Você está na página 1de 126

Curso RDP

8
t

INTENSIVO
DEFENSORIAS

Meta 02, etapa 03

www.rumoadefensoria.com
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

SUMÁRIO

DIREITO INSTITUCIONAL............................................................................................................................. ..............................4

1. HISTÓRICO DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA E ASSISTÊNCIA JURÍDICA NO BRASIL ........................................................... 4


2. DISTINÇÃO ENTRE GRATUIDADE DE JUSTIÇA E ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA E ASSISTÊNCIA JURÍDICA ............................ 7
3. MODELOS DE PRESTAÇÃO DE ASSISTÊNCIA JURÍDICA NO BRASIL E NO MUNDO ...................................................... 18
3.1 PRO BONO................................................................................................................................................................ 18
3.2 JUDICARE ................................................................................................................................................................. 18
3.3 SALARIED STAFF MODEL OU MODELO PÚBLICO ..................................................................................................... 18
3.4 HÍBRIDO ................................................................................................................................................................... 18
3.5 SOCIALISTA ............................................................................................................................................................... 19
4. ONDAS RENOVATÓRIAS E ACESSO À JUSTIÇA ............................................................................................................ 22
4.1 PRIMEIRA ONDA....................................................................................................................................................... 23
4.2 SEGUNDA ONDA ...................................................................................................................................................... 23
4.3 TERCEIRA ONDA ....................................................................................................................................................... 23
4.4 QUARTA ONDA......................................................................................................................................................... 23
4.5 QUINTA ONDA ......................................................................................................................................................... 23
4.6 SEXTA ONDA ............................................................................................................................................................ 23
5. FUNÇÃO TÍPICA E ATÍPICA DA DEFENSORIA PÚBLICA ................................................................................................ 29
6. FUNÇÕES TRADICIONAIS E NÃO TRADICIONAIS: UMA NOVA CLASSIFICAÇÃO .......................................................... 30
7. A AUTOCOMPOSICÃO E A PERSPECTIVA DA DEFENSORIA PÚBLICA .......................................................................... 31
8. A ATUAÇÃO DA DEFENSORIA PÚBLICA COMO “OMBUDSMAN” ............................................................................... 34
9. A DEFENSORIA PÚBLICA PODE ATUAR NA DEFESA DE PESSOAS JURÍDICAS? ............................................................ 36
10. A DEFENSORIA COMO “CUSTOS VULNERABILIS” ..................................................................................................... 38
10.1 PROCURADOR JUDICIAL DOS VULNERÁVEIS .......................................................................................................... 41
10.2 LEGITIMADO EXTRAORDINÁRIO............................................................................................................................. 41
10.3 GUARDIÃO DAS VULNERABILIDADES ..................................................................................................................... 42
DIREITO CIVIL ....................................................................................................................................................... 57

ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA (LEI Nº 13.146/2015) .................................................................................. 57


1. DISPOSIÇÕES GERAIS ................................................................................................................................................. 57
2. QUEM É A PESSOA COM DEFICIÊNCIA? ..................................................................................................................... 60
3. CONCEITOS LEGAIS .................................................................................................................................................... 62
3.1 ACESSIBILIDADE ....................................................................................................................................................... 62
3.2 DESENHO UNIVERSAL .............................................................................................................................................. 63
3.3 TECNOLOGIA ASSISTIVA ........................................................................................................................................... 63

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 2 2
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

3.4 BARREIRAS ............................................................................................................................................................... 63


3.5 COMUNICAÇÃO ....................................................................................................................................................... 65
3.6 ADAPTAÇÕES RAZOÁVEIS ........................................................................................................................................ 66
3.7 ELEMENTO DE URBANIZAÇÃO ................................................................................................................................. 66
3.8 MOBILIÁRIO URBANO .............................................................................................................................................. 66
3.9 RESIDÊNCIAS INCLUSIVAS ........................................................................................................................................ 66
3.10 MORADIA PARA A VIDA INDEPENDENTE DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA .............................................................. 67
3.11 ATENDENTE PESSOAL............................................................................................................................................. 67
3.12 PROFISSIONAL DE APOIO ESCOLAR........................................................................................................................ 67
4. DA IGUALDADE E DA NÃO DISCRIMINAÇÃO .............................................................................................................. 68
5. DEFICIÊNCIA E CAPACIDADE CIVIL ............................................................................................................................. 70
6. DO ATENDIMENTO PRIORITÁRIO ............................................................................................................................... 74
7. DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ................................................................................................................................. 77
7.1 DO DIREITO À SAÚDE ............................................................................................................................................... 80
7.2 DO DIREITO À EDUCAÇÃO ........................................................................................................................................ 83
7.3 DO DIREITO À MORADIA .......................................................................................................................................... 88
7.4 DO DIREITO AO TRABALHO ...................................................................................................................................... 90
7.5 DO DIREITO À ASSISTÊNCIA SOCIAL ......................................................................................................................... 91
7.6 DO DIREITO À PREVIDÊNCIA SOCIAL ........................................................................................................................ 95
7.7 DO DIREITO À CULTURA, AO ESPORTE, AO TURISMO E AO LAZER .......................................................................... 97
7.8 DO DIREITO AO TRANSPORTE E À MOBILIDADE .................................................................................................... 100
8. DA ACESSIBILIDADE .................................................................................................................................................. 103
9. DO ACESSO À INFORMAÇÃO E À COMUNICAÇÃO ................................................................................................... 106
10. DA TECNOLOGIA ASSISTIVA ................................................................................................................................... 107
11. DO DIREITO À PARTICIPAÇÃO NA VIDA PÚBLICA E POLÍTICA ................................................................................. 108
12. PARTE ESPECIAL - DO ACESSO À JUSTIÇA............................................................................................................... 109
13. DO RECONHECIMENTO IGUAL PERANTE A LEI....................................................................................................... 109
13.1 DA CURATELA....................................................................................................................................................... 109
13.2 DA TOMADA DE DECISÃO APOIADA..................................................................................................................... 117

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 3 3
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

DIREITO INSTITUCIONAL

A evolução histórica da prestação da assistência jurídica; Gratuidade judiciária, assistência judiciária,


e assistência jurídica: conceito e operacionalização; Panorama da Defensoria Pública no Brasil.
Função típica e atípica. Tradicional e não tradicional. Defensoria como “Ombudsman”.

Olá, minha amiga e meu amigo. Hoje vamos estudar Direito Institucional. Uma matéria
bastante #SANGUEVERDE.

1. HISTÓRICO DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA E ASSISTÊNCIA JURÍDICA NO BRASIL

O histórico da gratuidade de justiça e da assistência jurídica no Brasil é um ponto pouco


explorado pelos livros, mas de grande relevância para nossas provas. Na última prova da DPE-SP de
2019, por exemplo, o tema foi abordado na segunda fase.

De fato, no Brasil, a gratuidade de justiça e a assistência jurídica gratuita têm suas origens
mais remotas fincadas Ordenações Filipinas, sancionadas em 1595.

Sobre o tema, importantes são as lições dos mestres Diogo Esteves e Franklyn Roger:

(...) No Brasil, a gratuidade de justiça e a assistência jurídica gratuita têm suas


origens mais remotas fincadas nas Ordenações Filipinas, sancionadas em
1595 durante o domínio castelhano de Filipe P. A matéria era regulada de
forma secundária e assumia a condição de beneplácito régio dirigido aos
miseráveis e às vítimas de pobreza extrema, como decorrência da influência
vertida pelas tradições canônicas. Embora não tratasse da questão da
gratuidade de justiça de maneira sistemática, as ordenações previam o
direito à isenção de custas para a impetração de aggravo (Livro III, Título

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 4 4
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

LXXXIV, Parágrafo 10)3 e livravam os presos pobres do pagamento dos feitos


em que fossem condenados (Livro I, Título XXIV, Parágrafo 43). 1

Os professores apontam que de Portugal e com as mesmas Ordenações Filipinas, "veio


também a praxe do advogado patrocinar gratuitamente os miseráveis e os indefesos que procurassem
o juízo tanto nas causas cíveis quanto nas criminais"2.

Na prova discursiva da DPE-SP, em 2019 (banca FCC), como dito, caiu para que o candidato
dissertasse sobre o histórico da assistência jurídica nas Constituições. A resposta esperada pela
banca, surpreendentemente, iniciava com as Ordenações Filipinas até a Constituição de 1988. O
espelho veio da seguinte forma:

a. A previsão de que o agravante pobre que jure não ter bens móveis, nem
raiz, e desde que na audiência reze pela alma do rei Dom Diniz, teria o agravo
considerado pago. Trata-se de fundamental precedente de isenção de custas
e emolumentos às pessoas mais pobres.

b. Constituições de 1824, 1891 e 1937: não trataram do tema.

c. Constituição de 1934 foi a primeira a tratar da matéria, ao instituir a


obrigatoriedade à União e aos Estados em conceder assistência judiciária aos
necessitados, com a criação de órgãos especiais, assegurando a isenção de
emolumentos, custas e taxas.

1 Esteves, Diogo. Princípios Institucionais da Defensoria Pública I Diogo Esteves, Franklyn Roger Alves Silva. - 3. ed. - Rio
de Janeiro: Forense, 2018, p. 51.
2 ROCHA, Jorge Luís. História da Defensoria Pública e da Associação dos Defensores Públicos do Estado do Rio de Janeiro.

Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004, pág. 1 24.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 5 5
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

d. Depois da omissão da Constituição de 1937, a Constituição de 1946 voltou


a tratar do tema, ao estabelecer que cabia ao Poder Público, na forma da lei,
conceder assistência judiciária aos necessitados.

e. A Constituição de 1967 retirou a obrigatoriedade do Poder Público em


conceder assistência judiciária, estabelecendo tão somente que a assistência
judiciária aos necessitados deveria ser concedida na forma da lei. Tal previsão
foi mantida com a edição da EC nº 01/69.

f. A CF/88 adotou o modelo público – obrigação do Estado de garantir a


prestação integral da assistência jurídica aos necessitados por meio da
Defensoria Pública, instituição permanente e essencial à função jurisdicional
do Estado.

Para início de conversa, analise o quadro a seguir:

HISTÓRICO DO SURGIMENTO DA DEFENSORIA NO BRASIL 3


O primeiro órgão público de assistência judiciária é criado no Brasil, na
1897
cidade do Rio de Janeiro, por meio do Decreto nº 2457;
A Constituição de 1934 foi a primeira a assegurar expressamente o
acesso à justiça aos necessitados por meio de “órgãos especiais'' que
1934
deveriam ser criados para esse fim. Essa previsão é muito importante
para provas objetivas.
1937 A Constituição de 1937 omitiu a matéria;
As Constituições de 1946 e de 1967, assim como a EC 1/1969, embora
1946 a 1969
tenham garantido a assistência judiciária aos necessitados, não

3 PAIVA, Caio. FENSTERSEIFER, Tiago. Comentários á Lei Nacional da Defensoria Pública. Belo Horizonte: Editora CEI, 2019,
p. 47.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 6 6
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

repetiram o comando da Constituição de 1934 de que deveria ser


criado um "órgão especial" com esta incumbência.
E assim chegamos, então, em 1988, quando, após muitas discussões
no âmbito da assembleia constituinte, a Constituição Federal
1988 finalmente estabeleceu que “O Estado prestará assistência jurídica e
gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos’” (art. 5º,
LXXIV), criando, para este fim, a instituição Defensoria Pública.
As Defensorias Públicas dos Estados conquistam autonomia funcional
2004 e administrativa, além da iniciativa de sua proposta orçamentária (EC
45);
A Defensoria Pública do Distrito Federal alcança idêntica autonomia
2012
(EC 69);
2013 A Defensoria Pública da União conquista idêntica autonomia (EC 74);
2014 A Defensoria Pública alcança um novo perfil constitucional (EC 80)

Agora vamos diferenciar gratuidade de justiça, assistência judiciária gratuita e assistência


jurídica gratuita.

2. DISTINÇÃO ENTRE GRATUIDADE DE JUSTIÇA E ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA E ASSISTÊNCIA JURÍDICA

GRATUIDADE DE
Isenção de custas e emolumentos para hipossuficientes. Dentro do
JUSTIÇA OU JUSTIÇA processo e deferido pelo magistrado.
GRATUITA
Possibilidade de representação endoprocessual de pessoas
ASSISTÊNCIA hipossuficientes. Prestada por Defensora ou Defensor Público dentro do
JUDICIÁRIA GRATUITA processo.
Possibilidade de representação endo e extraprocessual de pessoas
ASSISTÊNCIA JURÍDICA hipossuficientes. É bem mais ampla que as duas primeiras. É prestada
GRATUITA por Defensora ou Defensor Público dentro e fora do processo.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 7 7
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

CAIU NA DP-DF-2019-CESPE: “A assistência jurídica do Estado aos que não tenham condições
financeiras abrange as fases pré-processual, endoprocessual e pós-processual.”4

No Brasil, a assistência judiciária só veio de maneira expressa a partir da Constituição de 1934.


No entanto, foi retirada da Constituição de 1937, reaparecendo na Constituição de 1946, 1967 e EC
nº 1/69.

CAIU NA DPE-MA-FCC-2018: “A Constituição de 1934 foi um marco na positivação da matéria ao não


somente prever em seu texto a assistência judiciária, como também preconizar a criação de órgãos
especiais para esse fim”5.

Por outro lado, percebam que até então estamos falando de assistência judiciária. Foi apenas
em 1988, com a Constituição da República, que foi expresso o direito à assistência jurídica integral e
gratuita, muito mais abrangente que a assistência judiciária, como podemos notar.

CAIU NA DP-DF-2019-CESPE: “A assistência jurídica integral e gratuita pelo Estado aos que
comprovem insuficiência de recursos está expressamente prevista e regulamentada no Brasil desde
a promulgação da Constituição Federal de 1967”. 6

CAIU NA DPE-MA-FCC-2018- “Em que pese já se encontrasse previsão da prestação da assistência


judiciária aos necessitados nas Constituições de 1934 e 1937, a Carta de 1967 foi a primeira a
expressamente prever a assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados”. 7

É possível conceder assistência jurídica parcial? E gratuidade judiciária, pode ser parcial?
Prevalece que não é possível prestar assistência jurídica gratuita de maneira parcial (embora haja
tese afirmando o contrário). Isso porque a assistência jurídica, segundo a Constituição, é integral e

4 CERTO.
5 CERTO.
6 ERRADO.
7 ERRADO.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 8 8
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

gratuita. No entanto, a gratuidade de justiça (ou justiça gratuita) segundo o NCPC, pode ser concedida
de maneira parcial, vejam §5º do art. 98:
§5º A gratuidade poderá ser concedida em relação a algum ou a todos os atos processuais, ou
consistir na redução percentual de despesas processuais que o beneficiário tiver de adiantar no curso
do procedimento.

É bom lembrar o que art.98, § 3º do NCPC estabelece condição suspensiva para o pagamento
das custas nos casos de concessão da gratuidade (o prazo é de 5 anos subsequentes ao trânsito em
julgado da decisão que as certificou), vejam:

§ 3º Vencido o beneficiário, as obrigações decorrentes de sua


sucumbência ficarão sob condição suspensiva de exigibilidade e
somente poderão ser executadas se, nos 5 (cinco) anos subsequentes
ao trânsito em julgado da decisão que as certificou, o credor
demonstrar que deixou de existir a situação de insuficiência de recursos
que justificou a concessão de gratuidade, extinguindo-se, passado esse
prazo, tais obrigações do beneficiário.

Por outro lado, o art. 12 da Lei nº 1.060/50 assim estabelecia:

Art. 12. A parte beneficiada pela isenção do pagamento das custas ficará
obrigada a pagá-las, desde que possa fazê-lo, sem prejuízo do sustento
próprio ou da família, se dentro de cinco anos, a contar da sentença final, o
assistido não puder satisfazer tal pagamento, a obrigação ficará prescrita.
(Revogado pela Lei n º 13.105, de 2015)

Como se pode notar, o NCPC de 2015 revogou o art.12 acima. Contudo, o STF entendeu que,
embora revogado, o art. 12 da Lei nº 1.060/50 foi recepcionado pela CF/88, e que o CPC 2015 previu
regra semelhante no § 3º do art. 98:§ 3º.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 9 9
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Para a Suprema Corte, o art. 12 da Lei nº 1.060/50 foi recepcionado quanto às custas
processuais em sentido estrito, porquanto se mostra razoável interpretar que em relação às custas
não submetidas ao regime tributário, ao “isentar” o jurisdicionado beneficiário da justiça gratuita, o
que ocorre é o estabelecimento, por força de lei, de uma condição suspensiva de exigibilidade. Em
relação à taxa judiciária, firma-se convicção no sentido da recepção material e formal do artigo 12 da
Lei nº 1.060/50, porquanto o Poder Legislativo em sua relativa liberdade de conformação normativa
apenas explicitou uma correlação fundamental entre as imunidades e o princípio da capacidade
contributiva no Sistema Tributário brasileiro, visto que a finalidade da tributação é justamente a
realização da igualdade.

EMBARGOS DECLARATÓRIOS E AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO


EXTRAORDINÁRIO. EFEITOS INFRINGENTES. CONVERSÃO DO EMBARGOS
DECLARATÓRIOS EM AGRAVOS INTERNOS. JULGAMENTO CONJUNTO.
RECEPÇÃO DO ART. 12 DA LEI 1.060/50. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA.
RECUPERAÇÃO DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA. 1. De acordo com a
jurisprudência do STF, as custas dos serviços forenses se dividem em taxa
judiciária e custas em sentido estrito. Precedentes. 2. O art. 12 da Lei
1.060/50 foi recepcionada quanto às custas processuais em sentido estrito,
porquanto se mostra razoável interpretar que em relação às custas não
submetidas ao regime tributário, ao “isentar” o jurisdicionado beneficiário da
justiça gratuita, o que ocorre é o estabelecimento, por força de lei, de uma
condição suspensiva de exigibilidade. 3. Em relação à taxa judiciária, firma-se
convicção no sentido da recepção material e formal do artigo 12 da Lei
1.060/50, porquanto o Poder Legislativo em sua relativa liberdade de
conformação normativa apenas explicitou uma correlação fundamental
entre as imunidades e o princípio da capacidade contributiva no Sistema
Tributário brasileiro, visto que a finalidade da tributação é justamente a
realização da igualdade. 4. Agravos regimentais providos, para fins de
consignar a recepção do artigo 12 da Lei 1.060/50 e determinar aos juízos de

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 10 10
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

liquidação e de execução que observem o benefício da assistência judiciária


gratuita deferidos no curso da fase cognitiva. (RE 249003 ED, Relator(a): Min.
EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em 09/12/2015, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-093 DIVULG 09-05-2016 PUBLIC 10-05-2016)

Já o art. 98, § 1º, IX do NCPC estabelece a abrangência dos emolumentos devidos a notários
ou registradores em decorrência da prática de registro quando do deferimento da gratuidade.

Art. 98.
§ 1º A gratuidade da justiça compreende:
I - as taxas ou as custas judiciais;
II - os selos postais;
III - as despesas com publicação na imprensa oficial, dispensando-se a
publicação em outros meios;
IV - a indenização devida à testemunha que, quando empregada, receberá do
empregador salário integral, como se em serviço estivesse;
V - as despesas com a realização de exame de código genético - DNA e de
outros exames considerados essenciais;
VI - os honorários do advogado e do perito e a remuneração do intérprete ou
do tradutor nomeado para apresentação de versão em português de
documento redigido em língua estrangeira;
VII - o custo com a elaboração de memória de cálculo, quando exigida para
instauração da execução;
VIII - os depósitos previstos em lei para interposição de recurso, para
propositura de ação e para a prática de outros atos processuais inerentes ao
exercício da ampla defesa e do contraditório;
IX - os emolumentos devidos a notários ou registradores em decorrência da
prática de registro, averbação ou qualquer outro ato notarial necessário à

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 11 11
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

efetivação de decisão judicial ou à continuidade de processo judicial no qual


o benefício tenha sido concedido.

Ademais, antes mesmo da vigência do NCPC já havia julgado do STJ sobre o tema:

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA.


GRATUIDADE DE JUSTIÇA CONCEDIDA JUDICIALMENTE. EXTENSÃO AOS
SERVIÇOS REGISTRAIS E NOTARIAIS RESPECTIVOS, NECESSÁRIOS AO PLENO
CUMPRIMENTO DO JULGADO. EXECUTIVIDADE E EFETIVIDADE DA DECISÃO
JUDICIAL. PRECEDENTES. 1. A gratuidade de justiça concedida em processo
judicial deve ser estendida, para efeito de viabilizar o cumprimento de
decisão do Poder Judiciário e garantir a prestação jurisdicional plena, aos atos
extrajudiciais de notários e de registradores respectivos, indispensáveis à
materialização do julgado. Essa orientação é a que melhor se ajusta ao
conjunto de princípios e normas constitucionais voltados a garantir ao
cidadão a possibilidade de requerer aos poderes públicos, além do
reconhecimento, a indispensável efetividade dos seus direitos (art. 5º, XXXIV,
XXXV, LXXIV, LXXVI e LXXVII, da CF/88), cabendo ressaltar que a abstrata
declaração judicial do direito nada valerá sem a viabilidade da sua execução,
do seu cumprimento. 2. A execução do julgado, inegavelmente, constitui
apenas uma fase do processo judicial, nela permanecendo intacta a
gratuidade de justiça e abrangendo todos os serviços públicos pertinentes à
consumação do direito judicialmente declarado. 3. Agravo regimental não
provido. (AgRg no RMS 24.557/MT, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA
TURMA, julgado em 07/02/2013, DJe 15/02/2013). (GRIFOS NOSSOS).

É bom lembrar que segundo o NCPC, contra o deferimento da gratuidade de justiça não é
cabível recurso, mas impugnação à justiça gratuita (em preliminar de contestação) nos termos do art.
100:

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 12 12
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Art. 100. Deferido o pedido, a parte contrária poderá oferecer impugnação


na contestação, na réplica, nas contrarrazões de recurso ou, nos casos de
pedido superveniente ou formulado por terceiro, por meio de petição
simples, a ser apresentada no prazo de 15 (quinze) dias, nos autos do próprio
processo, sem suspensão de seu curso.
Parágrafo único. Revogado o benefício, a parte arcará com as despesas
processuais que tiver deixado de adiantar e pagará, em caso de má-fé, até o
décuplo de seu valor a título de multa, que será revertida em benefício da
Fazenda Pública estadual ou federal e poderá ser inscrita em dívida ativa.

Contudo, contra a decisão que indeferir a gratuidade ou a que acolher pedido de sua
revogação caberá, sim, agravo de instrumento, exceto quando a questão for resolvida na sentença,
contra a qual caberá apelação, nos termos do art. 101 do NCPC:

Art. 101. Contra a decisão que indeferir a gratuidade ou a que acolher pedido
de sua revogação caberá agravo de instrumento, exceto quando a questão
for resolvida na sentença, contra a qual caberá apelação.

Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias


que versarem sobre:
(...)
V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de
sua revogação;

Deferimento da Indeferimento da gratuidade ou decisão que


gratuidade acolhe revogação
Não há previsão de recurso cabível. Deverá ser
combatido através de impugnação em Agravo de instrumento
preliminar de contestação.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 13 13
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Indo além, o STJ entendeu que será cabível agravo de instrumento contra o provimento
jurisdicional que, após a entrada em vigor do CPC/2015, acolhe ou rejeita incidente de impugnação
à gratuidade de justiça instaurado, em autos apartados, na vigência do regramento anterior. STJ. 3ª
Turma. REsp 1.666.321-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 07/11/2017 (Info 615).

Sobre a possibilidade de concessão da gratuidade sem pedido expresso da parte, 1ª Turma


do STJ veda sua a concessão “ex officio” pelo magistrado. Assim, é indispensável que haja pedido
expresso da parte (STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1740075/RJ, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado
em 18/09/2018).

Nesse sentido também Fredie Didier Júnior e Rafael Alexandria de Oliveira8:

“A concessão da gratuidade de justiça depende de requerimento do


interessado; esse requerimento pode ser formulado no primeiro momento
em que ele aparece nos autos ou em momento posterior”.

Por outro lado, em fases mais avançadas, pode-se trazer o posicionamento institucional
(minoritário) encabeçado pelo professor Franklyn Roger de que o direito à gratuidade de justiça deve
ser reconhecido ainda que inexista requerimento do interessado.

“(...) Por constituir direito fundamental constitucionalmente estabelecido,


entendemos que o direito à gratuidade de justiça deve ser reconhecido ainda
que inexista requerimento do interessado. Afinal, quando estabeleceu o
dever estatal de prestar a assistência jurídica integral e gratuita (artigo 5º,
LXXIV) e de garantir o amplo acesso à justiça (artigo 5º, XXXV), a Constituição
Federal não condicionou tal dever jurídico ao requerimento do necessitado.

8Oliveira, Rafael Alexandria de. Aspectos Procedimentais do Benefício da Justiça Gratuita, in Sousa, José Augusto Garcia
de (coord.). Coleção Repercussões do Novo CPC – Defensoria Pública, Salvador: Juspodivm, 2015, pág. 65.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 14 14
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Em todo o texto constitucional não há nenhuma norma expressa ou implícita


nesse sentido.

Sendo assim, a exigência formal de alegação da insuficiência de recursos não


deve ser vista como uma condição prévia e inafastável ao reconhecimento do
direito à gratuidade — até porque, se ostentasse essa qualidade seria
inegavelmente inconstitucional. Na verdade, ao prever que a insuficiência de
recursos seria demonstrada por intermédio de simples alegação, pretendeu
o legislador facilitar o acesso das classes mais pobres à justiça, evitando que
exigências probatórias relativas à incapacidade econômica acabassem
impedindo ou dificultando a obtenção da tutela jurisdicional devida.

