorias e distribuir para os moradores das favelas.
Considerando os textos acima como motivadores, redija um texto dissertativo acerca do seguinte tema.
Proposta de solução
O crime organizado é o fenômeno criminal que caracteriza as ações praticadas por uma
organização criminosa, a qual tem como particularidades a sofisticação na prática de crimes;
a estrutura funcional; o reconhecimento dos participantes pertencentes à organização e a
capacidade de impor regras com o uso da violência e com a infiltração no interior do Estado.
[Introdução conceito]
O crime organizado envolve-se em uma série de atividades ilícitas. Uma das principais
é o tráfico de drogas, o qual exige uma estrutura complexa, operacionalizada com
engenhosidade pelas organizações criminosas. Associado ao tráfico de drogas, encontra-se o
tráfico de armas, o qual possibilita às organizações prover a segurança dos seus negócios e obter
lucro pela venda dessas armas. Outrossim, as organizações criminosas se valem do seu poderio
econômico para corromper agentes públicos com o intuito de obter favores, informações
privilegiadas e influenciar a tomada de decisão. O lucro auferido é dissimulado por operações
para ocultar a sua origem, por meio da lavagem de dinheiro.
O encarceramento em massa é importante elemento de formação e fortalecimento do
crime organizado. Inúmeros especialistas apontam que organizações como o Primeiro
Comando da Capital, a qual movimenta, atualmente, cerca de 200 milhões de reais ao
ano, surgiram no interior de presídios com a aglutinação da população carcerária por melhores
condições. O aumento crescente da população carcerária, que já alcança mais de 700 mil
pessoas, serve como elemento facilitador para o recrutamento de novos integrantes para as
facções criminosas. Isso porque é recorrente o convívio entre presos provisórios ou condenados
por crimes simples com criminosos de elevada periculosidade já pertencentes às organizações
criminosas.
Por fim, dada a gravidade da situação, é papel do Estado, como agente encarregado
pela Segurança Pública, oferecer soluções para a redução do poder dessas instituições. De
forma mais imediata, como uma resposta a curto prazo, deve-se buscar a prisão dos membros
de organizações criminosas e a recuperação das áreas historicamente dominadas pelo crime
organizado, o isolamento carcerário das lideranças, a identificação da estrutura e o confisco
de seus bens, com o enfraquecimento do poder econômico dessas facções. A longo prazo, como
forma de obter resultados perenes, deve-se envidar esforços em políticas que reduzam a
desigualdade social e dificultem o recrutamento por parte do crime organizado.
Tema 13
Foram identificados 210 integrantes do alto escalão da facção, recolhidos em Presídios Federais, que
recebiam valores mensais por terem ocupado cargos de relevo na organização criminosa ou executado
missões determinadas pelos líderes, como, por exemplo, execuções de servidores públicos.
A atuação da Polícia Federal visa desarticular a organização criminosa por meio de sua descapitalização,
atuando em conformidade com as diretrizes do órgão de enfrentamento à criminalidade organizada por
meio da abordagem patrimonial, além da prisão de lideranças.
Disponível em: https://portalcontexto.com/operacao-da-pf-mira-poder-financeiro-de-faccao-
do-crime/. Acesso em: 03/09/2020. Com adaptações.
Considerando que os fragmentos de texto acima têm caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo acerca do seguinte tema.
Proposta de solução
Inicialmente, frise-se que o objetivo de isolar os líderes das facções criminosas é diminuir
==1570b7==
das operações de combate ao tráfico de drogas, que têm sido realizadas, interrompendo a
entrega dessas substâncias nos centros consumidores.
Tema 14
[...]
Embora o CV tenha sido pioneiro, a força do PCC ainda não encontra paralelo no Brasil. Desde que foi criado,
em 1993, o “Partido do Crime” segue um rigoroso estatuto, atualizado com 18 artigos que regram a conduta
de seus membros. Itens como a “luta contra a opressão do sistema prisional” e valores relacionados à
lealdade seduzem novos integrantes. Assim como um sindicato ou um clube fechado, o PCC cobra de seus
membros não só fidelidade, mas também uma mensalidade. Em troca, oferece proteção, status e
possibilidade de subir na carreira do crime. A sistemática é tão bem-sucedida que outras facções se inspiram
no modelo. Privatizado pelas facções, o sistema prisional entrou num moto-perpétuo. Quanto mais gente
atrás das grades, mais os grupos criminosos se expandem.
São Paulo é exemplo desse mecanismo: o PCC controla 90% dos presídios – isso num estado que concentra
mais de um terço da população carcerária nacional. Nem toda essa massa é de membros ativos. Mas basta
haver a presença da sigla para que seus códigos de convivência sejam impostos. “Quando o réu entra, ele
ganha o papel higiênico de um ‘faxina’ e entende que isso vem do ‘comando’. Ninguém vai forçá-lo a
cometer um atentado, mas ele fica com uma dívida moral, no mínimo, e segue a disciplina”, explica o
defensor público Bruno Shimizu, doutor em Criminologia pela USP.
Foi em São Paulo que o PCC promoveu a maior demonstração de força já feita pelo crime organizado no
Brasil. Os atentados de maio de 2006 pararam a cidade por quatro dias. Mais de 50 policiais morreram e
outra centena de bandidos perdeu a vida. Ao mesmo tempo, 74 presídios acataram as ordens do comando
e entraram em rebelião. O governo foi obrigado a sentar e negociar com os criminosos. “É impossível
administrar o sistema penitenciário brasileiro sem o apoio das organizações informais de presos”,
acrescenta Shimizu.
Sob a tutela do estado, o crime se radicalizou. Foram-se os tempos do bandido malandro, cantado na
música e retratado com certa dignidade pela literatura. Entraram em cena os funks saudando carnificinas e
exaltando massacres. Espremidas atrás das grades, as facções aproveitam cada brecha aberta pelo poder
público. Nascem, crescem e se multiplicam à medida que mais detentos são colocados para dentro das
cadeias. [...]
Considerando que o texto precedente tem caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo-
argumentativo a respeito do seguinte tema.
DISFUNÇÃO DO SISTEMA CARCERÁRIO, CRIME ORGANIZADO E TRÁFICO DE DROGAS:
ENGRENAGENS DE UMA MÁQUINA CHAMADA VIOLÊNCIA
Em seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes aspectos:
1. a relação entre o sistema carcerário e o crime organizado; [4,20 pontos]
2. a relação entre o crime organizado e o tráfico de drogas; [4,20 pontos]
3. a relação da superpopulação carcerária com o crime de tráfico. [4,10 pontos]
Proposta de solução
Tema 15
Rio tem 3,7 milhões de habitantes em áreas dominadas pelo crime organizado; milícia controla 57% da
área da cidade, diz estudo
Mapa dos Grupos Armados do Rio, lançado nesta segunda (19), aponta que três facções do tráfico juntas
dominam 15,4% do território da capital.
Uma pesquisa inédita sobre a expansão de organizações criminosas no Rio revela que milícia e tráfico estão
presentes em 96 dos 163 bairros da cidade. Nessas áreas subjugadas vivem cerca de 3,76 milhões de
pessoas, do total de 6.747.815 habitantes — segundo estima o IBGE.
O estudo, batizado de Mapa dos Grupos Armados do Rio de Janeiro, identificou que milicianos controlam
área maior do que traficantes de drogas na capital fluminense.
Segundo o levantamento, até o fim de 2019, as milícias dominavam 25,5% dos bairros do Rio. O percentual
representa 57,5% da superfície territorial da cidade, onde vivem 33,1% dos habitantes do município – ou
seja, mais de 2 milhões dos cerca de 6,74 milhões de habitantes calculados pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).
Disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/10/19/rio-tem-37-milhoes-
de-habitantes-em-areas-dominadas-pelo-crime-organizado-milicia-controla-57percent-da-
area-da-cidade-diz-estudo.ghtml. Acesso em: 19 de outubro de 2020 (com adaptações).
Considerando que o fragmento de texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo acerca do seguinte tema:
c) em que medida as milícias constituem uma ameaça à segurança pública. [valor: 4,20 pontos]
Proposta de solução
A rápida expansão das milícias tem sido objeto de estudos por parte de grandes núcleos
de segurança pública no país. A centralidade do tema e os riscos que dele decorrem
demandam a discussão sobre as principais questões que permeiam as milícias. [Introdução
roteiro]
Primeiramente, frise-se que milícia é um grupo armado de pessoas, geralmente com
formação militar, paramilitar ou policial, que atua à margem da lei em algumas comunidades
carentes, pretensamente para combater o crime. Uma das bases da atuação das milícias é o
controle de território e da polução instalada no local. Para isso, não hesitam em utilizar
meios coercitivos, com ameaças aos moradores que não pagarem pela “proteção” ou pelos
serviços oferecidos, bem como contra autoridades que investiguem as suas atividades. Outra
característica é a existência de um discurso de legitimação, normalmente orientado para seu
reconhecimento como uma estrutura necessária para a proteção dos moradores contra o
narcotráfico e para a instauração da ordem.
Outrossim, as milícias, ao dominarem o território, dominam também as atividades
econômicas locais. Além da venda do serviço de proteção, elas lucram com o controle direto
de atividades como o transporte alternativo e a venda de gás, de água, de sinal de televisão a
cabo ou de serviços de internet. Essas atividades incluem também a apropriação de terrenos
de forma ilegal, o controle de áreas para exploração imobiliária, a venda de terras públicas,
a realização de empréstimos (agiotagem) e o tráfico de drogas. Diante desse rol, constata-se
que a milícia se interessa por toda e qualquer atividade da qual possa extrair proveito
econômico.
Tema 16
protocolo contra o contrabando de imigrantes por terra, ar e mar; o protocolo contra a fabricação ilegal e o
tráfico de armas de fogo, incluindo peças, acessórios e munições.
O problema da corrupção também foi abordado nos documentos; neles há propostas para agravar as
sanções contra esse tipo de crime. A Convenção trata, ainda, de aspectos relacionados com a extradição de
criminosos e a transferência de presos, respeitando a legislação nacional dos países.
O Congresso Nacional do nosso país aprovou, em maio de 2003, o texto da Convenção de Palermo, e o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pelo Decreto nº 5.015, de 12 de março de 2004, sacramentou a adesão
do Brasil a esse documento.
Convenção de Palermo (fragmento). In: Estudos Avançados.
USP, 21 (61), 2007, p. 102 (com adaptações).
Considerando que o texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo,
abordando, necessariamente, os seguintes aspectos:
importância da Convenção de Palermo; [valor: 4,20 pontos]
crime organizado e direitos humanos; [valor: 4,20 pontos]
medidas de combate ao poder financeiro do crime organizado. [valor: 4,10 pontos]
Proposta de solução
De acordo com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, o crime
organizado transnacional é uma das principais ameaças à segurança pública. Num mundo
contemporâneo globalizado, cujas distâncias foram encurtadas pelo notável avanço
tecnológico, surgiu a necessidade do estabelecimento de regras que possibilitassem uma ação
coordenada entre os países para combater o crime organizado, contexto em que foi elaborada
a Convenço de Palermo.
Nesse sentido, afirme-se que a Convenção de Palermo é instrumento de grande
importância no combate ao crime organizado transnacional. Primeiramente, a referida
convenção consiste num reconhecimento dos Estados-membros da gravidade do problema e
da necessidade de estreitar os laços de cooperação entre os países. Com efeito, os Estados-
membros que ratificaram esse instrumento se comprometem a adotar uma série de medidas
contra o crime organizado transnacional, incluindo a tipificação criminal na legislação
nacional de atos como a participação em grupos criminosos organizados, lavagem de dinheiro
e corrupção, além da adoção de medidas para facilitar processos de extradição, assistência legal
mútua e cooperação policial. Assim, a Convenção de Palermo representa um marco
inicial no combate ao crime organizado.
Outrossim, o crime organizado representa uma ofensa aos direitos humanos pelas
consequências das suas atividades e pelo seu modo de operar. As consequências das suas
atividades (tráfico de armas, de drogas, de pessoas, roubos de cargas, crimes ambientais,
contrabando etc.) ofendem inúmeros direitos, como o direito à vida, à liberdade, à dignidade,
à propriedade, à segurança e ao meio ambiente equilibrado. Além disso, o seu modo de
operação envolve, por exemplo, violência, extorsão, assassinatos em larga escala, torturas,
exploração de mão de obra infantil, entre outros. Trata-se de práticas atentatórias a direitos
básicos dos indivíduos, necessários ao exercício da cidadania.
Tema 17
OMS: cannabis é droga ilícita mais consumida no mundo, com 180 milhões de usuários.
A cannabis é a droga psicoativa ilícita mais usada no mundo, com mais de 180 milhões de usuários
globalmente. Apesar disso, segundo novo relatório divulgado este mês pela Organização Mundial de Saúde
(OMS), ainda há menos conhecimento sobre seus efeitos sociais e na saúde quando comparado ao álcool e
ao tabaco.
A estimativa da OMS é de que haja 181,8 milhões de usuários de cannabis — em suas preparações mais
comuns, como maconha e haxixe — com idade entre 15 e 64 anos no mundo.
Somente na Europa, 11,7% dos jovens (com idade entre 15 e 34 anos) usaram cannabis no ano passado,
percentual que sobe para 15,2% no grupo entre 15 e 24 anos. Do total de usuários globais, estima-se que
13,1 milhões sejam dependentes.
Considerando que os fragmentos de texto acima têm caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo acerca do seguinte tema.
A PROBLEMÁTICA DAS DROGAS ILÍCITAS NO BRASIL
Em seu texto, posicione-se, de forma clara e fundamentada, a respeito da descriminalização do uso de
drogas ilícitas [valor: 4,40 pontos] e discuta os seguintes aspectos:
a. As consequências do uso de drogas ilícitas para a sociedade. [valor: 2,50 pontos]
b. A influência dos aspectos geográficos do Brasil para o agravamento do problema. [valor: 2,50 pontos]
c. O uso da maconha para fins medicinais: contra ou a favor? [valor: 3,00 pontos]
Proposta de solução
Tema 18
epicentro é o tráfico de drogas. De acordo com o segundo Levantamento Nacional de Álcool e Drogas, o
Brasil é o segundo maior mercado consumidor mundial de cocaína e derivados, com 20% do mercado
global, e o maior mercado de crack. Nada menos.
Kátia Abreu. Drogas, a peste do século. In: Folha de S.Paulo, p. B5 (com
adaptações).
As estatísticas denunciam: o uso de drogas e a criminalidade estão cada vez mais próximos. Dados do
Programa Ação pela Vida, da Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF), obtidos com exclusividade pelo
Jornal de Brasília, revelam a relação direta entre o número de homicídios e o uso de entorpecentes. De
acordo com o levantamento, 64% das vítimas de homicídio faziam uso ou estavam sob efeito de drogas,
sendo esse o fator principal dos casos de mortes violentas no DF.
O estudo faz parte do relatório de Exames Toxicológicos do Instituto Médico Legal (IML) e reuniu 188 casos
de assassinatos ocorridos até março deste ano. Os dados serão usados pelo plano, que tem como um de
seus eixos o enfrentamento ao uso e ao tráfico de drogas, por meio da integração das forças policiais.
Entre os casos de assassinatos, 65% estavam relacionados a crimes como roubos, furtos, uso de drogas,
homicídios, ameaça e lesão corporal. “Esse estudo serve como uma base sólida para comprovar que o grupo
de risco de pessoas comprometidas com o crime está sendo vítima de homicídio. Em quase 100% dos casos,
vítima e autor possuem um perfil muito semelhante. Ambos com passagens pela polícia, quase sempre por
crimes vinculados ao consumo e tráfico de drogas”, afirma o secretário de Segurança Pública, Sandro
Avelar.
Considerando que os fragmentos de texto acima têm caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo acerca do tema a seguir.
a) Narcotráfico como símbolo do crime organizado em escala global. [valor: 4,20 pontos]
b) Relação entre drogas (produção, comercialização e consumo) e violência. [valor: 4,20 pontos]
c) Ação esperada do poder público diante do problema das drogas e do crime organizado. [valor: 4,10
pontos]
Proposta de solução
Em face dessa situação, é urgente que o Estado tome as medidas necessárias para o
enfrentamento desse grave problema social. Nesse sentido, deve-se investir em ações de cunho
educacional, seja na escola, seja em campanhas publicitárias, nas quais se fortaleça a
mensagem sobre todos os perigos envolvidos no consumo das drogas, bem como o seu poder
letal. É fundamental também que o Estado fortaleça a sua presença nas áreas sob domínio
do tráfico e implemente políticas públicas de emprego e geração de renda capazes de evitar a
entrada de jovens no mundo das drogas ou seu aliciamento pelo narcotráfico. Por fim, é
necessário aprimorar a assistência aos dependentes e destinar-lhes um tratamento humano e
adequado às circunstâncias pessoais do paciente. [Tópico 3]
Tema 19
Considerando que o fragmento de texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo acerca do seguinte tema.
UM GRANDE DESAFIO: A CIVILIZAÇÃO CONTEMPORÂNEA FRENTE ÀS DROGAS ILÍCITAS
Ao elaborar seu texto, aborde os seguintes aspectos:
1 drogas ilícitas e crime organizado global; [valor: 4,20 pontos]
2 relação entre tráfico de drogas e violência; [valor: 4,20 pontos]
3 alternativas à denominada guerra às drogas. [valor: 4,10 pontos]
Proposta de solução
Não obstante todos os males que provoca, segundo os relatórios da Organização das
Nações Unidas, é crescente o consumo de drogas ilícitas no mundo. Em face da relevância
do tema, faz-se necessário analisar suas relações com o crime organizado e com a violência,
bem como pensar em alternativas à política de guerra às drogas.
Inicialmente, destaque-se a existência de uma relação íntima entre drogas ilícitas e
crime organizado global, visto serem estes os maiores responsáveis por fazer com que a droga
seja levada do local onde é produzida até o consumidor. O interesse nessa atividade decorre
do seu potencial de expressivo lucro, explicado, em parte, pela crescente demanda e pela
repressão provocada pela política de guerra às drogas. Essas organizações possuem uma
estrutura complexa, atuam em escala mundial e empregam sofisticados recursos técnicos para
ludibriar os órgãos policiais e de investigação de circulação de capitais. Sua influência
abrange desde as instituições financeiras que processam a lavagem do dinheiro obtido
ilicitamente até as esferas governamentais com a corrupção de agentes públicos. [Tópico 1]
Além disso, frise-se a intensa relação entre tráfico de drogas e violência. A vultosa
quantidade de dinheiro que pode ser obtida do narcotráfico faz com que as facções busquem
acirradamente a expansão dos seus negócios através do domínio das rotas de escoamento e dos
pontos de fornecimento e de venda de drogas, o que, frequentemente, resulta em massacres,
dentro e fora dos presídios. Essa expansão, que é facilitada pela omissão do Estado, tem
propiciado controle territorial do crime organizado sob certas áreas, dificultando a ação do
poder público, impondo uma ordem paralela, atemorizando a população e cooptando crianças
e jovens para essas organizações. [Tópico 2]
Tema 20
O atual presidente do Brasil expediu um decreto que facilita a posse de armas. O decreto altera o Estatuto
do Desarmamento, aprovado em 2003, que limita o acesso a armamentos no Brasil. A principal mudança do
decreto é a definição mais flexível de quem tem “efetiva necessidade” de ter uma arma – há o pressuposto
de que as informações prestadas sejam verdadeiras e a Polícia Federal apenas as examina. Outra
modificação importante é o aumento do prazo de validade da autorização de posse de cinco para dez anos.
Internet: <www.bbc.com> (com adaptações).
Em um ano e meio, desde 2019, já foram editados, pelo menos, onze decretos, uma lei e quinze portarias
do Exército que trarão como consequência a fragilização dos instrumentos de controle e fiscalização de
armas de fogo e munições, o aumento do número de armas em circulação no país, a obstacularização do
combate ao tráfico ilegal dessas armas e a facilitação de sua obtenção por criminosos, como traficantes e
milicianos.
Dos onze decretos publicados em 2019, seis continuam em vigor. Das quinze portarias do Exército, incluídas
aqui as publicadas em conjunto com o Ministério da Justiça, sobre munições, pelo menos cinco foram
revogadas, três delas justamente as que foram editadas após reuniões técnicas com o Tribunal de Contas
da União (TCU), a Polícia Federal e o Ministério Público Federal (MPF). A quantidade de revogações totais
ou parciais dos textos aponta para a ausência de reflexão, embasamento técnico e avaliação de impactos
em sua produção.
Mas o que mudou? Se antes, ao contrário do que diz o lobby armamentista, já havia inúmeras possibilidades
para que as pessoas tivessem acesso a armas, desde que cumprissem determinados requisitos, após essa
produção normativa, o cidadão comum passou a ter acesso facilitado a armamentos, inclusive a alguns de
maior calibre, e a poder comprar munições em maior quantidade. Regras específicas sobre ampliação do
acesso a armas e da quantidade de munições que podem ser adquiridas por determinadas categorias, em
especial os chamados CACs – colecionadores, atiradores e caçadores –, também foram flexibilizadas.
Mecanismos de controle de armas e munições, como as marcações, que possibilitavam rastreamento
desses produtos, deixaram de existir.
Atlas da Violência 2020.
Um publicitário paulistano resolveu adquirir uma arma depois de ficar refém, com a família, em um assalto
dentro de casa. O tio dele, empresário, passou a usar carro blindado após ter sido baleado em uma tentativa
de assalto. “A gente tenta se proteger da forma que pode, até onde nosso dinheiro alcança”, disse ele.
