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Carlos
Roberto e Márcio
Damasceno)
Discursivas p/ Polícia Federal (Agente)
Sem correção - Pós-Edital
Autor:
Carlos Roberto
Aula 11(Profs. Carlos Roberto e
Márcio Damasceno)
8 de Fevereiro de 2021
Sumário
Introdução.................................................................................................................................................3
Tema 22 ................................................................................................................................................3
Tema 23................................................................................................................................................. 7
1405111
Tema 24 ............................................................................................................................................... 9
Tema 25 .............................................................................................................................................. 13
Tema 26 .............................................................................................................................................. 17
Tema 27 ............................................................................................................................................... 19
Tema 28 .............................................................................................................................................. 21
Tema 29 ..............................................................................................................................................25
Tema 30............................................................................................................................................... 27
Tema 31 ............................................................................................................................................... 31
Tema 32............................................................................................................................................... 37
Tema 33 .............................................................................................................................................. 44
Tema 34...............................................................................................................................................56
Tema 35 .............................................................................................................................................. 62
Tema 36.............................................................................................................................................. 69
Tema 37 ............................................................................................................................................... 78
Tema 38.............................................................................................................................................. 82
Tema 39.............................................................................................................................................. 88
Tema 40 ............................................................................................................................................. 94
Tema 41.............................................................................................................................................. 98
Prática................................................................................................................................................... 118
INTRODUÇÃO
Olá, meus nobres alunos. Bem-vindos à nossa quarta e última rodada de temas. Espero que vocês tenham
gostado e praticado os temas propostos.
Conforme já havia falado, vai haver aulas extras. Ainda há temas importantes, mas que não puderam
constar no curso devido à necessidade de se obedecer, com rigor, ao cronograma. Até o final da semana
que vem, esses temas estarão disponíveis.
No mais, espero que este curso possa ter contribuído com a sua caminhada. Bons estudos!
Instagram: profmarciodamasceno
Prof. Marcio
Tema 22
Autoral
“O TSH – Tráfico de Seres Humanos é um atentado contra a humanidade, consubstanciado em uma
agressão inominável aos direitos humanos, porque explora a pessoa, limita sua liberdade, despreza sua
honra, afronta sua dignidade, ameaça e subtrai a sua vida.
[...]
Crime multifacetado, o TSH advém de uma multiplicidade de questões, realidades e desigualdades sociais.
Quase sempre, a vítima se encontra fragilizada por sua condição social, tornando-se alvo fácil para a cadeia
criminosa de traficantes que a ludibria com o imaginário de uma vida melhor. Aproveitando-se de sua
situação de vulnerabilidade e da ilusão de um mundo menos cruel, transforma a vítima em verdadeira
mercadoria. A crise mundial, causa do aprofundamento da pobreza e das desigualdades, cria espaços para
o fomento das mais diversas formas de exploração mediante o comércio de seres humanos.”.
Brasil. Secretaria Nacional de Justiça. Tráfico de pessoas: uma abordagem para os direitos humanos / Secretaria Nacional
de Justiça, Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação; organização de Fernanda Alves dos Anjos ... [et
al.]. – 1.ed. Brasília: Ministério da Justiça, 2013.” Disponível em: http://www.justica.gov.br/sua-protecao/trafico-de-
pessoas/publicacoes/anexos/cartilha_traficodepessoas_uma_abordadem_direitos_humanos.pdf. Acesso: 01 de fevereiro
de 2019.
O curso está baseado em dois guias de enfrentamento publicados em conjunto com outras instituições. Um
deles está focado na repressão e persecução penal ao ilícito, com 300 páginas e 600 impressões. Já o outro,
é especializado na indispensável assistência às vítimas.
Tais especializações visam intensificar o combate ao crime de tráfico de pessoas, que tem se intensificado
nos últimos anos. O número de instaurações de inquéritos policiais e investigações sobre o assunto na
PF dobrou nos últimos dois anos.
Nesse período, mais de 180 pessoas foram resgatadas das mãos do tráfico por policias federais. Foram
dezenas de prisões e condenações dos infratores, apesar do alto índice de subnotificações destes crimes.
Como projeto-piloto, que servirá de referência para o restante do país, a PF criará uma operação
permanente em Roraima, o projeto Mitra, com o objetivo de identificar, monitorar e cruzar dados de
possíveis traficantes e coiotes, facilitando suas prisões e impedindo futuras ações.
Há muito o que se fazer e é por isso que a Polícia Federal conta com o apoio da sociedade civil e de outros
órgãos para melhorar cada vez mais sua prestação qualificada no combate ao tráfico de pessoas e
contrabando de migrantes.
Disponível em: https://www.gov.br/pf/pt-br/assuntos/noticias/2020/07-noticias-de-julho-de-
2020/policia-federal-coordenara-acao-internacional-de-repressao-ao-trafico-de-pessoas.
Acesso: 22 de janeiro de 2021.
Considerando que o texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo sobre o
tráfico de pessoas, mencionando, necessariamente os seguintes pontos:
Explique no que consiste o crime de tráfico de pessoas e mencione três das suas características; [valor:
3,50 pontos]
Desafios e principais iniciativas governamentais para o seu enfrentamento; [valor: 5,40 pontos]
Papel da Polícia Federal no enfrentamento do problema. [valor: 3,50 pontos]
Proposta de solução
Tema 23
Considerando que o fragmento de texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo que atenda, necessariamente, ao que se pede a seguir:
Defina o crime de contrabando e indique, em linhas gerais, as circunstâncias que integram esse tipo
penal; [valor:2,40 pontos]
Comente acerca das principais mercadorias e cargas contrabandeadas no território brasileiro; [valor:
2,00 pontos]
Explane a respeito dos problemas decorrentes do contrabando de mercadorias e cargas para a
economia nacional e para a saúde pública; [valor: 4,00 pontos]
Sugira medidas e ações efetivas das forças públicas para o combate ao contrabando de mercadorias e
cargas no país. [valor: 4,00 pontos]
Proposta de solução
Inicialmente, esclareça-se que, de acordo com o Código Penal, o crime de contrabando
pode ser definido como a conduta de exportar ou importar mercadoria proibida. Além disso,
o referido Código elenca algumas condutas equiparadas ao contrabando, tais como a
importação ou exportação clandestina de mercadoria que dependa de registro, de análise ou de
autorização de órgão público competente, bem como a reinserção, no território nacional, de
mercadoria brasileira destinada à exportação. [Tópico 1]
Tema 24
Para a titular da Delinst, o aumento das operações e, consequentemente, das prisões no Ceará é um
resultado de capacitações realizadas na área investigativa. "Assim como os criminosos usam de artimanhas
avançadas para realizar os crimes virtuais, nós (Polícia Federal) também temos nos capacitados mais nessa
área. Com isso, estamos conseguindo dar andamento aos inquéritos, deflagrar mais operações e chegar aos
alvos", afirmou a investigadora.
A delegada Juliana Sá revela que, na maioria dos casos, os criminosos são do sexo masculino, com idades
entre 20 e 50 anos, e que possuem habilidade com computadores e informática. Embora as investigações
apontem para um tipo específico de suspeito, o perfil dos agressores pode ser bastante diversificado. Nas
ações da PF no Ceará, já foram identificados policiais, universitários, funcionários públicos e até religiosos
consumindo materiais pornográficos envolvendo crianças.
"Geralmente, os acusados são homens, que têm bom conhecimento em sistemas de informática, para
conseguirem armazenar os vídeos em locais de difícil acesso. São pessoas que não levantam muitas
suspeitas, que tentam ganhar a confiança das famílias e assim conseguem se aproximar das crianças. Eu
diria que os agressores não têm classe social, cor ou crença definidos", explicou a delegada.
Punição
A investigadora federal diz que os casos devem ser denunciados para que a PF chegue aos envolvidos. As
pessoas que recebem vídeos através das redes sociais também devem denunciar, mesmo que não
conheçam os autores ou as vítimas. Quem mantiver material de pornografia infantil, seja no celular ou
computador, também estará passível de punição.
"Não só a produção, mas também o consumo de vídeo ou foto é crime. Não adianta tentar compartilhar um
vídeo de abuso contra criança através das redes sociais para que se chegue ao culpado, como é comum
verificarmos na internet. Isso acaba expondo as vítimas e é crime. Recebeu um vídeo? Então apague
imediatamente e denuncie", reiterou a delegada Juliana Sá.
Além da Polícia Federal, as denúncias podem ser realizadas através da Secretaria de Direitos Humanos
(SDH), por meio do Disque 100, ou pelo site da ONG Safernet Brasil. A Delegacia da Criança e do
Adolescente (DCA) da Polícia Civil também investiga casos de pornografia infantil, no entanto, os dados
tabulados de vítimas e prisões não foram repassados à reportagem.
Disponível em: https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2018/02/15/brasil-e-o-segundo-
pais-no-mundo-com-maior-numero-de-crimes-ciberneticos.htm?cmpid=copiaecola. Acesso
em: 19/07/2020. (com adaptações)
Um dos principais fatores desse aumento de crimes está na popularidade de smartphones, que agora
chegam a 236 milhões de aparelhos no Brasil, ou 113,52 para cada 100 habitantes.
"Esse aumento também impacta no crescimento de cibercrimes, já que muitos acreditam que estejam mais
seguros utilizando aparelhos móveis", explica o professor e coordenador do MBA em Marketing Digital da
Fundação Getúlio Vargas em todo o Brasil, Andre Miceli. "O paradoxo segurança x liberdade, que sempre
existiu no meio físico, existe no digital também. Quanto mais livres estivermos, menos seguros estaremos."
No último ano, o número de golpes e crimes aplicados via serviços como o WhatsApp aumentaram
significativamente, tornando-se a principal ferramenta para hackers no país. Por isso, Miceli reforça
vigilância constante por parte de usuários.
"A melhor maneira é se precaver para navegar de uma forma mais segura na web. Evitar o uso de redes
públicas, modificar sua senha constantemente, não usar a mesma senha em todos os sites, não instalar
nenhum software sem ter certeza da procedência e não abrir e-mails de desconhecidos."
"Essas práticas irão resolver 80% dos casos."
Para o professor, tomar medidas preventivas para proteger seus dados e não sofrer com golpes ou outros
crimes cibernéticos é essencial, já que o número de ferramentas digitais só deve crescer no futuro.
"Nos próximos anos, veremos ataques a carros, drones, roupas, cardioversores, bombas de insulina e outros
gadgets que irão fazer parte de nossas vidas. Por isso é tão importante falar sobre esse assunto.", declarou.
Disponível em: https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2018/02/15/brasil-e-o-segundo-
pais-no-mundo-com-maior-numero-de-crimes-ciberneticos.htm?cmpid=copiaecola. Acesso
em: 14/07/2020. (com adaptações)
“O Facebook tem orgulho de contribuir para essa iniciativa, que, esperamos, trará mudanças reais para
garantir a segurança das crianças”, disse Sheryl Sandberg, CEO do Facebook.
A Tech Coalition nasceu há 15 anos para coordenar a implementação de instrumentos de moderação
tecnológica em grandes plataformas digitais: principalmente, sistemas de reconhecimento automatizado
de imagens de pornografia infantil.
Apesar das regras estritas contra o conteúdo que sexualiza ou explora menores, as redes sociais voltadas
principalmente para jovens, como Snapchat, TikTok, YouTube e Instagram, costumam ser alvo de críticas
por não proteger suficientemente os menores contra abusadores para evitar escândalos e a fuga de
anunciantes.
https://www.istoedinheiro.com.br/gigantes-da-internet-aliados-na-luta-contra-a-pedofilia/
(com adaptações)
A partir das ideias dos textos precedentes, que têm caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo acerca do seguinte tema:
A PROTEÇÃO DA CRIANÇA NUM CONTEXTO DE ESCALADA DOS CRIMES VIRTUAIS
Em seu texto, aborde, necessariamente:
a) o advento da internet e o reflexo sobre a pornografia infantil; [valor: 4,40 pontos]
b) a garantia da proteção da criança; [valor: 4,00 pontos]
c) o combate à pornografia infantil virtual. [valor: 4,00 pontos]
Proposta de solução
sejam disponibilizadas fotos e vídeos íntimos com potencial de difusão instantânea e ilimitada,
o que pode causar danos irrecuperáveis às vítimas.
Em segundo plano, recorde-se ser obrigação da família, da sociedade e do Estado
brasileiro assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito a
uma vida digna e protegê-los de toda forma de exploração e violência. Trata-se da doutrina
da proteção integral, encartada no texto constitucional, no Estatuto da Criança e do
Adolescente e em tratados internacionais dos quais o país é signatário. Nesse sentido, deve-
se impedir que as crianças sejam seduzidas e levadas a disponibilizar conteúdo de caráter
sexual, pornográfico ou qualquer outro que venha a constrangê-las, traumatizá-las ou ameaçar
o desenvolvimento saudável da sua sexualidade.
Finalmente, o combate a esse crime envolve múltiplos atores. Inicialmente, é papel
da família dialogar, orientar, estabelecer limites e vigiar o comportamento de crianças na
internet, assegurando-se de que os riscos existentes nesse ambiente foram compreendidos. A
escola também pode ajudar, principalmente quanto ao estabelecimento de espaços de discussão,
à identificação de possíveis casos e à realização de campanhas de informação acerca do tema.
Por sua vez, as polícias devem dar a necessária ênfase a esse crime, realizando investigações
para identificar a ação de criminosos e desarticular as organizações envolvidas nesse negócio.
Por fim, as empresas de tecnologia que operacionalizam as plataformas digitais onde esses
crimes ocorrem devem implantar mecanismos de controle capazes de identificar a ocorrência
e evitar sua concretização.
Tema 25
Autoral
Operação Luz da Infância prende 27 por exploração infantil na internet
Em contextos de alta renda, há evidências de que os programas escolares podem ser eficazes na
prevenção da violência em relacionamentos entre os jovens.
Em contextos de baixa renda, as estratégias para aumentar o empoderamento econômico e social das
mulheres – como as microfinanças combinadas à formação em igualdade de gênero e as iniciativas
comunitárias contra a desigualdade de gênero e as habilidades de relacionamento interpessoal –
demonstraram certa eficácia na redução da violência por parte de parceiros.
Situações de conflito, pós-conflito e deslocamento podem exacerbar a violência por parte de parceiros
e apresentar formas adicionais de violência contra as mulheres.
Disponível em:
https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5669:folh
a-informativa-violencia-contra-as-mulheres&Itemid=820. Acesso em: 26 de janeiro de
2021.
A partir da leitura dos textos de motivadores, redija um texto dissertativo sobre o tema:
A VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA MULHERES E CRIANÇAS: FERIDA ABERTA NO SEIO DA
SOCIEDADE
a) desafios relacionados à violência sexual a serem considerados pelas organizações policiais; [valor: 4,40
pontos]
b) a violência sexual contra crianças e adolescentes como grave problema social; [valor: 4,00 pontos]
c) papel da polícia no enfrentamento do problema da violência sexual contra crianças e adolescentes. [valor:
4,00 pontos]
Proposta de solução
de 84% das vezes, por quem possui algum tipo de vínculo com a mulher. Esse fato contribui
para a elevada subnotificação e, por conseguinte, implica a não investigação e punição dos
responsáveis. Outro obstáculo é o elevado risco de revitimização durante os procedimentos
legais, haja vista a necessidade de reviver os atos traumáticos de violência para fins de instrução
penal. A vergonha e a exposição provocada pela necessidade de expor os fatos ocorridos
inibem a manifestação das vítimas, o que também as dissuade da realização de denúncia.
Outrossim, uma das facetas mais cruéis de violência sexual é a cometida contra crianças
e adolescentes. Basta ver que, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública,
em mais de 70% dos casos de estupro são cometidos contra vulneráveis, categoria que alberga
os menores de 14 anos. As marcas desse tipo de violência extrapolam o aspecto físico; geram
profundos traumas psicológicos, os quais afetam a saúde mental das vítimas e das suas
famílias. Além disso, pode comprometer o convívio social, as relações laborais, os
relacionamentos interpessoais e, em última instância, a própria existência da vítima.
Por fim, o enfrentamento desse tema, que é, muitas vezes, invisível aos olhos do Poder
Público e repleto de tabus, envolve a participação da polícia. A esta cabe treinar o seu
pessoal para torná-lo apto a identificar as várias situações em que ocorrem crimes sexuais,
atuar de forma tempestiva e dar o tratamento adequado para o acolhimento das vítimas.
Além disso, é fundamental fortalecer os núcleos de investigação, os quais devem investir em
ações de inteligência e atuar de forma integrada com outras polícias, estaduais ou federais, com
o intuito de desarticular as grandes organizações criminosas que auferem lucros à custa da
inocência e fragilidade de crianças e adolescentes.
Tema 26
“Milhares de mulheres entraram na justiça do DF com medidas protetivas, desde que a Lei Maria da Penha
entrou em vigor, em setembro de 2006. A maioria se refere a proibições judiciais de contato pelos companheiros
e ex-companheiros. Esses pedidos vieram de mulheres que moram em Brasília (região que inclui, além do Plano
Piloto, o Lago Sul e o Lago Norte, o Varjão e a Estrutural) e localidades circunvizinhas. A grande maioria das
ações acolhidas pelo Tribunal de Justiça do DF com base na Lei Maria da Penha têm-se relacionado à ingestão
de álcool e são feitas contra ex-companheiros das mulheres agredidas. Em 2018, o número de inquéritos abertos
na Delegacia da Mulher do DF cresceu 86% em relação às 1.677 denúncias feitas no ano anterior. Isso não
significa que a prática do crime tenha aumentado, mas sim que as mulheres estão denunciando as agressões
com maior frequência”.
Correio Braziliense (com adaptações).
“Uma ligação anônima ajudou a esclarecer as circunstâncias da morte da auxiliar de serviços gerais Pedrolina
Silva, 50 anos. Segundo a pessoa que acionou a PCDF, João Marcos Vassalo da Silva Pereira, 20, teria dito a
diversas pessoas no Paranoá Parque, condomínio em que os dois moravam, que se a mulher “não for minha,
não será de mais ninguém”.
https://www.metropoles.com/violencia-contra-a-mulher/se-nao-for-
minha-nao-sera-de-mais-ninguem-teria-dito-assassino-de-pedrolina
“A Lei Maria da Penha apresenta cinco tipos de atitudes violentas contra as mulheres: física, psicológica, sexual,
patrimonial e moral. A violência física é representada por ações como tapas, empurrões, socos, mordidas,
chutes, queimaduras, cortes, estrangulamento, lesões por armas ou objetos etc. A violência psicológica inclui
ações como insultos constantes, humilhação, desvalorização, chantagem, isolamento de amigos e familiares,
ridicularização, rechaço, manipulação afetiva, exploração e negligência.
A violência sexual é a ação cometida para obrigar a mulher, por meio da força física, coerção ou intimidação
psicológica, a ter relações sexuais ou presenciar práticas sexuais contra a sua vontade. Já a violência patrimonial
ocorre quando o agressor retém, subtrai, ou destrói os bens pessoais da vítima, seus instrumentos de trabalho,
documentos e valores. Por fim, a violência moral ocorre quando a mulher sofre com qualquer conduta que
configure calúnia, difamação ou injúria praticada por seu agressor”.
https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/entenda-a-violencia/o-
tipo-de-violencia-sofrida
Considerando que o fragmento de texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo acerca do seguinte tema.
A PERSISTÊNCIA DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
Ao elaborar seu texto, aborde os seguintes aspectos:
1 aponte uma causa da violência contra a mulher; [valor: 4,40 pontos]
2 barreiras para a superação do problema; [valor: 4,00 pontos]
3 o dever do Estado de garantir a segurança dos cidadãos, em especial a das mulheres. [valor: 4,00 pontos]
Proposta de solução
Tema 27
Inédita
“Trata-se de um crime de ódio. O conceito surgiu na década de 1970 com o fim de reconhecer e dar
visibilidade à discriminação, opressão, desigualdade e violência sistemática contra as mulheres, que, em sua
forma mais aguda, culmina na morte. Essa forma de assassinato não constitui um evento isolado e nem
repentino ou inesperado; ao contrário, faz parte de um processo contínuo de violências, cujas raízes
misóginas caracterizam o uso de violência extrema. Inclui uma vasta gama de abusos, desde verbais, físicos
e sexuais, como o estupro, e diversas formas de mutilação e de barbárie.”
Eleonora Menicucci, ministra-chefe da Secretaria de Políticas para as Mulheres da
Presidência (Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República).
Disponível em: https://guiadoestudante.abril.com.br/ blog/atualidades-vestibular/entenda-a-lei-
do-feminicidio-e-por-que-e-importante/. Acesso em: 13/01/2019.
A partir das ideias do texto precedente, que tem caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo
acerca do seguinte tema:
FEMINICÍDIO: PROBLEMA SOCIAL A SER ENFRENTADO NO BRASIL
Em seu texto, aborde, necessariamente:
Proposta de solução
Tema 28
Disque 100 (canal de denúncias do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos) registrou
152.178 ocorrências de agressão contra o público infantojuvenil.
[...]
Com adaptações. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/opiniao/2019/09/12/internas_opiniao,781980/visao-
do-correio-infancia-um-grito-de-socorro.shtml. Acesso em 27 de maio de 2020.
alguns estados, sobretudo a doméstica, aumentaram logo após terem sido estabelecidas restrições de
deslocamento a espaços públicos e privados por causa da pandemia.
Somente no Paraná, por exemplo, houve um aumento de 15% nos registros de violência doméstica
atendidos pela Polícia Militar no primeiro fim de semana de isolamento. No Rio de Janeiro, a incidência foi
ainda mais expressiva: os números cresceram em 50%.
ONGs chinesas de proteção à mulher notaram, além disso, procura maior por ajuda durante a pandemia do
novo coronavírus. No Brasil, a Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos (ONDH) anunciou aumento de 9%
das denúncias atendidas pelo Ligue 180.
A violência doméstica é, no entanto, apenas parte da esteira do contexto atual que envolve, entre outras
coisas, o aumento de denúncias de violação de direitos humanos, por exemplo. Segundo o Ministério da
Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), foram registradas 1,3 mil queixas dessa natureza de
14 a 24 de março.
Por violência doméstica, compreende-se qualquer tipo de violência ocorrida dentro do âmbito familiar.
Mulheres, homens, idosos, crianças e funcionários podem ser vítimas.
"O isolamento social imposto recentemente é, na verdade, um fenômeno comum e que frequentemente
está ligado a situações de violência doméstica", explica a professora doutora Valéria Ghisi, coordenadora
do Projeto Vidora (Violência Doméstica e Relacionamentos Abusivos) do curso de Psicologia da
Universidade Positivo (UP). "O agressor tende a isolar socialmente a vítima, e a casa onde isso ocorre é tida
por muitos como um espaço onde os olhos dos outros não chegam. O coronavírus apenas potencializou a
questão".
Com adaptações. Disponível em https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/coronavirus-denuncias-de-
violencia-domestica-aumentam-e-expoem-impacto-social-da-quarentena/. Acesso em 27 de maio de 2020.
Considerando que os fragmentos de texto apresentados têm caráter unicamente motivador, redija um
texto dissertativo acerca da VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA VULNERÁVEIS. No seu texto, aborde,
necessariamente:
a) violência doméstica contra crianças e adolescentes; [valor: 4,40 pontos]
b) violência doméstica contra mulheres; [valor: 4,00 pontos]
c) a pandemia da Covid-19 como circunstância agravadora para as vítimas da violência doméstica. [valor:
4,00 pontos]
Proposta de solução
Tema 29
Brasil perde jovens para violência em patamar de países como Haiti, aponta Atlas da Violência
"A morte prematura de jovens (15 a 29 anos) por homicídio é um fenômeno que tem crescido no Brasil desde
a década de 1980", aponta estudo recém-divulgado, lembrando que essa é uma idade em que as pessoas
têm um alto potencial produtivo que acaba sendo desperdiçado. "Além da tragédia humana, os homicídios
de jovens geram consequências sobre o desenvolvimento econômico e redundam em substanciais custos
para o país."
Levantamento da Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo federal de junho de 2018 aponta que o
Brasil perde cerca de R$ 550 mil para cada jovem de 13 a 25 anos vítima de homicídio, levando-se em conta
o quanto o país deixa de ganhar com a capacidade produtiva (o trabalho) da vítima e os custos de saúde,
judiciais e de encarceramento ligados a cada morte. [...]
A partir das ideias do texto precedente, que tem caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo
acerca do seguinte tema:
JUVENTUDE PERDIDA: O DRAMA DA VIOLÊNCIA ENTRE JOVENS NO BRASIL
Em seu texto, aborde, necessariamente:
a) a importância de prevenir a violência entre jovens; [valor: 4,40 pontos]
b) a relação entre as drogas e a violência entre jovens; [valor: 4,00 pontos]
c) iniciativas, de cunho preventivo, com vistas a reduzir os números de jovens vítimas e autores da
violência. [valor: 4,00 pontos]
Proposta de solução
Tema 30
Caso Manchinha: Carrefour terá de depositar R$ 1 milhão em fundo para cuidados a animais
O fundo será criado pelo município de Osasco e será destinado a ações com animais.
O supermercado Carrefour terá de depositar R$ 1 milhão em um fundo, criado pelo município de Osasco,
na Grande São Paulo, pela agressão de um segurança que resultou na hemorragia e, consequentemente, na
morte do animal em 28 de novembro. De acordo com o Ministério Público de São Paulo, foi assinado um
Termo de Compromisso em que a empresa assume a obrigação.
Caso manchinha
Câmeras de segurança do supermercado e vídeos feitos por celulares de testemunhas registraram o
momento em que o segurança corre atrás do cão com uma barra de ferro.
Apesar de as imagens não mostrarem a agressão, o segurança admitiu, em depoimento à polícia, ter batido
no animal com a barra, mas que não teve a intenção de feri-lo. Posteriormente, Manchinha aparece
mancando e sangrando nas cenas. Ele era um cachorro abandonado e dócil que perambulava pelo Carrefour
e recebia alimentos e afagos de clientes e funcionários.
Outras filmagens mostram o cachorro machucado sendo imobilizado por funcionários da prefeitura. Eles
utilizam uma corda laçada ao pescoço do bicho, que desmaia. Em seguida, o bicho é levado a uma unidade
especializada em animais onde morreu. Segundo a veterinária que o atendeu, ele faleceu em
decorrência de sangramento.
O segurança
O segurança, que não teve o nome divulgado pela investigação, irá responder em liberdade por abuso e
maus-tratos de animais, de acordo com o artigo 32 da Lei número 9.605/98 de Crimes Ambientais. A
reportagem também não conseguiu localizar sua defesa para comentar o assunto.
Como o crime é de menor potencial ofensivo, não cabe prisão e nem indiciamento, de acordo com a pasta
da Segurança Pública. São enquadrados nesse artigo da lei quem fere ou mutila animais domésticos,
silvestres, nativos ou exóticos. Se condenado, o agressor pode receber pena de detenção de três meses a
um ano, além de multa.
Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2019/03/15/caso-manchinha-
carrefour-tera-de-depositar-r-1-milhao-em-fundo-para-cuidados-a-
animais.ghtml.Acesso em 03 de junho de 2020.
Polícia Federal cumpre mandados de busca e apreensão no âmbito das investigações do "Dia do Fogo"
Ação faz parte do esforço dos órgãos federais (Operação Verde Brasil) e visa recolher novas provas e elementos
que auxiliem nas investigações de possíveis crimes ambientais praticados no Pará
Belém/PA - A Polícia Federal deflagrou, nesta terça feira 22/10, na cidade de Novo Progresso /PA, a
Operação “Pacto de Fogo” que visa colher novas provas em investigação que apura associação criminosa
suspeita de praticar crimes ambientais em reservas e Unidade de Conservação Federais na Amazônia.
Foram cumpridos quatro mandados de busca e apreensão em residências e estabelecimentos ligados aos
suspeitos com o intuito de obter novos elementos de informação sobre os crimes em apuração.
As investigações tiveram início a partir da divulgação, pela imprensa nacional, de que fazendeiros e
produtores rurais da região de Novo Progresso teriam combinado a execução do chamado “Dia do Fogo”.
Segundo estes órgãos de imprensa, em 10 de agosto de 2019 seriam iniciados incêndios em diversas
localidades, inclusive Unidades de Conservação Federais na região.
A operação recebeu o nome ante a divulgação pela imprensa local e nacional de que diversas pessoas teriam
combinado, em grupos de aplicativos de mensagem, a data para as ações criminosas.
