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Curso RDP

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t

INTENSIVO
DEFENSORIAS

Meta 02, etapa 02

www.rumoadefensoria.com
CURSO RDP
META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

SUMÁRIO

CRIMINOLOGIA ........................................................................................................................................... 4
1. ESCOLA CLÁSSICA ............................................................................................................................................. 4
2. ESCOLA POSITIVISTA (POSITIVISMO CRIMINOLÓGICO) ................................................................................... 6
2.1 CESARE LOMBROSO ....................................................................................................................................... 7
2.2 ENRICO FERRI ................................................................................................................................................. 9
2.3 RAFAELLE GARÓFALO................................................................................................................................... 10
2.4 O POSITIVISMO CRIMINOLÓGICO NO BRASIL .............................................................................................. 11
2.4.1 NINA RODRIGUES ...................................................................................................................................... 11
3. SOCIOLOGIA CRIMINAL .................................................................................................................................. 13
3.1 MODELOS SOCIOLÓGICOS DE CONSENSO E DE CONFLITO.......................................................................... 13
3.1.1 DE CUNHO FUNCIONALISTA ..................................................................................................................... 14
3.1.2 DE CUNHO ARGUMENTATIVO .................................................................................................................. 14
3.2 ESCOLAS DE CONSENSO............................................................................................................................... 15
3.2.1 ESCOLA DE CHICAGO – TEORIA ECOLÓGICA OU DA DESORGANIZAÇÃO SOCIAL...................................... 15
3.2.2 ASSOCIAÇÃO DIFERENCIAL ....................................................................................................................... 22
3.2.3 TEORIA DA ANOMIA (MERTON E DURKHEIM) .......................................................................................... 24
3.2.3.1 ANOMIA PARA DURKHEIM..................................................................................................................... 24
3.2.3.2 ANOMIA PARA ROBERT. KING MERTON ................................................................................................ 24
3.2.4 TEORIA DA SUBCULTURA DELINQUENTE .................................................................................................. 27
3.3 ESCOLAS DO CONFLITO ................................................................................................................................ 29
3.3.1 LABELLING APPROACH (INTERACIONISMO SIMBÓLICO, ETIQUETAMENTO, ROTULAÇÃO OU REAÇÃO
SOCIAL) .............................................................................................................................................................. 30
3.3.2 CRIMINOLOGIA CRÍTICA OU RADICAL ....................................................................................................... 34
3.4 PRISIONIZAÇÃO ............................................................................................................................................ 37
3.5 REALISMO CRIMINOLÓGICO DE ESQUERDA ................................................................................................ 39
3.6 MINIMALISMO E GARANTISMO PENAL........................................................................................................ 40
3.6.1: GARANTISMO PENAL INTEGRAL .............................................................................................................. 41
3.6.2 GARANTISMO POSITIVO ............................................................................................................................ 42
3.6.3 GARANTISMO NEGATIVO .......................................................................................................................... 42
3.6.4: GARANTISMO HIPERBÓLICO MONOCULAR: ............................................................................................ 43
3.6.5 MINIMALISMO PENAL OU ABOLICIONISMO MODERADO ........................................................................ 45
3.6.6 ABOLICIONISMO PENAL (RADICAL) ........................................................................................................... 45
3.7 ABOLICIONISMO PENAL E SUAS VERTENTES ............................................................................................... 45
2.7.1 ABOLICIONISMO PARA LOUK HULSMAN .................................................................................................. 46

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3.7.2 ABOLICIONISMO PARA THOMAS MATHIESEN E NILS CHRISTIE – ABOLICIONISMO FENOMENOLÓGICO-


HISTORICISTA ..................................................................................................................................................... 47
2.8 CRIMINOLOGIA SOCIALISTA ......................................................................................................................... 47
3.9 CRIMINOLOGIA VERDE ................................................................................................................................. 47
3.10 CRIMINOLOGIA FEMINISTA ........................................................................................................................ 48
3.11 CRIMINOLOGIA CULTURAL ........................................................................................................................ 49
3.12 CRIMINOLOGIA QUEER .............................................................................................................................. 51
DIREITO PENAL .......................................................................................................................................... 57
1. TEORIAS LEGITIMADORAS DAS PENAS ........................................................................................................... 57
1.2 TEORIA PREVENTIVA OU RELATIVA .............................................................................................................. 58
1.2.1 PREVENÇÃO GERAL ...............................................................................................................................59
1.2.3 PREVENÇÃO ESPECIAL ...........................................................................................................................60
1.3 TEORIA MISTA OU ECLÉTICA (ADOTADA)..................................................................................................... 61
1.4 TEORIAS DESLEGITIMADORAS ..................................................................................................................... 61
1.4.1 TEORIA NEGATIVA/AGNÓSTICA DA PENA ................................................................................................. 61
1.4.2 TEORIA MATERIALISTA DIALÉTICA ............................................................................................................ 63
1.5 O FUNDAMENTO DA PENA PARA TOBIAS BARRETO .................................................................................... 65
1.6 A TEORIA DIFERENCIADORA DE SCHIMIDHÄUSER ....................................................................................... 66
1.7 ESPÉCIES DE PENAS...................................................................................................................................... 66

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CRIMINOLOGIA

Escola clássica. Positivismo criminológico. O positivismo criminológico no Brasil. A Escola de Chicago.


Teoria da Associação Diferencial. Teoria da anomia. Funcionalismo na criminologia. Teoria da
subcultura delinquente. Labelling Approach e criminologia crítica ou radical. Minimalismo e
Garantismo Penal. Abolicionismo penal e suas vertentes. Criminologia Socialista. Criminologia Verde,
feminista, cultural e queer.

Ponto, sem dúvidas, dos mais relevantes para provas objetivas dentro dessa matéria. Vamos
estudar inicialmente a escola clássica e também as escolas positivistas. Em nossa área do aluno há
quatro videoaulas sobre o período pré-científico e científico que poderão ser assistidas por você até
o fim do curso. Depois de estudar esses pdfs, caso tenha tempo (são curtas), assistam!

1. ESCOLA CLÁSSICA

Para a doutrina, não existiu propriamente uma Escola Clássica, que foi assim denominada em
tom pejorativo pelos positivistas (sobretudo Ferri). No entanto, há nítida influência do iluminismo na
redação da obra “Dos Delitos e Das Penas”, de Cesare Beccaria, com a proposta de humanização das
ciências penais. Além de Beccaria, a Escola Clássica tem como expoentes Francesco Carrara e
Giovanni Carmingnani, por exemplo.

Conforme lembra Nestor Sampaio, os Clássicos partiram de duas teorias distintas: o


jusnaturalismo (Direito natural, de Grócio), e contratualismo (contrato social ou utilitarismo, de
Rousseau), em que o Estado surge a partir de um grande pacto entre homens, nos quais estes cedem
parcela de sua liberdade e direitos em prol da segurança coletiva.

Para a Escola Clássica, o homem é um ser livre e racional e, por isso, a pena deve ter caráter
retributivo. É importante que vocês saibam que os clássicos não advogavam a possibilidade de
aplicação de penas cruéis, muito pelo contrário, eles pregavam a humanização das penas. No
entanto, lembrem-se que a pena deveria ter nítido caráter retributivo.

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Em provas objetivas, caso caia algo sobre a Escola clássica, lembrem-se de quatro princípios
fundamentais:

a) livre arbítrio;
b) penas humanizadas;
c) penas como retribuição ao mal causado; e
d) método e raciocínio lógico-dedutivo.

Em síntese, vejam os princípios da Escola Clássica e os seus principais expoentes.

Imagem extraída do Manual Esquemático de Criminologia de Nestor


Sampaio Penteado

Assevera o professor Nestor Sampaio1 que “para a Escola Clássica, o criminoso era um ser que
pecou, que optou pelo mal, embora pudesse e devesse escolher o bem. O apogeu do valor do estudo
do criminoso ocorreu durante o período do positivismo penal, com destaque para a antropologia
criminal, a sociologia criminal, a biologia criminal, etc. Por outro lado, sustenta o autor, que a Escola
Positiva entendia que o criminoso era um ser atávico, preso a sua deformação patológica (às vezes
nascia criminoso). Outra dimensão do delinquente foi confeccionada pela Escola Correcionalista (de
grande influência na América espanhola), para a qual o criminoso era um ser inferior e incapaz de se

1NESTOR SAMPAIO PENTEADO FILHO. MANUAL ESQUEMÁTICO DE CRIMINOLOGIA (Locais do Kindle 313-320). Saraiva.
Edição do Kindle.

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governar por si próprio, merecendo do Estado uma atitude pedagógica e de piedade. Registre-se, por
oportuno, a visão do marxismo, que entendia o criminoso como vítima inocente das estruturas
econômicas.”

CAIU NA DPU-2017-CESPE: “Para a escola clássica, o modelo ideal de prevenção do delito ou do


desvio é o que se preocupa com a pena e seu rigor, compreendendo-a como um mecanismo
intimidatório; já para a escola neoclássica, mais eficaz que o rigor das penas é o foco no correto
funcionamento do sistema legal e em como esse sistema é percebido pelo desviante ou
delinquente”.2

Visto isso, podemos passar para o positivismo criminológico, que veio em superação à Escola
Clássica.

2. ESCOLA POSITIVISTA (POSITIVISMO CRIMINOLÓGICO)

A Escola Positiva, como bem assevera Nestor Sampaio, deita suas raízes no início do século
XIX na Europa. Pode-se afirmar que o positivismo criminológico teve três fases: antropológica
(Lombroso), sociológica (Ferri) e jurídica (Garófalo).

Em resumo:

FASES DO
POSITIVISMO

FASE FASE FASE


ANTROPOLÓGICA SOCIOLÓGICA JURÍDICA
(LOMBROSO) (FERRI) (GARÓFALO)

2 CORRETO.

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Para decorar o nome dos três principais positivistas, use o macete “LFG”, iniciais de cada um:
Lombroso, Ferri e Garófalo.

Alunos, atentem-se para o fato de que, embora todos esses três autores fossem positivistas,
cada um tinha uma percepção diferente e isso você precisa saber.

Vamos analisá-los individualmente.

2.1 CESARE LOMBROSO

Cesare Lombroso, por exemplo, (fase antropológica) publicou uma


obra chamada O homem delinquente. Lombroso, que também era
médico, examinou com intensa profundidade as características
fisionômicas de diversas pessoas, e as comparou com os dados
estatísticos de criminalidade. Peso, cabelo, tamanho do crânio,
tamanho das pernas, tudo isso era determinante, segundo Lombroso, para saber se o agente tinha
ou não determinismo para o crime. Por isso, o positivismo para Lombroso é chamado de
antropológico, pois para ele o criminoso era “nato”, razão pela qual seus estudos sobre o atavismo
ganharam força no mundo científico.

Na verdade, Lombroso não criou uma teoria moderna, mas sistematizou uma série de
conhecimentos esparsos e os reuniu de forma articulada e inteligível. Foi considerado o pai da
antropologia criminal, tirando algumas ideias dos fisionomistas para traçar um perfil de criminosos. 3

Por isso que acabou por examinar com profundidade as características fisionômicas,
comparando com dados estatísticos da criminalidade. Lembra Nestor Sampaio que “para ele
(Lombroso), não havia delito que não deixasse raiz em múltiplas causas, incluindo-se aí variáveis
ambientais e sociais, por exemplo, o clima, o abuso no álcool, a educação, o trabalho, etc.”.

3 Disponível em: https://jus.com.br/artigos/59164/criminologia. Acesso em: 26/01/2021.

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É salutar lembrar que Lombroso afirmou que o crime não é entidade jurídica, mas sim um
fenômeno biológico, e suas pesquisas foram feitas, em maioria, em manicômios e prisões, concluindo
que o criminoso é um ser atávico, isto é, um ser que regride ao primitivismo, que nasce criminoso,
cuja degeneração, como bem afirma Nestor Sampaio, é causada pela epilepsia, que ataca seus
centros nervosos.

Haveria, ainda, um determinismo biológico, pois embora Lombroso não tenha afastado os
fatores exógenos da gênese criminal, entendia que eram aspectos motivadores dos fatores
endógenos. Assim, o clima, a vida social, etc., apenas desencadeariam a propulsão interna para o
delito, pois o criminoso nasce criminoso.4

Frisa-se que em provas de Defensoria é importante, sempre que for possível, que o candidato
associe os conhecimentos teóricos com a realidade que o circunda. As pesquisas de Lombroso
caminhavam para a confecção de um perfil de criminoso que reforçava estereótipos da época, reflexo
dos preconceitos existentes. Não é preciso muito esforço para perceber que até hoje existe a figura
do “delinquente” na sociedade que, assim como na época de Lombroso, reflete todos os
preconceitos das classes dominantes. Assim, o “L’Uomo delinquente” é visto como sendo o negro,
favelado, muitas vezes analfabeto ou analfabeto funcional.

Cada vez mais, vozes se levantam em prol de penas mais rígidas, do encarceramento de
massa, como se o Direito Penal fosse, efetivamente, a “salvação” para a sociedade. Sob uma
perspectiva lombrosiana essa seria a atitude correta, pois se estamos a tratar de pessoas que são
“criminosas natas”, então não haveria outra solução senão o afastamento de tais pessoas do convívio
social (ideia que deve ser ferrenhamente combatida pelos membros da Defensoria Pública). Nessa
seara, conforme VIANA5:

“À evidência, as conclusões de Lombroso também repercutem especialmente


no modelo de política-criminal a ser adotado para o combate à criminalidade:

4 NESTOR SAMPAIO PENTEADO FILHO. MANUAL ESQUEMÁTICO DE CRIMINOLOGIA. (Saraiva. Edição do Kindle).
5 VIANA, Eduardo. CRIMINOLOGIA. Editora Juspodivm, 6ª ed., Salvador: 2018, pag. 64.

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contra o criminoso nato, incorrigível, não caberiam sanções morais, mas sim
preventivas devendo a sociedade se proteger com aplicação da pena de
prisão perpétua ou de morte. Sendo o autor do fato reconhecido como
criminoso nato, qualquer violação seria suficiente para a aplicação de tais
medidas.”

2.2 ENRICO FERRI

Enrico Ferri (fase sociológica) foi discípulo de Lombroso, e também conhecido por
inaugurar a fase da sociologia criminal. Para Ferri, o crime tem razões tanto
antropológicas como físicas e culturais. Atentem-se também para o fato de que Ferri
negou a ideia de livre-arbítrio (mera ficção). Ele acreditava que a prevenção geral era
muito mais eficaz que a repressão.

Nesse sentido Nestor Sampaio:

“Enrico Ferri (1856-1929), genro e discípulo de Lombroso, foi o criador da


chamada “sociologia criminal”. Para ele, a criminalidade derivava de
fenômenos antropológicos, físicos e culturais. Ferri negou com veemência o
livre-arbítrio (mera ficção) como base da imputabilidade; entendeu que a
responsabilidade moral deveria ser substituída pela responsabilidade social e
que a razão de punir é a defesa social (a prevenção geral é mais eficaz que a
repressão).”

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2.3 RAFAELLE GARÓFALO

Rafaelle Garófalo (1851-1934), conforme Nestor Sampaio6, “Afirmou que o crime


estava no homem e que se revelava como degeneração deste; criou o conceito de
temibilidade ou periculosidade, que seria o propulsor do delinquente e a porção de
maldade que deve se temer em face deste; fixou, por derradeiro, a necessidade de
conceber outra forma de intervenção penal – a medida de segurança. Seu grande
trabalho foi conceber a noção de delito natural (violação dos sentimentos altruísticos de piedade e
probidade). Classificou os criminosos em natos (instintivos), fortuitos (de ocasião) ou pelo defeito
moral especial (assassinos, violentos, ímprobos e cínicos), propugnando pela pena de morte aos
primeiros (cf. n. 9.3, infra).”