Internet: <www1.folha.uol.com.br> (com adaptações).
Dono de pizzaria reage a assalto e mata criminosos na Zona Norte de São Paulo
Um homem e um adolescente foram baleados em Pirituba após cometerem crime. Comerciante é atirador
esportivo e possui porte de arma.
Dois assaltantes foram mortos após serem baleados pelo dono de uma pizzaria que reagiu a um assalto na
madrugada desta quarta-feira (20) em Pirituba, na Zona Norte de São Paulo.
Os bandidos chegaram a pé e anunciaram o assalto. No entanto, eles foram surpreendidos pelo dono do
estabelecimento que possui posse de arma.
O primeiro foi atingido, correu e caiu na frente do local e morreu. O outro assaltante, um adolescente de 15
anos, foi socorrido e morreu no hospital.
As cápsulas dos tiros ficaram espalhadas pelo chão. Com os criminosos foram encontrados um celular
roubado, relógio, dinheiro e duas armas falsas.
Uma pistola .40, que pertence ao dono da pizzaria, que é atirador esportivo, também foi apreendida. A arma
é legalizada e a documentação foi apresentada na delegacia.
Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2021/01/20/dono-de-pizzaria-reage-a-assalto-e-mata-
criminosos-na-zona-norte-de-sp.ghtml. Acesso em 21 de janeiro de 2021.
Motivado pela leitura dos textos anteriores, redija um texto dissertativo que responda, de forma
fundamentada, ao seguinte questionamento:
Proposta de solução
Tema 21
Considerando que o fragmento de texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo acerca do seguinte tema:
O CERCO ÀS ARMAS COMO ESTRATÉGIA DE COMBATE À VIOLÊNCIA
Ao elaborar seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes aspectos:
Percepções diversas acerca das armas, de instrumento de proteção a símbolo de morte e destruição.
[valor: 5,40 pontos]
Efeito educativo pretendido com a proibição da venda de armas de brinquedo. [valor: 3,50 pontos]
Limitações de uma medida legal como a proibição de venda de armas de brinquedo. [valor: 3,50 pontos]
Proposta de solução
Pontos Semânticos:
Tópico 1: percepções diversas acerca das armas, de instrumento de proteção a símbolo
de morte e destruição;
Tópico 2: efeito educativo pretendido com a proibição da venda de armas de
brinquedo;
Tópico 3: limitações de uma medida legal como a proibição de venda de armas de
brinquedo.
O entendimento acerca da influência das armas na sociedade divide opiniões. Enquanto
há um grupo que defende a ampliação do acesso às armas como forma de proporcionar ao
próprio cidadão o direito de se defender, há um grupo de posicionamento antagônico, o qual
preconiza que mais armas significam, necessariamente, mais mortes. [Tópico 1]
O primeiro grupo entende que o desarmamento estimula a violência, haja vista que os
criminosos, cientes de que a população estará indefesa, lançam-se com maior destemor ao
cometimento de delitos. Para eles, a restrição do acesso às armas só prejudica o cidadão, visto
que os criminosos, por óbvio, não respeitam os limites para a posse e o porte de armas
estabelecido pelo Estatuto do Desarmamento. [Tópico 1]
Noutro giro, o grupo antagônico defende que estimular a aquisição de armas pela
população irá levar a sociedade ao colapso, visto que questões banais podem culminar em
mortes pelo fato de os indivíduos estarem armados. Outrossim, argumentam que as estatísticas
demonstram a expressiva redução na taxa de homicídios decorrente das restrições impostas
pelo Estatuto do Desarmamento. [Tópico 1]
Tema 22
Autoral
“O TSH – Tráfico de Seres Humanos é um atentado contra a humanidade, consubstanciado em uma
agressão inominável aos direitos humanos, porque explora a pessoa, limita sua liberdade, despreza sua
honra, afronta sua dignidade, ameaça e subtrai a sua vida.
[...]
Crime multifacetado, o TSH advém de uma multiplicidade de questões, realidades e desigualdades sociais.
Quase sempre, a vítima se encontra fragilizada por sua condição social, tornando-se alvo fácil para a cadeia
criminosa de traficantes que a ludibria com o imaginário de uma vida melhor. Aproveitando-se de sua
situação de vulnerabilidade e da ilusão de um mundo menos cruel, transforma a vítima em verdadeira
mercadoria. A crise mundial, causa do aprofundamento da pobreza e das desigualdades, cria espaços para
o fomento das mais diversas formas de exploração mediante o comércio de seres humanos.”.
Brasil. Secretaria Nacional de Justiça. Tráfico de pessoas: uma abordagem para os direitos humanos / Secretaria Nacional
de Justiça, Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação; organização de Fernanda Alves dos Anjos ... [et
al.]. – 1.ed. Brasília: Ministério da Justiça, 2013.” Disponível em: http://www.justica.gov.br/sua-protecao/trafico-de-
pessoas/publicacoes/anexos/cartilha_traficodepessoas_uma_abordadem_direitos_humanos.pdf. Acesso: 01 de fevereiro
de 2019.
A Polícia Federal foi convidada pela Interpol para sediar e coordenar, este ano, uma ação em conjunto com
mais de 20 países contra o tráfico de pessoas, dentro de um projeto multinacional de combate às
organizações criminosas transnacionais que se dedicam a essa atividade ilícita.
O convite ganhou força após o desempenho da PF na deflagração da Operação Turquesa, ocorrida em 2019,
que teve escopo internacional e cooperação de diversas nações.
No âmbito da ação, A PF lança hoje, na plataforma de ensino à distância da Academia Nacional de Polícia,
um curso completo de capacitação no enfrentamento ao tráfico de pessoas, de maneira gratuita e aberta a
todos os cidadãos e profissionais de Segurança Pública.
O curso está baseado em dois guias de enfrentamento publicados em conjunto com outras instituições. Um
deles está focado na repressão e persecução penal ao ilícito, com 300 páginas e 600 impressões. Já o outro,
é especializado na indispensável assistência às vítimas.
Tais especializações visam intensificar o combate ao crime de tráfico de pessoas, que tem se intensificado
nos últimos anos. O número de instaurações de inquéritos policiais e investigações sobre o assunto na
PF dobrou nos últimos dois anos.
Nesse período, mais de 180 pessoas foram resgatadas das mãos do tráfico por policias federais. Foram
dezenas de prisões e condenações dos infratores, apesar do alto índice de subnotificações destes crimes.
Como projeto-piloto, que servirá de referência para o restante do país, a PF criará uma operação
permanente em Roraima, o projeto Mitra, com o objetivo de identificar, monitorar e cruzar dados de
possíveis traficantes e coiotes, facilitando suas prisões e impedindo futuras ações.
Há muito o que se fazer e é por isso que a Polícia Federal conta com o apoio da sociedade civil e de outros
órgãos para melhorar cada vez mais sua prestação qualificada no combate ao tráfico de pessoas e
contrabando de migrantes.
Disponível em: https://www.gov.br/pf/pt-br/assuntos/noticias/2020/07-noticias-de-julho-de-
2020/policia-federal-coordenara-acao-internacional-de-repressao-ao-trafico-de-pessoas.
Acesso: 22 de janeiro de 2021.
Considerando que o texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo sobre o
tráfico de pessoas, mencionando, necessariamente os seguintes pontos:
Explique no que consiste o crime de tráfico de pessoas e mencione três das suas características; [valor:
3,50 pontos]
Desafios e principais iniciativas governamentais para o seu enfrentamento; [valor: 5,40 pontos]
Papel da Polícia Federal no enfrentamento do problema. [valor: 3,50 pontos]
Abordagem teórica
Pessoal, como o primeiro tópico questionador tem natureza de tópico introdutório, vou respondê-lo já
na introdução do nosso texto. Neste caso, o primeiro parágrafo funcionará como introdução e resposta ao
primeiro tópico questionador.
1. Aspectos Gerais
O tráfico de pessoas não é um crime particular à sociedade contemporânea. De acordo com GRECO1 (2017,
pg. 703), desde a antiguidade, principalmente nas sociedades grega e, posteriormente, romana, a compra
e venda de pessoas era prática comum, principalmente para efeitos de exploração de sua força laboral, ou
seja, havia, desde aquela época, o comércio de escravos, que eram tratados como meros objetos.
O Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas Contra o Crime Organizado Transacional
relativo à Prevenção, à Repressão e à Punição do Tráfico de Pessoa, em especial Mulheres e Crianças,
também conhecido como Protocolo de Palermo, é o marco legal sobre o tema. Segundo o referido
diploma, ratificado pelo Brasil, essa conduta criminosa pode ser definida como:
O tráfico de pessoas é considerado uma agressão aos direitos humanos, particularmente, à dignidade
humana. Compreende condutas deploráveis, tais como: exploração de trabalho ou serviços forçados,
escravatura ou práticas similares, a servidão por dívida, a exploração sexual e a prostituição forçada, a
remoção de órgãos, o casamento servil, a adoção ilegal.
É, ao mesmo tempo, causa e consequência de graves violações de direitos humanos. É causa porque sua
finalidade é a exploração da pessoa, degradando sua dignidade e retirando seu direito de liberdade. É
consequência porque tem origem na situação de vulnerabilidade decorrente da desigualdade de gênero,
social e econômica, na violência doméstica, na desestrutura familiar, no abuso sexual e na ausência de
perspectivas de profissionalização.
Outrossim, trata-se de atividade criminosa complexa, transnacional, de baixos riscos e altos lucros e que
se manifesta de diferentes maneiras. A capacidade de articulação das organizações criminosas dificulta
1
GRECO, Rogério. Código Penal: comentado / Rogério Greco. – 11. ed. – Niterói, RJ: Impetus, 2017.
sobremaneira o seu enfrentamento, tornando o comércio de humanos o terceiro negócio ilícito mais
rentável no mundo, superado apenas pelo tráfico de drogas e contrabando de armas2.
Estimativas do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) indicam que a exploração
sexual é a forma de tráfico de pessoas com maior frequência (79%), seguida do trabalho forçado (18%),
atingindo, especialmente, crianças, adolescentes e mulheres. O fato é que o tráfico de pessoas não é um
problema só dos países de origem das vítimas, mas também dos de trânsito e de destino, que devem coibir,
principalmente, o consumo de produtos desse crime.
Segundo o CNJ3, há tráfico de pessoas quando a vítima é retirada de seu ambiente e fica com a mobilidade
reduzida, sem liberdade de sair de uma situação de exploração sexual ou laboral ou do confinamento para
remoção de órgãos ou tecidos. A mobilidade reduzida caracteriza-se por ameaças à pessoa ou aos familiares
ou pela retenção de seus documentos, entre outras formas de violência que mantenham a vítima junto ao
traficante ou à rede criminosa.
Os aliciadores são, em grande parte dos casos, pessoas que fazem parte do convívio da vítima ou, até
mesmo, membros da família. Alguns, como forma de conseguir maior credibilidade e despertar o interesse
da vítima, apresentam-se como empresários ou se dizem proprietários de casas de show, bares, falsas
agências de encontros, matrimônios e modelos. Oferecem bons empregos como forma de despertar o
interesse das vítimas, mas essa promessa se revela uma grande armadilha.
De acordo com o CNJ4, no tráfico para trabalho escravo, os aliciadores, denominados de “gatos”,
geralmente fazem propostas de trabalho para pessoas desenvolverem atividades laborais na agricultura ou
pecuária, na construção civil ou em oficinas de costura. Há casos notórios de imigrantes peruanos,
bolivianos e paraguaios aliciados para trabalho análogo ao de escravo em confecções de São Paulo.
Conforme já mencionado, o Brasil é signatário do Protocolo de Palermo, internalizado por meio do Decreto
5.017/2004. De acordo com o art. 5° do referido decreto, o país se comprometeu a criar as infrações penais
correspondentes ao crime de tráfico de pessoas nos termos do protocolo, o que somente veio a acontecer
12 anos depois, com a edição da Lei 13.344/2016, próximo ponto da nossa abordagem.
2. Aspectos Penais
O crime de tráfico de pessoas encontra-se previsto no art. 149-A do Código Penal (CP):
2
Brasil. Secretaria Nacional de Justiça. Tráfico de pessoas: uma abordagem para os direitos humanos / Secretaria Nacional de
Justiça, Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação; organização de Fernanda Alves dos Anjos ... [et al.]. – 1.ed.
Brasília: Ministério da Justiça, 2013. Disponível em: http://www.justica.gov.br/sua-protecao/trafico-de-
pessoas/publicacoes/anexos/cartilha_traficodepessoas_uma_abordadem_direitos_humanos.pdf
3
Disponível em: https://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/assuntos-fundiarios-trabalho-escravo-e-trafico-de-pessoas/trafico-
de-pessoas/. Acesso em:08/01/2020.
4
Disponível em: https://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/assuntos-fundiarios-trabalho-escravo-e-trafico-de-pessoas/trafico-
de-pessoas/. Acesso em:08/01/2020.
Art. 149-A. Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher pessoa, mediante
grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a finalidade de:
I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo;
II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo;
III - submetê-la a qualquer tipo de servidão;
IV - adoção ilegal; ou
V - exploração sexual.
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
§ 1o A pena é aumentada de um terço até a metade se:
I - o crime for cometido por funcionário público no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-
las;
II - o crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou com deficiência;
III - o agente se prevalecer de relações de parentesco, domésticas, de coabitação, de hospitalidade, de
dependência econômica, de autoridade ou de superioridade hierárquica inerente ao exercício de emprego,
cargo ou função; ou
IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território nacional.
§ 2o A pena é reduzida de um a dois terços se o agente for primário e não integrar organização
criminosa.
Anteriormente, o tráfico de pessoas estava topograficamente situado nos arts. 231 e 231-A do CP, contudo
sua aplicação era restrita à finalidade de exploração sexual. Alinhada aos compromissos assumidos pelo
Brasil (Protocolo de Palermo), o referido crime passou a abrigar outras condutas, nos termos previstos pela
Lei 13.344/2016, o que justificou a sua remoção do Título VI - dos crimes contra a dignidade sexual - e
migração para o Capítulo IV do Título I - dos crimes contra a liberdade individual.
Segundo CUNHA5 (2017, p. 225/226), o tipo em análise é de conduta mista, constituído de oito verbos
nucleares (alguns, inclusive, sinônimos), que representam a operação típica, desde o seu princípio com o
aliciamento da vítima, passando pelo seu transporte e acolhimento no local de destino. Nesse sentido,
pune-se o agente que agenciar (negociar, comerciar, servir de agente ou intermediário), aliciar (atrair,
persuadir), recrutar (chamar pessoas), transportar (levar de um lugar para outro), transferir (mudar de um
lugar para outro), comprar (adquirir a preço de dinheiro), alojar (acomodar) ou acolher (receber, aceitar,
abrigar) pessoa.
No que se refere aos meios, esses comportamentos devem ser praticados mediante grave ameaça,
violência, coação, fraude ou abuso.
5
CUNHA. Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte especial (arts. 121 ao 361) / Rogério Sanches Cunha- 9. ed. rev., ampl
e atual.- Salvador: JusPODIVM.2017.
Por fim, deve estar presente a finalidade específica, qual seja, a remoção de órgãos, tecidos ou partes do
corpo, a submissão a trabalho em condições análogas à de escravo e a qualquer tipo de servidão, adoção
ilegal ou exploração sexual.
3. Política de enfrentamento ao tráfico de pessoas
O Brasil estruturou uma Política Nacional para combater esse crime, coordenada de forma tripartite entre
o Ministério da Justiça, a Secretaria de Políticas para as Mulheres e a Secretaria de Direitos Humanos da
Presidência da República.
Na esteira dessa política, foram produzidos os seguintes decretos e demais providências que dela derivam:
Decreto 5.948/2006: aprovou a Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e instituiu
o Grupo de Trabalho Interministerial com o objetivo de elaborar proposta do Plano Nacional de
Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas – PNETP.
Decreto 6.347/2008: aprovou o PNETP e instituiu Grupo Assessor de Avaliação e Disseminação do
referido Plano.
Decreto 7.901/2013: instituiu a Coordenação Tripartite da Política Nacional de Enfrentamento ao
Tráfico de Pessoas e o Comitê Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas - CONATRAP.
A CONATRAP, integrada pelo Ministério da Justiça, pela Secretaria de Políticas para as Mulheres da
Presidência da República e Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, tem como
objetivo, por exemplo: conduzir a construção dos planos nacionais de enfrentamento ao tráfico de pessoas
e coordenar os trabalhos dos respectivos grupos interministeriais de monitoramento e avaliação; mobilizar
redes de atores e parceiros envolvidos no enfrentamento ao tráfico de pessoas e articular ações de
enfrentamento ao tráfico de pessoas com estados, Distrito Federal e municípios e com as organizações
privadas, internacionais e da sociedade civil.
Ainda em 2013, aprovou-se o II PNETP, reforçando compromisso político, ético e técnico do Estado
brasileiro em prevenir e reprimir o crime do tráfico de pessoas e garantir a necessária assistência e proteção
às vítimas, bem como a promoção de seus direitos, de acordo com os compromissos nacionais e
internacionais estabelecidos.
A política, e a sua execução por meio dos Planos Nacionais de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, está
estruturada em três grandes eixos estratégicos, a saber: a) prevenção; b) repressão e responsabilização
dos autores e c) atendimento à vítima. Esse conjunto de ações representa um marco histórico por
reconhecer o fenômeno de tráfico de pessoas como um problema cuja dimensão e gravidade exigem uma
atuação estatal transversalmente articulada com vários ministérios, instituições públicas e sociedade civil.
Por fim, como produtos concretos dessas políticas, houve a criação de Núcleos de Enfretamento ao
Tráfico de Pessoas6, com a finalidade de articular, estruturar e consolidar uma rede interestadual de
referência e atendimento às vítimas do tráfico de pessoas.
Por fim, o Decreto 9.440/2018 aprovou o III Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas
(2018-2022), o qual dá continuidade aos anteriores, assumindo uma importante dimensão de
transversalidade e colaboração, tanto em sua implementação como em seu monitoramento.
4. Desafios
Com a promulgação da Lei 13.344/2016, o crime de tráfico de pessoas, antes diretamente ligado à finalidade
de exploração sexual da vítima, passou a englobar uma série de práticas criminosas (remoção de órgãos,
submissão a trabalho em condições análogas às de escravo ou servidão, adoção ilegal ou exploração sexual).
Isso passou a demandar uma atuação multidisciplinar e coordenada de diversos órgãos, tais como
Auditores e Procuradores do Trabalho, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, entre outros.
Faz-se também necessária uma maior articulação entre sociedade civil e diversos setores do Estado. O
problema deve ser tratado como Política de Estado, haja vista o fato de que o enfrentamento ao tráfico de
pessoas depende de uma grande mobilização da sociedade e das instituições, demandando ações de
cooperação, coordenadas e integradas, de diversas áreas como saúde, justiça, educação, trabalho,
assistência social, turismo, entre outras.
Além disso, com o fenômeno da globalização e com uma maior facilidade para se estabelecerem redes de
comunicação internacionais, facilita-se a livre locomoção das pessoas, bem com a organização e
operacionalização desse crime de caráter transfronteiriço, o que, por certo, dificulta o seu controle e sua
fiscalização e repressão.
Outro desafio é tornar a lei conhecida, assim como ocorreu com a Lei Maria da Penha. É importante que
tanto as autoridades policiais quanto os cidadãos de forma geral conheçam a lei, de maneira que sejam
capazes de identificar as situações de sua ocorrência e para que as potenciais vítimas tenham condições de
se prevenir e não se deixarem ser envolvidas pelas redes de aliciamento.
Também é desafio proporcionar redes de proteção como forma de encorajar às vítimas a denunciarem os
crimes dessa natureza, superando o silêncio e o medo de denunciar. E, por fim, o maior desafio é prover
condições sociais adequadas para superar a situação de vulnerabilidade em que se encontram as vítimas,
evitando que se tornem “presas fáceis” para os aliciadores.
5. Enfrentamento
Sem sombra de dúvida, houve um avanço no enfrentamento ao tráfico de pessoas no Brasil, mas essa
estrutura ainda não é capaz de proporcionar, de forma plena, uma segurança robusta às vítimas (potenciais
6
Segundo informações disponíveis em: https://www.justica.gov.br/sua-protecao/trafico-de-pessoas/redes-de-
enfrentamento/nucleos-de-enfrentamento, atualmente, estão em funcionamento quinze (15) Núcleos.
e efetivas). Por esse motivo, é necessário que o Estado envide providências para o seu enfrentamento. De
forma mais específica, pode-se sugerir a adoção das seguintes medidas:
Ampliação e aperfeiçoamento da atuação da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios
no enfrentamento ao tráfico de pessoas, na prevenção e repressão desse crime, na responsabilização
de seus autores, na atenção e na proteção dos direitos de suas vítimas.
Realização de campanhas informativas e preventivas. É fundamental educar a população para
desconfiar de propostas de emprego fácil e lucrativo. As ações educativas devem enfatizar que, antes
de aceitar qualquer proposta de emprego, é importante ler atentamente o contrato de trabalho,
buscar informações sobre a empresa contratante e, caso haja qualquer desconfiança, procurar auxílio
da área jurídica especializada. A atenção é redobrada em caso de propostas que incluam
deslocamentos, viagens nacionais e internacionais.