Ação conjunta PRF e IBAMA flagra madeira transportada ilegalmente na BR 101 em Joinville
Uma ação conjunta entre policiais rodoviários federais e agentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
(IBAMA) apreendeu na tarde de ontem (quarta), na BR 101 em Joinville, 45m³ de madeiras diversas
transportadas ilegalmente.
A carga estava em uma carreta Volvo de Presidente Prudente/SP. Os agentes constataram que a Guia
Florestal, emitida pelo estado do Mato Grosso, já estava vencida há mais de um mês. Além disso, conforme
o documento fiscal, a mercadoria já fora recebida pelo proprietário. Ou seja, os documentos apresentados
estava sendo reutilizados para tentar enganar a fiscalização.
Servidores da Secretaria Estadual da Fazenda estiveram no local e confirmaram a fraude fiscal. A empresa
responsável também vai responder a Termo Circunstanciado pelo crime ambiental de transportar madeira
sem licença válida.
Disponível em: https://www.prf.gov.br/agencia/acao-conjunta-prf-e-ibama-flagra-
madeira-transportada-ilegalmente-na-br-101-em-joinville/. Acesso em 28 de janeiro
de 2021.
Considerando os textos acima como meramente motivadores, redija uma dissertação sobre:
b) exemplos de ações criminosas contra o meio ambiente ocorridas recentemente no Brasil; [valor: 4,00
pontos]
c) como a polícia pode atuar na defesa do meio ambiente. [valor: 4,00 pontos]
Proposta de solução
Tema 31
infrações nos últimos cinco anos ficou acima do aumento da frota de veículos e de pessoas habilitadas: o
número de motoristas flagrados bêbados continua crescendo, em vez de diminuir com o endurecimento
das punições ao longo desses anos.
Internet: <g1.globo.com> (com adaptações).
Nas estradas federais que cortam o estado de Pernambuco, durante o feriadão de Natal, a PRF
registrou cento e três acidentes de trânsito, com cinquenta e dois feridos e sete mortos. Segundo a
corporação, seis motoristas foram presos por dirigir bêbados e houve oitenta e sete autuações pela Lei Seca.
Os números são parte da Operação Integrada Rodovia, deflagrada pela PRF. Em 2017, foram registrados
noventa acidentes. No ano passado, a ação da polícia teve um dia a menos.
Internet: <g1.globo.com> (com adaptações).
Considerando que os fragmentos de texto acima têm caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo acerca do seguinte tema.
O COMBATE ÀS INFRAÇÕES DE TRÂNSITO NAS RODOVIAS FEDERAIS BRASILEIRAS
Ao elaborar seu texto, aborde os seguintes aspectos:
1 medidas adotadas pela PRF no combate às infrações; [valor: 4,40 pontos]
2 ações da sociedade que auxiliem no combate às infrações; [valor: 4,00 pontos]
3 atitudes individuais para a diminuição das infrações. [valor: 4,00 pontos]
Abordagem teórica
1. Violência no trânsito
Os acidentes de trânsito estão entre as principais causas de morte no mundo, além de serem apontados
como um grande problema de saúde pública.
Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS)1:
A cada ano, a vida de aproximadamente 1,35 milhão de pessoas é interrompida devido a um acidente
de trânsito. Entre 20 e 50 milhões de pessoas sofrem lesões não fatais, muitas delas resultando em
incapacidade.
As lesões ocorridas no trânsito são a principal causa de morte entre crianças e jovens de 15 a 29
anos.
93% das mortes no trânsito ocorrem em países de baixa e média renda, embora estes concentrem
aproximadamente 60% dos veículos do mundo.
1
Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5147:acidentes-de-transito-
folha-informativa&Itemid=779. Acesso em: 29/01/2021.
Os acidentes de trânsito custam à maioria dos países 3% de seu produto interno bruto (PIB).
Segundo dados da OMS, o Brasil é o quarto país com mais mortes no trânsito, ficando atrás de China, Rússia,
Índia e Estados Unidos2.
Segundo relatório anual da Líder, administradora do seguro DPVAT, foram pagas 40.721 indenizações por
mortes no trânsito brasileiro em 2019, contra 38.281 em 2018 3, registrando um aumento de 6,37%.
Já segundo o DataSUS, Brasil, em nove anos, saiu da marca de 43.256 mil mortos no trânsito em 2011 para
30.371 mil mortes em 2019, uma redução de 30%.
No que se refere à violência nas rodovias federais, a Confederação Nacional dos Transportes (CNT)
divulgou os seguintes números4:
Seguindo a tendência observada no ano anterior, em 2020, houve queda nos acidentes de trânsito, mas
o número de mortes permaneceu estável.
'Em 2020, foram registrados 63.447 acidentes em estradas federais, número 5,9% inferior às 67.427
ocorrências registradas em 2019 e que mantém a tendência de queda iniciada em 2014 (169.194). De
acordo com a CNT, o grau de letalidade desses acidentes foi maior, já que o total de mortes ficou
praticamente inalterado, baixando de 5.332 óbitos em 2019 para 5.287 em 2020. A redução foi de
apenas 0,8%, com média de 14 pessoas mortas por dia nas rodovias federais. Só entre 2007 e 2020,
99.365 brasileiros perderam a vida em acidentes nas estradas federais.
De acordo com os dados da PRF, as principais causas de acidentes rodoviários em 2019 foram: falta de
atenção (37,1%), desobediência às normas de trânsito (12,0%), velocidade incompatível com a permitida
(8,9%) e consumo de álcool (8,0%).
Por fim, de acordo com os dados da Vigitel Brasil 2018 – Comportamento no Trânsito (Vigilância de Fatores
de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico)5, nas capitais, a frequência de adultos
que resolveram conduzir veículos motorizados após o consumo de qualquer quantidade de bebida alcoólica
foi de 11,4%, sendo cerca de duas vezes maior entre homens (14,2%) do que entre mulheres (6,3%).
Iniciemos nossa exposição tratando sobre as medidas adotadas pela PRF no combate às infrações.
A primeira que vem à mente é decorrência da sua competência constitucional de realizar o patrulhamento
ostensivo nas rodovias federais, evidenciada pelas suas ações de fiscalização. As ações fiscalizatórias se
dão sob as mais diferentes finalidades: verificação da alcoolemia e velocidade, recuperação de veículos
roubados, combate ao tráfico de armas e drogas. Em todos eles, busca-se combater infrações das mais
diversas naturezas, cujo cenário são as rodovias federais.
Essa função pode ganhar mais eficiência com o uso de ferramentas tecnológicas. São exemplos nesse
sentido o emprego de radares móveis de velocidade, de drones6, de câmeras e radares mais potentes, o uso
de etilômetros passivos7,entre outros. Segundo o Estadão8:
O monitoramento é o principal foco dos sistemas inteligentes de controle de tráfego. Além dos sensores de velocidade
fixos, a PRF conta hoje com centenas de radares móveis disponíveis para flagrar excessos na pista – boa parte já com a
tecnologia a laser, que duplica o alcance do equipamento. As câmeras são outra fonte importante para o direcionamento
das ações dos agentes. Mais do que simplesmente fotografar veículos cometendo infrações, elas são fundamentais para
monitorar o fluxo de veículos, apontar congestionamentos, identificar veículos irregulares e comportamentos suspeitos.
Em março, a PRF lançou o Alerta Brasil, um sistema inteligente que lê a placa do veículo e cruza essa informação com
diferentes bancos de dados, permitindo saber se ele consta na lista de carros roubados e se há problemas em sua
documentação. O diretor-geral da PRF, Renato Dias, conta que o sistema avalia até mesmo inconsistências como a
impossibilidade de um mesmo veículo trafegar em duas rodovias muito distantes em um curto espaço de tempo. “Isso
nos ajuda a identificar veículos clonados”, afirma. O Alerta Brasil já está em operação em 300 pontos do País.
Além da fiscalização, seria importante que você se recorde das ações educativas realizadas pela PRF. Por
meio dessas atividades, busca-se a conscientização da sociedade sobre a responsabilidade de cada um para
a segurança nas estradas. Dentre as ações realizadas pela PRF, você poderia destacar: realização de
palestras, distribuição de cartilhas, visitas a escolas, realizações de festivais, simpósios, etc. Em cada um
desses eventos reforça-se a necessidade de obediência às leis e o papel de cada cidadão para a promoção
de um trânsito mais seguro. São temas frequentes: direção defensiva, segurança para motociclistas,
segurança para pedestres, trânsito com cidadania.
Veja um exemplo extraído do sítio do Ministério da Justiça e Segurança Pública 9:
Polícia Rodoviária Federal participa do Maio Amarelo
Regionais conscientizam população com ações de educação para o trânsito e intensificam fiscalizações
Conscientizar a sociedade para redução de acidentes de trânsito. Esse é o principal objetivo do Maio Amarelo, movimento
internacional presente em mais de 40 países que acontece anualmente e prevê ações coordenadas para alertar a
população sobre o alto índice de mortes e feridos nas estradas.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF), por meio dos departamentos regionais, participa ativamente das ações do
movimento. Cada estado é responsável por definir as ações que serão desempenhadas nas rodovias de todo o país. A
orientação do departamento, no entanto, é que sejam seguidas duas diretrizes principais: ações de educação para o
trânsito e fortalecimento da fiscalização nas estradas.
6
Disponível em: https://www.metropoles.com/distrito-federal/transito-df/prf-fiscaliza-vias-do-df-com-drones-e-flagra-35-
infracoes-no-1o-dia. Acesso em: 17/08/2020.
7
Disponível em: https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2019/07/25/policia-rodoviaria-federal-utiliza-novo-equipamento-de-
etilometro-para-fiscalizacao-nas-rodovias-do-ceara.ghtml. Acesso em: 17/08/2020.
8
Disponível em: http://patrocinados.estadao.com.br/arteris/fiscalizacao-inteligente/. Acesso em: 17/08/2020.
9
https://www.justica.gov.br/news/collective-nitf-content-1558010985.51
As ações de educação para o trânsito têm como objetivo conscientizar e mudar o comportamento da sociedade no
trânsito, sensibilizando motoristas e passageiros para a segurança das vias. Uma das principais ferramentas utilizadas
pela PRF é o Cinema Rodoviário. Enquanto passa por um processo de fiscalização intensiva, o condutor é convidado a
assistir a vídeos educacionais com diversos exemplos de imprudências no trânsito e suas consequências.
O Festival Estudantil Temático de Trânsito (FETRAN) é outro projeto importante aplicado para um crescimento de
valores de trânsito seguro junto ao público infantil. Atividades culturais pedagógicas são realizadas e apresentadas na
Feira Temática de Trânsito e no Festival Temático de Trânsito.
Para Adriana Lourenço, gestora nacional de Educação para o Trânsito da PRF, essas ações coordenadas são momentos-
chave para uma conscientização de motoristas. “Criamos uma oportunidade de reflexão para os motoristas e esperamos
que as crianças tenham um crescimento desenvolvido com esses valores de trânsito mais seguro”, alerta.
A outra frente de atuação, durante o Maio Amarelo, é a intensificação da fiscalização cujo objetivo é combater problemas
recorrentes nas rodovias, como o excesso de velocidade e a falta da utilização de equipamentos de segurança, como o
cinto de segurança e os assentos de retenção para crianças, além da ingestão de bebidas alcoólicas antes de assumir o
volante.
Programas e operações da PRF10
Rodovida - para conscientizar o motorista sobre os riscos no trânsito, a Policia Rodoviária também conta com a
Operação Rodovida, uma ação que ocorre simultaneamente em todos os estados brasileiros voltada para a prevenção e
redução de acidentes de trânsito nas rodovias federais durante os feriados de fim de ano. O principal objetivo da operação
é reduzir a quantidade de acidentes graves nas rodovias federais e nos demais trechos críticos próximos a essas rodovias,
sejam elas estaduais ou municipais, pois existe a integração com outros órgãos.
Cinema Rodoviário - implantado em todas as regionais do órgão, conta com uma equipe que aproveita as fiscalizações
para sensibilizar os usuários das rodovias federais por meio de uma ação educativa. Enquanto os veículos são
fiscalizados, condutores e passageiros são convidados a assistir filmes educativos que orientam sobre comportamentos
seguros no trânsito.
Festival Estudantil Temático de Trânsito (FETRAN) - utiliza atividades pedagógicas para incluir a temática Trânsito
no cotidiano escolar. Por meio de parcerias entre escolas e a PRF, estudantes e professores produzem trabalhos com a
temática Trânsito em diversas modalidades como: teatro, maquetes, poesias, danças, entre outras. Com o slogan
"Transformando atitudes para salvar vidas", o festival objetiva conscientizar crianças e adolescentes sobre a
responsabilidade de todos na segurança do trânsito.
Projetos Educativos para Motoristas Profissionais – aliada às instituições que promovem ações sociais, a PRF
participa de eventos que reúnem motoristas profissionais e seus familiares para sensibilizá-los quanto a responsabilidade
de todos para a segurança no trânsito. O trabalho é realizado com palestras educativas em postos de combustíveis e
concessionárias de veículos pesados.
Comandos de Saúde nas Rodovias – Essa ação tem o objetivo de detectar e alertar sobre alterações em parâmetros de
saúde que podem prejudicar e/ou impedir a condução de veículos por profissionais do trânsito, reduzindo os riscos de
acidentes nas rodovias federais.
10
Disponível em: https://legado.justica.gov.br/news/prf-participa-da-semana-nacional-de-transito. Acesso em: 17/08/2020.
Outro ponto importante é o controle das interdições para assegurar a mobilidade nas vias federais
(objetivo estratégico da PRF).
Cada vez que a mobilidade é ameaçada numa rodovia, a Polícia Rodoviária Federal executa ações para,
dentro do menor prazo possível, restabelecer o direito de ir e vir dos cidadãos. Esse tema ganhou enorme
destaque em 2018 na greve dos caminhoneiros, em que a PRF recebeu reconhecimento de diversas áreas
do governo e da sociedade civil, por sua atuação eficiente e garantidora de direitos.
Em relação ao segundo tópico, deve-se mencionar a importância do papel da sociedade no combate às
infrações de trânsito. Atualmente, são diversas organizações não governamentais (ONGs) cujo principal
objetivo é evitar a ocorrência de infrações de trânsito para diminuição da violência. Inclusive, muitas foram
criadas por pessoas diretamente afetadas por acidentes de trânsito, seja por terem perdido um ente querido
seja por terem sido elas mesmas as vítimas.
Estão no escopo de atuação da sociedade:
Realização de estudos e pesquisas, aprofundando em assuntos que requeiram um embasamento
científico para análise e tomada de decisões que facilitem a adoção de ações para a redução de
acidentes de trânsito. Inclui-se nessa categoria o levantamento e a análise de dados, os quais podem
servir de insumo para o planejamento de políticas públicas e ações corretivas.
Realização de campanhas educativas com o objetivo de difundir a todos os atores do trânsito as boas
práticas, a importância do respeito à legislação vigente, os riscos envolvidos na atividade e as
consequências dos atos infracionais. Para isso, podem ser realizadas: palestras em escolas, empresas,
quartéis; campanhas publicitárias, apresentadas em rádio, televisão, imprensa escrita; distribuição de
panfletos nas vias críticas, onde mais ocorrem acidentes.
Atuação junto ao Poder Legislativo para aprimorar a legislação no sentido de coibir o cometimento
de infrações e prevenir acidentes.
Atuação junto ao Poder Executivo para aprimorar programas e políticas de combate às infrações de
trânsito.
Fomento de uma demanda de segurança no trânsito entre a população.
Por fim, pode-se mencionar a necessidade de se formar um senso de elevada reprovabilidade em relação às
infrações no trânsito, que, de forma alguma, podem ser banalizadas. Isso envolve uma modificação cultural
e moral da sociedade, o que nos remete à questão da educação. Por isso é importante, por exemplo, a
mobilização para a inserção de carga-horária sobre segurança viária nas grades escolares.
Em relação ao terceiro tópico, sob o ponto de vista individual, a principal ação dos cidadãos para
auxiliarem no combate às infrações é a obediência ao disposto nas leis, principalmente, ao Código de
Trânsito Brasileiro. É necessário que cada cidadão esteja consciente da sua responsabilidade e entenda que
a principal contribuição para o combate às infrações passa pela conduta individual de cada integrante da
sociedade. Vale lembrar que, segundo a OMS, 90% dos acidentes são causados por fator humano.
Nesse sentido, pode-se mencionar uma infinidade de exemplos: não ingerir bebida alcoólica ou outra
substância capaz de alterar a sua capacidade psicomotora quando for dirigir; efetuar a correta manutenção
do seu veículo; dirigir com prudência e respeitar a sinalização de trânsito, não realizando ultrapassagens em
locais indevidos; usar cinto de segurança; não utilizar equipamentos eletrônicos enquanto dirige, respeitar
os limites de velocidade da via; entre outros.
Tema 32
Excesso de velocidade. Ultrapassagens em locais indevidos. Ingerir bebida alcoólica e dirigir. A violência no
trânsito depende de muitos fatores, como explica o inspetor Diego Brandão, da Polícia Rodoviária Federal.
Mais de 1,2 milhão de pessoas perdem a vida devido ao trânsito todos os anos no mundo. 40 milhões ficam
feridas.
“Os mortos não estão apenas nos carros, são também motociclistas, pedestres e ciclistas”. É o caso de Raul
Aragão, de 23 anos, morto em outubro de 2017, em Brasília. O depoimento é da mãe do ciclista, Renata
Aragão. Em 2011, a Organização Mundial da Saúde iniciou a década para um trânsito seguro. O prazo para
que os governos adotem medidas é até 2020. No ano passado, a Polícia Rodoviária Federal registrou quase
90 mil acidentes graves em estradas federais, que provocaram a morte de 6.244 pessoas.
O especialista em Segurança no Trânsito e presidente do Instituto Brasileiro de Segurança no Trânsito, Davi
Duarte, avalia que o trânsito brasileiro ainda é muito hostil. O especialista observa que a taxa de mortalidade
é altíssima. Mesmo tendo uma população e uma frota menores, o Brasil aparece em quinto lugar entre os
países recordistas em mortes no trânsito, atrás da Índia, da China, dos Estados Unidos e da Rússia. No
Continente Americano, o país tem o quarto pior desempenho atrás de Belize, República Dominicana e
Venezuela.
Disponível em: http://radioagencianacional.ebc.com.br/geral/audio/2018-
02/violencia-no-transito-brasil-e-o-quarto-pais-com-mais-mortes.Acesso em 11 de
outubro de 2019. (com adaptações)
A cada 10 minutos uma pessoa morre vítima de violência pública no Brasil, ou seja, 6 mortes por hora. Esse
número praticamente se iguala quando se trata de acidentes de trânsito: a cada 12 minutos uma pessoa
morre vítima da violência no trânsito, ou seja, 5 mortes a cada hora, conforme levantamento feito pelo
Observatório Nacional de Segurança Viária.
De acordo com o estudo, o número de mortes causadas por armas de fogo, objetos cortantes e agressões
em geral, nos últimos cinco anos em todo Brasil (de 2011 a 2015, ano mais recente com disponibilidade de
estatísticas consolidadas), matou cerca de 260 mil pessoas no país. No mesmo período considerado pelo
levantamento, foram registradas cerca de 210 mil mortes em acidentes de trânsito, o que corresponde a
cinco mortes por hora, ou uma morte a cada 12 minutos. “Como podemos observar, o trânsito produz
praticamente a mesma quantidade de vítimas/hora que a violência por agressões no Brasil”, destaca o
diretor-presidente do Observatório, José Aurélio Ramalho.
Disponível: https://www.onsv.org.br/observatorio-afirma-violencia-no-transito-
tambem-e-violencia-publica/. Acesso em 11 de outubro de 2019.
Motivado pela leitura dos textos anteriores, redija um texto dissertativo e(ou) descritivo com o seguinte
tema:
VIOLÊNCIA NO TRÂNSITO BRASILEIRO: PROBLEMAS E SOLUÇÕES
No seu texto, aborde, necessariamente, os principais problemas gerados pela violência no trânsito e as
soluções para superar a situação atual.
Abordagem teórica
Pessoal, uma questão sem tópicos questionadores. Neste caso, minha recomendação é que se faça uma
introdução, dois parágrafos de desenvolvimento (um para os problemas, outros para as soluções) e termine
com uma conclusão (sim, no caso de não haver tópicos questionadores, recomendamos que seja feito um
parágrafo de fechamento).
1. Violência no trânsito
Os acidentes de trânsito estão entre as principais causas de morte no mundo, além de serem apontados
como um grande problema de saúde pública.
Devido à gravidade da situação, a Assembleia-Geral das Nações Unidas editou, em março de 2010, uma
resolução definindo o período de 2011 a 2020 como a “Década de Ações para a Segurança no Trânsito”,
cujo objetivo é a redução à metade do número de mortes em uma década. O documento foi elaborado com
base em um estudo da OMS (Organização Mundial da Saúde) que contabilizou, em 2009, cerca de 1,3 milhão
de mortes por acidente de trânsito em 178 países. Aproximadamente 50 milhões de pessoas sobreviveram
com sequelas.
Trata-se de um grave problema em nível mundial. Os acidentes de trânsito são o primeiro responsável por
mortes de pessoas na faixa de 15 a 29 anos de idade; o segundo, na faixa de 5 a 14 anos; e o terceiro, na faixa
de 30 a 44 anos. Atualmente, esses acidentes já representam um custo de US$ 518 bilhões por ano ou um
percentual entre 1% e 3% do PIB (Produto Interno Bruto) de cada país 11.
De acordo com os dados do Ministério da Saúde 12, em 2016 foram registradas 37.345 mortes; em 2017,
35.374 mortes; em 2018, 33.625; e em 2019, 31.307. Apesar da melhora, os números são alarmantes e
11
Disponível em: https://maioamarelo.com/o-movimento/. Acesso em: 13/02/2020.
12
Disponível em: http://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/45466-homens-sao-maiores-vitimas-de-acidentes-no-transito.
Acesso em: 09/08/2019.
expõem o cenário de violência que predomina no trânsito brasileiro. Atualmente, estima-se que a cada 16
minutos morre uma pessoa no trânsito brasileiro. Acompanhe o gráfico13:
A maior parte das vítimas fatais é do sexo masculino e jovens em idade produtiva, entre 20 a 39 anos
(36,75%). Em mulheres, os óbitos por acidente de trânsito foram de 6.336, correspondendo a 18% dos casos
em 2017. A maior parte delas também era jovem, em idade entre 20 e 39 anos (35,7%).
No que se refere à violência nas rodovias federais, a Confederação Nacional dos Transportes (CNT)
divulgou os seguintes números14:
Seguindo a tendência observada no ano anterior, em 2020, houve queda nos acidentes de trânsito, mas
o número de mortes permaneceu estável.
Em 2020, foram registrados 63.447 acidentes em estradas federais, número 5,9% inferior às 67.427
ocorrências registradas em 2019 e que mantém a tendência de queda iniciada em 2014 (169.194). De
acordo com a CNT, o grau de letalidade desses acidentes foi maior, já que o total de mortes ficou
praticamente inalterado, baixando de 5.332 óbitos em 2019 para 5.287 em 2020. A redução foi de
apenas 0,8%, com média de 14 pessoas mortas por dia nas rodovias federais. Só entre 2007 e 2020,
99.365 brasileiros perderam a vida em acidentes nas estradas federais.
A rodovia que teve mais mortes foi a BR-116. A que teve mais acidentes foi a BR-101.
O tipo de acidente mais comum nas vias federais é a colisão, que responde por 59,4% do total de
ocorrências. Em seguida, vêm saídas da pista (15,7%); capotamento e tombamentos (12,2%);
atropelamentos (7%) e quedas de ocupante (5,3%). As colisões também respondem por 61,8% das
situações com óbitos, enquanto os atropelamentos provocam 17,4% dos casos, seguidos pelas saídas
de pista (12,8%).
Iniciemos nossa exposição tratando sobre as causas do problema, importantes para pensarmos nas
soluções. Convencionou-se segmentar as causas dos acidentes de trânsito segundo o seguinte tripé:
13
Disponível em: http://vias-seguras.com/layout/set/print/os_acidentes/estatisticas/estatisticas_nacionais. Acesso em:
31/01/2021.
14
Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2021-02/numero-de-acidentes-em-rodovias-federais-cai-mas-
letalidade-aumenta#:~:text=De%20acordo%20com%20a%20CNT,por%20dia%20nas%20rodovias%20federais. Acesso em:
13/02/2020.
1. Infraestrutura viária ruim: segurança nas estradas engloba pavimento, sinalização e geometria da via.
Estradas esburacadas, sem acostamento, com sinalização precária ou coberta pela vegetação aumentam
as chances de acidente. A geometria da pista também conta muito para a ocorrência de acidentes: estradas
com muitas curvas e com raios de curvatura menores representam maior perigo para os condutores.
2. Condições do veículo: é sabido que com um veículo cuja manutenção é deficiente aumenta-se a
probabilidade de ocorrência de um acidente: pneus desgastados e descalibrados, faróis e sinalização
defeituosa e demais fatores que podem ocasionar funcionamento inadequado do veículo.
3. Fator humano: esse é, com certeza, o maior responsável pelo grande número de acidentes no país.
Segundo a OMS, 90% dos acidentes são causados por falhas humanas. Portanto, atacar essa causa é a
chave para resolução do problema da violência no trânsito.
A realização de ultrapassagens perigosas, feitas em locais inadequados, a associação de álcool e direção,
velocidade excessiva, uso do celular, técnica inadequada ao dirigir e falta de cortesia são os principais
fatores responsáveis pelo elevado número de mortes no trânsito.
Há também questões culturais envolvidas. Prevalece na sociedade o culto ao carro, crença segundo a qual
o carro tem prioridade e exclusividade no trânsito, excluindo os demais elementos, pessoas e ciclistas, vistos
como empecilhos, fatores que somente atrapalham o trânsito. Esse desrespeito culmina em violência, posto
ser comum os condutores motorizados não respeitarem as distâncias de proteção entre carros e ciclistas, a
prioridade dos pedestres nas faixas de pedestres etc.
As consequências da violência no trânsito podem assim ser resumidas:
1. A ocorrência de milhares de mortes prematuras, destacando-se o elevado número de jovens,
provocando forte impacto econômico.
2. Gera uma grande sobrecarga nos serviços de urgência e emergência do Sistema Único de Saúde (SUS)
com números crescentes de internações. Um levantamento da Associação Brasileira de Medicina de
Tráfego mostra que, de cada 10 leitos de UTIs no país, seis são ocupados por vítimas de acidentes
de trânsito15.
3. Os impactos na saúde pública não param por aí, haja vista que os acidentes incluem também o
tratamento das sequelas emocionais e físicas. Segundo estudo baseado em 1,7 milhões de internações
por acidente de trânsito terrestre entre 2000 a 2013, foi evidenciado que 23,5% dos pacientes
apresentaram diagnóstico sugestivo de sequela física, sendo que amputação e traumatismo
crânioencefálico são as principais causas, sobretudo entre homens de 20 a 29 anos, pedestres e
motociclistas.
15
Disponível em: http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2014/11/vitimas-de-acidente-de-transito-ocupam-60-das-utis-no-
brasil.html. Acesso em: 18/04/2020.
4. Há ainda os impactos sociais: sequelas que não permitirão que o acidentado retome as suas
atividades realizadas antes do acidente, traumas nas famílias afetadas pela perda de entes, traumas
sentidos pelo acidentado etc.
5. Estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea 202016 - mostra que a sociedade
perde cerca de R$ 50 bilhões por ano com os acidentes de trânsito, em que se destacam os custos
relativos à perda de produção das vítimas e, também, os custos hospitalares.
As soluções que podem ser apontadas são:
1. Investimento em educação em diversas frentes. Uma delas deve focar na educação escolar, incluindo
na grade de assuntos a educação no trânsito, de modo a formar adultos mais conscientes e
responsáveis.
Outra frente é a criação de um programa estruturado de campanhas de educação para o trânsito para
todo o país, de forma regionalizada, conforme as peculiaridades de cada região. Essas campanhas
devem instruir e buscar a sensibilização, fazendo com que cada cidadão entenda que a paz no trânsito
depende da conduta de cada um. Essas campanhas devem ser perenes e alertar de forma contínua os
condutores sobre os principais motivos associados a acidentes.
Deve-se também investir na formação dos condutores, seja nas autoescolas, seja nas empresas.
Por fim, ressalta-se a importância da família nesse processo, tanto na transmissão de conceitos
quanto de exemplos para que as crianças possam se espelhar.
Acerca de programas e projetos já existentes, os quais podem ser mencionados no seu texto, podem-
se apresentar o "Movimento Maio Amarelo", o "Vida no Trânsito" e a "Semana Nacional de Trânsito".