Em resumo das escolas positivistas temos o seguinte quadro:

POSITIVISMO CRIMINOLÓGICO
LOMBROSO ENRICO FERRI RAFAELLE GARÓFALO
Fase antropológica. Fase sociológica. Fase jurídica.
Publicou uma obra chamada O Fundou a noção de
Foi discípulo de Lombroso.
homem delinquente. temibilidade e periculosidade.
Para ele o criminoso era
“nato”, razão pela qual seus Para Ferri o crime tem razões Teorizou que o crime estava no
estudos sobre o atavismo tanto antropológicas como homem e que se revelava
ganharam força no mundo físicas e culturais como degeneração deste.
científico.
Peso, cabelo, tamanho do
crânio, tamanho das pernas, Fundamentou o direito de
Negou a ideia de livre-arbítrio
eram determinantes para punir sobre a teoria da Defesa
(mera ficção).
saber se o agente tinha ou não Social.
determinismo para o crime.

6 Idem.

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Fixou, por fim, a necessidade


Ele acreditava que a prevenção
de conceber outra forma de
Criminoso é um ser atávico. geral era muito mais eficaz que
intervenção penal – a medida
a repressão.
de segurança.

CAIU NA DP-DF-2019-CESPE: “De acordo com a teoria positivista, o criminoso é um ser inferior,
incapaz de guiar livremente a sua conduta por haver debilidade em sua vontade: a intervenção estatal
se faz necessária para correção da direção de sua vontade”.7

2.4 O POSITIVISMO CRIMINOLÓGICO NO BRASIL

O positivismo criminológico teve também grande influência no Brasil. As ideias de Lombroso,


por exemplo, influenciaram o Código Penal brasileiro de 1940.

2.4.1 NINA RODRIGUES

Um caso em particular, muito conhecido e comentado pela doutrina,


envolvendo Nina Rodrigues (médico e autor Maranhense), ilustra bem a
influência das ideias lombrosianas em seu trabalho. Em 1897, ao término da
Guerra de Canudos, o médico baiano solicitou a cabeça do líder do
movimento, Antônio Conselheiro, que havia sido morto no conflito, com o
intuito de realizar uma minuciosa análise craniana, em busca de
características que apontassem atavismo ou loucura. Entretanto, apesar dos
esforços de Nina Rodrigues, os exames e medições realizados no crânio de Antônio Conselheiro não
apresentaram nenhum indício que comprovasse que este fosse um criminoso nato (MACHADO,
2005, p. 83-84).

7 ERRADO. Justificativa da banca: “A escola correcionalista, e não a positivista, afirma que o criminoso é um ser inferior,
incapaz de guiar livremente a sua conduta, por haver debilidade em sua vontade, de modo a merecer intervenção estatal
para corrigi-la. Para a escola correcionalista, o criminoso não é um ser forte e embrutecido, como diziam os positivistas,
mas sim um débil, cujo ato precisa ser compreendido e cuja vontade necessita ser direcionada. A escola positivista afirma
que o criminoso é um prisioneiro de sua própria patologia (determinismo biológico) ou de processos causais alheios
(determinismo social). Não aceitaram a tese da Escola clássica do livre-arbítrio, mas sim a ideia do criminoso nato
(determinismo biológico de Lombroso) e do determinismo social de Ferri e Garófalo”.

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Importante lembrar que embora Nina Rodrigues seja reconhecido como o fundador da
criminologia brasileira moderna, suas obras trazem fortes conteúdos racistas, o que termina por
ofuscar sua produção científica. O autor afirmava que a população negra e “mulata” possuía
capacidade mental incompleta, de forma que deveriam ser aplicadas regras diversas a estes
indivíduos.

Segundo Thaís Dumet Faria8:

“Nina Rodrigues ficou conhecido como um autor maldito por ter utilizado seu
conhecimento para fortalecer a tese da inferioridade racial. Em realidade, um
dos temas principais desse autor fazia referência à nossa definição como
povo e a do Brasil na qualidade de nação. Para isso, necessitava pautar a
questão racial tanto do ponto de vista teórico e acadêmico quanto político.
Vale ressaltar que, nesse período, diversos teóricos discutiam a questão racial
do país e formas de viabilizar o desenvolvimento da nação por meio, entre
algumas alternativas, da eugenia. Sylvio Romero (1851– 1914), por exemplo,
tratou de desenvolver uma tese sobre o branqueamento da população
brasileira, ou seja, o tema da miscigenação racial no Brasil era prioridade e
ocupava as páginas de jornais e as pautas de congressos e discussões no final
do século XX. Nina Rodrigues, que ainda é acusado de preconceituoso,
oferece, por meio do estudo da sua obra, a possibilidade de ampliar os
conhecimentos sobre uma época tão rica na produção intelectual brasileira”.
(GRIFOS NOSSOS).

Esse ponto sobre Nina Rodrigues já foi objeto de questão objetiva feita pela FCC em prova de
Defensoria. Ademais, para fins de aprofundamento sobre o tema, recomenda-se a leitura da obra

8Criminologia no Brasil: histórica e aplicações clínicas e sociológicas/Alvino Augusto de Sá, Davi de Paiva Costa Tangerino
e Sérgio Salomão Schecaira (Coordenadores). Rio de Janeiro, Elsevier, 2011.

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“As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil”, de autoria do próprio Nina Rodrigues. A
obra já se encontra em domínio público, razão pela qual é de fácil obtenção. 9

CAIU NA DPE-ES-2016-FCC: “Sobre a escola positivista da criminologia, é correto afirmar que sua
recepção no Brasil recebeu contornos racistas, notadamente no trabalho antropológico de Nina
Rodrigues”. 10

CAIU NA DPE-SC-2017-FCC: “Sobre a criminologia positivistas: No Brasil seu desenvolvimento


reforçou cientificamente o racismo”. 11

3. SOCIOLOGIA CRIMINAL

Vimos a Escola Clássica e a Escola Positivista. No entanto, como lembra Nestor Sampaio, “o
próprio Lombroso, no fim de seus dias, formulou o pensamento no sentido de que não só o crime
surgia das degenerações, mas também certas transformações sociais afetavam os indivíduos,
desajustando-os. No entanto, a moderna sociologia partiu para uma divisão bipartida, analisando as
chamadas teorias macrossociológicas, sob enfoques consensuais ou de conflito”. Em provas de
Defensoria Pública, sem dúvidas, as vertentes do conflito e do consenso são importantíssimas, razão
pela qual analisaremos agora.

3.1 MODELOS SOCIOLÓGICOS DE CONSENSO E DE CONFLITO

Inicialmente, é importante ressaltar que as teorias criminológicas contemporâneas não se


limitam à análise do delito segundo uma visão do indivíduo ou de pequenos grupos, mas sim da
sociedade como um todo12. Como dissemos há pouco, o pensamento criminológico moderno é
influenciado por duas visões:

9 Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=61586.


Acesso em: 26/01/2021.
10 CORRETO.
11 CORRETO.
12 Nestor Sampaio, Manual Esquemático de Criminologia .

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3.1.1 DE CUNHO FUNCIONALISTA 3.1.2 DE CUNHO ARGUMENTATIVO


Denominada teoria de integração, mais
Chamada de teorias de conflito.
conhecida por teorias de consenso.

São exemplos de teorias de consenso a Escola de Chicago, a teoria de associação diferencial,


a teoria da anomia e a teoria da subcultura delinquente. Por outro lado, são exemplos de teorias de
conflito o labelling approach (ou etiquetamento) e a teoria crítica ou radical.

Mas quais seriam, em síntese, as diferenças entre as teorias do consenso e as do conflito?13

Conforme esclarece Nestor Sampaio14:

“As teorias de consenso entendem que os objetivos da sociedade são


atingidos quando há o funcionamento perfeito de suas instituições, com os
indivíduos convivendo e compartilhando as metas sociais comuns,
concordando com as regras de convívio. Aqui os sistemas sociais dependem
da voluntariedade de pessoas e instituições, que dividem os mesmos valores.
As teorias consensuais partem dos seguintes postulados: toda sociedade é
composta de elementos perenes, integrados, funcionais, estáveis, que se
baseiam no consenso entre seus integrantes.

Por sua vez, as teorias de conflito argumentam que a harmonia social decorre
da força e da coerção, em que há uma relação entre dominantes e
dominados. Nesse caso, não existe voluntariedade entre os personagens para
a pacificação social, mas esta é decorrente da imposição ou coerção. Os
postulados das teorias de conflito são: as sociedades são sujeitas a mudanças

13 Você pode ter percebido que utilizei a expressão “do consenso” e também “de consenso”. Na verdade, alguns autores
utilizam “de” e outros “do”. Em provas, como aconteceu na DPE-PR, o examinador utilizou “do conflito”. Os dois termos,
portanto, estão corretos.
14 NESTOR SAMPAIO PENTEADO FILHO. MANUAL ESQUEMÁTICO DE CRIMINOLOGIA (Locais do Kindle 1261-1268).

Saraiva. Edição do Kindle.

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contínuas, sendo ubíquas, de modo que todo elemento coopera para sua
dissolução. Haveria sempre uma luta de classes ou de ideologias a informar a
sociedade moderna (Marx). Os sociólogos contemporâneos afastam a luta de
classes, argumentando que a violação da ordem deriva mais da ação de
indivíduos, grupos ou bandos do que de um substrato ideológico e político”.

3.2 ESCOLAS DE CONSENSO

Estudaremos as seguintes escolas de consenso: 1) Escola de Chicago, 2) a teoria de associação


diferencial, 3) a teoria da anomia e 4) a teoria da subcultura delinquente.

3.2.1 ESCOLA DE CHICAGO – TEORIA ECOLÓGICA OU DA DESORGANIZAÇÃO SOCIAL

Segundo Nestor Sampaio15, “com a secularização, ocorreu a


aproximação entre as elites e a classe baixa, sobretudo por uma
matriz de pensamento, formada na Universidade de Chicago,
que se denominou “teoria da ecologia criminal” ou
“desorganização social” (Clifford Shaw e Henry Mckay). Em
função do crescimento desordenado da cidade de Chicago, que
se expandiu do centro para a periferia (movimento circular centrífugo), inúmeros e graves problemas
sociais, econômicos, culturais, etc. criaram ambiente favorável à instalação da criminalidade, ainda
mais pela ausência de mecanismos de controle social.”

Nas palavras do autor:

“A Escola de Chicago, atenta aos fenômenos criminais observáveis, passou a


usar os inquéritos sociais (social surveys) na investigação daqueles. Tais
investigações sociais demandavam a realização de interrogatórios diretos,

15NESTOR SAMPAIO PENTEADO FILHO. MANUAL ESQUEMÁTICO DE CRIMINOLOGIA (Locais do Kindle 1282-1302).
Saraiva. Edição do Kindle.

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feitos por uma equipe especial junto a dado número de pessoas


(amostragem). Ao lado desses inquéritos sociais, utilizaram-se análises
biográficas de individual cases. Os casos individuais permitiram a verificação
de um perfil de carreira delitiva. Estabeleceu-se a metodologia de colocação
dos resultados da criminalidade sobre o mapa da cidade, pois é a cidade o
ponto de partida daquela (estrutura ecológica). Os meios diferentes de
adaptação das pessoas às cidades acabam por propiciar a mesma
consequência: implicação moral e social num processo de interação na
cidade. Assim, com o crescimento das cidades começa a surgir uma relação
de aproximação entre as pessoas, com a vizinhança se conhecendo. Passa a
existir, por conseguinte, uma verdadeira identidade dos quarteirões. Esse
mecanismo solidário de mútuas relações proporciona uma espécie de
controle informal (polícia natural), na medida em que uns tomam conta dos
outros (ex.: família que viaja e pede ao vizinho que recolha o jornal, que
mostre ao leiturista da água o local do hidrômetro, etc.).

Reforça Nestor Sampaio (2019) que “o crescimento desordenado das cidades faz desaparecer
o controle social informal; as pessoas vão se tornando anônimas, de modo que a família, a igreja, o
trabalho, os clubes de serviço social, etc. não dão mais conta de impedir os atos antissociais. Assim,
no mesmo sentido, a ausência completa do Estado (não há delegacias, escolas, hospitais, creches,
etc.) cria uma sensação de anomia e insegurança, potencializando o surgimento de bandos armados,
matadores de aluguel que se intitulam mantenedores da ordem”.

CAIU NA DPE-MA-2018-FCC: “Na primeira metade do século passado, floresceu, na Universidade de


Chicago, a chamada teoria ecológica ou da desorganização social, que considerava o crime um
fenômeno ligado a áreas naturais”.16

A principal crítica feita à Escola de Chicago se dá pelo fato de não levar em consideração, nos
seus estudos, a criminalidade das classes abastadas da sociedade (crimes de colarinho branco, como

16 CORRETO.

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falamos acima). Se por um lado rompe com o positivismo, por outro traz um forte determinismo na
análise da criminalidade com base em cada uma das zonas da cidade.

Apesar das críticas, a Escola de Chicago teve por mérito abrir um novo campo para a
criminologia, que até então se preocupava com a pessoa do criminoso, rompendo, com o positivismo
criminológico. Até à Escola de Chicago, a solução proposta para o combate da criminalidade era
centrada na pena. Aqui, por outro lado, já se verificam ideias de planejamento urbano, com políticas
públicas de integração dos indivíduos marginalizados à sociedade.

CAIU NA DPE-AM-2018-FCC: “A Escola de Chicago fomentou a utilização de métodos de pesquisa que


propiciou o conhecimento da realidade da cidade antes de se estabelecer a política criminal
adequada para intervenção estatal”.17

Veja como o tema foi objeto de prova oral da DPE-PE, em 2018, realizada pela prova
CESPE/CEBRASPE.

Vejam abaixo o espelho de resposta esperada pela banca:

1 Qual foi a teoria criada pela Escola de Chicago para o enfretamento da


criminalidade?

17 CORRETO.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 17
CURSO RDP
META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

A Escola de Chicago foi responsável pela criação da teoria da ecologia criminal


ou teoria da desorganização social. Foi pioneira no estudo sociológico
criminal considerando o crescimento populacional no século XIX. A
Universidade de Chicago estudou o crescimento desorganizado da cidade
como fator criminógeno: os problemas sociais, trabalhistas, familiares,
morais, culturais são fatores potencializadores da criminalidade; quanto
melhor a vida socioeconômica, menor o índice de criminalidade.
A Escola de Chicago estuda a origem e o crescimento da cidade para definir
os fatores criminógenos: quanto maior for a cidade, maior será o anonimato
da pessoa, menor será o controle da criminalidade. Para Shecaira, “o mundo
urbano, com o anonimato, cria uma impessoalidade nas relações humanas,
um culto à liberdade exacerbada; traduz uma vida de aparências que conduz
a um desenvolvimento de desviações nas normas de condutas éticas e na
prática das atitudes sociais”.
Essa escola define cidade não só em seu aspecto territorial e populacional,
mas também como um corpo que possui cultura, costumes, usos, ditames
próprios.
Afirma que o controle da criminalidade também acaba sendo exercido pela
vizinhança, em grandes cidades, de modo que, quanto maior for a mobilidade
de seus moradores, menor será a vigilância e o controle informal exercido
pelo cidadão.
A escola de Chicago não se limitou ao estudo de larga escala, por meio de
inquérito social, tendo se ocupado também do estudo biográfico de
indivíduos isolados. O estudo da macrocriminalidade deu maior relevância e
contribuição à criminologia.