Investimento nas operações de inteligência, necessárias para a identificação do funcionamento das
redes de aliciamento de pessoas, dando maior efetividade à atividade repressiva.
Fomento ao processo de articulação, descentralização e participação de todos os segmentos da
sociedade, de forma a estabelecer um pacto federativo entre os distintos poderes e níveis de governo,
torna-se fundamental para que haja um efetivo enfrentamento a esse crime, já que o tráfico de
pessoas é um crime complexo e transnacional. Daí a necessidade de fortalecimento das Redes de
Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, constituídas pelos núcleos já mencionados.
Busca pelo envolvimento e pela atuação coordenada entre diversas instituições, tais como do
Ministério Público, da Defensoria Pública e do Judiciário, dos órgãos de segurança e serviços de
inteligência — nacional e internacional —, dos órgãos envolvidos na cooperação internacional, dos
movimentos sociais, das organizações privadas de defesa dos direitos de grupos vulneráveis ou de
defesa dos direitos humanos etc., com foco no acolhimento das pessoas em situação de tráfico e
sua reinserção na sociedade e no mercado de trabalho7.
Inserção de conteúdos de direitos humanos nas escolas e formação dos educadores para tratamento
de crimes contra a dignidade da pessoa humana.
Estabelecimento de parcerias entre o Estado e a sociedade civil para formação e capacitação sobre
tráfico humano de conselheiros tutelares, policiais, membros do Judiciário e do Ministério Público, das
lideranças comunitárias, profissionais da área de saúde e assistência social, dentre outros8.
7
SOARES, Inês Virgínia Prado. Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas sob a Ótica dos Direitos Humanos no Brasil. Disponível
em:http://www.justica.gov.br/sua-protecao/trafico-de-pessoas/publicacoes/anexos/cartilha_traficodepessoas _uma
abordadem_direitos_humanos.pdf
8
Brasil. Secretaria Nacional de Justiça. Tráfico de pessoas: uma abordagem para os direitos humanos / Secretaria Nacional de
Justiça, Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação; organização de Fernanda Alves dos Anjos ... [et al.]. – 1.ed.
7. Bibliografia
Brasil. Secretaria Nacional de Justiça. Tráfico de pessoas: uma abordagem para os direitos humanos / Secretaria
Nacional de Justiça, Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação; organização de Fernanda Alves
dos Anjos ... [et al.]. – 1.ed. Brasília: Ministério da Justiça, 2013. Disponível em: http://www.justica.gov.br/sua-
protecao/trafico-de-pessoas/publicacoes/anexos/cartilha_traficodepessoas_uma_abordadem_direitos_
humanos.pdf. Organizadores: Daniela Muscari Scacchetti, Fernanda Alves dos Anjos, Gustavo Seferian Scheffer
Machado e Inês Virginia Prado Soares.
CUNHA. Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte especial (arts. 121 ao 361)/ Rogério Sanches Cunha- 9. ed.
rev., ampl e atual.- Salvador: JusPODIVM.2017.
GRECO, Rogério. Código Penal: comentado / Rogério Greco. – 11. ed. – Niterói, RJ: Impetus, 2017.
Tema 23
Considerando que o fragmento de texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo que atenda, necessariamente, ao que se pede a seguir:
Defina o crime de contrabando e indique, em linhas gerais, as circunstâncias que integram esse tipo
penal; [valor:2,40 pontos]
Comente acerca das principais mercadorias e cargas contrabandeadas no território brasileiro; [valor:
2,00 pontos]
Explane a respeito dos problemas decorrentes do contrabando de mercadorias e cargas para a
economia nacional e para a saúde pública; [valor: 4,00 pontos]
Sugira medidas e ações efetivas das forças públicas para o combate ao contrabando de mercadorias e
cargas no país. [valor: 4,00 pontos]
Abordagem teórica
1. Contrabando
As ruas das grandes cidades, atualmente, encontram-se congestionadas pelo comércio ambulante,
geralmente, praticado à margem da lei. Não há garantia sobre a procedência desses produtos, não se sabe
sobre a sua qualidade nem sobre o seu potencial de causar riscos à saúde, mas, em virtude dos preços
inferiores, acabam sendo consumidos em larga escala.
Além dos consumidores, os comerciantes formais, que pagam seus impostos, e adquirem produtos
originais, de qualidade reconhecida e atestada, também são prejudicados pelo comércio ilegal, fruto do
contrabando, haja vista que os produtos por eles comercializados, inevitavelmente, terão preços superiores
aos oriundos do contrabando; o que gera uma concorrência desleal, colocando-os em situação de clara
desvantagem.
Um exemplo claro da relevância dessa situação acontece com os brinquedos: para que sejam regularmente
comercializados, há uma série de normas a serem cumpridas (as NBRs), o cumprimento dessas normas é
verificado por órgãos certificadores acreditados pelo Inmetro e caso aprovados em todos os ensaios esse
brinquedo pode ser comercializado. Assim, ao comprar um brinquedo ilegal, que provavelmente não passou
por esse controle, é possível que se esteja colocando em risco as crianças, expondo-as a, por exemplo,
elementos de elevada toxicidade.
Em razão da gravidade dessa situação, houve a necessidade de criminalizar essa conduta, tipificada no art.
334-A do Código Penal. Acompanhe:
Contrabando
Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proibida:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
§ 1o Incorre na mesma pena quem:
I - pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando;
II - importa ou exporta clandestinamente mercadoria que dependa de registro, análise ou autorização de
órgão público competente;
III - reinsere no território nacional mercadoria brasileira destinada à exportação;
IV - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou
alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira;
V - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira.
§ 2º - Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio
irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências.
Nos termos do que vimos acima, o crime de contrabando pode ser definido como a conduta de exportar
ou importar mercadoria proibida. Pune-se, portanto, importação ou exportação de mercadorias cuja
entrada no país, ou saída dele, é absoluta ou relativamente proibida. Importar tem o sentido de trazer para
dentro do território nacional, ou seja, comercializar, uma mercadoria que se encontrava em outro país.
Exportar significa enviar, comercializar, para outro país mercadoria que se encontrava no território nacional.
Trata-se de norma penal em branco, uma vez que necessita de complementação no sentido de se
estabelecerem quais seriam as mercadorias proibidas. O Governo brasileiro, por intermédio de seus
Ministérios (Fazenda, Agricultura, Saúde etc.), como regra, são os responsáveis por determinar quais as
mercadorias são consideradas proibidas. São exemplos nesse sentido a importação de: cigarros e bebidas
fabricados no Brasil, destinados à venda exclusivamente no exterior; cigarros de marca que não seja
comercializada no país de origem; brinquedos, réplicas e simulacros de armas de fogo, que com estas se
possam confundir; espécies animais da fauna silvestre sem um parecer técnico e licença expedida pelo
Ministério do Meio Ambiente, mercadorias cuja produção tenha violado direito autoral (“pirateadas”) 9,
etc.
O § 1° do art. 344-A relaciona algumas figuras típicas, equiparadas ao crime de contrabando. São elas:
1. Quem pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando: é também norma penal em branco,
cabendo à lei especial indicar qual é o fato assimilado ao contrabando;
2. Aquele que importa ou exporta clandestinamente mercadoria que dependa de registro, análise ou
autorização de órgão público competente: aqui, a mercadoria até é permitida, contudo necessita de
anuência das autoridades nacionais. Um exemplo é a importação de gasolina de países como a
Venezuela, ainda que idêntica à comercializada no país;10
3. Quem reinsere no território nacional mercadoria brasileira destinada à exportação. Exemplo típico
são os cigarros: mesmo se produzidos no país, se destinados à exportação, não poderão ser vendidos
nem expostos à venda no País;
4. Vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou
alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira
5. Aquele que adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade
comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira.
O bem jurídico protegido é a Administração Pública, especialmente à proteção da saúde, da moralidade
administrativa, do meio ambiente e da ordem pública, como corolário da proibição no território nacional
9
GRECO, Rogério. Código Penal: comentado / Rogério Greco. – 11. ed. – Niterói, RJ: Impetus, 2017.
10
AgRg no AREsp 348.048/PR.
da mercadoria importada ou exportada. Outrossim, importante mencionar que o delito de contrabando tem
natureza residual, ou seja, somente restará caracterizado se a importação ou exportação de mercadoria
proibida não configurar crime específico. Exemplo: se a mercadoria for qualquer tipo de droga, configurar-
se-á o crime previsto no art. 33, caput da Lei 11.343/2006 (Lei de Drogas); raciocínio análogo se for arma de
fogo, hipótese em que se deve recorrer o estatuto do desarmamento.
De acordo com o estudo do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (Idesf),11 o
produto mais contrabandeado é o cigarro (67,44%), vindo principalmente do Paraguai. Isso se justifica pelos
impostos baixíssimos do país, favorecendo a sua produção, e, noutro extremo, a alta carga tributária
brasileira sobre esse produto, tornando esse negócio extremamente lucrativo. Ainda segundo o Idesf, a
lucratividade do cigarro contrabando do Paraguai e vendido no Brasil pode atingir 231,15%12.
Segundo A Folha de São Paulo, metade dos cigarros vendidos hoje no país têm origem no contrabando. O
fabricado aqui paga, em média, 71% de imposto, e não pode ser vendido por menos de R$ 5. Já o paraguaio
custa metade do preço. A tributação em seu país de origem é de 16%, a mais baixa do mundo.13
Entram também nessa lista, sequencialmente, materiais eletrônicos (15,42%), de informática (5.04%),
vestuário (3,03%), perfumes (2,45%), relógios (2,03%), brinquedos (1,89%), óculos (1,5%), medicamentos
(0,85%) e bebidas (0,35%).
11
Disponível em: http://www.etco.org.br/16/wp-content/uploads/O-CUSTO-DO-CONTRABANDO.pdf. Acesso em 01 de julho de
2020.
12
Disponível em: http://www.idesf.org.br/2019/09/25/idesf-apresenta-dados-do-contrabando-em-reuniao-do-gsi-em-foz-do-
iguacu/. Acesso em 01 de julho de 2020.
13
Disponível em: https://temas.folha.uol.com.br/contrabando-no-brasil/uma-muralha-da-china-por-ano/brasil-perde-r-146-3-
bilhoes-para-o-mercado-informal.shtml. Acesso em 01 de julho de 2020.
Segundo Levantamento feito pelo Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP), em 2019, o
Brasil perdeu R$ 291,4 bilhões de reais para o mercado ilegal. Esse valor é composto pela perda dos setores
industriais e a estimativa dos impostos que deixaram de ser arrecadados em função dessa ilegalidade. Em
2018, esse número foi de R$ 193,1 bilhões e em 2017, R$ 146 bilhões.14
O cigarro, setor mais afetado pelo contrabando, por exemplo, perdeu R$ 15,9 bilhões em 2019. Em 2018
foram R$ 14,4 bilhões.
Uma estimativa da Aliança Latino Americana de Contrabando (ALAC) também aponta que, em média, o
mercado ilegal corresponda a 2% do PIB dos países latino-americanos. No Brasil, segundo a FNCP, esse
percentual está, no mínimo, em 7,85%.
Como se viu, a prática do contrabando gera elevados prejuízos à economia nacional, tendo em vista a
elevada evasão fiscal. Essa evasão implica a redução da capacidade do Governo em investir em saúde,
educação, segurança, etc. Além disso, devido à concorrência desleal, há impactos negativos também para
a indústria, com o fechamento das unidades fabris, fechamento de postos de empregos e o
enfraquecimento da capacidade de investimento privado no país, promovendo, por conseguinte, perda de
empregos formais, aumento do desemprego e a substituição dos empregos formais pelos informais.
Uma outra faceta negativa é a exposição a riscos à saúde, uma vez que se desconhece a qualidade desses
produtos. Não se tem nenhuma clareza sobre se tais produtos foram submetidos a exames e ensaios com o
objetivo de verificar a inexistência de impactos do seu consumo/manuseio à saúde humana, muito menos
se cumpriram-se os requisitos estabelecidos pelas entidades reguladoras nacionais (Anvisa, Inmetro,
Anatel, entre outros). Esse problema é bastante crítico em mercadorias como cigarros, bebidas alcóolicas,
brinquedos e medicamentos.
Segundo pesquisa realizada em 2013 pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), foram
encontrados insetos, areia, terra, pelos, coliformes fecais, plásticos e fungos em cinco marcas de cigarros
frequentemente contrabandeadas para o Brasil. Além disso, em 65% das marcas pesquisadas, foram
observadas elevadas concentrações de elementos químicos como níquel, cádmio, cromo e chumbo e o
dobro da concentração média de arsênio encontrado em cigarros legais 15.
O grande volume comercializado assegura alta rentabilidade ao mercado ilegal. Não à toa, o contrabando
é apenas uma de várias atividades desenvolvidas por redes criminosas organizadas, como tráfico de drogas
e armas e lavagem de dinheiro. O risco é relativamente baixo: além das brechas fronteiriças e da fiscalização
falha em pontos de venda, as penas são mais brandas do que as aplicadas para outros crimes praticados por
estas organizações. Assim, o mercado ilegal de cigarros também contribui para o aumento da violência e da
14
Disponível em: http://www.fncp.org.br/forum/release/292. Acesso em 25 de janeiro de 2021.
15
Disponível em: http://www.souzacruz.com.br/group/sites/SOU_AG6LVH.nsf/vwPagesWebLive/DO9YDBCE#:~:text=O%
20contrabando%20%C3%A9%20um%20problema,mas%2C%20sim%2C%20o%20contrabando. Acesso em 01 de julho de 2020.
criminalidade, não apenas nas regiões de entrada das cargas contrabandeadas, como nas de todos os
pontos de abastecimento.
Num país de dimensões continentais como o Brasil, combater o crime de contrabando, certamente, não é
uma missão fácil. Contudo, caso o combate a esse crime seja escolhido como prioridade, certamente, é
possível que se reduzam os seus impactos danosos sobre a sociedade. Isso é possível por meio da adoção
de medidas no sentido de reforçar a segurança nas fronteiras, por meio da maior quantidade de agentes
dedicados à fiscalização, uso mais intenso de recursos tecnológicos e ampliação das ações de inteligência.
Visto ser esse um problema transfronteiriço, é também desejável a realização de operações integradas com
os países de origem das mercadorias ilegais, de modo a tornar mais efetiva a sua repressão.
Entendo que essa breve revisão é suficiente para resolver à questão. Mãos à obra.
Tema 24
Conforme detalhou a titular da Delegacia de Defesa Institucional (Delinst) da PF, delegada Juliana Sá, os
criminosos agem sobre o anonimato da internet. No entanto, através das denúncias, os investigadores
conseguem rastrear os endereços dos IPs dos computadores e assim chegar aos envolvidos.
Na 'Operação Darknet', deflagrada em 18 estados brasileiros, por exemplo, os policiais federais chegaram
aos acusados após identificar os IPs de computadores utilizados para compartilhar imagens de sexo
explícito envolvendo crianças e adolescentes. Um cearense foi preso em flagrante pela PF, acusado de
abusar sexualmente de duas crianças, gravar as violências e divulgar vídeos e fotos na internet. Ele foi
condenado a mais 56 anos de prisão por pedofilia.
Virtual
"As imagens descobertas pela polícia eram terríveis. Tinham crianças amarradas, dopadas e até cenas de
sexo explícito com um bebê. Para conseguirmos chegar aos alvos, foi preciso um trabalho minucioso, pois
eles mantinham as imagens em um espaço virtual abaixo ainda mais anônimo. Mas conseguimos deflagrar
as operações utilizando métodos investigativos com tecnologia mais avançada", comentou a delegada.
Para a titular da Delinst, o aumento das operações e, consequentemente, das prisões no Ceará é um
resultado de capacitações realizadas na área investigativa. "Assim como os criminosos usam de artimanhas
avançadas para realizar os crimes virtuais, nós (Polícia Federal) também temos nos capacitados mais nessa
área. Com isso, estamos conseguindo dar andamento aos inquéritos, deflagrar mais operações e chegar aos
alvos", afirmou a investigadora.
A delegada Juliana Sá revela que, na maioria dos casos, os criminosos são do sexo masculino, com idades
entre 20 e 50 anos, e que possuem habilidade com computadores e informática. Embora as investigações
apontem para um tipo específico de suspeito, o perfil dos agressores pode ser bastante diversificado. Nas
ações da PF no Ceará, já foram identificados policiais, universitários, funcionários públicos e até religiosos
consumindo materiais pornográficos envolvendo crianças.
"Geralmente, os acusados são homens, que têm bom conhecimento em sistemas de informática, para
conseguirem armazenar os vídeos em locais de difícil acesso. São pessoas que não levantam muitas
suspeitas, que tentam ganhar a confiança das famílias e assim conseguem se aproximar das crianças. Eu
diria que os agressores não têm classe social, cor ou crença definidos", explicou a delegada.
Punição
A investigadora federal diz que os casos devem ser denunciados para que a PF chegue aos envolvidos. As
pessoas que recebem vídeos através das redes sociais também devem denunciar, mesmo que não
conheçam os autores ou as vítimas. Quem mantiver material de pornografia infantil, seja no celular ou
computador, também estará passível de punição.
"Não só a produção, mas também o consumo de vídeo ou foto é crime. Não adianta tentar compartilhar um
vídeo de abuso contra criança através das redes sociais para que se chegue ao culpado, como é comum
verificarmos na internet. Isso acaba expondo as vítimas e é crime. Recebeu um vídeo? Então apague
imediatamente e denuncie", reiterou a delegada Juliana Sá.
Além da Polícia Federal, as denúncias podem ser realizadas através da Secretaria de Direitos Humanos
(SDH), por meio do Disque 100, ou pelo site da ONG Safernet Brasil. A Delegacia da Criança e do
Adolescente (DCA) da Polícia Civil também investiga casos de pornografia infantil, no entanto, os dados
tabulados de vítimas e prisões não foram repassados à reportagem.
Disponível em: https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2018/02/15/brasil-e-o-segundo-
pais-no-mundo-com-maior-numero-de-crimes-ciberneticos.htm?cmpid=copiaecola. Acesso
em: 19/07/2020. (com adaptações)
Os gigantes americanos Amazon, Apple, Facebook, Google e Microsoft apresentaram nesta quinta-feira
(11), juntamente com outras empresas da Internet, um plano para combater a pedofilia online.
Reunidas na ‘Tech Coalition’, essas empresas concordam em financiar um “fundo multimilionário de
pesquisa e inovação para criar instrumentos tecnológicos para prevenir e trabalhar de maneira mais eficaz
para erradicar a exploração e o abuso sexual de crianças online”, de acordo com um anúncio feito em um
blog dessa coalizão.
A organização também publicará um relatório anual sobre os esforços realizados e anunciou a criação de
um “fórum anual” sobre esse flagelo.
“Os projetos de pesquisa serão conduzidos independentemente da Tech Coalition e de seus membros e
incluirão estudos-piloto sobre questões como a evolução das ameaças, a eficácia das intervenções de
conscientização e dissuasão e como melhorar o trabalho dos moderadores”, de acordo com a organização.
Esse novo plano “nos ajudará a compartilhar os avanços, as lições e os principais instrumentos do
ecossistema digital. Nenhuma empresa pode combater esse problema sozinha”, afirmou Kent Walker,
funcionário do Google, citado no comunicado.
“O Facebook tem orgulho de contribuir para essa iniciativa, que, esperamos, trará mudanças reais para
garantir a segurança das crianças”, disse Sheryl Sandberg, CEO do Facebook.
A Tech Coalition nasceu há 15 anos para coordenar a implementação de instrumentos de moderação
tecnológica em grandes plataformas digitais: principalmente, sistemas de reconhecimento automatizado
de imagens de pornografia infantil.
Apesar das regras estritas contra o conteúdo que sexualiza ou explora menores, as redes sociais voltadas
principalmente para jovens, como Snapchat, TikTok, YouTube e Instagram, costumam ser alvo de críticas
por não proteger suficientemente os menores contra abusadores para evitar escândalos e a fuga de
anunciantes.
https://www.istoedinheiro.com.br/gigantes-da-internet-aliados-na-luta-contra-a-pedofilia/
(com adaptações)
A partir das ideias dos textos precedentes, que têm caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo acerca do seguinte tema:
A PROTEÇÃO DA CRIANÇA NUM CONTEXTO DE ESCALADA DOS CRIMES VIRTUAIS
Em seu texto, aborde, necessariamente
a) o advento da internet e o reflexo sobre a pornografia infantil; [valor: 4,40 pontos]
b) a garantia da proteção da criança; [valor: 4,00 pontos]
c) o combate à pornografia infantil virtual. [valor: 4,00 pontos]
Abordagem teórica
São inegáveis os ganhos proporcionados pelo advento da internet. Com a sua difusão, quase tudo no mundo
foi modificado: trabalho, lazer, aprendizado, vida social etc.
Não obstante as inúmeras facilidades que apresentou, vieram também muitos problemas e desafios e um
deles refere-se à pornografia infantil.
Não é que a internet criou o crime. Ela apenas proporcionou ferramentas que facilitam a prospecção,
abordagem e aproximação das crianças e que aumentaram a exposição das suas intimidades. À medida que
o uso da Internet se dissemina, os riscos de crianças serem expostas a material de cunho sexual ou de serem
vítimas de abordagem por parte de pedófilos e pornógrafos infantis também cresce.