Desse modo, não se mostra necessária a formulação de pedido expresso para


que seja reconhecido o direito à gratuidade de justiça; se as circunstâncias da
causa ou os elementos probatórios trazidos aos autos evidenciarem a
incapacidade econômica da parte de arcar com o pagamento das despesas
processuais e honorários advocatícios, poderá o juiz reconhecer de ofício o
direito à gratuidade, dispensando o recolhimento antecipado das custas lato
sensu.9

Amigos e amigas, em 19 de maio de 2020 (Dia da Defensoria Pública), o STJ divulgou a Edição
nº 148 da Jurisprudência em Teses sobre o tema Gratuidade de Justiça, que poderá ser lido abaixo
através do QR CODE.

9Esteves, Diogo. Princípios Institucionais da Defensoria Pública I Diogo Esteves, Franklyn Roger Alves Silva. - 3. ed. - Rio
de Janeiro: Forense, 2018, p. 230.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 15 15
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Edição 148 - Jurisprudência em Teses - Gratuidade da Justiça I

As demais edições da Jurisprudência em Teses sobre Gratuidade da Justiça podem ser


acessadas através dos outros QR CODES.

Edição 149 - Parte II

Edição 150 - Parte III

Outro ponto importante sobre o tema é saber que é proibida a edição de medida provisória
sobre Defensoria Pública (pois é matéria reservada à Lei Complementar). Detalhe importantíssimo é
que embora a Constituição Federal reserve ao Presidente da República a iniciativa de leis que
disponham sobre a organização da Defensoria Pública da União e normas gerais para a organização
da Defensoria dos estados e do Distrito Federal, não exclui a iniciativa privativa dos defensores
públicos gerais para leis que disponham sobre organização, atribuição e estatuto correspondente.

A título de aprofundamento, é bom lembrar que segundo Frankyln Roger e Diogo Esteves, “a
Defensoria Pública recebeu do constituinte originário o qualificativo de "função essencial à justiça"

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 16 16
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

(Título IV, Capítulo IV), sendo considerada "instituição permanente”, essencial à função jurisdicional
do Estado" (art. 134 da CRFB, com redação dada pela Emenda Constitucional no 80/2014)”. 10

É exatamente por isso que parte da doutrina entende que a Defensoria Pública constitui parte
integrante da identidade ética, política e jurídica da CF/88, cuja existência e características devem ser
preservadas da ação do poder constituinte derivado reformador (poder legislativo).

Assim, doutrinadores de peso, a exemplo de Felipe Caldas Menezes, sustenta que a


Defensoria seria, de fato, uma cláusula pétrea exatamente por instrumentalizar a garantia
constitucional da assistência jurídica integral e gratuita, tendo sido esse posicionamento encampado
pelo art. 1º da LC nº 80/1994. Nesse sentido o autor:

“Outra inovação importante do conceito de Defensoria Pública que merece


destaque é a sua qualificação como Instituição permanente. Fazendo-se um
comparativo entre a redação do art. 134 e a do art. 127, relativo ao Ministério
Público, ambos da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988,
pode-se notar a ausência da palavra permanente no primeiro dispositivo.
Seria, então, possível concluir que a Defensoria Pública poderia ser extinta
por Emenda Constitucional? Mesmo antes da nova redação do art. 1º da Lei
Orgânica Nacional da Defensoria Pública, havia posicionamento em sentido
negativo tanto da doutrina quanto da jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal, em razão de a garantia constitucional da assistência jurídica integral
e gratuita instrumentalizar-se por meio desta Instituição (art. 134 c/c art. 5º,
inciso LXXIV), sendo, portanto, cláusula pétrea a própria existência da
Defensoria Pública (art. 60, § 4º, inciso IV da Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988). O legislador infraconstitucional encampou este
posicionamento incluindo a expressão permanente no conceito do art. 1º da

10Esteves, Diogo. Princípios Institucionais da Defensoria Pública I Diogo Esteves, Franklyn Roger Alves Silva. - 3. ed. - Rio
de Janeiro: Forense, 2018, p. 115.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 17 17
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Lei Complementar nº 80/1994, após a redação dada pela Lei Complementar


nº 132/2009. Ademais, a qualificação pelo legislador complementar da
Instituição como expressão permanente e instrumento do regime
democrático deixa ainda mais evidente o seu caráter permanente,
posicionamento que ganha força ainda maior para aqueles que consideram
haver vedação, ainda que implícita, da alteração do referido regime (art. 1º,
caput da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988). 11 (GRIFOS
NOSSOS)

3. MODELOS DE PRESTAÇÃO DE ASSISTÊNCIA JURÍDICA NO BRASIL E NO MUNDO

Ainda, precisamos falar sobre os modelos de prestação de assistência jurídica no Brasil e no


mundo. Segundo Diogo Esteves e Franklyn Roger Alves Silva12:

3.1 PRO BONO Advogados particulares atuam sem receber dinheiro.

3.2 JUDICARE Advogados particulares atuam e recebem do estado.

3.3 SALARIED É o modelo adotado pela Constituição de 1988.


STAFF MODEL OU
MODELO PÚBLICO Os advogados (Defensores) atuam na defesa dos hipossuficientes e recebem
ADOTADO PELA uma contraprestação mensal do Estado.
CF/88

Trata-se da reunião dos modelos pro bono, judicare e salaried staff.


3.4 HÍBRIDO

11 MENEZES, Felipe Caldas. A reforma da Lei Orgânica Nacional da Defensoria Pública: disposições gerais e especificas
relativas à organização da Defensoria Pública da União. In: SOUSA, José Augusto Garcia de. Uma nova Defensoria Pública
pede passagem. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, pág. 137/138.
12Princípios Institucionais da Defensoria Pública I Diogo Esteves, Franklyn Roger Alves Silva. - 3. ed. - Rio de Janeiro:

Forense, 2018 P.7/14.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 18 18
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Para Franklyn Roger e Diogo Esteves, “na sociedade capitalista, a assistência


jurídica possui o objetivo fundamental de assegurar aos segmentos mais
pobres a mesma possibilidade que os setores mais ricos possuem de acessar
o sistema de justiça. Essa concepção parte do pressuposto de que subsiste
grave iniquidade econômica entre os membros da sociedade capitalista,
sendo necessária a criação de modelos jurídico-assistenciais para garantir aos
menos afortunados a igualdade teórica no acesso à justiça. Na sociedade
socialista, por outro lado, a inexistência de desigualdade social torna
desnecessária a adoção de medidas para equalizar o acesso à justiça. Se fosse
necessária a criação de sistemas para garantir o acesso de determinadas
pessoas à justiça, isso frustraria a própria convicção de inexistência de classes
3.5 SOCIALISTA
na sociedade socialista. Por essas razões, o próprio enquadramento do
sistema socialista de fornecimento de atendimento jurídico à população
como sendo um quinto modelo de assistência jurídica (ao lado de pro bono,
judicare, salaried staff model e híbrido) vem sendo objeto de profundo
questionamento.

Atualmente, pontuam os professores, “o modelo socialista pode ser


encontrado em Cuba, onde o atendimento jurídico prestado à população por
escritórios coletivos de advocacia denominados Bufetes Colectivos, que
foram instituídos pelo Ministério da Justiça após a proibição da prática
autônoma da advocacia”.13

Como vimos, a nossa Constituição adota o Salaried Staff Model, também chamado de modelo
público.

Vejam:

13 Idem.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 19 19
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

“No Brasil, o legislador constituinte realizou a adoção expressa do salaried staff model, incumbindo
a Defensoria Pública de realizar a assistência jurídica integral e gratuita dos necessitados (art. 134 da
CRFB). Com isso, formalizou-se a opção pela criação de organismo estatal destinado à prestação
direta dos serviços jurídico-assistenciais, com profissionais concursados, titulares de cargos públicos
efetivos e remunerados de maneira fixa diretamente pelo Estado, sob regime de dedicação exclusiva
(art. 134, § 1º, da CRFB). Embora custeada por recursos públicos, a Defensoria Pública encontra-se
desvinculada dos Poderes Estatais, podendo livremente exercer os serviços de assistência jurídica
gratuita aos necessitados, "inclusive contra as Pessoas Jurídicas de Direito Público" (art. 4º, § 2º, da
LC nº 80/1994). Com isso, resta assegurada a independência funcional do Defensor Público na
tomada de decisões polêmicas e protegida a Instituição de ataques políticos nos casos mais
controversos.” 14

SE LIGA, ALUN@ RDP: como vimos acima, a Defensoria Pública é mantida com recursos públicos,
mas se encontra desvinculada das funções de Poder da República; ademais, sua atuação pode ser,
inclusive, contra os interesses de órgãos e entidades da Administração direta ou indireta.

Nessa esteira, devemos ter em mente que a Defensoria se caracteriza como órgão DE Estado, haja
vista sua natureza jurídica de direito público interno. Não pode, portanto, ser considerada como
órgão DO Estado, já que, como dito, não pertence ou está vinculada a nenhum outro órgão ou
entidade pública (essa diferenciação já apareceu em prova).

Ademais, devemos criticar duramente o enunciado nº 421 da Súmula do STJ, que diz: “Os
honorários advocatícios não são devidos à Defensoria Pública quando ela atua contra a pessoa
jurídica de direito público à qual pertença.”

14Princípios Institucionais da Defensoria Pública I Diogo Esteves, Franklyn Roger Alves Silva. - 3. ed. - Rio de Janeiro:
Forense, 2018, p.13

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 20 20
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Isso porque o enunciado parte de uma concepção incorreta, haja vista que, como dito, não há
pertencimento da Defensoria a nenhuma outra pessoa jurídica de direito público. Mais à frente
aprofundaremos as discussões em relação a esse ponto.

CAIU NA DPE-AM-2018-FCC: “O modelo de assistência judiciária gratuita adotado pela Constituição


Federal vigente no país denomina-se judicare”.15

A nível de aprofundamento, é bom anotar que segundo a doutrina de Franklyn Roger e Diogo
Esteves (201816), o salaried staff model se desdobra em três submodalidades:

(I) salaried staff model direto;


(II) salaried staff model indireto; e
(III) salaried staff model universitário.

No salaried staff model direto, segundo os autores:

"o próprio poder público opta pela criação de organismos estatais destinados
à prestação direta dos serviços de assistência judiciária (e eventualmente
também de assistência jurídica extrajudicial), contratando para tanto
advogados que, neste caso, manterão vínculo funcional com o próprio ente
público". como exemplo, os autores citam a Defensoria Pública brasileira e o
“Ministério Público de la Defensa argentino”.

No salaried staff model indireto, por outro lado os autores estabelecem que:

“os serviços podem ser prestados por entidades não estatais, via de regra sem
fins lucrativos, que recebem subsídios dos cofres públicos para custeio de suas

15ERRADO.
16Esteves, Diogo. Silva, Franklyn Roger Alves. Princípios Institucionais da Defensoria Pública - 3. ed. - Rio de Janeiro:
Forense, 2018.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 21 21
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

despesas, inclusive para o pagamento dos advogados contratados cujo


vínculo empregatício será estabelecido com essas respectivas entidades e não
com o Estado”. Diogo e Roger também apontam como exemplo os
Neighborhood Law Offices, implementados nos Estados Unidos na década de
1960.

Por fim, no salaried staff model universitário, “a assistência jurídica é prestada por advogados
vinculados a universidades públicas, que supervisionam o trabalho dos estudantes nos escritórios
modelos. Não obstante o serviço jurídico-assistencial seja prestado de forma gratuita à população, o
advogado supervisor recebe remuneração fixa proveniente dos cofres públicos, pelo exercício da
atividade de docência universitária. Como exemplo, podemos citar o Escritório Modelo da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro”. (ROGER E ESTEVES, 2018).

De fato, no salaried staff model universitário, a prestação da assistência é feita por advogados
vinculados a universidades públicas, como o Escritório Modelo da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro.

4. ONDAS RENOVATÓRIAS E ACESSO À JUSTIÇA

Com relação ao acesso à justiça, não tenho dúvidas de que você já ouviu falar em Mauro
Cappelletti e Garth. Esses dois caras fizeram uma obra célebre chamada “Acesso à justiça”, e esse
livro é fundamental para o nosso concurso (calma, não precisa ler, rs).

Mas eu preciso que você entenda que eles dividiram o acesso à justiça em três ondas
renovatórias, embora atualmente a doutrina tem sustentado outras novas duas ondas.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 22 22
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

ONDAS RENOVATÓRIAS DE ACESSO À JUSTIÇA

Assistência judiciária aos pobres. Está relacionada ao obstáculo econômico do


4.1 PRIMEIRA
acesso à justiça. A Defensoria se insere em todas as ondas, mas tem mais ênfase
ONDA
na primeira.
4.2 SEGUNDA Refere-se à representação dos interesses difusos em juízo e visa contornar o
ONDA obstáculo organizacional do acesso à justiça.
Acesso à representação em juízo, a uma concepção mais ampla de acesso à
Justiça, e um novo enfoque de acesso à Justiça. A terceira onda leva em
4.3 TERCEIRA consideração, especialmente, o papel do magistrado na condução do processo,
ONDA como forma de contornar obstáculos burocráticos de acesso à Justiça.

Ex.: Lei dos Juizados Especiais.


4.4 QUARTA
ONDA A dimensão ética e política do direito.
(NOVIDADE)
4.5 QUINTA
ONDA A internacionalização da proteção dos direitos humanos.
(NOVIDADE)
4.6 SEXTA
ONDA Tecnologização da Assistência Jurídica
(NOVIDADE)

Sobre o tema, esclarece Suzana Gastaldi17:

“Mauro Cappelletti e Bryant Garth, na célebre obra “Acesso à justiça”, dividiram em três ondas os
principais movimentos renovatórios do acesso à justiça.

17 Disponível em: https://jus.com.br/artigos/26143/as-ondas-renovatorias-de-acesso-a-justica-sob-enfoque-dos-


interesses-metaindividuais. Acesso em: 27/01/2021.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 23 23
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

A primeira onda diz respeito à assistência judiciária aos pobres e está relacionada ao obstáculo
econômico do acesso à justiça. A segunda onda refere-se à representação dos interesses difusos em
juízo e visa contornar o obstáculo organizacional do acesso à justiça. A terceira onda, denominada
de “o enfoque do acesso à justiça”, detém a concepção mais ampla de acesso à justiça e tem como
escopo instituir técnicas processuais adequadas e melhor preparar estudantes e aplicadores do
direito.

No Brasil, a primeira onda renovatória do acesso à justiça ganhou consistência jurídica com a entrada
em vigor da Lei nº 1.060, de 5 de fevereiro de 1950 e, mais de quarenta anos após, com a instituição
da Defensoria Pública da União, do Distrito Federal e dos Territórios, por meio da Lei Complementar
80, de 12 de janeiro de 1994. Hoje, com a Constituição Federal de 1988, a assistência jurídica integral
e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos está inserida no catálogo dos direitos e
garantias fundamentais, mais precisamente no inciso LXXIV do artigo 5º. A Defensoria Pública foi
consagrada no artigo 134 da Constituição como “instituição essencial à função jurisdicional do
Estado” e, por ser uma garantia institucional, não pode ser suprimida do ordenamento jurídico”.

É preciso aprofundar sobre as duas outras ondas renovatórias trabalhadas por Diogo Esteves
e Franklyn Roger Alves Silva18 (a quarta e a quinta) como vimos acima:

“QUARTA ONDA RENOVATÓRIA: A DIMENSÃO ÉTICA E POLÍTICA DO DIREITO


Tendo como base a sensação comum na sociedade moderna de estar-se rodeado de injustiça, ao
mesmo tempo em que não se sabe onde a justiça está, o professor KIM ECONOMIDES preconiza a
existência de uma quarta onda de acesso à justiça, expondo a dimensão ética e política da
administração da justiça. De acordo com o professor, "a essência do problema não está mais limitada
ao acesso dos cidadãos à justiça, mas inclui também o acesso dos próprios advogados à justiça". Isso
porque "o acesso dos cidadãos à justiça é inútil sem o acesso dos operadores do direito à justiça".” 19

18Idem.
19Princípios Institucionais da Defensoria Pública I Diogo Esteves, Franklyn Roger Alves Silva. - 3. ed. - Rio de Janeiro:
Forense, 2018, p.44.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 24 24
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

“QUINTA ONDA RENOVATÓRIA: A INTERNACIONALIZAÇÃO DA PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS


Ao longo da segunda metade do século XX, o Direito Internacional dos Direitos Humanos atravessou
importante processo de restauração, estimulado especialmente pelas duras experiências legadas
pelos dois conflitos mundiais. A tutela de direitos humanos ganhou significativa atenção após a
Segunda Guerra Mundial mediante a criação da Organização das Nações Unidas e dos instrumentos
normativos protetivos, com especial atenção para a Carta de São Francisco, a Declaração Universal
de Direitos Humanos, o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e o Pacto de Internacional de
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, todos integrantes da chamada Carta Internacional de
Direitos Humanos. O processo de generalização da proteção internacional dos Direitos Humanos
desencadeou o surgimento de um novo movimento de acesso à justiça, que conforma o
desenvolvimento de uma nova onda renovatória, dedicada à efetividade da proteção jurídica do
indivíduo em face do próprio Estado que deveria protegê-lo.”20

Nesse contexto, é importante trazermos o debate sobre a crise da Covid-19 e a tecnologização


da Defensoria Pública, e que faz trazer ao debate uma nova onda de acesso à justiça: a 6º onda. Em
artigo publicado recentemente, Eduardo Mesquita Gibrail, que é Defensor Público no Estado do Rio
de Janeiro, traz um embate interessante21:

(...) Analisando a figura do litigante vulnerável no âmbito do processo civil,


Fernanda Tartuce atentou-se à peculiaridade de que “a exclusão digital pode
se dar pela insuficiência econômica que impede o acesso a computadores e
outros equipamentos. Contudo, não se resume a tanto: há quem, apesar de
dispor do aparato físico, tenha dificuldades de utilizá-lo”.

Exsurge, assim, o questionamento: é possível a utilização de tecnologias


digitais do serviço público jurídico-assistencial no Brasil?

20Idem. P.46.
21Disponível em: https://www.conjur.com.br/2020-jul-07/tribuna-defensoria-crise-covid-19-tecnologizacao-defensoria-
publica#author. Acesso em: 27/01/2021.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 25 25
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

A partir de uma análise da gradativa evolução da assistência jurídica no


mundo, Diogo Esteves e Franklyn Roger Alves Silva identificaram o
surgimento de diversos movimentos (ou sub-movimentos) distintos. Naquilo
que passou a ser denominado de sexta onda renovatória de acesso à justiça
pela “nova edição do Projeto Florença” (Global Access to Justice Project), a
Tecnologização da Assistência Jurídica é assim explicada pelos autores:

“Dentro do atual cenário mundial de crise econômica e de busca pela


otimização de recursos, diversos países passaram a investir em tecnologia
como forma de reduzir ou, pelo menos, estabilizar os gastos orçamentários
com os serviços jurídico-assistenciais públicos. Atualmente, os serviços de
call center são utilizados por grande parte dos modelos de assistência jurídica
no mundo, como etapa preliminar para o atendimento presencial ou como
forma de prestar orientação jurídica extrajudicial. Essa ferramenta tem
possibilitado a redução do custo inerente ao deslocamento físico dos
advogados e a maximização do tempo gasto na prestação de orientações
jurídicas, além de facilitar a superação de obstáculos geográficos que
poderiam dificultar o acesso das classes mais pobres à justiça. A crescente
difusão do acesso à internet tem possibilitado, também, o fornecimento de
assistência jurídica on-line, seja por intermédio de chats ou, até mesmo, por
videoconferência. Outrossim, foram desenvolvidos websites interativos que
auxiliam o usuário a resolver pequenos problemas jurídicos (selfhelp
systems)”

No Brasil, já há algum tempo, é verdade, se observa, no cotidiano das


Defensorias Públicas (Estaduais e da União), a implementação de recursos
tecnológicos, especialmente voltados à divulgação e difusão de informações
em sites e redes sociais, e à aproximação do contato entre Instituição e

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 26 26
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

usuário, de maneira mais dinâmica, a partir de aplicativos de mensagens e e-


mails, por exemplo.

Todavia, ainda não se tinha visto – antes da pandemia mundial ora vivenciada
– a efetiva tecnologização da assistência jurídica, de forma integral e
substitutiva ao atendimento presencial.

É cediço que, diante da recomendação mundial das autoridades sanitárias


quanto à imprescindibilidade de isolamento social para mitigar os riscos de
contágio pelo novo coronavírus, surgiu a necessidade de criação de
alternativas capazes de manter o serviço público essencial prestado pela
Instituição.

No âmbito da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, em tempo recorde, foram


criados (e estão em pleno funcionamento desde o dia 23 de março de 2020),
110 polos de atendimento remoto para garantir a orientação jurídica à
população sem a necessidade de deslocamento, com fluxo de comunicações
por meio do aplicativo de mensagens WhatsApp, e-mails e telefone – cujas
informações foram consolidadas em um site criado especificamente para
essa finalidade. Há, também, atendimentos no plantão noturno diário e nos
plantões de feriados e finais de semana – tratando-se, pois, de serviço
ininterrupto.

Dados divulgados no site oficial da Defensoria Fluminense dão conta de que,


no período compreendido entre a implementação do funcionamento remoto
e o dia 17 de junho de 2020, foram registrados 144 mil atendimentos.”

Conclui o autor que “a forçada mudança de paradigma, do “analógico” para o “digital”, que
já era fomentada no texto das "Regras de Brasília sobre Acesso à Justiça das Pessoas em Condições

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 27 27
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

de Vulnerabilidade" (100 Regras de Brasília)22” pode deixar, como herança, um serviço público
jurídico-assistencial mais moderno e, portanto, mais eficaz. Novas perspectivas, antes inexploradas,
agora vieram à tona, e o futuro se incumbirá de trazer outras, de modo que não há outra conclusão
senão compreender, em definitivo, que não há mais como voltar atrás.”

Vocês já ouviram falar em Visual Law? Se nunca ouviram falar, com certeza conhecem o
famoso QR-CODE. Pois bem. Visual Law nada mais é que uma área que utiliza elementos visuais para
tornar o Direito mais claro e compreensível. A utilização de QR-Codes em petições iniciais,
contestações e recursos, por exemplo, é uma frequente materialização prática do visual law.

A Defensoria Pública do Rio de Janeiro, conforme notícia no site da ANADEP em 24/07/2020 23,
recentemente, conseguiu suspender uma decisão liminar que havia determinado uma desocupação
coletiva de famílias carentes. Para reforçar os argumentos jurídicos, o defensor público Diogo Esteves
anexou ao agravo de instrumento, além de fotos da comunidade, um breve vídeo com depoimentos
e imagens, feito pelos próprios moradores e enviado para o WhatsApp do atendimento remoto da
Defensoria Pública. O material foi publicado no YouTube em modo privado, e o acesso dos
desembargadores possível por link e por QR Code inserido no corpo da peça processual. — O uso de
Visual Law nas petições pode tornar o Direito e as provas mais claras e compreensíveis. Esse debate
sobre a tecnologia e o acesso à justiça tem despertado ideias sobre uma sexta onda renovatória de
acesso à justiça.

Por fim, caso vocês não tenham lido o Mapa da Defensoria Pública no Brasil, peço que pelo
menos deem uma olhada, já que comumente vem expresso nos editais, como nesse ponto
“panorama da Defensoria Pública no Brasil”.24

22 Capítulo IV, Seção 5, Regra 95: "Procurar-se-á o aproveitamento das possibilidades que o progresso técnico possa
oferecer para melhorar as condições de acesso à justiça das pessoas em condição de vulnerabilidade".
23 Disponível em: https://anadep.org.br/wtk/pagina/materia?id=45197. Acesso em: 27/01/2021.
24 Disponível: http://www.ipea.gov.br/sites/images/downloads/mapa_defensoria_publica_no_brasil_19_03.pdf. Acesso

em: 27/01/2021.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 28 28
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

CAIU NA DPE-AM-2018-FCC: “São dados e constatações que surgem no panorama consolidado pelo
Mapa da Defensoria Pública do Brasil, de 2013, quando se analisam todas as instituições já instaladas
pelo País, elevado número de cargos vagos e atuação extrajudicial de relevância”. 25

5. FUNÇÃO TÍPICA E ATÍPICA DA DEFENSORIA PÚBLICA

Também é importante sabermos sobe as funções típicas e atípicas desempenhadas pela


Defensoria Pública. Segundo Franklyn Roger Alves e Diogo Esteves26, há a classificação clássica em
típica e atípica, que vamos entender agora.

Como função típica, pode-se entender como sendo “aquelas exercidas com o objetivo de
tutelar direitos titularizados por hipossuficientes econômicos exercidas nas esferas judiciais e
extrajudiciais”.

Já a função atípica seria “toda aquela que não se relacionar com a deficitária condição
econômica do sujeito, sendo desempenhadas pela Defensoria Pública independentemente da
verificação da hipossuficiência do destinatário. Nesses casos o fator econômico é irrelevante”. É o
caso, por exemplo, do exercício da curadoria especial no processo civil. Imagine o caso em que Sílvio
Santos, dono do SBT, é revel em um processo que foi citado por edital. Neste caso, a Defensoria
Pública poderá atuar na qualidade de curador especial, tendo em vista que não há a verificação de
fator econômico.

CAIU NA DPE-AL-2017-CESPE: “As funções atípicas da Defensoria Pública prescindem da insuficiência


de recursos financeiros e abarcam os organizacionalmente vulneráveis”. 27

25 CERTO.
26 Silva, Franklyn Roger Alves; Esteves, Diogo. Princípios Institucionais da Defensoria Pública Editora Forense. Edição do
Kindle. 2017
27 CORRETO. Lembre-se que “prescindir” é sinônimo de dispensar. O CESPE ama!

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 29 29
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

6. FUNÇÕES TRADICIONAIS E NÃO TRADICIONAIS: UMA NOVA CLASSIFICAÇÃO

A classificação em “típica e atípica” vem sendo menos utilizada atualmente, havendo uma
nova teoria. Para o professor José Augusto Garcia28, há, em vez de “típica e atípica”, as funções
tradicionais (ou tendencialmente individualistas) e aquelas não tradicionais (ou tendencialmente
solidaristas).