2 Quais são as principais propostas da Escola de Chicago para o controle da


criminalidade?

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 18
CURSO RDP
META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

Para a teoria ecológica, deve-se priorizar a ação preventiva, minimizando-se


a atuação repressiva.
Algumas propostas, conforme Clifford Shaw e Henry Mckay são as seguintes:

a) É necessária uma mudança efetiva nas condições econômicas e sociais das


crianças, para eliminar o padrão referencial desviante provido pelas cidades.

b) Métodos individualizados não são suficientes para diminuir


substancialmente a criminalidade. Deve haver uma macrointervenção na
comunidade. Deve haver amplos programas sociais, que concentrem
esforços dos cidadãos em torno das forças construtivas da sociedade
(instituições, grupos, igrejas, escolas, associações de bairros, etc.), com o fito
de diminuir a desorganização social e aproximar os homens no controle da
criminalidade. A vizinhança é a unidade de operação. O planejamento e a
administração dos projetos devem ser feitos por áreas delimitadas. A
comunhão de esforços aumentará a solidariedade e a unidade de sentimento
entre as pessoas. Buscar o envolvimento de trabalhadores locais para reduzir
o desemprego.

c) São necessárias melhorias em residências, conservação física dos prédios,


melhorias sanitárias dos bairros e melhorias das escolas. É importante não
cortar área verde (manter praças, parques — locais para o lazer). A estética
de algumas construções é essencial para a prevenção da criminalidade. São
importantes o incremento e a melhoria da arquitetura urbana.

3 Como a Defensoria Pública pode contribuir para o combate da


criminalidade utilizando as ideias da Escola de Chicago?

A Defensoria Pública é uma das instituições públicas essenciais para o


combate da criminalidade, na forma preventiva. Pode implementar

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 19
CURSO RDP
META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

programas sociais junto à comunidade, em especial junto aos mais


desprovidos de recursos, de modo a orientá-los acerca dos direitos à
moradia, à educação, à saúde, ao trabalho, etc. Programas podem ser criados
em parcerias com outras instituições, como secretarias de governo (de
educação, de saúde, social, de justiça, etc.), de modo a combater a
criminalidade com a implementação de mecanismos para pessoas
alcançarem escolas públicas, remédios, médicos, casas populares e melhorar
a qualidade de vida e diminuir a desigualdade social. Tem plena capacidade
de orientar a população acerca de sua cidadania e de como exercê-la. A lógica
da exclusão passa a ser substituída pela lógica do contexto participativo da
inclusão, interrompendo-se um processo que pode culminar com a
marginalidade e promovendo-se a dignidade das pessoas.
Possui legitimidade para ações coletivas em prol de construções políticas
para a organização social. O atendimento à população de rua e aos jovens nas
escolas, mutirões de atendimento e articulação entre Estado e comunidade
são exemplos de ativismo da teoria ecológica da Escola de Chicago que a
Defensoria Pública pode promover.
Obs.: A Escola de Chicago inaugurou a análise para a resposta do crime. No
que concerne à política criminal, o foco é voltado para a comunidade local,
com mobilização das instituições locais para evitar a desorganização social,
reconstruir a solidariedade humana e controlar as condutas desviadas,
diferentemente do positivismo italiano de Henri Ferri Lombroso e Rafael
Garófalo, que dava atenção ao tratamento individual, em uma visão
etiológica da delinquência.

Segundo a doutrina (Sérgio Salomão Shecaira), são dois os conceitos básicos para
compreensão da teoria ecológica aplicável ao seu efeito criminógeno. O primeiro é a definição de
“desorganização social”, e o segundo é a identificação de “áreas de delinquência”, que obedecem a
uma “gradiente tendency”.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 20
CURSO RDP
META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

Para o autor:

“A cidade moderna, em face de sua mobilidade ínsita, caracteriza-se pela


ruptura dos mecanismos tradicionais de controle. Normalmente os processos
de desorganização social estão em uma relação dialética de reciprocidade. A
desorganização social, como preliminar à reorganização de posturas e
condutas humanas, é uma experiência pela qual passa o recém-chegado à
cidade com uma rejeição de hábito e concepções morais”

É importante lembrar que à época, a cidade de Chicago oferecia um expressivo exemplo de


processo de desorganização social, tendo em vista o grande número de imigrantes estrangeiros e de
migrantes do Sul dos Estados Unidos (sobretudo negros).

Ademais, no que se refere à existência de áreas de delinquência, a doutrina estabelece que


uma cidade se desenvolve, de acordo com a ideia dos principais autores da teoria ecológica, segundo
círculos concêntricos (por meio de um conjunto de zonas ou anéis a partir de uma área central).

No mais central desses anéis estava a zona comercial com seus grandes bancos, lojas, fábricas,
etc.

Na segunda zona, também chamada de zona de transição, situava-se exatamente a zona


residencial (3º zona) e a anterior (1º zona), que concentra o comércio e a indústria.

Shecaira aponta que como zona intersticial, está sujeita à invasão do crescimento da zona
anterior, e por isso, é objeto de degradação constante, estando também sujeita a zona degradada
pelo barulho, agitação, mau cheiro das indústrias, etc.

Em resumo, saiba que são dois os conceitos básicos para compreensão da teoria ecológica
aplicável ao seu efeito criminógeno. O primeiro é a definição de “desorganização social”, e o segundo
é a identificação de “áreas de delinquência”.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 21
CURSO RDP
META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

Em outra meta específica, veremos sobre a teoria das janelas quebradas, lei e ordem e política
da tolerância zero, que também tem ligação com a Escola de Chicago.

3.2.2 ASSOCIAÇÃO DIFERENCIAL

É considerada uma teoria de consenso, desenvolvida pelo sociólogo americano Edwin


Sutherland (1883-1950), inspirado em Gabriel Tarde.

Lembra Nestor Sampaio (2019) que a teoria da associação diferencial apregoa que o
comportamento do criminoso é aprendido, nunca herdado, criado ou desenvolvido pelo sujeito ativo.
Sutherland não propõe a associação entre criminosos e não criminosos, mas sim entre definições
favoráveis ou desfavoráveis ao delito. Nesse contexto, a associação diferencial é um processo de
apreensão de comportamentos desviantes, que requer conhecimento e habilidade para se locupletar
das ações desviantes. Isso é aprendido e promovido por gangues urbanas, grupos empresariais,
aquelas despertadas para a prática de furtos e arruaças, e estes, para a prática de sonegações e
fraudes comerciais.18

(...) Em outras palavras, a associação diferencial desperta as leis de imitação,


porque, ao contrário do que suponha Lombroso, ninguém nasce criminoso,
mas a criminalidade é uma consequência de uma socialização incorreta. As
classes sociais mais altas acabam por influenciar as mais baixas, inclusive em
razão do monopólio dos meios de comunicação em massa, que criam
estereótipos, modelos, comportamentos etc. (NESTOR SAMPAIO PENTEADO
FILHO. MANUAL ESQUEMÁTICO DE CRIMINOLOGIA, p. 59).

18Manual esquemático de criminologia/Nestor Sampaio Penteado Filho. – 8. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2018, p.
59.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 22
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META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

Extraída da obra de Nestor Sampaio, Manual Esquemático de Criminologia p. 60.

Em relação à teoria da associação diferencial, pode-se dizer que Sutherland foi um precursor
no estudo dos chamados crimes de colarinho branco. Por intermédio da explicação da teoria, verifica-
se que não são seres “atávicos” que delinquem, mas sim pessoas “normais” em inúmeras
circunstâncias e pelas mais variadas razões, demonstrando-se que o estudo da ciência criminal vai
muito além de fórmulas simplistas.

Segundo Sutherland19 (trecho em inglês, mas há a tradução livre no rodapé):

White-collar criminality in business is expressed most frequently in the form


of misrepresentation in financial statements of corporations, manipulation in
the stock Exchange, commercial bribery, bribery of public officials directly or
indirectly in order to secure favorable contracts and legislation (...) These and
many others are found in abundance in the business world. 20

19 SUTHERLAND. Edwin Hardin. WHITE COLLAR-CRIMINALITY. In American Sociological Review. Vol. 5. Number 1.
February, 1940. A versão traduzida do texto cuja leitura é recomendada encontra-se em:
https://seer.ufrgs.br/redppc/article/view/56251/33980. Acesso em: 26/01/2021.
20 Tradução livre: “A criminalidade de colarinho branco nos negócios é expressa com mais frequência na forma de

deturpação nas demonstrações financeiras das empresas, manipulação na Bolsa de Valores, suborno comercial, suborno

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 23
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META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

3.2.3 TEORIA DA ANOMIA (MERTON E DURKHEIM)

A teoria da anomia integra a escola do consenso e foi desenvolvida em


duas acepções: na acepção de Émile Durkheim e também na de Robert
King Merton. Vocês precisam ficar atentos, pois essa teoria foi objeto
de questionamento na prova discursiva da DPE-BA (FCC, 2016).

Apesar de ser vista também como teoria de consenso, há nuances marxistas. Afasta-se dos
estudos clínicos do delito porque não o compreende como anomalia. De plano, convém citar que
essa teoria se insere no plano das correntes funcionalistas, desenvolvidas por Robert King Merton,
com apoio na doutrina de E. Durkheim (O suicídio). (NESTOR SAMPAIO, p. 60).

3.2.3.1 ANOMIA PARA DURKHEIM 3.2.3.2 ANOMIA PARA ROBERT. KING MERTON
Anomia representa a ausência ou desintegração Anomia se dava em razão de, no plano
das normas sociais, fazendo com que haja a sociológico, existir um sintoma de dissociação
produção de uma situação de pouca coesão entre as aspirações socioculturais e os meios
social causado por uma ruptura. desenvolvidos para alcançar tais aspirações.

Nestor Sampaio21 lembra que “para os


funcionalistas, a sociedade é um todo orgânico
articulado que, para funcionar perfeitamente,

de funcionários públicos direta ou indiretamente, a fim de garantir contratos e legislação favoráveis (...) Estes e muitos
outros são encontrados em abundância no mundo dos negócios”.
21 Idem, p. 60.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 24
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META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

necessita que os indivíduos interajam num


ambiente de valores e regras comuns. No
entanto, toda vez que o Estado falha é preciso
resgatá-lo, preservando-o; se isso não for
possível, haverá uma disfunção. Merton explica
que o comportamento desviado pode ser
considerado, no plano sociológico, um sintoma
de dissociação entre as aspirações socioculturais
e os meios desenvolvidos para alcançar tais
aspirações. Assim, o fracasso no atingimento
das aspirações ou metas culturais em razão da
impropriedade dos meios institucionalizados
pode levar à anomia, isto é, a manifestações
comportamentais em que as normas sociais são
ignoradas ou contornadas”.

Para Émile Durkheim, anomia representa a ausência ou desintegração das normas sociais,
fazendo com que haja a produção de uma situação de pouca coesão social causado por uma ruptura.
Por exemplo, se os meios formais de controle não punem os homicídios, a sociedade passará a
enxergar como fatos “normais”, causando a ideia de anomia. Lembrem-se que anomia significa, na
visão de Durkheim, uma situação de fato em que faltam coesão e ordem, sobretudo no que diz
respeito a normas e valores.

CAIU NA DP-DF-2019-CESPE: “Estabelecida por Durkheim, a teoria da anomia, que analisa o


comportamento delinquencial sob o enfoque estrutural-funcionalista, admite o crime como um
comportamento normal, ubíquo e propulsor da modernidade.”22

22CERTO. JUSTIFICATIVA DA BANCA: A sociologia criminal divide-se em uma análise europeia e em uma norte-americana.
Sob o enfoque europeu, Durkheim foi o responsável pela criação da teoria da anomia, que afirma que, em razão da
complexidade social, o crime é normal, necessário e útil para o equilíbrio e desenvolvimento sociocultural.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 25
CURSO RDP
META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

Diferente é a ideia de anomia para Merton. Para este, em linhas gerais, a anomia se dava em
razão de, no plano sociológico, existir um sintoma de dissociação entre as aspirações socioculturais
e os meios desenvolvidos para alcançar tais aspirações. Para ficar mais fácil, imagine que ter um
celular hoje seja algo imposto pela sociedade. No entanto, há pessoas que ainda não possuem poder
aquisitivo para tê-lo. Nesse caso, furtar seria uma “saída” para alcançar os objetivos culturais
impostos pela própria sociedade.

Nestor Sampaio Penteado Filho, em seu Manual Esquemático de Criminologia (8ª Ed, 2018,
página 61), explica:

“A anomia vista como um tipo de conflito cultural ou de normas sugere a existência de um segmento
de dada cultura, cujo sistema de valores esteja em antítese e em conflito com outro segmento.

Então, o conceito de anomia de Merton atinge dois pontos conflitantes: as metas culturais (status,
poder, riqueza, etc.) e os meios institucionalizados (escola, trabalho, etc.).

Nessa linha de raciocínio, Merton elabora um esquema no qual explica o modo de adaptação dos
indivíduos em face das metas culturais e meios disponíveis, assinalando com um sinal positivo quando
o homem aceita o meio institucionalizado e a meta cultural, e com um sinal negativo quando os
reprova.

A conformidade ou comportamento modal (conformista), num ambiente social estável, é o tipo mais
comum, pois os indivíduos aceitam os meios institucionalizados para alcançar as metas socioculturais.
Existe adesão total e não ocorre comportamento desviante desses aderentes.

No modo de inovação os indivíduos acatam as metas culturais, mas não aceitam os meios
institucionalizados. Quando se apercebem de que nem todos os meios estão a sua disposição, eles
rompem com o sistema e, pela conduta desviante, tentam alçar as metas culturais. Nesse aspecto o
delinquente corta caminho para chegar às metas culturais.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 26
CURSO RDP
META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

Outro modo referido por Merton é o ritualismo, por meio do qual os indivíduos fogem das metas
culturais, que, por uma razão ou outra, acreditam que jamais atingirão. Renunciam às metas culturais
por entender que são incapazes de alcançá-las.

Na evasão ou retraimento os indivíduos renunciam tanto às metas culturais quanto aos meios
institucionalizados. Aqui se acham os bêbados, drogados, mendigos e, párias, que são derrotistas
sociais.

Por derradeiro, cita-se a rebelião, caracterizada pelo inconformismo e revolta, em que os indivíduos
rejeitam as metas e meios, lutando pelo estabelecimento de novos paradigmas, de uma nova ordem
social. São individualmente os “rebeldes sem causa”, ou ainda, coletivamente, as revoluções sociais.”

Assim, teríamos o seguinte (GRAVEM esses aspectos dos modos de adaptação pois podem
ser cobrados em qualquer fase do concurso, mormente as fases discursivas e orais):

Modos de Adaptação Meios Culturais Meios Institucionalizados


Conformidade + +
Inovação + -
Ritualismo - +
Evasão/Retraimento - -
Rebelião ± ±
Extraída da obra de Nestor Sampaio (2018, p. 61)

3.2.4 TEORIA DA SUBCULTURA DELINQUENTE

A teoria da subcultura delinquente é tida como teoria de consenso, criada pelo


sociólogo Albert Cohen (Delinquent boys, 1955). Três ideias básicas sustentam
a subcultura: 1) o caráter pluralista e atomizado da ordem social; 2) a cobertura
normativa da conduta desviada; 3) as semelhanças estruturais, na gênese, dos
comportamentos regulares e irregulares. Essa teoria é contrária à noção de uma

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 27
CURSO RDP
META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

ordem social, ofertada pela criminologia tradicional. Identificam-se como exemplos as gangues de
jovens delinquentes, em que o garoto passa a aceitar os valores daquele grupo, admitindo-os para si
mesmo, mais que os valores sociais dominantes. (Nestor Sampaio, p. 62).