Com a possibilidade do anonimato e da criação de perfis falsos, facilitou-se a dissimulação e tornou-se mais
fácil enganar as crianças. Essas pessoas podem se passar por jovens ou crianças da mesma idade para atrair
o interesse com assuntos que agradam suas vítimas potenciais, as quais, muitas vezes, são facilmente
induzidos a se identificar com promessas vantajosas e acabam cedendo aos pedidos do abusador.
Interessante notar também que as informações deixadas pelos indivíduos na internet (blogs, sites ou redes
sociais) podem ser utilizadas para entender sobre os gostos e fragilidades das vítimas.
Além disso, o conteúdo produzido pode se espalhar com enorme velocidade e sem barreiras físicas,
podendo transitar entre países em segundos, o que dificulta o controle e a punição dos infratores.
Vejamos o que consta na cartilha " Navegar com Segurança "16, organizada pela Childhood Brasil17:
No ambiente virtual, a violência sexual se manifesta principalmente na forma do abuso online e da
pornografia. [...]
O abuso online é a manifestação do abuso sexual por meio da internet. O abusador muitas vezes age de
forma sedutora, conquistando a confiança das crianças e dos adolescentes. Ele pode acontecer de
diversas maneiras e chegar ou não ao contato pessoal, embora o desejo desse encontro sempre exista.
Em alguns casos, porém, o encontro pessoal pode terminar em violência física ou sexual.
A conquista da confiança pode ocorrer por meio de uma tática conhecida como grooming, em que o
contato é constante e desenvolvido ao longo do tempo. Elogiar, oferecer presentes, chantagear e até
16
Com adaptações. Navegar com segurança: por uma infância conectada e livre de violência sexual. -- 3. ed. -- São Paulo:
CENPEC: Childhood Instituto. WCF Brasil, 2012.
Disponível em: https://new.safernet.org.br/sites/default/files/content_files/navegue_com_seguranca.pdf. Acesso em: 18 de julho de
2020.
17
A Childhood Brasil é uma organização brasileira que faz parte da World Childhood Foundation (Childhood), instituição
internacional criada em 1999 por Sua Majestade Rainha Silvia da Suécia para proteger a infância e garantir que as crianças sejam
crianças.
intimidar são verbos que fazem parte do cotidiano do abusador. A criança costuma ficar impotente diante
de um abusador, que tem a capacidade de anular sua capacidade de decisão, sugerindo um pacto de
silêncio ou até fazendo ameaças. [...]
Pornografia infantojuvenil é uma forma de exploração sexual definida pela produção, utilização, exibição,
comercialização de material (fotos, vídeos, desenhos etc.) com cenas de sexo explícito envolvendo
crianças e adolescentes ou com conotação sexual das partes genitais de uma criança. A pornografia
infantil é um comércio criminoso e rentável, que deve ser denunciado.
Ela alimenta os “clubes de abusadores”, que podem adquirir fotos ou vídeos contendo pornografia infantil,
ou “contratar” serviços de exploradores sexuais no turismo ou mesmo efetivar o tráfico de crianças e
adolescentes e aliciá-los para práticas de abuso sexual.
A pornografia infantil virtual acabou se tornando um mercado pelo seu elevado potencial de lucro. As
pessoas que "consomem" esse tipo de conteúdo organizam-se em "clubes" ou comunidades, onde podem
negociar o material, contratar exploradores sexuais ou traficantes de pessoas.
Vejamos agora alguns dados para dar a dimensão do problema, retirados do sítio da Safernet 18. Em 2018,
contabilizaram-se 133.732 queixas de delitos virtuais. Entre essas, em primeiro lugar, respondendo por
quase metade das ocorrências, encontra-se a pornografia Infantil com 60.002 denúncias. O segundo
colocado, a apologia e incitação a crimes contra a vida, vem bem distante com 27.716 denúncias. Ainda
segundo o Safernet:
Em 14 anos, a Central de Denúncias recebeu e processou 1.661.110 denúncias anônimas de Pornografia
Infantil envolvendo 383.646 páginas (URLs) distintas (das quais 282.336 foram removidas) escritas em 10
idiomas e hospedadas em 53.265 domínios diferentes, de 247 diferentes TLDs e conectados à Internet
através de 58.340 números IPs distintos, atribuídos para 100 países em 6 continentes. As denúncias foram
registradas pela população através dos 3 hotlines brasileiros que integram a Central Nacional de
Denúncias de Crimes Cibernéticos.
Acerca desse assunto, é importante saber que essas práticas constituem crimes. De acordo com o Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA):
Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo
explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente: (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
§ 1° Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita, recruta, coage, ou de qualquer modo intermedeia
a participação de criança ou adolescente nas cenas referidas no caput deste artigo, ou ainda quem com
esses contracena.
18
A SaferNet Brasil é uma associação civil de direito privado responsável por uma central on-line que registra denúncias de crimes
virtuais.
[...]
Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo
explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: (Redação dada pela Lei nº 11.829, de
2008)
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer
meio, inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que
contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: (Incluído pela Lei
nº 11.829, de 2008)
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) [...]
Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de
registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou
adolescente: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008)
Assim, percebe-se que até mesmo armazenar fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha
cena de sexo explícito ou pornográfica constitui crime. Esse rigor justifica-se pela regra da proteção integral,
conforme veremos no item seguinte.
2. Proteção da criança e do adolescente pelo Estado
A doutrina da proteção integral é o que caracteriza o tratamento jurídico dispensado pelo direito brasileiro
a crianças e adolescentes, cujos fundamentos encontram-se no próprio texto constitucional, em
documentos e tratados internacionais e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Senão, vejamos:
CF/1988, art. 227: “ É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao
jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão”
ECA, art.3º “A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana,
sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios,
todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral,
espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade”.
Decreto 99.710/199019, art. 3º, 2: “Os Estados Partes se comprometem a assegurar à criança a proteção e
o cuidado que sejam necessários para seu bem-estar, levando em consideração os direitos e deveres de
19
A Convenção sobre os Direitos da Criança foi adotada pela Assembleia Geral da ONU em 20 de novembro de 1989.
Internamente, entrou em vigor para o Brasil em outubro de 1990 e foi promulgada em novembro de 1990 por meio do Decreto
99.710/1990.
seus pais, tutores ou outras pessoas responsáveis por ela perante a lei e, com essa finalidade, tomarão
todas as medidas legislativas e administrativas adequadas.”
Essa doutrina exige que os direitos humanos de crianças e adolescentes sejam respeitados e garantidos de
forma integral e integrada, mediante a operacionalização de políticas de natureza universal, protetiva e
socioeducativa.
Segundo Rossato, Lépore e Cunha20 (2010, p.79): “Não implica, a proteção integral, em mera proteção a todo
custo, mas sim, na consideração de serem a criança e o adolescente sujeitos de direito, devendo as
políticas públicas contemplar essa situação, proporcionando o reequilíbrio existente pela condição de serem
pessoas em desenvolvimento, o que deverá ser levado em consideração na interpretação do Estatuto”.
Assim, segundo o princípio da proteção integral, a criança e o adolescente devem gozar de proteção do
Estado. Particularmente, a definição do adolescente como a pessoa entre 12 a 18 anos incompletos implica
a incidência de um sistema de justiça especializado para responder a infrações penais quando o autor é
adolescente. A imposição das medidas socioeducativas, e não das penas criminais, relaciona-se justamente
com a finalidade pedagógica que o sistema deve alcançar, e decorre do reconhecimento da condição
peculiar de desenvolvimento em que se encontra o adolescente.
3. O combate à pornografia infantil virtual
Podemos atribuir a responsabilidade pelo combate à pornografia infantil virtual a diversos atores.
1. Pais e educadores: devem entender o problema e tomar as medidas para evitar que aconteça. Devem
orientar e estimular o diálogo e criar um ambiente de confiança, o qual permitirá que a criança procure
apoio em situações de dúvida e medo.
Atualmente, há diversas ferramentas tecnológicas que podem ajudar os pais a controlarem a
navegação dos filhos na internet. Nesse sentido, são exemplos as ferramentas que limitam o acesso a
páginas de conteúdo sensível ou que permitem controlar que tipo de sites as crianças acessam e em
qual horário isso ocorreu. Empresas como o YouTube e Netflix disponibilizam configurações especiais
para o público infantil. Ainda, é importante verificar configurações de privacidade de redes sociais
para que não se forneçam informações como a localização da residência, por exemplo.
Importante também instruir os filhos a não divulgarem dados pessoais, telefone, fotografia ou
quaisquer outras informações que possam facilitar a abordagem ou servir como objeto de chantagem
pelo criminoso.
Ao perceber indícios de que a criança está sendo vítima, é necessário denunciar à polícia, Disque 100,
Ministério Público, Conselho Tutelar ou pelo sítio da ONG Safernet para que se tomem as providências
cabíveis.
20
ROSSATO, Luciano Alves; LÉPORE, Paulo Eduardo; CUNHA, Rogério Sanches. Estatuto da criança e do adolescente comentado.
Lei 8.069/1990 – Artigo por artigo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.
Quanto às escolas, são também válidas a discussão do tema, campanhas de mobilização e outras
ferramentas para esclarecimento do tema.
2. Empresas de tecnologia: as empresas de tecnologia que operacionalizam as plataformas digitais
onde esses crimes ocorrem devem implantar mecanismos de controle capazes de identificar e sua
ocorrência e evitar sua concretização. Outrossim, devem também fortalecer os sistemas de segurança
de modo a tornar os computadores mais robustos à invasão de hackers.
3. Segurança Pública: os diversos órgãos que militam na área (polícias, MP, Judiciário) devem dar a
necessária ênfase a esse crime. À polícia cabe envidar esforços nas investigações para identificar a
ação de criminosos e desarticular as organizações envolvidas nesse negócio. Haja vista a
complexidade inerente a esse crime, pois que ocorre no meio virtual, é necessário que as forças
policiais sejam adequadamente treinadas e aparelhadas para que consigam competir em igualdade
de condições com os criminosos.
Além disso, considerando a relevância qualitativa e quantitativa desses crimes, também é importante
a criação de delegacias especializadas em investigações de crimes cibernéticos. Pela
transnacionalidade desses crimes, pode-se sugerir a criação de protocolos de cooperação com
Estados estrangeiros, objetivando coordenar ações, facilitar a transferência de informações e a
identificação e responsabilização dos infratores.
Tema 25
Autoral
Operação Luz da Infância prende 27 por exploração infantil na internet
Ação envolve investigações em quatro outros países, além do Brasil
Vinte e sete pessoas foram presas nas ações da Operação Luz da Infância 7, deflagrada hoje (6) pelo
Ministério da Justiça (MJ) e polícias civis de 10 estados. Segundo o MJ, 10 delas foram em São Paulo; oito
em Santa Catarina; três no Pará; e três no Paraná. Alagoas, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul contabilizam
até o momento uma prisão, cada.
A Operação Luz da Infância 7 foi deflagrada com o objetivo de identificar autores de crimes de abuso e
exploração sexual contra crianças e adolescentes praticados na internet no Brasil e em quatro outros países.
No Brasil, a legislação prevê pena que varia de um a quatro anos para quem armazena esse tipo de conteúdo.
O compartilhamento de materiais desse tipo pode resultar em penas de três a seis anos; e, no caso de
produção de conteúdo relacionado a crimes de exploração sexual, a pena varia de quatro a oito anos de
prisão.
A operação cumpre 137 mandados de busca e apreensão em dez estados (AL, CE, GO, MT, PA, PR, RJ, RS,
SC e SP). Há também frentes de ações na Argentina, Panamá, Paraguai e Estados Unidos. Segundo o MJ,
nos EUA há medidas sendo cumpridas nas cidades de Knoxville, Nashville, Dallas, Raleigh e Pittsburgh.
Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2020-11/operacao-
luz-da-infancia-prende-27-por-exploracao-infantil-na-internet. Acesso em: 26 de
janeiro de 2021.
A partir da leitura dos textos de motivadores, redija um texto dissertativo sobre o tema:
A VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA MULHERES E CRIANÇAS: FERIDA ABERTA NO SEIO DA
SOCIEDADE
a) desafios relacionados à violência sexual a serem considerados pelas organizações policiais; [valor: 4,40
pontos]
b) a violência sexual contra crianças e adolescentes como grave problema social; [valor: 4,00 pontos]
c) papel da polícia no enfrentamento do problema da violência sexual contra crianças e adolescentes. [valor:
4,00 pontos]
Abordagem teórica
1. Violência Sexual
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), violência sexual é “todo ato sexual, tentativa de
consumar um ato sexual ou insinuações sexuais indesejadas; ou ações para comercializar ou usar de
qualquer outro modo a sexualidade de uma pessoa por meio da coerção por outra pessoa,
independentemente da relação desta com a vítima, em qualquer âmbito, incluindo o lar e o local de
trabalho”21.
Segundo a OMS, a coerção pode ocorrer de diversas formas e por meio de diferentes graus de força,
intimidação psicológica, extorsão e ameaças. A violência sexual também pode acontecer se a pessoa não
estiver em condições de dar seu consentimento, em caso de estar sob efeito do álcool e outras drogas,
dormindo ou mentalmente incapacitada, entre outros casos 22.
O termo violência sexual abrange diferentes formas de agressão, que ferem a dignidade e liberdade sexual
de uma pessoa, tais como assédio, exploração sexual e estupro.
O assédio é, nos termos do Código Penal, art. 216-A: " constranger alguém com o intuito de obter vantagem
ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência
inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função."
A exploração sexual, modalidade em que se visa obter proveito financeiro à custa de outrem, também
prevista em diversos artigos do CP, consiste em práticas como "induzir ou atrair alguém à prostituição ou
outra forma de exploração sexual, facilitá-la, impedir ou dificultar que alguém a abandone", "Manter, por conta
21
Disponível: https://nacoesunidas.org/oms-aborda-consequencias-da-violencia-sexual-para-saude-das-mulheres/. Acesso em: 22 de janeiro
de 2020.
22
Disponível: https://nacoesunidas.org/oms-aborda-consequencias-da-violencia-sexual-para-saude-das-mulheres/ Acesso em: 22 de janeiro
de 2020.
própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou
mediação direta do proprietário ou gerente”, além do tráfico de pessoas e outras condutas".
Recentemente, em 2018, foi integrada ao Código Penal Brasileiro a Lei 13.718/2018, a qual passou a tipificar
como crime: importunação sexual; divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerável,
de cena de sexo ou de pornografia; estupro corretivo. A lei ainda tornou a pena mais rígida nos casos de
crimes sexuais contra vulnerável e estabeleceu causas de aumento de pena para esses crimes, bem como
no caso de estupro coletivo e estupro corretivo. Reforçou-se, pois, o arcabouço normativo como forma de
combater as diversas formas de violência sexual.
Tratemos agora sobre o estupro23, modalidade de violência mais brutal e também mais conhecida. O
trauma decorrente dessa violência deixa sequelas físicas e psíquicas nos atingidos. Sobre o primeiro
aspecto, mencionam-se as lesões nos órgãos genitais, contusões e fraturas, alterações gastrointestinais,
infecções do trato reprodutivo, gravidez indesejada e a contração de doenças sexualmente transmissíveis.
Sob o ponto de vista psicológico, o estupro pode resultar em diversos transtornos, tais como depressão,
fobias, ansiedade, uso de drogas ilícitas, disfunção sexual, ansiedade, transtornos alimentares, tentativas
de suicídio e síndrome de estresse pós-traumático.
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2020, em 2019, registraram-se 66.123 estupros e
estupros de vulneráveis (1 estupro a cada 8 minutos). Além disso, 85,7% delas são do sexo feminino24, o
que coloca a desigualdade entre os gêneros como uma das razões da violência sexual. Apesar de não ser
insignificante o quantitativo de vítimas do sexo masculino, pode-se dizer que o sistema atual perpetua a
violência contra a mulher e culpabiliza as vítimas do sexo feminino. O ainda existente ideal passivo feminino,
no qual espera-se submissão e recatamento, tem legitimado agressões àquelas que não se adequarem a
esse padrão. Basta ver que, segundo pesquisa realizada pelo Datafolha 25, 42% dos brasileiros do sexo
masculino acreditam que as mulheres que se dão ao respeito não são estupradas, o que denota uma
distorção conceitual acerca do real responsável pelo ato criminoso.
Nessa linha, segundo a pesquisa "A Polícia Precisa Falar Sobre Estupro - Percepção sobre violência sexual e
atendimento a mulheres vítimas nas instituições policiais ", a culpabilização pela violência sofrida é uma
23
Código Penal. Estupro
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se
pratique outro ato libidinoso: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 1° Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: (Incluído
pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 2° Se da conduta resulta morte: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
24
Disponível: http://www.forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2017/01/FBSP_Policia_precisa_falar_estupro_2016.pdf Acesso em: 22
de janeiro de 2020.
25
Disponível: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-09/onu-mulheres-brasil-diz-que-pesquisa-sobre-estupro-reflete-
estagnacao. Acesso em: 22 de janeiro de 2021.
reação frequente relatada pelas mulheres, até mesmo quando recebem atendimento nos serviços de
justiça, segurança e saúde.
Pelas suas características, os crimes de violência sexual representam um desafio às autoridades: quando o
suspeito é uma pessoa conhecida, não é trivial a obtenção de provas irrefutáveis do não consentimento;
quando o perpetrador é um estranho, a dificuldade geralmente está em identificar e encontrar o autor.
Além disso, o trauma e a vergonha podem inibir a realização da denúncia imediatamente após a ocorrência.
Adicione-se a esse rol, a dificuldade em apontar o perpetrador quando se trata de uma pessoa da família ou
conhecida, bem como o medo de retaliação por parte desta. Não se pode ignorar o fato de que, em relação
ao vínculo com o abusador, 84,1% dos casos o autor era conhecido da vítima (parentes, companheiros,
amigos e outros), resultado que se aproxima ao de pesquisas de vitimização já produzidas 26.
Outro desafio é o elevado risco de revitimização durante os procedimentos legais - humilhação, julgamento
moral, procedimentos de coleta de provas, exposição à imprensa -, que expõem o corpo violado da vítima a
novas intervenções. Trata-se de um fenômeno causador de sofrimento entre as vítimas de crimes, oriundo
do fato de as vítimas reviverem, recordarem e exporem, às vezes publicamente, o fato violento. Isso ocorre
em função do próprio sistema judiciário e da persecução penal, o qual exige, por exemplo, a oitiva da vítima.
A elevada subnotificação, que decorre de todos esses fatores, é revelada pelo seguinte dado: de acordo
com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, no Brasil, apenas 7,5% das vítimas de violência
apresentam o caso à polícia.
Outro desafio é a criação de delegacias especializadas para lidar com esses casos. Contudo, mais
importante, é romper a invisibilidade do problema e fazer desse um tema transversal em todas as
corporações policiais, em todos os níveis de atendimento. Os profissionais envolvidos na investigação
precisam estar preparados para lidar com esses casos em qualquer delegacia, visto que, ainda que haja uma
ampla cobertura territorial pelas delegacias especializadas, haverá casos em que não será possível dispor
desse atendimento.
Outrossim, é necessário que cada policial conheça as especificidades dos crimes de violência sexual,
conheça em detalhes a legislação, de modo que seja capaz de identificar quando configurado algum crime,
tenha conhecimento e sensibilidade para dar o acolhimento e saiba o encaminhamento necessário para
cada caso.
É preciso rever os currículos policiais e reformulá-los também a partir da igualdade de gênero. É preciso
motivar policiais a acolher mulheres vítimas de violência sexual, reconhecer a validade dos relatos de vítimas
de estupro e valorizar a autonomia da mulher e o direito ao seu corpo. Os operadores da segurança pública
e do sistema de justiça criminal devem ser protagonistas na garantia e na promoção da igualdade entre
homens e mulheres – inclusive dentro das corporações.
26
Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2019.
Como de costume, guarde alguns dados apresentados pela pesquisa "A Polícia precisa falar sobre estupro:
percepção sobre violência sexual e atendimento a mulheres vítimas de estupro nas instituições
policiais"27, os quais poderão lhe auxiliar no momento da sua prova:
27
http://www.forumseguranca.org.br/publicacoes/a-policia-precisa-falar-sobre-estupro-percepcao-sobre-violencia-sexual-e-atendimento-a-
mulheres-vitimas-de-estupro-nas-instituicoes-policiais/
28
TIC Kids Online, 2018.
29
Disponível: https://www.childhood.org.br/nossa-causa. Acesso em: 22 de janeiro de 2020.
30
A Childhood Brasil é uma organização brasileira e faz parte da World Childhood Foundation, instituição internacional criada em 1999 por
Sua Majestade Rainha Silvia da Suécia para proteger a infância e garantir que as crianças sejam crianças. No Brasil, a organização influencia
políticas públicas e privadas e estimula a sociedade civil a olhar para a questão da violência sexual contra crianças e adolescentes.
adultos. Pode acontecer por meio de ameaça física e/ou verbal, ou por sedução. Na maioria dos casos, é
cometido por pessoa conhecida da criança ou adolescente, em geral, um familiar.
O abuso sexual compreende práticas como carícias nos órgãos genitais, tentativas de relações sexuais,
masturbação e à prática de relações sexuais. Não se requer, contudo, a ocorrência de contato físico, pois
também são formas de abuso as carícias, falas erotizadas, exibicionismo, voyeurismo (prazer em olhar),
exibição de material pornográfico, entre outros.
Também segundo Fundação Childhood Brasil, a exploração sexual é caracterizada pela relação sexual de
uma criança ou adolescente com adultos, mediada pelo pagamento em dinheiro ou qualquer outro
benefício (favores ou presentes). Nesse contexto, crianças e adolescentes são tratados como objetos
sexuais ou como mercadorias.