As “Funções Tradicionais” seriam aquelas “ligadas à atividade básica (ou mínima) da


Defensoria Pública, classicamente associadas à carência econômica do indivíduo”. É, em síntese,
equivalente à função “típica” que vimos acima.

Já na função não tradicional, por outro lado, “decorre do solidarismo jurídico dentre as quais
se destacam as atribuições que tencionam a proteção concomitante de pessoas carentes e não
carentes (ex.: ação civil pública relativa a direitos difusos), - as atribuições que repercutem em favor
de pessoas carentes e também beneficiam de forma nominal pessoas não necessariamente
hipossuficientes (ex.: representação judicial de um casal abastado que visa à adoção de uma criança
internada), etc. Assim, vejam a tabela abaixo para ficar mais claro.

FUNÇÃO TRADICIONAL FUNÇÃO NÃO TRADICIONAL


(Tendencialmente individualistas) (Tendencialmente solidaristas)
Associadas à carência econômica do indivíduo. É irrelevante o fator econômico.

Ex.: ação de indenização ajuizada por um Ex.: atuação da DPE como custos vulnerabilis na
hipossuficiente econômico representado pela execução penal.
Defensoria Pública.

28Esse autor é examinador da DPERJ. Para entender melhor as funções tradicionais e não tradicionais, recomendamos
uma rápida leitura do seu artigo “O Destino de Gaia e as Funções Constitucionais da Defensoria Pública".

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 30 30
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

7. A AUTOCOMPOSICÃO E A PERSPECTIVA DA DEFENSORIA PÚBLICA

A Defensoria Pública possui um papel fundamental no microssistema de autocomposição de


conflitos. De acordo com o art. 4º, inciso II, da LC 80/94, que estabelece, é função institucional da DP
a promoção prioritariamente da solução extrajudicial dos litígios, visando à composição entre as
pessoas e conflitos de interesses, por meio de mediação, conciliação, arbitragem e demais técnicas
de composição e administração de conflitos.

II – promover, prioritariamente, a solução extrajudicial dos litígios, visando à


composição entre as pessoas em conflito de interesses, por meio de mediação,
conciliação, arbitragem e demais técnicas de composição e administração de
conflitos. (GRIFOS NOSSOS).

É importante asseverar que a disposição “demais técnicas de composição e administração de


conflitos” prevista no art. 4º, inciso II, da LC 80/94, consagra uma cláusula geral de atipicidade no
tratamento adequado de conflitos (o que foi incluído pela alteração promovida pela LC 132/09).

Desse modo, a DP foi o primeiro, dentre os atores processuais, a incorporar, por meio de
alteração legislativa, a ideia de tratamento adequado de conflitos, voltada não apenas a resolvê-los,
mas também, administrá-los. Desse modo, é possível divergir da doutrina majoritária, que atribui a
primazia do tratamento adequado de conflitos à Resolução 125 do CNJ, pois esta somente foi editada
em 2010, ou seja, 1 ano depois.

Não se discute a relevância normativa da Resolução 125, do CNJ, porque ela foi a primeira
norma de âmbito federal que institui uma política judiciária nacional de tratamento adequado de
conflitos relativa ao Poder Judiciário. Todavia, uma noção mais contemporânea de acesso à justiça
não se confunde com o acesso ao Judiciário, de modo que não podemos ignorar que a LC 80/94 foi a
primeira lei federal que estabeleceu uma cláusula geral e aberta para o tratamento adequado do
conflito, utilizando-se a técnica que se mostrasse mais adequada ao caso concreto.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 31 31
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Devemos considerar, ainda, a reconfiguração que o Processo Civil, através das mudanças de
fase metodológica, sofreu, de modo que o CPC de 2015 não pode ser interpretado com o mesmo
olhar do CPC de 1973. Isso porque este se encontrava plenamente adaptado à doutrina do
instrumentalismo, a qual conferia à jurisdição o papel central na resolução do conflito, devendo o
Magistrado adequar o processo ao direito material (o que se critica por conferir um protagonismo
excessivo ao juiz, sem a participação das partes).

Diante do cenário apresentado na vigência do CPC de 73 e paralelamente às discussões para


a elaboração do CPC de 2015, surgiu uma nova fase metodológica de análise do processo (que a
doutrina identifica como uma 4ª fase), o formalismo valorativo, que se distingue do instrumentalismo
quanto à forma de compatibilizar o direito processual ao direito material.

No instrumentalismo, o processo é visto como um instrumento, que deve ser conformado


pelos juízes às exigências do direito material. Por outro lado, o formalismo valorativo afasta a
jurisdição do vértice do sistema, para atribuir ao processo à posição central da teoria (a forma
processual serve como garantia e, não amarra da justiça).

O processo é visto como valorativo, pois ele serve à construção do direito posto pelo
jurisdicionado e uma proteção quanto ao arbítrio judicial, configurando-se, portanto, como
verdadeiro direito fundamental.

Por essa razão, doutrinadores, como Hermes Zanetti Jr., defendem uma relação circular entre
o direito processual e o direito material, na qual o processo serve ao direito material, mas, para que
assim o faça, é necessário que seja servido para aquela, o que resulta na construção de um direito
material novo pelo processo. Isso é relevante, pois, assim, o processo passa a admitir outras soluções,
para além da sentença adjudicada. O que se observa é que o CPC de 2015 adotou um sistema de
múltiplas portas de acesso à justiça, onde há várias formas de se iniciar o processo, devendo ser
asseguradas, também, várias “portas” para se sair dele.29

29 As outras portas seriam a mediação, conciliação, arbitragem, etc.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 32 32
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Neste sentido, o caput do art. 3º, do CPC consagra o princípio da inafastabilidade do controle
jurisdicional. Mas, no § 1º, autoriza a arbitragem, na forma da lei. No § 2º afirma que o Estado
promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos, e, por fim, no § 3º, estabelece
que a conciliação, a mediação e outros métodos consensuais de solução de conflitos (consagra-se,
mais uma vez, uma cláusula geral de tratamento de conflitos, a qual dialoga com a cláusula geral
prevista no art. 4º, II, da LC 80/94) deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores
públicos e membros do MP, inclusive no curso do processo judicial.

A realidade é que o CPC de 2015 tem uma aplicação diferente daquela que observamos,
quando estudamos outros microssistemas. Por exemplo, no microssistema de tutela coletiva
devemos buscar uma solução, primeiro, no próprio microssistema e, após, no CPC, em caráter
subsidiário. No microssistema de autocomposição, entretanto, o CPC não possui aplicação
subsidiária, pois ele se comunica diretamente com as normas do microssistema, possuindo grande
importância a cláusula geral de atipicidade de tratamento de conflitos.

O microssistema de autocomposição é analisado, diferentemente dos demais microssistemas,


sob a perspectiva da teoria dos sistemas de Niklas Luhmann. A repercussão prática desse tratamento
é que a abordagem deixa de ser puramente jurídica, mas passa a ser interdisciplinar. O Direito é
encarado como mais um sistema social, ou seja, ele não está sozinho, mas inserido em um
macrossistema de tratamento de conflitos, além disso, é o resultado do acoplamento estrutural entre
os sistemas de heterocomposição e autocomposição (interseção entre os sistemas).

A compreensão do conflito, a partir de suas peculiaridades, é fundamental para a utilização


da técnica adequada. O conhecimento e a utilização correta desta são fundamentais para a resolução
do conflito (não basta apenas duas pessoas serem colocadas frente a frente para uma conversa). O
estudo das teorias do conflito permite a observação e a compreensão do conflito como um fenômeno
inerente à vida humana, que pode ser analisado em variados níveis e escalas, visto que não se trata
de um fenômeno estático e, sim, dinâmico. Permite, ainda, que se perceba um nível manifestado e
um nível latente. Normalmente, o direito se ocupa apenas com as condutas externas, o que, em

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 33 33
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

regra, é apenas a ponta do iceberg do conflito, daí a incapacidade, muitas vezes, da sentença
adjudicada pelo juiz não possuir a capacidade de externar a pacificação. Elementos internos ao
próprio indivíduo e a visão parcial do objeto em jogo podem vir a refletir no comportamento
manifestado.

A solução de controvérsias de forma insatisfatória para uma ou ambas as partes, em muitos


casos, não extinguem os conflitos, mas apenas muda as suas feições, razão pela qual muitos conflitos
poderão apresentar natureza construtiva ou destrutiva a depender dos resultados que produzirão. O
conflito é um fenômeno social dinâmico que se desenvolve a partir de uma espiral negativa de
degeneração.

Cumpre ressaltar que a autocomposição não é algo novo no processo brasileiro e nem a
panaceia para a resolução de todos os problemas, mas não podemos ignorar todo o potencial que
ela apresenta a partir da evolução das fases metodológicas do processo, do movimento de nova
sistematização do direito, os quais importam num novo papel para os sujeitos envolvidos na ralação
conflituosa. Trata-se de um modelo flexível, que tem se mostrado mais adequado para suprir as
expectativas sociais com o resultado do processo. Devemos reconhecer o potencial protagonismo
que a DP pode exercer como instrumento.

8. A ATUAÇÃO DA DEFENSORIA PÚBLICA COMO “OMBUDSMAN”

Por fim, é importante que você saiba sobre a atuação da Defensoria Pública como
“Ombudsman”. Você já ouviu falar? Vamos entender.

Trata-se de “uma instituição pública (criada normalmente pela Constituição e regulada por lei
do Parlamento) dotada de autonomia, cuja finalidade principal é proteger os direitos humanos dos
cidadãos frente à Administração Pública do país respectivo." (PARECER "Dimensões Constitucionais
da Defensoria Pública da União", de autoria do Professor Daniel Sarmento a ANADEF30). Nesse

30 Disponível em: http://www.anadef.org.br/images/Parecer_ANADEF_CERTO.pdf. Acesso em: 27/01/2021.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 34 34
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

parecer, o professor Daniel Sarmento responde a alguns questionamentos, entre eles, o seguinte:
“As Emendas Constitucionais 74/2013 e 80/2014 permitem que os Defensores Públicos Federais
exerçam a função de Ombudsman?”

E a resposta foi a seguinte:

“A plena autonomia da DPU, como destacado na resposta ao quesito anterior, foi expressamente
reconhecida pela EC nº 74/2013. Os membros da Defensoria Pública da União, em simetria com o
regime constitucional do Ministério Público e da Magistratura, possuem independência funcional e
inamovibilidade (CF, art. 134, §§1º e 4º), e estão sujeitos a uma série de deveres voltados à garantia
do bom exercício das suas funções, como a necessidade de residirem na localidade onde estiverem
lotados (art. 45, I, LC nº 80/94) e a proibição do exercício de atividade político-partidária enquanto
atuarem perante a Justiça Eleitoral (art. 46, V, LC nº 80/94). A EC nº 80/2014, por sua vez, conferiu
explícito reconhecimento constitucional a atribuições institucionais que já tinham sido conferidas à
Defensoria Pública da União, pela Lei Complementar nº 80/94, especialmente após as modificações
introduzidas pela Lei Complementar nº 132/2009, (veja-se, e.g., os arts. 3º-A e 4º da LC nº 80/94).
De todo modo, o desempenho da função de Ombudsman pela Defensoria Pública da União está
delimitado pelo escopo das suas finalidades institucionais, que, conforme o disposto no art. 134 da
CF, se ligam especialmente à defesa de indivíduos e grupos hipossuficientes e vulneráveis”. GRIFOS
NOSSOS.

CAIU NA DPE-AL-CESPE-2017: “No que diz respeito às funções típicas e atípicas da Defensoria Pública,
é correto afirmar que a função de ombudsman exercida pela Defensoria Pública brasileira em defesa
dos direitos humanos consiste em atribuição típica”.31

Na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) Nº 4636, proposta pelo Conselho Federal da


Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em que discutia a obrigatoriedade do defensor público ser
inscrito na OAB, o ministro relator Gilmar Mendes defendeu a não obrigatoriedade de inscrição na

31 ERRADO. Trata-se de função atípica (ou não tradicional). Isso porque esta não afeta à condição econômica.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 35 35
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

OAB para postular em juízo pelos Defensorxs, e ainda fez uma observação muito importante sobre a
atuação da instituição enquanto ombudsman, vejam:

“Conclui-se que a Defensoria Pública, agente de transformação social, tem


por tarefa assistir aqueles que, de alguma forma, encontram barreiras para
exercitar seus direitos. Naturalmente sua atribuição precípua é o resguardo
dos interesses dos carentes vistos sob o prisma financeiro. Todavia, ressalto,
não é a única. Ora, as desigualdades responsáveis pela intensa instabilidade
social não são apenas de ordem econômica.

A bem da verdade, examinando o projeto constitucional de resguardo dos


direitos humanos, podemos dizer que a Defensoria Pública é verdadeiro
ombudsman, que deve zelar pela concretização do estado democrático de
direito, promoção dos direitos humanos e defesa dos necessitados, visto tal
conceito da forma mais ampla possível, tudo com o objetivo de dissipar, tanto
quanto possível, as desigualdades do Brasil, hoje quase perenes.” GRIFOS
NOSSOS).32

9. A DEFENSORIA PÚBLICA PODE ATUAR NA DEFESA DE PESSOAS JURÍDICAS?

Na mesma ADI Nº 4636 questionou-se, perante o STF, a constitucionalidade da expressão “e


jurídicas” constante do inciso V do art. 4º da Lei Complementar 80/1994 (Lei Orgância da Defensoria
Pública), com a redação dada pela Lei Complementar 132/2009, como podemos observar abaixo:

Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras:


(...)

32Em provas mais avançadas (discursiva e oral), mostre ao examinador que detém conhecimento sobre esse julgado do
STF e também sobre o Recurso Especial nº 1.710.155 – CE no STJ, cuja tese fixada foi a de que os defensores não precisam
estar inscritos na OAB para postularem em juízo (disponível em: https://www.conjur.com.br/dl/acordao-stj-defensores-
publicos-nao.pdf. Acesso em: 27/01/2021).

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 36 36
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

V – exercer, mediante o recebimento dos autos com vista, a ampla defesa e


o contraditório em favor de pessoas naturais e jurídicas, em processos
administrativos e judiciais, perante todos os órgãos e em todas as instâncias,
ordinárias ou extraordinárias, utilizando todas as medidas capazes de
propiciar a adequada e efetiva defesa de seus interesses;

Em seu voto, o Ministro Gilmar Mendes deixou claro que “tanto a expressão “insuficiência de
recursos, quanto “necessitados” podem aplicar-se tanto às pessoas físicas quanto às pessoas
jurídicas”.

Transcrevo abaixo, para fins de aprofundamento para fases discursivas e orais, o voto do
relator:

(...) Lembro que não há, em princípio, impedimento insuperável a que


pessoas jurídicas venham, também, a ser consideradas titulares de direitos
fundamentais, não obstante estes, originalmente, terem por referência a
pessoa física. Acha-se superada a doutrina de que os direitos fundamentais
se dirigem apenas às pessoas humanas.

Os direitos fundamentais suscetíveis, por sua natureza, de serem exercidos


por pessoas jurídicas podem tê-las por titular. Assim, não haveria por recusar
às pessoas jurídicas as consequências do princípio da igualdade, nem o direito
de resposta, o direito de propriedade, o sigilo de correspondência, a
inviolabilidade de domicílio, as garantias do direito adquirido, do ato jurídico
perfeito e da coisa julgada. Os direitos fundamentais à honra e à imagem,
ensejando pretensão de reparação pecuniária, também podem ser
titularizados pela pessoa jurídica.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 37 37
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

(...) Podemos concluir, assim, que as pessoas jurídicas são titulares do direito
à inafastabilidade da jurisdição (art. 5º, XXXV) e dos direitos do tipo
procedimental, como o direito a ser ouvido em juízo e o direito ao juiz
predeterminado por lei, o direito à igualdade de armas e o direito à ampla
defesa (HC 70.514, DJ 27.6.1997).

Como não enxergar, por exemplo, as microempresas, as empresas de


pequeno porte, as individuais? Quando se fala em pessoa jurídica, aqui,
devemos ir além dos bancos, grandes lojas, redes de supermercado. Trata-
se, sim, do padeiro que abriu seu estabelecimento comercial com recursos
da adesão ao Programa de Demissão Voluntária, da costureira que organizou
oficina na garagem de sua casa, do sapateiro que atende em uma pequena
banca de bairro. Enfim, as possibilidades são infindáveis. E mais: não
podemos esquecer que as entidades civis sem fins lucrativos e associações
beneficentes também são pessoas jurídicas.

Por esta razão, a pretensão aventada pela requerente, quando pleiteia a


declaração de inconstitucionalidade da expressão “e jurídicas”, constante do
inciso V do artigo 4º da Lei Complementar 80/94, com o objetivo de restringir
a assistência da Defensoria Pública apenas as pessoas físicas, não encontra
guarita na Constituição Federal.

10. A DEFENSORIA COMO “CUSTOS VULNERABILIS”

Ainda dentro de Direito Institucional, reservei um ponto EXCLUSIVO para tratar sobre o
instituto do custos vulnerabilis.
Como bem lembra Pedro Lenza (Manual de Direito Constitucional Esquematizado, 2020), o
Estado do Rio de Janeiro foi o primeiro na implementação da Defensoria Pública no Brasil, servindo
de modelo para edição da LC 80/1994, inclusive.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 38 38
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Nesse sentido, abro parênteses para mencionar um recente julgado do STF que declarou
inconstitucional um artigo do ADC da Constituição do Estado de Sergipe. Vamos entender melhor, e
logo depois voltamos para o assunto custos vulnerabilis.

É que antes da CF/88, alguns Estados possuíam Defensoria Pública por força de leis estaduais
(ex.: DPE-RJ). Outros estados, embora não tivessem a Defensoria Púbica com esse nome, tinham
advogados contratados pelo Estado para exercerem uma função muito parecida com a que
conhecemos hoje na Defensoria Pública.

Veja, contudo, o que estabeleceu o art. 22 do ADCT da CF/88:

Art. 22. É assegurado aos defensores públicos investidos na função até a data
de instalação da Assembleia Nacional Constituinte o direito de opção pela
carreira, com a observância das garantias e vedações previstas no art. 134,
parágrafo único, da Constituição.

Ou seja, o art. 22 do ADCT da CF/88 previu que as pessoas que estivessem exercendo a função
de Defensor Público até 01/02/1987 (data de instalação da Assembleia Nacional Constituinte)
pudessem optar pela carreira de Defensor Público.

De forma semelhante, o art. 15 do ADCT da Constituição do Estado de Sergipe passou a prever


o seguinte.

Art. 15. É assegurado aos defensores públicos investidos da função até a data
da instalação da Assembleia Estadual Constituinte o direito de opção pela
carreira, com a observância das garantias e vedações previstas no art. 123,
parágrafo único, da Constituição Estadual.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 39 39
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Contudo, a data da instalação da Assembleia Estadual Constituinte do Estado do Sergipe foi


posterior à data de instalação da Assembleia Nacional Constituinte (CF/88). Assim, houve
simplesmente a ampliação do prazo do art. 22 do ADCT da CF/88, concordam?

O STF, ao analisar a ADI 5011 em 08/06/2020, entendeu que O art. 15 do ADCT da CE/SE
ampliou o limite temporal de excepcionalidade previsto pelo art. 22 do ADCT da CF/88 e, por essa
razão, feriu a regra do concurso público (art. 37, II, da Constituição Federal). O art. 22 do ADCT criou,
de modo excepcional, uma forma derivada de investidura em cargo público. Trata-se de uma exceção
à regra geral do concurso público e, portanto, não pode ser ampliada pelo constituinte estadual. STF.
Plenário. ADI 5011, Rel. Edson Fachin, julgado em 08/06/2020 (Info 984).33

Agora voltamos ao ponto anterior, em que estávamos tratando sobre a gênese da DPERJ.

Pois bem!

Foi no Distrito Federal (posterior Estado da Guanabara) assim como no antigo Estado do Rio
de Janeiro (este abrangia todo o Estado do Rio, exceto a cidade Rio de Janeiro, capital), que a
Defensoria Pública estava inserida dentro da carreira do Ministério Público, como bem assevera
Diogo Esteves e Franklyn Roger em sua obra sobre Direito Institucional. Assim, a assistência aos
necessitados era prestada por integrantes da carreira do MP.

Veja que interessante!

33Contudo, conforme estabelece Márcio do Dizer o Direito no Inf. 984 comentado, tendo em vista que já se passaram
muitos anos desde a edição da CE/SE, o STF entendeu que, em homenagem à segurança jurídica, deveriam ser
preservadas as aposentadorias e pensões dos Defensores nomeados pelos atos derivados da norma inconstitucional
(modulação dos efeitos). Assim, o STF julgou procedente o pedido da ADI para declarar a inconstitucionalidade do art. 15
do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias do Estado de Sergipe, ressalvando, nos termos do art. 27 da Lei nº
9.868/99, os servidores que já estejam aposentados (ou seus dependentes estejam em gozo de pensão por morte) ou
que, até a data do julgamento, tenham preenchido os requisitos para a aposentadoria. Para ler mais:
https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2020/08/info-984-stf.pdf. Acesso em: 27/01/2021.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 40 40
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Por mais estranho que possa parecer, a Defensoria Pública surge atrelada à carreira do MP. A
lei do antigo Distrito Federal trazia a carreira do Ministério Público com os seguintes cargos: Defensor
Público, Promotor Substituto, Promotor Público e Curador. O primeiro cargo (Defensor) era provido
por concurso público, e os demais por promoção (ascensão funcional).

Em outras palavras, o candidato aprovado entraria na carreira do Ministério Público como


Defensor, e ia sendo promovido até chegar a ser Promotor.

Maurílio Casas Maia sustenta que essa ideia de colocar o cargo de Defensor antes do de
Promotor, na mesma carreira, demonstra que a ideia do legislador era de que antes de acusar, seria
necessário ter passado pelas mazelas da defesa, isto é, ter conhecido na pele as dificuldades
inerentes à defesa.

É importante dizer que a partir do termo “necessitados”, hoje em ampla construção,


começaram a desenvolver modelos de atuação da Defensoria Pública.

Pedro Lenza (2020) afirma que Bheron Rocha (Defensor Público do Estado do Ceará e escritor
de várias obras sobre Defensoria) identifica três grandes modelos de atuação:

Neste caso, é quando a Defensoria representa judicialmente a parte,


10.1 PROCURADOR
no uso da sua capacidade postulatória. O Direito é do próprio usuário
JUDICIAL DOS
(assistido), que só está sendo representando judicialmente pela
VULNERÁVEIS
Defensoria Pública.
(ATTORNATO AD
VULNERABLE)
A Defensoria atua em nome próprio, na defesa de direitos alheios. É
10.2 LEGITIMADO
o caso do ajuizamento de ação civil pública para defesa de
EXTRAORDINÁRIO
vulneráveis (idosos, por exemplo).
(AMICUS COMMUNITAS)

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 41 41
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

10.3 GUARDIÃO DAS A Defensoria, neste caso, atua em nome próprio em razão de missão
VULNERABILIDADES institucional de promoção dos Direitos Humanos. O direito envolvido
(CUSTOS VULNERABILIS) pode ser individual ou coletivo.

Nesse sentido, gostaria de tratar especificamente sobre a atuação da Defensoria como


“custos vulnerabilis”, terceiro modelo visto nesse quadrinho.

Para alguns, é no art. art. 554, § 1º do NCPC onde está positivado o embrião do custos
vulnerabilis.

Vejam o art. 554, § 1º do NCPC:

§ 1º No caso de ação possessória em que figure no polo passivo grande número de pessoas, serão
feitas a citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados no local e a citação por edital dos
demais, determinando-se, ainda, a intimação do Ministério Público e, se envolver pessoas em
situação de hipossuficiência econômica, da Defensoria Pública.

Em julgado histórico, publicado em 25/09/2019, o TJ-AM, tratando sobre o subfinanciamento


da Defensoria ante às demais instituições do sistema de justiça, sedimenta a tese de Maurilio Casas
Maia a respeito do custos vulnerabilis, e faz referência a tese de Bheron Rocha de Defensoria Pública
como amicus democratiae.

Inicialmente, afirma o TJ-AM:

“Conforme visto, múltiplos são os fundamentos do decisório vergastado,


destacando-se para a admissão da intervenção de custos vulnerabilis: 1)
missão constitucional da Defensoria Pública, voltada à defesa dos vulneráveis
e tutela dos direitos humanos; 2) Interpretação histórica extraída da origem
do cargo de defensor público – a Lei Estadual do Rio de Janeiro nº 2.188/1954

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 42 42
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

–, pela qual se afigura que os defensores públicos nasceram enquanto órgão


da Procuradoria de Justiça do Rio de Janeiro; 3) Com a finalidade de amplificar
a democracia processual com a escuta do interesse dos vulneráveis, para a
Defensoria Pública deve ser, ao menos, possibilitado influenciar os Tribunais
na formação de precedentes; 4) Deve ser garantida a paridade de armas e
simetria entre Estado Acusador e Estado Defensor na formação de
precedentes em todas as instâncias e graus”. Autos nº 0003697-
80.2019.8.04.0000. Classe: Agravo Regimental Criminal.

A decisão, que é simplesmente brilhante, ainda esclarece que o Ministério Público seria como
se fosse uma espécie de fiscal da democracia (custos democratiae) e a Defensoria Pública uma amiga
da democracia (“amicus democratiae”)34

Nesse sentido:

“Com efeito, considerando-se o Ministério Público como o fiscal da ordem


jurídica e do regime democrático (art. 127, CF) e a Defensoria Pública como
uma expressão e instrumento do regime democrático (art. 134, CF), seria
como se o Ministério Público fosse uma espécie de fiscal da democracia
(custos democratiae) e a Defensoria Pública uma amiga da democracia
(amicus democratiae) – podem se parecer para aos desavisados não
estudiosos do tema, contudo, o papel do primeiro é de índole objetiva e do
segundo órgão de marca subjetiva, voltada ao olhar fraternal em prol dos
vulneráveis. Nesse ponto, é importante que se diga que o recurso aqui
julgado, com indício corporativista, não se coaduna com o interesse
constitucional do Ministério Público de resguardar o regime democrático
decorrente de sua missão constitucional.”