O Movimento Maio Amarelo é uma ação internacional de conscientização para a redução de
acidentes de trânsito. Tem como objetivo colocar em pauta, para a sociedade, o tema trânsito e
estimular a participação de população, empresas, governos e entidades. Foi instaurado no âmbito das
ações da “Década de Ações para a Segurança no Trânsito”.
O projeto “Vida no Trânsito” é coordenado pelo Ministério da Saúde conjuntamente com a
Organização Pan-americana de Saúde (OPAS/OMS no Brasil). Tem seu foco na redução de mortes e
de lesões graves no trânsito a partir da qualificação da informação, de ações planejadas,
desenvolvidas e executadas intersetorialmente e na ênfase em dois fatores de risco: direção sob efeito
de bebida alcoólica e velocidades incompatíveis, além de outros, a depender das particularidades
locais.
A "Semana Nacional de Trânsito" (SNT), conforme disposto no art. 326 do Código de Trânsito
Brasileiro (CTB), é comemorada anualmente entre os dias 18 e 25 de setembro. Visa a preservar vidas,
por meio de ações de conscientização voltadas para educação, engenharia e fiscalização de trânsito,
16
CARVALHO, Carlos Henrique Ribeiro de. CUSTOS DOS ACIDENTES DE TRÂNSITO NO BRASIL: ESTIMATIVA SIMPLIFICADA
COM BASE NA ATUALIZAÇÃO DAS PESQUISAS DO IPEA SOBRE CUSTOS DE ACIDENTES NOS AGLOMERADOS URBANOS E
RODOVIAS. Texto para discussão / Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. - Brasília: Rio de Janeiro: Ipea, 2020. p. 7.
17
A BR-116, no trecho entre São Paulo e Curitiba, reduziu 19% das mortes no primeiro semestre de 2015, com a efetivação da
operação com radares em relação ao ano passado, segundo a concessionária da via (Portal Itapecerica). Há registros também de
redução em outros trechos críticos dessa rodovia em função da operação de radares, como no trecho Belo Horizonte-Monlevade
e no perímetro urbano da via em Fortaleza.
18
ibid., p. 16.
PRF reduzir em 5% a quantidade de mortos e em 9,7% a quantidade de feridos graves entre 2011 e
2014, apesar do aumento de 23% da frota nacional de veículos no mesmo período (Ipea e PRF, 2015)."
3. Não menos importante é a necessidade constante de melhora das condições das vias terrestres,
com investimentos na duplicação de rodovias, melhora da pavimentação, colocação de semáforos,
obstáculos para a diminuição da velocidade nos pontos nevrálgicos, espaços para circulação de
bicicletas em ciclovias, sinalização das estradas, construção de passarelas etc. Veja o que diz o estudo
do Ipea19:
A identificação de trechos críticos que podem ser melhorados através de intervenções de engenharia
é fundamental. Foi visto que a colisão frontal é o principal tipo de acidente que provoca óbitos. A
duplicação da via nos trechos de maior incidência de acidentes desse tipo é um exemplo de
intervenção com alta eficácia, assim como trechos com sinalização inadequada. Um caso especial de
melhoria da infraestrutura é quanto aos investimentos em equipamentos de segurança aos
pedestres e ciclistas. Geralmente rodovias em áreas urbanas concentram a maior parte desses
acidentes, que podem ser evitados com bons projetos visando ao aumento de segurança dessas
pessoas, com destaque para equipamentos de travessia de pedestres (passarelas) e também
melhoria da iluminação pública nos trechos de maior fluxo de pessoas, visto que, no período noturno,
há maior ocorrência de atropelamento.
4. Questão regulatória, representada pelo arcabouço legislativo referente à matéria segurança no
trânsito. Em relação a esse ponto, o Brasil está avançado em relação aos demais países. Desde a
aprovação do novo Código de Trânsito Brasileiro em 1997 e de leis federais posteriores mais rígidas
em relação às infrações de trânsito, como a Lei Seca, por exemplo, o país se coloca em uma situação
privilegiada em termos de arcabouço legal para reprimir os desvios e abusos dos motoristas.
Apesar disso, há ainda no país uma sensação de impunidade com relação à penalização de motoristas
que provocam acidentes graves em função de negligência, ingestão de álcool ou comportamento
perigoso no trânsito, como grande excesso de velocidade20. Um levantamento realizado pelo G1
mostra que, em média, no estado de SP, uma pessoa foi presa para cada 22 homicídios ocorridos
no trânsito no estado.
Nesse sentido, é fundamental existirem mecanismos legais para punir de forma proporcional os
infratores, especialmente os responsáveis por homicídios, e que esses mecanismos sejam aplicados
pelo Poder Judiciário, como forma de inibir a prática de atos de irresponsabilidade no trânsito.
5. Não se pode esquecer dos veículos, importante elemento no tripé da segurança no trânsito (condutor-
via-veículo). Nesse sentido, sugere-se a implantação de programas de inspeção veiculares periódicos,
previstos na forma do art. 104 do CTB e que, até hoje, não foram postos em prática por falta de um
marco regulatório no país.
19
ibid., p. 17.
20
ibid., p. 15.
Outro ponto relevante é o avanço tecnológico dos veículos em relação aos equipamentos de
segurança. Nesse ponto, é importante a estrutura de regulação do governo federal, exigindo que a
indústria adote padrões de segurança veicular semelhantes aos dos países desenvolvidos, como a
exigência desde 2014 de freios ABS e air bags nos veículos nacionais. Assim, parte da solução envolve
a exigência de que sejam incorporados os avanços tecnológicos nos veículos, capazes de evitar ou
reduzir a gravidade dos acidentes.
6. Por fim, o elemento mais relevante é o humano, tanto no papel de condutor como de pedestre. Os
motoristas devem respeitar as leis de trânsito, manter a distância de segurança entre veículos,
respeitar o limite de velocidade das vias, usar o cinto de segurança, não combinar bebida alcoólica e
direção e não utilizar o celular enquanto dirigem. O mesmo é válido para os pedestres, os quais devem
utilizar as faixas de travessia, passarelas, enfim, respeitar a legislação de trânsito.
Assim, é fundamental que Estado e cidadãos incorporem o seu papel para um trânsito mais seguro.
Sem a internalização da sua importância e o seu real engajamento, nenhuma política pública logrará
êxito, por melhores que sejam as suas intenções.
Tema 33
Autoral
Suicídio já causa mais mortes de policiais do que confronto em serviço
343 policiais civis e militares foram assassinados em 2018, no Brasil. Em 75% dos casos, os assassinatos
ocorreram quando os profissionais estavam fora de serviço. Os dados são da 13ª edição do Anuário
Brasileiro de Segurança Pública, divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
O estudo também aponta que a violência à qual os policiais estão permanentemente expostos, o estresse
psicológico e o acesso a armas têm causado graves efeitos: 104 policiais cometeram suicídio no ano
passado. Esse número é maior do que o de policiais que foram mortos durante o horário de trabalho (87
casos). [...]
Disponível em: https://observatorio3setor.org.br/noticias/suicidio-ja-causa-mais-
mortes-de-policiais-do-que-confronto-em-servico/. Acesso: 12 de janeiro de 2020.
“Foi algo que ninguém esperava, fomos descobrir que ele teve depressão depois que ele se matou. A
depressão dele é aquela que tem alteração de humor, ele sempre teve isso. Depois que se matou que fomos
entender o que era. Meu pai nunca falou sobre isso [depressão]. No dia achamos que tinham matado ele,
não sabíamos que tinha sido suicídio. Até porque só falaram para a gente que ele tinha se matado perto do
velório. Foi difícil porque ele não nos contava nada. Ele era bem fechado, era o jeito dele”, diz a filha.
Disponível em: https://exame.abril.com.br/brasil/pms-sofrem-com-suicidios-e-
transtornos-mentais-sem-apoio-da-corporacao/. Acesso: 12 de janeiro de 2020
Considerando o caráter meramente motivador dos textos acima, elabore um texto dissertativo sobre o
tema:
SAÚDE MENTAL DO POLICIAL NO CONTEXTO DE UMA SOCIEDADE MARCADA PELA
INSTABILIDADE EMOCIONAL
Ao elaborar seu texto, aborde os seguintes aspectos:
a) Instabilidade emocional como uma das características da sociedade contemporânea. [valor 4,40 pontos]
b) Especificidades da profissão policial. [valor 4,00 pontos]
c) A contribuição do Estado para a transformação da realidade no âmbito da atividade policial. [valor 4,00
pontos]
Abordagem teórica
21
Disponível em: https://nacoesunidas.org/saude-mental-depende-de-bem-estar-fisico-e-social-diz-oms-em-dia-mundial/.
Acesso em 14/01/2020.
Múltiplos fatores sociais, psicológicos e biológicos determinam o nível de saúde mental de uma pessoa.
Por exemplo, as pressões socioeconômicas contínuas são reconhecidas como riscos para a saúde mental
de indivíduos e comunidades. A evidência mais clara está associada aos indicadores de pobreza, incluindo
baixos níveis de escolaridade.
Uma saúde mental prejudicada também está associada a rápidas mudanças sociais, condições de trabalho
estressantes, discriminação de gênero, exclusão social, estilo de vida não saudável, risco de violência,
problemas físicos de saúde e violação dos direitos humanos.
Há também fatores psicológicos e de personalidade específicos que tornam as pessoas vulneráveis aos
transtornos mentais. Por último, há algumas causas biológicas, incluindo fatores genéticos, que
contribuem para desequilíbrios químicos no cérebro.
Han, com base na obra do sociólogo Alain Ehrenberg, sugere que a depressão é fruto do cansaço de termos
que ser nós mesmos o tempo todo. O cansaço de ser si mesmo advém da pressão por ser inovador, autêntico,
produtivo o tempo inteiro e de que tudo é possível, basta que o indivíduo deseje. Frases motivacionais como
"você é do tamanho dos seus sonhos" expressam muito bem esse espírito.
Han também apresenta como causa para a inquietação do homem moderno o excesso de estímulos e a
necessidade de desempenhar inúmeras tarefas ao mesmo tempo ("multitasking"). Com essa valorização da
produtividade, criminalizou-se o ócio e a contemplação, elementos fundamentais para a evolução intelectual
da humanidade, os quais fazem com que o ser humano consiga enxergar além das fronteiras do seu
cotidiano.
O resultado disso tudo é nítido: uma sociedade fragmentada e atomizada que, cada vez mais, medicaliza as
suas emoções, com os colapsos psíquicos causados pelo esgotamento e pela percepção ainda que tardia de
que se levou uma vida como escravo de si mesmo.
A intensidade do cansaço da nossa sociedade pode ser mensurada por números. Segundo o IBOPE, em sua
rotina, 98% dos brasileiros se sentem um pouco ou muito cansados mental e fisicamente. Os jovens entre
20 e 29 anos formam o grupo que se sente mais cansado, o que representa 99%22.
Nesse contexto, é importante falar sobre as consequências do quadro de estresse contínuo e esgotamento
mental sobre a saúde.
A primeira delas é a depressão, também chamada pela OMS de mal do século. Trata-se de um quadro
clínico caracterizado por tristeza persistente e uma perda de interesse por atividades nas quais as pessoas
normalmente sentem prazer, acompanhadas por uma incapacidade de realizar atividades por vários dias.
São sintomas comuns de um quadro de depressão: perda de energia; alterações no apetite; dormir mais ou
menos do que se está acostumado; ansiedade; concentração reduzida; indecisão; inquietação; sentimentos
de inutilidade, culpa ou desesperança e pensamentos de autolesão ou suicídio23.
No Brasil, estima-se que sejam diagnosticados aproximadamente 2 milhões de casos por ano e, segundo a
OMS, pelo menos 30% da população mundial vai enfrentar algum episódio de depressão ao longo da vida.
A depressão é a principal causa de problemas de saúde e incapacidade em todo o mundo 24. Uma
estimativa da OMS divulgada em 2017 mostrou que cerca de 300 milhões de pessoas sofrem de depressão
global (aumento de mais de 18% entre 2005 e 2015), algo que corresponde a 4,4% da população. No Brasil,
a doença atinge 5,8% da população.
22
Disponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/saude/vida/noticia/2013/11/98-dos-brasileiros-se-sentem-cansados-
mental-e-fisicamente-aponta-estudo-4348520.html. Acesso em 14 de janeiro de 2020.
23 Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5385:com-depressao-no-
topo-da-lista-de-causas-de-problemas-de-saude-oms-lanca-a-campanha-vamos-conversar&Itemid=839. Acesso em 14 de
janeiro de 2020.
24 Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5385:com-depressao-no-
topo-da-lista-de-causas-de-problemas-de-saude-oms-lanca-a-campanha-vamos-conversar&Itemid=839. Acesso em 14 de
janeiro de 2020.
Nesse contexto, é importante explorar a influência das redes sociais nesse quesito. Sabe-se que, nesses
ambientes, projeta-se uma imagem daquilo que a pessoa gostaria de ser ou do que ela gostaria de ter. Essa
“vida perfeita”, nutrida por "likes" e curtidas, compartilhada em tempo real, faz com que os jovens
desenvolvam expectativas irreais sobre suas próprias vivências. Esse referencial inalcançável, atrelado à
baixa autoestima podem comprometer seriamente a saúde mental especialmente dos mais jovens.
Outra síndrome, popularizada com o uso intensivo das redes sociais, é a FoMO ou "Fear of Missing Out",
cuja tradução livre é "medo de estar perdendo algo". Traduz-se no medo de que outras pessoas tenham
boas experiências sem você. Isso gera uma necessidade constante de se atualizar sobre o que está sendo
divulgado nas redes sociais. Certamente, você conhece alguém que precisa, constantemente, ver se há algo
novo nas redes sociais. O resultado é mais ansiedade e angústia.
Nesse sentido, um estudo divulgado pela Universidade de Michigan apontou uma ligação entre o uso
excessivo das redes sociais e a infelicidade. Dados coletados assinalam que as emoções ligadas à
infelicidade aumentaram proporcionalmente ao tempo de exposição das postagens de gente
aparentemente feliz.
O estudo revela que as taxas de ansiedade e depressão entre jovens de 14 a 24 anos aumentaram 70% nos
últimos 25 anos. Ao todo, 1.479 participantes das pesquisas falaram sobre o nível de envolvimento com
aplicativos como Youtube, Twitter, Instagram e Snapchat e como eles influenciavam em seus sentimentos.
O resultado indicou que o compartilhamento de fotos pelo Instagram (considerado a rede social mais
danosa à saúde emocional das pessoas) impacta negativamente no sono, na autoimagem e aumenta o
medo de jovens de ficarem fora dos acontecimentos. Cerca de 70% dos jovens revelaram que o aplicativo
fez com que eles se sentissem pior em relação à própria autoimagem e, quando a fatia analisada são as
meninas, esse número sobe para 90%25.
No contexto das doenças causadas pelo excesso de trabalho, a OMS sinalizou com preocupação para outra
doença que nem sequer havia sido catalogada até então: a Síndrome de Burnout ou Síndrome do
esgotamento profissional.
Trata-se de um distúrbio com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico proveniente de
uma situação de trabalho desgastante por causa de uma competitividade elevada e um sentimento
ampliado de responsabilidade26. A principal causa da doença é justamente o excesso de trabalho. Essa
síndrome é comum em profissionais que atuam diariamente sob pressão e com responsabilidades
constantes, como médicos, enfermeiros, professores, policiais, jornalistas, dentre outros.
Nesse contexto social, de intensa fragmentação emocional, eclode a questão do suicídio. Estima-se que,
anualmente, mais de 800 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos e, a cada adulto que se suicida,
25Disponível em: Royal Society for Public Health. Social media and young people's mental health and wellbeing. Disponível
em: https://www.rsph.org.uk/uploads/assets/uploaded/d125b27c-0b62-41c5-a2c0155a8887cd01.pdf. Acesso em 14 de
janeiro de 2020.
26 Ministério da Saúde, Governo Federal. Síndrome de Burnout: o que é, quais as causas, sintomas e como tratar.
pelo menos outros 20 atentam contra a própria vida. Segundo dados da OMS, o suicídio representa 1,4%
de todas as mortes em todo o mundo, tornando-se, em 2012, a 15ª causa de mortalidade na população
geral; entre os jovens de 15 a 29 anos, é a segunda principal causa de morte27.
Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2016, o país registrou cerca de 11.433 casos de suicídio, o que
dá uma média de 31 casos por dia. Isso sem contar com os casos não registrados. De acordo com a OMS,
a taxa de suicídios aumentou 7% no Brasil, ao contrário do índice mundial, que caiu 9,8% 28.
As causas do suicídio são as mais diversas: problemas financeiros, estresse, término de relacionamentos,
perdas materiais ou pessoais. Nessa relação não pode ser esquecida a depressão, uma das principais
causas do suicídio. De acordo com a OMS afirma-se que os métodos mais comuns de suicídio no planeta
são enforcamento, envenenamento por pesticidas e uso de armas de fogo.
As taxas de suicídio também são elevadas em grupos vulneráveis que sofrem discriminação, como
refugiados e migrantes; indígenas; lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e intersexuais (LGBTI); e pessoas
privadas de liberdade.
No campo das ações, destaca-se a campanha Setembro Amarelo, uma iniciativa do Centro de Valorização
da Vida (CVV) que tem como objetivo incentivar o diálogo sobre o suicídio para a sociedade.
2 Especificidades da profissão policial
A carreira policial, certamente, possui especificidades que potencializam a desestabilização da saúde
emocional do indivíduo. Trata-se de grupo de risco vulnerável no que tange ao adoecimento mental e
psíquico por diversos fatores. Vejamos quais seriam as razões para isso.
Segundo o pesquisador de segurança pública Paes de Souza29, o ambiente, com frequência, é permeado
por abusos de autoridade, perseguições, agressões verbais e falta de confiança. O treinamento exigente
– quando não abusivo – desde a entrada na corporação, prolonga-se em um cotidiano de rigidez hierárquica
e intimidação, agravando o estresse, o medo e a angústia inerentes à profissão.
Além disso, como se sabe, os policiais têm que lidar, diariamente com a violência. Não raro, evidenciam-se
situações traumáticas como, por exemplo, a perda de um amigo, de um companheiro de farda. Retornar
para o serviço de imediato, muitas vezes, o vulnerabiliza emocionalmente, oportunizando o aparecimento
de transtornos mentais.
É um ambiente de viés machista e de virilidade, em que não se admite fraqueza, o que nos remete ao
conceito de masculinidade tóxica (ver box abaixo). No meio policial são comuns frases que exemplificam
essa cultura: "nós só admitimos os fortes", "militar é superior ao tempo", "militar não sente medo".
É comum a existência de policiais que evitam buscar tratamento porque se recusam a assumir a fraqueza,
inerente ao ser humano, ou pelo julgamento por parte dos colegas, visto ser um meio no qual há ainda muito
preconceito com o policial diagnosticado com problemas emocionais e psiquiátricos. Os policiais que se
afastam por transtornos mentais são, com frequência, vistos de forma pejorativa pelos colegas, taxados de
fracos e vistos com desconfiança pelos seus superiores por estarem, supostamente, utilizando-se de
subterfúgios para não trabalharem.
Cogitada a palavra do ano pelo dicionário Oxford em 2018 (no final, preferiu-se, apenas, "tóxica", de
caráter mais abrangente), masculinidade tóxica relaciona-se às normas sociais que levam homens a não
falar sobre seus sentimentos, não cuidar da própria saúde, não demonstrar fragilidade e a tender a
resolver conflitos fazendo uso da violência. Trata-se de uma idealização da masculinidade, na qual
prepondera a força, enquanto a demonstração de emoções representa fraqueza. Alguns segmentos
sociais ainda carregam essa cultura, que é mais forte ainda no meio policial.
Alguns dos efeitos da masculinidade tóxica são a supressão de sentimentos, o encorajamento da
violência, a falta de incentivo em procurar ajuda, até coisas ainda mais graves, como perpetuação do
encorajamento de estupro, homofobia e misoginia.
Frases como o "homem não chora" refletem a cultura em torno da masculinidade como insuscetível de
fraquezas, que, como nós sabemos, são inerentes ao ser humano (independentemente do sexo) e,
principalmente, os policiais, expostos a todo tipo de violência e estresse.
Um dos organizadores do Anuário Brasileiro de Segurança Pública (ABSP), Elisandro Lotin, acrescenta no
que se refere às causas desse fenômeno a existência do mito do policial herói, tido como imune a
problemas, as condições estressantes da atividade e a indiferença do Estado. Segundo o especialista: "De
um lado, o policial não pede ajuda para evitar ser visto como o fresco, o mole. Em alguns lugares, quem se afasta
para se tratar tem até perda salarial. Do outro, a maioria dos estados não tem um corpo de psicólogos e
psiquiatras para cuidar dos policiais. Ou tem um puxadinho ou nem tem."
Segundo esse mesmo autor30:
"Conforme os dados relatados no Anuário, o aumento significativo da taxa de suicídio desta categoria não
é aleatório, muito pelo contrário, é o retrato de uma realidade perversa mantida por políticas públicas de
30
Disponível em: http://www.forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2019/10/Anuario-2019-FINAL_21.10.19.pdf.
Acesso em 15 de janeiro de 2020.
segurança que tratam seus agentes principais como torniquetes de um sistema falido. O papel designado
para os policiais nas agendas atuais de políticas públicas tem sua origem numa formação pautada na
disciplina corporal, psíquica e moral, o que torna esses profissionais resignados às regras advindas de seus
superiores, sejam elas quais forem, já que, aqui, a ordem hierárquica é intransponível.
Diante deste fato social deve-se levar em conta que a relação entre o 'disciplinamento presente na
formação policial militar e a violência praticada por seus agentes depois de formados dificilmente não
estão relacionadas', a 'fabricação de soldados' reverbera severamente no dilaceramento da saúde destes
trabalhadores, já que estamos lidando com 'um processo pelo qual homens e mulheres são socializados
para serem soldados, ou melhor, para serem fabricados como quase máquinas.'"
Outro fator de risco para os policiais são os problemas familiares, que surgem como consequência do baixo
valor dos salários e do estresse da profissão. Segundo a "Pesquisa de vitimização e percepção de risco
entre profissionais do sistema de segurança pública" (a ser vista com detalhes ao final deste tópico): 50,4%
dos policiais já passaram por dificuldade de garantir o sustento da própria família; 33,6% tiveram pelo
menos um familiar vítima de violência ou ameaça pelo fato de serem profissionais de segurança pública
e 26,7% tiveram pelo menos um familiar vítima de violência ou ameaça motivada por retaliação.
De acordo com a pesquisa da Ouvidoria de São Paulo, 83% dos casos de suicídio policial, entre 2017 e 2018,
foram por arma de fogo. Um objeto que, além de ser essencial para a profissão, garante uma renda extra
aos policiais. Os chamados “bicos” são feitos fora do horário formal de trabalho e complementam os
salários31. Quando o profissional se submete a um tratamento psicológico, ele pode perder a sua arma, a
qual é utilizada nesses serviços extras (exemplo: segurança particular), o que significa a perda dessa renda
extra.
Segundo o ABSP 2020:
Estudos indicam que a restrição do acesso aos meios letais é uma das ações preventivas ao suicídio
mais eficazes (Bertolote, 2012). No entanto, um dos instrumentos de trabalho dos policiais é um
equipamento letal, o que demonstra a complexidade inerente à prevenção do suicídio entre os
profissionais de segurança pública. Importante ainda destacar que a taxa de suicídios entre policiais
militares e civis da ativa no Brasil em 2019, de 17,4 por 100 mil, foi quase o triplo da taxa verificada
entre a população em geral, que ficou em 6 por 100 mil habitantes em 2019, de acordo com os dados
levantados na presente edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
Relacionado a vários pontos já mencionados (ambiente em que não se admite fraqueza, mito do policial
herói), há a dificuldade de pedir ajuda. Isso é potencializado, também, pela dificuldade de comunicação
existente, de forma geral, nas corporações e pelo ambiente hierarquizado, dificultando a comunicação
entre subordinados e seus superiores.
31
Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/10/03/politica/1570102031_178076.html. Acesso em 16 de
janeiro de 2020.
Vejam alguns números extraídos da "Pesquisa de vitimização e percepção de risco entre profissionais do
sistema de segurança pública32".
Vítimas de assédio moral ou humilhação no ambiente de trabalho => 63,5%
Diagnosticado(a) com algum tipo de distúrbio psicológico => 15,3%
Já passaram por dificuldade de garantir o sustento da própria família => 50,4%
Temor alto ou muito alto de ser vítima de homicídio em serviço => 67,7%
Temor alto ou muito alto de ser vítima de homicídio fora de serviço => 68,4%
Têm receio alto ou muito alto de adquirir algum tipo de distúrbio psicológico => 59,6%
Declararam que têm receio alto ou muito alto de manifestar discordância em relação à opinião de um
superior => 52,4%
Veja o infográfico completo, fonte dos dados acima evidenciados.
32
Disponível em: forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2017/04/FBSP_Infografico_Pesquisa_vitimizacao_
percepcao_risco_2015.pdf. Acesso em 15 de janeiro de 2020.
Vejamos mais alguns números sobre a vitimização de policiais, os quais introduzirão a temática do suicídio.
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2020, 172 policiais civis e militares foram mortos
em 2019 em confronto ou por lesão não natural (62 em serviço e 110 fora de serviço).
Outro dado que chama a atenção é o elevado número de SUICÍDIOS entre policiais. Houve pelo menos 91
casos (26 policiais civis e 65 policiais militares) entre policiais da ativa no país em 2019, ante 93 em 2018 33.
Portanto, em 2019, morreram mais policiais por suicídio do que em confronto em serviço.
Por fim, corroborando tudo que dissemos até o momento, segundo o ABSP 2020:
Pesquisas que relacionam suicídio e risco ocupacional sugerem, tanto no Brasil como em outros países, que
policiais sejam mais vulneráveis do que pessoas de outras profissões. Ainda não há, no entanto, evidências
empíricas suficientes que confirmem que policiais sejam mais vitimados pelo suicídio do que profissionais de
outras categorias de risco (MIRANDA et al., 2020). Independentemente dessa posição relativa em relação
aos casos, estudos e relatos empíricos têm mostrado que o suicídio entre integrantes de corporações policiais
no Brasil é um problema grave, que não mostra sinais de arrefecimento, e que por isso deve ser objeto de
atenção e preocupação da sociedade civil e do poder público. [...]
O convívio permanente com a morte e a violência, as extenuantes jornadas de trabalho, a falta de sono, lazer
e convívio com a família são fatores de risco para os policiais. Estão diretamente relacionados com o trabalho
policial e, portanto, podem levar os profissionais a quadros de adoecimento físico e mental. No entanto, as
organizações policiais individualizam os problemas, atribuindo ao indivíduo a responsabilidade por seu
adoecimento ou violência auto infligida, como no caso dos suicídios. O mesmo acontece com a letalidade
policial: há uma cultura dentro das instituições que tende a tratar tanto a morte causada por policiais como
a morte de policiais, no caso dos suicídios, como desvios e exceções, situações que revelariam que o indivíduo
em questão não possui perfil para a função, por ser “fraco” ou, talvez, até violento demais. Uma perspectiva
que atribui toda a responsabilidade pelo problema ao indivíduo e se isenta de rever práticas institucionais que
produzem adoecimento e violência.
O elevado número de suicídios decorre do mosaico de questões delimitadas nesse tópico. Agora, cabe
analisar o que pode ser feito para minimizar esse problema.
3. A contribuição do Estado
Inicialmente, é necessário ter por referência as obrigações legais do Estado no que se refere aos seus
agentes de segurança pública.
Segundo a Lei 13.675/2018, a qual institui o Sistema Único de Segurança Pública - SUSP:
Art. 4º São princípios da Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (PNSPDS):
[...]
II - proteção, valorização e reconhecimento dos profissionais de segurança pública;
33
Seis Estados não apresentaram informações: Acre, Alagoas, Espírito Santo, Goiás, Maranhão e Rio Grande do Norte.
Valorização das carreiras policiais, com o aumento da remuneração. De acordo com a pesquisa,
mais da metade dos policiais já passou por dificuldades financeiras para manter a sua família.
Melhorar o salário ajudaria a resolver os problemas financeiros, reduzindo a pressão sobre os
policiais, mas também reduziria a necessidade de se dedicarem a empregos paralelos ("bicos") ou a
trabalharem nos seus momentos de folga.