A exploração sexual de crianças e adolescentes acontece em diferentes contextos:
Na atividade sexual agenciada, quando há a intermediação por uma ou mais pessoas ou serviços.
No primeiro caso as pessoas são chamadas rufiões, cafetões e cafetinas e, no segundo, os serviços
são normalmente conhecidos como bordéis, serviços de acompanhamento, clubes noturnos.
Na atividade sexual não-agenciada, na qual a prática de atos sexuais realizada por crianças e
adolescentes mediante pagamento ou troca de um bem, droga ou serviço.
No tráfico para fins de exploração sexual: é a prática que envolve cooptação e/ou aliciamento,
rapto, intercâmbio, transferência e hospedagem da pessoa recrutada para essa finalidade. O mais
recorrente é que o tráfico para fins de exploração sexual ocorra de forma disfarçada por agências de
modelos, turismo, trabalho internacional, namoro-matrimônio, e, mais raramente, por agências de
adoção internacional.
Na pornografia, quando há produção, utilização, exibição, comercialização de material (fotos,
vídeos, desenhos) com cenas de sexo explícito envolvendo crianças e adolescentes ou imagem, com
conotação sexual, das partes genitais de uma criança.
No turismo com motivação sexual.
No contexto das rodovias. Segundo apurado pela PRF, entre 2019 e 2020, apuraram-se 3.651
pontos vulneráveis nas rodovias federais brasileiras. São pontos vulneráveis os locais que
apresentem algum risco aos jovens que vivem ou passam pela região, tais como postos de
combustíveis, bares, casas de show, pontos de alimentação e pontos de hospedagem.
De acordo com a Lei 13.431/2018, inclui-se nas formas de violência sexual contra crianças o tráfico de
pessoas, entendido como o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento da
criança ou do adolescente, dentro do território nacional ou para o estrangeiro, com o fim de exploração
sexual, mediante ameaça, uso de força ou outra forma de coação, rapto, fraude, engano, abuso de
autoridade, aproveitamento de situação de vulnerabilidade ou entrega ou aceitação de pagamento, entre
os casos previstos na legislação.
31
Em vigor desde 4 de abril de 2018, a Lei 13431 estipula que todas as delegacias de polícia precisam ter um serviço especializado ao fazer
oitivas de crianças e adolescentes.
Tema 26
“Milhares de mulheres entraram na justiça do DF com medidas protetivas, desde que a Lei Maria da Penha
entrou em vigor, em setembro de 2006. A maioria se refere a proibições judiciais de contato pelos companheiros
e ex-companheiros. Esses pedidos vieram de mulheres que moram em Brasília (região que inclui, além do Plano
Piloto, o Lago Sul e o Lago Norte, o Varjão e a Estrutural) e localidades circunvizinhas. A grande maioria das
ações acolhidas pelo Tribunal de Justiça do DF com base na Lei Maria da Penha têm-se relacionado à ingestão
de álcool e são feitas contra ex-companheiros das mulheres agredidas. Em 2018, o número de inquéritos abertos
na Delegacia da Mulher do DF cresceu 86% em relação às 1.677 denúncias feitas no ano anterior. Isso não
32
Disponível em: https://www.gov.br/prf/pt-br/noticias/nacionais/prf-lanca-mapear-2019-2020-para-enfrentamento-a-esca.
Acesso em 26 de janeiro de 2021.
33
Pontos vulneráveis são os que possuem ALGUMAS características que propiciam condições favoráveis à exploração sexual de
crianças e adolescentes.
34
Pontos críticos são os que possuem TODAS as condições para que nele ocorra a exploração sexual de crianças e adolescentes.
significa que a prática do crime tenha aumentado, mas sim que as mulheres estão denunciando as agressões
com maior frequência”.
Correio Braziliense (com adaptações).
“Uma ligação anônima ajudou a esclarecer as circunstâncias da morte da auxiliar de serviços gerais Pedrolina
Silva, 50 anos. Segundo a pessoa que acionou a PCDF, João Marcos Vassalo da Silva Pereira, 20, teria dito a
diversas pessoas no Paranoá Parque, condomínio em que os dois moravam, que se a mulher “não for minha,
não será de mais ninguém”.
https://www.metropoles.com/violencia-contra-a-mulher/se-nao-for-
minha-nao-sera-de-mais-ninguem-teria-dito-assassino-de-pedrolina
“A Lei Maria da Penha apresenta cinco tipos de atitudes violentas contra as mulheres: física, psicológica, sexual,
patrimonial e moral. A violência física é representada por ações como tapas, empurrões, socos, mordidas,
chutes, queimaduras, cortes, estrangulamento, lesões por armas ou objetos etc. A violência psicológica inclui
ações como insultos constantes, humilhação, desvalorização, chantagem, isolamento de amigos e familiares,
ridicularização, rechaço, manipulação afetiva, exploração e negligência.
A violência sexual é a ação cometida para obrigar a mulher, por meio da força física, coerção ou intimidação
psicológica, a ter relações sexuais ou presenciar práticas sexuais contra a sua vontade. Já a violência patrimonial
ocorre quando o agressor retém, subtrai, ou destrói os bens pessoais da vítima, seus instrumentos de trabalho,
documentos e valores. Por fim, a violência moral ocorre quando a mulher sofre com qualquer conduta que
configure calúnia, difamação ou injúria praticada por seu agressor”.
https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/entenda-a-violencia/o-
tipo-de-violencia-sofrida
Considerando que o fragmento de texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo acerca do seguinte tema.
A PERSISTÊNCIA DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
Ao elaborar seu texto, aborde os seguintes aspectos:
1 aponte uma causa da violência contra a mulher; [valor: 4,40 pontos]
2 barreiras para a superação do problema; [valor: 4,00 pontos]
3 o dever do Estado de garantir a segurança dos cidadãos, em especial a das mulheres. [valor: 4,00 pontos]
Abordagem teórica
Importante notar que já há, inquestionavelmente, um problema e, mais do que isso, que esse perdura. Com
isso, a proposta de intervenção social torna-se essencial, independente de constar expressamente do
enunciado. Se algo negativo subsiste, concorda que está implícita a exigência de reflexão em torno de uma
alternativa para sua resolução desse problema? Daí a importância de que seja apresentada uma ou mais
propostas de intervenção.
1. Introdução
A Convenção de Belém do Pará, define violência contra a mulher como “qualquer ato ou conduta baseada
no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera
pública como na esfera privada” (Capítulo I, Artigo 1º). Ampliando o escopo, a Lei Maria da Penha
(11.340/2006) apresenta mais duas formas de violência - moral e patrimonial -, que, somadas às violências
física, sexual e psicológica, totalizam as cinco formas de violência doméstica e familiar reconhecidas
legalmente no Brasil.
A violência contra a mulher não é um fato novo. É fenômeno global e ocorre em qualquer camada social e
independe de condição socioeconômica e/ou grau de instrução dos envolvidos.
Apesar de não ser novo, o debate mais aprofundado sobre a violência contra a mulher, no país, é algo
recente. Nos últimos 15 anos, houve a consolidação do arcabouço legal destinado ao enfrentamento dos
diferentes tipos de violência contra a mulher, a exemplo da Lei Maria da Penha, das alterações no Código
Penal referentes ao crime de estupro (2009) e ao crime de feminicídio35 (2015), e, por fim, da recente lei de
importunação sexual (2018).
Apesar dos significativos avanços registrados nos campos político, legal e social, as mudanças para que as
mulheres possam viver sem violência ainda ocorrem de forma lenta. Os dados são preocupantes: conforme
apurou a pesquisa Violência doméstica e familiar contra a mulher – 201736, realizada pelo Instituto
DataSenado, do Senado Federal, quase uma em cada três mulheres já foi vítima de algum tipo de violência
doméstica.
Segundo o Atlas da Violência de 201937, houve também um crescimento dos homicídios femininos no Brasil
em 2017, com cerca de 13 assassinatos por dia. Ao todo, 4.936 mulheres foram mortas, o maior número
registrado desde 2007. Esse dado compõe o crescimento expressivo de 30,7% no número de homicídios de
mulheres no país durante a década 2007-2017.
Com relação aos agressores, há reconhecimento na literatura internacional de que a significativa maioria
das mortes violentas intencionais que ocorrem dentro das residências são perpetradas por conhecidos ou
íntimos das vítimas. A principal causa apontada é o inconformismo do homem com o término do
relacionamento.
35
A Lei 13.104/2015 altera o Código Penal para prever o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio, e o
inclui no rol dos crimes hediondos. O feminicídio, então, passa a ser entendido como homicídio qualificado contra as mulheres
“por razões da condição de sexo feminino”.
36
Disponível em: https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/entenda-a-violencia/muitas-mulheres-ainda-sofrem-violencia-
no-brasil
37
Atlas da violência 2019. Organizadores: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada; Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Brasília: Rio de Janeiro: São Paulo: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada; Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Disponível
em: http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatorio_institucional/190605_atlas_da_violencia_ 2019.pdf.
38
Sentimento de aversão, repulsa ou desprezo pelas mulheres e valores femininos.
Nesse contexto, alguns dados são capazes de dar a profundidade desse problema. Por mais surreal que
pareça, um em cada três brasileiros acredita que, nos casos de estupro, a culpa é da mulher (!!!), de
acordo com pesquisa Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e
divulgada em 201639. Segundo o levantamento, 33,3% da população brasileira acredita que a vítima é
culpada. O mais incrível é que esse dado inclui as mulheres, principais vítimas desse crime. Entre elas, 32%
acredita que, nos casos de estupro, a culpa é da mulher. Entre os homens, esse número é de 42%. E mais,
segundo a mesma pesquisa, para 30% dos homens, a mulher que usa roupas provocativas não pode
reclamar se for estuprada.
Há também razões ligadas à dependência financeira, pois, caso o agressor seja preso, pode-se perder a
principal fonte de renda da família. Nesse sentido, a denúncia pode significar não ter recursos para sua
sobrevivência e da sua família.
A violência contra a mulher é assunto complexo e, como tal, exige atuação em diversas frentes. Sob o ponto
de vista educacional, é preciso inibir o reforço a estereótipos que impõem a linguagem da violência contra
a mulher como algo normal na nossa sociedade, investindo em projetos socioeducativos direcionados à
valorização e à proteção da figura da mulher.
Além disso, é necessário que haja o encorajamento para que haja a denúncia em caso de agressão. Nessa
seara, é imprescindível que o Estado entenda e exerça o seu papel como protagonista desse processo. Isso
envolve a necessidade de serem providas tanto a infraestrutura física quanto o suporte emocional e familiar
para que as vítimas se sintam suficientemente seguras para denunciar. Enquanto medidas efetivas não
forem suficientemente adotadas pelo Estado, as iniciativas que incentivem as vítimas a denunciarem
restarão frustradas.
A proteção a ser implementada pelo Estado deve ser ainda mais intensa uma vez havida a denúncia. Nesse
âmbito, destacam-se as medidas protetivas de urgência constantes da Lei Maria da Penha40, propostas
39
Disponível em: http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2016/09/um-em-cada-3-brasileiros-culpa-vitima-em-casos-de-
estupro-diz-datafolha.html. Acesso em 06 de janeiro de 2020.
40
São medidas protetivas de urgência, previstas nos arts. 22 a 24 da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha - LMP):
Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de
imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras:
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei nº 10.826, de
22 de dezembro de 2003;
II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;
III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor;
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação;
c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida;
IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço
similar;
V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.
Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas:
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de proteção ou de atendimento;
com o fito de neutralizar o poder de ação do autor da violência, além de medidas severas caso o ofensor as
descumpra.
Para isso, é fundamental o fortalecimento da repressão aos atos de violência, intensificando a fiscalização
do cumprimento das medidas impostas, bem como dotar de maior agilidade os procedimentos
administrativos e judiciais, contendo de forma oportuna a violência e as ameaças e evitando que elas
redundem em morte.
Agora, apresentemos alguns dados acerca do cometimento desse crime. Segundo pesquisa quantitativa
elaborada pelo FBSP e pelo Instituto Datafolha41:
• De acordo com o ABSP/2020, houve, em 2019, 266.310 registros de lesão corporal dolosa em
decorrência de violência doméstica42, o que significou um aumento de 5,2% em relação ao ano
anterior.
• 27,4% das mulheres reportaram ter sofrido algum tipo de violência ou agressão nos últimos doze meses
(aproximadamente 1 em 4);
• O autor da violência contra a mulher é normalmente alguém próximo da vítima: 76,4% das mulheres
indicaram que o agressor era um conhecido, aumento de 25% em relação à pesquisa realizada em
2017. Dentre os vínculos mais citados destaca-se namorado/cônjuge /companheiro como o principal
perpetrador, com 23,8% (aumento de 23%), ex-namorados e ex-companheiros com 15,2% e vizinhos
com 21,1%;
• A maioria das mulheres continua sendo vítima de violência dentro de casa (42%), e apenas 10% relatam
ter buscado uma delegacia da mulher após o episódio mais grave de violência sofrida no último ano.
II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo domicílio, após afastamento do agressor;
III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos;
IV - determinar a separação de corpos.
Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou daqueles de propriedade particular da mulher, o juiz
poderá determinar, liminarmente, as seguintes medidas, entre outras:
I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida;
II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra, venda e locação de propriedade em comum, salvo
expressa autorização judicial;
III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor;
IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e danos materiais decorrentes da prática de violência
doméstica e familiar contra a ofendida.
41
http://www.forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2019/02/relatorio-pesquisa-2019-v6.pdf. Acesso em: 06 de janeiro
de 2020
42
A lesão corporal dolosa praticada em contexto doméstico refere-se a todo ato de violência física praticado contra a mulher no
ambiente familiar.
43
Disponível em: http://www.forumseguranca.org.br/publicacoes/visivel-e-invisivel-a-vitimizacao-de-mulheres-no-brasil-2-
edicao/. Acesso em: 26 de janeiro de 2021.
Tema 27
Inédita
“Trata-se de um crime de ódio. O conceito surgiu na década de 1970 com o fim de reconhecer e dar
visibilidade à discriminação, opressão, desigualdade e violência sistemática contra as mulheres, que, em sua
forma mais aguda, culmina na morte. Essa forma de assassinato não constitui um evento isolado e nem
repentino ou inesperado; ao contrário, faz parte de um processo contínuo de violências, cujas raízes
misóginas caracterizam o uso de violência extrema. Inclui uma vasta gama de abusos, desde verbais, físicos
e sexuais, como o estupro, e diversas formas de mutilação e de barbárie.”
Eleonora Menicucci, ministra-chefe da Secretaria de Políticas para as Mulheres da
Presidência (Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República).
Disponível em: https://guiadoestudante.abril.com.br/ blog/atualidades-vestibular/entenda-a-lei-
do-feminicidio-e-por-que-e-importante/. Acesso em: 13/01/2019.
A partir das ideias do texto precedente, que tem caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo
acerca do seguinte tema:
FEMINICÍDIO: PROBLEMA SOCIAL A SER ENFRENTADO NO BRASIL
Em seu texto, aborde, necessariamente:
a) o feminicídio como problema social; [valor: 4,00 pontos]
b) o feminicídio como expressão da desigualdade de gênero; [valor: 4,40 pontos]
c) ações do Estado para o seu enfrentamento. [valor: 4,00 pontos]
Abordagem teórica
1. Introdução
A violência contra a mulher não é um fato novo e as mortes violentas de mulheres por razões de gênero são
fenômeno global. Sabe-se que muitas dessas mortes ocorrem com a tolerância das sociedades e governos,
encobertas por costumes e tradições, revestidas de naturalidade, justificadas como práticas pedagógicas,
seja no exercício de direito tradicional – que atribui aos homens a punição das mulheres da família – seja na
forma de tratar as mulheres como objetos sexuais e descartáveis 44.
Não há riqueza de dados sobre o assunto, mas é possível afirmar que muitas mulheres morrem em razão
de seu gênero, ou seja, em decorrência da desigualdade de poder que a coloca em situação de maior
vulnerabilidade e risco social nas diferentes relações de que participam.
44
Diretrizes nacionais feminicídio: Investigar, processar e julgar. Disponível em: http://www.onumulheres.org.br/wp-
content/uploads/2016/04/diretrizes_feminicidio_FINAL.pdf
A atuação de movimentos de mulheres e feministas contribuiu para que o tema da violência contra as
mulheres entrasse na pauta do direito internacional dos direitos humanos, contribuindo para que se
desencadeasse uma agenda para dar visibilidade às diferentes formas de expressão da violência baseada no
gênero.
Localmente, como expressão desses movimentos, destaca-se a Convenção Interamericana para Prevenir,
Punir e Erradicar a violência contra a Mulher, também conhecida como Convenção de Belém do Pará de
1994, importante elemento de pressão sobre as autoridades públicas no sentido de promover mudanças
legislativas como parte de medidas capazes de enfrentar o problema da violência doméstica e familiar,
situações em que as mulheres são as principais vítimas.
Como forma de responder a esses anseios, entre outras medidas, o Poder Público manifestou-se e, por meio
da edição da Lei nº 13.104/2015, promoveu a alteração do Código Penal, passando a prever o feminicídio
como circunstância qualificadora do crime de homicídio 45, incluindo-o, também, no rol dos crimes
hediondos.
Feita essa abordagem inicial, passemos aos aspectos penais referentes ao feminicídio.
2. Aspectos Penais
Homicídio simples
Art. 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
[...]
Homicídio qualificado
§ 2° Se o homicídio é cometido:
[...]
Feminicídio
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:
[...]
§ 2°-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:
I - violência doméstica e familiar;
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
[...]
Aumento de pena
§ 7° A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado:
45
Antes da lei 13.104/15, esta forma do crime já qualificava o homicídio, mas pela torpeza, sendo igualmente rotulada como
hedionda. A mudança, portanto, foi meramente topográfica, migrando o comportamento delituoso do art. 121, § 2°, l, para o
mesmo parágrafo, mas no inciso VI. A virtude dessa alteração está na simbologia, isto é, no alerta que se faz da necessidade de
se coibir com mais rigor a violência contra a mulher em razão da condição do sexo feminino.
Como primeiro ponto, deve-se observar, entretanto, que não é pelo fato de uma mulher figurar como sujeito
passivo do delito tipificado no art. 121 do Código Penal que já estará caracterizado o delito qualificado, ou
seja, o feminicídio. A incidência da qualificadora reclama situação de violência praticada contra a mulher
“por razões da condição de sexo feminino”.
Matar mulher, na unidade doméstica e familiar (ou em qualquer ambiente ou relação), sem menosprezo ou
discriminação à condição de mulher é denominado femicídio. Se a conduta do agente é movida pelo
menosprezo ou discriminação à condição de mulher, aí sim temos femiNIcídio.
Portanto, para caracterizar a qualificadora do feminicídio, deve-se atentar para especial motivação que
move a conduta contra o sujeito passivo: a condição de mulher.
Para facilitar o entendimento, vejamos um exemplo retirado de “Dizer o Direito”: duas irmãs, que vivem na
mesma casa, disputam a herança do pai falecido; determinado dia, uma delas invade o quarto da outra e a
mata para ficar com a totalidade dos bens para si; esse crime foi praticado com violência doméstica, já que
envolveu duas pessoas que tinham relação íntima de afeto, mas não será feminicídio porque não foi um
homicídio baseado no gênero (não houve violência de gênero, menosprezo à condição de mulher), tendo a
motivação do delito sido meramente patrimonial.
Outro exemplo: dois funcionários, Pedro e Marta, concorrem a uma promoção. A chefia decide promover
Marta. Pedro indignado decide matá-la. Ao ser interrogado, ele argumenta que estaria disposto a matar
qualquer um que fosse promovido em seu lugar. Nesse caso, novamente, teríamos um femicídio. Situação
seria bem diferente se ele tivesse dito que “nunca aceitaria ser preterido por uma mulher, ser, que, por sua
natureza, é inferior ao homem”. Aí, nesse caso, tudo indicaria ser hipótese de femiNIcídio.
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2020, em 2019, foram 3.730 homicídios (contra
4.340 em 2018), mas foram e 1.326 feminicídios, o que significou um crescimento de 7,1% em relação ao
ano anterior (1.229 em 2018). Importante conhecer também os seguintes dados, extraídos do Anuário:
Desde que a Lei nº 13.104/2015 entrou em vigor, os casos de feminicídio subiram 43%.
O perfil de raça/cor das vítimas revela a maior vulnerabilidade das mulheres negras: elas são 66,6%
das vítimas, contra 33,1% de brancas e 0,3% amarelas.
O feminicídio é observado em todas as faixas etárias, mas é significativamente maior entre mulheres
em idade reprodutiva: 28,2% das vítimas tinham entre 20 e 29 anos, 29,8% tinham entre 30 e 39
anos e 18,5% tinham entre 40 e 49 anos quando foram mortas.
Nos casos onde a informação está disponível, pode-se observar que 58,9% dos feminicídios têm como
local de ocorrência uma residência e que, em 89,9% dos casos o autor do crime é um companheiro ou
ex-companheiro da vítima.
4. Feminicídio como problema social
Um problema social é uma condição social que afeta determinados segmentos da sociedade e que, se não
corrigidos, podem repercutir de forma negativa perante a sociedade. Pelos impactos que produz, pode-se
falar que o feminicídio é um problema social, principalmente, pelas vítimas indiretas desse crime.