34 Expressão cunhada por Bheron Rocha.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 43 43
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Conforme noticiado em 20 de setembro de 202035, “ao conceder Habeas Corpus a um


acusado de tráfico por excesso de prazo na citação, o desembargador Mario Parente Teófilo Neto, do
Tribunal de Justiça do Ceará, reconheceu que a Defensoria Pública atua como um instrumento da
democracia e protetora dos direitos humanos. Para o relator, membro da 1ª Câmara Criminal do TJ
cearense, a defensoria se constitui em amicus democratiae e guardiã dos direitos humanos dos
cidadãos”. Para ler a decisão completa clique na nota de rodapé abaixo.36

Por fim, o Superior Tribunal de Justiça, em 27/09/2019, também admitiu a intervenção da


Defensoria Pública na qualidade de custos vulnerabilis, em decisão inédita tomada no REsp
1.712.163, admitindo que a DPU intervenha no feito na qualidade de “guardião da vulnerabilidade”,
em procedimento cível.

Nesse sentido:

“Ao meu sentir, e sem esgotar o tema, acredito que, neste caso, a DPU pode,
sim, atuar como custos vulnerabilis, razão pela qual submeto o tema a esta
eg. Segunda Seção, pelos seguintes fundamentos. O art. 1.038, I, do NCPC,
estabelece que o relator poderá solicitar ou admitir manifestação de pessoas,
órgãos ou entidades com interesse na controvérsia, considerando a
relevância da matéria e consoante dispuser o regimento interno. LUIZ
GUILHERME MARINONI, acerca do mencionado dispositivo, esclarece que, na
verdade, a admissão da participação de terceiros, na hipótese, além de ter
relação com a relevância da matéria, vincula-se também à circunstância de
se estar resolvendo os casos de muitos em recurso de um ou de alguns
poucos (Novo curso de processo civil: tutela dos direitos mediante
procedimento comum, volume II/Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz

35Disponível em: https://www.conjur.com.br/2020-set-20/tjs-reconhecem-defensoria-instrumento-democracia. Acesso


em: 27/01/2021.
36 Decisão completa em: https://www.conjur.com.br/dl/tjs-reconhecem-defensoria-instrumento.pdf. Acesso em

27/01/2021.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 44 44
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Arenhart, Daniel Mitidiero. 2a ed. rev., atual. e ampl. São Paulo, Editora
Revista dos Tribunais, 2016, pág. 613).

Nesse sentido, indo além, em 2020 o STJ admitiu a DPU como custos vulnerabilis no processo
penal (Habeas Corpus nº 568.693 – ES):

(...) Sendo assim, depreende-se do exposto acima que é cabível a admissão


da Defensoria Pública da União como custos vulnerabilis nos casos em que há
formação de precedentes em favor dos vulneráveis e dos direitos humanos.
In casu, como já ressaltado, trata-se da defesa de presos - que praticaram
atos de menor gravidade - que não possuem condições financeiras de saldar
o valor estipulado a título de fiança e por isso permanecem presos (ainda que
em período reconhecido como de pandemia). Ora, a vulnerabilidade
econômica do grupo social que aqui se avulta é patente, mas, além dela,
trata-se, também, de pessoas em vulnerabilidade social. No mais, também
não há dúvida de que ao tratar de prisão de pessoas em vulnerabilidade
econômica e social em presídios com superlotação e insalubridade em
tempos de COVID-19, estamos tratando de direitos humanos, vez que se
defende, aqui, a liberdade como direito civil e também a liberdade real
advinda dos direitos sociais. Assim, defiro o pedido da Defensoria Pública da
União para atuar no feito como custos vulnerabilis.”

Leia a decisão completa com o QR CODE abaixo.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 45 45
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Decisão completa

A Lei Complementar nº 135/2021 do Estado do Pará, que alterou a Lei Orgânica da Defensoria
Pública do Pará, passou a constar expressamente a intervenção custos vulnerabilis, ao estabelecer o
seguinte:

§ 11. Nas ações em que figure em quaisquer dos polos processuais grande
número de litigantes em situação de vulnerabilidade, a Defensoria Pública
poderá requerer sua intervenção para acompanhar o feito. 37

Trata-se de grande conquista ao povo do Estado do Pará!

Por fim, mas antes de concluir, vamos conversar sobre outro ponto bem legal.

Bem.

Vocês já perceberam que o Ministério Público atua como fiscal da ordem jurídica em primeiro
e segundo grau, não é? Pois bem. Isso quer dizer que caso o MP recorra de uma sentença ou elabore
contrarrazões ao recurso da defesa, o relator, em segundo grau, remeterá os autos do processo para
o Procurador-Geral de Justiça (na justiça estadual).

37Lei completa em:


http://www2.defensoria.pa.def.br/portal/anexos/File/Lei%20Complementar%20nº%20135,%20de%2013%20de%20jan
eiro%20de%202021%20-
%20Altera%20e%20acrescenta%20dispositivos%20à%20Lei%20Complementar%20nº%2054.pdf. Acesso em 28 de
Janeiro de 2021.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 46 46
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Ou seja, há um MP como órgão acusador, e há também o MP como fiscal da ordem jurídica


(custos iuris), que sempre irá velar pelas teses institucionais, que em sua maioria são contrárias à
defesa e em prejuízo do réu.

Perceba que não há nenhuma paridade de armas entre acusação e defesa. Isso porque a
defesa tem, em tese, apenas uma única oportunidade de se manifestar, enquanto o MP se manifesta
duas vezes: a primeira como recorrente, ou, se assim não recorra, em contrarrazões do recurso da
defesa; e a segunda através de manifestação ministerial em segundo grau (como fiscal da ordem
jurídica), o que com certeza influencia na hora do julgamento.

Isso acontece tanto nos Tribunais de segundo grau, como também no Tribunais Superiores
(no STJ com os subprocuradores da república e no STF com a Procuradoria Geral da República).

Certo, mas o que se propõe, então?

Sustenta-se que o Defensor Geral, representando a instituição Defensoria Pública, também


atuasse como “custos vulnerabilis” em segundo grau em situações de vulnerabilidade, assim como
atua o MP como fiscal da ordem jurídica (custos iuris). Assim, por exemplo, havendo qualquer espécie
de vulnerabilidade no recurso, o relator enviaria os autos também à Defensoria Pública do Estado
para atuação do DPG.

Informo que isso é uma crítica doutrinária bem trabalhada pelo Maurílio Casas Maia e outros
professores, e que poderá ser argumentada em prova abertas, sobretudo oral.

Há inclusive caso amazonense que em revisão criminal determinou-se a intimação do


Defensor Público Geral para que este fosse ouvido em segundo grau, face à paridade de armas. Em
resumo, a teoria dos poderes implícitos justificaria a representação da DPE como custos vulnerabilis.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 47 47
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Agora abro parênteses para acrescentar que o professor Franklyn Roger Alves Silva apresenta
críticas em alguns pontos no que tange ao estudo do custos vulnerabilis, a fim de evitar confusão
entre custos vulnerabilis e curadoria especial, por exemplo. Entre outras, o professor faz as seguintes
provocações: qual a natureza jurídica do custos vulnerabilis? Custos vulnerabilis é legitimidade
extraordinária ou intervenção de terceiro anômala?

Nesse quesito, muitos estudos ainda estão por vir. Mas segundo a doutrina específica, custos
vulnerabilis é uma intervenção constitucional, porque vem de um mandamento constitucional, e não
apenas do processo civil ou do processo penal.

Por exemplo, a Defensoria atua como órgão da execução penal, segundo a LEP. Neste caso,
poderia atuar a Defensoria mesmo quando o apenado tem advogado particular? Sim, inclusive há
caso na Defensoria Pública do Estado do Amapá, em que a Defensoria Pública atuou em um Júri
mesmo tendo o assistido contratado advogado particular, considerando tratar-se de caso em que
existia grande vulnerabilidade, razão pela qual o magistrado permitiu o ingresso da DPE na qualidade
de custos vulnerabilis38. Neste caso, a Defensoria está exercendo uma missão constitucional, e as
pessoas presas são, sem dúvidas, vulneráveis, tendo em vista sobretudo o estado de coisas
inconstitucional que vivemos no sistema penitenciário Brasileiro. Assim, poderia a Defensoria atuar
como “custos vulnerabilis” no âmbito da execução penal, mesmo que o direito envolvido seja
exclusivamente individual.

Apenas a título de aprofundamento, é bom lembrar que no concurso da DPERJ em 2018, o


edital trouxe, em direito institucional, o ponto "Teoria dos poderes implícitos e investigação criminal
defensiva". Portanto, é preciso conhecer alguns detalhes.

38 Disponível em: https://selesnafes.com/2019/08/custus-vulnerabilis-defensoria-publica-do-amapa-protagoniza-caso-


inedito-no-brasil/. Acesso em 27/01/2021.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 48 48
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

O Ministério Público possui um maior aparato para a realização de investigações, seja porque
possui melhores meios investigatórios, seja através de seu poder requisitório para pessoas físicas e
jurídicas, públicas e privadas, sem contar com inúmeras possibilidades em conjunto com a polícia.

Diogo Esteves e Franklyn Roger assim estabelecem:

“O cotidiano da atuação profissional revela a existência de profunda


desigualdade entre os polos antagônicos da relação processual penal.
Enquanto a acusação dispõe de toda a fase de inquérito para ouvir
testemunhas, coletar documentos, realizar perícias e reunir elementos
informativos suficientes para embasar seu pedido condenatório, a defesa
depende do esforço do próprio imputado e de seus familiares para que possa
realizar a simples indicação das testemunhas que irão depor em juízo.” 39

Os autores trazem importantes questionamentos:

“Em quantos inquéritos policiais é realizada a oitiva de testemunhas


defensivas? Em quantos inquéritos são realizadas diligências requeridas pelo
investigado? De fato, o próprio Código de Processo Penal mostra -se
resistente em relação à tais práticas, afirmando em seu art. 14 que "o
ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão requerer qualquer
diligência, que será realizada, ou não, a juízo da autoridade".

Portanto, face à teoria dos poderes implícitos, a autoridade policial não poderia negar de
maneira discricionária as provas requisitadas pela Defensoria Pública. Ademais, a investigação
criminal defensiva não precisa necessariamente ser conduzida dentro de inquérito ou de ação penal,
isso porque, ao que se propõe, a atuação investigatória realizada pela Defensoria goza de absoluta

39Esteves, Diogo. Princípios Institucionais da Defensoria Pública I Diogo Esteves, Franklyn Roger Alves Silva. - 3. ed. - Rio
de Janeiro: Forense, 2018, p.527.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 49 49
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

autonomia, cuja condução é feita pelo Defensor Público e alimentada pelos elementos de prova
colhidos diretamente por ele ou pelas informações requisitadas.40

A realidade é que não se mostra suficiente a simples abertura de vista para que a Defensoria
Pública, no exíguo prazo legal, ofereça a resposta arrolando suas testemunhas e indicando as provas
que pretende produzir.

Nesse sentido os ensinamentos de Franklyn Roger e Diogo Esteves:

“Para tanto, não se mostra suficiente a simples abertura de vista para que a
Defensoria Pública, no exíguo prazo de 10 dias, ofereça resposta arrolando
suas testemunhas e indicando as provas que pretende produzir (art. 396 e
art. 396-A, § 2°, do CPP). Afinal, as provas não caem do céu e as testemunhas
defensivas não surgem por simples passe de mágica; a descoberta de
evidências favoráveis ao imputado demanda tempo e recursos, seja para a
localização de testemunhas, seja para a realização de diligências objetivando
a colheita de outros elementos probatórios.”

Por fim, encerrando essa matéria por hoje, indispensável conhecer os enunciados aprovados
no I Colóquio Amazonense da Advocacia e Defensoria Pública, realizado em dezembro de 2019,
sendo 14 enunciados aprovados sobre a intervenção no processo como custos vulnerabilis.

ENUNCIADOS SOBRE CUSTOS VULNERABILIS APROVADOS NO I COLÓQUIO AMAZONENSE DA


ADVOCACIA E DEFENSORIA PÚBLICA
ENUNCIADO 1 — É direito da parte vulnerável, por seu advogado constituído, o contraditório
diante da manifestação institucional de custos vulnerabilis.

40Esteves, Diogo. Princípios Institucionais da Defensoria Pública I Diogo Esteves, Franklyn Roger Alves Silva. - 3. ed. - Rio
de Janeiro: Forense, 2018, p.529.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 50 50
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

ENUNCIADO 2 — A intimação da Defensoria Pública como custos vulnerabilis não supre e nem
convalida a ausência de intimação da parte por seu advogado constituído.
ENUNCIADO 3 — O requerimento fundamentado do advogado do vulnerável pela oitiva da
Defensoria Pública como custos vulnerabilis não prejudica e nem desprestigia sua atividade de
representante postulatório, devendo ser vista como instrumento de advocacia estratégica.
ENUNCIADO 4 — O advogado constituído da parte vulnerável pode requerer a oitiva da Defensoria
Pública quando entender presente interesse institucional da Defensoria Pública como custos
vulnerabilis, a partir da legitimidade constitucional e legal do Estado Defensor, em especial da LC
nº 80/1994, art. 4º, XI.
ENUNCIADO 5 — Nas causas perante juízos ou tribunais, o advogado do vulnerável poderá postular
a intervenção da Defensoria Pública fundamentado na existência de vulnerabilidade concreta ou
na violação de direitos humanos lesiva ao seu cliente, bem como indicando a possível repercussão
negativa do caso sobre os interesses público-institucionais primários da Defensoria Pública ou na
formação de precedentes no órgão monocrático ou colegiado.
ENUNCIADO 6 — No Direito Processual Penal, como mecanismo de reequilíbrio da relação Estado-
cidadão, a Defensoria Pública custos vulnerabilis realiza intervenção pró-defesa, como Estado
Defensor, sob pena de nulidade das manifestações lesivas à ampla defesa, recomendando-se a
abstenção em caso de impossibilidade de contribuição com a defesa do vulnerável.
ENUNCIADO 7 — No Direito Processual Penal, a intervenção custos vulnerabilis não se presta ao
apoio à acusação, devendo eventuais atuações em favor da vítima necessitada ocorrerem pelos
mecanismos existentes, tais como representação postulatória da vítima na assistência de acusação
ou ação penal privada subsidiária da pública, bem como amicus curiae ou a excepcional legitimação
extraordinária de amiga da comunidade – amicus communitatis (CDC, art. 80 c/c art. 82, III).
ENUNCIADO 8 — O advogado constituído que compreender estar diante de grave violação de
direitos humanos, arbitrariedades lesivas à ampla defesa ou que seu cliente esteja abarcado por
outras formas de vulnerabilidade ocasionadoras do interesse institucional da Defensoria Pública
poderá se dirigir, por escrito ou oralmente, diretamente ao defensor público natural da causa a fim
de expor seus fundamentos, aplicando-se, por analogia, o inciso VIII e inciso XI do art. 7º do
Estatuto da Advocacia.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 51 51
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

ENUNCIADO 9 — O membro da Defensoria Pública possui autonomia e independência funcional


para definir se há ou não hipótese de intervenção custos vulnerabilis, devendo tão somente se
abster de manifestações gravosas ao vulnerável presente no processo e que ensejou sua intimação
para eventual atuação.
ENUNCIADO 10 — Enquanto perdurar o estado de coisas inconstitucionais do sub-financiamento
orçamentário da Defensoria Pública e não for a mesma estruturada proporcionalmente à sua
demanda, com preenchimento integral de cargos e similaridade à estrutura funcional do Ministério
Público Fiscal, o excesso de demandas em prol do necessitado econômico configurará justa causa
para que o membro da Defensoria Pública priorize a essa categoria dos vulneráveis econômicos,
deixando de intervir como custos vulnerabilis nas causas individuais em que o vulnerável esteja
devidamente representado por advogado.
ENUNCIADO 11 — Nas demandas repetitivas tributárias, considerando-se a vulnerabilidade do
contribuinte face ao Estado Tributador, que legisla, aplica a norma e julga, a intervenção custos
vulnerabilis é cabível em prol do contribuinte.
ENUNCIADO 12 — A OAB ou a Defensoria Pública, nas ações coletivas em que atuarem, poderão
requerer ao Juízo, suas respectivas oitivas, enquanto instituições terceiras interessadas, quando
entenderem presente interesse institucional comum e compartilhado entre OAB e Defensoria.
ENUNCIADO 13 — Respeitadas as autonomias institucionais, OAB e Defensoria Pública poderão
propor ações coletivas conjuntamente, em litisconsórcio ativo, nas causas em que compartilharem
interesses institucionais.
ENUNCIADO 14 — Nas ações coletivas propostas pela Defensoria Pública envolvendo direitos
individuais homogêneos – potencialmente ensejadoras de sentenças condenatórias genéricas
seguidas de liquidações e execuções individuais –, é recomendável que o órgão defensorial
comunique por ofício a propositura da ação coletiva e a prolação da sentença a fim de ampliar a
publicidade da abertura da fase individual do processo coletivo, facilitando assim a atuação
advocatícia em favor dos beneficiários individuais não hipossuficientes econômicos na fase
individual, com consequente abertura ao mercado advocatício, viabilizando também à Defensoria
Pública a mais atenta atuação em prol dos necessitados econômicos na fase individual do processo.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 52 52
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

QUESTÕES PARA FIXAR


Questão 01

A assistência jurídica gratuita refere-se exclusivamente à possibilidade de representação


endoprocessual de pessoas hipossuficientes.

CERTO ERRADO

Questão 02

No Brasil, a assistência judiciária só se apresentou de maneira expressa no texto constitucional a


partir da Constituição de 1937.

CERTO ERRADO

Questão 03

Segundo o Código de Processo Civil, a gratuidade de justiça pode ser concedida de maneira parcial.

CERTO ERRADO

Questão 04

A Constituição Federal adotou o modelo pro bono de assistência jurídica gratuita.

CERTO ERRADO

Questão 05

A terceira onda renovatória de acesso à justiça refere-se à representação dos interesses difusos em
juízo e visa contornar o obstáculo organizacional do acesso à justiça.

CERTO ERRADO

Questão 06

Segundo a doutrina majoritária, as funções típicas da Defensoria podem ser entendidas como aquelas
exercidas com o objetivo de tutelar direitos titularizados por hipossuficientes econômicos exercidas
nas esferas judiciais e extrajudiciais.

CERTO ERRADO

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 53 53
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Questão 07

É vedado à Defensoria Pública atuar em prol de pessoas jurídicas.

CERTO ERRADO

Questão 08

A Defensoria Pública é considerada verdadeiro ombudsman, já que sendo uma entidade autônoma,
dotada de status constitucional, possui o dever de zelar pelo estado democrático de direito,
promoção de direitos humanos e defesa dos necessitados.

CERTO ERRADO

Questão 09

A atuação da Defensoria em ação possessória em que figure no polo passivo grande número de
pessoas em situação de hipossuficiência (art. 554, §1º, NCPC) é considerada exemplo de atuação da
instituição como custos vulnerabilis.

CERTO ERRADO

Questão 10

De acordo com o art. 4º, inciso II, da LC 80/94, é função institucional da DP a promoção prioritária da
solução extrajudicial dos litígios, visando à composição entre as pessoas e conflitos de interesses, por
meio de mediação, conciliação, arbitragem e demais técnicas de composição e administração de
conflitos

CERTO ERRADO

GABARITO

1.E 2.E 3.C 4.E 5.E

6.C 7.E 8.C 9.C 10.C

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 54 54
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

QUESTÕES PARA FIXAR - COMENTÁRIOS


Questão 01

A assistência jurídica gratuita refere-se exclusivamente à possibilidade de representação


endoprocessual de pessoas hipossuficientes.

GAB: E. A assistência jurídica gratuita é a possibilidade de representação endo e extraprocessual de


pessoas hipossuficientes, sendo bem mais ampla que a assistência judiciária gratuita, que foi
abordada no enunciado.

Questão 02

No Brasil, a assistência judiciária só se apresentou de maneira expressa no texto constitucional a


partir da Constituição de 1937.

GAB: E. A previsão da assistência judiciária se deu a partir da Constituição de 1934.

Questão 03

Segundo o Código de Processo Civil a gratuidade de justiça pode ser concedida de maneira parcial.

GAB: C. Previsão do §5º do art. 98 do CPC.

Questão 04

A Constituição Federal adotou o modelo pro bono de assistência jurídica gratuita.

GAB: E. A CF/88 adotou o modelo da salaried staff.

Questão 05

A terceira onda renovatória de acesso à justiça refere-se à representação dos interesses difusos em
juízo e visa contornar o obstáculo organizacional do acesso à justiça.

GAB: E. O enunciado refere-se à 2º onda renovatória de acesso à justiça.

Questão 06

Segundo a doutrina majoritária, as funções típicas da Defensoria podem ser entendidas como aquelas
exercidas com o objetivo de tutelar direitos titularizados por hipossuficientes econômicos exercidas
nas esferas judiciais e extrajudiciais.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 55 55
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

GAB: C. Este é o conceito de funções típicas da Defensoria defendido por Franklyn Roger e Diogo
Esteves.

Questão 07

É vedado à Defensoria Pública atuar em prol de pessoas jurídicas.

GAB: E. A Defensoria atua em prol de sujeitos que possuam insuficiência de recursos, sendo que a
expressão necessitados pode ser aplicada tanto a pessoas físicas quanto jurídicas (Art. 4º, V, da LC
80/94). O STF já reforçou essa tese.

Questão 08

A Defensoria Pública é considerada verdadeiro ombudsman, já que sendo uma entidade autônoma,
dotada de status constitucional, possui o dever de zelar pelo estado democrático de direito,
promoção de direitos humanos e defesa dos necessitados.

GAB: C. Tal denominação conferida à Defensoria Pública é legitimada pelo art. 134 da CF.

Questão 09

A atuação da Defensoria em ação possessória em que figure no polo passivo grande número de
pessoas em situação de hipossuficiência (art. 554, §1º, NCPC) é considerada exemplo de atuação da
instituição como custos vulnerabilis.

GAB: C. Conforme a maioria da doutrina este é um exemplo da atuação da Defensoria como custos
vulnerabilis. Como vimos, a DPE-PA ganhou, em 2021, em sua LC Estadual, redação semelhante.

Questão 10

De acordo com o art. 4º, inciso II, da LC 80/94, é função institucional da DP a promoção prioritária da
solução extrajudicial dos litígios, visando à composição entre as pessoas e conflitos de interesses, por
meio de mediação, conciliação, arbitragem e demais técnicas de composição e administração de
conflitos

GAB: C. É a exata previsão do art. 4º, inciso II, da LC 80/94.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 56 56
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

DIREITO CIVIL

Estatuto da pessoa com deficiência (Lei nº 13.146/2015)

O último estudo desta meta diz respeito ao Estatuto da Pessoa com Deficiência, isto é, a Lei
nº 13.146/2015. Adianto que, assim como todos os materiais do RDP, seremos objetivos com o que
importa para a prova. Primeiro, saiba que o Estatuto da Pessoa com Deficiência não é pequeno. Há
mais de 120 artigos. Trataremos aqui de maneira bem aprofundada, mas claro, sempre com a
linguagem compreensível e objetiva.

Vamos começar.

1. DISPOSIÇÕES GERAIS

Bem. O art. 1º institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da
Pessoa com Deficiência), destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício
dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social
e cidadania.

Gente, vamos lembrar aqui rapidinho de uma coisa!

O Estatuto da Pessoa com Deficiência foi elaborado com base na Convenção sobre os Direitos
das Pessoas com Deficiência (Convenção de Nova York, 2007) e seu Protocolo Facultativo41,
ratificados pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo nº 186, de 9 de julho de 2008,
em conformidade com o procedimento previsto no § 3º do art. 5º da Constituição da República
Federativa do Brasil (integra, portanto, o Bloco de Constitucionalidade).

41O Protocolo Facultativo, para quem não lembra, reconhece a competência do Comitê sobre os Direitos das Pessoas
com Deficiência (“Comitê”) para receber e considerar comunicações submetidas por pessoas ou grupos de pessoas, ou
em nome deles, sujeitos à sua jurisdição, alegando serem vítimas de violação das disposições da Convenção pelo referido
Estado Parte.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 57 57
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Art. 1º É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência


(Estatuto da Pessoa com Deficiência), destinada a assegurar e a promover,
em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades
fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e
cidadania.

Parágrafo único. Esta Lei tem como base a Convenção sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, ratificados pelo
Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo nº 186, de 9 de julho de
2008, em conformidade com o procedimento previsto no § 3º do art. 5º da
Constituição da República Federativa do Brasil, em vigor para o Brasil, no
plano jurídico externo, desde 31 de agosto de 2008, e promulgados pelo
Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009, data de início de sua vigência no
plano interno.

Um detalhe muito bem lembrado por André de Carvalho Ramos (2018, p. 297/298)42 é que:

(...) Até 2006, havia uma impressionante lacuna na questão ante a


inexistência de um tratado internacional universal (celebrado sob os
auspícios da ONU) sobre os direitos das pessoas com deficiência. Não que
esta questão fosse de pouco interesse: havia, até a edição da Convenção,
vários diplomas normativos específicos não vinculantes sobre os direitos das
pessoas com deficiência, que compunham a chamada soft law. Ademais,
calcula-se que 10% da população mundial possua alguma deficiência
(aproximadamente 650 milhões de pessoas). Mas a invisibilidade e a falta de
foco das instâncias de proteção de direitos humanos sobre o tema da

42 Curso de direitos humanos/André́ de Carvalho Ramos. – 5. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2018.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 58 58
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

deficiência, gerava assimetria na proteção local, perpetuação de


estereótipos, falta de políticas de apoio e, finalmente, exclusão.”