Por fim, um comentário de caráter genérico: é necessário lembrar que a promoção da saúde mental envolve
ações para criar condições de vida e ambientes que apoiem a saúde mental e permitam às pessoas adotar e
manter estilos de vida saudáveis. Um ambiente que respeite e proteja os direitos básicos civis, políticos,
socioeconômicos e culturais é fundamental para a promoção da saúde mental. Sem a segurança e a
liberdade asseguradas por esses direitos, bem como a redução das desigualdades sociais torna-se muito
difícil manter um elevado nível de saúde mental.
Tema 34
Texto I
Negacionismo prejudica não só a saúde como conquistas e avanços da medicina
O negacionismo, ou seja, a escolha de negar os fatos como forma de escapar deles, de acordo com Lília
Schwarcz, professora do Departamento de Antropologia da USP (Universidade de São Paulo) costuma se
fortalecer quando a sociedade se depara com situações de instabilidade, como uma crise fora do normal ou
algo nunca antes presenciado na atualidade, por exemplo.
Quando em oposição às evidências científicas, a atitude negacionista encontra sustentação em teorias e
discursos conspiratórios, sem aprofundamento ou isolados e até favorece disputas ideológicas e interesses
políticos e religiosos.
[...]
Edison Bueno, médico sanitarista e chefe do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências
Médicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), diz que a negação do conhecimento científico
vai contra os valores, o progresso, traz sofrimento e só é contornada quando se garante livre acesso à
informação, à educação, à saúde e à discussão de ideias e debates, que, ainda segundo ele, devem se
estender para além dos círculos acadêmicos.
"A ciência precisa ser exemplo para a sociedade ao ser transparente e expor os diversos conflitos de
interesses que existem. Os problemas da democracia só se resolvem com mais democracia", e acrescenta:
"Mesmo compreendendo que devemos ter autonomia para tomar decisões, não cabe aceitar atitudes ou
posicionamentos que vão contra o bem-estar ou, pior, colocam em risco a vida de todos.
Disponível em: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2020/05/21/negacionismo-
prejudica-nao-so-a-saude-como-conquistas-e-avancos-da-medicina.htm. Acesso em: 22 de
agosto de 2020.
Texto II
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), os movimentos antivacina são tão perigosos
quanto os vírus, porque ameaçam reverter o progresso alcançado no combate a doenças evitáveis por
vacinação, como o sarampo e a poliomielite. Ainda segundo a OMS, as razões pelas quais as pessoas
escolhem não se vacinar são complexas, e incluem falta de confiança, complacência e dificuldades no
acesso. Entretanto, os movimentos antivacina vêm crescendo no mundo todo, inclusive no Brasil, que
sempre foi exemplo internacional.
(Disponível em: www.sbmt.org.br)
Abordagem teórica
1. Movimento negacionista
Para que uma pesquisa científica seja concluída, faz-se necessário seguir uma série de pessoas e validações.
Esse processo é denominado como método científico, que exige que as hipóteses sejam testadas à
exaustão. Somente após passar por esse procedimento e pelo escrutínio da comunidade científica, as
pesquisas tornam-se verdades científicas, pelo menos até que surja outra teoria que explique melhor o
fenômeno.
Não obstante a existência de um procedimento consolidado e da existência de estudos e pesquisas, há parte
da sociedade de postura extremamente cética em relação a fatos tidos como verdadeiros pela maioria das
pessoas e pela comunidade científica.
O movimento negacionista ou simplesmente negacionismo ou obscurantismo é a rejeição de conceitos
básicos, incontestáveis e apoiados por consenso científico em favor de ideias sem fundamentação teórica
e de natureza controversa.
Teorias da conspiração, fake news, negacionismo, pós-verdade e a crença em fatos alternativos: diferentes
entre si, esses fenômenos correlatos são vistos conjuntamente como sinais de uma crise epistêmica (ou
crise do conhecimento) pela qual a humanidade estaria atravessando. Pode ser vista como um processo de
“desestruturação da autoridade”, pois mesmo o leigo pensa saber tanto quanto quem passou décadas na
universidade e dedicou-se anos numa pesquisa científica.
Paradoxalmente, apesar da maior difusão informacional proporcionada pelo advento da internet e pela
crescente ampliação do seu uso, feitos como a visita do homem à Lua têm passado a ser alvo de sistêmico
questionamento. Para se ter uma ideia, uma pesquisa realizada no ano de 2009 no Reino Unido, apontou
que 25% da população era cética em relação ao feito. Em 2016, o índice havia saltado para 52%, mesmo
diante do fato que, desde a primeira expedição, mais dez homens, em cinco missões distintas, tenham
voltado a visitar o satélite e que existam evidências científicas múltiplas da ocorrência da sua ocorrência.
Não para por aí. Depois de mais de quinhentos anos após Fernão de Magalhães iniciar sua expedição para
dar a primeira volta ao mundo, cerca de 11 milhões de brasileiros (7% da população) acreditam que a Terra
é plana, segundo pesquisa realizada pelo instituto Datafolha.
Entre a população mais escolarizada, o número de terraplanistas sobe para 10%. Outro levantamento do
instituto indicou que um em cada quatro brasileiros (26%) não creem que o homem pisou na Lua34.
Em pesquisa realizada pelo Instituto Gallup, no qual foram ouvidas mais de 140.000 pessoas, 73%
desconfiam da ciência e 23% acreditam que a ciência pouco contribui para o desenvolvimento econômico e
social do país.
O negacionismo em certos casos (negação de que o homem tenha pisado na Lua ou que a Terra seja plana)
pode ter consequências aparentemente mais inofensivas e tidas como até cômicas por alguns. Contudo, em
alguns casos, comprometem-se valores de grande relevância social, como a saúde da população, a história
e o meio ambiente. Nesse sentido, pode-se citar:
O movimento antivacina, é uma das expressões do negacionismo, a qual atribui às vacinas uma série
de problemas de saúde, como o aumento das taxas de autismo. Há também os negacionistas da
AIDS, que acreditam que o vírus HIV não causa AIDS ou até mesmo na não existência do vírus.
Segundo eles, a Aids seria causada por vários fatores, como drogas, desnutrição, estresse etc.
O negacionismo do holocausto, movimento ideológico com orientação antissemita que tem como
propósito deslegitimar ou mesmo rejeitar por completo o consenso histórico-acadêmico a respeito da
factualidade de um dos capítulos mais trágicos da história da humanidade: a perseguição dos judeus
pelo Terceiro Reich.
O negacionismo climático, pensamento que nega o crescente aquecimento global ou, ao menos,
nega que os seres humanos tenham um papel relevante na ocorrência deste fenômeno.
Para não perdermos a oportunidade, o reconhecimento do aquecimento global é quase uma unanimidade
na comunidade científica mundial. “Menos de 1 ou 2% alegam que ele não existe. Outros acham que não é
o ser humano que está por trás do aquecimento global. Por outro lado, quase 96% concordam que está
havendo sim uma mudança global do clima e que o homem é o maior responsável pelo processo35.
34
Disponível em: https://emais.estadao.com.br/noticias/comportamento,primeira-convencao-brasileira-sobre-
terraplanismo-ocorre-em-novembro,70003019443. Acesso em 04 de fevereiro de 2020.
35
Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/11/25/Por-que-tempo-frio-n%C3%A3o-contradiz-o-
aquecimento-global. Acesso em 04 de fevereiro de 2020.
36
Disponível em: https://www.anahp.com.br/noticias/noticias-do-mercado/movimento-antivacina-como-combater-essa-onda-
que-ameaca-sua-saude/. Acesso em 04 de fevereiro de 2020.
Diversos especialistas apontam o YouTube como principal canal de disseminação de “verdades alternativas”
e teorias conspiratórias. Por conta de seu mecanismo de indicações, a rede de compartilhamento de vídeos
indicaria conteúdos cada vez mais extremistas. Além disso, as sugestões não distinguem aquelas com
embasamento científico. Por isso, mensagens mais controvertidas, que geram mais engajamento,
poderiam ser mais indicadas, ainda que absurdas e desprovidas de qualquer fundamento científico.
2. Movimento antivacina
Tem-se assistido, diariamente, ao reaparecimento de doenças até então erradicadas no Brasil, como o
sarampo. Esse movimento não se restringe ao Brasil: segundo a OMS, em 2019, Reino Unido, Grécia,
República Tcheca e Albânia são países que perderam o status de "erradicação total" da doença,
extremamente contagiosa.
A gravidade da situação fez a OMS elencar entre as 10 ameaças à saúde a serem combatidas em 2019 a
relutância para vacinação. Essa importância justifica-se, pois, segundo a OMS, pelo fato de que a vacinação
é uma das formas mais custo-efetivas para evitar doenças – atualmente, previne-se cerca de 2 a 3 milhões
de mortes por ano. Outras 1,5 milhão de mortes poderiam ser evitadas se a cobertura global de vacinação
tivesse maior alcance37.
Escolher vacinar-se ou não é um direito individual, inalienável, de todo ser humano. Contudo, é fato que
acarreta consequências para a sociedade, visto que afeta a saúde pública. Pessoas que não quiserem se
vacinar podem funcionar como agentes de contaminação de pessoas que também não quiseram, mas
também acabam contaminando pessoas que não puderam se vacinar por algum motivo, por exemplo, os
que não têm idade suficiente para se vacinar contra determinada doença.
Assim, a vacinação de uma pessoa não protege apenas a sua própria vida, mas também a de todos ao seu
redor. Decidir pela não vacinação representa a quebra de um contrato social que tem salvado vidas e, por
isso, não pode ser rompido com base em argumentos frágeis
Quanto mais pessoas vacinadas, mais a população estará protegida. Um programa de imunização, em geral,
pode ser considerado um sucesso quando pelo menos 95% da população é vacinada. Os 5% restantes são
protegidos pelo que se chama, no jargão médico, de “imunidade de rebanho”, como uma muralha de
proteção.
Vejamos o caso do sarampo. As justificativas para a decisão de não vacinar são as mais diversas. Alguns
alegam que o sistema imunológico consegue naturalmente se livrar dos agentes patológicos; outros
recorrem a teses de cunho religioso; outros recorrem à tese do gastroenterologista inglês Andrew
37
Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5848:dez-ameacas-a-saude-que-
a-oms-combatera-em-2019&Itemid=875
Wakefield38, que, em 1998, publicou um artigo na prestigiosa revista científica Lancet que associava a vacina
tríplice (contra a caxumba, a rubéola e o sarampo) a um risco aumentado de autismo. Mesmo após ter sido
comprovado que tudo se tratava de uma grande farsa, o estrago já estava feito pela disseminação da
informação. Até hoje, muitas pessoas citam o estudo como justificativa para a não vacinação, relacionando-
o não apenas à tríplice viral com o autismo, mas a vacinas de modo geral.
Mencionam também o fato de que as vacinas deveriam ser dadas uma de cada vez, sem a aplicação de uma
dose única que combata várias doenças, e que o intervalo entre as vacinas deveria ser maior. Contudo, a
OMS possui pesquisas que refutam esses argumentos. Como todos os medicamentos, as vacinas oferecem
reações adversas e seria desonesto escondê-las. Porém, o risco de contaminação é sempre muito maior do
que qualquer efeito adverso que a imunização possa provocar. Basta ver os números divulgados pela OMS
que disponibilizei anteriormente.
São várias as possibilidades a serem apresentadas nesse item. Uma delas é a melhoria na forma de
comunicação da ciência com a sociedade, buscando-se uma linguagem que permita, na medida do possível,
traduzir situações complexas para a população, formada, em sua maioria, por leigos.
O Governo, por sua vez, deve priorizar a produção científica. Isso se reflete na necessidade de valorizar,
inclusive na esfera orçamentária, os projetos do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e
Comunicações (o MCTIC, no caso brasileiro) e, sobretudo, de valorizar a comunidade científica e reconhecer
a relevância social do trabalho desempenhado.
Além disso, deve exercer papel ativo no combate à difusão de informações incontestavelmente falsas, o que
pode incluir alguma forma de controle sobre o conteúdo divulgado por meio das redes sociais. Contudo,
mais eficaz é investir em campanhas nacionais de esclarecimento que levem informações fidedignas e
cientificamente comprovadas ao conhecimento da população. Pode-se também associar incentivos quando
desejada uma mudança de comportamento, como o estabelecimento de sistemáticas que associem o
cumprimento do calendário de vacinação ao recebimento de programas assistenciais, como o Bolsa-
Família.
O cidadão também pode contribuir, principalmente, na seletividade das fontes de informação que tem
utilizado para formar as suas convicções e com a busca da racionalidade em detrimento das emoções. Além
de buscar informações de diferentes fontes e vertentes ideológicas, deve sempre questionar a sua origem e
as credenciais de quem as divulga. Deve, acima de tudo, despir-se dos seus preconceitos e estar disposto a
debate, como forma de construção de uma consciência mais holística sobre os assuntos. Por fim, a
38
Em 2010, acusado de fraudador, antiético e desonesto, Andrew Wakefield perdeu o registro no Conselho Geral de Medicina da
Inglaterra. Virou um desacreditado, embora alguns fanáticos pela antivacinação tenham considerado suas afirmações. A Lancet
teve de pedir desculpas, mas o estrago estava feito.
sociedade deve se organizar para exigir providências dos seus representantes, no sentido de valorizar a
produção científica.
Como de praxe, a vertente educacional sempre merece ser lembrada. Boa parte dos problemas existentes
podem ser resolvidos com a difusão de conhecimento. Isso pode ser feito pelo fortalecimento da educação
formal, como forma de prover bases sólidas de conhecimento às crianças e jovens, bem como pela
realização de campanhas de esclarecimento e divulgação de estudos que rompam preconceitos e auxiliem
na formulação de políticas públicas.
Agora, é com vocês.
Tema 35
Considerando que o texto acima é unicamente motivador, redija um texto dissertativo acerca do seguinte
tema:
RACISMO NA SOCIEDADE BRASILEIRA
Em seu texto, aborde, necessariamente:
a) a perspectiva estrutural do racismo; [valor: 4,40 pontos]
b) racismo e violação dos direitos humanos; [valor: 4,00 pontos]
c) a discriminação positiva como forma de combate. [valor: 4,00 pontos]
Abordagem teórica
Pessoal, vamos expor aqui alguns fatos para ajudá-los na argumentação referente ao assunto.
Segundo o dicionário Michaelis, racismo é: (1) teoria ou crença que estabelece uma hierarquia entre as raças
(etnias); (2) doutrina que fundamenta o direito de uma raça, vista como pura e superior, de dominar outras;
(3) preconceito exagerado contra pessoas pertencentes a uma raça (etnia) diferente, geralmente
considerada inferior; (4) e atitude hostil em relação a certas categorias de indivíduos.
Segundo a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial,
ratificada pelo Brasil em 1968, discriminação racial significa:
" toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem
nacional ou étnica que tenha por objeto ou resultado anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou
exercício em um mesmo plano (em igualdade de condição) de direitos humanos e liberdades fundamentais
nos campos político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública".
Nos termos da Constituição Federal, o racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito a pena
de reclusão. Esse dispositivo foi regulamentado pela Lei Caó39 (Lei 7.716/1989), a qual define os crimes
resultantes de preconceito de raça ou de cor. Antes de serem criminalizadas por meio da Lei 7.716/1989, as
práticas resultantes do preconceito eram tidas como contravenção penal, conforme disposto na Lei
7.437/1985, a qual alterou a Lei Afonso Arinos, de 1951, a primeira a legislar proibindo práticas de
preconceito racial no Brasil.
Tecnicamente, racismo e injúria racial são delitos diferentes. Segundo o CNJ40:
Embora impliquem possibilidade de incidência da responsabilidade penal, os conceitos jurídicos de injúria
racial e racismo são diferentes. O primeiro está contido no Código Penal brasileiro e o segundo, previsto
na Lei n. 7.716/1989. [...] Em geral, o crime de injúria está associado ao uso de palavras depreciativas
39
O nome da referida lei homenageia o ex-deputado Federal Carlos Alberto Caó de Oliveira, militante da luta contra a
discriminação racial.
40
Disponível em: https://www.cnj.jus.br/conheca-a-diferenca-entre-racismo-e-injuria-racial/#:~:text=Enquanto%20a%20inj%
C3%BAria%20racial%20consiste,a%20integralidade%20de%20uma%20ra%C3%A7a. Acesso em: 23 de julho de 2020.
referentes à raça ou cor com a intenção de ofender a honra da vítima. Um exemplo recente de injúria
racial ocorreu no episódio em que torcedores do time do Grêmio, de Porto Alegre, insultaram um goleiro
de raça negra chamando-o de “macaco” durante o jogo. [...] Já o crime de racismo, previsto na Lei n.
7.716/1989, implica conduta discriminatória dirigida a determinado grupo ou coletividade e,
geralmente, refere-se a crimes mais amplos.[...] A lei enquadra uma série de situações como crime de
racismo, por exemplo, recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, impedir o acesso às
entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais e elevadores ou às escadas de acesso, negar ou
obstar emprego em empresa privada, entre outros.
O Brasil foi o último país do continente americano a abolir a escravidão. A abolição ocorreu em 13 de
maio 1888 por meio da Lei Áurea. Ao todo, foram mais de 300 anos de escravidão. O Brasil foi o país que
mais importou escravos entre 1500 e 1888: aproximadamente 4,9 milhões de escravos foram trazidos
pelo comércio transatlântico41.
O Brasil foi construído sob uma base escravocrata, na qual as pessoas pretas eram mercadorias. Não
obstante a liberdade de direito alcançada, não houve, após a escravidão, movimentos que lhes conferissem
a liberdade de fato. Não houve nenhum tipo de indenização ou políticas públicas voltadas para seu bem-
estar e adequação à nova sociedade.
Quando se fala em racismo, costuma-se tratá-lo sob a perspectiva individualista, institucional e estrutural.
O racismo estrutural é uma forma silenciosa e de difícil percepção. Consiste num conjunto de
comportamentos, atos, falas enraizadas na sociedade e que, de forma velada, reforça a desigualdade racial
existente na sociedade. Trata-se de concepção decorrente de um longo processo histórico, político,
econômico e ideológico de conformação das subjetividades para que se normalizem as estruturas de
desigualdade existentes na sociedade. Nesse sentido42:
" Nascemos e crescemos vendo que a maioria das domésticas é negra, que a maior parte das pessoas
presas é negra, que as posições de controle e poder em empresas são das pessoas brancas, que a
amplíssima maioria dos presidentes são brancos, que os intelectuais são brancos, que o padrão de beleza
é branco, que os atores de cinema e novelas mais destacados são os brancos, que a maior parte dos
moradores de favela são negros, e etc. Nossa subjetividade foi formada a partir destes símbolos de
representação que constituem importante mecanismo de manutenção e difusão do racismo. O ser
humano é, então, um produto histórico do tempo e do lugar em que vive."
Finalizando essa parte da exposição, destacarei um texto existente no Portal do Senado Federal 43:
41
Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/colunistas/2020/Racismo-participa%C3%A7%C3%A3o-pol%C3%ADtica-e-a-
persist%C3%AAncia-das-desigualdades-brasileiras. Acesso em: 23 de julho de 2020.
42
Disponível em: http://www.justificando.com/2020/06/15/o-racismo-estrutural-e-a-falsa-associacao-da-criminalidade-a-cor-da-
pele/. Acesso em: 23 de julho de 2020.
43
Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2020/06/negro-continuara-sendo-oprimido-enquanto-o-
brasil-nao-se-assumir-racista-dizem-especialistas. Acesso em: 23 de julho de 2020.
O senso comum tende a compreender o racismo de maneira simplista, limitando-o àquelas situações em
que uma pessoa negra é proibida de entrar no clube, impedida de tomar o elevador social, revistada ao
sair da loja ou insultada com palavras pejorativas que remetem à cor da pele. Tais casos, claro,
configuram racismo e são passíveis de punição, mas o preconceito vai muito além disso.
O racismo também se manifesta de formas que podem ser menos gritantes, mas produzir efeitos mais
devastadores na vida da pessoa negra. [...] No Brasil, ser negro significa ser mais pobre do que o branco,
ter menos escolaridade, receber salário menor, ser mais rejeitado pelo mercado de trabalho, ter menos
oportunidades de ascensão profissional e social, dificilmente chegar à cúpula do poder público e aos
postos de comando da iniciativa privada, estar entre os principais ocupantes dos subempregos, ter menos
acesso aos serviços de saúde, ser vítima preferencial da violência urbana, ter mais chances de ir para a
prisão, morrer mais cedo.
De acordo com estudiosos da questão, as bases do racismo brasileiro se assentam nos quase quatro
séculos em que a escravidão africana vigorou. No decorrer dos períodos colonial e imperial, foi a
escravidão que se encarregou de posicionar os negros e os brancos em mundos diferentes. Com a
assinatura da Lei Áurea, em 1888, os brancos criaram mecanismos menos explícitos do que as senzalas e
os grilhões para manter os negros num lugar de subordinação.
As pessoas de pele negra puderam deixar a servidão, mas não receberam os instrumentos necessários
para tocarem a vida por conta própria com dignidade. Eles não ganharam terra nem escola, apesar de
parlamentares terem apresentado projetos de lei nesse sentido. Tampouco prosperaram os planos de
indenizá-los pelos anos de cativeiro. Restringiram-lhes até mesmo o trabalho. Para as plantações de café
e as primeiras indústrias, o governo preferiu incentivar a imigração de trabalhadores da Europa e da Ásia.
[...]
O que vigora no Brasil é o que os estudiosos chamam de racismo estrutural. O racismo é estrutural porque
se apresenta como um alicerce em cima do qual se constroem as relações políticas, econômicas e sociais
no país. As pessoas e as instituições são moldadas, por vezes de forma inconsciente, para encarar como
normal que brancos e negros ocupem lugares diferentes.
A advogada Flávia Pinto Ribeiro, que é vice-presidente da Comissão OAB Mulher da seccional Rio de
Janeiro da Ordem dos Advogados do Brasil, exemplifica: "As pessoas são racistas quando não ficam
espantadas ou indignadas diante da notícia do assassinato de uma pessoa negra, diante da ausência de
negros nos governos, nos tribunais e na direção de empresas, diante de um Estado que oferece transporte
de qualidade, saneamento básico e segurança pública aos bairros ricos, mas nada disso às periferias,
habitadas majoritariamente por negros. O racismo estrutural é tão cruel que até mesmo pessoas negras
reproduzem o racismo".
Vejamos agora alguns dados que permitem melhor entendimento sobre o tema.
Segundo o IBGE44, a população brasileira é composta por 55% de negros, o que compreende pretos e
pardos de acordo com um critério de autodeclaração.
Segundo dados do TSE, das 1.626 vagas para deputados distritais, estaduais, federais e senador,
apenas 65 (ou 4%) acabaram preenchidas por candidatos autodeclarados negros. O número de
eleitos vai a 444 (27% das vagas totais) quando se somam os que se declaram pardos45.
Segundo o IBGE46, em "Desigualdades Sociais por Cor ou Raça" (dados de 2018):
o Brancos possuem renda 74% superior, em média, em relação a pretos e pardos: o rendimento
médio mensal das pessoas ocupadas brancas foi de R$ 2.796 e o de pretas ou pardas R$ 1 608.
o Ocupação de cargos gerenciais: 68,6% brancos e 29,9% negros.
o Apesar de serem pouco mais da metade da força de trabalho (54,9%), eles formavam cerca de ⅔
dos desocupados (64,2%) e dos subutilizados (66,1%) na força de trabalho em 2018.
o Pessoas abaixo das linhas de pobreza:
inferior a US$ 5,50/dia: 15,4% branca e 32,9% preta ou parda;
inferior a US$ 1,90/dia: 3,6% branca e 8,8% negra.
o Na educação:
taxa de analfabetismo: 3,9% brancos e 9,1% negros;
taxa de conclusão do ensino médio: 76,8% branco e 61,8% pretos ou pardos;
o Em relação aos serviços básicos, 45% da população preta ou parda não tem saneamento,
percentual que é de 28% entre os brancos.
o A conclusão desse relatório é a seguinte:
"As desigualdades étnico-raciais, reveladas na breve série temporal considerada neste informativo,
têm origens históricas e são persistentes. A população de cor ou raça preta ou parda possui severas
desvantagens em relação à branca, no que tange às dimensões contempladas pelos indicadores
apresentados – mercado de trabalho, distribuição de rendimento e condições de moradia,
educação, violência e representação política.
No mundo do trabalho, por exemplo, a desocupação, a subutilização da força de trabalho e a
proporção de trabalhadores sem vínculos formais atingem mais fortemente a população preta ou
parda. Indicadores de rendimento confirmaram que a desigualdade se mantém independentemente
do nível de instrução das pessoas ocupadas.
44
IBGE, PNAD Contínua 2012-2016.
45
Disponível em: https://oglobo.globo.com/brasil/pais-elegeu-apenas-4-de-parlamentares-negros-23246278. Acesso em: 23 de
julho de 2020.
46
Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101681_informativo.pdf. Acesso em: 23 de julho de 2020.
Tais resultados são influenciados pela forma de inserção das pessoas de cor ou raça preta ou parda
no mercado de trabalho, qual seja: ocupam postos de menor remuneração e são menos
representadas nos cargos gerenciais, sobretudo os de mais altos níveis.
A população de cor ou raça preta ou parda situa-se também, em maior proporção, abaixo das
linhas de pobreza, e reside em domicílios com piores condições de moradia e com menos acesso
a bens e serviços que a população de cor ou raça branca. Em relação aos indicadores educacionais,
embora tenha havido melhora, as desigualdades entre esses dois grupos populacionais
permanecem consideráveis e se agravam no decorrer do percurso escolar, atingindo o ápice no
ensino superior.
Pesquisa realizada em 2018 pelo CNJ47 mostrou que apenas 18% dos juízes se declararam negros.
Dentre eles, 1,6% são pretos e 16,5%, pardos.
Segundo o Atlas da Violência 201948:
o Em 2017, 75,5% das vítimas de homicídios foram indivíduos negros, sendo que a taxa de
homicídios por 100 mil negros foi de 43,1, ao passo que a taxa de não negros (brancos, amarelos
e indígenas) foi de 16,0. Ou seja, proporcionalmente às respectivas populações, para cada
indivíduo não negro que sofreu homicídio em 2017, aproximadamente, 2,7 negros foram
mortos.
o No que se refere ao homicídio contra mulheres, 66% de todas as mulheres assassinadas no país
são negras. A taxa de homicídios de mulheres não negras foi de 3,2 a cada 100 mil mulheres não
negras, ao passo que entre as mulheres negras a taxa foi de 5,6 para cada 100 mil mulheres nesse
grupo.
Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública de 201949:
o a chance de um jovem negro ser vítima de homicídio no Brasil é, em média, 2,5 vezes superior à
de um jovem branco;
o no que tange ao feminicídio, as negras representam 61% das vítimas, contra 38,5% de brancas,
0,3% indígenas e 0,2% amarelas.
Segundo o Infopen 2019, aproximadamente 50% da população carcerária é parda, 17% é preta e 32%
é branca.
47
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/09/apenas-16-dos-juizes-brasileiros-sao-negros-segundo-
cnj.shtml. Acesso em: 23 de julho de 2020.
48
Disponível em: https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/download/19/atlas-da-violencia-2019. Acesso em: 23 de julho de 2020.
49
Disponível em: https://www.forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2019/10/Anuario-2019-FINAL_21.10.19.pdf. Acesso
em: 23 de julho de 2020.
Nas 500 maiores empresas brasileiras, segundo o Instituto Ethos, 4,7% da liderança são compostos
por negros. Mulheres negras não são nem 1%50.
Para finalizar, falemos um pouco sobre políticas afirmativas.
O princípio da igualdade, também chamado de isonomia, equiparação ou paridade, está consagrado no art.
5° da Constituição Federal de 1988, ao dispor que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza. Base fundamental de um regime democrático, deve servir como baliza para legisladores
(igualdade na lei), aplicadores da lei (igualdade perante a lei) e até mesmo nas relações privadas.
O caput do art. 5°, ao dispor que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”
consagra a igualdade formal. De acordo com essa perspectiva, todos devem receber o mesmo tratamento,
sem privilégios ou distinções de qualquer natureza.
Com o passar do tempo, verificou-se que tratar todos da mesma maneira não contribuía de maneira efetiva
para a redução das desigualdades. Passou-se a exigir do Estado uma posição mais ativa no sentido de
buscar, no mundo real, a concretização da igualdade. Essa nova visão promove a evolução do conceito
objetivando o alcance da igualdade material, que, de forma simples, defende que situações distintas
devem ser tratadas de forma particular. Em outras palavras, iguais devem ser tratados com igualdade e
desiguais devem ser tratados na medida da sua desigualdade. É com base nesse conceito que se
estabelecem, por exemplo, as políticas de cotas raciais e a reserva de percentual em concursos públicos para
portadores de deficiência.