Em média, como foi visto, mais de 1.000 mulheres são vítimas de feminicídio anualmente. Além desse
impacto direto, há um efeito multiplicador devastador sobre as famílias.
Considerando que, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 88,8% das vítimas foram
assassinadas pelos próprios companheiros ou ex-companheiros e que 58% têm entre 20 e 39, há grandes
chances de que essas mulheres sejam mães com filhos menores e que o autor seja o próprio pai. Assim, além
de o crime gerar órfãos de mãe, há grande chance de que os pais dessas crianças estejam eventualmente
desaparecidos ou presos.
Isso tem consequências materiais evidentes, pela perda do suporte financeiro, mas, sobretudo,
psicológicas, pelos traumas provocados e pela falta de suporte emocional, situação que se agrava,
principalmente, quando os filhos testemunham as cenas de violência e morte.
Além disso, propaga um modelo de família calcada na violência, naturalizando esse tipo de comportamento
e estimulando a perpetuação desses papéis nos núcleos familiares que os filhos vierem a constituir
futuramente.
Segundo matéria disponível no Portal G146:
O psicólogo Guilherme Fagundes afirma que o tratamento para crianças que presenciaram a violência de
forma extrema precisa ser minucioso e paciente. A possibilidade desse trauma trazer consequências até a
vida adulta é muito grande:
"Uma criança ou adolescente que vem dessa realidade precisa criar um propósito para conseguir lidar com
as adversidades no futuro. Jovens que conheceram um ambiente hostil têm grandes chances de crescer
com crenças limitantes e isso impacta em dois pontos: primeiro, eles tendem a não acreditar que sua
história pode ser melhor que a da própria família, e segundo, jovens costumam repetir o comportamento
violento dos pais em momentos de pressão ao longo da vida."
46
Disponível em: https://g1.globo.com/ms/mato-grosso-do-sul/noticia/2019/06/17/filhos-do-feminicidio-em-ms-a-dor-de-
criancas-e-adultos-com-familias-destruidas-pela-violencia-domestica.ghtml. Acesso em: 04.07.2020.
Guilherme explica que a culpa é outro fator que pesa no psicológico de crianças que vivem situações de
violência doméstica.
"Como dependem dos pais na primeira infância, as crianças os veem como heróis. Quando o pai é violento,
essa imagem é arranhada e por não entender a razão dele agir assim, a criança traz a culpa para si, sente
que sua presença atrapalha. Imagine a proporção desse sentimento quando a briga termina com a morte
da mãe."
Segundo o psicólogo, a postura de Glauco com as filhas está correta. Tanto para meninas quanto meninos,
a necessidade de encontrar segurança após uma ruptura dessa magnitude é constante para que possam,
dentro do possível, minimizar o trauma na vida adulta.
"Essa criança vai precisar encontrar novos padrões, como um modelo de homem que não seja violento e um
contexto positivo de família, para que no futuro ela sinta confiança na construção de sua própria família",
conclui.
Apesar dos significativos avanços registrados nos campos político, legal e social, as mudanças para que as
mulheres possam viver sem violência ainda ocorrem de forma lenta. Reconhecidamente, trata-se de
problema complexo, com causas relacionadas a aspectos intrínsecos da sociedade, ainda marcada pelo
machismo e patriarcalismo.
O feminicídio é uma expressão da desigualdade de gênero, fruto de construções históricas, culturais,
econômicas, políticas e sociais discriminatórias ainda presentes na sociedade.
Desde os primórdios da humanidade, em regra, as sociedades se desenvolveram sob o patriarcalismo,
estrutura social marcada pelo protagonismo do homem e a submissão da mulher. Caracteriza-se por uma
divisão de papéis: enquanto os de maior importância reservam-se aos homens, os trabalhos considerados
de menor importância, por exemplo os domésticos, reservam-se às mulheres. Integra-se a esse modelo
social a construção do homem como o responsável pelo sustento do lar e a mulher como elemento que
deveria servi-lo, cuidar dos filhos e do marido.
Associados ao patriarcalismo, há também a questão do machismo, visão do homem como superior à
mulher. Ao homem associa-se a força, a brutalidade. À mulher a sensibilidade, fragilidade e passividade.
São conceitos que compõem esse cenário a misoginia e o sexismo. A misoginia, ao "pé da letra", significa
ódio às mulheres ou às mulheres que não se comportam conforme um determinado modelo. Normalmente,
associa-se a um contexto de violência e pode ser percebido em casos em que há mutilações dos órgãos
genitais ou partes do corpo associadas ao feminino. O sexismo pode ser definido como o conjunto de
atitudes discriminatórias que visam a definir os papéis que cada gênero deve exercer, bem como quais usos
e costumes devem ser respeitados por cada sexo, desde a maneira como se veste até o comportamento
sexual adequado. São exemplos desse tipo de comportamento: dizer que as mulheres não sabem dirigir ou
não são boas em matemática e que homens não podem chorar ou brincar com bonecas.
A existência de uma cultura que contém elementos dessa natureza fragiliza a mulher, retira a sua
importância, suprime seus direitos e a torna mais vulnerável. Isso possibilita o surgimento e o
6. Enfrentamento da situação
O estudo Raio X do feminicídio 47 preconiza ser possível evitar a morte se a mulher romper o silêncio e se o
Estado intervier a tempo. Segundo esse estudo, no estado de São Paulo, entre as mulheres que foram
atacadas, apenas 3% tinham medidas protetivas e, das 124 mulheres que foram mortas, só cinco haviam
registrado boletim de ocorrência. Dessa forma, percebe-se que, quando a vítima e o Estado agem, é possível
evitar a morte.
Assim, é fundamental que haja o encorajamento para que aquelas que já tenham sido vítimas de
violência ou estejam na iminência de sê-lo denunciem o agressor, de modo que o Estado possa tomar
medidas destinadas a evitar que a violência e as ameaças, permanentes ou eventuais, redundem em morte.
A denúncia pode acontecer por meio das Defensorias Públicas (algumas possuem núcleos próprios para
isso), dos Ministérios Públicos estaduais, da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, dos Disque-
Denúncias e das Polícias Civil e Militar.
A sociedade também pode atuar nesse sentido. No contexto da violência cometida contra a mulher, há
varias dificuldades para que a vítima denuncie, entre as quais podem ser citadas: a questão familiar, o medo
de que essa violência se repita ou intensifique, o julgamento da sociedade, o constrangimento gerado pela
situação, questões econômicas etc. Nesse sentido, ao presenciarem atos que envolvam a violência contra a
mulher, os cidadãos podem utilizar os diversos canais existentes para realizarem uma denúncia, rompendo
a lógica do "em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher".
Por seu lado, o Estado pode auxiliar utilizando-se das medidas protetivas no âmbito da Lei Maria da Penha
(Lei 11.340/2006), que incluem, por exemplo, o afastamento do agressor do lar ou local de convivência com
a vítima, a fixação de limite mínimo de distância, que o agressor fica proibido de ultrapassar em relação à
vítima etc.
47
Raio X do feminicídio em São Paulo. É possível evitar a morte. Disponível em: http://www.compromissoeatitude.org.br/ wp-
content/uploads/2018/03/RaioXFeminicidio-formato-livreto.pdf
Outra ação é a manutenção, a ampliação e o aprimoramento das redes de apoio à mulher, previstos na
Lei Maria da Penha, notadamente, provendo abrigo em situação de violência, propiciando segurança,
alimentação e repouso para as mulheres e seus filhos, bem como assistência jurídica e psicológica. Por
vezes, a mulher não tem para onde ir e, nessa hora, ter um acolhimento é muito importante. Em outros
casos, as mulheres não estão preparadas naquele momento para registrar um boletim de ocorrência. Então
a existência da rede como um todo é fundamental para que ela seja acolhida e orientada, para que se
fortaleça e, principalmente, não fique só. Assim, é fundamental que a mulher conte com esse suporte do
Estado, especialmente no momento do rompimento do relacionamento, principal motivo de morte de
mulheres no contexto do feminicídio.
São estruturas existentes para dar esse suporte: a Casa da Mulher Brasileira, Casa Abrigo, Centro
Especializado de Atendimento A Mulher – CEAM e os Núcleos de Atendimento à Família e aos Autores de
Violência Doméstica (Nafavds).
Também é importante a realização de campanhas informativas e educativas com o objetivo de disseminar
o respeito às mulheres, a solução pacífica de conflitos e a isonomia entre os gêneros. Um exemplo é a
campanha do CNJ chamada "Sinal Vermelho". Segundo o CNJ48:
O protocolo é, de fato, simples: com um “X” vermelho na palma da mão, que pode ser feito com caneta
ou mesmo um batom, a vítima sinaliza que está em situação de violência. Com o nome e endereço da
mulher em mãos, os atendentes das farmácias e drogarias que aderirem à campanha deverão ligar,
imediatamente, para o 190 e reportar a situação.
Tudo que foi visto até o momento tem caráter preventivo, visando a evitar que a violência culmine em
morte.
Sob o ponto de vista repressivo, é necessário que as investigações desses casos sejam rigorosas e o
Ministério Público e Judiciário façam a sua parte de forma a combater a impunidade. Quando o Estado não
responsabiliza os autores de atos de violência e a sociedade tolera, expressa ou tacitamente, tal violência, a
impunidade não só estimula novos abusos, como também transmite a mensagem de que a violência
masculina contra a mulher é aceitável, ou normal, algo que vai de encontro ao que se pretende, qual seja,
uma mudança cultural.
Tema 28
48
Disponível em: https://www.cnj.jus.br/sinal-vermelho-cnj-lanca-campanha-de-ajuda-a-vitimas-de-violencia-domestica-na-
pandemia/. Acesso em: 17.07.2020.
Denúncias de maus-tratos infringidos a crianças e adolescentes se tornam cada vez mais frequentes no
Brasil. Algumas ganham notoriedade, como o caso de Isabella Nardoni, de 5 anos, Mirella Poliana de
Oliveira, de 11 anos, e Rhuan Maycon, de 9 anos. A primeira, morta pelo pai e a madrasta, foi jogada do 6º
andar do prédio onde passava o fim de semana. A segunda, nas manchetes desta semana, foi assassinada
pela madrasta, que, ao longo de dois meses, a envenenou à prestação. O terceiro foi esquartejado pela mãe
e companheira, depois de ter o pênis decepado.
As tragédias que ganham visibilidade não constituem ponto fora da curva. Ao contrário. Chamam a atenção
para a crescente violência cometida contra parcela da população indefesa, incapaz de exercer a plenitude
dos direitos. Os algozes, na maior parte das vezes, não são inimigos contra os quais se aciona a Justiça na
busca de salvaguarda. São membros da família ou instituições do Estado, negligentes no cumprimento da
Constituição e na efetividade da rede de proteção legal — seja na prevenção às violações, seja na redução
de danos.
Os números divulgados causam indignação. Em 2017, segundo o levantamento mais recente do
Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus), houve 307.367 casos de violência no
Brasil — 126.230 dos quais se referem a menores de idade. É assustador: nada menos de 41%. Em 2018, o
Disque 100 (canal de denúncias do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos) registrou
152.178 ocorrências de agressão contra o público infantojuvenil.
[...]
Com adaptações. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/opiniao/2019/09/12/internas_opiniao,781980/visao-
do-correio-infancia-um-grito-de-socorro.shtml. Acesso em 27 de maio de 2020.
a denúncia e o relato, pois torna a mulher agredida ainda mais vulnerável à violência. Pesquisa revela que,
segundo dados de 2006 a 2010 da Organização Mundial de Saúde, o Brasil está entre os dez países com
maior número de homicídios femininos. Esse dado é ainda mais alarmante quando se verifica que, em mais
de 90% dos casos, o homicídio contra as mulheres é cometido por homens com quem a vítima possuía uma
relação afetiva, com frequência na própria residência das mulheres.
Um dos instrumentos mais importantes para o enfrentamento da violência doméstica e familiar contra as
mulheres é a Lei Maria da Penha - Lei nº 11.340/2006. Esta lei, além de definir e tipificar as formas de
violência contra as mulheres (física, psicológica, sexual, patrimonial e moral), também prevê a criação de
serviços especializados, como os que integram a Rede de Enfrentamento à Violência contra a Mulher,
compostos por instituições de segurança pública, justiça, saúde, e da assistência social.
[...]
Com adaptações. Disponível em http://www.observatoriodegenero.gov.br/menu/areas-tematicas/violencia.
Acesso em 27 de maio de 2020.
Considerando que os fragmentos de texto apresentados têm caráter unicamente motivador, redija um
texto dissertativo acerca da VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA VULNERÁVEIS. No seu texto, aborde,
necessariamente:
a) violência doméstica contra crianças e adolescentes; [valor: 4,40 pontos]
b) violência doméstica contra mulheres; [valor: 4,00 pontos]
c) a pandemia da Covid-19 como circunstância agravadora para as vítimas da violência doméstica. [valor:
4,00 pontos]
Abordagem teórica
49
Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2019/maio/criancas-e-adolescentes-sao-vitimas-em-mais-de-76-mil-
denuncias-recebidas-pelo-disque-100#:~:text=O%20Disque%20100%20(Disque%20Direitos,ter%C3%A7a%2Dfeira%20(14). Acesso em: 13
de junho de 2020.
50
Disponível em: http://www.crianca.mppr.mp.br/2020/05/294/DISQUE-100-Ministerio-da-Mulher-divulga-Relatorio-
2019.html#:~:text=Segundo%20o%20relat%C3%B3rio%2C%20o%20Disque,melhoria%20da%20qualidade%20do%20servi%C3%A7o.
Acesso em: 13 de junho de 2020.
preservar a infância e de se propiciar condições adequadas de desenvolvimento para que essa criança se
torne um adulto plenamente capaz de viver em sociedade.
A violência contra a criança pode ocorrer de diversas formas. A violência física é a face mais evidente. Não
é objetivo aqui se discutir a polêmica da Lei da Palmada. Nosso foco é tratar sobre a violência abusiva,
consistente, desproporcional, que deixa marcas físicas e psicológicas nas crianças e adolescentes.
Além dessa, é muito comum a negligência, a ação e omissão de responsáveis quanto aos cuidados básicos
com a criança: alimentação, escola, atenção, amparo emocional, cuidados médicos, entre outros. A falta de
um suporte adequado provoca prejuízos ao desenvolvimento da criança, sejam eles de ordem afetiva
(carência de afeto, de reconhecimento, de valorização etc.), sejam eles de ordem física.
Também comum é a violência psicológica/emocional. Como se supõe, consiste, por exemplo, em ameaça,
manipulação, humilhação, chantagem e outros instrumentos capazes de levar a criança ou o adolescente a
um quadro de sofrimento.
Não se pode deixar de mencionar a violência sexual, a qual ocorre por meio do abuso sexual ou da
exploração sexual (pornografia infantil, prostituição, turismo sexual, tráfico de pessoas). A violência sexual
é majoritariamente cometida no ambiente doméstico51, o que contribui para sua invisibilidade. Suas
consequências envolvem a transmissão de doenças sexualmente transmissíveis, gravidez e transtornos
psicológicos dos mais variados, os quais podem, inclusive, culminar em suicídio.
De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2019, dos 66.041 casos registrados de violência
sexual, 53,8% foram cometidas contra crianças de até 13 anos. Trata-se de dado estarrecedor e que nos dá
a gravidade do problema a ser enfrentado.
A violência contra a criança e o adolescente é um fenômeno ligado a causas histórico-culturais. Parte da
presunção de que crianças e adolescentes são objeto de dominação do adulto e de que, pela sua condição
de dependência, estão sujeitos a abusos realizados por seus mantenedores.
Essa violência baseia-se numa relação de poder e é justificada muitas vezes com o objetivo de “educar” ou
“corrigir”. Culturalmente, ainda existe a crença de que castigos físicos ou psicológicos fazem parte do
processo de educação.
Nesse contexto, é importante mencionar que o reconhecimento legal da dignidade e vulnerabilidade da
criança e da necessidade de tratamento especial são garantias recentes. Até pouco tempo, crianças eram
vistas como adultos, a infância não existia e o trabalho infantil não era visto como exploração. Além disso,
as crianças eram julgadas como adultos nos crimes que cometiam e o infanticídio não era crime.
Comparando esse panorama com o estágio atual, percebe-se que a legislação evoluiu bastante, mas a
cultura muda de forma muito mais lenta, o que, em parte, contribui para o referido cenário de violência.
51
Segundo Ouvidoria Nacional do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), apresentados
nesta terça-feira na Câmara dos Deputados quase 90% dos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes
são registrados no ambiente familiar.
Pode-se também mencionar como elemento da violência infantil a falta de preparo dos pais para a
paternidade/maternidade. A ausência de um planejamento familiar pode aumentar a probabilidade de
haver, em alguma medida, um sentimento de rejeição dos pais para com a criança, o que aumenta as
chances de violência.
A impunidade é outro fator a ser mencionado. A inocência característica da infância e o fato de essa
violência ser, predominantemente, realizada por quem mantém algum tipo de vínculo com a vítima podem
ser usados como forma de distorcer a realidade ou chantagear a criança para que não relate a ocorrência de
abusos. Não sendo a verdade revelada, não há como haver punição. Contribuem também para a
impunidade o fato de as crianças que relatam essas violências serem frequentemente estigmatizadas ou
desacreditadas e o medo de represália.
Algumas bibliografias sobre o assunto mencionam haver um recorte social na questão. Segundo a
bibliografia de referência52, essa violência seria mais frequente nas classes economicamente mais
desfavorecidas:
" Trata-se de um fenômeno complexo que envolve causas sociais, culturais, ambientais, econômicos e
políticos, aliado a pouca visibilidade, à ilegalidade e à impunidade. Atinge todas as classes sociais e está
também ligada as relações desiguais entre homens e mulheres, adultos e crianças, brancos e negros, ricos
e pobres.
Entretanto, a violência apresenta-se com mais facilidade nas classes economicamente mais
desfavorecidas, devido as condições precárias de sobrevivência, causadas pela má distribuição da renda,
a aceleração do processo de urbanização, a migração, a pobreza e a ineficácia das políticas sociais.
Neste contexto estão inseridas as crianças e os adolescentes como vítimas de uma estrutura econômico-
social de desigualdades, além de serem consideradas como objeto de dominação dos adultos,
contaminados da ideia de fraqueza e inferioridade". (Grifos nossos)
Para finalizar e resumir essa discussão, destaco um excerto de um dos documentos da OMS sobre o
assunto53:
Um fator chave que torna as crianças, e especialmente as meninas, vulneráveis à violência (e que aumenta
a probabilidade de que meninos e homens pratiquem tais violências) é a tolerância social, tanto da
vitimização de meninas quanto da perpetração por parte de meninos e de homens. Esse tipo de abuso ou
exploração é frequentemente percebido como normal e fora do controle das comunidades, o que, ao lado
da vergonha, do medo e da crença de que ninguém pode ajudar, resulta em baixos níveis de denúncia às
52
Ministério dos Direitos Humanos. Secretaria Nacional de Proteção dos Direitos da Criança e Adolescente. Violência contra
Crianças e Adolescentes: Análise de Cenários e Propostas de Políticas Públicas / elaboração de Marcia Teresinha Moreschi –
Documento eletrônico – Brasília: Ministério dos Direitos Humanos, 2018, 494 p. Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-
br/centrais-de-conteudo/crianca-e-adolescente/violencia-contra-criancas-e-adolescentes-analise-de-cenarios-e-propostas-de-
politicas-publicas-2.pdf. Acesso em: 13 de junho de 2020.
53
INSPIRE: sete estratégias para pôr fim à violência contra crianças. Disponível em:
https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/207717/9789241565356-por.pdf?ua=1. Acesso em: 13 de junho de 2020.
autoridades. Além disso, as vítimas muitas vezes são consideradas culpadas pela violência que
sofreram. Essa tolerância da sociedade em relação à violência em geral e, particularmente, à violência
sexual e perpetrada por parceiros íntimos decorre do status inferior de mulheres e crianças em muitas
sociedades, e de normas culturais relacionadas a gênero e masculinidade. Dessa forma, mudanças em
normas sociais relacionadas ao direito dos homens sobre o corpo de meninas e de mulheres – e ao controle
de seu comportamento – são uma estratégia crucial para alcançar equidade de gênero, reduzir a violência
contra meninas, formatar atividades de prevenção e dar atendimento a necessidades específicas de
cuidados e apoio.
2. Violência doméstica contra mulheres
Esse é um tema já debatido em aulas anteriores, por isso iremos tratar de forma mais sucinta e específica
voltada à questão da violência doméstica.
Pode-se afirmar que a violência contra as mulheres possui certas especificidades que a diferenciam da
violência de forma geral. Enquanto os homens têm maior probabilidade de serem vítimas de pessoas com
as quais não há vínculo mais próximo, as mulheres têm maior probabilidade de serem vítimas de membros
de suas próprias famílias ou de seus parceiros íntimos.
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2020:
Foram registrados, em 2020, 3.730 homicídios com vítimas do sexo feminino, sendo 1.326 mortes
consideradas feminicídio54.
Nos casos em que foi possível identificar qual é a relação do autor do feminicídio com a vítima, 89,9%
das vítimas foram assassinadas pelos próprios companheiros ou ex-companheiros.
Além disso, segundo o documento mencionado, nos registros em que é possível identificar onde a mulher
foi assassinada, 58,9% aconteceram na residência, o que remete ao contexto de violência doméstica. Assim,
ocorrem no âmbito de relações das quais se espera segurança e confiança, e que, frequentemente, estão
permeadas por tabus por dizerem respeito à esfera doméstica e familiar. Essa cultura pode ser constatada
a partir de frases cristalizadas no imaginário popular, como: "em briga de marido e mulher, ninguém mete
a colher".