Gente, vocês sabiam que o Decreto nº 3.298/1999 dispõe sobre a Política Nacional para a
Integração da Pessoa “Portadora” de Deficiência, e regulamenta a Lei nº 7.853/1989 43?

Antes de tudo, a palavra “portadora” está entre aspas porque, como sabemos, a expressão
utilizada pela Organização das Nações Unidas é “pessoas com deficiência” – persons with disabilities
- conforme consta da Standard Rules e da Convenção da ONU de 2006.

Nesse sentido salienta o grandíssimo André de Carvalho Ramos (2018, p. 297/298) 44:

“(...) O termo “portadora” realça o “portador”, como se fosse possível deixar


de ter a deficiência. Assim, a expressão utilizada pela Organização das Nações
Unidas é “pessoas com deficiência” – persons with disabilities, conforme
consta da Standard Rules e da Convenção da ONU de 2006. Cabe salientar,
ademais, que, tendo a Convenção em tela status normativo equivalente ao
de emenda constitucional, houve atualização constitucional da denominação
para “pessoa com deficiência”, que deve, a partir de 2009, ser o termo
utilizado.”

Mas como eu estava falando... A Lei nº 7.853/1989, que trata(va) sobre pessoas com
deficiência, de fato foi revogada pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência de 2015 ou não?

43 A Lei nº 7.853/1989 dispõe sobre o apoio às pessoas “portadoras de deficiência” (ela também usa a expressão
“portadora”), sua integração social, e sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa “Portadora” de
Deficiência.
44 Curso de direitos humanos/André de Carvalho Ramos. – 5. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2018.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 59 59
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

A resposta é negativa. Nesse sentido Cristiano Chaves de Farias, Rogério Sanches Cunha e
Ronaldo Batista Pinto45:

(...) Na verdade, não há que se falar em revogação tácita ou expressa da Lei


nº 7.853/1989, a partir do advento do Estatuto da Pessoa com Deficiência.
Isso porque o Estatuto, quando pretendeu revogar antigas disposições, o fez
de forma expressa, como consta do art. 123, listando as leis que não foram
recepcionados pelo diploma novel. Aliás, a única menção feita pelo Estatuto
à Lei nº 7.853/1989 deu-se em seu art. 98 que, alterando o art. 3º, daquela
lei, relacionou os entes legitimados à proposição de ações visando à proteção
da pessoa com deficiência (Ministério Público, Defensoria Pública, União,
Estados, Municípios, Distrito Federal, e associação constituída há mais de um
ano). E, de fato, são plenamente compatíveis os conceitos trazidos pelo
Estatuto da Pessoa com Deficiência com aquelas que já constavam da Lei nº
7.853/1989, regulamentados por meio de decreto. Sobretudo no que se
refere a impedimentos de ordem física que dificultem o pleno exercício na
sociedade, por seu portador, em relação aos demais (...)

Dito isso, avancemos para o próximo ponto.

2. QUEM É A PESSOA COM DEFICIÊNCIA?

Gente, esse ponto é importante. Sim, tudo é importante, rs!

Segundo o art. 2º do Estatuto da Pessoa com Deficiência, considera-se pessoa com deficiência
aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o

45Estatuto da Pessoa com Deficiência Comentado artigo por artigo. Cristiano Chaves de Farias, Rogério Sanches Cunha,
Ronaldo Batista Pinto. 2. rev., ampl. e atual. - Salvador: Ed. JusPodivm, 2016, p. 23.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 60 60
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na
sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.

Esse conceito praticamente foi extraído do art. 1º da Convenção Internacional sobre os


Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU, que assim pontua:

Artigo 1
Propósito

(...) Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo
prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em
interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e
efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas.

O § 1º do art. 2º do Estatuto prevê que a avaliação da deficiência, quando necessária, será


biopsicossocial, realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar e considerará:

I - os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo;


II - os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais;
III - a limitação no desempenho de atividades; e
IV - a restrição de participação.

Tudo bem. Mas você pode estar se perguntando: o que seria uma avaliação
BIOPSICOSSOCIAL?

A avaliação biopsicossocial nada mais é que “aquela que considera aspectos sociais que
circundam o deficiente, além, por óbvio, de dados médicos capazes de demonstrar sua incapacidade.
Na avaliação biopsicossocial há, portanto, a junção desses dois aspectos na abordagem do deficiente,

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 61 61
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

superando-se, nessa linha de raciocínio, o simples modelo biológico, para se considerar, em


acréscimo, fatores sociais outros como nível de escolaridade, profissão, composição familiar, etc.” 46

3. CONCEITOS LEGAIS

Gente, o art. 3º do Estatuto traz MUITOS conceitos importantes, e que já caíram várias vezes
em provas. Tanto em provas objetivas como em provas orais. Portanto, vamos tentar entender (e
não apenas decorar) esses conceitos, beleza? Respirem fundo e vamos nós! =)

3.1 Acessibilidade

Acessibilidade, para fins legais, é a possibilidade e condição de alcance para utilização, com
segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes,
informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e
instalações abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na zona urbana
como na rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida.

Mas professor, pessoa com deficiência não é a mesma coisa que pessoa com mobilidade
reduzida, não? É não! Se liga na tabela.

PESSOA COM DEFICIÊNCIA PESSOA COM MOBILIDADE REDUZIDA


Aquela que tem impedimento de longo prazo de Aquela que tenha, por qualquer motivo,
natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o dificuldade de movimentação, permanente
qual, em interação com uma ou mais barreiras, ou temporária, gerando redução efetiva da
pode obstruir sua participação plena e efetiva na mobilidade, da flexibilidade, da coordenação
sociedade em igualdade de condições com as motora ou da percepção, incluindo idoso,
demais pessoas.

46Estatuto da Pessoa com Deficiência Comentado artigo por artigo. Cristiano Chaves de Farias, Rogério Sanches Cunha,
Ronaldo Batista Pinto. 2. rev., ampl. e atual. - Salvador: Ed. JusPodivm, 2016, p. 23.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 62 62
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

gestante, lactante, pessoa com criança de


colo e obeso.

Agora veremos o conceito bem a cara da prova, que é o famoso “desenho universal”.

3.2 Desenho universal

Nada mais é que a concepção de produtos, ambientes, programas e serviços a serem usados
por todas as pessoas, sem necessidade de adaptação ou de projeto específico, incluindo os recursos
de tecnologia assistiva.

3.3 Tecnologia assistiva

Também chamada de ajuda técnica, são produtos, equipamentos, dispositivos, recursos,


metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivem promover a funcionalidade, relacionada
à atividade e à participação da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, visando à sua
autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social.

3.4 Barreiras

Você sabia que a própria lei traz o que significa “barreiras”? Pois é.

Para o Estatuto, barreira é qualquer entrave, obstáculo, atitude (guarde isso, pois atitudes
humanas também são barreiras) ou comportamento que limite ou impeça a participação social da
pessoa, bem como o gozo, a fruição e o exercício de seus direitos à acessibilidade, à liberdade de
movimento e de expressão, à comunicação, ao acesso à informação, à compreensão, à circulação
com segurança, entre outros.

Tem como fundamento o art. 227, § 1º, inc. II da CF, que prevê:

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 63 63
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Art. 227. O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da


criança, do adolescente e do jovem, admitida a participação de entidades não
governamentais, mediante políticas específicas e obedecendo aos seguintes
preceitos:
(...)
II- criação de programas de prevenção e atendimento especializado para as
pessoas portadoras47 de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de
integração social do adolescente e do jovem portador de deficiência,
mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do
acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de obstáculos
arquitetônicos e de todas as formas de discriminação”.

Segundo o art. 3º, inciso IV do Estatuto, barreira é um gênero que possui espécies, sendo elas
a) barreiras urbanísticas; b) barreiras arquitetônicas; c) barreiras nos transportes; d) barreiras nas
comunicações e na informação; e) barreiras atitudinais; e f) barreiras tecnológicas, vejam:

Urbanísticas

Arquitetônicas

Nos transportes

BARREIRAS Nas comunicações

Na informação

Atitudinais

Tecnológicas

47 A Constituição Federal ainda usa a expressão “portadora”, mas devemos nos ater à expressão da Convenção da ONU,
isto é: “pessoa COM deficiência”.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 64 64
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Veremos o conceito de cada uma.

a) Barreiras urbanísticas: as existentes nas vias e nos espaços públicos e


privados abertos ao público ou de uso coletivo;
b) Barreiras arquitetônicas: as existentes nos edifícios públicos e privados;
c) Barreiras nos transportes: as existentes nos sistemas e meios de
transportes;
d) Barreiras nas comunicações e na informação: qualquer entrave, obstáculo,
atitude ou comportamento que dificulte ou impossibilite a expressão ou o
recebimento de mensagens e de informações por intermédio de sistemas de
comunicação e de tecnologia da informação;
e) Barreiras atitudinais: atitudes ou comportamentos que impeçam ou
prejudiquem a participação social da pessoa com deficiência em igualdade de
condições e oportunidades com as demais pessoas;
f) Barreiras tecnológicas: as que dificultam ou impedem o acesso da pessoa
com deficiência às tecnologias;

Continuando, vamos a outros conceitos previstos no Estatuto.

3.5 Comunicação

Comunicação é a forma de interação dos cidadãos que abrange, entre outras opções, as
línguas, inclusive a Língua Brasileira de Sinais (Libras), a visualização de textos, o Braille, o sistema de
sinalização ou de comunicação tátil, os caracteres ampliados, os dispositivos multimídia, assim como
a linguagem simples, escrita e oral, os sistemas auditivos e os meios de voz digitalizados e os modos,
meios e formatos aumentativos e alternativos de comunicação, incluindo as tecnologias da
informação e das comunicações.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 65 65
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

3.6 Adaptações razoáveis

São adaptações, modificações e ajustes necessários e adequados que não acarretem ônus
desproporcional e indevido, quando requeridos em cada caso, a fim de assegurar que a pessoa com
deficiência possa gozar ou exercer, em igualdade de condições e oportunidades com as demais
pessoas, todos os direitos e liberdades fundamentais;

3.7 Elemento de urbanização

Quaisquer componentes de obras de urbanização, tais como os referentes a pavimentação,


saneamento, encanamento para esgotos, distribuição de energia elétrica e de gás, iluminação
pública, serviços de comunicação, abastecimento e distribuição de água, paisagismo e os que
materializam as indicações do planejamento urbanístico;

3.8 Mobiliário urbano

Conjunto de objetos existentes nas vias e nos espaços públicos, superpostos ou adicionados
aos elementos de urbanização ou de edificação, de forma que sua modificação ou seu traslado não
provoque alterações substanciais nesses elementos, tais como semáforos, postes de sinalização e
similares, terminais e pontos de acesso coletivo às telecomunicações, fontes de água, lixeiras, toldos,
marquises, bancos, quiosques e quaisquer outros de natureza análoga.

3.9 Residências inclusivas

Unidades de oferta do Serviço de Acolhimento do Sistema Único de Assistência Social (Suas)


localizadas em áreas residenciais da comunidade, com estruturas adequadas, que possam contar
com apoio psicossocial para o atendimento das necessidades da pessoa acolhida, destinadas a jovens
e adultos com deficiência, em situação de dependência, que não dispõem de condições de
autossustentabilidade e com vínculos familiares fragilizados ou rompidos.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 66 66
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

3.10 Moradia para a vida independente da pessoa com deficiência

Moradia com estruturas adequadas capazes de proporcionar serviços de apoio coletivos e


individualizados que respeitem e ampliem o grau de autonomia de jovens e adultos com deficiência.

3.11 Atendente pessoal

Trata-se de pessoa, membro ou não da família, que, com ou sem remuneração, assiste ou
presta cuidados básicos e essenciais à pessoa com deficiência no exercício de suas atividades diárias,
excluídas as técnicas ou os procedimentos identificados com profissões legalmente estabelecidas.

Atendente pessoal não se confunde com o conceito de ACOMPANHANTE.

ATENDENTE PESSOAL ACOMPANHANTE


Membro ou não da família, que, com ou sem Aquele que acompanha a pessoa com
remuneração, assiste ou presta cuidados deficiência, podendo ou não desempenhar as
básicos e essenciais à pessoa com deficiência no funções de atendente pessoal.
exercício de suas atividades diárias, excluídas as
técnicas ou os procedimentos identificados com
profissões legalmente estabelecidas.

3.12 Profissional de apoio escolar

Trata-se de pessoa que exerce atividades de alimentação, higiene e locomoção do estudante


com deficiência e atua em todas as atividades escolares nas quais se fizer necessária, em todos os
níveis e modalidades de ensino, em instituições públicas e privadas, excluídas as técnicas ou os
procedimentos identificados com profissões legalmente estabelecidas.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 67 67
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

4. DA IGUALDADE E DA NÃO DISCRIMINAÇÃO

Segundo o art.4º do Estatuto, toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de
oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação. O que seria,
no entanto, considerado discriminação em razão da deficiência? A resposta está no art. 4º, § 1º do
Estatuto, vejam:

§ 1º Considera-se discriminação em razão da deficiência toda forma de distinção, restrição ou


exclusão, por ação ou omissão, que tenha o propósito ou o efeito de prejudicar, impedir ou anular o
reconhecimento ou o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais de pessoa com deficiência,
incluindo a recusa de adaptações razoáveis e de fornecimento de tecnologias assistivas.

Além disso, é importante que saibamos que a pessoa com deficiência não está obrigada à
fruição de benefícios decorrentes de ações afirmativas.

§ 2º A pessoa com deficiência não está obrigada à fruição de benefícios decorrentes de ação
afirmativa.

Você lembra, no entanto, o que são ações afirmativas? Para a doutrina, “ações afirmativas
são medidas privadas ou políticas públicas objetivando beneficiar determinados segmentos da
sociedade, sob o fundamento de lhes falecerem as mesmas condições de competição em virtude de
terem sofrido discriminações ou injustiças históricas".48

Sobre o tema, 49 pontua a doutrina:

(...) As ações afirmativas, porém, não se limitam a edição de diplomas legais


ou mesmo de pronunciamentos da mais alta Corte do país (como no caso das

48Princípio da igualdade e ações afirmativas. SERGE ATHABAHIAN. São Paulo: RCS Editora, 2004. p. 18)
49Estatuto da Pessoa com Deficiência Comentado artigo por artigo. Cristiano Chaves de Farias, Rogério Sanches Cunha,
Ronaldo Batista Pinto. 2. rev., ampl. e atual. - Salvador: Ed. JusPodivm, 2016, p. 37.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 68 68
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

cotas raciais em que o Supremo Tribunal Federal foi chamado a intervir).


Como indica ANA PAULA CROSARA RESENDE, é fundamental destacar-se "a
importância de fomentar no imaginário coletivo e individual o conhecimento
das capacidades e contribuições das pessoas com deficiência, para que elas
sejam vistas como parte da diversidade humana e não como problema a ser
eliminado ou rejeitado. Importante considerar que as pessoas com
deficiência também geram capital social e são agentes do próprio
desenvolvimento (WERNECK, 2004). Estão previstas entre as ações para
atingir os objetivos acima mencionados campanhas públicas de
conscientização, tanto pelo poder público quanto pelas organizações e
pessoas com deficiência, para: a) fomentar atitudes receptivas em relação
aos direitos das pessoas com deficiência; b) promover percepções positivas
e maior consciência social em relação às pessoas com deficiência; c)
promover o reconhecimento das habilidades e capacidades das pessoas com
deficiência e de suas contribuições ao local de trabalho e ao mercado laboral"
(A Convenção sobre Direitos das Pessoas com Deficiência Comentada I
Coordenação de ANA PAULA CROSARA RESENDE e FLAVIA MARIA DE PAIVA
VITAL- Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Coordenadoria
Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, 2008, p. 45).

André de Carvalho Ramos (2018, p. 679) lembra, contudo, que há duas dimensões da
igualdade.

(...) A primeira dimensão consiste na proibição de discriminação indevida e,


por isso, é denominada vedação da discriminação negativa. A segunda
dimensão trata do dever de impor uma determinada discriminação para a
obtenção da igualdade efetiva, e por isso é denominada “discriminação
positiva” (ou “ação afirmativa”).

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 69 69
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

5. DEFICIÊNCIA E CAPACIDADE CIVIL

O art. 6º traz, sem o mínimo medo de errar, um dos temas mais cruciais para nossa prova: a
questão da capacidade civil.

Com a entrada em vigor do Estatuto da Pessoa com Deficiência, tivemos uma reviravolta no
estudo da incapacidade. Isso porque o art. 3º do Código Civil, que trazia um rol de pessoas
consideradas absolutamente incapazes, foi substancialmente alterado, permanecendo como incapaz
de maneira absoluta apenas os menores de 16 anos e só, sendo todos os incisos revogados.

Vejam:

Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida


civil os menores de 16 (dezesseis) anos. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de
2015) (Vigência)
I - (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
II - (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
III -(Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)

O art. 6º do Estatuto prevê que a deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa para
diversos atos, a exemplo de a) casar-se e constituir união estável; b) exercer direitos sexuais e
reprodutivos; c) exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a informações
adequadas sobre reprodução e planejamento familiar; d) conservar sua fertilidade, sendo vedada a
esterilização compulsória; e) exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e f)
exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou adotando, em igualdade
de oportunidades com as demais pessoas.

Antes de comentarmos cada uma dessas situações, visualize o art. 6º do Estatuto:

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 70 70
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Art. 6º A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive


para:
I - casar-se e constituir união estável;
II - exercer direitos sexuais e reprodutivos;
III - exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a
informações adequadas sobre reprodução e planejamento familiar;
IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória;
V - exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e
VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante
ou adotando, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas.

Veremos agora, de maneira breve, cada um desses incisos.

Inciso I - casar-se e constituir união estável

A pessoa com deficiência pode casar-se ou manter-se em uma união estável. Veremos mais à
frente que a curatela, que ainda existe em nosso ordenamento jurídico, afetará tão somente os atos
relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial. Assim, a pessoa submetida à curatela
poderá casar ou manter união estável sem problemas.

Nesse sentido o art. 85 do Estatuto da Pessoa com Deficiência:

Art. 85. A curatela afetará tão somente os atos relacionados aos direitos de
natureza patrimonial e negocial.

Inciso II - exercer direitos sexuais e reprodutivos

É direito da pessoa com deficiência de escolher livremente seus parceiros, respeitada,


inclusive, sua orientação sexual.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 71 71
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Inciso III - decidir sobre o número de filhos

A pessoa com deficiência tem total direito de exercer o direito de decidir sobre o número de
filhos e de ter acesso a informações adequadas sobre reprodução e planejamento familiar.

Lembrem-se que segundo o art. 226, § 7º da Constituição de 1988, “a família, base da


sociedade, tem especial proteção do Estado (...) § 7º: Fundado nos princípios da dignidade da pessoa
humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo
ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada
qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas".

Inciso IV - conservar sua fertilidade

O inciso IV do art. 6º estabelece que a deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa,
inclusive para conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória.

O inciso citado tem fundamento na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência
(Nova York, março de 2007):

Art. 23. 1, "c":" Os Estados Partes tomarão medidas efetivas e apropriadas


para eliminar a discriminação contra pessoas com deficiência, em todos os
aspectos relativos a casamento, família, paternidade e relacionamentos, em
igualdade de condições com as demais pessoas, de modo a assegurar que:

c) as pessoas com deficiência, inclusive crianças, conservem sua fertilidade,


em igualdade de condições com as demais pessoas”.

E também no Código de Ética Médica:

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 72 72
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Art. 42: "É vedado ao médico: Desrespeitar o direito do paciente de decidir


livremente sobre método contraceptivo, devendo sempre esclarecê-lo sobre
indicação, segurança, reversibilidade e risco de cada método”.

CAIU NA DPE-ES-2016-FCC: A Lei nº 13.146/2015 − Estatuto da Pessoa com Deficiência, bem como
as alterações por ela produzidas na legislação esparsa vigente, prevê que a deficiência não afeta, em
regra, a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para exercer o direito à fertilidade, orientando a
esterilização compulsória somente para casos devidamente fundamentados de síndromes
genéticas.50

Inciso V - exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária

É direito da pessoa com deficiência exercer o direito à família e à convivência familiar e


comunitária. O fundamento também está na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência:

Art. 19. Os Estados Partes desta Convenção reconhecem o igual direito de


todas as pessoas com deficiência de viver na comunidade, com a mesma
liberdade de escolha que as demais pessoas, e tomarão medidas efetivas e
apropriadas para facilitar às pessoas com deficiência o pleno gozo desse
direito e sua plena inclusão e participação na comunidade.

Inciso VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção

É direito da pessoa com deficiência exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção,
como adotante ou adotando, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas.

Sobre o tema, esclarece a doutrina:

50 ERRADO. Como vimos, é vedada a esterilização compulsória.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 73 73
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

(...) A despeito da deficiência, a pessoa pode manter intacta sua condição


mental (é mesmo assim na maioria das vezes), o que a autoriza a prática de
todos os atos da vida civil, dentre eles os acima elencados, em paridade de
condições com outros eventuais candidatos. De sorte que, por exemplo, na
disputa pela guarda de uma criança, não será preterido o deficiente em
virtude, por si só, de seu déficit. Conquanto detectado, se reunir melhores
condições, sob os mais variados aspectos (afetivo, psicológico, social, etc.),
deverá ser-lhe deferida a guarda.51

6. DO ATENDIMENTO PRIORITÁRIO

O atendimento prioritário à pessoa com deficiência está previsto no art. 9º do Estatuto,


vejamos:
Seção Única
Do Atendimento Prioritário

Art. 9º A pessoa com deficiência tem direito a receber atendimento


prioritário, sobretudo com a finalidade de:
I - proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;
II - atendimento em todas as instituições e serviços de atendimento ao
público;
III - disponibilização de recursos, tanto humanos quanto tecnológicos, que
garantam atendimento em igualdade de condições com as demais pessoas;
IV - disponibilização de pontos de parada, estações e terminais acessíveis de
transporte coletivo de passageiros e garantia de segurança no embarque e
no desembarque;

51Estatuto da Pessoa com Deficiência Comentado artigo por artigo. Cristiano Chaves de Farias, Rogério Sanches Cunha,
Ronaldo Batista Pinto. 2. rev., ampl. e atual. - Salvador: Ed. JusPodivm, 2016, p.46.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 74 74
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

V - acesso a informações e disponibilização de recursos de comunicação


acessíveis;
VI - recebimento de restituição de imposto de renda;
VII - tramitação processual e procedimentos judiciais e administrativos em
que for parte ou interessada, em todos os atos e diligências.

Importante ainda é a previsão do art. 9º, §1º, que prevê a extensão dessas prioridades ao
acompanhante da pessoa com deficiência ou ao seu atendente pessoal. No entanto, essa é a regra.
Precisamos saber da exceção, pois são elas que os examinadores amam!

Gente, o próprio §1º informa que esses direitos previstos no art. 9º são extensivos ao
acompanhante da pessoa com deficiência ou ao seu atendente pessoal, exceto quanto ao disposto
nos incisos VI e VII.

VI - recebimento de restituição de imposto de renda;


VII - tramitação processual e procedimentos judiciais e administrativos em
que for parte ou interessada, em todos os atos e diligências.

Sobre a prioridade da restituição de imposto de renda, a Lei nº 10.741/2003 (Estatuto do


Idoso) prevê em seu art. 3º, parágrafo único, IX:

Art. 3º. É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder


Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito
à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao
trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência
familiar e comunitária.
Parágrafo único: A garantia de prioridade compreende
[...] IX - prioridade no recebimento da restituição do Imposto de Renda.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 75 75
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

No que diz respeito à prioridade processual, essa também tem previsão na Lei nº 10.741/2003
(Estatuto do Idoso):

Art. 71: É assegurada prioridade na tramitação dos processos e


procedimentos e na execução dos atos e diligências judiciais em que figure
como parte ou interveniente pessoa com idade igual ou superior a 60
(sessenta) anos, em qualquer instância.

E claro, não poderíamos esquecer da superprioridade aos maiores de 80 (oitenta) anos


prevista no art. 71, § 5º do Estatuto do Idoso, cuja redação fora dada pela Lei nº 13.466/2017.

§ 5º Dentre os processos de idosos, dar-se-á prioridade especial aos maiores


de oitenta anos. (Incluído pela Lei nº 13.466, de 2017).

A prioridade processual também encontra guarida no NCPC:

Art. 1.048. Terão prioridade de tramitação, em qualquer juízo ou tribunal, os


procedimentos judiciais:

I - em que figure como parte ou interessado pessoa com idade igual ou


superior a 60 (sessenta) anos ou portadora de doença grave, assim
compreendida qualquer das enumeradas no art. 6º, inciso XIV, da Lei nº 7.713,
de 22 de dezembro de 1988.

Alunas e alunos, detalhe especial para o § 2º do art. 9º que prevê o seguinte:

§ 2º Nos serviços de emergência públicos e privados, a prioridade conferida


por esta Lei é condicionada aos protocolos de atendimento médico.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 76 76
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

E o que isso quer dizer?

Nem sempre a condição de deficiente garantirá prioridade. Como bem lembram os


professores Cristiano Chaves, Sanches e Batista Pinto52:

“(...) Por vezes, o estado de uma pessoa que não se encaixe nesse conceito é
grave a ponto de merecer imediato atendimento em detrimento do
deficiente que deverá aguardar. Um jovem vítima de acidente de trânsito,
que apresente lesões sérias, decerto que será atendido antes de um
deficiente que suporta singela dor de cabeça. O critério a ser observado,
portanto, deve se orientar, segundo o médico, pela urgência no atendimento,
a exigir a tomada de medidas imediatas e não pela condição pessoal do
indivíduo. Agora, estando todos em igualdade de condições, terá então
prioridade o deficiente.”

7. DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

No que diz respeito à observância dos direitos fundamentais, o art. 11 do Estatuto é bem
importante. Segundo ele, a pessoa com deficiência não poderá ser obrigada a se submeter a
intervenção clínica ou cirúrgica, a tratamento ou a institucionalização forçada.