Segundo Cohen, a subcultura delinquente se caracteriza por três fatores: não utilitarismo da
ação; malícia da conduta e negativismo. Abaixo faço um quadro comparativo baseado nos
ensinamentos de Nestor Sampaio23:

O não utilitarismo da ação se revela no fato de que muitos delitos não


NÃO UTILITARISMO DA
possuem motivação racional (ex.: alguns jovens furtam roupas que não
AÇÃO
vão usar).

A malícia da conduta é o prazer em desconcertar, em prejudicar o outro


A MALÍCIA DA CONDUTA
(ex.: atemorização que gangues fazem em jovens que não as integram).

O negativismo da conduta mostra-se como um polo oposto aos padrões


da sociedade. A existência de subculturas criminais se mostra como
NEGATIVISMO DA
forma de reação necessária de algumas minorias muito desfavorecidas
CONDUTA
diante das exigências sociais de sobrevivência.

Em resumo:

Nestor Sampaio, Manual Esquemático, p. 62

23 Idem, p. 62.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 28
CURSO RDP
META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

SE LIGA, ALUN@ RDP: não só nos livros é possível ver explicações e alusões às teorias criminológicas
em comento. O videoclipe da música “Beat it” de Michael Jackson faz referência clara à teoria da
subcultura delinquente, haja vista haver diversas cenas em que Michael dança com membros de
gangues em uma cidade retratada como sombria e caótica. Inclusive o diretor do videoclipe teria
contratado membros de gangues reais para participarem da produção24.

3.3 ESCOLAS DO CONFLITO

Nestor Sampaio (2018) afirma que as teorias de conflito argumentam que a harmonia social
decorre da força e da coerção, em que há uma relação entre dominantes e dominados. Nesse caso,
não existe voluntariedade entre os personagens para a pacificação social, mas esta é decorrente da
imposição ou coerção.

As teorias do conflito que estudaremos são:

a) LABELLING APPROACH (Também conhecida como interacionismo simbólico,


etiquetamento, rotulação ou reação social) e;

b) CRIMINOLOGIA CRÍTICA OU RADICAL.

Antes de aprofundarmos, entenda rapidamente cada teoria.

TEORIAS DO CONFLITO
LABELLING APPROACH Para esta teoria, a sociedade define o que entende por “conduta
(Também conhecida como desviante”, isto é, todo comportamento considerado perigoso,
interacionismo simbólico, constrangedor, impondo sanções àqueles que se comportarem
etiquetamento, rotulação dessa forma, criando rótulos e escolhendo sobre quem o direito
ou reação social).

24Michael Jackson com gangues reais em Beat It. Disponível em: https://mjbeats.com.br/michael-jackson-com-gangues-
reais-em-beat-it-d8390bbc8e7f. Acesso em: 26/01/2021.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 29
CURSO RDP
META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

penal irá recair, e quase sempre sobre pessoas pobres, negras, em


situação de rua, etc.
De origem marxista, questiona por que o Direito Penal pune de
maneira mais rigorosa as condutas típicas de grupos mais
vulneráveis, como é o caso, por exemplo, do furto de semovente
CRIMINOLOGIA CRÍTICA OU
domesticável, que tem a pena mínima idêntica ao crime de
RADICAL
submissão de pessoa à situação análoga à de escravo, o que
demonstra o descompasso do legislador na proteção de bens
jurídicos.

CAIU NA DPE-PR-2017-FCC: “A criminologia da reação social corresponde a uma teoria do


consenso.”25

Agora vamos analisar com calma a teoria do labelling approach.

3.3.1 LABELLING APPROACH (INTERACIONISMO SIMBÓLICO, ETIQUETAMENTO, ROTULAÇÃO OU


REAÇÃO SOCIAL)

Talvez a mais famosa das escolas do conflito.

A teoria do Labelling approach, também conhecida como interacionismo simbólico,


etiquetamento, rotulação ou reação social, é a queridinha das bancas quando o assunto é teoria
sociológica da criminologia, além de ter grande incidência nos certames.

CAIU NA DPE-SC-2017-FCC: “A teoria do labelling approach também é conhecida como teoria da


anomia e exerceu forte influência sobre o funcionalismo penal”.26

25 ERRADO.
26 ERRADO. Teoria da anomia, como vimos, é outra coisa e não nada a ver com a teoria do labelling approach.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 30
CURSO RDP
META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

Uma das mais importantes teorias de conflito surgiu nos anos 1960 nos Estados Unidos e seus
principais expoentes foram Erving Goffman e Howard Becker.

A teoria do etiquetamento social (ou labelling approach) se baseia no fato de que os agentes
que praticaram condutas desviantes (classificadas como criminosas) são submetidos a uma resposta
ritualizada e estigmatizante (a prisão), o que provoca o distanciamento social e a redução de
oportunidades (estigmatização), fazendo com que surja uma subcultura delinquente com reflexos na
autoimagem. Mesmo após a saída do cárcere o agente sofre o estigma decorrente da
institucionalização (criminalização terciária) e inicie sua carreira criminal, o que gera a reincidência.

CAIU NA DPE-PE-2018-CESPE: “A labelling approach enxerga o comportamento criminoso como


motivado por razões ontológicas ou intrínsecas, e não como decorrente do sistema de controle
social”.27

Sobre a rotulação social, importante são as lições de Nestor Sampaio 28:

(...) Por meio dessa teoria ou enfoque, a criminalidade não é uma qualidade
da conduta humana, mas a consequência de um processo em que se atribui
tal “qualidade” (estigmatização). Assim, o criminoso apenas se diferencia do
homem comum em razão do estigma que sofre e do rótulo que recebe. Por
isso, o tema central desse enfoque é o processo de interação em que o
indivíduo é chamado de criminoso. A sociedade define o que entende por
“conduta desviante”, isto é, todo comportamento considerado perigoso,
constrangedor, impondo sanções àqueles que se comportarem dessa forma.
Destarte, condutas desviantes são aquelas que as pessoas de uma sociedade
rotulam às outras que as praticam. A teoria da rotulação de criminosos cria
um processo de estigma para os condenados, funcionando a pena como
geradora de desigualdades. O sujeito acaba sofrendo reação da família,

27 ERRADO.
28 Idem, p. 63/64.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 31
CURSO RDP
META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

amigos, conhecidos, colegas, o que acarreta a marginalização no trabalho, na


escola. Sustenta-se que a criminalização primária produz a etiqueta ou rótulo,
que por sua vez produz a criminalização secundária (reincidência). A etiqueta
ou rótulo (materializados em atestado de antecedentes, folha corrida
criminal, divulgação de jornais sensacionalistas etc.) acaba por impregnar o
indivíduo, causando a expectativa social de que a conduta venha a ser
praticada, perpetuando o comportamento delinquente e aproximando os
indivíduos rotulados uns dos outros. Uma vez condenado, o indivíduo
ingressa numa “instituição” (presídio), que gerará um processo
institucionalizador, com seu afastamento da sociedade, rotinas do cárcere
etc. Uma versão mais radical dessa teoria anota que a criminalidade é apenas
a etiqueta aplicada por policiais, promotores, juízes criminais, isto é, pelas
instâncias formais de controle social. Outros, menos radicais, entendem que
o etiquetamento não se acha apenas na instância formal de controle, mas
também no controle informal, no interacionismo simbólico na família e escola
(“irmão ovelha negra”, “estudante rebelde”, etc.).

A sociedade define o que entende por “conduta desviante” (criminalização primária),


impondo sanções àqueles que se comportarem dessa forma. Portanto, condutas desviantes são
aquelas que as pessoas de uma sociedade rotulam às outras que as praticam (etiquetamento).

Nesse sentido, cumpre diferenciar a desviação primária da secundária:

DESVIAÇÃO PRIMÁRIA DESVIAÇÃO SECUNDÁRIA


A desviação primária é simplesmente a A desviação secundária, por sua vez, representa
contrariedade às normas, ou seja, o crime os comportamentos desviantes praticados pelo
eventual, não recebendo importância dos indivíduo já estigmatizado. Ou seja, a desviação
teóricos do etiquetamento (justamente pelo secundária se refere às pessoas cujos problemas
fato de que, como dito, não ser objeto de são criados pela reação social ao crime, o que é
estudo da teoria o motivo de as pessoas justamente o objeto de estudo da teoria.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 32
CURSO RDP
META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

praticarem crimes, e sim o controle social sobre


tais condutas).

Você já ouviu falar, no estudo da Criminologia, em CERIMÔNIAS DEGRADANTES?

Vejamos!

Mariana Py Muniz Cappellari, Defensora Pública do Estado do Rio de Grande do Sul,


estabelece que a doutrina (Sérgio Salomão Shecaira) aponta que a decorrência lógica da
criminalização de condutas e da persecução penal não é outra senão o surgimento de um processo
estigmatizante para o condenado, haja vista as cerimônias degradantes, as quais são processos
ritualizados a que se submetem os envolvidos com um processo criminal, em que o indivíduo é
condenado e despojado de sua identidade, recebendo outra identidade, que, por sua vez, é
degradada. Em sendo assim, pode-se falar que a pena atua como geradora de desigualdades, pois
ela cria uma reação por parte da família, amigos, conhecidos, gerando um processo de
marginalização e mais, pode-se assim afirmar que a criminalização primária produz rotulação (folha
de antecedentes), que produz criminalizações secundárias, eis que o rótulo criminal produz a
assimilação de suas características pelas pessoas rotuladas, gerando expectativas sociais de condutas
correspondentes a esse rótulo, perpetuando, assim, o comportamento considerado criminoso e a
aproximação dos indivíduos estigmatizados.29

O professor Shecaira (2018, p. 262/263) 30 lembra que a preocupação com o papel das
cerimônias degradantes atinge a própria discussão do devido processo legal. Em sua obra, lembra
das consequências advindas da irresponsável cobertura de um episódio jornalístico ocorrido há
algum tempo em SP, em que os donos de uma escola infantil foram crucificados pela imprensa de
todo o país por uma acusação que não tinha qualquer base material. Foram presos, a escola
depredada, suas honras violadas, fotos publicadas nas capas dos jornais com manchetes desairosas.
No fim das contas, sequer houve denúncia, e mais de cinco anos depois, a revista Folha de São Paulo

29 Disponível em: https://canalcienciascriminais.jusbrasil.com.br/artigos/249295971/reacao-social-e-prisao-possivel-


dialogo. Acesso em: 26/01/2021.
30 SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. 7.ed. rev., atual. e amp. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2018, p. 262/263.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 33
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META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

publicou uma matéria: “os seis acusados de abuso sexual contra crianças, no episódio que ficou
conhecido como Escola Base, ainda não conseguiram reconstruir suas vidas, arrasadas pela
irresponsabilidade da polícia e da imprensa. Ninguém recebeu qualquer tipo de indenização...”

Ademais, você já ouviu falar em políticas dos quatro Ds?

(...) As consequências políticas da teoria do labelling approach são reduzidas


àquilo que se convencionou chamar “política dos quatro Ds”
(Descriminalização, Diversão, Devido processo legal e
Desinstitucionalização).31

A imagem abaixo resumo a ideia de labelling approach:

Imagem extraída do Manual de Criminologia de Nestor Sampaio

3.3.2 CRIMINOLOGIA CRÍTICA OU RADICAL

Essa é uma importante teoria do conflito, já tendo sido objeto de questionamento em provas
objetivas e orais. Segundo a doutrina (Shecaira, 2018), a teoria crítica (ou radical) é assim denominada
por fazer a mais aguda crítica ao pensamento criminológico tradicional, bem como às instâncias de
controle punitivas. Ao longo dos anos, ela dividiu-se em três grandes correntes: o neorrealismo de
esquerda, a teoria do direito penal mínimo e o pensamento abolicionista.

31 Nestor Sampaio Penteado, p. 63, 2018.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 34
CURSO RDP
META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

Lembra o autor que “entre as contribuições da teoria crítica está o fato de que o fundamento
mais geral do ato desviado deve ser investigado junto às bases estruturais econômicas e sociais que
caracterizam a sociedade na qual vive o autor do delito. Em síntese, a proposta desta teoria para o
processo criminalizador objetiva reduzir as desigualdades de classes e sociais”.

Assim, “o Estado deve criminalizar e punir a criminalidade de classes dominantes com a


máxima intervenção punitiva, e por outro lado, fazer uma minimização da intervenção punitiva para
pequenos delitos (ex.: crimes patrimoniais cometidos sem violência, delitos que envolvam questões
morais e uso de entorpecentes, etc.)”. 32

Sobre o tema, Nestor Sampaio33 anota que:

“a origem histórica dessa teoria de conflito se encontra no início do século


XX, com o trabalho do holandês Bonger, que, inspirado pelo marxismo,
entende ser o capitalismo a base da criminalidade, na medida em que
promove o egoísmo; este, por seu turno, leva os homens a delinquir. Afirma
ainda que as condutas delitivas dos menos favorecidos são as efetivamente
perseguidas, ao contrário do que acontece com a criminalidade dos
poderosos. Portanto, essa teoria, de origem marxista, entende que a
realidade não é neutra, de modo que se vê todo o processo de estigmatização
da população marginalizada, que se estende à classe trabalhadora, alvo
preferencial do sistema punitivo, e que visa criar um temor da criminalização
e da prisão para manter a estabilidade da produção e da ordem social.”

Eduardo Viana34 lembra que “a criminologia crítico radical (nova Criminologia, Criminologia
radical ou Criminologia moderna), surgiu nos anos setenta do século passado. Tem como premissa o
redimensionamento do objeto da Criminologia a partir de uma nova visão do fenômeno criminal.

32 Shecaira, p. 321/322, ibidem.


33 Idem, p. 64.
34 Viana, Eduardo. Criminologia. 6ª Edição, rev., atual. e amp- Salvador: JusPODIVIM, 2018, p. 339.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 35
CURSO RDP
META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

Nesse novo cenário, o papel desempenhado pelas estruturas de poder é conhecido como relevante,
ingressando na atmosfera de análise científica como vetor produtor da criminalidade”.

a) Oposição ao modelo tradicional da criminologia que era a-histórica ou


universal.
b) Ataque à ordem legal constituída ao Direito Penal. O fenômeno criminal é
compreendido, eminentemente, sob a base de condições econômicas e
marginalização.
CRIMINOLOGIA
c) O criminoso passa a ser visto não como um irracional ou um anormal,
CRÍTICA
razão pela qual o crime deve ser estudado a partir de sua perspectiva.
d) Criminologia de inspiração marxista. Em linhas gerais, compreende o
Estado capitalista como principal fator criminógeno.
e) Como consequência do anterior, defendem um intervencionismo
econômico.

É importante sabermos suas principais características:

(...) As principais características da corrente crítica são: a) a concepção


conflitual da sociedade e do direito (o direito penal se ocupa de proteger os
interesses do grupo social dominante); b) reclama compreensão e até apreço
pelo criminoso; c) critica severamente a criminologia tradicional; d) o
capitalismo é a base da criminalidade; e) propõe reformas estruturais na
sociedade para redução. (NESTOR SAMPAIO, Manual Esquemático, p. 64).