Pois bem, nesse horizonte surgem as ações afirmativas (discriminações positivas), medidas temporárias
adotadas como forma de proporcionar tratamento diferenciado a determinados grupos historicamente
vulneráveis, periféricos e hipossuficientes, com o objetivo de dar efetividade ao princípio da isonomia.
Remete à já conhecida ideia: “igualdade aos iguais e desigualdade aos desiguais, na medida em que se
desigualam”. Nesse sentido51:
"Esse tipo de medida, no entanto, tem caráter temporário. A lógica é que, quando mais negros estiverem
nas universidades, tiverem formação universitária e uma boa inserção no mercado de trabalho, maiores
serão as chances de que as próximas gerações de negros e brancos tenham igualdade de oportunidades
e, portanto, as cotas possam ser abolidas.
Ao dar a oportunidade de que esses grupos se incluam em sistemas dos quais estão historicamente
excluídos - as universidades, por exemplo -, eles terão mais oportunidades, seja pela própria formação,
pelo aumento das chances no mercado de trabalho ou pela criação de relações sociais.
50
Disponível em: https://oglobo.globo.com/sociedade/no-mercado-de-trabalho-desigualdade-predomina-na-escolha-de-
liderancas-
24467129#:~:text=Compartilhe%20por&text=Negros%20ganham%20menos%20que%20brancos,Mulheres%20negras%20s%C3
%A3o%20nem%201%25. Acesso em: 23 de julho de 2020.
51 Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/explicado/2016/02/24/Sistema-de-cotas-raciais-inclus%C3%A3o-em-meio-
%C3%A0-controv%C3%A9rsia. Acesso em: 23 de julho de 2020.
Tema 36
Produzindo impunidade
É muito comum ouvir de autoridades e de vários candidatos a cargos públicos na véspera da eleição
sugestões de endurecimento penal como panaceia para o grave quadro de violência que atinge o Brasil.
Para os defensores dessas medidas se faz necessário alterar a legislação penal para punir com mais “rigor”
os criminosos.
O que em geral não é dito pelos que defendem essas propostas é que as leis, embora instrumentos
fundamentais na busca por justiça, não resolvem por si só o problema da impunidade. Nem as legislações
mais draconianas são capazes de punir adequadamente se as instituições do sistema de justiça criminal não
forem capazes de investigar, produzir provas e processar os criminosos.
Os dados divulgados pelo Monitor da Violência após um ano de acompanhamento de 1.195 casos de
homicídios cometidos de 21 a 27 de agosto de 2017 evidenciam a disfuncionalidade das políticas de
segurança pública no Brasil. Mais de 680 casos ainda estão em andamento e em 506 a autoria do crime é
desconhecida. Embora em 469 casos as polícias civis identifiquem os autores dos homicídios, em apenas
215 casos houve a prisão dos agressores.
De acordo com a pesquisa “Onde mora a Impunidade”, do Instituto Sou da Paz, o indicador mais confiável
para avaliar a efetividade de uma investigação criminal de homicídio é a taxa de esclarecimento, que
corresponde à relação entre o número de denúncias oferecidas e o número de crimes registrados. Sob essa
métrica, os dados levantados pelo Monitor da Violência indicam uma taxa média de esclarecimento de
homicídios de 22,4% no Brasil. Isso significa que, a cada 10 homicídios, apenas 2 geram uma denúncia com
potencial para se tornar um processo e chegar a uma condenação no Tribunal do Júri.
[...]
Samira Bueno e Renato Sérgio de Lima, Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Disponível em:
https://g1.globo.com/monitor-da-violencia/noticia/2018/09/05/produzindo-impunidade.ghtml. Acesso em 23 de
junho de 2020. (Adaptado)
52 Nessa mesma linha, também já foi reconhecida pelo STF como constitucional lei que prevê para candidatos negros a reserva
de 20% das vagas oferecidas nos concursos públicos realizados pela administração pública federal.
relacionado a desvios de dinheiro público na construção do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo,
prescreverá ano que vem, se não se encerrar até lá.
Analisei dados fornecidos pelo Estado do Paraná e constatei que ou não há corruptos do colarinho branco
que desviem milhões no Paraná, ou eles não vão para a cadeia. Se esse fosse um teste de múltipla escolha,
optaria pela segunda alternativa com segurança.
O Paraná tem quase 30 mil presos, e apenas 53 deles cumprem pena por corrupção. Eles todos, menos dois,
praticaram crimes como furto, roubo, tráfico de drogas, embriaguez ao volante ou contrabando. Em geral,
tentaram corromper o policial que efetuou a prisão. Dos dois restantes, um foi submetido a medida de
segurança, o que indica que é alguém que está fora do juízo pleno, e outro é um oficial de justiça que recebeu
gratificação para cumprir um mandado. Nenhum dos presos tem o perfil do corrupto que desvia milhões.
Não há dúvidas de que a corrupção é, no Brasil, um crime de baixo risco. Para réus do colarinho branco, o
sistema de justiça penal ainda tem que melhorar muito para ser ruim, quanto mais para ser bom. Os mais
reconhecidos estudiosos da corrupção no mundo dizem que, se queremos ser um país livre da corrupção,
ela deve ser um crime de alto risco.
Deve ter uma punição séria e que seja aplicada. [...] Até mudarmos a legislação, criando um ambiente menos
favorável à corrupção, seremos o paraíso dos grandes corruptos e o inferno daqueles que sofrem
diariamente com a falta do dinheiro desviado na educação, na saúde, no saneamento e na segurança
pública.
Adaptado. Deltan Dallagnol. Disponível em:
https://noticias.uol.com.br/opiniao/coluna/2015/10/01/brasil-e-o-paraiso-da-
impunidade-para-reus-do-colarinho-branco.htm?cmpid=copiaecola. Acesso
em 19 de junho de 2020.
Considerando que os fragmentos de texto apresentados têm caráter unicamente motivador, redija um
texto dissertativo acerca das causas da impunidade no Brasil, discutindo soluções para a redução da
impunidade no país.
Abordagem teórica
Segundo o dicionário Aulete, impunidade é a " falta de punição ou do castigo devido a um certo delito” ou
o “estado de tolerância ao crime”. A lei prevê que, para cada delito, há uma punição e, não sendo esta
aplicada, o crime resta impune.
Para além dessa definição, a impunidade cria um sentimento de descrédito nas instituições, põe em risco a
paz social, o bem comum e a segurança pública. Ademais, desestabiliza a sociedade, na medida em que se
passa a confundir o certo do errado, estimula o cometimento de delitos, fomenta a corrupção e cria uma
sensação de injustiça e descontentamento.
O caminho entre o cometimento do delito e o cumprimento definitivo de uma pena (restritiva de liberdade
ou não) é bastante longo. Para que alguém seja punido, um conjunto de órgãos deve funcionar, entre os
quais destacam-se a polícia, o Ministério Público e o Poder Judiciário.
Na atuação desses órgãos, há uma série de filtros para que um crime seja investigado e punido. De forma
geral, podemos estabelecer o seguinte roteiro:
1. Inicialmente, a legislação tem que estabelecer que o fato é típico e ser clara, de modo a evitar dubiedades.
2. A vítima tem que denunciar (quando for o caso).
3. Deve haver a abertura de investigação (em regra) pela polícia.
4. Uma vez aberta a investigação, o caso tem que ser apurado para averiguação da autoria e materialidade.
5. Esclarecido o fato e encaminhado o Inquérito ao MP, deve haver por parte deste a denúncia.
6. Uma vez recebida a denúncia no Judiciário, o delito tem que ser comprovado (haja vista o princípio da
presunção de inocência), além de, durante todo o procedimento, terem sido respeitadas as garantias
processuais dos indivíduos, sob pena de nulidade do processo.
7. Considerado culpado, deve-se verificar se incorreu algum dos prazos prescricionais, os quais fulminam a
pretensão punitiva do Estado pelo decurso do tempo.
8. Considerado culpado, o indivíduo, no caso das penas privativas de liberdade, tem que ser encontrado e
levado ao cárcere e, no caso das penas alternativas, tem que haver a fiscalização sobre o seu cumprimento.
Assim, para que alguém seja punido, há uma série de etapas a serem cumpridas. É um longo funil, que acaba
criando brechas para a impunidade, pois, para que o indivíduo escape da punição, basta que um desses
elementos não funcione.
Agora, aprofundemos no assunto. Sob o prisma da impunidade, vejamos a participação de alguns atores
desse processo.
De acordo com a pesquisa “Onde mora a Impunidade”53, do Instituto Sou da Paz, o indicador mais confiável
para avaliar a efetividade de uma investigação criminal de homicídio é a taxa de esclarecimento, que
corresponde à relação entre o número de denúncias criminais oferecido e o número de crimes registrados.
Há limitações para se chegar a uma taxa nacional, visto que a maioria dos estados não possui informações
que viabilizem os cálculos. Por isso, não existe um índice nacional de esclarecimento de homicídios.
Alguns estados enviaram dados, sendo possível ter uma ideia geral. Acompanhe as informações da tabela
abaixo extraídas da pesquisa “Onde mora a Impunidade” de 2019:
53
Disponível em: http://soudapaz.org/wp-content/uploads/2019/11/Instituto-Sou-da-Paz_Onde_Mora_a_Impunidade.pdf. Acesso
em 24 de junho de 2020.
Isso quer dizer que, em estados como o Pará, para todos os homicídios ocorridos em 2016, em apenas 10,3%
dos casos houve oferecimento de denúncia até 31/12/2017, ao passo que, em estados como o MS, esse
percentual chega a 73,2%. Temos aí o nosso primeiro grande gargalo: poucos crimes resultam em denúncia.
Nota-se que a investigação de homicídios tem sido pouco valorizada e esse é um dos motivos pelo qual a
impunidade é grande no país.
As causas para isso são as mais diversas: falta de recursos (pessoais e materiais) nas polícias civis; prioridade
de investimento na polícia militar, responsável pelo policiamento ostensivo, em detrimento da polícia civil,
responsável pelas investigações; sucateamento das perícias científicas; não uso de métodos modernos para
facilitar a identificação, como a coleta de material genético; falta de um protocolo para a preservação da
cena do crime, entre outros.
É importante nesse nosso diálogo destacar o seguinte texto do Anuário Brasileiro de Segurança Pública
201954:
54
Disponível em: http://www.forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2019/09/Anuario-2019-FINAL-v3.pdf. Acesso em 24 de
junho de 2020.
"O coração das polícias modernas chama-se inteligência e investigação. Alguns dos melhores
departamentos de polícia nos países desenvolvidos se baseiam em um modelo conhecido como “Polícia
Orientada pela Inteligência”, em que o foco no curto prazo é trocado por uma visão estratégica de médio e
longo prazo e onde o planejamento é voltado para a identificação e prisão dos criminosos mais perigosos
e que mais danos causam à sociedade, por meio de um trabalho intensivo e articulado de investigação
e inteligência.
No Brasil, ao contrário, trabalhamos com um modelo tradicional de polícia, baseado no policiamento
ostensivo e, eventualmente, prisões em flagrante e investigações posteriores ao momento do incidente. Para
piorar a nossa situação empregamos um modelo endêmico, não observado em outros países, de ciclo policial
repartido entre polícias civis e militares, em que as corporações possuem interesses próprios e, geralmente,
trabalham desarticuladamente disputando espaços, recursos e informações. No pior dos mundos, como
resquício da ditadura e ainda embalado pelo medo da população, hipertrofiamos o policiamento ostensivo
e sucateamos o policiamento investigativo e de inteligência. Resultado: as prisões feitas são de baixa
qualidade, geralmente, no flagrante, enquanto homicidas, milicianos e grandes criminosos continuam
soltos e incógnitos. De fato, a impunidade dos crimes de maior gravidade é abissal, refletido no fato de
que na maioria das Unidades Federativas não se consegue sequer calcular a taxa de esclarecimento de
homicídios" (Grifos nossos)
Pessoal, são vários pontos de reflexão. Um deles é o fato de que as prisões no Brasil são de baixa
qualidade. Prende-se o pequeno traficante em flagrante delito, o que gera impacto irrelevante na estrutura
do tráfico, pois os "soldados rasos" são peças altamente descartáveis e substituíveis.
Em linha com o que acabamos de ler, segundo o Plano Nacional de Política Criminal e Penitenciária:
[...] um exame mais atento dos números denota uma situação diferente, levando à conclusão de que é
preciso prender melhor. Com efeito, em consonância com dados coletados em pesquisa de campo na
elaboração de tese de doutorado de Semer (2019), as pessoas presas pelo crime de tráfico de
entorpecentes não são os grandes traficantes, mas, sim, quando não meras mulas, simples operários
do tráfico, representados por jovens presos em flagrante, primários, integrantes da classe baixa,
desempregados, negros ou pardos e com a defesa sendo realizada pela defensoria pública. Essa tese
compreendeu a análise de 800 sentenças de 8 estados (São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná,
Goiás, Pará, Bahia e Maranhão).
Além de os que comandam o tráfico invariavelmente não serem presos, na medida em que as
investigações não chegam neles – pois 88,75% das prisões decorrem de situação de flagrante delito, em
que a pessoa portava pequena quantidade de droga (SEMER, 2019) –, aquele que ontem estava na rua, mas
agora está preso, dá lugar no mercado do tráfico a outro jovem, que, mais cedo ou mais tarde, vai ser preso
ou ser vítima da própria criminalidade da qual ele tem participação como coadjuvante. (Grifos nossos)
Além de ser necessário combater os crimes contra a vida de forma mais estratégica, os crimes econômicos,
tributários e de lavagem de dinheiro merecem atenção específica, uma vez que seu resultado atinge
severamente o Estado pelo seu impacto nas finanças públicas.
Neles, principalmente, é ainda mais necessária uma polícia civil capaz de desvendar as manobras feitas para
a ocultação e simulação dos bens obtidos ilicitamente, atuar em coordenação com outras polícias. Esse é o
campo de atuação de organizações criminosas complexas e sofisticadas, as quais devem ser combatidas
com o uso de inteligência, coordenação e recursos tecnológicos sofisticados, sob pena de a atuação do
Estado ser inócua.
Outra questão relevante a ser explorada é o recorte econômico-social da impunidade. A possibilidade de
ser defendido por advogados ou escritórios de advocacia qualificados, capazes de explorar as
particularidades do processo penal, faz com que o processo caminhe com morosidade, facilitando a
ocorrência da prescrição e, portanto, a impunidade.
No segundo texto motivador, o autor retrata a leniência com que o Poder Judiciário trata os acusados de
corrupção. Mostra-se que, dos poucos presos, todos eles cometeram crimes de menor impacto, sugerindo
que os grandes corruptos não cumprem as penalidades que deveriam.
De fato, de forma geral, a sociedade tem a percepção de que autores de crimes de colarinho branco, assim
como os chefes das grandes organizações criminosas por trás desses crimes, que furtam elevada quantidade
de recursos públicos e produzem grande dano ao erário, ou estão soltos, ou sequer foram investigados e
punidos. As cadeias estão lotadas, mas não dessas pessoas, que, quando vão presos, não ficam muito
tempo. Basta ver os casos: Eike Batista, Adriana Ancelmo, Paulo Roberto Costa, entre outros muitos.
Esse tipo de situação também reforça a desigualdade, pois, sendo a lei a mesma para todos, o fato de as
pessoas mais providas de recursos serem representadas judicialmente de forma mais adequada dá a elas
maiores possibilidades de passarem impunes. Segundo o Ipea, há carência de 10.000 defensores públicos
na faixa populacional das pessoas com renda de até três salários-mínimos55. Isso, sem dúvida, interfere na
composição socioeconômica e racial da população carcerária.
O fato de grande parte dos crimes que tem levado à prisão serem decorrentes de flagrante delito, indica a
seletividade do nosso sistema de justiça criminal, tanto do ponto de vista dos crimes (exemplo: tráfico de
drogas, roubos e furtos − mais recorrentes na situação de flagrância), quanto do ponto de vista do infrator,
normalmente mais desprovido de recursos.
Há também a questão do foro por prerrogativa de função, também chamado de foro privilegiado. Sua
finalidade original é fazer com que determinados cargos sejam julgados por tribunais menos suscetíveis à
pressão externa. Contudo, com o passar do tempo, verificou-se sua forte ligação com a impunidade, pois o
ritmo de julgamento de tribunais superiores é mais lento que o da primeira instância.
Da forma que existe hoje no Brasil, é instituto amplamente banalizado. Segundo Nexo Jornal56:
55
Disponível em: http://ipea.gov.br/sites/en-GB/mapadefensoria/deficitdedefensores. Acesso em 24 de junho de 2020.
56
Disponível em: Link para matéria: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/04/12/O-que-%C3%A9-foro-privilegiado.-E-
quem-tem-direito-a-ele-no-Brasil. Acesso em 24 de junho de 2020.
O Núcleo de Estudos e Pesquisas do Senado realizou um levantamento em 2017 e descobriu que no Brasil
há quase 55 mil pessoas com foro privilegiado – 38,4 mil garantidas pela Constituição Federal, 15,5 mil
por Constituições Estaduais. Entre as autoridades que possuem foro por garantia da Constituição de 1988,
79% estão no Judiciário e no Ministério Público. (Grifo nosso)
Prossigamos no nosso funil da impunidade.
De nada adianta que a polícia e o Ministério Público façam seu trabalho de forma eficiente se o processo
parar no Judiciário sem julgamento ou for alcançado pela prescrição em face do longo lapso temporal
decorrido entre a ocorrência do delito e o trânsito em julgado. Como já vimos, os seus grandes beneficiários
são aqueles que dispõem de recurso para manipular o sistema com infinitos recursos de caráter
procrastinatório e protelatório.
Segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cerca de 30% das ações sob responsabilidade do Tribunal
do Júri, que julga os crimes dolosos contra a vida, prescrevem. Assim, aproximadamente 1/3 dos crimes
mais violentos, aqueles em que se deveria envidar todos os esforços para desestimular a impunidade, o
Estado, simplesmente, perde o direito de punir. Segundo a revista Exame, 950 ações penais de tribunais
superiores prescreveram num intervalo de dois anos: 830 no STJ e 116 no STF57.
As soluções para evitar que tantos processos sejam atingidos pela prescrição passa pela realização de
alterações estruturais no Poder Judiciário para reduzir o tempo de tramitação dos processos e pela adoção
de tecnologias para agregar celeridade ao processo.
Mudanças das regras, tais como o aumento dos prazos ou até mesmo a controversa possibilidade de
cumprimento da punição após o julgamento em segunda instância, são bastante controversas no meio
jurídico, tendo em vista que retiram garantias conquistadas pelos cidadãos. Nesse sentido, é mais
conservador evitar entrar em polêmicas, principalmente, quando envolvem retrocesso no que tange aos
direitos e garantias individuais.
Outro gargalo é, uma vez ocorrido o trânsito em julgado com a condenação do réu, a sua captura. Nesse
sentido, vejam mais um fragmento do Plano Nacional de Política Criminal e Penitenciária:
Não são poucos os casos que, quando tudo corre dentro dos padrões processuais, com indiciamento,
denúncia, julgamento e condenação do réu a pena restritiva de liberdade, o respectivo mandado de prisão
expedido fica literalmente engavetado nas Delegacias de Captura dos estados e até mesmo na Polícia
Federal quando se trata de crimes federais ou por ela apurados. Nestes casos, o normal é aguardar o
condenado voltar a delinquir e ser preso em flagrante, para se cumprir o mandado de prisão por condenação
já expedido.
57
Disponível em: https://exame.com/brasil/impunidade-950-casos-prescrevem-em-tribunais-superiores-em-2-anos/. Acesso em 24
de junho de 2020.
Para se ter uma dimensão do problema, em consulta ao BNMP58 constatou-se que há 355.523 mandados
de prisão em aberto, ou seja, há mais de 350 mil ordens judiciais de prisão não cumpridas. Processos que,
superadas todas as etapas do funil, não conseguem ter o seu desfecho com a punição dos responsáveis.
O problema da impunidade no Brasil é complexo. Não há soluções mágicas. Não adianta clamar por leis
mais rigorosas se o básico está longe de ser cumprido.
Recentemente, rompendo com a cultura da impunidade de pessoas poderosas instaurada no Brasil, a
operação Lava jato trouxe esperança de uma mudança de paradigma. Segundo o sítio do Ministério Público
Federal59:
A Operação Lava Jato é a maior iniciativa de combate a corrupção e lavagem de dinheiro da história do
Brasil. Iniciada em março de 2014, perante a Justiça Federal em Curitiba, a investigação já apresentou
resultados eficientes, com a prisão e a responsabilização de pessoas de grande expressividade política e
econômica, e recuperação de valores recordes para os cofres públicos. O caso se expandiu e, hoje, além de
desvios apurados em contratos com a Petrobras, avança em diversas frentes tanto em outros órgãos
federais, quanto em contratos irregulares celebrados com governos estaduais.
Atualmente, a operação conta com desdobramentos na primeira instância no Rio de Janeiro, Distrito Federal
e São Paulo, além de inquéritos e ações tramitando no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e no Supremo
Tribunal Federal (STF) para apurar fatos atribuídos a pessoas com foro por prerrogativa de função. Pelo
menos 12 países iniciaram suas próprias investigações a partir de informações compartilhadas por meio de
acordos de cooperação internacional. Estima-se que o volume de recursos desviados dos cofres públicos
esteja na casa de bilhões de reais. Soma-se a isso a expressão econômica e política dos suspeitos de participar
dos esquemas de corrupção investigados.
Por que Lava Jato?
O nome do caso, “Lava Jato”, decorre do uso de uma rede de postos de combustíveis e lava a jato de
automóveis para movimentar recursos ilícitos pertencentes a uma das organizações criminosas inicialmente
investigadas. Embora os trabalhos tenham avançado para outros rumos, o nome inicial se consagrou.
No primeiro momento, foram investigadas e processadas quatro organizações criminosas lideradas por
doleiros, que são operadores do mercado paralelo de câmbio. Depois, o Ministério Público Federal recolheu
provas de um imenso esquema criminoso de corrupção envolvendo a Petrobras.
Nesse esquema, grandes empreiteiras organizadas em cartel pagavam propina para altos executivos da
estatal e outros agentes públicos. O valor da propina variava de 1% a 5% do montante total de contratos
bilionários superfaturados. Esse suborno era distribuído por meio de operadores financeiros do esquema,
incluindo doleiros investigados na primeira etapa.
58
Disponível em: https://portalbnmp.cnj.jus.br/#/estatisticas. Acesso em 24 de junho de 2020.
59
Disponível em: http://www.mpf.mp.br/grandes-casos/lava-jato/entenda-o-caso. Acesso em 17 de julho de 2020.
Considerando os impactos que produz, é necessário que a população esteja em permanente alerta de modo
a evitar movimentações e articulações que visem a enfraquecer a operação.
Tema 37
A “pós-verdade” despontou para a fama graças ao Dicionário Oxford, editado pela universidade britânica,
que anualmente elege uma palavra de maior destaque na língua inglesa. Na definição britânica, “pós-
verdade” é um adjetivo “que se relaciona ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos
influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais”. Não seria então,
exatamente, o culto à mentira, mas a indiferença com a verdade dos fatos. Eles podem ou não existir, e
ocorrer ou não da forma divulgada, que tanto faz para os indivíduos. Não afetam os seus julgamentos e
preferências consolidados.
Internet: <www.cartacapital.com.br> (com adaptações).
O negócio é que, quando só falamos com nossos iguais, não temos de encarar contra-argumentos. Aí nossas
opiniões vão se tornando mais rígidas, extremas e, muitas vezes, distorcidas. Liberais ficam mais liberais,
conservadores mais conservadores. Cada lado se fecha com suas certezas. Pensando na “experiência do
usuário”, as redes desenvolveram ferramentas e algoritmos que recortam e recontam o mundo para nos
mostrar só o que queremos ver. Uma realidade ilusória, feita sob medida para cada um de nós, para
satisfazer nossos gostos, interesses e crenças. Se algo não aparece na minha timeline, não existe. Se os
outros não concordam comigo, eu ignoro. Se um dado me contradiz, é falso. Mas, se confirma o que penso,
só pode ser verdadeiro. E ponto final. Mentiras, radicalismos e obscurantismos existem desde sempre, claro.
Mas agora encontram nas bolhas, filtros e caixas de ressonância das redes sociais um ambiente perfeito
para a proliferação. Os efeitos da pós-verdade estão aí para quem quiser ver. No ano passado, um dos
responsáveis pela campanha do Brexit admitiu: “fatos não funcionam, é preciso se conectar com a emoção
das pessoas”.
Internet: <http://cultura.estadao.com.br> (com adaptações).
Tendo os textos acima como referência inicial, redija um texto dissertativo acerca do seguinte tema.
A INTOLERÂNCIA NAS RELAÇÕES SOCIAIS CONTEMPORÂNEAS: A CULTURA DO ÓDIO
Em seu texto, discuta, por um lado, como as emoções e as crenças pessoais alimentam a cultura do ódio
[valor: 6,20 pontos] e, por outro, como o conhecimento dos fatos, em detrimento da emoção e das crenças
pessoais, pode contribuir para a construção de uma “sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos,
fundada na harmonia social” [valor: 6,20 pontos].
Abordagem teórica
A intolerância, no âmbito social, pode ser definida como a indisposição, a falta de vontade ou de habilidade
para lidar com diferentes crenças e opiniões. Pode também ser definida como atitudes não
==1570b7==
condescendentes para com o próximo e que resultam em relação de repulsa, repugnância e ódio diante de
determinados comportamentos, valores e atos diferentes aos seus.
Ela pode ser fundada num preconceito, o qual pode culminar em discriminação. Nessa linha, são formas
comuns de discriminação o racismo, a homofobia, a intolerância religiosa e política. Exemplos de
intolerância e preconceito acontecem todos os dias, em diversas partes do mundo e nos diferentes
segmentos da sociedade. Embora não seja possível dizer que se trata de fenômeno atual (basta recordar-se
da escravidão e do nazismo), a internet e as redes sociais amplificaram a repercussão desses atos.
A intolerância deriva da dificuldade em aceitar diferenças, que faz com que os não semelhantes sejam
vistos como uma ameaça, como inimigos. Isso provoca o isolacionismo e o surgimento de grupos em que as
pessoas têm a mesma opinião sobre os fatos e refutam, com base nas emoções, qualquer informação que
vá de encontro ao posicionamento ideológico reinante. Daí as crenças se tornam mais enraizadas, radicais
e, por vezes, distanciadas da realidade. Cada lado se fecha com suas certezas e passa a viver uma realidade
ilusória, construída com base nos seus gostos e preferências.
Esse movimento deixa vir à tona o contexto de predomínio das emoções e crenças sobre a racionalidade e
sobre a verdade dos fatos. Nesse contexto, é oportuno mencionar o conceito de “pós-verdade”, eleita a
palavra do ano de 2016 pelo Oxford. Segundo esta fonte, "pós-verdade" é um substantivo que se relaciona
ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do
que apelos à emoção e a crenças pessoais. Não seria então, exatamente, o culto à mentira, mas a indiferença
com a verdade dos fatos. Verdadeiros ou falsos, eles não possuirão o condão de afetar os julgamentos e
preferências consolidados.
A intolerância constitui-se num comportamento extremamente danoso para a sociedade, pois, além de
estagnar o crescimento sob os mais diferentes aspectos, limita o entendimento da realidade, desgasta as
relações entre os indivíduos e contribui para o esgarçamento do tecido social e para a escalada da violência.
Essencialmente em tempos de crise, nos quais se buscam, avidamente, heróis e anti-heróis, a sociedade
fica cada vez mais polarizada. Disso decorre o recrudescimento da intolerância, processo que converge para
o isolamento e a condenação dos que divergem do pensamento do grupo.
Na sociedade atual, em que as pessoas não estão dispostas a saírem da sua zona de conforto e escutarem
argumentos contrários às suas preconcepções, a empatia é valor em desuso. Dominados pela emoção, a
necessidade de fazer valer suas crenças provoca comportamentos agressivos, tomando o lugar do diálogo,
da possibilidade de construção conjunta de ideias e do aprimoramento de um consenso social. Nesse
contexto, distinguir os fatos das crenças nutridas por determinado grupo torna-se tarefa árdua.