Art. 11. A pessoa com deficiência não poderá ser obrigada a se submeter a
intervenção clínica ou cirúrgica, a tratamento ou a institucionalização
forçada.

A doutrina estabelece que “deve ficar claro que nem sempre a condição de deficiente retira
da pessoa sua capacidade de entendimento e orientação. Aliás, na maioria dos casos essa capacidade

52Estatuto da Pessoa com Deficiência Comentado artigo por artigo. Cristiano Chaves de Farias, Rogério Sanches Cunha,
Ronaldo Batista Pinto. 2. rev., ampl. e atual. - Salvador: Ed. JusPodivm, 2016, p.56.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 77 77
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

é preservada, a despeito do déficit físico. De tal sorte que, por exemplo, uma pessoa atingida por
paraplegia, que determina a perda dos movimentos de membros inferiores, não se encontra, em
absoluto, privada de seu pleno raciocínio e, como tal, deve manifestar livremente sua vontade,
exprimindo, inclusive, seu consentimento no que se refere a intervenções clínicas, tratamento
médicos, utilização de terapias, etc.”.53

Detalhe especial para o parágrafo único do art. 11 que prevê o suprimento do consentimento
da pessoa com deficiência em situação de curatela:

Parágrafo único. O consentimento da pessoa com deficiência em situação de


curatela poderá ser suprido, na forma da lei.

Neste caso, “quando necessária uma atuação médica em pessoa com deficiência, com
curatela já estabelecida judicialmente, não sendo obtido o seu regular consentimento, permite-se o
suprimento judicial através de um procedimento de jurisdição voluntária (CPC, art. 721 e seguintes).
A competência é do juízo da vara de família, por se tratar de ação que versa sobre o estado da pessoa.
A legitimidade recai sobre qualquer interessado, como, por exemplo, o cônjuge, ou companheiro, e os
familiares, além, por óbvio, do próprio curador.” 54

O art. 12, que trata sobre o tratamento, procedimento, hospitalização e pesquisa científica
com a pessoa com deficiência, pontua que o consentimento deve ser prévio, livre e esclarecido. Em
caso de pessoa com deficiência em situação de curatela, deve ser assegurada sua participação, no
maior grau possível, para a obtenção de consentimento.

Além disso, a pesquisa científica envolvendo pessoa com deficiência em situação de tutela ou
de curatela deve ser realizada, em caráter excepcional, apenas quando houver indícios de benefício

53 Estatuto da Pessoa com Deficiência Comentado artigo por artigo. Cristiano Chaves de Farias, Rogério Sanches Cunha,
Ronaldo Batista Pinto. 2. rev., ampl. e atual. - Salvador: Ed. JusPodivm, 2016, p. 64.
54 Estatuto da Pessoa com Deficiência Comentado artigo por artigo. Cristiano Chaves de Farias, Rogério Sanches Cunha,

Ronaldo Batista Pinto. 2. rev., ampl. e atual. - Salvador: Ed. JusPodivm, 2016, p. 64.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 78 78
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

direto para sua saúde ou para a saúde de outras pessoas com deficiência e desde que não haja outra
opção de pesquisa de eficácia comparável com participantes não tutelados ou curatelados.

Art. 12. O consentimento prévio, livre e esclarecido da pessoa com deficiência


é indispensável para a realização de tratamento, procedimento,
hospitalização e pesquisa científica.

§ 1º Em caso de pessoa com deficiência em situação de curatela, deve ser


assegurada sua participação, no maior grau possível, para a obtenção de
consentimento.

§ 2º A pesquisa científica envolvendo pessoa com deficiência em situação de


tutela ou de curatela deve ser realizada, em caráter excepcional, apenas
quando houver indícios de benefício direto para sua saúde ou para a saúde de
outras pessoas com deficiência e desde que não haja outra opção de pesquisa
de eficácia comparável com participantes não tutelados ou curatelados.

Por fim, a pessoa com deficiência somente será atendida sem seu consentimento prévio, livre
e esclarecido em casos de risco de morte e de emergência em saúde, resguardado seu superior
interesse e adotadas as salvaguardas legais cabíveis, nos termos do art. 13.

Art. 13. A pessoa com deficiência somente será atendida sem seu
consentimento prévio, livre e esclarecido em casos de risco de morte e de
emergência em saúde, resguardado seu superior interesse e adotadas as
salvaguardas legais cabíveis.

O fundamento do art. 13, segundo a doutrina55:

55Estatuto da Pessoa com Deficiência Comentado artigo por artigo. Cristiano Chaves de Farias, Rogério Sanches Cunha,
Ronaldo Batista Pinto. 2. rev., ampl. e atual. - Salvador: Ed. JusPodivm, 2016, p.71/72.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 79 79
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

“(...) Em última análise, é a sua própria proteção integral, garantindo a sua


integridade física e psíquica. O excepcional permissivo de tratamento médico
independente de aquiescência prévia, livre e informada do titular está
fundamentado, a toda evidência, na técnica de ponderação de interesses. Isso
porque, na hipótese, o valor jurídico autonomia é mitigado, arrefecido, pelo
valor integridade (...)

Nos casos em que se justifique a intervenção médica em pessoa com


deficiência independentemente de sua anuência anterior (livre e esclarecida),
o profissional (o médico) deve se acautelar de providências assecuratórias,
como a comunicação à família e a guarda de exames. Com isso, estará
precavendo, inclusive, eventual responsabilização civil e penal.”

7.1 DO DIREITO À SAÚDE

É assegurada atenção integral à saúde da pessoa com deficiência em todos os níveis de


complexidade, por intermédio do SUS, garantido acesso universal e igualitário. Ademais, é
assegurada a participação da pessoa com deficiência na elaboração das políticas de saúde a ela
destinadas.

O Fundamento reside na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência


(Convenção de Nova York):

Art. 4º, item 3 obrigações gerais:

Na elaboração e implementação de legislação e políticas para aplicar a


presente Convenção e em outros processos de tomada de decisão relativos às

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 80 80
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

pessoas com deficiência, os Estados Partes realizarão consultas estreitas e


envolverão ativamente pessoas com deficiência, inclusive crianças com
deficiência, por intermédio de suas organizações representativas”.

Segundo o art. 18, § 4º, as ações e os serviços de saúde pública destinados à pessoa com
deficiência devem assegurar:

I - diagnóstico e intervenção precoces, realizados por equipe multidisciplinar;


II - serviços de habilitação e de reabilitação sempre que necessários, para
qualquer tipo de deficiência, inclusive para a manutenção da melhor
condição de saúde e qualidade de vida;
III - atendimento domiciliar multidisciplinar, tratamento ambulatorial e
internação;
IV - campanhas de vacinação;
V - atendimento psicológico, inclusive para seus familiares e atendentes
pessoais;
VI - respeito à especificidade, à identidade de gênero e à orientação sexual
da pessoa com deficiência;
VII - atenção sexual e reprodutiva, incluindo o direito à fertilização assistida;
VIII - informação adequada e acessível à pessoa com deficiência e a seus
familiares sobre sua condição de saúde;
IX - serviços projetados para prevenir a ocorrência e o desenvolvimento de
deficiências e agravos adicionais;
X - promoção de estratégias de capacitação permanente das equipes que
atuam no SUS, em todos os níveis de atenção, no atendimento à pessoa com
deficiência, bem como orientação a seus atendentes pessoais;
XI - oferta de órteses, próteses, meios auxiliares de locomoção,
medicamentos, insumos e fórmulas nutricionais, conforme as normas
vigentes do Ministério da Saúde.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 81 81
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Deixei órteses e próteses destacadas não por acaso. Você sabe a diferença entre um e outro?

Vejam o que diz a doutrina56:

(...) Órteses, na definição da ISO 9999:2007, são dispositivos aplicados


externamente para modificar as características estruturais e funcionais dos
sistemas neuromuscular e esquelético. Como exemplo, temos a implantação
de um aparelho ortodôntico, de um marca-passo, de placas ortopédicas, etc.

Próteses, segundo a ISO 9999:2007, são dispositivos aplicados externamente


para substituir total ou parcialmente uma parte do corpo ausente ou com
alteração da estrutura. Assim um implante dentário, ou de um olho, a
instalação de uma dentadura. já como exemplos de meios auxiliares de
locomoção poderiam ser citadas as cadeiras de rodas, bengalas, muletas,
coletes, colares cervicais, andadores, óculos, lentes de contato, etc.”

Detalhe importante é o previsto no art. 10, inc. II, da Lei nº 9.656/199857, que dispõe sobre
os planos e seguros privados de assistência à saúde, isenta as operadoras de arcarem com os custos
derivados da implantação de órteses e próteses para fins estéticos.

Dando continuidade, atente-se ao fato de que à pessoa com deficiência internada ou em


observação é assegurado o direito a acompanhante ou a atendente pessoal, devendo o órgão ou a
instituição de saúde proporcionar condições adequadas para sua permanência em tempo integral.
Na impossibilidade de permanência do acompanhante ou do atendente pessoal junto à pessoa com
deficiência, cabe ao profissional de saúde responsável pelo tratamento justificá-la por escrito.

Além disso, o art. 26 traz uma importante informação.

56 Estatuto da Pessoa com Deficiência Comentado artigo por artigo. Cristiano Chaves de Farias, Rogério Sanches Cunha,
Ronaldo Batista Pinto. 2. rev., ampl. e atual. - Salvador: Ed. JusPodivm, 2016, p.86.
57 Essa lei dispõe sobre os planos e seguros privados de assistência à saúde.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 82 82
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Segundo o artigo, nos casos de suspeita ou de confirmação de violência praticada contra a


pessoa com deficiência, serão objeto de notificação compulsória pelos serviços de saúde públicos e
privados à autoridade policial e ao Ministério Público, além dos Conselhos dos Direitos da Pessoa
com Deficiência.

Art. 26. Os casos de suspeita ou de confirmação de violência praticada contra


a pessoa com deficiência serão objeto de notificação compulsória pelos
serviços de saúde públicos e privados à autoridade policial e ao Ministério
Público, além dos Conselhos dos Direitos da Pessoa com Deficiência.

Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, considera-se violência contra a


pessoa com deficiência qualquer ação ou omissão, praticada em local público
ou privado, que lhe cause morte ou dano ou sofrimento físico ou psicológico.

7.2 DO DIREITO À EDUCAÇÃO

Sobre o direito à educação, acho indispensável a leitura atenta do art. 28 do Estatuto, por
isso trarei agora:

Art. 28. Incumbe ao poder público assegurar, criar, desenvolver, implementar,


incentivar, acompanhar e avaliar:

I - sistema educacional inclusivo em todos os níveis e modalidades, bem como


o aprendizado ao longo de toda a vida;

Sobre esse inciso I, estabelece a doutrina58:

58Estatuto da Pessoa com Deficiência Comentado artigo por artigo. Cristiano Chaves de Farias, Rogério Sanches Cunha,
Ronaldo Batista Pinto. 2. rev., ampl. e atual. - Salvador: Ed. JusPodivm, 2016, p.101.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 83 83
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

(...) Como sugere o próprio nome, portanto, a educação inclusiva visa incluir
o aluno com deficiência no sistema de educação, de tal forma que, ao invés
de segregá-lo juntamente com outros que apresentem o mesmo déficit,
criando, por exemplo, classes específicas para alunos deficientes, busca-se
integrá-lo aos demais, frequentando todos a mesma classe, submetendo-o
ao mesmo currículo escolar, enfim, vivenciando a escola em sua plenitude,
com todos os demais. Claro que será necessário, em muitos casos, de uma
rede de apoio que propicie ao deficiente o pleno acompanhamento do
ensino, em condições de aprendizagem semelhante aos outros alunos.”

Continuando com os incisos do art.28:

II - aprimoramento dos sistemas educacionais, visando a garantir condições


de acesso, permanência, participação e aprendizagem, por meio da oferta de
serviços e de recursos de acessibilidade que eliminem as barreiras e
promovam a inclusão plena;

III - projeto pedagógico que institucionalize o atendimento educacional


especializado, assim como os demais serviços e adaptações razoáveis, para
atender às características dos estudantes com deficiência e garantir o seu
pleno acesso ao currículo em condições de igualdade, promovendo a
conquista e o exercício de sua autonomia;

IV - oferta de educação bilíngue, em Libras como primeira língua e na


modalidade escrita da língua portuguesa como segunda língua, em escolas e
classes bilíngues e em escolas inclusivas;

V - adoção de medidas individualizadas e coletivas em ambientes que


maximizem o desenvolvimento acadêmico e social dos estudantes com

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 84 84
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

deficiência, favorecendo o acesso, a permanência, a participação e a


aprendizagem em instituições de ensino;

VI - pesquisas voltadas para o desenvolvimento de novos métodos e técnicas


pedagógicas, de materiais didáticos, de equipamentos e de recursos de
tecnologia assistiva;

VII - planejamento de estudo de caso, de elaboração de plano de atendimento


educacional especializado, de organização de recursos e serviços de
acessibilidade e de disponibilização e usabilidade pedagógica de recursos de
tecnologia assistiva;

VIII - participação dos estudantes com deficiência e de suas famílias nas


diversas instâncias de atuação da comunidade escolar;

IX - adoção de medidas de apoio que favoreçam o desenvolvimento dos


aspectos linguísticos, culturais, vocacionais e profissionais, levando-se em
conta o talento, a criatividade, as habilidades e os interesses do estudante
com deficiência;

X - adoção de práticas pedagógicas inclusivas pelos programas de formação


inicial e continuada de professores e oferta de formação continuada para o
atendimento educacional especializado;

XI - formação e disponibilização de professores para o atendimento


educacional especializado, de tradutores e intérpretes da Libras, de guias
intérpretes e de profissionais de apoio;

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 85 85
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

XII - oferta de ensino da Libras, do Sistema Braille e de uso de recursos de


tecnologia assistiva, de forma a ampliar habilidades funcionais dos
estudantes, promovendo sua autonomia e participação;

XIII - acesso à educação superior e à educação profissional e tecnológica em


igualdade de oportunidades e condições com as demais pessoas;

XIV - inclusão em conteúdos curriculares, em cursos de nível superior e de


educação profissional técnica e tecnológica, de temas relacionados à pessoa
com deficiência nos respectivos campos de conhecimento;

XV - acesso da pessoa com deficiência, em igualdade de condições, a jogos e


a atividades recreativas, esportivas e de lazer, no sistema escolar;

XVI - acessibilidade para todos os estudantes, trabalhadores da educação e


demais integrantes da comunidade escolar às edificações, aos ambientes e às
atividades concernentes a todas as modalidades, etapas e níveis de ensino;

XVII - oferta de profissionais de apoio escolar;

XVIII - articulação intersetorial na implementação de políticas públicas.

O § 1º do mesmo art. 28 prevê que às instituições privadas, de qualquer nível e modalidade


de ensino, aplica-se obrigatoriamente o disposto nos incisos I, II, III, V, VII, VIII, IX, X, XI, XII, XIII, XIV,
XV, XVI, XVII e XVIII do caput, sendo vedada a cobrança de valores adicionais de qualquer natureza
em suas mensalidades, anuidades e matrículas no cumprimento dessas determinações.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 86 86
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Sobre o tema, lembra Márcio Cavalcante59 que a Confederação Nacional dos


Estabelecimentos de Ensino (CONFENEN) ajuizou ação de inconstitucionalidade contra o art. 28, § 1º
e o art. 30 do Estatuto da Pessoa com Deficiência. Os dispositivos atacados preveem uma série de
obrigações às instituições particulares de ensino regular no atendimento de todo e qualquer “portador
de necessidade especial”, mas veda a cobrança de valores adicionais de qualquer natureza em suas
mensalidades, anuidades e matrículas no cumprimento dessas determinações. Isso, na visão da
entidade, fará com que as instituições de ensino tenham inúmeros custos, que não poderão ser
repassados ao consumidor. Para a CONFENEN, é dever do Estado oferecer atendimento educacional
especializado aos “portadores” de deficiência, conforme previsto no art. 208, III, da CF/88. Segundo a
autora, os dispositivos impugnados violam também o princípio da razoabilidade. Isso porque a Lei
está exigindo das escolas particulares aquilo que o próprio Estado não consegue cumprir.

No entanto, o STF já decidiu que são constitucionais o art. 28, § 1º e o art. 30 da Lei nº
13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), que determinam que as escolas privadas
ofereçam atendimento educacional adequado e inclusivo às pessoas com deficiência sem que
possam cobrar valores adicionais de qualquer natureza em suas mensalidades, anuidades e
matrículas para cumprimento dessa obrigação. STF. Plenário. ADI 5357 MC-Referendo/DF, Rel. Min.
Edson Fachin, julgado em 9/6/2016 (Info 829).

Já o § 2º estabelece que na disponibilização de tradutores e intérpretes da Libras (a que se


refere o inciso XI do caput do art. 28), deve-se observar o seguinte:

I - os tradutores e intérpretes da Libras atuantes na educação básica devem,


no mínimo, possuir ensino médio completo e certificado de proficiência na
Libras;

59 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Ensino privado e acesso a pessoas com deficiência. Buscador Dizer o Direito,
Manaus. Disponível em:
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/a49e9411d64ff53eccfdd09ad10a15b3. Acesso em:
27/01/2021.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 87 87
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

II - os tradutores e intérpretes da Libras, quando direcionados à tarefa de


interpretar nas salas de aula dos cursos de graduação e pós-graduação,
devem possuir nível superior, com habilitação, prioritariamente, em Tradução
e Interpretação em Libras.

7.3 DO DIREITO À MORADIA

Segundo o art. 31, a pessoa com deficiência tem direito à moradia digna, no seio da família
natural ou substituta, com seu cônjuge ou companheiro ou desacompanhada, ou em moradia para a
vida independente da pessoa com deficiência, ou, ainda, em residência inclusiva.

Nesse sentido:

Art. 31. A pessoa com deficiência tem direito à moradia digna, no seio da
família natural ou substituta, com seu cônjuge ou companheiro ou
desacompanhada, ou em moradia para a vida independente da pessoa com
deficiência, ou, ainda, em residência inclusiva.

§ 1º O poder público adotará programas e ações estratégicas para apoiar a


criação e a manutenção de moradia para a vida independente da pessoa com
deficiência.

§ 2º A proteção integral na modalidade de residência inclusiva será prestada


no âmbito do Suas à pessoa com deficiência em situação de dependência que
não disponha de condições de autossustentabilidade, com vínculos familiares
fragilizados ou rompidos.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 88 88
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Fundamento constitucional - Art. 6º da CF: “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação,
o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer; a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”.

Fundamento na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), art. 25: “Toda pessoa tem direito
a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação,
vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis”.

Fundamento na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (Nova York março de
2007), art. 28, item 1: “Os Estados Partes reconhecem o direito das pessoas com deficiência a um
padrão adequado de vida para si e para suas famílias, inclusive alimentação, vestuário e moradia
adequados, bem como à melhoria continua de suas condições de vida, e tomarão as providências
necessárias para salvaguardar e promover a realização desse direito sem discriminação baseada na
deficiência [...] d) assegurar o acesso de pessoas com deficiência a programas habitacionais públicos”

Agora atenção com o art. 32. Segundo ele, nos programas habitacionais, públicos ou
subsidiados com recursos públicos, a pessoa com deficiência ou o seu responsável goza de prioridade
na aquisição de imóvel para moradia própria, observado o seguinte:

I - reserva de, no mínimo, 3% (três por cento) das unidades habitacionais para
pessoa com deficiência;60
II - (VETADO);
III - em caso de edificação multifamiliar, garantia de acessibilidade nas áreas
de uso comum e nas unidades habitacionais no piso térreo e de acessibilidade
ou de adaptação razoável nos demais pisos;
IV - disponibilização de equipamentos urbanos comunitários acessíveis;

60 Caso não haja pessoa com deficiência interessada nas unidades habitacionais reservadas por força do disposto no inciso

I do caput deste artigo, as unidades não utilizadas serão disponibilizadas às demais pessoas.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 89 89
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

V - elaboração de especificações técnicas no projeto que permitam a


instalação de elevadores.

CUIDADO: O direito à prioridade será reconhecido à pessoa com deficiência beneficiária apenas uma
vez. Além disso, nos programas habitacionais públicos, os critérios de financiamento devem ser
compatíveis com os rendimentos da pessoa com deficiência ou de sua família.

O art. 33, II, lembra que ao poder público compete divulgar, para os agentes interessados e
beneficiários, a política habitacional prevista nas legislações federal, estaduais, distrital e municipais,
com ênfase nos dispositivos sobre acessibilidade.

7.4 DO DIREITO AO TRABALHO

A pessoa com deficiência tem direito ao trabalho de sua livre escolha e aceitação, em
ambiente acessível e inclusivo, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas.

As pessoas jurídicas de direito público, privado ou de qualquer natureza são obrigadas a


garantir ambientes de trabalho acessíveis e inclusivos. É vedada restrição ao trabalho da pessoa com
deficiência e qualquer discriminação em razão de sua condição, inclusive nas etapas de
recrutamento, seleção, contratação, admissão, exames admissional e periódico, permanência no
emprego, ascensão profissional e reabilitação profissional, bem como exigência de aptidão plena.

A pessoa com deficiência tem direito à participação e ao acesso a cursos, treinamentos,


educação continuada, planos de carreira, promoções, bonificações e incentivos profissionais
oferecidos pelo empregador, em igualdade de oportunidades com os demais empregados.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 90 90
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

7.5 DO DIREITO À ASSISTÊNCIA SOCIAL

O art. 39 do Estatuto prevê que os serviços, os programas, os projetos e os benefícios no


âmbito da política pública de assistência social à pessoa com deficiência e sua família têm como
objetivo a garantia da segurança de renda, da acolhida, da habilitação e da reabilitação, do
desenvolvimento da autonomia e da convivência familiar e comunitária, para a promoção do acesso
a direitos e da plena participação social.

Importante lembrar que o art. 2º, inciso I, "d" da Lei nº 8.472/93 (Lei Orgânica de Assistência
Social), que indica os objetivos da assistência social, assegura “a habilitação e reabilitação das
pessoas com deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária”: bem como “a garantia
de 1 (um) salário-mínimo de benefício mensal à pessoa com deficiência e ao idoso que comprovem
não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família”: nos termos
do art. 2º, inc. I, “e”, do mencionado diploma legal.

Nesse sentido:

Art. 2º A assistência social tem por objetivos:


(...)
d) a habilitação e reabilitação das pessoas com deficiência e a promoção de
sua integração à vida comunitária;
e) a garantia de 1 (um) salário-mínimo de benefício mensal à pessoa com
deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria
manutenção ou de tê-la provida por sua família;

Estabelece também o art. 40 do Estatuto da Pessoa com Deficiência:

Art. 40. É assegurado à pessoa com deficiência que não possua meios para
prover sua subsistência nem de tê-la provida por sua família o benefício

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 91 91
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

mensal de 1 (um) salário-mínimo, nos termos da Lei nº 8.742, de 7 de


dezembro de 1993.

No entanto, precisamos comentar um detalhe importante.

É que o § 3º do art. 20 da Lei Orgânica de Assistência Social (Lei nº 8.742/1993) assim


pontuava:

§ 3º Considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa com deficiência ou idosa a família cuja
renda mensal per capita seja: I - inferior a um quarto do salário mínimo;

Então, em tese, para ter direito ao benefício (Benefício da Prestação Continuada - BPC-LOAS),
a renda per capita, ou seja, por pessoa, precisa ser inferior a ¼ de um salário-mínimo. No entanto,
isso é mesmo rígido assim? Cuidado. Tanto o STF como o STJ já entenderam que esse requisito do §3º
(requisito da miserabilidade) não é absolutamente rígido (em homenagem à isonomia material, pois
nem sempre quem tem renda per capita familiar maior de ¼ do salário-mínimo terá condições de
sobreviver sem o BPC). Vejam:

“DIREITO PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL. MEIOS DE PROVA DA


CONDIÇÃO DE MISERABILIDADE. O critério previsto no art. 20, § 3º, da Lei nº
8.742/1993 (renda mensal per capita inferior a ¼ do salário mínimo) não
impede a concessão do correspondente benefício assistencial, desde que
comprovada, por outros meios, a miserabilidade do postulante. A CF assegura
um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e
ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção
ou de tê-la provida por sua família. A Lei nº 8.742/1993 dispõe que a
concessão desse benefício será devido a quem não possua meios de prover
sua manutenção ou cuja família possua renda mensal per capita inferior a ¼
do salário mínimo. No julgamento do REsp 1.112.557-MG, representativo de

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 92 92
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

controvérsia, o STJ firmou o entendimento de que a limitação do valor da


renda per capita familiar não deve ser considerada a única forma de
comprovar que a pessoa não possui outros meios para prover a própria
manutenção ou de tê-la provida por sua família, visto que esse critério é
apenas um elemento objetivo para aferir a necessidade(...) AgRg no AREsp
224.185-SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgado em 2/10/2012.”

A Lei nº 13.982/2020 trouxe uma exceção no art. 20-A, vejamos:

Art. 20-A. Em razão do estado de calamidade pública reconhecido pelo


Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020, e da emergência de saúde
pública de importância internacional decorrente do coronavírus (Covid-19),
o critério de aferição da renda familiar mensal per capita previsto no inciso I
do § 3º do art. 20 poderá ser ampliado para até 1/2 (meio) salário-mínimo.

§ 1º A ampliação de que trata o caput ocorrerá na forma de escalas graduais,


definidas em regulamento, de acordo com os seguintes fatores, combinados
entre si ou isoladamente:

I - o grau da deficiência;
II - a dependência de terceiros para o desempenho de atividades básicas da
vida diária;
III - as circunstâncias pessoais e ambientais e os fatores socioeconômicos e
familiares que podem reduzir a funcionalidade e a plena participação social
da pessoa com deficiência candidata ou do idoso;
IV - o comprometimento do orçamento do núcleo familiar de que trata o § 3º
do art. 20 exclusivamente com gastos com tratamentos de saúde, médicos,
fraldas, alimentos especiais e medicamentos do idoso ou da pessoa com
deficiência não disponibilizados gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 93 93
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

(SUS), ou com serviços não prestados pelo Serviço Único de Assistência Social
(Suas), desde que comprovadamente necessários à preservação da saúde e
da vida.