Em sua obra “Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal”, Alessandro Barata postula
elaborar uma sociologia jurídico-penal transladando a crítica criminológica da desigualdade das
sociedades capitalistas para o Direito Penal. Tenta articular uma ideia de mínima intervenção penal,
um modelo de substituição das formas de controle, sem, contudo, abdicar das garantias. Como ele
sintetizou: superação do sistema penal tradicional em direção a um sistema de defesa e garantia dos
direitos humanos (Eduardo Viana, Criminologia, p. 340).

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 36
CURSO RDP
META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

Por fim, vale lembrar que a criminologia crítica não é imune a críticas, tendo em vista que
também é criticada por apontar problemas nos Estados capitalistas, não analisando o crime nos
países socialistas. Destacam-se as correntes do neorrealismo de esquerda; do direito penal mínimo
e do abolicionismo penal, que, no fundo, apregoam a reestruturação da sociedade, extinguindo o
sistema de exploração econômica.35

3.4 PRISIONIZAÇÃO

É importante saber, ainda, sobre o instituto da Prisionização, que é conceituado por


Alessandro Baratta nos seguintes termos:

Trata-se da assunção das atitudes, dos modelos de comportamento, dos


valores característicos da subcultura carcerária. Estes aspectos da subcultura
carcerária, cuja interiorização é inversamente proporcional às chances de
reinserção na sociedade livre, têm sido examinados sob o aspecto das
relações sociais e de poder, das normas, dos valores, das atitudes que
presidem estas relações, como também sob o ponto de vista das relações
entre os detidos e o staff da instituição penal. (BARATTA, Alessandro.
Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. 3. ed. Rio de Janeiro: Revan,
2002, p. 184-185).

Portanto, a prisionização nada mais é que um processo de assimilação da cultura prisional, ao


qual são submetidos os indivíduos encarcerados.

Esse conceito caiu exatamente dessa forma na prova da DPE-AM, vejam.

CAIU NA DPE-AM-2018-FCC: Trata-se da assunção das atitudes, dos modelos de comportamento, dos
valores característicos da subcultura carcerária. Estes aspectos da subcultura carcerária, cuja
interiorização é inversamente proporcional às chances de reinserção na sociedade livre, têm sido

35 Nestor Sampaio, idem, p. 64/65.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 37
CURSO RDP
META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

examinados sob o aspecto das relações sociais e de poder, das normas, dos valores, das atitudes que
presidem estas relações, como também sob o ponto de vista das relações entre os detidos e o staff
da instituição penal. (BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. 3. ed. Rio
de Janeiro: Revan, 2002, p. 184-185). O fenômeno retratado pelo trecho acima é chamado de36:
A - criminalização da pobreza.
B - prisionização.
C - direito penal do inimigo.
D - criminologia crítica.
E - encarceramento em massa.

É importante deixar claro que a prisionização também traz efeitos a outras pessoas, além das
submetidas aos cárceres, como é o caso dos agentes de polícia penal (outrora chamados de agentes
penitenciários), vejam:

“O ponto que quero chamar atenção nesse momento é sobre os efeitos da


prisionização nos agentes penitenciários, isto é, sobre as várias outras
pessoas que (não estão presas e) também são diretamente prejudicadas e,
consequentemente, têm seus direitos mitigados diante da catastrófica
situação. Pare pra pensar: se o lugar é insalubre, mal iluminado, pouco
ventilado, inóspito, …, não é somente para quem está preso, mas também
para quem trabalha o dia inteiro lá. Já parou para pensar como deve ser difícil
trabalhar lá dentro? Como deve ser complicado compartilhar dessas
precárias estruturas com as pessoas que estão presas? Todas as precárias
situações dos presídios, quando somadas ao baixo efetivo de funcionários,
faz com que os problemas suportados se tornem insustentáveis,
principalmente diante do iminente risco de confrontos (rebeliões) e fugas, o
que transforma o trabalho diário em uma realidade preocupante.”37 (GRIFOS
NOSSOS).

36GABARITO: B.
37 Disponível em: https://canalcienciascriminais.jusbrasil.com.br/artigos/612530285/os-efeitos-da-prisionizacao-nos-
agentes-penitenciarios. Acesso em: 26/01/2021.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 38
CURSO RDP
META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

3.5 REALISMO CRIMINOLÓGICO DE ESQUERDA

O chamado neorrealismo criminológico de esquerda, segundo Shecaira (2018), “toma seu


nome de realismo para contrapor-se ao idealismo, como são designados os representantes das
tendências críticas em geral. Denomina-se de esquerda para diferenciar-se do movimento realista de
direita, que tanto nos Estados Unidos como na Inglaterra, no começo dos anos 80, exigia mais
repressão contra a criminalidade de massas e contras as minorias étnicas”.

Assim, o realismo criminológico de esquerda:

“foi e é uma corrente da criminologia crítica surgida nos anos 80. Desde os
seus primórdios, almejava engajar-se no debate público sobre o crime e,
consequentemente, disputar o campo político-criminal em contra da
crescente força de criminólogos conservadores. Porém, desde o falecimento
de Jock Young em 2013, permanecia uma latente lacuna teórica realista que
desse conta dos novos acontecimentos na criminologia em geral. Nesse
sentido, Roger Matthews reinaugura um processo de introdução da
criminologia crítica realista para uma nova geração de leitores. Se por si
mesmo “Realist Criminology” já é motivo de controvérsia no mundo
anglófono, é provável que o lançamento da tradução em espanhol de
“Criminología Realista” abra algumas reflexões e, quem sabe, novos
panoramas críticos para a criminologia latino-americana. Se, conforme o
prefácio, com esta obra o objetivo de Roger Matthews é não só reestabelecer
a criminologia realista, mas também contribuir para o desenvolvimento de
uma abordagem mais crítica e progressista ao desenvolvimento do crime e
da punição; o objetivo da presente resenha é delimitar a extensão em que
“Criminologia Realista” alcança essa meta e, nesse processo, apontar os
limites para uma crítica criminológica contemporânea (VITOR STEGEMANN

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 39
CURSO RDP
META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

DIETER, em artigo científico denominado Criminología Realista, de Roger


Matthews)38”.

Alerta o autor, entretanto, que uma das maiores contribuições talvez seja a crítica a correntes
atuais da criminologia crítica, inclusive criminólogos radicais e abolicionistas. Estas criminologias
liberais de esquerda, diz Roger Matthews, afoitas por criticar a ação punitiva estatal, erram
grosseiramente ao não contemplar a verdadeira extensão dos processos de vitimização criminal.
Consequentemente, a falta de foco nas dimensões reais do crime, nomeadamente em relação às
populações vulneráveis, cria uma indisposição por reformar o sistema de justiça criminal (nothing
works).

É de se ressaltar que o Realismo criminológico de esquerda prioriza políticas criminais


preventivas. Esse movimento teórico que se opõe a políticas repressivas imediatistas, em síntese,
entende que não só a reação ao delito, mas o delito em si é um problema verdadeiro que afeta a
classe trabalhadora.

CAIU NA DPE-MA-2018-FCC: “O realismo criminológico de esquerda entende que não só a reação ao


delito, mas o delito em si é um problema verdadeiro que afeta a classe trabalhadora”. 39

3.6 MINIMALISMO E GARANTISMO PENAL.

O movimento minimalista nasce a partir das propostas de alguns autores (entre eles podemos
citar Baratta). Em síntese, para os minimalistas, o direito penal tem que intervir o mínimo possível
(daí a expressão minimalista), de modo que tenha aplicação subsidiária a outras formas de controle
social.

38 Revista Brasileira de Ciências Criminais, vol. 123, ano 24, p. 409-418. São Paulo: Ed. RT, set. 2016.
39 CORRETO.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 40
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META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

CAIU NA DPE-MS-VUNESP-2014: O abolicionismo, ou minimalismo penal, propõe a eliminação total


da pena de prisão como mecanismo de controle social e sua substituição por outro mecanismo de
controle.40

Já o garantismo penal, que não se confunde com o minimalismo, encontra guarida a partir
dos estudos de Ferrajoli, em que foram elaborados, inclusive, os 10 axiomas.41

O garantismo estabelece critérios de racionalidade e civilidade à intervenção penal,


deslegitimando normas ou formas de controle social que se sobreponham aos direitos e garantias
individuais. Assim, o garantismo exerce a função de estabelecer o objeto e os limites do direito penal
nas sociedades democráticas, utilizando-se dos direitos fundamentais, que adquirem status de
intangibilidade (Rogério Sanches, 2016, p. 39, Manual de Direito Penal, Parte Geral).

3.6.1: GARANTISMO PENAL INTEGRAL: Segundo a doutrina, partindo de dois parâmetros do princípio
da proporcionalidade, a saber, a proibição do excesso e a vedação da proteção deficiente, e das
premissas teóricas do neoconstitucionalismo, os defensores do garantismo penal integral
apresentam modelo no qual todas as gerações de direitos fundamentais deveriam ser protegidas, o
que não só melhoraria a proteção dos direitos individuais contra as arbitrariedades do poder punitivo,
como também permitiria o resguardo eficaz dos “anseios da sociedade”. Dessa forma, sob o viés da
vedação do excesso, existiria o denominado garantismo negativo, com raízes na função liberal-
iluminista do Direito Penal e responsável pela garantia das liberdades individuais contra os excessos
punitivos estatais. Sob a ótica da proibição da proteção deficiente, seria vislumbrado o garantismo

40 ERRADO. Como vimos, o minimalismo penal não propõe a eliminação total da pena de prisão como mecanismo de
controle social, mas a intervenção mínima do direito penal, de modo que tenha aplicação subsidiária a outras formas de
controle social.
41 Axiomas: A1) Nulla poena sine crimine (Não há pena sem crime). Princípio da retributividade ou da consequencialidade

da pena em relação ao delito. A2) Nullum crimen sine lege (Não há crime sem lei). Princípio da legalidade, no sentido lato
ou no sentido estrito. A3) Nulla lex (poenalis) sine necessitate (Não há lei penal sem necessidade) Princípio da necessidade
ou da economia do direito penal. A4) Nulla necessitas sine injustia (Não há necessidade sem ofensa a bem jurídico).
Princípio da lesividade ou ofensividade do evento. A5) Nulla injuria sine actione (Não há ofensa ao bem jurídico sem ação).
Princípio da materialidade ou da exterioridade da ação. A6) Nulla actio sine culpa (Não há ação sem culpa) Princípio da
culpabilidade ou da responsabilidade pessoal. A7) Nulla culpa sine judicio (Não há culpa sem processo); Princípio da
jurisdicionalidade no sentido lato ou estrito. A8) Nulla judicium sine accustone (Não há processo sem acusação) Princípio
acusatório ou da separação ente o juiz e a acusação. A9) Nulla accusatio sine probatione (Não há acusação sem prova)
Princípio do ônus da prova ou da verificação. A10) Nulla probatio sine defensione Princípio do contraditório ou da defesa
ou da falseabilidade.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 41
CURSO RDP
META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

positivo, cuja função seria a de assegurar os direitos de prestação por parte do Estado e não apenas
aqueles “que podem ser denominados de direitos de prestação de proteção, em particular, contra
agressões provenientes de comportamentos delitivos de determinadas pessoas”.42

3.6.2 GARANTISMO POSITIVO 3.6.3 GARANTISMO NEGATIVO


(proibição da proteção deficiente) (vedação do excesso)
Esta vertente cuida de proteger os direitos Garantismo que se preocupa somente com a
fundamentais de terceiros da serem violados restrição indevida da liberdade do cidadão.
pelos criminosos, bem como o direito de ação
do Estado para punir estes últimos.
Segundo Alexandre Assunção e Silva, Procurador da República, o garantismo dito positivo pode até
estar relacionado com os direitos fundamentais de dimensão positiva, como o direito à segurança
(direito meta-individual, coletivo), mas não com o conceito de garantismo, que se confunde com
o de garantismo negativo.43

Contudo, vale salientar que o modelo de garantismo penal proposto por Luigi Ferrajoli não é
aquele que exclui o Direito Penal, mas que orienta que as investigações, o processo penal e a
aplicação da sanção em estrita obediência a um rito normativo, com um rigoroso respeito aos limites
legais e às garantias fundamentais, de forma a reduzir ao máximo toda e qualquer lacuna que
possibilite uma atuação discricionária, arbitrária e com subjetivismo, haja vista que “o juízo penal –
como ademais toda atividade judicial – é um “saber-poder”, quer dizer, uma combinação de
conhecimento (veritas) e de decisão (auctoritas). Em tal entrelaçamento, quanto maior é o poder
tanto menor será o saber, e vice-versa” (FERRAJOLI, 2002, p. 38). 44

42 RAMOS, Beatriz Vargas. CHAVES, Álvaro Guilherme de Oliveira. Artigo com o título: "O GARANTISMO PENAL INTEGRAL
E SUAS CONTRADIÇÕES COM O GARANTISMO PENAL DE LUIGI FERRAJOLI". Direito.UnB | Janeiro – Abril, 2020, V. 04, N.
1 | ISSN 2357-8009
43 SILVA, Alexandre Assunção e. Garantismo “positivo” é garantismo? Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina,

ano 17, n. 3213, 18 abr. 2012. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/21541. Acesso em: 26/01/2021.
44 Beltramin, Sara Maria. O Jogo Processual Penal e a Ausência de Equilíbrio na Aplicabilidade da Teoria do Garantismo

Penal Integral. Artigo disponível em: https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-penal/o-jogo-processual-penal-e-a-


ausencia-de-equilibrio-na-aplicabilidade-da-teoria-do-garantismo-penal-integral/#_ftn1. Acesso em: 26/01/2020.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 42
CURSO RDP
META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

3.6.4: GARANTISMO HIPERBÓLICO MONOCULAR: você já ouviu falar nisso? Sabemos que o
garantismo penal foi uma doutrina criada por Luigi Ferrajoli, no sentido de que o direito penal deve
assegurar a garantia dos direitos mínimos. Foi por isso que o próprio Ferrajoli criou os famosos “10
axiomas do garantismo penal” vistos acima. No entanto, o que seria o garantismo hiperbólico
monocular? Vamos entender. Para parte da doutrina, a leitura do garantismo penal de Ferrajoli foi
feita de maneira equivocada no Brasil, de forma que o garantismo passou ser visto como uma teoria
criada apenas para beneficiar o réu. Surge, assim, o termo “garantismo hiperbólico monocular”
cunhada pelo Procurador da República Douglas Fischer. A expressão “hiperbólico” foi dada no sentido
de que o garantismo seria aplicado de forma “ampliada”, ou seja, “muito garantista”. E “monocular”
porque só “enxerga” um lado do processo, isto é, apenas os direitos e garantias do RÉU. Em resumo,
o garantismo hiperbólico monocular é o contrário do garantismo penal integral, pois este visa
assegurar os direitos não apenas do réu, mas também os das vítimas.

Par Ferrajoli, o garantismo pode ser definido segundo três prismas:

• Modelo normativo
• Teoria Jurídica
• Filosofia Política.

Segundo o autor, em sua obra “Direito e Razão”45, temos o seguinte:

“Segundo um primeiro significado, "garantismo" designa um modelo


normativo de direito: precisamente, no que diz respeito ao direito penal, o
modelo de "estrita legalidade, próprio do Estado de direito, que sob o plano
epistemológico se caracteriza como um sistema cognitivo ou de poder
mínimo, sob o plano político se caracteriza como uma técnica de tutela
idônea a minimizar a violência e a máxima liberdade e, sob o plano jurídico,
como um sistema de vínculos impostos à função punitiva do Estado em

45FERRAJOLI, LUIGI. Direito e razão: teoria do garantismo penal. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002, p. 683 e
seguintes.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 43
CURSO RDP
META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

garantia dos direitos dos cidadãos. É, consequentemente, "garantista" todo


sistema penal que se conforma normativamente com tal modelo e que o
satisfaz efetivamente. (...)