Essa polarização pôde ser vista na última campanha presidencial (2018). Até mesmo no seio familiar, o
debate cedeu espaço à desarmonia e à agressividade; muitos laços foram, ainda que temporariamente,
desfeitos devido a entendimentos políticos distintos. O que se viu, no final, foi o esvaziamento da
racionalidade e do compartilhamento de ideias, o predomínio da paixão e a fragmentação dos grupos
familiares em subgrupos, organizados de acordo com as afinidades dos seus integrantes.
O aumento da intolerância e da violência estão intimamente relacionados. Corroborando essa afirmação,
vejam os dados interessantíssimos apresentados por Nexo Jornal60:
"Segundo matéria da Folha de S.Paulo de 13 de janeiro de 2019, os registros de crimes relacionados à
intolerância atingiram um pico durante as eleições de 2018. Nos meses de campanha — agosto,
setembro e outubro — foram 16 casos por dia, mais que o triplo dos 4,7 registros diários no primeiro
semestre. O ápice se deu em outubro, quando da votação de primeiro e segundo turnos, com 568 boletins
de ocorrência, uma média de pouco mais de 18 casos por dia. O total desse mês representa 67% do
acumulado nos seis primeiros meses e é mais que o triplo do anotado em outubro de 2017. O certo é que
as ocorrências de intolerância religiosa cresceram 171% em relação ao total dos três meses
anteriores, os de homofobia 75%, e os de intolerância por origem 83%. Já os registros relacionados
a preconceito de cor e raça subiram 15%".
São muitos os registros de violência que se originam do sentimento de não aceitação das diferenças. É só
observar como têm se multiplicado a violência contra a comunidade LGBTI, as reações à inclusão de
deficientes na sociedade, as manifestações xenófobas contra imigrantes e estrangeiros, os casos de bullying
em escolas e ambientes de trabalho, os ataques a templos religiosos de matriz africana gerados por
diferenças raciais, de gênero ou até mesmo divergências políticas.
A expansão do uso da internet e das redes sociais é agente amplificador dessa realidade. Motivado por
suposto anonimato, observa-se que a internet tem sido usada como um ambiente de troca de agressividade
e proliferação de intolerância, o que adquire proporções muito maiores, provocado pela intensa capacidade
de propagação da informação.
Assim, escondidos, muitas vezes, por detrás de perfis falsos, agressores disseminam o discurso de ódio e
alimentam páginas com opiniões radicais e preconcebidas sobre determinados grupos. A dificuldade em
rastrear os perfis falsos, a frequência dos casos e a burocratização do sistema de justiça, coadunam para
situação de impunidade, alimentando esse tipo de comportamento.
60
Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/colunistas/2019/Intoler%C3%A2ncia-%C3%A9-o-nosso-nome. Acesso em:
25/01/2020.
Também decorrente da ampliação do acesso ao mundo digital, torna-se crítica a questão das fake news.
Independentemente se são reais ou fake, desde que alinhadas às suas propostas ideológicas, as pessoas
disseminam informações sem, sequer, verificar a sua veracidade. Além disso, conteúdos mais curtidos e
compartilhados têm maior alcance e disseminação, o que contribui para que a “pós-verdade” tenha maior
alcance. Cria-se, assim, uma “verdade fabricada” defendida por uma massa de indivíduos que acredita que
a informação é verdadeira.
Correlaciona-se a isso, o fenômeno das “bolhas virtuais”. Com base no histórico de navegação, curtidas,
compartilhamentos e outros indícios do perfil do usuário, as redes sociais e os navegadores de internet
exibem os resultados alinhados a esse perfil, reduzindo a possibilidade de que a pessoa tenha contato com
ideias diferentes e promovendo o isolamento (“a bolha”). Um dos textos motivadores trata sobre o assunto:
" Pensando na “experiência do usuário”, as redes desenvolveram ferramentas e algoritmos que recortam e
recontam o mundo para nos mostrar só o que queremos ver. Uma realidade ilusória, feita sob medida para cada
um de nós, para satisfazer nossos gostos, interesses e crenças. "
A intolerância fragiliza, pois, o Estado democrático de direito, o qual exige respeito entre ideias,
experiências, práticas, opções e costumes diferentes. Para construção de uma sociedade verdadeiramente
democrática, é necessário que os diferentes posicionamentos possam ser ouvidos, pois é por meio do
debate que se constrói uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social.
Contudo o que se observa é que a sociedade tem muito a amadurecer no que se refere ao respeito às
diferenças, condição essencial para que se efetive o disposto no Preâmbulo da nossa Carta Magna e no seu
art. 5°, o qual apresenta: "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade,
à segurança e à propriedade".
Além disso, as pessoas devem certificar-se da veracidade das informações que compartilham, evitando
levar outras pessoas a erro. Mais grave que isso é compartilhar informações sabidamente inverossímeis. As
consequências desses atos são gravíssimas, visto que levam à desinformação, à formação de um juízo falso
sobre a realidade e à intensificação da cultura do ódio. Atos aparentemente simples, como o
compartilhamento de informações falsas, representam, numa análise mais global, uma ofensa ao próprio
regime democrático, visto que se assumem premissas para a tomada de decisão, fato crítico, por exemplo,
no momento do voto.
É necessário, pois, o enfraquecimento da cultura do ódio, que mina as relações e divide a sociedade. Para
que isso ocorra, as pessoas devem reconhecer a primazia dos fatos, estar dispostas a escutar e, sobretudo,
questionar as suas convicções mais cristalizadas. Somente dessa forma, poder-se-á construir um país mais
plural, democrático e unido.
A filosofia de Voltaire
François Marie Arouet ou, simplesmente, Voltaire foi um filósofo iluminista que viveu entre 1694 e 1778.
Influenciado por John Locke, dedicou parte destacada da sua obra na defesa da tolerância e liberdade de
expressão. Tem, como uma das suas obras mais conhecidas, o Tratado sobre a Tolerância, de 1763, que trata,
basicamente sobre a intolerância religiosa e sobre os riscos de se realizarem julgamentos com base no clamor
da opinião pública.
É atribuída a Voltaire uma das frases mais famosas no que se refere à tolerância: “Eu discordo do que você diz,
mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo”. Na verdade, essa frase é da sua biógrafa, a escritora inglesa
Evelyn Beatrice Hall. Apesar disso, resume de forma fidedigna o pensamento do filósofo.
Em sua obra, Voltaire aponta a necessidade do exercício da tolerância para garantir o progresso a evolução das
ideias e da própria humanidade. É por meio do debate que as ideias mais robustas prevalecem e as ideias mais
fracas, de menor razão, são refutadas. A existência desse debate tem como pré-requisito a tolerância, ou seja,
a capacidade de escutar e discutir de forma racional sobre as ideias e, por meio disso, chegar ao progresso
humano.
São também frases de Voltaire:
- “O que é a tolerância? É o apanágio da humanidade. Somos todos cheios de fraquezas e de erros; perdoemo-
nos reciprocamente as nossas tolices, tal é a primeira lei da natureza.”
-"Quanto menos dogmas. Menos disputa. E quanto menos disputa, menos infelicidades." Os dogmas, nesse
sentido, seriam ideias insuscetíveis de discussão, verdades absolutas.
- "Ame a verdade, mas perdoe o erro".
Tema 38
Esse comportamento explicaria a origem, mais tarde, do “jeitinho brasileiro”. Nessa predisposição à
informalidade, entre o que pode e o que não pode por meios legais, a malandragem, o "jeitinho" e frases
como "você sabe com quem está falando?", como cita Roberto DaMatta, surgem como formas de se obter
vantagens e burlar regras seja no âmbito do poder seja nas nossas relações do dia a dia.
Disponível em: www.vestibular.uol.br/atualidades Acesso em 09 de junho de 2020. Texto
original escrito por Andreia Martins. (Adaptado).
Por isso, protestar é um direito, mas não praticar atos de corrupção é mais do que uma obrigação."
ZSCHORNACK, Thiago. Disponível em:
https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/atualidades/corrupcao-uma-doenca-social.htm.
Acesso em 09 de junho de 2020.
Abordagem teórica
A corrupção não foi inventada no Brasil. Vem desde quando a humanidade passou a se estruturar como
sociedade. São inúmeros os exemplos, que vão desde a Roma antiga, passam pela Coroa Portuguesa e
chegam aos dias atuais.
A corrupção não é de fácil medição. Por isso, não há como ranquear os países por seus níveis de corrupção.
O que alguns estudos fazem é medir a percepção da corrupção de um país por seus próprios habitantes. E
nesse quesito, vamos muito mal.
A Transparência Internacional divulga anualmente o Índice de Percepção de Corrupção (IPC), o qual mede
a percepção da corrupção do país por executivos, investidores, acadêmicos e estudiosos da área da
transparência. No ano de 2019, o Brasil repetiu a sua pior nota e passou a ocupar a 106ª posição entre 180
países. Esclareça-se que, quanto melhor a posição no ranking, menos o país é considerado corrupto.
As raízes da corrupção no Brasil remontam ao período do processo de colonização, o qual teve como uma
característica marcante a falta de projeto de nação e a ausência de um compromisso moral ou ideológico
com a coletividade. O interesse dos que vieram era individual, exploratório, o que oportunizava e estimulava
as fraudes, negociatas e desvios.
Quando se fala nas raízes da corrupção no Brasil, é importante mencionarmos o patrimonialismo,
coronelismo e clientelismo, elementos presentes na nossa formação histórica e que se refletem até hoje
na sociedade brasileira. Todos eles são elementos fortemente relacionados à ideia da gestão da coisa
pública como se particular fosse e cuja utilização é direcionada para proveito próprio e não para o
cumprimento da sua finalidade: servir à população e proporcionar o desenvolvimento da sociedade.
Fato é que, da colônia aos dias atuais, a corrupção continua sendo um grande problema por aqui. É
constante a presença em noticiários de escândalos envolvendo funcionários públicos, empresários, políticos
e cidadãos comum.
O ponto fundamental para responder a esse primeiro tópico é ter a consciência de que, para que a corrupção
ocorra, além do corrompido, há um corruptor. Mais do que isso, a corrupção não é algo distante da
sociedade, mas sim algo que nela está entranhada, como um traço cultural, característico. Os textos
motivadores exploraram bastante esses pontos.
Apesar de gerar certo incômodo, a corrupção é um mal coletivo e faz parte de uma construção ética que
envolve desde andar no acostamento a "colar" na prova. Trata-se de construção histórica e estrutural, não
se resumindo, portanto, às condutas da classe política, ou seja, não é apenas sistêmica. Não custa lembrar
que a classe política é uma amostra da população e, nesse sentido, uma representação dos seus valores
morais e éticos.
No cotidiano, prevalece o famoso “jeitinho brasileiro”, que, apesar da sua conotação positiva como
criatividade, legitima toda uma cultura para se tirar proveito pessoal de determinas situações. Esse hábito
acaba tendo a sua importância diminuída por aqueles que o praticam, pois, ainda que saibam se tratar de
algo errado, entendem que é algo ínfimo dentro de uma estrutura muito maior e corrompida, ou seja, é
como se aquilo, no final das contas, não fizesse diferença. Outros justificam as suas condutas com base nos
erros alheios. Nesse sentido, são comuns frases como: "se todos estão fazendo, porque eu não posso fazer?"
Outro importante conceito é o de "Homem Cordial", cunhado por Sérgio Buarque de Holanda em seu livro
"Raízes do Brasil" de 1936. Pode até parecer que o conceito enaltece as características de bons modos,
polidez ou bondade do brasileiro, mas é bem diferente disso. "Cordialidade", no contexto, é agir com o
coração em detrimento da razão e, às vezes, até agir de forma violenta. Implica o desejo de estabelecer
intimidade e forte oposição à formalidade, o que faz com que o modelo familiar de relacionamento
extravase para toda a sociedade. Isso explica por que, em geral, os indivíduos não conseguem compreender a
distinção fundamental entre as instâncias públicas e privadas, principalmente entre o Estado e a família 61.
Acredito que esse fragmento pode ajudá-lo a entender melhor o conceito62:
O sociólogo desenvolve mais essa ideia ao levar essa interpretação para esferas maiores como a política.
Segundo Sérgio Buarque de Holanda, o Estado brasileiro absorvia reflexos desse aspecto social por meio
do patrimonialismo. Esse por sua vez significa o aparelhamento de cargos públicos pautados na
proximidade, afetos e não nas competências técnicas. Ou seja, essa cordialidade brasileira fez com que,
em nossa cultura, a diferenciação entre o público e privado não se estabeleceu de maneira concreta.
61
Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Homem_cordial#:~:text=Homem%20cordial%20%C3%A9%20um%20conceito,publicada%20no%20
ano%20de%201936. Acesso em 18 de julho de 2020.
62
Disponível em: https://blog.enem.com.br/o-conceito-de-homem-cordial-na-sociologia-brasileira/. Acesso em 18 de julho de
2020.
Além disso, segundo ele, a impessoalidade que o capitalismo impõe nunca conseguiu se capilarizar pela
sociedade, porque o brasileiro seria aquele que necessita criar intimidade com o outro como condição de
estabelecer qualquer tipo de relação. Como exemplo, Sérgio Buarque de Holanda mostra como, para
conquistar clientes, muitos vendedores precisam fazer de sua clientela seus amigos antes.
Apesar disso, ainda vigora no país uma visão caricata do que é a corrupção, imaginário que remete à figura
de um político com uma mala de dinheiro na mão, fruto do desvio de verbas públicas. A maioria das pessoas
não vê que isso é só a "ponta do iceberg", visto que a corrupção se encontra nos mínimos atos praticados de
forma inconsciente por parte generosa da população. É como foi dito certa vez pelo Barão de Itararé:
"Corrupção é um bom negócio para o qual não fui convidado".
Aprofundando nessa discussão, pode-se falar que a corrupção no Brasil é endêmica, eis que disseminada
nos hábitos da população, nos pequenos atos cotidianos de desvios sociais, como estacionar na vaga de
pessoas com deficiência.
Também se fala na existência da corrupção sindrômica, a que atinge a estrutura do Estado e relaciona-se
ao excesso de burocracia, legitimando condutas ilegais. Resume-se pelo jargão "criar dificuldade para
vender facilidade". A distorção da burocracia (não nos termos concebidos por Weber) acaba possibilitando
condutas como fraudes em licitações, a figura do despachante, entre muitas outras. Observe o caso das
grandes obras: tantas são as dificuldades que pode não haver como viabilizar um projeto sem fazer acertos
por fora.
Enfim, a corrupção no Brasil é algo da sociedade. Encontra-se espalhada e não se confina a determinado
segmento, seja ele qual for.
2. Como a corrupção afeta a sociedade
63
Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/brasileiros-nao-se-sentem-representados-por-politicos-em-exercicio-aponta-
pesquisa.ghtml. Acesso em 18 de julho de 2020.
64
Disponível em: https://istoe.com.br/brasil-perde-cerca-de-r-200-bilhoes-por-ano-com-corrupcao-diz-mpf/. Acesso em 18 de julho
de 2020.
Nesse sentido, é emblemático o caso da Petrobras. Segundo o atual presidente, as perdas por pagamentos
indevidos, inicialmente estimadas em R$ 6,2 bilhões, estariam subdimensionadas:
"Temos vários exemplos disso: US$ 15 bilhões jogados fora com o Comperj [Complexo Petroquímico do
Estado do Rio de Janeiro, no município fluminense de Itaboraí]. Um prédio na Bahia, a chamada Torre
Pituba, onde se gastaram aproximadamente R$ 2 bilhões na construção do que eu chamo de templo da
corrupção, porque foi superdimensionado para as necessidades da companhia. A Refinaria Abreu e Lima,
em Pernambuco, a mais cara do mundo, custou quase US$20 bilhões. E ainda ficou com a metade da
capacidade do que havia sido planejado"
Além disso, em 2013, um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que cada um real
desviado pela corrupção representa um dano para a economia e para a sociedade de três reais65. São valores
que, se, no lugar de desviados, fossem aplicados na economia para a realização de obras e construção de
bens de capital, teriam efeito multiplicador, fariam o país crescer e proporcionariam melhores condições de
vida à população. Mencione-se também a perda tributária derivada da frustração da atividade econômica,
da ocorrência de sonegação ou de fraudes em conluio com servidores públicos.
Outra consequência é a deterioração dos valores morais e éticos na sociedade, provocada pela
desvirtuação dos honestos. Ao viver em um contexto de degradação dos valores morais, corrupção e
impunidade, o indivíduo tenderá a se desestimular ou a se juntar aos outros. É também possível que, em
meios contaminados, o indivíduo venha a sofrer pressão para agir como os demais, como forma de criar
uma relação de compromisso entre os desviantes.
Também é consequência a perda de eficiência. Vimos isso quando falamos da corrupção sindrômica: a
burocracia, que é necessária, é desvirtuada, constituindo entraves a serem superados por meio do
pagamento de propina. Quanto maior a quantidade de etapas para a aprovação de um projeto, maior a
ineficiência e maior tenderá a ser a corrupção.
Um país com grande incidência de corrupção desestimula investimentos privados, haja vista as
dificuldades e incertezas inerentes a um ambiente corrompido. Facilita também o crime organizado, que,
muitas vezes, conta com a participação ou leniência de agentes públicos para desenvolver as suas
atividades, obter vantagens ou assegurar a impunidade.
Enfim, a corrupção macula a prestação dos serviços públicos e o desenvolvimento econômico e social do
país, degrada a dignidade dos cidadãos e o convívio social, desestimula o cidadão a agir corretamente e
leva a sociedade a um quadro de pessimismo e profunda desesperança.
Por fim, a corrupção e a impunidade são faces de uma mesma moeda. Não é difícil observar que a
impunidade alimenta a corrupção e a corrupção potencializa a impunidade.
65
Marina Pinhoni. «5 efeitos danosos da corrupção que você não vê». Exame. Abril. Consultado em 19 de maio de 2018
O cidadão é elemento central no combate à corrupção. Isso pode ser feito das mais diversas formas.
A primeira delas é a forte atuação no controle social, principalmente na fiscalização dos governantes. Há
atualmente grande disponibilidade de informações tratando sobre a gestão pública, o que possibilita, por
exemplo, o acompanhamento das licitações e dos contratos firmados pela Administração Pública, do
andamento das obras, das sessões da Câmara dos Vereadores, do desempenho dos parlamentares,
ministros do STF etc.
A sociedade também pode se organizar para exercer seu papel de fiscalização de forma mais estruturada e
com maior alcance. Nesse sentido, mencionam-se instituições como a Transparência Brasil e movimentos
como Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, os quais fiscalizam, apuram as informações e dão
visibilidade aos resultados encontrados.
A população também pode participar por meio da iniciativa popular de leis que visem a criar mecanismos
de controle, prevenção e fiscalização. Uma das ações mais bem-sucedidas foi a Lei da Ficha Limpa, que
completa 30 anos em 2020. Outro exemplo é o Projeto de Lei para as dez medidas contra a corrupção.
Outrossim, é fundamental que o cidadão entenda as consequências do seu voto e aja de forma
responsável. Isso envolve criteriosa pesquisa sobre os candidatos, o histórico de corrupção e outras
informações que deponham contra a probidade. Além disso, deve haver a consciência de que o voto não é
mercadoria, é insuscetível de barganha, sendo, portanto, inconcebíveis atitudes como a compra e venda de
votos e o voto de cabresto.
Além disso, cada um deve olhar para si e avaliar a correção dos seus atos cotidianos. Todas as atitudes
devem se pautar pela ética, das mais singelas às de maior impacto. É necessário criar no seio social uma
cultura de valorização da ética e de intolerância com a corrupção, a ser disseminada para as próximas
gerações. Para que o combate à corrupção modifique, de fato, a realidade social, é necessário que a
sociedade modifique os seus valores. É como disse Gandhi: "seja a mudança que você quer ver no mundo".
Outra questão importante é o fomento a uma imprensa livre e independente e que garanta a segurança dos
jornalistas e sua capacidade de trabalhar sem intimidação ou assédio.
Bem, é isso. Nos vemos na próxima, pessoal!
Tema 39
Entre outros pontos, o texto exige a rastreabilidade de mensagens enviadas por aplicativos a mais de mil
usuários, identificação de conteúdos impulsionados e sanções às plataformas que descumprirem a lei. A
proposta foi chamada de Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet.
Desde que foi apresentado pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-ES), o projeto sofreu diversas
alterações. Ao todo, foram apresentadas 152 emendas.
Um dos pontos que causou mais controvérsia na versão final do texto é o que prevê que aplicativos como
WhatsApp e Telegram guardem as informações de mensagens enviadas por mais de 5 pessoas em um
período de 15 dias, alcançando um mínimo de mil pessoas, a “rastreabilidade”.
As plataformas criticam essas exigências e argumentam que ela impactaria a privacidade dos usuários.
“A criptografia permanecerá intocada. Também não estaremos criando nenhum ambiente de vigilância,
pois o acesso a essa cadeia de encaminhamentos só será permitido por ordem judicial para a finalidade de
investigação criminal e conforme os critérios já estabelecidos no Marco Civil da Internet”, argumentou o
relator Ângelo Coronel (PSD-BA).
No texto final, Coronel manteve os artigos que preveem que as operadoras de telefonia validem o CPF dos
usuários de chip pré-pago e que obrigam os aplicativos de mensagem a suspender as contas cujos números
forem desabilitados. Segundo o senador, a intenção é evitar a criação de perfis falsos.
“Nesse ponto não há captura em massa de informações dos usuários, como tem sido dito por alguns. O que
se busca não é diferente do que se exige hoje para aplicativos de compras on-line, por exemplo”, afirmou.
A proposta exige ainda que os provedores de redes sociais identifiquem todos os conteúdos impulsionados
e publicitários, inclusive os eleitorais. Especialistas consideram a medida positiva e afirmam que ela
facilitará a identificação de pessoas que produzem conteúdo falso.
No relatório aprovado, também há regras sobre publicidade da Administração Pública nas redes sociais,
exclusão de conteúdo e autorregulação.
Disponível em: https://exame.com/brasil/senado-aprova-texto-principal-do-
projeto-da-lei-das-fake-news/. Acesso em: 18 de setembro de 2020 [adaptado].
Considerando o texto acima como meramente motivador, redija uma dissertação sobre:
Abordagem teórica
66
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/05/2-em-cada-3-receberam-fake-news-nas-ultimas-eleicoes-
aponta-pesquisa.shtml. Acesso em 19 de setembro de 2020.
67
Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/04/160417_noticias_falsas_redes_brasil_fd. Acesso em 19 de
setembro de 2020.
especificamente para determinado perfil de usuário, montados pela análise dos hábitos, das preferências,
dos interesses e da orientação ideológica desses usuários. Cada "like" alimenta um sistema capaz de montar
um perfil para aquele indivíduo com base em tecnologias como o Big Data e o Machine Learning
(aprendizagem de máquina).
Justamente, por refletirem exatamente as preferências e visões de mundo do usuário e servirem
perfeitamente à confirmação destas, essas notícias tendem a ser compartilhadas de pronto, sem o devido
questionamento ou checagem. Segundo o Massachusetts Institute of Tecnology (MIT), a probabilidade de
republicar uma informação falsa é 70% maior do que a de republicar uma notícia verdadeira68.
Isso nos remete a um conceito relacionado ao tema, o de pós-verdade, contexto em que os fatos importam
menos que as crenças pessoais. Tem a ver também com o viés de confirmação: a tendência de enxergar
apenas o que confirma suas crenças e ignorar o que as contradiz, sendo irrelevante, nesse contexto, a
verdade.
Assim, as fake news com manchetes sensacionalistas e conteúdos falsos acabam, por vezes, seduzindo e
ajudando a confirmar percepções pré-existentes de algumas pessoas, o que as leva tanto a acreditar em
informações inverídicas quanto a compartilhar esse conteúdo em suas redes.
Além disso, esse mecanismo favorece a polarização, pois, muitas vezes, essas notícias baseiam-se na
criação de uma fundamentação que coloca o lado oposto como inimigo, estimulando a divisão social. O
algoritmo se encarrega de apresentar somente informações que sejam atrativas àqueles indivíduos (forma
de mantê-lo conectado por mais tempo e, por conseguinte, aumentar o lucro da plataforma), o que gera
uma sensação de que se está do lado de uma suposta maioria. Isso reforça as certezas e aumenta a
intolerância com aqueles que se posicionam de forma diferente.
Por esses motivos, a desinformação consiste numa grande ameaça à democracia, à estabilidade política e
à confiança do usuário nas informações existentes no meio digital. As fake news distorcem o debate, haja
vista que ele ocorrerá a partir de notícias falsas, e comprometem o pluralismo político, que é a existência de
várias opiniões e ideias e o respeito por cada uma delas, um dos pilares do regime democrático.
Para finalizar, como forma de exemplo, resumi no box abaixo o escândalo da Cambridge Analytica.
68
Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/curiosidades/fake-news.htm. Acesso em 20 de setembro de 2020.
69
Disponível em: https://g1.globo.com/economia/tecnologia/noticia/entenda-o-escandalo-de-uso-politico-de-dados-que-derrubou-
valor-do-facebook-e-o-colocou-na-mira-de-autoridades.ghtml. Acesso em 19 de setembro de 2020.
A denúncia, feita pelos jornais The New York Times e The Guardian, levantou dúvidas sobre a transparência
e o compromisso da empresa com a proteção de dados dos usuários. [...]
Cambridge Analytica: que empresa é essa?
A Cambridge Analytica é uma empresa de análise de dados que trabalhou com o time responsável pela
campanha do republicano Donald Trump nas eleições de 2016, nos Estados Unidos. Na Europa a empresa
foi contratada pelo grupo que promovia o Brexit (a saída do Reino Unido da União Europeia).
A Cambridge Analytica teria comprado acesso a informações pessoais de usuários do Facebook e usado esses
dados para criar um sistema que permitiu predizer e influenciar as escolhas dos eleitores nas urnas, segundo
a investigação dos jornais The Guardian e The New York Times.
Como os dados foram obtidos?
Um ex-funcionário da empresa, Christopher Wylie, revelou ao Guardian que o esquema começou em 2014,
dois anos antes da eleição americana de 2016 e três anos antes do Brexit.
As informações dos usuários do Facebook foram coletadas por um aplicativo chamado thisisyourdigitallife
(essa é sua vida digital, em português), que pagou a centenas de milhares de usuários pequenas quantias
para que eles fizessem um teste de personalidade e concordassem em ter seus dados coletados para uso
acadêmico. A Cambridge Analytica – que não tem relação nenhuma com a Universidade de Cambridge –
teria comprado os dados coletados por esse aplicativo.
Quais dados foram coletados?
Os dados incluíam detalhes sobre a identidade das pessoas – como nome, profissão, local de moradia – seus
gostos e hábitos e sua rede de contatos. Os usuários do aplicativo não faziam ideia de que isso tudo seria
usado para ajudar a eleger Donald Trump.
O aplicativo se aproveitou de uma "brecha" nas normas do Facebook – à época, a política da plataforma
permitia a aplicativos externos a coleta de dados de amigos das pessoas, mas dizia que eles deveriam ser
usados apenas para melhorar a experiência do próprio usuário no aplicativo.
Era proibido que os dados fossem vendidos ou usados para propaganda – mas não havia controle do
Facebook sobre esse uso.
Para que os dados foram usados?
Christopher Wylie afirma que, como 270 mil pessoas fizeram o teste de personalidade, por meio do acesso à
rede de amigos dessas pessoas, os dados de cerca de 50 milhões de usuários foram coletados, sem
autorização. A maioria dos usuários seriam eleitores norte-americanos.
De acordo com Wylie, os dados vendidos à Cambridge Analytica teriam sido usados para catalogar o perfil
das pessoas e, então, direcionar, de forma mais personalizada, materiais pró-Trump e mensagens contrárias
à adversária dele, a democrata Hillary Clinton.
A base de dados coletada é uma ferramenta poderosa porque permite que as campanhas identifiquem
pessoas que estão em dúvida e direcionem a elas mensagens com maior probabilidade de convencê-las.
"Fornecer a informação certa à pessoa certa, no momento certo é mais importante do que nunca", afirma
uma propaganda da Cambridge Analytica sobre marketing eleitoral.
Falemos, agora, sobre um dos direitos mais caros à democracia: a liberdade de expressão. Trata-se de um
direito fundamental, presente na nossa Constituição e assegurado por Tratados Internacionais dos quais o
país é signatário. Envolve não só a liberdade de opinião e manifestação de pensamento, pois que engloba,
por exemplo, liberdade de expressão, crença, opção sexual e, inclusive, direito ao voto. De fato, consoante
introduzido na seção anterior, só se pode falar em democracia num ambiente em que diferentes convicções
e visões de mundo possam ser expostas, defendidas e confrontadas umas com as outras.