No que se refere ao comprometimento do orçamento do núcleo familiar com gastos com


tratamentos de saúde, médicos, fraldas, alimentos especiais e medicamentos do idoso ou da pessoa
com deficiência, de que trata o inciso IV, o § 4º do art. 20-A estabelece o seguinte:

§ 4º O valor referente ao comprometimento do orçamento do núcleo familiar


com gastos com tratamentos de saúde, médicos, fraldas, alimentos especiais
e medicamentos do idoso ou da pessoa com deficiência, de que trata o inciso
IV do § 1º deste artigo, será definido pelo Instituto Nacional do Seguro Social,
a partir de valores médios dos gastos realizados pelas famílias exclusivamente
com essas finalidades, conforme critérios definidos em regulamento,
facultada ao interessado a possibilidade de comprovação, nos termos do
referido regulamento, de que os gastos efetivos ultrapassam os valores
médios.”

Além disso, a Lei nº 13.982/2020 também trouxe dois novos parágrafos ao art. 20 da Lei nº
8.742/1993, o § 14 e o §15, vejam:

§ 14. O benefício de prestação continuada ou o benefício previdenciário no valor de até 1 (um)


salário-mínimo concedido a idoso acima de 65 (sessenta e cinco) anos de idade ou pessoa com
deficiência não será computado, para fins de concessão do benefício de prestação continuada a outro
idoso ou pessoa com deficiência da mesma família, no cálculo da renda a que se refere o § 3º deste
artigo.

§ 15. O benefício de prestação continuada será devido a mais de um membro da mesma família
enquanto atendidos os requisitos exigidos nesta Lei.” (NR)

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 94 94
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

7.6 DO DIREITO À PREVIDÊNCIA SOCIAL

Segundo o art. 41, a pessoa com deficiência segurada do Regime Geral de Previdência Social
(RGPS) tem direito à aposentadoria nos termos da Lei Complementar nº 142/2013.

É importante anotar que o Estatuto da Pessoa com Deficiência traz, em seu art. 84, o benefício
denominado “auxílio-inclusão”, um benefício de cunho previdenciário (isto é, para pessoas que
contribuem para a previdência social).

Art. 94. Terá direito a auxílio-inclusão, nos termos da lei, a pessoa com
deficiência moderada ou grave que:

I - receba o benefício de prestação continuada previsto no art. 20 da Lei nº


8.742, de 7 de dezembro de 1993, e que passe a exercer atividade remunerada
que a enquadre como segurado obrigatório do RGPS;

II - tenha recebido, nos últimos 5 (cinco) anos, o benefício de prestação


continuada previsto no art. 20 da Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, e
que exerça atividade remunerada que a enquadre como segurado obrigatório
do RGPS.

O que quer dizer, então, esse auxílio-inclusão?

Vimos que o art. 40 do Estatuto da Pessoa com Deficiência traz o BPC-LOAS:

Art. 40. É assegurado à pessoa com deficiência que não possua meios para
prover sua subsistência nem de tê-la provida por sua família o benefício
mensal de 1 (um) salário-mínimo, nos termos da Lei nº 8.742, de 7 de
dezembro de 1993.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 95 95
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Certo.

Acontece que o art. 21-A da Lei nº 8.742/1993 (Lei Orgânica da Assistência Social) estabelece
que o benefício de prestação continuada será suspenso pelo órgão concedente quando a pessoa com
deficiência exercer atividade remunerada, inclusive na condição de microempreendedor individual,
vejam:

Art. 21-A. O benefício de prestação continuada será suspenso pelo órgão


concedente quando a pessoa com deficiência exercer atividade remunerada,
inclusive na condição de microempreendedor individual.

O que o art. 94, I e II do Estatuto estabelecem, então, é o seguinte:

“(...) O estatuto inovou ao prever que o deficiente, mesmo que torne ao


mercado de trabalho, faça jus ao auxílio-inclusão. Esta é a interpretação
plausível que se deve emprestar às expressões que passe a exercer atividade
remunerada (inc. I), e que exerça atividade remunerada (inc. II). Insistimos: se
o BPC cessa com o ingresso do beneficiário no mercado de trabalho, o auxílio-
inclusão, de sua parte, não possui tal restrição. A ratio legis reside no fato de
que, ainda que empregado, o deficiente possui despesas extraordinárias,
inerentes à sua condição física (como, por exemplo, a aquisição de uma
cadeira de rodas ou a contratação de um cuidador), o que justifica a
percepção de um valor adicional apto a fazer frente a tais encargos.” 61

No entanto, a doutrina é clara ao pontuar a impossibilidade de se acumular o BPC-LOAS com


o auxílio-inclusão.

61Estatuto da Pessoa com Deficiência Comentado artigo por artigo. Cristiano Chaves de Farias, Rogério Sanches Cunha,
Ronaldo Batista Pinto. 2. rev., ampl. e atual. - Salvador: Ed. JusPodivm, 2016, p. 266.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 96 96
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

“(...) Destacamos, outrossim, a impossibilidade de se cumular o recebimento


do BPC e do auxílio-inclusão. A um, porque o retorno do deficiente ao mercado
de trabalho, como já destacamos, suspende o pagamento do BPC, na dicção
do art. 21-A, da Lei nº 8.742/1993. E, a dois, em virtude de que o art. 20, § 4º,
do mesmo diploma, reza que "o benefício de que trata este artigo não pode
ser acumulado pelo beneficiário com qualquer outro no âmbito da seguridade
social ou de outro regime, salvo os da assistência médica e da pensão especial
de natureza indenizatória". Resta evidente que este dispositivo, a fim de
regulamentá-lo, exigirá a edição de um decreto, no qual serão explicitadas as
minúcias para sua concessão e, inclusive, o valor do benefício. Face aos
termos genéricos em que o estatuto define, em seu art. 2º, a pessoa com
deficiência ("aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física,
mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais
barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em
igualdade de condições”62

7.7 DO DIREITO À CULTURA, AO ESPORTE, AO TURISMO E AO LAZER

A pessoa com deficiência tem direito à cultura, ao esporte, ao turismo e ao lazer em igualdade
de oportunidades com as demais pessoas, sendo-lhe garantido o acesso:

I - a bens culturais em formato acessível;


II - a programas de televisão, cinema, teatro e outras atividades culturais e
desportivas em formato acessível; e
III - a monumentos e locais de importância cultural e a espaços que ofereçam
serviços ou eventos culturais e esportivos.

62Estatuto da Pessoa com Deficiência Comentado artigo por artigo. Cristiano Chaves de Farias, Rogério Sanches Cunha,
Ronaldo Batista Pinto. 2. rev., ampl. e atual. - Salvador: Ed. JusPodivm, 2016, p. 266.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 97 97
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

É vedada a recusa de oferta de obra intelectual em formato acessível à pessoa com


deficiência, sob qualquer argumento, inclusive sob a alegação de proteção dos direitos de
propriedade intelectual.

Nos teatros, cinemas, auditórios, estádios, ginásios de esporte, locais de espetáculos e de


conferências e similares, serão reservados espaços livres e assentos para a pessoa com deficiência,
de acordo com a capacidade de lotação da edificação, observado o disposto em regulamento.

O art. 44, § 1º estabelece o seguinte:

§ 1º Os espaços e assentos a que se refere este artigo devem ser distribuídos


pelo recinto em locais diversos, de boa visibilidade, em todos os setores,
próximos aos corredores, devidamente sinalizados, evitando-se áreas
segregadas de público e obstrução das saídas, em conformidade com as
normas de acessibilidade.

No entanto, é importante saber que no caso de não haver comprovada procura pelos
assentos reservados, esses podem, excepcionalmente, ser ocupados por pessoas sem deficiência ou
que não tenham mobilidade reduzida, observado o disposto em regulamento.

Segundo o § 3º do mesmo art. 44, os espaços e assentos a que se refere este artigo devem
situar-se em locais que garantam a acomodação de, no mínimo, 1 (um) acompanhante da pessoa
com deficiência ou com mobilidade reduzida, resguardado o direito de se acomodar proximamente
a grupo familiar e comunitário.

Nesses locais, deve haver, obrigatoriamente, rotas de fuga e saídas de emergência acessíveis,
conforme padrões das normas de acessibilidade, a fim de permitir a saída segura da pessoa com
deficiência ou com mobilidade reduzida, em caso de emergência.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 98 98
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Sobre cinemas, importantes os § 6º e § 7º do mesmo art. 44:

§ 6º As salas de cinema devem oferecer, em todas as sessões, recursos de


acessibilidade para a pessoa com deficiência.
§ 7º O valor do ingresso da pessoa com deficiência não poderá ser superior
ao valor cobrado das demais pessoas.

Sobre o tema, atenção à recente Lei nº 19.009/2020, que altera o art. 125 do Estatuto da
Pessoa com Deficiência para dispor sobre a acessibilidade para pessoas com deficiência nas salas de
cinema.

É que o art. 44, § 6º do Estatuto estabelece, como vimos acima, que as salas de cinema devem
oferecer, em todas as sessões, recursos de acessibilidade para a pessoa com deficiência.

O art. 125, inciso II, do referido Estatuto, então, fixou o prazo de 60 meses para o
cumprimento do art. 44, § 6º, cuja redação foi dada pela MP nº 917/2019. A Medida Provisória, no
entanto, foi convertida na atual Lei nº 19.009/2020.

Em suma, analise como ficou a redação final do art. 125, II do Estatuto da Pessoa com
Deficiência.

Art. 125. Devem ser observados os prazos a seguir discriminados, a partir da


entrada em vigor desta Lei, para o cumprimento dos seguintes dispositivos:

II - § 6º do art. 44, 60 (sessenta) meses; (Redação dada pela Lei nº 14.009, de


2020)

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 99 99
CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Em outras palavras, com a Lei nº 19.009/2020 permanece o mesmo prazo de 60 meses para
que as salas de cinema ofereçam, em todas as sessões, recursos de acessibilidade para a pessoa com
deficiência.

Dando continuidade, no que diz respeito a hotéis, pousadas e similares, esses devem ser
construídos observando-se os princípios do desenho universal, além de adotar todos os meios de
acessibilidade (art. 45).

Um ponto importante e que aparece em provas objetivas é o previsto no art. 45, §, que assim
estabelece:

§ 1º Os estabelecimentos já existentes deverão disponibilizar, pelo menos,


10% (dez por cento) de seus dormitórios acessíveis, garantida, no mínimo, 1
(uma) unidade acessível.

7.8 DO DIREITO AO TRANSPORTE E À MOBILIDADE

Sobre o direito ao transporte e mobilidade, o Estatuto traz, em seu art. 46, informações
importantes, vejam:

Art. 46. O direito ao transporte e à mobilidade da pessoa com deficiência ou


com mobilidade reduzida será assegurado em igualdade de oportunidades
com as demais pessoas, por meio de identificação e de eliminação de todos
os obstáculos e barreiras ao seu acesso.

§ 1º Para fins de acessibilidade aos serviços de transporte coletivo terrestre,


aquaviário e aéreo, em todas as jurisdições, consideram-se como integrantes
desses serviços os veículos, os terminais, as estações, os pontos de parada, o
sistema viário e a prestação do serviço.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 100 100


CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

§2º São sujeitas ao cumprimento das disposições desta Lei, sempre que
houver interação com a matéria nela regulada, a outorga, a concessão, a
permissão, a autorização, a renovação ou a habilitação de linhas e de serviços
de transporte coletivo.

§ 3º Para colocação do símbolo internacional de acesso nos veículos, as


empresas de transporte coletivo de passageiros dependem da certificação de
acessibilidade emitida pelo gestor público responsável pela prestação do
serviço.

Nesse sentido, importante considerar que o Estatuto da Pessoa com Deficiência modificou,
com seu art. 117 (quase sempre esquecido), o direito da pessoa com deficiência visual ser
acompanhada de cão-guia e ingressar e/ou permanecer com o animal em todos os meios de
transporte e em estabelecimentos abertos ao público, de uso público e privados de uso coletivo,
alterando o art. 1º da Lei nº 11.126/2005 (Lei que dispõe sobre o direito do portador de deficiência
visual de ingressar e permanecer em ambientes de uso coletivo acompanhado de cão-guia).

“Art. 1º É assegurado à pessoa com deficiência visual acompanhada de cão-


guia o direito de ingressar e de permanecer com o animal em todos os meios
de transporte e em estabelecimentos abertos ao público, de uso público e
privados de uso coletivo, desde que observadas as condições impostas por
esta Lei.

Dando continuidade, o art. 47 do Estatuto prevê que em todas as áreas de estacionamento


aberto ao público, de uso público ou privado de uso coletivo e em vias públicas, devem ser reservadas
vagas próximas aos acessos de circulação de pedestres, devidamente sinalizadas, para veículos que
transportem pessoa com deficiência com comprometimento de mobilidade, desde que devidamente
identificados.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 101 101


CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Neste caso, as vagas devem equivaler a 2% (dois por cento) do total, garantida, no mínimo, 1
(uma) vaga devidamente sinalizada e com as especificações de desenho e traçado de acordo com as
normas técnicas vigentes de acessibilidade.

Ainda, os veículos estacionados nas vagas reservadas devem exibir, em local de ampla
visibilidade, a credencial de beneficiário, a ser confeccionada e fornecida pelos órgãos de trânsito,
que disciplinarão suas características e condições de uso. A utilização indevida das vagas de que trata
este artigo sujeita os infratores às sanções previstas no inciso XX do art. 181 do Código de Trânsito
Brasileiro, vejam:

Art. 181. Estacionar o veículo:


(...)

XX - nas vagas reservadas às pessoas com deficiência ou idosos, sem


credencial que comprove tal condição:
Infração - gravíssima; Penalidade - multa; Medida administrativa - remoção
do veículo.

No que tange às frotas de táxi, o art. 51 estabelece que estas devem reservar 10% (dez por
cento) de seus veículos acessíveis à pessoa com deficiência. Fica proibida a cobrança diferenciada de
tarifas ou de valores adicionais pelo serviço de táxi prestado à pessoa com deficiência.

Importante é a previsão do art. 52 do Estatuto, segundo a qual as locadoras de veículos são


obrigadas a oferecer 1 (um) veículo adaptado para uso de pessoa com deficiência, a cada conjunto
de 20 (vinte) veículos de sua frota.

Art. 52. As locadoras de veículos são obrigadas a oferecer 1 (um) veículo


adaptado para uso de pessoa com deficiência, a cada conjunto de 20 (vinte)
veículos de sua frota.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 102 102


CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Parágrafo único. O veículo adaptado deverá ter, no mínimo, câmbio


automático, direção hidráulica, vidros elétricos e comandos manuais de freio
e de embreagem.

Vamos fazer um resumão de todas as porcentagens e números que vimos até agora, para
que você não se perca.63

3% (três por cento) das unidades habitacionais para pessoa com


Programas habitacionais
deficiência;
2% (dois por cento) do total, garantida, no mínimo, 1 (uma)
Vagas em estacionamentos
vaga.
10% (dez por cento) de seus veículos acessíveis à pessoa com
Frotas de táxi
deficiência.
1 (um) veículo adaptado para uso de pessoa com deficiência, a
Locadoras de veículos
cada conjunto de 20 (vinte) veículos de sua frota.

8. DA ACESSIBILIDADE

Segundo o art. 53, a acessibilidade é direito que garante à pessoa com deficiência ou com
mobilidade reduzida viver de forma independente e exercer seus direitos de cidadania e de
participação social.

São sujeitas ao cumprimento das disposições do Estatuto da Pessoa com Deficiência, de


outras normas relativas à acessibilidade, sempre que houver interação com a matéria nela regulada:

I - a aprovação de projeto arquitetônico e urbanístico ou de comunicação e


informação, a fabricação de veículos de transporte coletivo, a prestação do

63 Ao final deste material há tabela completa com todos esses valores e percentuais.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 103 103


CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

respectivo serviço e a execução de qualquer tipo de obra, quando tenham


destinação pública ou coletiva;

II - a outorga ou a renovação de concessão, permissão, autorização ou


habilitação de qualquer natureza;

III - a aprovação de financiamento de projeto com utilização de recursos


públicos, por meio de renúncia ou de incentivo fiscal, contrato, convênio ou
instrumento congênere; e

IV - a concessão de aval da União para obtenção de empréstimo e de


financiamento internacionais por entes públicos ou privados.

Nos termos do art. 55, a concepção e a implantação de projetos que tratem do meio físico,
de transporte, de informação e comunicação, inclusive de sistemas e tecnologias da informação e
comunicação, e de outros serviços, equipamentos e instalações abertos ao público, de uso público
ou privado de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, devem atender aos princípios do
desenho universal, tendo como referência as normas de acessibilidade. Vimos lá atrás o significado
de desenho universal, mas traremos novamente:

DESENHO UNIVERSAL: concepção de produtos, ambientes, programas e serviços a serem usados por
todas as pessoas, sem necessidade de adaptação ou de projeto específico, incluindo os recursos de
tecnologia assistiva;

Lembre-se que o desenho universal será sempre tomado como regra de caráter geral. Além
disso, nas hipóteses em que comprovadamente o desenho universal não possa ser empreendido,
deve ser adotada adaptação razoável.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 104 104


CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Os programas, os projetos e as linhas de pesquisa a serem desenvolvidos com o apoio de


organismos públicos de auxílio à pesquisa e de agências de fomento deverão incluir temas voltados
para o desenho universal. Desde a etapa de concepção, as políticas públicas deverão considerar a
adoção do desenho universal.

As entidades de fiscalização profissional das atividades de Engenharia, de Arquitetura e


correlatas, ao anotarem a responsabilidade técnica de projetos, devem exigir a responsabilidade
profissional declarada de atendimento às regras de acessibilidade previstas em legislação e em
normas técnicas pertinentes.

Nos termos do art. 57, as edificações públicas e privadas de uso coletivo já existentes devem
garantir acessibilidade à pessoa com deficiência em todas as suas dependências e serviços, tendo
como referência as normas de acessibilidade vigentes.

Além disso, o projeto e a construção de edificação de uso privado multifamiliar devem


atender aos preceitos de acessibilidade, na forma regulamentar.

As construtoras e incorporadoras responsáveis pelo projeto e pela construção das edificações


multifamiliar devem assegurar percentual mínimo de suas unidades internamente acessíveis, na
forma regulamentar. Neste caso, é vedada a cobrança de valores adicionais para a aquisição de
unidades internamente acessíveis.

Chamo a atenção de vocês para o art. 60 do Estatuto.

Art. 60. Orientam-se, no que couber, pelas regras de acessibilidade previstas


em legislação e em normas técnicas, observado o disposto na Lei nº 10.098,
de 19 de dezembro de 2000, nº 10.257, de 10 de julho de 2001, e nº 12.587,
de 3 de janeiro de 2012:

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 105 105


CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

I - os planos diretores municipais, os planos diretores de transporte e trânsito,


os planos de mobilidade urbana e os planos de preservação de sítios históricos
elaborados ou atualizados a partir da publicação desta Lei;

II - os códigos de obras, os códigos de postura, as leis de uso e ocupação do


solo e as leis do sistema viário;

III - os estudos prévios de impacto de vizinhança;

IV - as atividades de fiscalização e a imposição de sanções; e

V - a legislação referente à prevenção contra incêndio e pânico.

Por fim, encerrando o tópico, saibam que é assegurado à pessoa com deficiência, mediante
solicitação, o recebimento de contas, boletos, recibos, extratos e cobranças de tributos em formato
acessível.

9. DO ACESSO À INFORMAÇÃO E À COMUNICAÇÃO

Sobre o acesso à informação, é importante para nossa prova a previsão do art. 63, §3º do
Estatuto, que trata sobre o percentual mínimo de computadores com recursos de acessibilidade para
pessoa com deficiência visual em lan houses (apesar de não ser algo mais comum como antes, as lan
houses ainda existem).

§ 3º Os telecentros e as lan houses de que trata o § 2º deste artigo devem


garantir, no mínimo, 10% (dez por cento) de seus computadores com recursos
de acessibilidade para pessoa com deficiência visual, sendo assegurado pelo
menos 1 (um) equipamento, quando o resultado percentual for inferior a 1
(um).

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 106 106


CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

10. DA TECNOLOGIA ASSISTIVA

É garantido à pessoa com deficiência acesso a produtos, recursos, estratégias, práticas,


processos, métodos e serviços de tecnologia assistiva que maximizem sua autonomia, mobilidade
pessoal e qualidade de vida.

O art. 75 traz o plano específico de medidas a ser desenvolvido pelo poder público, e renovado
a cada período de 4 (quatro) anos. No entanto, cuidado, pois os procedimentos constantes no
específico de medidas deverão ser avaliados, pelo menos, a cada 2 (dois) anos, a fim de fazer valer

Art. 75. O poder público desenvolverá plano específico de medidas, a ser


renovado em cada período de 4 (quatro) anos, com a finalidade de:

I - facilitar o acesso a crédito especializado, inclusive com oferta de linhas de


crédito subsidiadas, específicas para aquisição de tecnologia assistiva;
II - agilizar, simplificar e priorizar procedimentos de importação de tecnologia
assistiva, especialmente as questões atinentes a procedimentos alfandegários
e sanitários;
III - criar mecanismos de fomento à pesquisa e à produção nacional de
tecnologia assistiva, inclusive por meio de concessão de linhas de crédito
subsidiado e de parcerias com institutos de pesquisa oficiais;
IV - eliminar ou reduzir a tributação da cadeia produtiva e de importação de
tecnologia assistiva;
V - facilitar e agilizar o processo de inclusão de novos recursos de tecnologia
assistiva no rol de produtos distribuídos no âmbito do SUS e por outros
órgãos governamentais.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 107 107


CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Parágrafo único. Para fazer cumprir o disposto neste artigo, os


procedimentos constantes do plano específico de medidas deverão ser
avaliados, pelo menos, a cada 2 (dois) anos.

Em resumo:

PLANO ESPECÍFICO DE MEDIDAS DE TECNOLOGIA ASSISTIVA


RENOVAÇÃO AVALIAÇÃO DO PLANO
Em cada período de 4 (quatro) anos A cada 2 (dois) anos

11. DO DIREITO À PARTICIPAÇÃO NA VIDA PÚBLICA E POLÍTICA

Importante saber que à pessoa com deficiência será assegurado o direito de votar e de ser
votada, inclusive por meio das seguintes ações (art. 76):

I - garantia de que os procedimentos, as instalações, os materiais e os


equipamentos para votação sejam apropriados, acessíveis a todas as pessoas
e de fácil compreensão e uso, sendo vedada a instalação de seções eleitorais
exclusivas para a pessoa com deficiência;
II - incentivo à pessoa com deficiência a candidatar-se e a desempenhar
quaisquer funções públicas em todos os níveis de governo, inclusive por meio
do uso de novas tecnologias assistivas, quando apropriado;
III - garantia de que os pronunciamentos oficiais, a propaganda eleitoral
obrigatória e os debates transmitidos pelas emissoras de televisão possuam,
pelo menos, os recursos elencados no art. 67 desta Lei;
IV - garantia do livre exercício do direito ao voto e, para tanto, sempre que
necessário e a seu pedido, permissão para que a pessoa com deficiência seja
auxiliada na votação por pessoa de sua escolha.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 108 108


CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

12. PARTE ESPECIAL - DO ACESSO À JUSTIÇA

De acordo com o art. 79, § 1º, a fim de garantir a atuação da pessoa com deficiência em todo
o processo judicial, o poder público deve capacitar os membros e os servidores que atuam no Poder
Judiciário, no Ministério Público, na Defensoria Pública, nos órgãos de segurança pública e no sistema
penitenciário quanto aos direitos da pessoa com deficiência.

Devem ser assegurados à pessoa com deficiência submetida a medida restritiva de liberdade
todos os direitos e garantias a que fazem jus os apenados sem deficiência, garantida a acessibilidade.

Segundo a Lei, a Defensoria Pública e o Ministério Público tomarão as medidas necessárias à


garantia dos direitos previstos no Estatuto.

13. DO RECONHECIMENTO IGUAL PERANTE A LEI

13.1 DA CURATELA

Nesse ponto estudaremos alguns aspectos sobre a curatela. Inicialmente, cuidado para não
confundir com a tutela.

TUTELA64 CURATELA
Instrumento jurídico para proteger a criança ou Instrumento jurídico voltado para a proteção de
adolescente que não goza da proteção do poder uma pessoa que, apesar de ser maior de 18
familiar em virtude da morte, ausência ou anos, necessita da assistência de outra para a
destituição de seus pais.

64Tabela disponível em: CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O rol de legitimados para propor a ação de levantamento de
curatela, previsto no art. 756, § 1º do CPC/2015, não é taxativo. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/958ad0d05d3259750be0b041d10adbb1. Acesso
em: 27/01/2021.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 109 109


CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

A tutela é uma espécie de colocação da criança prática de determinados atos de cunho


ou adolescente em família substituta. patrimonial como uma forma de lhe proteger.

Agora vejamos inicialmente o que estabelece o art.84 e 85:

Art. 84. A pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao exercício de sua
capacidade legal em igualdade de condições com as demais pessoas.
§ 1º Quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida à curatela,
conforme a lei.

§ 2º É facultado à pessoa com deficiência a adoção de processo de tomada


de decisão apoiada.

§ 3º A definição de curatela de pessoa com deficiência constitui medida


protetiva extraordinária, proporcional às necessidades e às circunstâncias de
cada caso, e durará o menor tempo possível.

§ 4º Os curadores são obrigados a prestar, anualmente, contas de sua


administração ao juiz, apresentando o balanço do respectivo ano.

Art. 85. A curatela afetará tão somente os atos relacionados aos direitos de
natureza patrimonial e negocial.