Em um segundo significado, "garantismo" designa uma teoria jurídica da


"validade" e da "efetividade" como categorias distintas não só entre si mas,
também, pela "existência" ou "vigor" das normas. Neste sentido, a palavra
garantismo exprime uma aproximação teórica que mantém separados o "ser"
e o "dever ser" no direito; e, aliás, põe como questão teórica central, a
divergência existente nos ordenamentos complexos entre modelos
normativos (tendentemente garantistas) e práticas operacionais
(tendentemente antigarantistas), interpretando-a com a antinomia - dentro
de certos limites fisiológica e fora destes patológica - que subsiste entre
validade (e não efetividade) dos primeiros e efetividade (e invalidade) das
segundas.

(...) Segundo um terceiro significado, por fim, "garantismo" designa uma


filosofia política que requer do direito e do Estado o ônus da justificação
externa com base nos bens e nos interesses dos quais a tutela ou a garantia
constituem a finalidade. Neste último sentido o Garantismo (pressupõe) a
doutrina laica da separação entre direito e moral, entre validade e justiça,
entre ponto de vista interno e ponto de vista externo na valoração do
ordenamento, ou mesmo entre o "ser" e o "dever ser” do direito. E equivale
à assunção, para os fins da legitimação e da perda da legitimação éticopolítica
do direito e do Estado, do ponto de vista exclusivamente externo

Alguns doutrinadores também chamam o minimalismo de “abolicionismo moderado”, o que


é diferente do abolicionismo radical (veremos abaixo).

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 44
CURSO RDP
META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

3.6.5 MINIMALISMO PENAL OU 3.6.6 ABOLICIONISMO PENAL


ABOLICIONISMO MODERADO (RADICAL)
O minimalismo não discorda do direito penal, na O abolicionismo penal tem como objetivo a
verdade, ele até o aceita. No entanto, como o radical mudança do sistema penal. Dentro do
próprio nome denota, para os minimalistas, o abolicionismo há várias vertentes.
direito penal deve ser mínimo, havendo de
existir sempre a busca por alternativas No entanto, a que tem mais peso para nossa
humanizadas. Quando todas falharem, é prova é a defendida por Louk Hulsman, que é
possível a incidência do direito penal. considerado um dos maiores pensadores da
teoria abolicionista de todos os tempos.
Também é importante dizer que Eugenio Raul
Zaffaroni (1990) também é um grande Para Louk Hulsman, o sistema penal precisa de
propulsor do movimento minimalista, cujo uma radical transformação, em que deve ser
enfoque, entretanto, era como fase abandonada a ideia de cárcere, e também de
intermediária para o abolicionismo. todos os sistemas de controle formais.

3.7 ABOLICIONISMO PENAL E SUAS VERTENTES

Sobre o tema “abolicionismo”, é preciso aprofundar, pois é um tema importantíssimo para


nossas provas.

Lembra Cleber Masson que o movimento abolicionista encontra sua origem na Holanda, nos
estudos de Louk Hulsman (visto acima), e na Noruega, nos pensamentos de Nils Christie e Thomas
Mathiesen. Portanto, esses três são os principais pensadores sobre o tema.

Beleza. Mas em que consiste o abolicionismo penal?

(...) Consiste em uma nova forma de pensar o Direito Penal, mediante o


debate crítico do fundamento das penas e das instituições responsáveis pela
aplicação desse ramo do Direito. Para enfrentar a crise penitenciária que

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 45
CURSO RDP
META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

cresce a cada dia, nos mais variados cantos do mundo, propõe-se a


descriminalização de determinadas condutas (o crime deixa de existir) e a
despenalização de outros comportamentos (subsiste o crime, mas
desaparece a pena). Em casos residuais, atenuam-se consideravelmente as
sanções penais dirigidas às condutas ilícitas de maior gravidade. O
abolicionismo penal parte da seguinte reflexão: a forma atual de punição,
escolhida pelo Direito Penal, é falha, pois a reincidência aumenta
diariamente. Além disso, a sociedade não sucumbe à prática de infrações
penais, mormente se forem consideradas as cifras negras da justiça penal, ou
seja, os crimes efetivamente praticados, porém ignorados pelos operadores
do Direito. (CLEBER MASSON, 2014 p. 656).

No entanto, é importante ressaltar que, apesar de haver três principais autores sobre o tema,
o abolicionismo penal possui variantes entre seus partidários.

2.7.1 ABOLICIONISMO PARA LOUK HULSMAN

Lembra Cleber Masson46 que Louk Hulsman apregoa um abolicionismo fenomenológico, e


ampara suas ideias no entendimento de que o sistema penal, constitui-se como um problema em si
mesmo. Cuida-se de uma inutilidade, incapaz de resolver os problemas que se propõe a solucionar.
Destarte, sustenta a sua abolição total, por tratar-se de um sistema que causa sofrimentos
desnecessários, e, mais ainda, acarreta uma distribuição de “justiça” socialmente injusta, pois produz
inúmeros efeitos negativos nas pessoas a ele submetidas, apresentando completa ausência de
controle por parte do Estado.

Em resumo:

(...) O penalista holandês prega, então, a abolição imediata do sistema penal,


afastando o Poder Público de todo e qualquer conflito, solucionando-se os

46 Idem, p. 656.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 46
CURSO RDP
META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

problemas sociais por instâncias intermediárias sem natureza penal. Além


disso, propõe a eliminação de nomenclaturas utilizadas na justiça penal,
eliminando, dentre outros, os termos “crime” e “criminoso”. Trata o
fenômeno crime como um problema social, o que enseja a pacificação dos
conflitos em um ambiente diverso do atualmente existente.

CAIU NA DPE-AM-2018-FCC: O abolicionismo penal de Louk Hulsman defende o fim da pena de prisão
e um direito penal baseado em penas restritivas de direito e multa. 47

3.7.2 ABOLICIONISMO PARA THOMAS MATHIESEN E NILS CHRISTIE – ABOLICIONISMO


FENOMENOLÓGICO-HISTORICISTA

Os autores Thomas Mathiesen e Nils Christie compartilham de um abolicionismo


fenomenológico-historicista. Lembra Cleber Masson48 que os autores vinculam o sistema penal à
estrutura do sistema capitalista, razão pela qual, além da sua eliminação, defendem o fim de todo e
qualquer método de repressão existente na sociedade.

2.8 CRIMINOLOGIA SOCIALISTA

O Professor André Estefam (2018) aponta que a Criminologia Socialista (Engels e Marx)
considerava que as causas do crime se prendiam à miséria, à cobiça, e à ambição, bases do sistema
capitalista. Com o combate ao capitalismo, se chegaria ao fim das tragédias sociais e ao crime.

3.9 CRIMINOLOGIA VERDE

Segundo a doutrina, o termo “criminologia verde” foi originalmente criado por Lynch em 1990
e é atualmente utilizado para descrever trabalhos em criminologia que focam especificamente em

47 ERRADA. Como vimos, Louk Hulsman sustenta a sua abolição total do direito penal (abolicionismo radical), por tratar-
se de um sistema que causa sofrimentos desnecessários, e, mais ainda, acarreta uma distribuição de “justiça” socialmente
injusta, pois produz inúmeros efeitos negativos nas pessoas a ele submetidas, apresentando completa ausência de
controle por parte do Estado.
48 Idem, p. 656.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 47
CURSO RDP
META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

questões referentes a danos, transgressões e crimes que provocam prejuízos ao ambiente natural, à
diversidade de espécies (humana e não humanas) e ao planeta. Esta escolha fez-se necessária para a
diferenciação de outro ramo da criminologia que também é referido como “criminologia ambiental”
(WHITE, 2008; SOUTH, 1998).49

Neste caso, as empresas acabam sendo as maiores violadoras do meio ambiente, embora tal
prática seja de forma velada, tendo em vista que geralmente dão aparência lícita às atividades
desenvolvidas por elas (o chamado greenwashing) sobretudo através de campanhas publicitárias.

A Corte IDH já constatou esse tipo de violação ao meio ambiente, como por exemplo no “Caso
do Povo Saramaka vs. Suriname”.50

3.10 CRIMINOLOGIA FEMINISTA

O Professor Salo de Carvalho e Mariana de Assis Brasil, em um trabalho intitulado


“Criminologia Feminista com Criminologia Crítica: Perspectivas teóricas e teses convergentes”,
publicado em 2020 pela Revista Direito e Praxes da UERJ, 51 estabelecem que:

(...) “A criminologia feminista dará um passo adiante e afirmará, sobretudo


nos delitos sexuais que carregam o rótulo de um dos crimes mais bárbaros,
que o delinquente se encontra no ambiente social mais seguro: o espaço
privado do lar.

A criminologia feminista demonstrará como a maioria dos crimes sexuais


acontece dentro de casa e que o agressor é conhecido da vítima,
normalmente seu companheiro ou seu pai.

49 RIBEIRO, Renata Esteves. Dissertação de mestrado: “Criminologia verde: crimes ambientais no Distrito Federal.
Universidade de Brasília”. Disponível em: https://repositorio.unb.br/handle/10482/31906. Acesso em: 26/01/2021.
50 Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2016/04/cc1a1e511769096f84fb5effe768fe8c.pdf.
Acesso em: 26/01/2021.
51 Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistaceaju/article/view/38240/30537. Acesso em:

26/01/2021.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 48
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META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

A criminologia feminista desmistifica a ideia de que a violação sexual


acontece longe de todos, em lugares ermos, impulsionada por uma libido
incontrolável que se manifesta em um ser rude e perverso. Ao contrário, o
estupro normalmente acontece no quarto ao lado, como manifestação
material da opressão de gênero, como forma de marcar o poder de domínio
do homem sobre a mulher”.

Em sua obra “Antimanual de criminologia”, Salo de Carvalho lembra que “às criminologias
feministas coube o papel de dar visibilidade e trazer ao debate o modelo patriarcal que estrutura a
sociedade ocidental, com objetivo de desconstruir os discursos sexistas que culpabilizam, punibilizam
ou vitimizam as mulheres, seja na qualidade de autoras ou vítimas de crimes”.52

3.11 CRIMINOLOGIA CULTURAL

A criminologia cultural também é trabalhada pelo professor Salo de Carvalho em sua obra
“Antimanual de Criminologia”. Apesar de não muito comum, a “criminologia cultural” é ponto
expresso em alguns editais da Defensoria Pública, como ocorre na DPERJ.

O autor, antes de tudo, lembra do crescimento de imagens do crime e da violência, seja em


televisão, cinema, teatro, e mais atualmente no mundo virtual. Com essa hiperexposição, surgem
novos sentimentos.

Salo de Carvalho lembra que “no emaranhado de questões que envolvem transgressão, crime,
violência e sistema punitivo, Keith Hayward e Jock Young indagam sobre o significado e o alcance
teórico da perspectiva criminológica intitulada cultural (cultural criminology) e, ao traçar as principais
hipóteses da concepção emergente, ressaltam que procura, “acima de tudo, situar o crime e o seu
controle no âmbito da cultura, isto é, perceber o crime e as agências de controle como produtos
culturais.”53 (GRIFOS NOSSOS).

52 Carvalho, Salo de. Antimanual de criminologia. – 6. ed. rev. e ampl. – São Paulo : Saraiva, 2015, p.65.
53 Op.cit, p. 71.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 49
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META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

Segundo a doutrina, o marco dos estudos sobre criminologia cultural é a pesquisa de Jeff
Ferrell, em 1996 (atenção em provas abertas), na qual o autor analisa a cultura desviante do grafite
e a sua inserção social na paisagem urbana e na arquitetura da cidade.

É o que estabelece a doutrina:

O marco dos estudos sobre criminologia cultural é a pesquisa de Jeff Ferrell,


Crimes of Style: Urban Graffiti and the Politics of Criminality (1996), na qual o
autor analisa a cultura desviante do grafite em Denver (Colorado) e a sua
inserção social na paisagem urbana e na arquitetura da cidade. A tensão
entre as práticas de grafitagem como expressão cultural de determinadas
tribos urbanas e o seu confronto com campanhas contrárias serviu ao
pesquisador como estudo de caso sobre temas como poder, autoridade e
resistência, subordinação e insubordinação, abrindo espaço para
possibilidades teóricas e metodológicas que intitulou, na época, criminologia
anarquista.[61] A denominação primeira surge do cuidadoso exame da
grafitagem como forma constitutiva de resistência anárquica à autoridade
política e econômica. Destaca Ferrell que “na qualidade de crime de estilo, [o
grafite] colide com a estética das autoridades políticas e econômicas que
atuam como empresários morais objetivando criminalizar e reprimir a
grafitagem.”[62] Fortemente inspirado em Kropotkin, o investigador propõe
análise do crime e da criminalidade informada pela perspectiva anarquista de
ruptura com a autoridade – sobretudo com a incrustação da autoridade nas
relações humanas – e com os sistemas hierárquicos de dominação, o que
permitiria abertura de inimagináveis focos de investigação criminológica.
(Carvalho, Salo de. Antimanual de criminologia. – 6. ed. rev. e ampl. – São
Paulo: Saraiva, 2015, p.71/72).

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 50
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META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

3.12 CRIMINOLOGIA QUEER

Salo de Carvalho, em artigo publicado pela IBCRIM54, intitulado “TRÊS HIPÓTESES E UMA
PROVOCAÇÃO SOBRE HOMOFOBIA E CIÊNCIAS CRIMINAIS: QUEER(ING) CRIMINOLOGY” aponta que
é possível afirmar “(...) que a cultura ocidental é regida por uma espécie de ideal do macho ou
vontade de masculino que institui como regra a masculinidade heterossexual e que provoca, como
consequência direta, a opressão da mulher e a anulação das masculinidades não-hegemônicas
(diversidade sexual). A instrumentalização desta hipermasculinidade no cotidiano ocorre mediante
formas conhecidas de violência: violência de gênero e homofobia”.

No mesmo estudo, lembra o autor que apenas em 1990 a Organização Mundial da Saúde
(OMS) excluiu a homossexualidade do catálogo das doenças mentais (Classificação Internacional de
Doenças – CID) – o homossexualismo era considerado um desvio ou transtorno sexual análogo à
bestialidade, à pedofilia, ao transvestismo, ao exibicionismo, ao transexualismo, à frigidez, à
impotência, ao fetichismo, ao masoquismo e ao sadismo (CID-09, códigos 302).

Em resumo, de uma maneira simples, a Criminologia Queer nega o heterossexismo, sendo a


favor de uma sociedade que combata restrições a liberdade sexual, e que lute pela defesa dos direitos
das pessoas LGBTQI+, punindo criminalmente atos homofóbicos e transfóbicos.

Por fim, Salo de Carvalho (2012) identifica três níveis de manifestação da violência
heterossexista ou homofóbica:

“Creio que seria possível identificar três níveis de manifestação da violência


heterossexista ou homofóbica: O primeiro, da violência simbólica (cultura
homofóbica), a partir da construção social de discursos de inferiorização da
diversidade; o segundo, da violência das instituições (homofobia de Estado),
com a criminalização e a patologização das identidades não-heterossexuais;

54 Disponível em:
https://www.researchgate.net/publication/334899559_Tres_hipoteses_e_uma_provocacao_sobre_homofobia_e_cien
cias_criminais_quering_criminology. Acesso em: 26/01/2021.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 51
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META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

o terceiro, da violência interpessoal (homofobia individual), no qual a


tentativa de anulação da diversidade se concretiza em atos de violência real”.
(2012, CARVALHO, Salo de. Boletim IBCCRIM - Ano 20 - Nº 238 - setembro –
2012). (GRIFOS NOSSOS).