Segundo o Atlas da Violência de 2019:
Apenas em 2017, mais de 221 mil mulheres procuraram delegacias de polícia para registrar episódios
de agressão (lesão corporal dolosa) em decorrência de violência doméstica, número que pode estar em
muito subestimado dado que muitas vítimas têm medo ou vergonha de denunciar.
[...]
54
Feminicídio é o homicídio praticado contra vítima mulher por motivações baseadas em violência doméstica e/ou intrafamiliar,
ou em caso de menosprezo ou discriminação pela condição de mulher. Lei.13/104 de 2015.
Pesquisa de vitimização produzida pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública em parceria com o Instituto
Datafolha indicou, em fevereiro de 2019, que apenas 10,3% das mulheres que afirmaram terem sofrido
algum tipo de violência no período de 12 meses entre 2018 e 2019 procuraram uma delegacia da mulher,
8% procuraram uma delegacia de polícia comum e 5% das respondentes ligaram para o 190.
É também crítica a questão da reiteração nesse tipo de violência, pois, sendo praticada por alguém da
estreita convivência da vítima, tende a acontecer novamente. Decorre disso um estado de terror constante,
causador de insegurança e instabilidade, agravado pelo fato de as vítimas nunca saberem quando e que tipo
de evento pode desencadear a fúria dos agressores. Trata-se de contexto com alta possibilidade de
formação de um ciclo de violência, cujo desfecho pode ser a morte da vítima.
Esse tipo de violência gera um intenso constrangimento às vítimas perante família, vizinhos, amigos e
conhecidos. Tal cenário pode gerar ansiedade e depressão e contribuir para que a vítima não denuncie o
agressor.
Há também um recorte racial na violência contra a mulher. Observe o que diz o Atlas da Violência de 2020:
Embora o número de homicídios femininos tenha apresentado redução de 8,4% entre 2017 e 2018, se
verificarmos o cenário da última década, veremos que a situação melhorou apenas para as mulheres
não negras, acentuando-se ainda mais a desigualdade racial.
Se, entre 2017 e 2018, houve uma queda de 12,3% nos homicídios de mulheres não negras, entre as
mulheres negras essa redução foi de 7,2%. Analisando-se o período entre 2008 e 2018, essa diferença fica
ainda mais evidente: enquanto a taxa de homicídios de mulheres não negras caiu 11,7%, a taxa entre
as mulheres negras aumentou 12,4%.
3. A pandemia da Covid-19 como circunstância agravadora
A Covid-19 provocou inúmeras modificações na sociedade. Uma das maiores foi o isolamento social, o qual
tem permitido que as pessoas passem mais tempo em contato com a sua família.
Contudo, o que, num primeiro momento, seria algo positivo, pode ser aterrorizante para as vítimas de
violência doméstica familiar. O tempo prolongado em casa aumentou os afazeres domésticos, o convívio
com familiares e ampliou a manipulação do agressor sobre a vítima, contexto potencializador dos conflitos
e de violências pré-existentes.
Assim, com as instituições funcionando parcialmente (inclusive as de acolhimento às vítimas), além do
fechamento de empresas, de espaços culturais e esportivos e das escolas, as vítimas ficaram sem espaços
de refúgio. A isso se soma o impacto econômico do vírus em muitas famílias. A degradação socioeconômica
das famílias, associada ao confinamento, ao aumento dos níveis de estresse e ao aumento do consumo de
álcool55, converge para uma situação de elevação da violência doméstica.
55
FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Saúde Mental e Atenção Psicossocial: Violência Doméstica e Familiar na Covid-19. Disponível
em: https://portal.fiocruz.br/documento/saude-mental-e-atencao-psicossocial-violencia-domestica-e-familiar-na-pandemia-
de-covid-19.
No primeiro semestre de 2020, no Brasil, houve uma redução do número de registros de violência
doméstica. Contudo essa redução é atribuída menos à redução da violência propriamente dita e mais ao
aumento da dificuldade de a vítima realizar a denúncia acerca do abuso e à instabilidade sofrida no período
pelos serviços de proteção, devido à diminuição do número de servidores e dos horários de atendimento e
ao aumento das demandas56.
Segundo o ABSP/2020:
Como a maior parte dos crimes cometidos contra as mulheres no âmbito doméstico exigem a presença da
vítima para a instauração de um inquérito, as denúncias começaram a cair na quarentena em função das
medidas que exigem o distanciamento social e a maior permanência em casa. Além disso, a presença mais
intensa do agressor nos lares constrange a mulher a realizar uma ligação telefônica ou mesmo de dirigir-se
às autoridades competentes para comunicar o ocorrido57.
Comparando os dados do primeiro semestre de 2019 e de 2020, constata-se que houve redução dos
registros de lesão corporal dolosa, ameaça, estupro e estupro de vulnerável, mas aumento da violência
letal contra as mulheres. Ademais, as ligações para o 190 registradas por violência doméstica cresceram
3,9%. Assim, observou-se queda nos registros dos crimes que dependiam principalmente da presença física
da vítima nas delegacias, em especial os de estupro, que demandam também exame pericial. Fato que
corrobora a tese da subnotificação da violência doméstica, não sua redução.
Por fim, segundo a ONU58, seis meses de restrições sanitárias poderiam comportar 31 milhões de casos
adicionais de violência no mundo, sete milhões de gravidezes não desejadas, além de colocar em risco a luta
contra a mutilação genital feminina e os casamentos arranjados.
Tema 29
Brasil perde jovens para violência em patamar de países como Haiti, aponta Atlas da Violência
"A morte prematura de jovens (15 a 29 anos) por homicídio é um fenômeno que tem crescido no Brasil desde
a década de 1980", aponta estudo recém-divulgado, lembrando que essa é uma idade em que as pessoas
têm um alto potencial produtivo que acaba sendo desperdiçado. "Além da tragédia humana, os homicídios
de jovens geram consequências sobre o desenvolvimento econômico e redundam em substanciais custos
para o país."
56
ABSP/2020.
57
Também tem sido indicado como fatores de risco associados ao aumento das ocorrências de violência contra a mulher na
pandemia a diminuição da renda familiar, aumento dos níveis de estresse, aumento do consumo de álcool (FUNDAÇÃO
OSWALDO CRUZ, 2020), restrição de acesso aos serviços de proteção e a redes de apoio (MARQUES et al, 2020).
58
Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2020/11/23/interna_internacional,1208733/violencia-
contra-as-mulheres-dispara-a-outra-face-da-pandemia.shtml. Acesso em 27 de janeiro de 2021.
Levantamento da Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo federal de junho de 2018 aponta que o
Brasil perde cerca de R$ 550 mil para cada jovem de 13 a 25 anos vítima de homicídio, levando-se em conta
o quanto o país deixa de ganhar com a capacidade produtiva (o trabalho) da vítima e os custos de saúde,
judiciais e de encarceramento ligados a cada morte. [...]
A partir das ideias do texto precedente, que tem caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo
acerca do seguinte tema:
JUVENTUDE PERDIDA: O DRAMA DA VIOLÊNCIA ENTRE JOVENS NO BRASIL
Em seu texto, aborde, necessariamente:
a) a importância de prevenir a violência entre jovens; [valor: 4,40 pontos]
b) a relação entre as drogas e a violência entre jovens; [valor: 4,00 pontos]
c) iniciativas, de cunho preventivo, com vistas a reduzir os números de jovens vítimas e autores da
violência. [valor: 4,00 pontos]
Abordagem teórica
Primeiro ponto: a violência é a principal causa de morte de jovens no país. Segundo o Atlas da Violência
(2020):
No Brasil, os homicídios são a principal causa de mortalidade de jovens, grupo etário de pessoas entre 15 e
29 anos. Esse fato mostra o lado mais perverso do fenômeno da mortalidade violenta no país, na medida
em que mais da metade das vítimas são indivíduos com plena capacidade produtiva, em período de
formação educacional, na perspectiva de iniciar uma trajetória profissional e de construir uma rede familiar
própria.
[...]
Homicídios foram a principal causa dos óbitos da juventude masculina, responsável pela parcela de
55,6% das mortes de jovens entre 15 e 19 anos; de 52,3% daqueles entre 20 e 24 anos; e de 43,7% dos
que estão entre 25 e 29 anos.
Para as mulheres nessa mesma faixa etária, a proporção de óbitos ocorridos por homicídios é
consideravelmente menor: de 16,2% entre aquelas que estão entre 15 e 19 anos; de 14% daquelas entre 20
e 24 anos; e de 11,7% entre as jovens de 25 e 29 anos.
Na comparação com as taxas das demais faixas etárias, contudo, é possível afirmar que a causa morte por
homicídio atinge mais as mulheres e homens jovens do que indivíduos de qualquer outra faixa de idade.
Segundo a mesma fonte, em 2018, houve 57.956 homicídios Brasil. Desse total, 30.873 ocorreram contra
jovens. Assim, em 2018, mais da metade dos homicídios ocorreu contra jovens.
Considerando que o comando da questão pede que se disserte sobre a violência entre jovens, outra
perspectiva a ser considerada é que essa violência é praticada também por jovens. Segundo o Infopen 2017,
do universo total de presos no Brasil, 55% têm entre 18 e 29 anos. Informações mais recentes (infopen 2019),
informam que dos 748.009 presos, 23,3% possuem entre 18 e 24 anos e 21,5% possuem entre 24 e 29 anos,
ou seja, aproximadamente, 45% dos presos possuem entre 18 e 29 anos.
Trata-se de contexto extremamente nocivo ao país. Seja pela morte, seja pela prisão, são trajetórias que se
interrompem, famílias que se despedaçam, pessoas com elevado potencial produtivo que acaba sendo
desperdiçado.
Segundo o Relatório de Conjuntura “Custos Econômicos da Criminalidade no Brasil” (2018), realizado pela
SAE (Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos) do governo federal, o Brasil perde cerca de R$ 550 mil
para cada jovem de 13 a 25 anos vítima de homicídio, levando-se em conta o quanto o país deixa de ganhar
com a capacidade produtiva (o trabalho) da vítima e os custos de saúde, judiciais e de encarceramento
ligados a cada morte. "A perda cumulativa de capacidade produtiva decorrente de homicídios, entre 1996
e 2015, superou os R$ 450 bilhões de reais", diz o texto.
Apesar, da grandeza desses números, é impossível precificar a dor e o sofrimento das vítimas, de seus
amigos e dos familiares. O impacto social é gigante. Interessante tratar aqui do conceito de anomia, do
sociólogo francês Émile Durkheim.
Para Durkhein, a anomia seria uma situação de enfraquecimento dos vínculos sociais e pela perda da
capacidade da sociedade de controlar o comportamento dos indivíduos. No contexto de uma situação
anômica, os limites sociais se encontram fragilizados e os indivíduos não conseguem distinguir o que é justo
ou injusto, legítimo ou ilegítimo, o que gera um sentimento de frustração, caos e falta da percepção da
existência de normas, imperando o tudo pode.
A questão da violência do país pode ser associada à questão da anomia. Pode-se argumentar que a
sociedade atual vivencia um contexto de anomia e que isso é reflexo, também, do cotidiano de violência
que afeta os brasileiros. Esse cotidiano gera o medo e enfraquece as relações sociais. Vejam esse fragmento
de texto59:
Ao alto impacto financeiro causado pela violência, que impede o crescimento econômico sustentável do
País, soma-se ainda o impacto social, como destaca o doutor em Sociologia e coordenador do Centro de
Estudos em Segurança Pública da PUC Minas, Lúcio Flávio Sapori. “Esse alto grau de violência gera uma
sociedade altamente anômica do ponto de vista sociológico. Gera uma sociedade muito pautada pelo
medo, pela desconfiança nas relações sociais e, à medida que uma sociedade como a nossa vive pautando
seu cotidiano pelo medo de ser vítima do crime, ela tende, de alguma maneira, a não valorizar as
instituições de Estado, a lei, a Justiça, a polícia, então isso provoca um elevado esgarçamento das relações
sociais cotidianas. E isso não é mensurável”, pontua.
O efeito desse impacto social, afirma Sapori, tem reflexos em todas as relações sociais, seja entre amigos,
na vizinhança, no trabalho, no trânsito. “O grau de solidariedade e de cooperação na sociedade brasileira
59
http://saporiconsultoria.com.br/noticias/vidas-perdidas-o-preco-da-violencia/
é muito baixo e isso implica também baixa qualidade de vida e acaba, inclusive, perpetuando a pobreza e a
desigualdade social.”
Tema já explorado em oportunidade anterior. Em síntese, quando se fala de drogas ne violência, pode-se
abordar a questão tanto sob o ponto de vista do em usuário quanto do traficante.
Sob o ponto de vista da oferta, sabe-se que o tráfico de drogas, principal fonte de financiamento do crime
organizado, é um dos maiores fomentadores de violência. Além das ações praticadas diretamente contra
civis e militares, a guerra entre facções, dentro e fora dos presídios produzem incontáveis vítimas. A disputa
pelo domínio de áreas de abastecimento e venda de drogas, em si mesma marcada pela brutalidade,
envolve facções criminosas, que, no mais das vezes, assumem o controle dessas regiões, dificultando a ação
do poder público, atemorizando a população e atraindo crianças e jovens para seu serviço.
Observem, como forma de comprovar a relação intrínseca entre tráfico de drogas e violência, o
elucidativo trecho do Atlas da Violência de 2019:
A tensão na disputa por mercados varejistas e por novas rotas de narcotráfico chegou ao limite em 2013,
quando, em Mato Grosso, os integrantes do CV – facção que possuía a hegemonia no estado – passaram a
impedir que o PCC atraísse e fizesse a filiação e batismo de novos faccionados (Manso e Dias, 2018). Tal
procedimento, que passou a ser adotado em outras regiões, fez com que as rusgas entre as duas maiores
facções – e seus aliados regionais – aumentassem gradativamente nos anos seguintes.
Finalmente, o assassinato do traficante Jorge Rafaat pelo PCC, em 15 de julho de 2016, na cidade de Pedro
Juan Caballero, fronteira com Ponta Porã (MS), acentuou ainda mais a disputa do narconegócio, uma vez
que que tinha como pano de fundo o controle do mercado criminal na fronteira e, por conseguinte, a obtenção
de um grande diferencial competitivo, com a integração vertical da cadeia de valor, a partir do acesso
privilegiado à droga produzida e comercializada na Bolívia, no Peru e no Paraguai (Manso e Dias, 2018).
Finalmente, no início de 2017, a guerra entre as maiores facções penais brasileiras eclodiu de forma
generalizada, primeiro dentro dos presídios e depois nas ruas.
No dia 1º de janeiro de 2017, houve uma rebelião no Complexo Prisional Anísio Jobim, em Manaus, quando
integrantes do PCC e da Família do Norte (FDN), aliada do CV, se enfrentaram, tendo como resultado
56 mortes. No dia 14, outros 26 detentos foram mortos na Prisão Estadual de Alcaçuz, no Rio Grande do
Norte, nas escaramuças entre o PCC e o Sindicato do Crime (SDC), aliado do CV. Nesse período, em 15 dias
o saldo foi de 138 homicídios nas prisões brasileiras, com episódios que atingiram também os sistemas
penitenciários de Roraima, Paraíba, Alagoas, São Paulo, Paraná e Santa Catarina.
Sob o ponto de vista do usuário, o consumo de drogas, tipificado criminalmente, acaba aproximando o
indivíduo da delinquência. Quando se estabelece um quadro de dependência, maior será essa
probabilidade, pois mais disposto a correr riscos ele estará. Quando a quantidade e as circunstâncias
permitem que seja enquadrado como traficante, o indivíduo pode condenado a cumprir penas nas prisões,
sabidamente, uma das portas de entrada para a criminalidade "profissional". Esse contexto é
particularmente critico no caso dos jovens, que, por vários motivos (personalidade não totalmente formada,
busca de afirmação e de inclusão perante o grupo etc.) encontra-se mais suscetível a experimentar essas
substâncias e, a partir disso, desenvolver uma dependência, fato que pode prejudicá-lo durante toda a sua
vida.
Assim, é possível falar num estreito relacionamento entre as drogas e a violência entre jovens. Primeiro,
porque os jovens das comunidades periféricas podem ser empregados como mão de obra para o tráfico e,
como "soldados rasos" são os mais suscetíveis a serem vítimas na intensa guerra entre as facções. Segundo,
porque, em virtude de particularidades referentes à idade, podem se tornar usuários, aproximando-os da
via delituosa.
3. Iniciativas, de cunho preventivo, com vistas a reduzir os números de jovens vítimas e autores da
violência
Primeiro e mais importante aspecto é observar que o enunciado pediu que se falasse de iniciativas de cunho
preventivo. Logo, não cabe aqui abordar políticas repressivas.
A questão foi generosa. Veja que você poderia falar tanto de iniciativas oriundas do poder público quanto
da sociedade organizada.
Em termos de iniciativas públicas é interessante trabalhar os eixos educação, emprego, cultura, religião.
Segundo o Atlas da Violência 2019:
Nesse ponto, é fundamental que se façam investimentos na juventude, por meio de políticas focalizadas
nos territórios mais vulneráveis socioeconomicamente, de modo a garantir condições de desenvolvimento
infanto-juvenil, acesso à educação, cultura e esportes, além de mecanismos para facilitar o ingresso do
jovem no mercado de trabalho. Inúmeros trabalhos científicos internacionais, como os do Prêmio Nobel
James Heckman mostram que é muito mais barato investir na primeira infância e juventude para evitar que
a criança de hoje se torne o criminoso de amanhã, do que aportar recursos nas infrutíferas e dispendiosas
ações de repressão bélica ao crime na ponta e encarceramento.
Do ponto de vista da segurança pública, uma atuação preventiva é aquela que evita que o crime aconteça.
Assim, pode-se falar no uso do policiamento ostensivo e dissuasório, utilizado de forma estratégica, bem
como das atividades de inteligência e investigação, capazes de desarticular futuras ações dos grupos
criminosos.
Do ponto de vista da sociedade, pode-se mencionar a possibilidade de organização por meio de fundações,
ONGs, Organizações Sociais etc. que atuem em paralelo com o Estado e reforcem a sua atuação.
Tema 30
Em 1972, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, a
Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o Dia Mundial do Meio Ambiente, que passou a ser
comemorado todo dia 05 de junho. Essa data, que foi escolhida para coincidir com a data de realização dessa
conferência, tem como objetivo principal chamar a atenção de todas as esferas da população para os
problemas ambientais e para a importância da preservação dos recursos naturais, que até então eram
considerados, por muitos, inesgotáveis.
Nessa Conferência, que ficou conhecida como Conferência de Estocolmo, iniciou-se uma mudança no modo
de ver e tratar as questões ambientais ao redor do mundo, além de serem estabelecidos princípios para
orientar a política ambiental em todo o planeta. Apesar do grande avanço que a Conferência representou,
não podemos afirmar, no entanto, que todos os problemas foram resolvidos a partir daí.
Atualmente existe uma grande preocupação em torno do meio ambiente e dos impactos negativos da ação
do homem sobre ele. A destruição constante de habitat e a poluição de grandes áreas, por exemplo, são
alguns dos pontos que exercem maior influência na sobrevivência de diversas espécies.
Tendo em vista o acentuado crescimento dos problemas ambientais, muitos pontos merecem ser revistos
tanto pelos governantes quanto pela população para que os impactos sejam diminuídos. Se nada for feito,
o consumo exagerado dos recursos e a perda constante de biodiversidade poderão alterar
consideravelmente o modo como vivemos atualmente, comprometendo, inclusive, nossa sobrevivência.
Dentre os principais problemas que afetam o meio ambiente, podemos destacar o descarte inadequado de
lixo, a falta de coleta seletiva e de projetos de reciclagem, consumo exagerado de recursos naturais,
desmatamento, inserção de espécies exóticas, uso de combustíveis fósseis, desperdício de água e
esgotamento do solo. Esses problemas e outros poderiam ser evitados se os governantes e a população se
conscientizassem da importância do uso correto e moderado dos nossos recursos naturais. [...]
SANTOS, Vanessa Sardinha dos. "05 de Junho — Dia Mundial do Meio Ambiente"; Brasil
Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/datas-comemorativas/dia-
mundial-do-meio-ambiente-ecologia.htm. Acesso em 03 de junho de 2020.
Caso Manchinha: Carrefour terá de depositar R$ 1 milhão em fundo para cuidados a animais
O fundo será criado pelo município de Osasco e será destinado a ações com animais.
O supermercado Carrefour terá de depositar R$ 1 milhão em um fundo, criado pelo município de Osasco,
na Grande São Paulo, pela agressão de um segurança que resultou na hemorragia e, consequentemente, na
morte do animal em 28 de novembro. De acordo com o Ministério Público de São Paulo, foi assinado um
Termo de Compromisso em que a empresa assume a obrigação.
Caso manchinha
Câmeras de segurança do supermercado e vídeos feitos por celulares de testemunhas registraram o
momento em que o segurança corre atrás do cão com uma barra de ferro.
Apesar de as imagens não mostrarem a agressão, o segurança admitiu, em depoimento à polícia, ter batido
no animal com a barra, mas que não teve a intenção de feri-lo. Posteriormente, Manchinha aparece
mancando e sangrando nas cenas. Ele era um cachorro abandonado e dócil que perambulava pelo Carrefour
e recebia alimentos e afagos de clientes e funcionários.