Contudo, sabe-se não haver direitos absolutos no nosso ordenamento jurídico. Nesse sentido, a
liberdade de expressão não pode ser concebida como um manto protetor para o cometimento de
ilegalidades e para a violação de outros direitos de igual envergadura. Assim, as notícias falsas não
encontram guarida no direito à liberdade de expressão e sujeitam os seus autores às consequências cíveis e
criminais, a depender da circunstância factual. Elas não podem fomentar o ódio, a intolerância e a
desinformação. Acrescente-se que, na livre manifestação do pensamento, é vedado o anonimato, o que,
evidentemente, exclui a possibilidade de utilização de perfis falsos e a utilização de robôs na disseminação
de notícias fraudulentas.
Como o tópico foi apresentado de forma mais aberta, é possível também a menção de que a desinformação
compromete a liberdade de expressão. Isso porque, ao desinformar os indivíduos, compromete-se o
debate, logo, a liberdade de expressão. Em verdade, o pleno exercício da liberdade de expressão depende
do acesso a informações fidedignas, as quais são necessárias ao conhecimento e ao pensamento livre.
Por fim, outra abordagem possível para esse item relaciona-se com as propostas de regulamentação da
matéria em discussão agora em 2020. O Projeto de Lei 2.630 (PL 2.630) vem provocando intensos debates
no Parlamento, na mídia e nas redes sociais. Os críticos dizem que o projeto funciona como “censura” e que
ofendem a liberdade de expressão e a privacidade. A despeito disso, segundo o Ibope, 84% da população
entende que essa lei deve ser aprovada antes das eleições deste ano.
3. Fake news e a alfabetização midiática
Segundo a Kaspersky, 62% dos brasileiros não sabem identificar ou não têm certeza se conseguem
diferenciar se uma notícia na internet é falsa ou verdadeira70. Esse dado fornece a profundidade do desafio
a ser enfrentado.
Há diversas maneiras de combate à desinformação. Uma delas é a alfabetização midiática, aquela que
permite aos indivíduos analisarem, de forma crítica e reflexiva, os conteúdos oriundos do meio digital. Por
meio dela, os cidadãos podem adquirir as competências básicas para que possam compreender, analisar,
avaliar e produzir conteúdo, e, sobretudo, para distinguir entre notícias reais e notícias falsas. Segundo a
Unesco, a Alfabetização Midiática e Informacional:
70
Disponível em: https://www.kaspersky.com.br/about/press-releases/2020_62-dos-brasileiros-nao-sabem-reconhecer-uma-
noticia-falsa. Acesso em 20 de setembro de 2020.
Esse processo deve se iniciar na escola. Contudo, não se deve restringir a ela e deve também incluir jovens
e adultos, já que estes seriam os maiores usuários dessas informações. Assim, o caminho apontado para a
desinformação é a informação e o conhecimento e a consciência individual das consequências da produção
e divulgação de informações falsas.
Um importante mecanismo são as plataformas de checagem de fatos (fact checking), que, como o próprio
nome informa, são escritórios destinados a verificar a veracidade das informações. As pessoas, ao terem
contato com conteúdo duvidoso, devem apresentá-los a essas agências para que a verdade seja esclarecida.
As próprias redes sociais também podem fazer isso. São exemplos de agências desse tipo: "Lupa", "Fato ou
Fake" e "Aos Fatos".
Tema 40
Considerando que o fragmento de texto acima tem caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo acerca do seguinte tema.
URBANIZAÇÃO DA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA: PROBLEMAS, ALTERNATIVAS E DESAFIOS
Ao elaborar seu texto, aborde os seguintes aspectos:
1. problemas da administração pública que dificultam a ocupação urbana ordenada; [valor: 4,40 pontos]
2. alternativas para enfrentar os problemas de mobilidade nas grandes metrópoles; [valor: 4,00 pontos]
3. desafios para a defesa social resultantes do crescimento desordenado das cidades. [valor: 4,00 pontos]
Abordagem teórica
Essa omissão produz uma série de efeitos nocivos. A desorganização da ocupação urbana implica uma série
de riscos. A população carente, por absoluta falta de opção, desprovida de recursos para comprar ou alugar
um imóvel, passa a estabelecer moradia em áreas ilegais ou perigosas e sem nenhuma estrutura para
comportar a ocupação humana. Como resultado, a sociedade assiste, de forma recorrente, a ocorrência de
acidentes e desastres naturais (alagamentos, desmoronamentos), frutos da ocupação irregular das
encostas de morros e baixadas. Isso sem falar nos danos ao meio ambiente, degradado pela apropriação
irregular e pela falta de estrutura nas áreas ocupadas.
Além disso, a falta de ordenamento urbano, no que se refere às políticas habitacionais que priorizem a
construção de moradias próximas aos locais de trabalho, também é responsável por consequências
adversas à população. As longas distâncias a serem percorridas diariamente entre o trabalho e a residência
reduzem a qualidade de vida dos cidadãos e provocam o caos no trânsito, com os seus imensos
congestionamentos, o que repercute em elevados custos, sejam financeiros, sejam físico-psíquicos.
2. Alternativas para enfrentar os problemas de mobilidade nas grandes metrópoles
São inúmeras as possibilidades nesse sentido, a saber:
1. Melhoria do transporte público:
a. racionalização das linhas de ônibus;
b. implantação e expansão da malha ferroviária urbana e de metrô;
c. elaboração de projetos de sistemas integrados de transporte coletivo urbano;
d. implantação de veículos leves sobre trilhos e
e. multiplicação de seguras ciclovias e sua integração com outros meios de mobilidade urbana.
2. Caronas solidárias. Atualmente há uma série de aplicativos desenvolvidos com esse fim.
3. Uso da tecnologia como aliada da mobilidade urbana. Há inúmeros projetos que já funcionaram em
grandes centros e que podem ter sua viabilidade analisada. Exemplos: sistemas inteligentes de
pedágio, sistemas de gerenciamento de congestionamentos, etc.
4. Desenvolvimento econômico de regiões periféricas, fazendo com que as pessoas não necessitem
percorrer grandes distâncias entre o trabalho e a sua residência.
3. Desafios para a defesa social resultantes do crescimento desordenado das cidades
Defesa Social é o conjunto de mecanismos coletivos, públicos e privados, para a preservação da paz social,
e consiste em três vertentes: a garantia dos direitos individuais e coletivos, a segurança pública e o
enfrentamento de calamidades. Envolve, pois, objetivos como o aumento da eficiência, eficácia e
efetividade dos órgãos vinculados à segurança pública; combate ao risco da população em áreas e
atividades sob responsabilidade das Secretarias de Segurança Pública e Defesa Social; combate à
criminalidade e à violência; integração e parcerias com a sociedade civil organizada, com os órgãos públicos
afins, em especial com os voltados para segurança, em qualquer nível.
Fato é que o crescimento urbano desordenado provocou a ocupação de áreas inóspitas e sem nenhuma
estrutura para acomodar a população. É consequência disso o grande número de catástrofes decorrentes
do uso irregular do solo, como os deslizamentos de terra, frequentes em períodos mais chuvosos. Nesse
sentido, deve o Estado adotar providências para a devida organização do solo urbano e prover condições
mínimas de segurança, de forma que sejam evitados eventos como o deslizamento ocorrido no Morro do
Bumba, em Niterói, no ano de 2010, o qual vitimou 267 pessoas.
Outrossim, é digno de nota o grande número de alagamentos e enchentes, outro problema maximizado
pela intensa urbanização. Além do problema do lixo que entope os bueiros, há a ocupação irregular do leito
dos rios e a remoção da vegetação do seu entorno, a qual possui a função de reter parte dos sedimentos que
vão para o leito e aumentam o nível das águas. Também é causa desse fenômeno a impermeabilização do
solo, pois, com a pavimentação das ruas e a cimentação de quintais e calçadas, a maior parte da água, que
deveria infiltrar no solo, escorre na superfície, provocando o aumento das enxurradas e a elevação dos rios.
Além disso, a impermeabilização contribui para a elevação da velocidade desse escoamento, provocando
erosões e causando outros tipos de desastres ambientais urbanos71.
Sob o ponto de vista da segurança, a violência urbana é, certamente, um dos principais problemas
enfrentados nas grandes metrópoles. Em boa parte, ela é consequência da falta de planejamento urbano
e de políticas públicas habitacionais e econômicas consistentes, o que origina os processos de favelização
de determinadas regiões, o aumento do número de pessoas sem teto, entre outros fenômenos que geram
a precarização da prestação de serviços públicos, aumenta a vulnerabilidade dos indivíduos e a tensão
social, favorecendo, assim, a elevação dos índices de violência.
Atenção especial deve ser destinada às áreas periféricas, onde predomina a violência e é, justamente, onde
o Estado está mais ausente. Em muitos desses locais, os policiais têm dificuldade de locomoção, haja vista
o modelo de habitação adotado e a própria geografia do local. Quanto menos verticalizado o local, ou
seja, quanto menor o número de prédios, mais difícil é a ação policial. Assim, por exemplo, a existência das
favelas, situadas em morros, tão comuns nos grandes centros urbanos, é um dificultador para a atividade
policial. Acresce-se a isso o fato de algumas zonas nos centros urbanos encontrarem-se completamente
fortificadas, com obstáculos à movimentação de tropas e viaturas, fato que torna a tarefa ainda mais árdua.
Por outro lado, a segregação socioespacial existente nos grandes centros urbanos e fruto da enorme
desigualdade social é outro elemento gerador de tensões. Enquanto os menos favorecidos acabam sendo
expulsos para a periferia das grandes cidades (processo de periferização), as classes mais abastadas isolam-
se em seus condomínios fechados, cercados por seguranças privados (processo de condominização). Essa
divisão socioespacial gera um sentimento de angústia e revolta, o que se traduz em violência, materializada
pela depredação do patrimônio público, saques em estabelecimentos comerciais, entre outros.
Sob o ponto de vista da defesa dos direitos, a grande quantidade de pessoas a quem deve o Estado prestar
serviço também é um desafio. Nesse sentido, pode-se afirmar que, quanto maior a demanda por serviços
71
PENA, Rodolfo F. Alves. "Enchentes"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/enchentes.htm.
Acesso em 23 de fevereiro de 2020.
como educação, saúde, segurança pública, moradia e trabalho, maior será a dificuldade de prover esses
serviços na qualidade e quantidade adequadas.
O desafio da defesa social é desenvolver estratégias eficientes que garantam a segurança da sociedade e a
paz social. Em outras palavras, considerando o cenário acima mencionado, o desafio é fazer com que esse
ambiente, repleto de problemas, não se torne um barril de pólvora prestes a explodir.
Uma vez recordados os pontos mencionados nesta revisão, acredito ser possível resolver à questão.
Tema 41
Embora não mencione a ação dos hackers, o Departamento de Estado americano afirmou que a medida tem
o objetivo de proteger a "propriedade intelectual e as informações privadas dos americanos". O porta-voz
do departamento, Morgan Ortagus, afirmou que a Convenção de Viena prevê que os diplomatas devem
"respeitar as leis e os regulamentos do Estado receptor" e "têm o dever de não interferir nos assuntos
internos desse Estado".
Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/07/22/china-diz-que-eua-
mandaram-fechar-seu-consulado-em-houston.ghtml. Acesso em: 30/09/2020. Com
adaptações.
Considerando que os fragmentos de texto acima têm caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo acerca do seguinte tema.
Abordagem teórica
Vamos tratar sobre um dos eventos internacionais mais importantes da contemporaneidade: a disputa EUA
vs. China. A disputa tem como pano de fundo o crescimento rápido da China nas últimas décadas, que
reordenou a lógica dos mercados consumidores e da produção em todo o mundo.
Hoje, observa-se uma disputa que vai além do campo comercial. Já entrou no campo tecnológico e passa
por uma disputa de narrativas, entre vencedores e perdedores, o bem e o mal. Isso pôde ser observado mais
claramente com a pandemia, contexto em que, por mais de uma vez, o presidente Donald Trump lembrou
sobre a responsabilidade da China por todo o mal causado à humanidade, chegando a mencionar que o vírus
havia sido criado, propositalmente, em um laboratório. Essa polarização tende a aumentar com a
proximidade das eleições nos EUA.
Diferentemente da Guerra Fria do século 20, entre EUA e União Soviética, a disputa atual não gira mais em
torno da questão bélica e da corrida espacial. Mas, sim, da tecnologia de telecomunicações. A Guerra Fria
2.0 envolve uma disputa de poder econômico, com tentativas de dificultar a evolução do oponente também
no desenvolvimento de novas tecnologias e inteligência artificial.
1. Guerra comercial
Geralmente, são denominadas guerras comerciais os conflitos iniciados quando um país impõe tarifas
comerciais à importação de uma nação, que corresponde sobretaxando os produtos de seu concorrente.
A história que está sendo contada hoje começou há alguns anos. O então candidato Donald Trump começou
a atacar os produtos “made in China” ainda durante a campanha eleitoral. Antes de ser eleito presidente
dos EUA, o então candidato responsabilizava o gigante asiático pela perda de empregos industriais na
América e prometeu impor tarifas de até 45% sobre os produtos chineses.
É importante contextualizar que, há anos, os EUA possuem com a China um considerável déficit comercial,
que é a diferença do volume exportado entre os dois países. Segundo dados do censo americano, em 2018,
o déficit comercial foi de US$ 419 bilhões, o valor mais alto já registrado. Veja gráfico abaixo72:
Em 2016, após sua eleição, Trump, em seu discurso de posse, prometeu um país mais forte e poderoso no
âmbito mundial. A partir desse discurso, Trump instaurou uma política nomeada de “America
First” marcada por enfatizar o nacionalismo econômico americano e o unilateralismo, em prejuízo das
políticas globais. Para pôr em prática seu discurso, o presidente americano vem tomando medidas
protecionistas para fortalecer a indústria e o comércio americano, preservar empregos no seu país e reverter
o déficit comercial, tornando menos competitivos os produtos chineses em relação aos dos Estados Unidos.
Assim, fundamentado na alegação de que a China lança mão de práticas desleais, como usar hackers para
roubar propriedade intelectual e segredos comerciais das empresas americanas, bem como de que não
respeita a propriedade intelectual dos produtos americanos, Trump vem anunciando desde 2018 tarifas
sobre produtos importados do país asiático.
Depois de uma série de ameaças, em março de 2018, Trump anuncia a incidência de tarifas na importação
de aço (25%) e alumínio (10%). Em abril daquele ano, Xi Jinping faz sua primeira retaliação e devolve o
aumento de impostos em cerca de U$ 3 bilhões de produtos norte-americanos, marcando o início definitivo
da guerra comercial. A partir disso, sucederam-se uma série de ameaças dos dois lados. Algumas se
concretizaram, outras não.
72
Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-48228954. Acesso em 03.10.2020.
Como efeitos dessa política, os EUA conseguiram reduzir seu déficit comercial com a China em 18% no ano
de 2019 e situá-lo em níveis semelhantes aos de 2016, mas o impacto das taxas alfandegárias foi suportado
pelas empresas e consumidores do próprio país. De acordo com El País 73:
De acordo com um relatório da Reserva Federal de Nova York, as empresas norte-americanas “suportaram
praticamente todos os custos” das novas taxas impostas pela Administração, o que reduziu os lucros e o
investimento. As represálias, diz o relatório, obrigaram que elas mudassem suas redes de abastecimento,
com o conseguinte aumento de custos. Tanto que, de acordo com os cálculos da entidade, dois anos de
guerra comercial com a China reduziram a capitalização das empresas norte-americanas em 1,7 trilhão de
dólares (8,9 trilhões de reais).
“Os grandes beneficiados da escalada alfandegária foram o Vietnã (que viu aumentar suas exportações
aos EUA em 35%, 17,5 bilhões de dólares – 91,5 bilhões de reais), junto com a Europa (31,2 bilhões de
dólares – 163 bilhões de reais)”, dizem em uma nota Yukon Huang e Jeremy Smith, do Carnegie Asia
Program. Enquanto isso, “a indústria norte-americana não conseguiu cobrir essa diferença e o índice de
produção industrial registrou sua primeira queda anual desde 2015”, afirmam.
A guerra comercial entre Estados Unidos e China teve um novo capítulo no último dia 5 de agosto. Pela
primeira vez desde 2008, o dólar chegou a 7 yuans - o que significa que a moeda chinesa sofreu intensa
desvalorização em relação ao dólar e, com isso, os produtos asiáticos ficaram mais baratos e competitivos
em relação às importações.
Mais recentemente um evento trouxe esperança quanto à melhoria nas relações entre os dois países. Em
dezembro de 2019, em uma primeira fase das negociações comerciais, os dois países decidiram suspender
novas tarifas sobre importações. A decisão veio cerca de dois meses depois de Trump anunciar que estava
chegando ao que seria uma "primeira fase" de um acordo comercial com a China.
O pacto assinado em 15 de janeiro na capital norte-americana por Trump e o vice-primeiro-ministro chinês,
Liu He, obrigava a China a comprar 200 bilhões de dólares (1,05 trilhão de reais) a mais em grãos, carne de
porco, aviões, equipamento industrial e outros produtos norte-americanos.
Contudo, a pandemia de covid-19, mais uma série de eventos, conforme veremos a seguir, geraram
enormes tensões entre os dois lados e vêm comprometendo o sucesso do acordo. As recriminações em
torno da origem e da gestão do vírus colocaram de novo em primeiro plano as tensões baseadas em uma
enorme desconfiança mútua, de raízes históricas e ideológicas.
2. Focos recentes de tensão na relação entre os dois países
a. Huawei
Umas das empresas mais bem-sucedidas da China é a Huawei, fabricante de equipamentos de
telecomunicações. A Huawei tem desempenhado um papel fundamental na implementação da internet de
quinta geração — chamada de 5G, a qual promete uma espécie de nova "revolução tecnológica".
73
Disponível em: https://brasil.elpais.com/internacional/2020-07-27/eua-x-china-cenarios-da-nova-guerra-fria.html. Acesso em 03.10.2020.
Ocorre que, em 2019, as agências de inteligência de quatro países — Estados Unidos, Austrália, Nova
Zelândia e Canadá — levantaram uma questão que virou o centro dos debates sobre 5G no Ocidente: a
relação entre a Huawei e o governo chinês. Existe um temor de que países ficariam expostos à espionagem
chinesa caso viessem a adotar a tecnologia de 5G da Huawei. Desde então, diversas nações passaram a
impor limites na quantidade de equipamentos que compram da Huawei.
Há também acusações de que a empresa chinesa roubou propriedades intelectuais de empresas norte-
americanas, pois a Huawei é acusada de vender produtos com tecnologia norte-americana a países que
sofreram embargo dos EUA, como Irã e Coreia do Norte.
A Casa Branca deu início a uma espécie de campanha aberta contra a Huawei e o governo da China,
recomendando boicotes a diversos governos. Os EUA incluíram a Huawei numa lista negra e empresas
como o Google já suspenderam os seus contratos com a gigante chinesa. Além disso, passaram a proibir
contratos públicos com empresas que usam produtos de companhias chinesas.
Tanto a Huawei quanto a China refutam essas versões. A empresa diz ser totalmente independente do
governo chinês. As autoridades da China acusam os países ocidentais de adotar práticas discriminatórias
contra empresas chinesas, politizar questões econômicas e comerciais e que se trata de um esforço de
"manipulação política", e não uma preocupação legítima com segurança nacional.
O governo britânico proibiu todas as operadoras de telecomunicações do país de comprarem equipamentos
5G da Huawei depois de 31 de dezembro de 2020. E todos os aparelhos da empresa chinesa já presentes nos
seus sistemas precisarão ser trocados até 2027.
b. TikTok
O TikTok, da empresa chinesa ByteDance, é uma plataforma para as pessoas gravarem e distribuírem
vídeos curtos, geralmente ridículos e cômicos. O TikTok já foi baixado mais de 2 bilhões de vezes e possui
800 milhões de usuários ativos.
Aparentemente inofensivo, o aplicativo virou o mais recente foco da disputa travada entre os Estados
Unidos e a China.
O TikTok coleta informações pessoais, como os vídeos assistidos e comentados pelos usuários, dados de
localização, modelo do aparelho de telefone e até mesmo as informações armazenadas na área de
transferências (o "clipboard"). A grande questão é que, segundo especialistas, a China tem uma lei nacional
de segurança, de 2017, que pode teoricamente exigir que a ByteDance entregue dados de usuários ao
governo.
A ByteDance insiste que todos os dados coletados pelo aplicativo são armazenados fora da China e que, no
caso de receber um pedido de autoridades chinesas, a empresa se negaria a fazê-lo.
Em consequência disso, o TikTok passou também a ser alvo de boicotes. O presidente americano, Donald
Trump, assinou em agosto duas ordens executivas proibindo que qualquer residente ou empresa nos
Estados Unidos façam negócios com a ByteDance, dona do aplicativo TikTok. Em seguida, Trump passou a
exigir que o aplicativo fosse vendido a empresas americanas.
Uma das ordens executivas divulgadas pela Casa Branca afirma que a coleta de dados pelo TikTok é uma
ameaça por “permitir acesso do Partido Comunista Chinês a informações pessoais de americanos —
A região é alvo de grande disputa devido à sua relevância econômica: além de ser uma importante zona
pesqueira, as reservas minerais são estimadas em 11 bilhões de barris de petróleo e 5,4 trilhões de metros
cúbicos de gás. Além disso, é uma área bastante relevante para a movimentação de cargas: cerca de US$ 3
trilhões em mercadorias passam por lá todos os anos, incluindo 80% do petróleo e gás para a China. O
estreito de Málaca é a passagem mais curta, logo, mais econômica. Veja outra figura abaixo 75:
Mesmo sem a definição das fronteiras, há anos a China vem construindo ilhas artificiais em pleno mar como
forma de ocupar parte do território que reivindica. A China vem promovendo a ocupação de ilhas na região
desde 2012, com a construção de escolas, fazendas e bases militares.
Por anos os Estados Unidos se limitaram a sobrevoar as zonas, verificando que as rotas aéreas não seriam
interrompidas. Mas, recentemente, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, classificou a
reivindicação chinesa do mar como "ilegal". Pela primeira vez, os norte-americanos foram explícitos sobre
o tema e acusaram a China de querer formar um "império marítimo" na região.
Em julho/agosto a região vem sendo palco de voos de reconhecimento e operações militares de ambos os
lados.
d. Uigures
Os uigures são uma etnia majoritariamente muçulmana que vive no oeste da China, principalmente na
província de Xinjiang. De forma frequente, a mídia internacional denuncia constantes violações à dignidade
desses povos, motivadas pela intolerância religiosa. Integrantes desse grupo étnico são punidos por falar
sua língua nativa, manter sua cultura ou praticar sua religião, que inclui fazer jejum durante o Ramadã ou se
abster de carne de porco e álcool.
São exemplos de denúncias que se encontram na mídia internacional:
Relatório feito por um acadêmico alemão sugeriu que o governo da China estaria esterilizando a
população uigur, forçando mulheres a usar um dispositivo intrauterino para evitar gravidez.
Prisões por motivos religiosos e “campos de reeducação”, sob a justificativa de "combate ao
extremismo religioso".
75
Imagem disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/08/pequim-desafia-eua-com-poder-aereo-no-mar-do-sul-da-china-
entenda.shtml
Desaparecimentos, trabalho escravo, destruição do patrimônio cultural e amplo sistema de
vigilância sob a minoria.
Vejam o seguinte fragmento de texto76:
"Segundo estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU), mais de um milhão de uigures estão
detidos em campos secretos na China, número que equivaleria a 10% da minoria muçulmana que vive no
país. O objetivo do governo chinês seria a eliminação de qualquer ameaça ao poder do Partido Comunista,
por meio da supressão da liberdade religiosa e de dissidências no país.
As autoridades chinesas usam um sistema amplo e secreto de tecnologia para vigiar os uigures, por meio,
principalmente, da invasão de celulares e de ferramentas de reconhecimento facial. Muitas vezes, usar um
véu no rosto ou não aparar a barba é motivo suficiente para ser detido. Outro motivo que leva à detenção
é ter mais filhos do que é permitido pelo governo.
Nos "campos de reeducação", os uigures são obrigados a abandonar suas crenças e costumes e a jurar
fidelidade ao Partido Comunista para que possam sair desses locais. Os horários são regrados e os
"reeducandos" são proibidos de manter qualquer contato com o mundo exterior.
A China também busca apagar a minoria estimulando o casamento entre uigures e pessoas da etnia han,
maioria na China. Chineses han também são estimulados a migrar para Xinjiang, recebendo, inclusive,
benefícios financeiros para tanto. Além disso, métodos de controle de natalidade forçados e até abortos a
fim de diminuir o número de uigures em Xinjiang têm sido registrados."
A acusação feita por diversos países, os EUA inclusive, é a de limpeza étnica contra a minoria muçulmana
uigur.
Recentemente, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, divulgou uma nota criticando a China e
pedindo "o fim imediato destas práticas horríveis" e o apoio de todas as nações para exigir "o fim desses
abusos desumanos".
e. Fechamento dos consulados
Em setembro de 2020, os americanos fecharam o mais antigo consulado chinês, em Houston, acusando
diplomatas de espionar segredos sobre um vacina contra a Covid-19. Em represália, a representação dos
EUA em Chengdu também foi fechada. Foi o que apresentamos em um dos textos motivadores.
3. Consequências
Inicialmente, de forma geral, pode-se mencionar que as disputas internacionais entre os dois países geram
um cenário de instabilidade para o mundo. Esse contexto é prejudicial aos investimentos e trava o
crescimento geral dos países.
Como se sabe, os Estados Unidos têm a maior economia do mundo e a China, a segunda. Por isso, se os dois
países sofrerem consequências negativas dessa disputa, o temor é que outros países e a economia global
76
Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/uigur-retirado-a-forca-de-casa-mostra-como-e-um-campo-de-
detencao-chines/. Acesso em 03.10.2020.
como um todo possa ser impactada, em uma reação em cadeia, prejudicando o crescimento do Produto
Interno Bruto (PIB) global.
A guerra pode levar a uma escalada de tarifas, aumentar os custos das exportações e gerar um ciclo de
diminuição do comércio internacional. Há um potencial para o aumento de preço dos produtos, reflexo
direto do aumento de impostos, gerando menos consumo, menos produção e mais desemprego.
Por outro lado, pela redução da demanda, vão sobrar commodities no mundo, o que puxa os preços delas
para baixo e atinge diretamente todos os países emergentes, que são dependentes da exportação delas.
Esse cenário poderia levar a uma hipervalorização do dólar, o que estimularia a exportação, mas implicaria
na importação, que ficaria mais cara.
Assim, nessa perspectiva mais negativa, uma eventual guerra comercial, com medidas protecionistas
adotadas pelas principais nações globais, seria um passo atrás nesse movimento e poderia levar o mundo à
uma recessão.
Por outro lado, essa crise pode ser uma oportunidade para outros países ocuparem certas lacunas. Com o
aumento das tarifas de importação em ambos os lados, os produtos americanos na China ficam menos
competitivos e vice-versa. Isso representa uma oportunidade para que se estabeleçam fluxos comerciais
com outros países.
Por exemplo, os EUA eram o segundo maior fornecedor de soja da China antes da guerra comercial, mas as
importações caíram bastante após o governo chinês ter adotado tarifas de 25% sobre as cargas norte-
americanas. Se a China passar a comprar menos soja dos Estados Unidos, por exemplo, pode haver um
aumento da procura pelo grão brasileiro.
Por outro lado, é possível que EUA e China busquem vender os produtos que deixaram de comercializar
entre si para outros países, desestabilizando alguns fluxos comerciais pré-existentes. Assim, por exemplo,
os manufaturados chineses que deixaram de ser vendidos para os EUA podem passar a ser vendidos para
outros países num fluxo comercial que a China até então não participava.
4. Bibliografia
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-48228954. Acesso em 03.10.2020.
https://brasil.elpais.com/internacional/2020-07-27/eua-x-china-cenarios-da-nova-guerra-fria.html#tecnologico Acesso em
03.10.2020.
https://oglobo.globo.com/economia/2270-trump-proibe-negocios-com-aplicativos-chineses-tiktok-wechat-24572479. Acesso em
03.10.2020.
https://g1.globo.com/economia/noticia/entenda-a-guerra-comercial-entre-eua-e-china-e-como-ela-pode-afetar-a-economia-
mundial.ghtml. Acesso em 03.10.2020.
https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/08/pequim-desafia-eua-com-poder-aereo-no-mar-do-sul-da-china-entenda.shtml.
Acesso em 03.10.2020.