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 52
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QUESTÕES PARA FIXAR


Questão 01

Para a Escola Clássica, o homem é um ser livre e racional e, por isso, a pena deve ter caráter
retributivo. São princípios que fundamentam a referida escola: a) livre arbítrio; b) penas
humanizadas; c) penas como retribuição ao mal causado; e d) método e raciocínio lógico-dedutivo.

CERTO ERRADO

Questão 02

A escola positivista da criminologia teve apenas duas fases: a antropológica e a jurídica.

CERTO ERRADO
Questão 03

Cesare Lombroso defendia que o crime tinha razões tanto antropológicas como físicas e culturais.

CERTO ERRADO

Questão 04

Dentre as teorias criminológicas contemporâneas destacam-se as teorias de consenso, das quais são
exemplos a teoria do labelling approach e a teoria crítica ou radical.

CERTO ERRADO

Questão 05

As teorias de consenso entendem que os objetivos da sociedade são atingidos quando há o


funcionamento perfeito de suas instituições, com os indivíduos convivendo e compartilhando as
metas sociais comuns, concordando com as regras de convívio. Desta forma, partem dos seguintes
postulados: toda sociedade é composta de elementos perenes, integrados, funcionais, estáveis, que
se baseiam no consenso entre seus integrantes.

CERTO ERRADO

Questão 06

Para a Escola de Chicago, o comportamento do criminoso é aprendido, nunca herdado, criado ou


desenvolvido pelo sujeito ativo. Ou seja, pressupõe um processo de apreensão de comportamentos
desviantes, que requer conhecimento e habilidade para se locupletar das ações desviantes.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 53
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CERTO ERRADO

Questão 07

Para a teoria do labelling approach, a sociedade define o que entende por “conduta desviante”, isto
é, todo comportamento considerado perigoso, constrangedor, impondo sanções àqueles que se
comportarem dessa forma, criando rótulos e escolhendo sobre quem o direito penal irá recair.

CERTO ERRADO

Questão 08

A prisionização pode ser conceituada como a assunção das atitudes, dos modelos de comportamento
e dos valores característicos da subcultura carcerária, por parte daqueles que estão detidos.

CERTO ERRADO

Questão 09

O movimento minimalista defende que o direito penal tem que intervir o mínimo possível, de modo
que seja garantido que tenha aplicação subsidiária a outras formas de controle social.

CERTO ERRADO

Questão 10

Para Louk Hulsman, que defende a teoria abolicionista (radical), o sistema penal precisa de uma
radical transformação, em que deve ser abandonada a ideia de cárcere, e também de todos os
sistemas de controle formais.

CERTO ERRADO

GABARITO

1.C 2.E 3.E 4.E 5.C

6.E 7.C 8.C 9.C 10.C

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 54
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QUESTÕES PARA FIXAR – COMENTÁRIOS


Questão 01

Para a Escola Clássica, o homem é um ser livre e racional e, por isso, a pena deve ter caráter
retributivo. São princípios que fundamentam a referida escola: a) livre arbítrio; b) penas
humanizadas; c) penas como retribuição ao mal causado; e d) método e raciocínio lógico-dedutivo.

GAB: C. Para a Escola Clássica a pena deveria ter nítido caráter retributivo, baseando-se nos princípios
supracitados.

Questão 02

A escola positivista da criminologia teve apenas duas fases: a antropológica e a jurídica.

GAB: E. A escola positivista da criminologia teve três fases, a antropológica (Lombroso), a sociológica
(Ferri) e a jurídica (Garófalo).

Questão 03

Cesare Lombroso defendia que o crime tinha razões tanto antropológicas como físicas e culturais.

GAB: E. Enrico Ferri foi o responsável por defender que o crime tinha tanto razões antropológicas,
físicas e culturais. Ele é o responsável pela fase sociológica da escola positivista.

Questão 04

Dentre as teorias criminológicas contemporâneas destacam-se as teorias de consenso, das quais são
exemplos a teoria do labelling approach e a teoria crítica ou radical.

GAB: E. Os exemplos citados, como vimos, referem-se às teorias de conflito.

Questão 05

As teorias de consenso entendem que os objetivos da sociedade são atingidos quando há o


funcionamento perfeito de suas instituições, com os indivíduos convivendo e compartilhando as
metas sociais comuns, concordando com as regras de convívio. Desta forma, partem dos seguintes
postulados: toda sociedade é composta de elementos perenes, integrados, funcionais, estáveis, que
se baseiam no consenso entre seus integrantes.

GAB: C. É exatamente o que preconizam as teorias de (ou do) consenso.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 55
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META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

Questão 06

Para a Escola de Chicago, o comportamento do criminoso é aprendido, nunca herdado, criado ou


desenvolvido pelo sujeito ativo. Ou seja, pressupõe um processo de apreensão de comportamentos
desviantes, que requer conhecimento e habilidade para se locupletar das ações desviantes.

GAB: E. Esta é a tese defendida pela teoria da associação diferencial, e não pela Escola de Chicago.

Questão 07

Para a teoria do labelling approach, a sociedade define o que entende por “conduta desviante”, isto
é, todo comportamento considerado perigoso, constrangedor, impondo sanções àqueles que se
comportarem dessa forma, criando rótulos e escolhendo sobre quem o direito penal irá recair.

GAB: C. Lembrar que essa teoria também é chamada de teoria do etiquetamento, justamente por
preconizar que a sociedade é que define o que seria conduta desviante, criando rótulos, que recaem
quase sempre sobre as minorias.

Questão 08

A prisionização pode ser conceituada como a assunção das atitudes, dos modelos de comportamento
e dos valores característicos da subcultura carcerária, por parte daqueles que estão detidos.

GAB: C. A referida definição é abordada por Alessandro Baratta. De fato, “é a partir da


"prisionalização" que as tradições, valores, atitudes e costumes impostos pela população carcerária
são apreendidos pelos internos, como uma forma natural de adaptação ou até mesmo de
sobrevivência ao rígido sistema prisional”.55

Questão 09

O movimento minimalista defende que o direito penal tem que intervir o mínimo possível, de modo
que seja garantido que tenha aplicação subsidiária a outras formas de controle social.

GAB: C. Essa é a tese defendida pelo movimento minimalista.

Questão 10

Para Louk Hulsman, que defende a teoria abolicionista (radical), o sistema penal precisa de uma
radical transformação, em que deve ser abandonada a ideia de cárcere, e também de todos os
sistemas de controle formais.

GAB: C. De fato, o abolicionismo objetiva uma mudança radical no sistema penal, assim como
proposto por Louk Hulsman.
55 Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932006000400006. Acesso em:
26/01/2021.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 56
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META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

DIREITO PENAL

Teoria da pena

De volta ao Direito Penal. #MELHORMATÉRIA

E nada melhor do que iniciar falando sobre TEORIA DA PENA, um assunto que despenca tanto
em Direito Penal como em Criminologia.

Em síntese, saibam que a pena é uma espécie de sanção penal – ao lado de medidas de
segurança. No entanto, as penas têm caráter retributivo, trabalhando com a ideia de culpabilidade.

Em resumo, sanção penal é um gênero, e pena é uma espécie de sanção penal, ao lado das
medidas de segurança, essas ligadas à noção de periculosidade.

SANÇÃO PENAL
PENA Culpabilidade.
MEDIDAS DE SEGURANÇA Periculosidade.

Agora vamos entender as principais teorias da pena, cobradas várias vezes em provas de
Defensoria Pública.

1. TEORIAS LEGITIMADORAS DAS PENAS


As teorias legitimadoras são assim chamadas porque de fato “legitimam a
pena”.
1.1 TEORIA
ABSOLUTA A teoria absoluta, bem trabalhada por Kant e Hegel, pressupõe tão somente
(OU RETRIBUTIVA) a retribuição ao mau causado. Portanto, se alguém comete crime deve ele
ser punido, porque a pena é uma retribuição ética que se justifica pela moral,
cuja pena deve ser aplicada exclusivamente pelo mal causado.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 57
CURSO RDP
META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

Para Hegel: a justificação da pena é de ordem jurídica, em virtude da


necessidade de se reparar o direito por meio de um mal que restabeleça a
ordem legal violada.

Para Kant: a justificação da pena é de ordem ética, com base no valor moral
da lei pena infringida.

EM RESUMO: As teorias absolutas (Kant, Hegel) entendem que a pena é um


imperativo de justiça, negando fins utilitários; pune-se porque se cometeu o
delito.
CAIU NA DPE-MG-2019-FUNDEP: “Para a Teoria Absoluta da Pena, a pena se
justifica não para retribuir o fato delitivo cometido, mas, sim, para prevenir a
sua prática. Vale dizer, aqui a pena se impõe para que não volte a delinquir e
não pelo simples fato de ter delinquido”.56
A outra importante teoria justificadora da pena é a Teoria Preventiva. Ela se
desdobra em preventiva especial (positiva e negativa) e geral (positiva e
negativa). Não se assuste, não é difícil de aprender.
CAIU NA DPE-MG-2019-FUNDEP: “A característica essencial da Teoria
Relativa da Pena consiste em conceber a pena como um mal, um castigo,
como retribuição ao mal causado por meio do delito, de modo que sua
1.2 TEORIA
PREVENTIVA OU imposição estaria justificada, não como meio para o alcance de fins futuros,
RELATIVA mas pelo valor axiológico intrínseco de punir o fato passado57.

EM RESUMO: as teorias relativas ensejam um fim utilitário para a punição,


sustentando que o crime não é causa da pena, mas ocasião para que seja
aplicada; baseia-se na necessidade social (punitur ne peccetur). Seus fins são
duplos: prevenção geral (intimidação de todos) e prevenção particular

56 ERRADO. A teoria absoluta da pena é focada na reprovação da conduta (retribuição).


57 ERRADO. Como vimos, na Teoria Relativa da Pena (teoria preventiva) o que se busca é a prevenção de novos delitos .

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 58
CURSO RDP
META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

(impedir o réu de praticar novos crimes; intimidá-lo e corrigi-lo). (NESTOR


SAMPAIO, MANUAL ESQUEMÁTICO, P. 90).
PREVENÇÃO GERAL: prevenção GERAL não está ligada a uma pessoa, mas a
sociedade como um todo.

Prevenção geral positiva: faz com que as pessoas (sociedade em geral) saiba
da existência e da força da lei penal.

Prevenção geral negativa58: o objetivo aqui é a intimidação de possíveis


criminosos (aqueles presentes na sociedade).
1.2.1 PREVENÇÃO
GERAL CAIU NA DPE-MG-2019-FUNDEP: “A prevenção geral negativa ou
intimidatória assume a função de dissuadir os possíveis delinquentes da
prática de delitos futuros por meio da ameaça de pena, ou predicando com o
exemplo do castigo eficaz; a prevenção geral positiva assume a função de
reforçar a fidelidade dos cidadãos à ordem social a que pertencem”. 59

CAIU NA DPE-AM-FCC-2018: “A teoria da prevenção geral negativa é utilizada


como discurso legitimador de novas incriminações, a despeito de dificuldades
empíricas de sua comprovação na realidade brasileira”.60

58 Segundo Ferrajoli, “inobstante livres da confusão substancialista entre direito e moral, as doutrinas da prevenção geral
negativa são também idôneas a fundar modelos de direito penal máximo, pelo menos nos termos em que normalmente
se fundam. Tal assertiva vale, seguramente, para a primeira das duas versões acerca da prevenção geral, ou seja, aquela
baseada na eficácia deterrente do exemplo fornecido com a aplicação da pena, (...) que verifica-se em Grócio, Hobbes,
Locke, Pufendorf, Thomasius, Beccaria, Bentham, Filangieri e, em geral, nos pensadores jusnaturalistas dos séculos XVII
e XVIII. Mais do que qualquer outra doutrina utilitarista, esta ideia da função exemplar da execução da pena dá margem,
com efeito, à objeção kantiana segundo a qual nenhuma pessoa pode ser utilizada como meio para fins a ela estranhos,
ainda que sociais e elogiáveis. E, em se condividindo tal princípio moral, referida justificação do direito penal é
expressamente imoral. Ademais, tal concepção da finalidade da pena legitima intervenções punitivas orientadas para a
máxima severidade, privadas de qualquer certeza e garantia, tais como a pena "exemplar", e, até mesmo, a "punição do
inocente", desvinculada da culpabilidade e da própria verificação da existência do crime, exatamente como acontece no
extermínio e na represália. Ferrajoli, Luigi Direito e razão: teoria do garantismo penal - São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2002, p. 223.
59 CORRETO.
60 CORRETO.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 59
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META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

PREVENÇÃO ESPECIAL: atua em sujeitos específicos.

Especial positiva: a principal função é de ressocializar o condenado.


Relaciona-se com a concepção etiológica de crime.

CAIU NA DPE-SC-2017-FCC: “A prevenção especial positiva relaciona-se com


a concepção etiológica de crime”.61

Especial negativa: busca impedir que o condenado pratique novos crimes,


para evitar a reincidência.

CRÍTICAS: A prevenção especial e a geral não funcionam no Brasil. Primeiro,


1.2.3 PREVENÇÃO
a pessoa submetida à prisão é exposta a uma forma de tratamento que viola
ESPECIAL
todos os seus direitos fundamentais assegurados pela Constituição, e
segundo o índice de reincidência no Brasil ainda é bem elevado. Assim, o
candidato deve expor, de maneira crítica, que a teoria preventiva, geral e
especial, são falhas no Brasil, em principal a prevenção especial positiva.
CAIU NA DPE-AM-2018-FCC: “A teoria da prevenção especial negativa tem
como exemplo concreto as saídas temporárias na execução penal”.62

CAIU NA DPE-MG-2019-FUNDEP: “De acordo com a classificação sugerida por


Ferrajoli, as teorias da prevenção especial podem ser formalmente divididas
em teorias da prevenção especial positiva, dirigidas à reeducação do
delinquente, e teorias da prevenção especial negativa, voltadas à eliminação
ou neutralização do delinquente perigoso”.63

61 CORRETO.
62 ERRADO. A saída temporária é um exemplo de prevenção especial positiva.
63 CERTO.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 60
CURSO RDP
META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

Nosso ordenamento jurídico adotou a teoria mista (ou eclética), misturando


as finalidades retributivas e preventivas da pena (art. 59 do Código Penal).

1.3 TEORIA MISTA EM RESUMO: as teorias mistas conjugam as duas primeiras, sustentando o
OU ECLÉTICA caráter retributivo da pena, mas acrescentam a este os fins de reeducação do
(ADOTADA) criminoso e intimidação. A penologia é a disciplina integrante da criminologia
que cuida do conhecimento geral das penas (sanções) e castigos impostos
pelo Estado aos violadores da lei. (NESTOR SAMPAIO, MANUAL
ESQUEMÁTICO, P. 90).

Pessoal, essas são as teorias legitimadoras, porque buscam, como vimos, “justificar” a pena.

Agora vamos estudar as teorias DESlegitimadoras, em principal a teoria negativa/agnóstica da


pena e a teoria materialista dialética.