§ 1º A definição da curatela não alcança o direito ao próprio corpo, à


sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à educação, à saúde, ao trabalho
e ao voto.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 110 110


CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

§ 2º A curatela constitui medida extraordinária, devendo constar da sentença


as razões e motivações de sua definição, preservados os interesses do
curatelado.

§ 3º No caso de pessoa em situação de institucionalização, ao nomear


curador, o juiz deve dar preferência a pessoa que tenha vínculo de natureza
familiar, afetiva ou comunitária com o curatelado.

Sobre esse ponto, importantes as lições de Franklyn Roger65:

(...) O artigo 84 do Estatuto da Pessoa com Deficiência deixa de prever


expressamente a interdição, submetendo a pessoa com deficiência ao regime
de curatela, quando necessário, abarcando apenas os atos de caráter
negocial e patrimonial. Houve, também, alteração na redação dos artigos
1.768, 1.769, 1.771 e 1.772 do Código Civil, que tiveram a palavra “interdição”
substituída por “curatela”.

Na doutrina, há quem aponte a insubsistência da interdição, por causa das


inúmeras alterações promovidas pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência[1],
já que a curatela do novo sistema possui limitações ao seu exercício, sempre
em vias de prestigiar a autonomia da pessoa com deficiência.

Seguindo outra vertente, alguns autores têm se posicionado no sentido de


reconhecer a subsistência do procedimento da interdição previsto no novo
CPC, posição com a qual concordamos[2].

65 Disponível em: https://www.conjur.com.br/2016-mar-01/tribuna-defensoria-atuacao-defensoria-favor-pessoas-


deficiencia. Acesso em: 27/01/2021.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 111 111


CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Sabe-se que a interdição é o ato pelo qual o juiz reconhece a incapacidade de


uma pessoa e lhe retira, nas hipóteses legalmente previstas, a administração
e a livre disposição de seus bens; curatela é “o encargo público, conferido, por
lei, a alguém, para dirigir a pessoa e administrar os bens dos maiores, que por
si não possam fazê-lo”.

A Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência


determina em seu artigo 12, que as pessoas com deficiência gozam de
capacidade legal para todos os aspectos da vida (item 2), cabendo ao Estado
assegurar que essas pessoas não sejam arbitrariamente destituídas de seus
bens (item 5).

Na mesma linha é o artigo 84 da Lei nº 13.146/2015, que confere à pessoa


com deficiência o exercício de sua capacidade legal em igualdade de
condições com as demais pessoas e a sua submissão à curatela torna-se uma
medida de exceção, restrita aos atos de natureza patrimonial e negocial, na
forma dos parágrafos 1º e 3º dos artigos 84 e 85 da lei em comento.

A disciplina do procedimento de jurisdição voluntária subsistirá como o


instrumento necessário para a nomeação do curador bem como para a
avaliação do grau de autonomia da pessoa com deficiência, cabendo ao juiz,
dentro das limitações do artigo 85 do estatuto definir a extensão da atuação
do curador, além de exercer o controle periódico da curatela, como determina
o parágrafo 4º do artigo 85 da Lei 13.146/15.”

O art. 751 do NCPC traz a chamada “entrevista”, e não mais “interrogatório” (CPC de 1.973).

Art. 751. O interditando será citado para, em dia designado, comparecer


perante o juiz, que o entrevistará minuciosamente acerca de sua vida,

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 112 112


CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

negócios, bens, vontades, preferências e laços familiares e afetivos e sobre o


que mais lhe parecer necessário para convencimento quanto à sua
capacidade para praticar atos da vida civil, devendo ser reduzidas a termo as
perguntas e respostas.

Detalhe especial: Para o STJ, a ausência de realização do interrogatório do interditando (atual


“entrevista”) acarreta a nulidade do processo de interdição. O interrogatório (entrevista) do
interditando é medida que garante o contraditório e a ampla defesa de pessoa que se encontra em
presumido estado de vulnerabilidade. STJ. 3ª Turma. REsp 1686161-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 12/9/2017 (Info 611).66

Em algumas situações o (a) curatelando (a) não poderá dirigir-se até o fórum, como por
exemplo, um idoso que esteja impossibilitado de locomover-se.

Neste caso, o § 1º do art. 751 aponta que o juiz ouvirá no local em que o interditando estiver:
§ 1º Não podendo o interditando deslocar-se, o juiz o ouvirá no local onde
estiver.

O art. 755, § 3º do NCPC traz um detalhe especial sobre a sentença no processo de interdição:

§ 3º A sentença de interdição será inscrita no registro de pessoas naturais e


imediatamente publicada na rede mundial de computadores, no sítio do
tribunal a que estiver vinculado o juízo e na plataforma de editais do Conselho
Nacional de Justiça, onde permanecerá por 6 (seis) meses, na imprensa local,
1 (uma) vez, e no órgão oficial, por 3 (três) vezes, com intervalo de 10 (dez)
dias, constando do edital os nomes do interdito e do curador, a causa da

66 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Nulidade do processo de interdição pela não realização do interrogatório
(entrevista). Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/5ad742cd15633b26fdce1b80f7b39f7c. Acesso em:
27/01/2021.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 113 113


CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

interdição, os limites da curatela e, não sendo total a interdição, os atos que


o interdito poderá praticar autonomamente.

Para a maioria dos civilistas, a sentença de curatela teria natureza declaratória


(CARNACCHIONI, Daniel Eduardo. Curso de Direito Civil, São Paulo: RT, 2013, p. 99, vol. 1). No entanto,
há quem entenda diferente67:

“(...) Noutra margem diametralmente oposta, os estudiosos do Direito


Processual Civil vislumbravam um caráter constitutivo negativo
(desconstitutivo) na decisão judicial que determina a curatela. Para essa
parcela dos doutos, a sentença declaratória somente poderá reconhecer fatos
que já existem juridicamente, o que não seria o caso da decisão de curatela.”

Por fim, o art. 756 do NCPC traz o levantamento da curatela, que nada mais é que a sua
revogação quando cessa a causa que a determinou.

Art. 756. Levantar-se-á a curatela quando cessar a causa que a determinou.

Quem, contudo, tem legitimidade para o levantamento da curatela?

Bem, a resposta está no art. 756, § 1º do NCPC:

§ 1º O pedido de levantamento da curatela poderá ser feito pelo interdito,


pelo curador ou pelo Ministério Público e será apensado aos autos da
interdição.

Esse rol é taxativo? Não. Assim decidiu o STJ, vejam:

67Estatuto da Pessoa com Deficiência Comentado artigo por artigo. Cristiano Chaves de Farias, Rogério Sanches Cunha,
Ronaldo Batista Pinto. 2. rev., ampl. e atual. - Salvador: Ed. JusPodivm, 2016, p. 333.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 114 114


CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

(...) Além daqueles expressamente legitimados em lei, é admissível a


propositura da ação por pessoas qualificáveis como terceiros juridicamente
interessados em levantar ou modificar a curatela, especialmente àqueles que
possuam relação jurídica com o interdito, devendo o art. 756, §1º, do CPC/15,
ser interpretado como uma indicação do legislador, de natureza não
exaustiva, acerca dos possíveis legitimados. (REsp 1735668/MT, Rel. Ministra
NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 11/12/2018, DJe
14/12/2018).

Já o art. 747 do NCPC traz o rol de pessoas que podem promover a ação de interdição.

Art. 747. A interdição pode ser promovida:


I - pelo cônjuge ou companheiro;
II - pelos parentes ou tutores;
III - pelo representante da entidade em que se encontra abrigado o
interditando;
IV - pelo Ministério Público.
Parágrafo único. A legitimidade deverá ser comprovada por documentação
que acompanhe a petição inicial.

A pergunta é: há preferência entre esses legitimados do art. 757? Segundo o STJ, não. Vejam:

(...) Para que a curatela seja instituída, é necessária a instauração de um


processo judicial, de jurisdição voluntária, regulado pelos arts. 1.177 a 1.186
do CPC 1973 (arts. 747 a 758 do CPC 2015). Esse processo é iniciado por meio
de uma ação de interdição. O rol dos legitimados para propor ação de
interdição está descrito no art. 1.177 do CPC 1973 (art. 747 do CPC 2015).
Esse rol é preferencial? NÃO. A ordem de legitimados para o ajuizamento de

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 115 115


CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

ação de interdição NÃO é preferencial. O inciso II do art. 1.177 do CPC 1973


(art. 747 do CPC 2015) fala em “parente”. Isso abrange também os parentes
por afinidade? SIM. Qualquer pessoa que se enquadre no conceito de parente
do Código Civil é parte legítima para propor ação de interdição. Como
afinidade gera relação de parentesco (art. 1.595 do CC), nada impede que os
afins requeiram a interdição e exerçam a curatela. STJ. 3ª Turma. REsp
1346013-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 13/10/2015
(Info 571).68

Uma situação jurisprudencial interessante é a seguinte: a ação de divórcio pode ser ajuizada
por curador provisório? Vamos entender.

Em regra, a ação de dissolução de vínculo conjugal tem natureza personalíssima, de modo


que o legitimado ativo para o seu ajuizamento é, por excelência, o próprio cônjuge.
Excepcionalmente, admite-se que o divórcio seja proposto pelo curador, na qualidade de
representante processual do cônjuge. Justamente por ser excepcional o ajuizamento da ação de
dissolução de vínculo conjugal por terceiro em representação do cônjuge, deve ser restritiva a
interpretação da norma jurídica que indica os representantes processuais habilitados a fazê-lo, não
se admitindo, em regra, o ajuizamento da referida ação por quem possui apenas a curatela provisória.
Assim, em regra, a ação de divórcio não pode ser ajuizada por curador provisório. Isso pode ser
admitido em situações excepcionais, quando houver prévia autorização judicial e oitiva do Ministério
Público. STJ. 3ª Turma. REsp 1645612-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/10/2018 (Info
637).69

68 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A ordem de legitimados para o ajuizamento de ação de interdição NÃO é
preferencial. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/d8ad9beba48de682e6accacba8cdbe2d. Acesso
em: 27/01/2021.
69 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A ação de divórcio não pode, em regra, ser ajuizada por curador provisório.

Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:


https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/30de24287a6d8f07b37c716ad51623a7. Acesso
em: 27/01/2021.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 116 116


CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

13.2 Da Tomada de Decisão Apoiada

Além de curatela, o Estatuto da Pessoa com Deficiência acrescentou um novo artigo ao Código
Civil tratando sobre a chamada tomada de decisão apoiada. Sua definição encontra-se no art. 1.883-
A do Código Civil, redação dada pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência:

Art. 1.783-A. A tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a pessoa


com deficiência elege pelo menos 2 (duas) pessoas idôneas, com as quais
mantenha vínculos e que gozem de sua confiança, para prestar-lhe apoio na
tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e
informações necessários para que possa exercer sua capacidade.

É importante perceber a expressão “pelo menos” duas pessoas. Alguns alunos acabam caindo
em pegadinhas com isso. Se são “pelo menos” duas, pela lógica podem ser mais de duas, mas não
menos de duas. Cuidado com isso. E detalhe, quem elege não é o juiz, mas sim a própria pessoa com
deficiência.

Sobre o instituto da tomada de decisão apoiada, importante é o aprofundamento trazido por


Flávio Tartuce em sua obra (2018, p. 98): 70

(...) A categoria é próxima da administração de sustento do Direito Italiano


(amministrazione di sostegno), introduzida naquele sistema por força da Lei
6, de 9 de janeiro de 2004. Nos termos do seu art. 1º, a finalidade da norma
é a de tutelar, com a menor limitação possível da capacidade de agir, a pessoa
privada no todo ou em parte da autonomia na realização das funções da vida
cotidiana, mediante intervenções de sustento temporário ou permanente.
Foram incluídas, nesse contexto, modificações no Codice Italiano, passando

70
Manual de direito civil: volume único/Flávio Tartuce. – 8. ed. rev, atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
MÉTODO, 2018.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 117 117


CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

a prever o seu art. 404 que a pessoa que, por efeito de uma enfermidade ou
de um prejuízo físico ou psíquico, encontrar-se na impossibilidade, mesmo
parcial ou temporária, de prover os próprios interesses pode ser assistida por
um administrador de sustento, nomeado pelo juiz do lugar de sua residência
ou domicílio. Como exemplifica a doutrina italiana, citando julgados daquele
país, a categoria pode ser utilizada em benefício do doente terminal, do cego
e do portador do mal de Alzheimer”.

Por fim, colaciono todos os artigos referentes à tomada de decisão apoiada, tendo em vista a
relevância do tema para sua prova:

Art. 1.783-A, CC. A tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a pessoa
com deficiência elege pelo menos 2 (duas) pessoas idôneas, com as quais
mantenha vínculos e que gozem de sua confiança, para prestar-lhe apoio na
tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e
informações necessários para que possa exercer sua capacidade.

§ 1º Para formular pedido de tomada de decisão apoiada, a pessoa com


deficiência e os apoiadores devem apresentar termo em que constem os
limites do apoio a ser oferecido e os compromissos dos apoiadores, inclusive
o prazo de vigência do acordo e o respeito à vontade, aos direitos e aos
interesses da pessoa que devem apoiar.

§ 2º O pedido de tomada de decisão apoiada será requerido pela pessoa a ser


apoiada, com indicação expressa das pessoas aptas a prestarem o apoio
previsto no caput deste artigo.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 118 118


CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

§ 3º Antes de se pronunciar sobre o pedido de tomada de decisão apoiada, o


juiz, assistido por equipe multidisciplinar, após oitiva do Ministério Público,
ouvirá pessoalmente o requerente e as pessoas que lhe prestarão apoio.

§ 4º A decisão tomada por pessoa apoiada terá validade e efeitos sobre


terceiros, sem restrições, desde que esteja inserida nos limites do apoio
acordado.

§ 5º Terceiro com quem a pessoa apoiada mantenha relação negocial pode


solicitar que os apoiadores contra-assinem o contrato ou acordo,
especificando, por escrito, sua função em relação ao apoiado.

§ 6º Em caso de negócio jurídico que possa trazer risco ou prejuízo relevante,


havendo divergência de opiniões entre a pessoa apoiada e um dos apoiadores,
deverá o juiz, ouvido o Ministério Público, decidir sobre a questão.

§ 7º Se o apoiador agir com negligência, exercer pressão indevida ou não


adimplir as obrigações assumidas, poderá a pessoa apoiada ou qualquer
pessoa apresentar denúncia ao Ministério Público ou ao juiz.

§ 8º Se procedente a denúncia, o juiz destituirá o apoiador e nomeará, ouvida


a pessoa apoiada e se for de seu interesse, outra pessoa para prestação de
apoio.

§ 9º A pessoa apoiada pode, a qualquer tempo, solicitar o término de acordo


firmado em processo de tomada de decisão apoiada.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 119 119


CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

§ 10. O apoiador pode solicitar ao juiz a exclusão de sua participação do


processo de tomada de decisão apoiada, sendo seu desligamento
condicionado à manifestação do juiz sobre a matéria.

§ 11. Aplicam-se à tomada de decisão apoiada, no que couber, as disposições


referentes à prestação de contas na curatela.”

Tabela para ler antes da prova

% NO ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA


3% (três por cento) das unidades habitacionais para pessoa com
Programas habitacionais
deficiência.
2% (dois por cento) do total, garantida, no mínimo, 1 (uma) vaga
Vagas em estacionamentos
acessível.
10% (dez por cento) de seus veículos acessíveis à pessoa com
Frotas de táxi
deficiência.
1 (um) veículo adaptado para uso de pessoa com deficiência, a
Locadoras de veículos
cada conjunto de 20 (vinte) veículos de sua frota.
Serviço de táxi (outorga de Na outorga de exploração, reservar-se-ão 10% (dez por cento)
exploração do serviço) das vagas para condutores com deficiência.
Os estabelecimentos já existentes deverão disponibilizar, pelo
Hotéis menos, 10% (dez por cento) de seus dormitórios acessíveis,
garantida, no mínimo, 1 (uma) unidade acessível.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 120 120


CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

QUESTÕES PARA FIXAR


Questão 01

Segundo o Estatuto da Pessoa com Deficiência, considera-se pessoa com deficiência aquela que tem
impedimento a curto ou longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em
interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade
em igualdade de condições com as demais pessoas.

CERTO ERRADO

Questão 02

Conforme o Estatuto da Pessoa com Deficiência, o desenho universal consiste em adaptações,


modificações e ajustes necessários e adequados que não acarretem ônus desproporcional e indevido,
quando requeridos em cada caso, a fim de assegurar que a pessoa com deficiência possa gozar ou
exercer, em igualdade de condições e oportunidades com as demais pessoas, todos os direitos e
liberdades fundamentais

CERTO ERRADO

Questão 03

Segundo o art. 3º, inciso IV do Estatuto, barreira é um gênero que possui espécies, sendo elas a)
barreiras urbanísticas; b) barreiras arquitetônicas; c) barreiras nos transportes; d) barreiras nas
comunicações e na informação; e) barreiras atitudinais; e f) barreiras tecnológicas.

CERTO ERRADO

Questão 04

A pessoa com deficiência não está obrigada à fruição de benefícios decorrentes de ação afirmativa.

CERTO ERRADO

Questão 05

A pessoa com deficiência possui plena capacidade civil para exercer seus direitos sexuais e
reprodutivos e exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou
adotando, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas.

CERTO ERRADO

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 121 121


CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Questão 06

A pessoa com deficiência tem direito a receber atendimento prioritário, sobretudo com a finalidade
de recebimento de restituição de imposto de renda, estendendo-se tal benefício ao seu
acompanhante ou ao seu atendente pessoal.

CERTO ERRADO

Questão 07

Segundo o Estatuto da Pessoa com Deficiência, a pessoa com deficiência somente será atendida sem
seu consentimento prévio, livre e esclarecido em casos de risco de morte e de emergência em saúde,
resguardado seu superior interesse e adotadas as salvaguardas legais cabíveis.

CERTO ERRADO

Questão 08

É possível a cobrança, por parte de instituições privadas, de valores adicionais de qualquer natureza
em suas mensalidades, anuidades e matrículas para pessoas com deficiência, no intuito de cumprir
as determinações do art. 28 do Estatuto da Pessoa com Deficiência.

CERTO ERRADO

Questão 09

Nos programas habitacionais, públicos ou subsidiados com recursos públicos, a pessoa com
deficiência ou o seu responsável goza de prioridade na aquisição de imóvel para moradia própria,
observada a reserva de, no mínimo, 5% (cinco por cento) das unidades habitacionais para pessoa
com deficiência.

CERTO ERRADO

Questão 10

É vedada a recusa de oferta de obra intelectual em formato acessível à pessoa com deficiência, sob
qualquer argumento, inclusive sob a alegação de proteção dos direitos de propriedade intelectual.

CERTO ERRADO

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 122 122


CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Questão 11

As frotas de táxi devem reservar 10% (dez por cento) de seus veículos acessíveis à pessoa com
deficiência, sendo possível a cobrança diferenciada de tarifas ou de valores adicionais pelo serviço de
táxi prestado à pessoa com deficiência.

CERTO ERRADO

Questão 12

É assegurado à pessoa com deficiência, mediante solicitação, o recebimento de contas, boletos,


recibos, extratos e cobranças de tributos em formato acessível.

CERTO ERRADO

Questão 13

A curatela afetará tão somente os atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial,
bem como o direito ao próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à educação, à
saúde, ao trabalho e ao voto.

CERTO ERRADO

Questão 14

A tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a pessoa com deficiência elege pelo menos 2
(duas) pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e que gozem de sua confiança, para prestar-
lhe apoio na tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e informações
necessários para que possa exercer sua capacidade.

CERTO ERRADO

GABARITO

1.E 2.E 3.C 4.C 5.C 6.E 7.C

8.E 9.E 10.C 11.E 12.C 13.E 14.C

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 123 123


CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

QUESTÕES PARA FIXAR - COMENTÁRIOS


Questão 01

Segundo o Estatuto da Pessoa com Deficiência, considera-se pessoa com deficiência aquela que tem
impedimento a curto ou longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em
interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade
em igualdade de condições com as demais pessoas.

GAB: E. Conforme o Estatuto da Pessoa com Deficiência (art. 2º), o impedimento é de longo prazo de
natureza física, mental, intelectual ou sensorial.

Questão 02

Conforme o Estatuto da Pessoa com Deficiência, o desenho universal consiste em adaptações,


modificações e ajustes necessários e adequados que não acarretem ônus desproporcional e indevido,
quando requeridos em cada caso, a fim de assegurar que a pessoa com deficiência possa gozar ou
exercer, em igualdade de condições e oportunidades com as demais pessoas, todos os direitos e
liberdades fundamentais

GAB: E. Conforme o Estatuto da Pessoa com Deficiência (art. 3º, VI), trata-se do conceito de
adaptações razoáveis.

Questão 03

Segundo o art. 3º, inciso IV do Estatuto, barreira é um gênero que possui espécies, sendo elas a)
barreiras urbanísticas; b) barreiras arquitetônicas; c) barreiras nos transportes; d) barreiras nas
comunicações e na informação; e) barreiras atitudinais; e f) barreiras tecnológicas.

GAB: C. É a exata previsão do art. 3º, inciso IV do Estatuto da Pessoa com Deficiência.

Questão 04

A pessoa com deficiência não está obrigada à fruição de benefícios decorrentes de ação afirmativa.

GAB: C. A pessoa com deficiência não está obrigada à fruição dos referidos benefícios (Art. 4º, §2º,
do Estatuto da Pessoa com Deficiência).

Questão 05

A pessoa com deficiência possui plena capacidade civil para exercer seus direitos sexuais e
reprodutivos e exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou
adotando, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 124 124


CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

GAB: C. Previsão do art. 6º, incisos II e VI, do Estatuto da Pessoa com Deficiência. Atenção: Artigo
muito importante para as provas.

Questão 06

A pessoa com deficiência tem direito a receber atendimento prioritário, sobretudo com a finalidade
de recebimento de restituição de imposto de renda, estendendo-se tal benefício ao seu
acompanhante ou ao seu atendente pessoal.

GAB: E. Conforme o art. 9º, §1º os benefícios previstos no art. 9º do Estatuto são extensíveis ao
acompanhante da pessoa com deficiência ou ao seu atendente pessoal, exceto quanto ao
recebimento de imposto de renda e quanto à tramitação processual e procedimentos judiciais e
administrativos.

Questão 07

Segundo o Estatuto da Pessoa com Deficiência, a pessoa com deficiência somente será atendida sem
seu consentimento prévio, livre e esclarecido em casos de risco de morte e de emergência em saúde,
resguardado seu superior interesse e adotadas as salvaguardas legais cabíveis

GAB: C. Previsão do art. 13 do Estatuto da Pessoa com Deficiência.

Questão 08

É possível a cobrança, por parte de instituições privadas, de valores adicionais de qualquer natureza
em suas mensalidades, anuidades e matrículas para pessoas com deficiência, no intuito de cumprir
as determinações do art. 28 do Estatuto da Pessoa com Deficiência.

GAB: E. O §1º do art. 28 do Estatuto da Pessoa com Deficiência veda essas cobranças adicionais.
Inclusive o STF entendeu que “são constitucionais o art. 28, § 1º e o art. 30 da Lei nº 13.146/2015,
que determinam que as escolas privadas ofereçam atendimento educacional adequado e inclusivo às
pessoas com deficiência sem que possam cobrar valores adicionais de qualquer natureza em suas
mensalidades, anuidades e matrículas para cumprimento dessa obrigação”. STF. Plenário. ADI 5357
MC-Referendo/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 9/6/2016 (Info 829).”

Questão 09

Nos programas habitacionais, públicos ou subsidiados com recursos públicos, a pessoa com
deficiência ou o seu responsável goza de prioridade na aquisição de imóvel para moradia própria,
observada a reserva de, no mínimo, 5% (cinco por cento) das unidades habitacionais para pessoa
com deficiência.

GAB: E. A reserva será de, no mínimo, 3% (três por cento) das unidades habitacionais para a pessoa
com deficiência.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 125 125


CURSO RDP
META 2, ETAPA 3 INTENSIVO 2021.1

Questão 10

É vedada a recusa de oferta de obra intelectual em formato acessível à pessoa com deficiência, sob
qualquer argumento, inclusive sob a alegação de proteção dos direitos de propriedade intelectual.

GAB: C. Previsão do art. 42, §1º do Estatuto da Pessoa com Deficiência.

Questão 11

As frotas de táxi devem reservar 10% (dez por cento) de seus veículos acessíveis à pessoa com
deficiência, sendo possível a cobrança diferenciada de tarifas ou de valores adicionais pelo serviço de
táxi prestado à pessoa com deficiência.

GAB: E. A porcentagem apontada no enunciado está correta, porém é vedada a cobrança


diferenciada, segundo o art. 51, §1º, do Estatuto da Pessoa com Deficiência. Desta forma, é não é
possível que um taxista, por exemplo, cobre um valor adicional por levar uma pessoa com deficiência
física, sob o argumento de o valor ter que ser maior por precisar levar a cadeira de rodas no veículo.
Trata-se de situação proibida por lei.

Questão 12

É assegurado à pessoa com deficiência, mediante solicitação, o recebimento de contas, boletos,


recibos, extratos e cobranças de tributos em formato acessível.

GAB: C. Previsão do art. 62 do Estatuto da Pessoa com Deficiência.

Questão 13

A curatela afetará tão somente os atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial,
bem como o direito ao próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à educação, à
saúde, ao trabalho e ao voto.

GAB: E. Segundo o §1º do art. 85 do Estatuto da Pessoa com Deficiência a definição da curatela não
alcança o direito ao próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à educação, à saúde,
ao trabalho e ao voto.

Questão 14

A tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a pessoa com deficiência elege pelo menos 2
(duas) pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e que gozem de sua confiança, para prestar-
lhe apoio na tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e informações
necessários para que possa exercer sua capacidade.

GAB: C. Previsão do art. 1.783-A do Código Civil.

@CURSOEBLOGRDP #TÔCOMORDP 126 126

Você também pode gostar