Outras filmagens mostram o cachorro machucado sendo imobilizado por funcionários da prefeitura. Eles
utilizam uma corda laçada ao pescoço do bicho, que desmaia. Em seguida, o bicho é levado a uma unidade
especializada em animais onde morreu. Segundo a veterinária que o atendeu, ele faleceu em
decorrência de sangramento.
O segurança
O segurança, que não teve o nome divulgado pela investigação, irá responder em liberdade por abuso e
maus-tratos de animais, de acordo com o artigo 32 da Lei número 9.605/98 de Crimes Ambientais. A
reportagem também não conseguiu localizar sua defesa para comentar o assunto.
Como o crime é de menor potencial ofensivo, não cabe prisão e nem indiciamento, de acordo com a pasta
da Segurança Pública. São enquadrados nesse artigo da lei quem fere ou mutila animais domésticos,
silvestres, nativos ou exóticos. Se condenado, o agressor pode receber pena de detenção de três meses a
um ano, além de multa.
Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2019/03/15/caso-manchinha-
carrefour-tera-de-depositar-r-1-milhao-em-fundo-para-cuidados-a-
animais.ghtml.Acesso em 03 de junho de 2020.
Polícia Federal cumpre mandados de busca e apreensão no âmbito das investigações do "Dia do Fogo"
Ação faz parte do esforço dos órgãos federais (Operação Verde Brasil) e visa recolher novas provas e elementos
que auxiliem nas investigações de possíveis crimes ambientais praticados no Pará
Belém/PA - A Polícia Federal deflagrou, nesta terça feira 22/10, na cidade de Novo Progresso /PA, a
Operação “Pacto de Fogo” que visa colher novas provas em investigação que apura associação criminosa
suspeita de praticar crimes ambientais em reservas e Unidade de Conservação Federais na Amazônia.
Foram cumpridos quatro mandados de busca e apreensão em residências e estabelecimentos ligados aos
suspeitos com o intuito de obter novos elementos de informação sobre os crimes em apuração.
As investigações tiveram início a partir da divulgação, pela imprensa nacional, de que fazendeiros e
produtores rurais da região de Novo Progresso teriam combinado a execução do chamado “Dia do Fogo”.
Segundo estes órgãos de imprensa, em 10 de agosto de 2019 seriam iniciados incêndios em diversas
localidades, inclusive Unidades de Conservação Federais na região.
A operação recebeu o nome ante a divulgação pela imprensa local e nacional de que diversas pessoas teriam
combinado, em grupos de aplicativos de mensagem, a data para as ações criminosas.
Ação conjunta PRF e IBAMA flagra madeira transportada ilegalmente na BR 101 em Joinville
Uma ação conjunta entre policiais rodoviários federais e agentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
(IBAMA) apreendeu na tarde de ontem (quarta), na BR 101 em Joinville, 45m³ de madeiras diversas
transportadas ilegalmente.
A carga estava em uma carreta Volvo de Presidente Prudente/SP. Os agentes constataram que a Guia
Florestal, emitida pelo estado do Mato Grosso, já estava vencida há mais de um mês. Além disso, conforme
o documento fiscal, a mercadoria já fora recebida pelo proprietário. Ou seja, os documentos apresentados
estava sendo reutilizados para tentar enganar a fiscalização.
Servidores da Secretaria Estadual da Fazenda estiveram no local e confirmaram a fraude fiscal. A empresa
responsável também vai responder a Termo Circunstanciado pelo crime ambiental de transportar madeira
sem licença válida.
Disponível em: https://www.prf.gov.br/agencia/acao-conjunta-prf-e-ibama-flagra-
madeira-transportada-ilegalmente-na-br-101-em-joinville/. Acesso em 28 de janeiro
de 2021.
Considerando os textos acima como meramente motivadores, redija uma dissertação sobre:
Abordagem teórica
A Constituição Federal de 1988, afirma, em seu art. 225 que: “Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Dessa
forma, cabe ao Poder Público tomar as medidas cabíveis para assegurar a efetividade desse direito. Uma
das instituições que pode auxiliá-lo no desempenho dessa tarefa á a Polícia, conforme veremos no decorrer
dessa exposição. Mas, antes, vejamos alguns tópicos básicos sobre o tema.
Um meio ambiente equilibrado é uma condição essencial para a vida no planeta. Basta ver que todo e
qualquer ser humano precisa de ar puro, água potável, um ambiente limpo e condições climáticas
adequadas.
Profundos desequilíbrios no meio ambiente, como os provocados pelo agravamento do aquecimento do
planeta, podem ter impactos diretos sobre a agricultura, afetar o nível dos oceanos e provocar efeitos
climáticos extremos, a ponto de inviabilizarem a vida no planeta. O aumento da poluição atmosférica pode
causar inúmeras doenças e gerar impactos ao meio ambiente (exemplos: intensificação do efeito estufa,
chuvas ácidas, inversão térmica), os quais, por sua vez, tenderão a desequilibrar ainda mais o meio
ambiente. As florestas, por meio da fotossíntese, reduzem da quantidade de carbono na atmosfera,
concentram boa parte da biodiversidade e auxiliam na regulação climática e na estabilidade do regime de
chuvas em todo país. Essas são apenas algumas consequências da degradação do meio ambiente.
Conforme já tratamos em outros temas, a condição de cidadão envolve a existência de direitos e deveres.
Nesse sentido60:
"Em seu sentido tradicional, a cidadania expressa um conjunto de direitos e de deveres que permite aos
cidadãos e cidadãs o direito de participar da vida política e da vida pública, podendo votar e serem
votados, participando ativamente na elaboração das leis e do exercício de funções públicas, por exemplo.
Hoje, no entanto, o significado da cidadania assume contornos mais amplos, que extrapolam o sentido
de apenas atender às necessidades políticas e sociais, e assume como objetivo a busca por condições que
garantam uma vida digna às pessoas".
Aplicando essa noção ao assunto tratado, vê-se que um meio ambiente equilibrado é um dos direitos do
cidadão, assegurados constitucionalmente, cujo desrespeito, por sua vez, impacta em uma série de outros
direitos, como saúde, alimentação, moradia e, em última análise, o próprio direito à vida. Assim, um meio
ambiente em condições inadequadas inviabiliza o gozo de inúmeros direitos, prejudicando o exercício da
cidadania.
A participação do cidadão na defesa do meio ambiente é fundamental, visto que a qualidade do meio
ambiente repercutirá diretamente na sua qualidade de vida. Nesse diapasão, não se pode deixar de lembrar
dos instrumentos de que dispõe o cidadão para exigir o cumprimento dos seus direitos, visto que é inerente
ao regime democrático o direito pleno de participar na vida pública.
Um dos instrumentos mais conhecidos é a Ação Popular, legítima ferramenta da democracia participativa.
Também podem ser citados o Mandado de Segurança coletivo, Ação Civil Pública, a iniciativa popular de
leis e o direito de participar na formulação e execução das políticas ambientais, a ser discutida, no mínimo,
com as populações atingidas. Para essa finalidade, são instrumentos as consultas e audiências públicas.
Por outro lado, como vimos, o cidadão também tem deveres. E um deles é contribuir para a preservação do
meio ambiente. Nesse sentido, todos devem zelar pela preservação do meio ambiente, adotando hábitos
mais sustentáveis e que envolvam maior racionalidade no uso dos recursos naturais. Ao contrário do que
muitos pensam, contribuir na preservação do meio ambiente não exige medidas sofisticadas. Não jogar lixo
em locais impróprios, apagar a luz e tomar banhos de menor duração são ações simples que ajudam a
preservar o meio ambiente.
60
Ética e cidadania: construindo valores na escola e na sociedade / Secretaria de Educação Básica, Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação. –Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007.
Inicialmente, conhecer a lei que trata sobre os crimes ambientais já lhe dará uma boa noção. Vamos, então,
dar uma olhada em alguns artigos da Lei 9.605/1998.
CAPÍTULO V
DOS CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE
Seção I
Dos Crimes contra a Fauna
Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota
migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo
com a obtida:
Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou
domesticados, nativos ou exóticos:
Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados por órgão competente:
Seção II
Dos Crimes contra a Flora
Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em formação,
ou utilizá-la com infringência das normas de proteção:
Art. 39. Cortar árvores em floresta considerada de preservação permanente, sem permissão da autoridade
competente:
Art. 40. Causar dano direto ou indireto às Unidades de Conservação e às áreas de que trata o art. 27 do
Decreto nº 99.274, de 6 de junho de 1990, independentemente de sua localização:
Art. 41. Provocar incêndio em mata ou floresta:
Art. 42. Fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocar incêndios nas florestas e
demais formas de vegetação, em áreas urbanas ou qualquer tipo de assentamento humano:
Art. 44. Extrair de florestas de domínio público ou consideradas de preservação permanente, sem prévia
autorização, pedra, areia, cal ou qualquer espécie de minerais:
Art. 48. Impedir ou dificultar a regeneração natural de florestas e demais formas de vegetação:
Seção III
Da Poluição e outros Crimes Ambientais
Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à
saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora:
Seção IV
Dos Crimes contra o Ordenamento Urbano e o Patrimônio Cultural
Art. 62. Destruir, inutilizar ou deteriorar:
I - bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial;
II - arquivo, registro, museu, biblioteca, pinacoteca, instalação científica ou similar protegido por lei, ato
administrativo ou decisão judicial:
Art. 64. Promover construção em solo não edificável, ou no seu entorno, assim considerado em razão de
seu valor paisagístico, ecológico, artístico, turístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnográfico
ou monumental, sem autorização da autoridade competente ou em desacordo com a concedida:
Dos crimes listados, tecerei somente alguns comentários sobre alguns aspectos relevantes.
Recentemente, tem ganhado grande repercussão na mídia e sido assunto de grande comoção social os
maus-tratos a animais, tanto na condição de animais domésticos, quanto na condição de exploração
comercial. Tem sido comuns ações policiais em rinhas e canis clandestinos, locais onde, por vezes, a polícia
verifica más condições de higiene do local, privação de alimentação e sofrimento físico ou psicológico do(s)
animal(is).
Outra questão bastante noticiada é o tráfico de animais silvestres e exóticos. Segundo a Rede Nacional
de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), no Brasil:
38 milhões de animais silvestres retirados da natureza todos os anos no Brasil;
Nove de cada dez animais traficados morrem antes de chegar às mãos do consumidor final;
Us$ 2 bilhões movimentados anualmente por esse comércio ilegal no Brasil;
3ª maior atividade ilegal do mundo, atrás apenas do tráfico de armas e de droga.
Segundo a Renctas, de cada 100 animais capturados ilegalmente no país, 70 são vendidos em território
nacional e 30 são destinados ao exterior. Um dos fatores que explica o Brasil ser uma das principais rotas do
tráfico é a grande biodiversidade, o que o torna um alvo direto das quadrilhas e organizações criminosas 61.
Segundo Dener Giovanini, coordenador geral da Renctas, as redes sociais tornaram o problema ainda
maior, pois o que antes acontecia pontualmente em espaços físicos como feiras livres em pequenas cidades
do interior agora tem uma vitrine universal na internet62.
Devido à importância desse tema, vou destacar alguns pontos importantes, apresentados no Portal Ecoa 63:
Mais de 80% dos bichos vendidos no Brasil são aves. [...] Os motivos são diversos: desde o hábito do
brasileiro de ter passarinhos presos em gaiola em casa até a beleza do canto e das plumas das aves que
passam a ser exploradas em diferentes níveis.
61
Disponível em: https://www.ufsm.br/midias/arco/trafico-animais-silvestres/. Acesso em 28 de janeiro de 2021.
62
Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/reportagens-especiais/trafico-no-brasil-tira-por-ano-35-milhoes-de-animais-da-
floresta-e-gira-r-3-bilhoes/#page4. Acesso em 28 de janeiro de 2021.
63
Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/reportagens-especiais/trafico-no-brasil-tira-por-ano-35-milhoes-de-animais-da-
floresta-e-gira-r-3-bilhoes/#page13. Acesso em 28 de janeiro de 2021.
Existe outra tendência de preferência entre compradores ilegais de animais silvestres: quanto mais rara a
espécie, melhor. A obsessão pelo exclusivo, a oportunidade de poder acessar e ostentar bens caros ou
escassos também se estende para a compra e venda ilegal da fauna brasileira.
Segundo Dener Giovanini:
" Quanto mais ameaçada de extinção a espécie, mais procurada ela se torna e maior é o valor que
esse animal alcança no mercado ilegal. É o que chamo de 'ciclo da morte'. Ou seja, quanto mais
ameaçado ele está, mais caro é comercializado, e mais procurado ele se torna. E quanto mais
procurado esse bicho for, mais ameaçado de extinção ele estará. É um ciclo vicioso."
Um levantamento realizado pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade)
mostrou que, das 12.256 espécies da fauna brasileira analisadas, 1.173 estão ameaçadas de extinção. A
caça desses animais para fins de comércio ilegal ou subsistência é a segunda principal causa. A primeira
ainda é a perda de habitat provocada por atividades humanas, como agronegócio e queimadas.
Por terem as rodovias federais como principal rota de tráfico de animais, é preciso conseguir esconder os
bichos de diversas formas. A Renctas elenca algumas delas: pequenos animais dentro de malas ou em
carros pequenos, escondidos em porta-malas ou até nos forros dos bancos. Também existem os que são
transportados contrabandeados em containers. Não existe qualquer preocupação com o bem-estar do
animal. Por isso, a estimativa é de que a cada dez animais capturados, apenas um sobreviva. A maioria
morre durante o transporte ou após chegar ao seu destino devido a traumas psicológicos ou ferimentos
físicos.
Outros crimes de grande repercussão são o desmatamento ilegal e a extração ilegal de madeira nativa.
Como contextualização, segundo dados do Inpe, no acumulado do primeiro semestre de 2020, os alertas
indicam devastação em 3.069,57 km² da Amazônia, aumento de 25% em comparação ao primeiro
semestre de 201964. Em relação às queimadas, segundo o Inpe, o número de queimadas no bioma
Amazônia no mês de junho (2.248) maior foi o maior observado para o mês desde 2007. Foi um aumento
de 19,6% em comparação com o mesmo mês no ano passado. Em junho de 2020, foram 2.248 focos ativos,
em 2019, 1.880.
Outro crime bastante comum relaciona-se ao uso irregular do solo, com a demarcação de lotes, abertura de
ruas sem autorização do órgão público competente ou em desacordo com a legislação. Normalmente as
ações de grilagem de terras envolvem uma série de outros delitos como extorsões, homicídios e ameaças.
Não pode passar despercebido o crime que envolve balões. Graças a essa prática irresponsável, todos os
anos, florestas, casas, entre outras instalações são incendiadas, provocando danos materiais ou até mesmo
perda de vidas. Esses balões podem cair em matas, casas, hospitais, postos de combustíveis, subestações,
zoológicos, podendo provocar estragos irreparáveis, incluindo perda de vidas.
64
Disponível em: https://g1.globo.com/natureza/noticia/2020/07/10/amazonia-bate-novo-recorde-nos-alertas-de-desmatamento-
em-junho-aumento-dos-ultimos-11-meses-foi-de-64percent-aponta-inpe.ghtml. Acesso em: 11 de agosto de 2020.
Há também os crimes que envolvem poluição do ar e da água. São exemplos o despejo de resíduos sólidos
ou líquidos decorrentes de indústrias.
3. Ação da polícia
Nos crimes ambientais, à polícia compete a vigilância ambiental ostensiva, a fiscalização, a repressão de
atividades danos as ao meio ambiente, a apuração de denúncias e a realização de diligências para
confirmá-las. Além disso, tem como responsabilidade a atividade investigativa, com o objetivo de apurar
os fatos e identificar os autores pelos delitos ambientais.
Em diversas operações, os policiais trabalham de forma integrada com o IBAMA, Secretarias Estaduais de
Meio Ambiente, Universidades, ONGs e outras instituições que trabalham efetivamente de forma a
fiscalizar e preservar o meio ambiente.
A atividade ambiental nos crimes ambientais tem algumas particularidades. Uma delas é, em alguns tipos
de crimes, a existência de forte envolvimento da sociedade e de ONGs para a apuração dos fatos. Em
eventos que envolvem maus-tratos com animais, percebe-se um grande engajamento social, tanto no
sentido de denunciar, quanto no de cobrar providências para a responsabilização.
Outra característica é que boa parte dos crimes cominados na Lei 9.605/1998 são de menor potencial
ofensivo (pena máxima não superior a dois anos, ou multa), atraindo a competência dos Juizados Especiais
Criminais. Isso tem uma série de consequências, a exemplo do não cabimento da prisão em flagrante, da
impossibilidade de transação penal e dos prazos prescricionais mais céleres. Tudo isso acaba gerando uma
forte percepção da sociedade de que, em matéria ambiental, a impunidade é ainda maior.
Diante desse cenário, é oportuno envidar esforços na prevenção desses crimes. Nesse sentido, é importante
que a polícia se engaje em campanhas de educação e esclarecimento, voltadas tanto para o público adulto
quanto para o infantil. Por meio dessas campanhas, o indivíduo deve entender-se como agente
transformador de sua realidade em relação à preservação ambiental, bem como ser capaz de entender as
consequências das suas condutas na modificação do espaço em que vive.
De forma mais específica, no que se refere à PRF, a sua atuação na defesa do meio ambiente ocorre,
principalmente, por meio das fiscalizações e blitzes nas rodovias federais. No âmbito da sua atividade, a PRF
efetua, basicamente, flagrantes pelo transporte ilegal de animais silvestres, madeira e minérios e pelo uso
de combustível inadequado pelos veículos, acarretando emissão de poluentes acima dos tolerados.
Segundo a própria PRF65, acerca das fiscalizações:
Este ano (2020), a Polícia Rodoviária Federal (PRF) apreendeu quase o dobro de madeira ilegal do que
em 2019. [...] Segundo o diretor-geral da PRF, Eduardo Aggio, mais de 36,997 mil metros cúbicos de
madeira ilegal foram apreendidos em rodovias federais de janeiro a novembro deste ano. O resultado é
65
Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2020-12/madeira-ilegal-apreendida-pela-prf-este-ano-supera-em-
95-de-2019 (com adaptações) . Acesso em 28 de janeiro de 2021.
95% superior aos 18,945 mil metros cúbicos apreendidos em 2019. Em 2018, foram apreendidos
13,904 mil metros cúbicos.
Além do maior volume de madeira ilegal, os policiais rodoviários federais também resgataram um
número maior de animais silvestres. Foram 34 mil espécimes este ano (2020), contra 11 mil no ano
passado e 18.897 em 2018.
"Também temos focado na desestruturação da logística do tráfico de animais”, disse o diretor-geral
da PRF, atribuindo os resultados, em parte, à reformulação da atuação das áreas de tecnologia e de
inteligência levada à cabo em 2019, buscando maior efetividade e eficácia nas ações da instituição.
Ao se deparar com o fato delituoso, os policiais lavram o termo e as mercadorias ou animais são apreendidos
e entregues aos órgãos ambientais para que deem a destinação adequada.
No que se refere à PF, é importante, inicialmente, perceber que nem todo crime ambiental está sob sua
alçada. De forma geral, será a PF responsável pelas investigações quando o crime contra o meio ambiente
envolver interesse da União. Aliás, em regra, os crimes ambientais são apurados pelas polícias civis.
As ações da PF ocorrem em diversas frentes: furto de água e invasão de terras da União, repressão à pesca
predatória, retirada ilegal e tráfico de madeira, garimpagem ilegal, extração ilegal de minérios, tráfico de
animais silvestres, etc.
O tema dos crimes ambientais tem ocupado certa importância no contexto da atividade da PF. Vejam a
seguinte declaração66:
O diretor-executivo da PF, Carlos Henrique Oliveira de Souza, também destacou os resultados obtidos
pela corporação no combate a crimes ambientais. De acordo com Souza, agentes federais apreenderam
o equivalente a R$ 427,7 milhões em operações deflagradas para reprimir ilícitos ambientais, valor 81%
superior aos R$ 235,3 milhões recolhidos no ano passado.
Feitos esses esclarecimentos iniciais, percebe-se que a atuação da PF é bastante diversificada e que o
combate aos crimes ambientais vem ganhando força na corporação.
Essa não é uma grande aposta minha para a sua prova, mas fiz questão de tratar sobre essa temática para
não deixar espaço para o azar.
Agora, a prática.
66
Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2020-12/madeira-ilegal-apreendida-pela-prf-este-ano-supera-em-
95-de-2019 (com adaptações) . Acesso em 28 de janeiro de 2021.
PRÁTICA
Caro aluno, agora é com você! Treine bastante com os temas expostos, lembrando-se sempre de aplicar o
conhecimento acumulado nas aulas anteriores, tanto sob o ponto de visto da estrutura, quanto dos aspectos
gramaticais.
Lembre-se de nos encaminhar seu texto, se assim desejar, por meio da área do aluno, de forma manuscrita
digitalizada, conforme explicado na aula 00 do curso.
Para a sua redação, é importante especificar o número do texto escolhido no campo apropriado. Você pode
nos encaminhar um arquivo único (em pdf) ou colar as imagens digitalizadas dentro de um documento em
Word.
As questões discursivas serão devolvidas exclusivamente ao aluno, por meio da área destinada ao curso no
site do Estratégia Concursos.
Desejamos um excelente trabalho a todos!