1.4 TEORIAS DESLEGITIMADORAS

1.4.1 TEORIA NEGATIVA/AGNÓSTICA DA PENA

Juarez Cirino64 lembra que:

do ponto de vista científico, a teoria negativa/agnóstica da pena criminal é,


antes e acima de tudo, uma teoria negativa das funções declaradas ou
manifestas da pena criminal, expressas no discurso oficial de retribuição e de
prevenção geral e especial (positivas e negativas), rejeitadas como falsas
pelos autores – que recuperam conceito de TOBIAS BARRETO para definir
pena criminal como ato de poder político correspondente ao fundamento
jurídico da guerra; em segundo lugar, é uma teoria agnóstica das funções

64Santos, Juarez Cirino dos Direito Penal – Parte Geral/Juarez Cirino dos Santos - 5.ed. - Florianópolis: Conceito Editorial,
2012.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 61
CURSO RDP
META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

reais ou latentes da pena criminal porque renuncia à cognição dos objetivos


ocultos da pena criminal, que seriam múltiplos e heterogêneos.

Sustenta, ainda, o professor Juarez Cirino dos Santos:

(...) Do ponto de vista político-criminal, a teoria negativa/agnóstica da pena


tem por objetivo ampliar a segurança jurídica de todos os habitantes
mediante redução do poder punitivo do estado de polícia e correspondente
ampliação do estado de direito, pelo reforço do poder de decisão das
agências jurídicas – fundado em conceito ôntico limitador do sistema
punitivo –, capazes de limitar, mas incapazes de suprimir o estado de polícia,
cujo poder maior transcenderia a pena criminal para vigiar, registrar e
controlar ideias, movimentos e dissidências. O objetivo de conter o poder
punitivo do estado de polícia intrínseco em todo estado de direito, proposto
pela teoria negativa/agnóstica da pena criminal – produzida pela inteligência
criativa de EUGENIO RAÚL ZAFFARONI e de NILO BATISTA, comprometidos
com a democratização do sistema punitivo na periferia do sistema político-
econômico globalizado –, justifica a teoria negativa/agnóstica da pena
criminal como teoria crítica, humanista e democrática do Direito Penal,
credenciada para influenciar projetos de política criminal e a prática jurídico-
penal na América Latina. Afinal, definir pena como ato de poder político,
atribuir à pena o mesmo fundamento jurídico da guerra e rejeitar como falsas
as funções manifestas ou declaradas da pena criminal significa ruptura radical
e definitiva com o discurso de lei e ordem do poder punitivo.65 (GRIFOS
NOSSOS).

65Santos, Juarez Cirino dos Direito Penal – Parte Geral/Juarez Cirino dos Santos - 5.ed. - Florianópolis: Conceito Editorial,
2012, p 457.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 62
CURSO RDP
META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

1.4.2 TEORIA MATERIALISTA DIALÉTICA

Há, ainda, a chamada teoria materialista/dialética, bem trabalhada no Brasil pelo próprio
Juarez Cirino dos Santos, sendo a pena como retribuição equivalente do crime.

Em sua obra, sustenta o autor:

(...) O discurso crítico da teoria materialista/dialética pretende revelar a


natureza real da pena criminal nas sociedades contemporâneas: a retribuição
equivalente – contrariamente ao que pensa a crítica jurídica – não representa
resquício metafísico de expiação do mal injusto do crime pelo mal justo da
pena (como pretendem teóricos da prevenção), nem se reduz ao argumento
antropológico de sobrevivência da vingança retaliatória no psiquismo
humano, nem pode ser explicada por argumentos filosóficos do tipo
imperativo categórico ou dignidade do ser humano, assim como não se
confina aos argumentos legais da pena necessária e suficiente para
reprovação do crime. A teoria criminológica materialista/dialética introduz
uma explicação política da emergência histórica do conceito jurídico-
econômico da retribuição equivalente, como fenômeno socioestrutural
específico das sociedades capitalistas: a função de retribuição equivalente da
pena criminal corresponde aos fundamentos materiais e ideológicos das
sociedades fundadas na relação capital/trabalho assalariado porque existe
como forma de equivalência jurídica fundada nas relações de produção das
sociedades contemporâneas. A teoria materialista/dialética da história parte
do princípio de que a produção e a circulação de mercadorias é o fundamento
material da ordem social capitalista.66

66 Idem, p. 460.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 63
CURSO RDP
META 2, ETAPA 2 INTENSIVO 2021.1

TEORIAS DESLEGITIMADORAS
A teoria agnóstica também foi cobrada na prova oral da DPU (CESPE)
de 2017 e na prova oral da DPE-MA (FCC) de 2015.

A concepção de que a pena teria funções de (i) retribuição e (ii)


prevenção – geral e especial – seria uma falácia, servindo em
verdade para objetivos ocultos. É uma teoria agnóstica das funções
reais da pena. Assim, Zaffaroni não sabe os efeitos declarados da
pena, por isso o nome “agnóstica”.

CAIU NA DPE-BA-2016-FCC: “Ao nível teórico, a ideia de uma sanção


jurídica é incompatível com a criação de um mero obstáculo
mecânico ou físico, porque este não motiva o comportamento, mas
TEORIA AGNÓSTICA DA apenas o impede, o que fere o conceito de pessoa (...) por isso, a mera
PENA - ZAFFARONI neutralização física está fora do conceito de direito, pelo menos no
nosso atual horizonte cultural. (...) A defesa social é comum a todos
os discursos legitimantes, mas se expressa mais cruamente nessa
perspectiva, porque tem a peculiaridade de expô-la de modo mais
grosseiro, ainda que também mais coerente (...).” (ZAFFARONI,
Eugenio Raúl; BATISTA, Nilo; ALAGIA, Alejandro; SLOKAR, Alejandro.
Direito Penal Brasileiro I. Rio de Janeiro: Revan, 2003). A teoria da
pena criticada na passagem acima é a agnóstica.67.

A pena, para ele, é um ato político: “A pena é um ato político e o


direito, como limite da política, é o parâmetro negativo da
sancionabilidade, estruturando-a sob a negação das teorias da pena
e fundando-a em critérios de limitação da sanção.”
TEORIA Para Juarez Cirino, a teoria criminológica materialista/dialética lida
MATERIALISTA/DIALÉTICA com a emergência histórica da retribuição enquanto fenômeno

67 ERRADO. Trata-se de crítica à prevenção especial negativa.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 64
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– JUAREZ CIRINO DOS sócio-estrutural específico das sociedades capitalistas: a função de


SANTOS retribuição equivalente da pena corresponderia, pois, aos
fundamentos materiais e ideológicos de sociedades fundadas na
relação capital/trabalho assalariado.

Assim, A teoria materialista/dialética da história parte do princípio


de que a produção e a circulação de mercadorias é o fundamento
material da ordem social capitalista.

1.5 O FUNDAMENTO DA PENA PARA TOBIAS BARRETO

O fundador da Escola de Recife, Tobias Barreto, concebe a pena como um ato eminentemente
político. Para o autor, a pena é um ato de guerra.

Considerando a insuficiência das teorias absolutas, relativas e mistas, disparou que todas elas
cometem a falta de procurar o fundamento racional da pena, abstratamente considerada, sem se
atentar ao desenvolvimento histórico de seu correlato, isto é, o crime. Para ele, o fundamento da
imposição de pena varia conforme a natureza do crime, de modo que a justificativa de punição do
homicídio ou do roubo não é a mesma de outros crimes como rebelião e conspiração. Assim, a pena
não teria um conceito JURÍDICO, mas sim POLÍTICO. (Eduardo Viana, 2018, p. 364/366). 68

O professor Eduardo Viana69 lembra que ao enquadrar a pena como ato de guerra, bem se
percebe a antecipação das ideias de Tobias Barreto que, hoje, passado mais de um século, aparecem
com nova roupagem.

68 VIANA, Eduardo. CRIMINOLOGIA. Editora Juspodivm, 6ª ed., Salvador: 2018.


69 Ibidem.

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1.6 A TEORIA DIFERENCIADORA DE SCHIMIDHÄUSER

Esse autor defende uma teoria essencialmente prevencionista, seja no viés geral (prevenção
geral) ou no viés especial (prevenção especial).

Para ele, aponta Eduardo Viana (2018, p. 370), o significado objetivo-geral da pena é a luta
contra a criminalidade. Quando uma pena é aplicada, confirma-se a vigência da norma, circunstância
que gera um efeito preventivo e sociopedagógico, à medida que inibe potenciais autores de crimes.
Assim, o efeito da pena, quando aplicada, é o reforço da consciência COLETIVA e a confirmação de
vigência da norma.70

1.7 ESPÉCIES DE PENAS

Por fim, vamos lembrar das espécies de pena.

PENAS
o Reclusão
RESTRITIVA DE LIBERDADE o Detenção
o Prisão simples
o Interdição temporária de direitos
o Perda de bens e valores
PENA RESTRITIVAS DE
o Limitação de fim de semana
DIREITOS
o Prestação de serviços à comunidade
o Prestação pecuniária
MULTA o Valor a ser revertido para o Fundo Penitenciário Nacional.

Em sua obra “Misérias do Processo Penal”, Francesco Carnelutti apresenta duras críticas à
função da pena e as atuais penitenciárias71, cujas palavras valem à pena trazer à colação:

70 VIANA, Eduardo. CRIMINOLOGIA. Editora Juspodivm, 6ª ed., Salvador: 2018


71 Carnelutti, Francesco. As misérias do Processo Penal. 3 Edição. P. 72/76. CL EDIJUR. Leme/SP. Edição 2017 .

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“A penitenciária é, verdadeiramente, um hospital, cheio de enfermos de


espírito, ao invés que do corpo, e, alguma vez, também do corpo; mas que
singular hospital! No hospital, a priori, o médico, quando percebe que a
diagnose está errada, corrige-a e retifica a terapia. Na penitenciária, ao
contrário, é proibido assim fazer. Não é um hospital, onde não se tenham
médicos e enfermeiros: o diretor da penitenciária e os outros, que o auxiliam
na direção, são mais que desprovidos daquelas condições, que podem servir
para a cura de seus enfermos; e muitas vezes eles atendem com
compreensão, com paciência e por fim até com abnegação. Por outro lado,
para esses médicos, a diagnose do juiz é imposta com autoridade, em função
da coisa julgada; a prova do progresso da doença não importa. O juiz disse
dez, vinte, trinta anos e dez, vinte, trinta devem ser, ainda que a prova
demonstre que é muito ou pouco, porque também, antes do período
estabelecido, o doente recuperou a saúde, ou também, ao contrário, o
período transcorreu inutilmente.

Dizem, facilmente, que a pena não serve somente para a redenção do


culpado mas também de alerta aos outros, que poderiam ser tentados a
delinquir e, por isso, os deve intimidar; e não é um discurso este de se fazer
pouco caso; mas pelo menos dele não deriva a habitual contradição entre a
função repressiva e a função preventiva da pena: aquilo que a pena deveria
ser para beneficiar o culpado não é aquilo que deveria ser para beneficiar os
outros; não há entre esses dois aspectos da instituição possibilidade de
conciliação. O menos que se pode concluir é que o condenado que, por achar-
se redimido antes do término fixado pela condenação, permanece na prisão
porque deve servir de exemplo aos outros, sendo submetido a um sacrifício
por interesse dos outros, está na mesma situação do inocente, sujeito à
condenação por um daqueles erros judiciários, que nenhum esforço humano
conseguirá eliminar. Bastaria para não assumir em comparação com a massa

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dos condenados aquele ar de superioridade que infelizmente, mais ou


menos, o orgulho, assim profundamente enraigado no recesso da nossa
alma, inspira a cada um de nós; ninguém verdadeiramente sabe, em meio a
eles, quem seja ou não seja culpado e quem continua ou não continua a ser
tal.

Todavia, também se a pena deve servir de intimidação aos outros, deveria


junto servir para redimir o condenado; e redimi-lo quer dizer curá-lo da sua
enfermidade. A tal propósito se deveria saber em que consiste a sua
enfermidade. Aqui as coisas a se dizerem são as mais simples a as mais
amargas: enquanto a medicina do corpo alcançou progressos maravilhosos,
a medicina do espírito está ainda em um estado infantil. Cristo, até agora,
sobre este tema, pregou no deserto. Colocando o detento junto ao enfermo,
sobre a escala com os pobres, Ele disse claro que a delinquência é uma forma
de pobreza: ao faminto, falta a comida; a água, aos sedentos; a roupa, ao
desnudo; a casa, ao vagabundo; a saúde, ao doente. O que falta então ao
encarcerado? Cristo, convidando-nos a visita-lo, disse claro: a visita é um ato
de amizade. É assim simples. O delito não é um ato, ao contrário, de
inimizade? Parece impossível que o estudo do delito tenha apresentado
tantas dificuldades e tantas complicações. Como não relembrar as outras
palavras de Cristo. “Te agradeço, ó pai, porque estas coisas revelaste aos
pequenos e as escondeste aos sábios”? Necessita ser pequeno para
compreender que o delito é devido a uma falta de amor. Os sábios procuram
a origem do delito no cérebro; os pequenos não esquecem que, mesmo
como disse Cristo, os homicídios, os furtos, as violências, as falsificações vêm
do coração. É ao coração do delinquente, que para saná-los deveremos
chegar. Não há outra via para chegar, senão aquela do amor. A falta de amor
não se preenche senão com amor. Amor com amor se paga”. A cura da qual
o encarcerado precisa é uma cura de amor.

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E o castigo? A pena, contudo, deve ser um castigo. De acordo; mas o castigo


não é situação incompatível com o amor. O pai que não usa o bastão não ama
o filho, está dito na Bíblia.

Depois da condenação não é mais suficiente. O condenado é o pobre, por


excelência, na sua nudez. Não há um necessitado mais angustiado e mais
carente de amor. Precisa vê-los, no rude uniforme listrado, feito para separá-
los dos outros homens, lançar sobre nós um olhar, no qual exprime, mesmo
se procuram esconder, a consciência mortífera da sua inferioridade, para
compreender o bem que pode levar a eles um sorriso, uma palavra, um
carinho. Um bem do qual, no princípio, não se dão conta, ao qual, até no
início, possam procurar resistir, mas que depois, pouco a pouco, se insinua
neles, se apodera deles, conquista-os, adoça-os, tirando do coração deles
sentimentos que pareciam sepultados e dos seus lábios palavras que
pareciam esquecidas. Precisa ter vivido esta experiência para entender que
nosso comportamento frente aos condenados é a indicação mais segura da
nossa civilidade.” (GRIFOS NOSSOS).

Uma baita lição do mestre Carnelutti!

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QUESTÕES PARA FIXAR

Questão 01

A teoria absoluta da pena, trabalhada por Kant e Hegel, pressupõe tão somente a retribuição ao mau
causado.

CERTO ERRADO

Questão 02

A prevenção geral positiva objetiva intimidar possíveis criminosos presentes na sociedade para que
não venham cometer delitos.

CERTO ERRADO

GABARITO

1.C 2.E

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QUESTÕES PARA FIXAR - COMENTÁRIOS


Questão 01

A teoria absoluta da pena, trabalhada por Kant e Hegel, pressupõe tão somente a retribuição ao mau
causado.

GAB: C. É exatamente o que preconiza a teoria absoluta abordada por Kant e Hegel.

Questão 02

A prevenção geral positiva objetiva intimidar possíveis criminosos presentes na sociedade, para que
não venham cometer delitos.

GAB: E. O enunciado traz o objetivo estabelecido pela prevenção geral negativa.

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