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/02/17/china-deteve-muculmanos-uigures-pela-religiao-mostram-documentos-
oficiais.ghtml. Acesso em 03.10.2020.
https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/uigur-retirado-a-forca-de-casa-mostra-como-e-um-campo-de-detencao-chines/. Acesso
em 03.10.2020.
https://guiadoestudante.abril.com.br/blog/atualidades-vestibular/a-china-e-suas-ambicoes-globais. Acesso em 03.10.2020.
https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/08/pequim-desafia-eua-com-poder-aereo-no-mar-do-sul-da-china-entenda.shtml.
Acesso em 03.10.2020.
Tema 42
Inédita
ASSÉDIO VIRTUAL - 'CYBERBULLYING É QUESTÃO DE SAÚDE PÚBLICA'
"Brincadeiras" ofensivas foram por muito tempo ignoradas por pais e responsáveis por crianças e
adolescentes. Nos últimos anos, no entanto, o bullying passou a ser encarado de forma mais séria e hoje é
considerado um problema real e frequente em todo o mundo. No entanto, com as novas plataformas de
comunicação, a juventude passou a conviver com as agressões também no ambiente virtual. Tanto que o
cyberbullying tornou-se problema de saúde pública e que pode trazer consequências graves para as vítimas.
Ansiedade, depressão e suicídio são alguns dos resultados da violência praticada entre crianças e
adolescentes no ambiente virtual. Os sintomas nem sempre são percebidos pelos responsáveis, o que torna
a agressão ainda mais perigosa. Falta de políticas públicas de combate ao problema e a ausência de debate
nas escolas e na sociedade são agravantes.
Segundo a última pesquisa TIC Kids, de 2016, realizada pelo CGI.br (Comitê Gestor da Internet no Brasil),
mais de 80% da população brasileira entre 9 e 17 anos utilizam a rede. O número de jovens que navegam na
rede mais de uma vez por dia foi de 21% em 2014 para 69% em 2016.
Disponível em: < https://www.nic.br/noticia/na-midia/assedio-virtual-
cyberbullying-e-questao-de-saude-publica/>. Acesso em: 11 set. 2019.
A partir da leitura dos textos motivadores, redija um texto dissertativo sobre o tema:
CIBERBULLYING: A VIOLÊNCIA PRATICADA NA INTERNET
Ao elaborar seu texto, aborde os seguintes aspectos:
1 causas do problema; [valor: 4,40 pontos]
2 consequências sofridas pelas vítimas desse ato; [valor: 4,00 pontos]
3 providências a serem tomadas para o combate desse tipo de violência. [valor: 4,00 pontos]
Abordagem teórica
1. Introdução
Segundo a Lei n° 13.185/2015, que instituiu o Programa de Combate à Intimidação Sistemática, considera-
se bullying, todo ato de violência física ou psicológica, intencional e repetitivo que ocorre sem
motivação evidente, praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de
intimidá-la ou agredi-la, causando dor e angústia à vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre
as partes envolvidas.
O bullying inclui, portanto: ataques físicos; insultos pessoais; comentários sistemáticos e apelidos
pejorativos; ameaças por quaisquer meios; grafites depreciativos; expressões preconceituosas; isolamento
social consciente e premeditado e pilhérias.
A referida lei define que a intimidação sistemática ou bullying pode ser classificada, conforme as ações
praticadas, como:
I - verbal: insultar, xingar e apelidar pejorativamente;
II - moral: difamar, caluniar, disseminar rumores;
III - sexual: assediar, induzir e/ou abusar;
IV - social: ignorar, isolar e excluir;
V - psicológica: perseguir, amedrontar, aterrorizar, intimidar, dominar, manipular, chantagear e
infernizar;
VI - físico: socar, chutar, bater;
VII - material: furtar, roubar, destruir pertences de outrem;
VIII - virtual: depreciar, enviar mensagens intrusivas da intimidade, enviar ou adulterar fotos e dados
pessoais que resultem em sofrimento ou com o intuito de criar meios de constrangimento psicológico e
social.
Quando a intimidação sistemática é virtual (ver item VIII acima), tem-se o famoso cyberbullying. Como
visto, ocorre quando se usam os instrumentos próprios da internet para depreciar, incitar a violência,
adulterar fotos e dados pessoais com o intuito de criar meios de constrangimento psicossocial.
Assim, praticar cyberbullying significa usar o espaço virtual para intimidar e hostilizar uma pessoa, excluindo,
insultando ou atacando de forma covarde, valendo-se, muitas vezes, do anonimato. São exemplos desse
tipo de atitude: exposição de fotografias ou montagens constrangedoras (exemplo: fazer “memes”,
caricaturas com a vítima e espalhar essas mensagens); divulgação de fotografias íntimas e fazer críticas à
aparência física, à opinião e ao comportamento social de indivíduos de forma repetitiva e sistemática.
Pessoas de qualquer faixa etária podem ser vítimas de cyberbullying, mas é mais frequente entre
adolescentes.
Vamos agora a alguns dados.
Pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), de outubro, mediu o comportamento online de
jovens. Os dados revelam que, de cada quatro crianças e adolescentes, um foi tratado de forma ofensiva na
internet, o que corresponde a 5,6 milhões de meninos e meninas entre 9 e 17 anos. O percentual cresce ano
a ano: passou de 15% em 2014 para 20% em 2015 até chegar a 23% no ano de 2016.
Um levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisa (Ipsos) em 2018 revelou que o Brasil é o 2º país com
mais casos de cyberbullying contra crianças e adolescentes. Além disso, 29% dos pais ou responsáveis
brasileiros consultados relataram que os filhos já foram vítimas de violência online. Na pesquisa anterior,
divulgada em 2016, esse índice era de 19%.
No âmbito do cyberbullying, é importante conhecer algumas figuras que se tornaram bastante conhecidas:
6. Hater: tradução literal “odiador”. São indivíduos que postam comentários de ódio ou crítica, muitas
vezes sem a vítima ter dado causa, e de forma sistemática.
7. Sexting: divulgação de conteúdos eróticos e sensuais através de celulares. O fato de essa informação
ficar armazenada nos celulares dá a possibilidade de que, numa invasão por hackers, o conteúdo
possa viralizar na internet, podendo levar a vítima a sofrer com o cyberbullying.
8. Revenge porn: tradução literal “pornografia de vingança”. Na sua forma mais comum, ocorre quando
ex-namorado ou ex-marido que, inconformado com o término da relação, divulga, como forma de
expor/punir a sua ex-parceira, fotografias ou vídeos nas quais ela aparece nua ou em cenas de sexo.
2. Causas
Bem da verdade, sabe-se que o assédio escolar sempre existiu. Suas causas não se alteraram muito com o
passar do tempo: o estudioso (“cdf”), o que tem alguma dificuldade psicomotora, o gordinho etc. O que é
novo é a forma como isso ocorre, não mais limitada ao ambiente físico ao qual a vítima frequenta. Trata-se
de uma faceta negativa da tecnologia, que proporciona o assédio virtual, cuja amplitude e a exposição da
vítima é ilimitada.
Mas, afinal, porque o cyberbullying acontece? Na verdade, os motivos são os mesmos do bullying, com
algumas características especiais. Praticado, em grande parte por adolescentes, trata-se do uso da violência
como forma de afirmação, de sentir-se poderoso ou buscar a afirmação do grupo.
Contudo o cyberbulliyng dá ao fato uma proporção maior. Primeiro pela questão do anonimato: os
agressores geralmente usam perfis falsos (fakes) e alimentam a crença de que, com isso, e pelo relativo
isolamento proporcionado pela internet, estão totalmente protegidos. O que muitos agressores
desconhecem é que os perfis e e-mails falsos para se manterem em sigilo e não terem a sua identidade real
revelada podem ser rastreados e descobertos por meio da análise do endereço de IP. Assim, no curso de
uma investigação policial, caso autorizado judicialmente, a identificação do agressor é possível, o que
relativiza o anonimato.
No mundo virtual, os agressores, muitas vezes, nem conhecem a vítima, o que resulta em certa
insensibilidade com as consequências da ofensa. Além do distanciamento emocional, outro fator que
estimula essa forma de agressão é a distância física, pois o fato de não estar próximo à vítima leva à crença
de que o agressor está imune a qualquer reação por parte dela. Afinal, quando estão no mesmo local,
agressor e vítima, nunca se sabe com total certeza a intensidade do revide.
Outro conceito que pode ser invocado é o de liquidez das relações contemporâneas, inserida no contexto
da modernidade líquida, cunhado pelo filósofo Zygmunt Bauman. Para o referido filósofo, a modernidade
líquida é um mundo sem forma, de incertezas, de medos, de ausência da concepção de progresso, de
fragilidade nas relações sociais e volatilidade das relações.
No ambiente digital, os laços sociais, que dão garantia de respeito mútuo entre as pessoas, tornam-se mais
enfraquecidos. A empatia dá lugar à visão egocêntrica, visto que há a perda da noção do sofrimento alheio
e o sentimento de menor responsabilidade pelas agressões proferidas.
Por fim, pode também ser mencionada a questão da intolerância, que se expressa pela dificuldade de
conviver com as diferenças, que pode dizer respeito a gênero, inclinação política, cor de pele, cabelo,
religiosidade etc. Essa exclusão do diferente como via de manifestação da intolerância acarreta, muitas
vezes, manifestações de violência, modo encontrado para a aniquilação do que não é aceito pelo grupo
social.
3. Consequências
As consequências para a vítima são as mais diversas. Os primeiros sintomas incluem a exclusão do convívio
social, a tristeza e o isolamento da vítima. Com o passar do tempo, esse quadro, se não tratado, pode evoluir
para depressão, transtorno de ansiedade, automutilação e síndrome do pânico.
Podem estar associados a esses distúrbios o baixo desempenho escolar, a baixa autoestima, as dificuldades
em se relacionar em sociedade e na sua inserção no mercado de trabalho, além da busca de alívio dos
problemas nas drogas e no álcool. Nos casos mais extremos, a vítima de cyberbullying pode, até mesmo, vir
a ceifar a sua própria vida.
Para o agressor, a atitude também pode gerar consequências. É possível que lhe sejam imputadas uma série
de condutas tipificadas no Código Penal. São exemplos os crimes contra a honra - calúnia (art. 138),
difamação (art. 139), injúria (art. 140), injúria racial (art. 140, § 3º) - e a divulgação de cena de estupro ou de
cena de estupro de vulnerável, de cena de sexo ou de pornografia77 (art. 218-C).
Além das punições na esfera penal, também pode haver a responsabilização civil, na qual se buscará a
indenização por dano moral ou material.
4. Providências
77
Art. 218-C. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer
meio - inclusive por meio de comunicação de massa ou sistema de informática ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro registro
audiovisual que contenha cena de estupro ou de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o
consentimento da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia: (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não constitui crime mais grave. (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)
Tema 43
Código Civil
(...)
78
PL1011/11. Disponível em: <https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid= F86FE100CC57
E902141882914318E49B.proposicoesWebExterno1?codteor=858789&filename=PL+1011/2011>
Art. 187 Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os
limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Internet: <www.planalto.gov.br>.
Um desembargador do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) atendeu, em caráter liminar
(urgente), ao pedido da deputada Maria do Rosário (PT-RS) para que fosse retirado do Facebook, Youtube
e do Twitter um vídeo do humorista Danilo Gentili. No vídeo, Gentili rasga uma notificação extrajudicial
enviada pela deputada, esfrega os papeis nas partes íntimas e envia-os de volta à parlamentar, usando
linguajar pesado e irônico. A decisão reacendeu as polêmicas sobre liberdade de expressão e humor no
Brasil e foi criticada por especialistas no tema. No despacho, da última quinta-feira (01), o desembargador
Túlio de Oliveira Martins considera que há, no vídeo, “grave” dano à imagem da deputada e, possivelmente,
ocorrência de crime. O desembargador escreve ainda que o conteúdo é de “natureza misógina,
representando agressão despropositada a uma parlamentar e às instituições” e que “não é notícia, nem
informação, nem opinião, nem crítica, nem humor, mas apenas agressão absolutamente grosseira marcada
por prepotência e comportamento chulo e inconsequente”.
Internet: <http://cultura.estadao.com.br> (com adaptações).
O preconceito é uma atitude negativa, composta pelo pensamento estereotipado (aquele que generaliza),
por sentimento desfavorável em relação ao seu alvo e pelo comportamento de discriminação.
Esses conceitos ficam evidenciados em várias situações cotidianas. O documentário “O Riso dos Outros”,
dirigido por Pedro Arantes, propõe uma discussão acerca da atitude preconceituosa incutida nas piadas.
A maioria dos comediantes que participaram do documentário, como Danilo Gentilli e Rafinha Bastos,
justificam o seu modo de trabalhar com o humor dizendo que não existe pretensão política ou social ao fazer
uma piada, afirmando que o único objetivo do humorista é fazer com que a sua plateia ria. Deste modo, fica
clara a posição de isenção de responsabilidade e certo conforto para se utilizarem de atitudes
preconceituosas para fazerem humor.[...]
Disponível: http://portalcomportamental.com.br/?p=200.
O desembargador Benedicto Abicair, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, determinou nesta terça-feira
(7/1) que o especial de Natal do Porta dos Fundos, veiculado pela Netflix, seja retirado do ar.
De acordo com a decisão, é “mais adequado e benéfico, não só para a comunidade cristã, mas para a
sociedade brasileira, majoritariamente cristã, até que se julgue o mérito do agravo, recorrer-se à cautela,
para acalmar os ânimos”.
O magistrado disse ainda que o Porta dos Fundos “não foi centrado e comedido” ao se manifestar sobre o
especial de Natal nas redes sociais.
Especialistas ouvidos pela ConJur condenaram a decisão e qualificaram a determinação como “absurda” e
“sem fundamento”. Para o jurista Lenio Streck, a decisão “demonstra duas coisas: primeiro, que o Judiciário
pensa que pode ditar a moral e o comportamento da sociedade; segundo, mostra o fracasso da teoria do
direito no Brasil”.
https://www.conjur.com.br/2020-jan-08/censura-porta-fundos-
absurda-fundamento. Acesso em: 14 de setembro de 2020.
Considerando que os fragmentos de textos acima têm caráter unicamente motivador, redija um texto
dissertativo acerca do seguinte tema.
OS LIMITES DO HUMOR E O ABUSO DO DIREITO À LIBERDADE DE EXPRESSÃO
Ao construir seu texto, apresente um exemplo de situação em que a manifestação de humor pode significar
abuso de direito e discuta maneiras de prevenir ou coibir esse tipo de comportamento.
Abordagem teórica
Amigos, alguns avisos. O primeiro deles é que sobre a necessidade de leitura atenta do enunciado.
Observe com cuidado o seu tema e os pedidos da sua banca: " os limites do humor e o abuso do direito à
liberdade de expressão" e "exemplo de situação em que emissão de manifestação de humor pode significar
abuso de direito" e "discuta maneiras de prevenir ou coibir esse tipo de comportamento ".
Você pode acreditar que o humor não tem limites, embora essa seja uma posição que não se coaduna com
o ordenamento jurídico pátrio, com as decisões do STF e com uma visão mais humanizada de sociedade
(veremos isso a seguir). Mas, veja: numa redação montada dessa maneira a banca deixa subentendido que
você sinalize a existência de limites, tanto que ela pede um exemplo de situação. Assim, minha
recomendação é: "nade no sentido da correnteza", e não contra ela. Dizer que o humor não tem limites é
reduzir a importância de direitos como a dignidade da pessoa humana, aspectos que costumar ser
amplamente desvalorizados pelas diversas bancas. Por esse motivo, a abordagem teórica e a proposta de
solução seguirão no caminho indicado pelo enunciado.
O segundo ponto é: perceba que, neste caso, não há indicação da pontuação dos tópicos questionadores.
Especificamente para esse caso, em que não se sabe se a banca destinou 95% dos pontos para conteúdo, a
minha recomendação é que você seja cauteloso: siga a estrutura clássica, aquela que é estruturada em
introdução, desenvolvimento e fechamento. Combinado?
1. Limites do Humor
A liberdade de expressão é um direito fundamental previsto na nossa Constituição79. Está previsto tanto
na ordem interna quanto em documentos internacionais dos quais o Brasil é signatário, tais como no Pacto
Internacional de Direitos Civis e Políticos, na Declaração Universal de Direitos Humanos e no Pacto de San
José da Costa Rica.
79
CF/1988, art. 5°:
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
IX: é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;
A liberdade de expressão é um dos pilares dos regimes democráticos, visto que não há que se falar em
democracia num ambiente em que os cidadãos não possam se expressar. Sem liberdade de expressão, não
há possibilidade de deliberar posições, entender diferentes perspectivas de mundo e elaborar soluções em
conjunto. Também é importante recordar que a democracia consiste na prevalência da vontade da maioria,
sem deixar de lado os direitos das minorias.
A livre discussão, a ampla participação política e o princípio democrático estão interligados com a liberdade
de expressão, tendo por objeto não somente a proteção de pensamentos e ideias, mas também opiniões,
crenças no sentido de garantir a real participação dos cidadãos na vida coletiva. Por isso, nessa esteira, o
Supremo Tribunal Federal tem reputado como ilegais as manifestações de censura, que tenham a nítida
finalidade de controlar ou mesmo aniquilar a força do pensamento crítico, indispensável ao regime
democrático.
O humor, um dos desdobramentos da liberdade de expressão, além dos seus conhecidos efeitos positivos
sobre a saúde mental, desempenha um papel de poderoso instrumento de reação popular e de resistência
social a práticas de opressão do poder político, de abuso de direito ou de desrespeito aos direitos dos
cidadãos. Nesse sentido, veja parte do elucidativo voto do Min. Celso de Mello na ADIn 4.451:
"O riso e o humor são expressões de estímulo à prática consciente da cidadania e ao livre exercício da
participação política, enquanto configuram, eles próprios, manifestações de criação artística. O riso e o
humor, por isso mesmo, são transformadores, são renovadores, são saudavelmente subversivos, são
esclarecedores, são reveladores. É por isso que são temidos pelos detentores do poder ou por aqueles que
buscam ascender, por meios desonestos, na hierarquia governamental".
Apesar da posição de preferência que o direito fundamental da liberdade de expressão adquire no Brasil,
com o seu especial significado num país que vivenciou uma ditadura, sabe-se que não se trata de um direito
fundamental absoluto: ao mesmo tempo em que é importante resguardar a liberdade de expressão,
também é necessário que se tenha uma proteção a outros direitos fundamentais também resguardados
constitucionalmente e caros à sociedade , como os direitos à honra, à imagem, à privacidade e à
personalidade em geral.
Assim, numa situação de conflito entre direitos fundamentais, aplica-se a técnica da ponderação ou
mitigação de um dos direitos envolvidos, pautada pelo princípio da proporcionalidade. Como exemplo
disso, podemos mencionar as frequentes colisões entre preservação da intimidade e liberdade de imprensa.
É o que ocorre na situação em que uma revista de grande circulação divulga matéria sobre detalhes da vida
privada de um famoso ator contra a sua vontade ou na divulgação de biografias não autorizadas: nesses
casos, um dos direitos será mitigado para a preservação do outro.
É tênue a fronteira entre a ponderação de direitos que implique em cerceamento à liberdade de expressão
e censura. Contudo, é necessário notar que se tratam de situações diferentes: a censura se caracteriza por
uma exceção prévia a manifestação do pensamento ou, ainda, um silenciamento posterior com base em
meros pressupostos de ordem ideológico-políticos. É ferramenta utilizada em regimes autoritários como
forma de abafar manifestações ideológicas contrárias ao Poder Central. Já o cerceamento à liberdade de
expressão motiva-se quando configurada lesão a direitos de envergadura a ela equivalentes.
Nesse mesmo sentido, censura não se confunde com a responsabilização de pessoas que abusarem da
liberdade de expressão, ou seja, não é pelo fato de o ofensor ter que indenizar o ofendido pelos danos
sofridos que ele está sendo censurado. A liberdade de expressão deve ser exercida com responsabilidade,
submetendo-se os que extrapolarem a razoabilidade no exercício do direito às consequências jurídicas.
É importante mencionar que a justa responsabilização pelos danos causados pelo excesso, ainda que apenas
morais, seja realizada de forma proporcional, tanto na esfera civil (indenização pecuniária), mas,
principalmente, na penal80. Assim, cercear a liberdade de alguém por ter exercido a sua liberdade de
expressão (ainda que com excesso), é medida bastante gravosa, cujo efeito pode ser contrário ao que se
pretendia: preservar liberdades.
Ok. Mas em que situações se caracterizaria esse abuso à liberdade de expressão?
Um dos casos é quando ofende os princípios da dignidade da pessoa humana e da igualdade. Assim,
manifestações de humor que marginalizem segmentos sociais, reproduzam relações de opressão e
dominação, suprimam direitos, facilitem a exploração de pessoas, estimulem preconceitos de gênero,
sexualidade, raça, classe social, origem, etnia, devem ser evitadas.
A liberdade de expressão não legitima, pois, discursos de ódio, revestido num humor que ridicularize
mulheres, LGBTs, pessoas negras, pessoas com deficiência, pessoas gordas, pobres e mais velhas, ou seja,
grupos sociais que historicamente foram e têm sido discriminados e que têm seus direitos fundamentais
ainda restringidos em vários sentidos.
A mensagem inerente às sátiras e depreciações dessa natureza é de que, por conta das suas características
biológicas, estão em posição de desigualdade social, constituindo um mecanismo de subjugação, pois essas
características estarão sempre acompanhadas de juízos depreciativos de valor, os quais são ensinados
desde a infância para esses grupos de pessoas.
Recentemente tivemos vários casos em que muito se discutiu sobre os limites do humor e o abuso à
liberdade de expressão. São exemplos:
Em 2011, o comediante Rafinha Bastos disse, em tom de piada, ao vivo, no extinto "CQC" que
"comeria" Wanessa Camargo e o bebê que ela esperava. A cantora e seu marido processaram o
comediante, que se recusou a pedir desculpas pela piada. Ele foi condenado pela Justiça a pagar R$
150 mil por danos morais81.
Esse não foi o primeiro comentário de Rafinha a gerar polêmica. Em reportagem da edição de abril
da revista Rolling Stone, foi divulgada uma piada de Rafinha sobre mulheres estupradas durante seu
80
Normalmente a responsabilização no âmbito penal se dá pelo crime de injúria.
81
Disponível em: https://miguelarcanjo.blogosfera.uol.com.br/2019/04/25/ha-limite-para-liberdade-de-expressao-artistica-ou-e-
censura/?cmpid=copiaecola. Acesso em 05 de fevereiro de 2020.
show de stand-up: “toda mulher que eu vejo na rua reclamando que foi estuprada é feia… Homem
que fez isso não merece cadeia, merece um abraço” 82.
Em 7 de janeiro de 2015, a redação do jornal satírico francês Charlie Hebdo sofreu um atentado
terrorista que resultou na morte de 12 pessoas, além de feridos. O atentado seria uma resposta às
caricaturas e sátiras ao profeta Maomé e líderes islâmicos feitas pelo jornal;
Em 2016, o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) condenou os humoristas Danilo Gentili e
Marcelo Mansfield e a Rede Bandeirantes a pagar uma indenização no valor de R$ 200 mil à técnica
de enfermagem pernambucana Michele Rafael Maximino, conhecida por ser a maior doadora de
leite materno do país. Em 3 de outubro de 2016, Danilo Gentilli, no programa Agora É Tarde, da
Rede Bandeirantes, utilizou uma foto de Michele, sem sua autorização, e a comparou com o ator
pornô Kid Bengala. “Em termos de doação de leite, ela está quase alcançando o Kid Bengala”,
afirmou Danilo. O comentarista Marcelo Mansfield completou a “brincadeira”, ao ser mostrada uma
imagem dela ordenhando seu seio. “Os seios dela não são uma espanhola; são uma América Latina
inteira”83.
Em 2016, o humorista e apresentador de TV Danilo Gentili publicou em sua conta no Twitter
mensagens em que chamava a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) de “cínica, falsa e
nojenta”84. Após receber uma notificação extrajudicial enviada por advogados da deputada, ele
gravou um vídeo em que abre a notificação, esconde com os dedos o início e o fim da palavra
deputada, deixando apenas o meio, “puta”, visível, esfrega os pedaços em suas partes íntimas e diz
que ia enviá-lo de volta à Câmara para Maria do Rosário. Em abril de 2019, foi condenado a seis
meses e 28 dias de detenção, em regime semiaberto, por crime de injúria contra a deputada;
O especial de Natal do Porta dos Fundos, intitulado "A Primeira Tentação de Cristo". No vídeo, Jesus
é retratado como homossexual e é surpreendido com uma festa de aniversário ao retornar do
deserto com seu namorado, Orlando (interpretado por Fabio Porchat). A sátira com Jesus gay
despertou a ira de grupos religiosos, que chegaram a pedir a censura do filme, negada pela Justiça85;
Caso Mário Frias vs. Marcelo Adnet. Após ter sido parodiado pelo comediante, o secretário especial
de Cultura do governo Bolsonaro Mario Frias, em publicação no Instagram, entre outras
qualificações, disse que Adnet é um “garoto frouxo e sem futuro”, uma “criatura imunda”, “crápula”
e “Judas”.
82
Disponível em: http://www.jornaldocampus.usp.br/index.php/2011/10/quando-a-piada-perde-a-graca-e-vira-ofensa/. Acesso em
05 de fevereiro de 2020.
83
Disponível em: http://www.sembarreiras.jor.br/2018/01/19/fazer-humor-nao-significa-ofender-ou-humilhar/. Acesso em: 09 de
fevereiro de 2020.
84
Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2019/04/13/O-caso-Danilo-Gentili.-E-o-debate-sobre-liberdade-de-
express%C3%A3o. Acesso em 05 de fevereiro de 2020.
85
Disponível em: https://istoe.com.br/apos-video-com-jesus-gay-porta-dos-fundos-sobre-ataque/. Acesso em 14 de setembro
de 2020.
Quanto às maneiras de prevenir ou coibir esse comportamento, a mais imediata é a submissão da questão
à análise do Poder Judiciário. A ele cabe o papel de mediar as relações e estabelecer a isonomia entre as
partes. Frise-se serem reprováveis, num Estado democrático de Direito, responder um suposto abuso à
liberdade de expressão com intolerância ou violência, o famoso "fazer justiça com as próprias mãos". Foi,
basicamente, o que ocorreu no ataque ao jornal francês Charlie Hebdo.
Outro meio é a educação. Deve-se ensinar, desde cedo, a importância do respeito às diferenças e que a
diversidade é um elemento de riqueza de uma sociedade. Devem-se eliminar todas as formas de
preconceito e discriminação, buscando o fortalecimento dos laços sociais e o amplo debate sobre o
problema. Pode-se também mencionar a necessidade de envolvimento dos órgãos governamentais, no
sentido de promoverem campanhas de esclarecimento sobre as consequências nocivas do abuso à
liberdade de expressão na medida em que promovem o fortalecimento do preconceito e discriminação.
Pode ser mencionada também questões relativas à responsabilidade social das empresas, principalmente
no que se refere aos patrocínios dos artistas e humoristas que cometerem excessos. Numa ótica
mercadológica, uma das ações mais eficazes é a sinalização por meio da redução da receita desses artistas,
pela rejeição por parte do público ou das empresas.
A sociedade pode se manifestar de uma forma muito ativa nesse problema. Primeiramente, pode não
alimentar as manifestações de caráter abusiva e isso sé dá pelo caminho da indiferença. É simplesmente
ignorar determinada manifestação cultural ou, até mesmo, boicotá-la. Além disso, fundamental o exercício
da empatia, o que pode ser exercida por meio da demonstração de solidariedade pelo oprimido. Por fim,
todos esses pontos passam pela necessidade de que a sociedade se sensibilize em torno dessa causa, como
forma de construção de uma sociedade mais justa, plural e sem preconceitos.
PRÁTICA
C Caro aluno, agora é com você! Treine bastante com os temas expostos, lembrando-se sempre de aplicar
o conhecimento acumulado nas aulas anteriores, tanto sob o ponto de visto da estrutura, quanto dos
aspectos gramaticais.
Lembre-se de nos encaminhar seu texto, se assim desejar, por meio da área do aluno, de forma manuscrita
digitalizada, conforme explicado na aula 00 do curso.
Para a sua redação, é importante especificar o número do texto escolhido no campo apropriado. Você pode
nos encaminhar um arquivo único (em pdf) ou colar as imagens digitalizadas dentro de um documento em
Word.
As questões discursivas serão devolvidas exclusivamente ao aluno, por meio da área destinada ao curso no
site do Estratégia Concursos.
Desejamos um excelente trabalho a todos!