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TERESINA-PI
MAIO 2020
ANA MARIA PEREIRA DA SILVA
TERESINA-PI
MAIO 2020
ANA MARIA PEREIRA DA SILVA
Aprovada em ______/_______/_______
Banca Examinadora
____________________________________________________
Prof. Esp. Bento Alves da Silva
Orientador
______________________________________________________
Prof. (ª) Esp./Ms./Dr(ª).
Examinador
TERESINA-PI
MAIO 2020
Mais do que máquinas, precisamos de humanidade.
Mais do que inteligência, precisamos de afeição e
doçura. Sem essas virtudes a vida será de violência e
tudo estará perdido.
CHARLES CHAPLIN
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AGRADECIMENTOS
A Deus fonte de vida inspiração, aos professores e demais familiares pela dedicação,
amor e carinho a mim concedido e especial a minha irmã Jesus e meu cunhado Batista
pelo acolhimento em sua residência.
Aos meus pais José e Francisca Santana, por me ensinarem a importância do
conhecimento para a minha formação pessoal e profissional;
Aos meus irmãos e demais familiares, pelo amor, carinho, paciência e incentivo
nessa realização de minha formação superior;
Aos amigos pessoais, de curso e demais colegas, por estarmos sempre
compartilhando saberes;
O meu muito obrigado, aos professores da FAEPI em especial ao meu
orientador Prof.º Bento Alves da Silva pela compreensão, paciência, disponibilidade
de tempo dado a minha pessoa e por colaborar com a correção minuciosa deste
trabalho.
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RESUMO
O trabalho aqui apresentado visa fazer uma análise e reflexão sobre a negligência
familiar contra crianças e adolescentes. Neste sentido definiu-se o problema da
pesquisa, casos de negligência familiar que ocorrem com mais frequência com
crianças e adolescentes. Assim tem-se como objetivo geral: Analisar a negligência
familiar contra criança e adolescente a partir de estudo analítico e reflexivo. Como
objetivos específicos: Identificar a negligência familiar contra criança e adolescente;
conhecer os efeitos decorrentes da negligencia familiar contra criança e adolescente;
conhecer o contexto social das famílias em situação de vulnerabilidade. A pesquisa
foi realizada a partir de uma abordagem qualitativa, de cunho baseado em
levantamento bibliográfico que se baseia em autores como: Lobo (2004), Lago (2003),
Yazbek (2007) e Godinho (2011), além de: periódicos, revistas, sites, dentre outros.
Por fim, as considerações finais, que expressam as razões, desafios de realizar a
pesquisa, resultados e satisfação do trabalho realizado em relação ao TCC, que nos
vislumbrou a descoberta do respeito mútuo e assim percebermos o importante papel
do Assistente Social na luta pela garantia dos direitos da criança e do adolescente,
ocupando o seu papel de implementador de ações preventivas e educativas junto as
famílias em situação de violência doméstica.
ABSTRACT
The work presented here aims to analyze and reflect on family neglect against children
and adolescents. In this sense, the research problem was defined, cases of family
negligence that occur more frequently with children and adolescents. Thus, the general
objective is to: Analyze family neglect against children and adolescents from an
analytical and reflective study. As specific objectives: To identify family neglect against
children and adolescents; to know the effects of family neglect against children and
adolescents; to know the social context of vulnerable families. The research was
carried out from a qualitative approach, based on a bibliographic survey that is based
on authors such as: Lobo (2004), Lago (2003), Yazbek (2007) and Godinho (2011), in
addition to: journals, magazines , sites, among others. Finally, the final considerations,
which express the reasons, challenges to carry out the research, results and
satisfaction of the work carried out in relation to the TCC, which saw the discovery of
mutual respect and thus we perceive the important role of the Social Worker in the
struggle for guarantee of the rights of children and adolescents, playing their role of
implementing preventive and educational actions with families in situations of domestic
violence.
SUMARIO
1 INTRODUÇÃO -----------------------------------------------------------------------------------------
2 UM BREVE HISTÓRICO SOBRE FAMÍLIA BRASILEIRA --------------------------------
2.1 Situação histórica da criança e do adolescente no Brasil -----------------------------
2.2 A família em situação de Vulnerabilidade Social -----------------------------------------
2.2.1 A Vulnerabilidade Social --------------------------------------------------------------------
2.2.2 Vulnerabilidade Social dentro do meio Familiar --------------------------------------
2.3 O Contexto da negligencia Familiar contra criança e adolescente ------------------
2.3.1 Identificação da Negligência para um Desenvolvimento Sadio -----------------
3 TIPOLOGIA DA NEGLIGÊNCIA FAMILIAR CONTRA CRIANÇA E
ADOLESCENTE (CONCLUÍDO) --------------------------------------------------------------------
3.1 Violência Psicológica ----------------------------------------------------------------------------
3.2 Violência física ------------------------------------------------------------------------------------
3.3 Violências e Exploração Sexual --------------------------------------------------------------
3.4 Exploração do trabalho infantil ----------------------------------------------------------------
4 UMA ANÁLISE E REFLEXÃO DO PONTO DE VISTA DO ESTATUTO DA
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE- ECA ----------------------------------------------------------
4.1 base legal do ECA --------------------------------------------------------------------------------
4.1.1 Os Conselhos de Direitos e os Conselhos Tutelares ------------------------------
4.1.2 Os fundos da Criança e do Adolescente ----------------------------------------------
4.1.3 A Associação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do Adolescen
te – ANCED -------------------------------------------------------------------------------------------
4.1.4 Funções do Conselho Tutelar ------------------------------------------------------------
4.2 Dever do estado e da família em relação à criança e ao adolescente (Caracte
rísticas dos Conselhos Tutelares) -----------------------------------------------------------------
4.3 Direito da Criança e do adolescente---------------------------------------------------------
1 INTRODUÇÃO
A negligência familiar contra a criança e adolescente é uma realidade mundial,
e precisa ser vista por toda a sociedade, haja vista que a criança e o adolescente está
em processo de construção de sua identidade, por isso torna-se necessário amplia as
pesquisas sobre a temática, para que se tenha encaminhamentos reflexivos sobre o
papel do assistente social diante desses aspectos relacionados a negligência familiar.
A estrutura do trabalho inicia com um breve entendimento sobre o termo
família brasileiro, uma abordagem histórica de família no contexto brasileiro e a família
em situação de vulnerabilidade social. A negligência familiar contra a criança e
adolescente é uma realidade mundial que precisar ser vista por toda a sociedade.
Nesse sentido, durante todo o processo metodológico da pesquisa,
procuramos uma abordagem crítica sobre o tema negligência familiar contra criança
e adolescente: Um estudo analítico e reflexivo do ponto de vista do ECA, para que
pudessem ser desveladas as contradições presentes na situação de negligência
praticada contra criança e adolescentes no âmbito familiar.
Para os profissionais oriundos de diferentes bases teóricas, práticas e
orientações, resta o desafio de se colocarem em favor da prática profissional e
principalmente, a favor do público alvo, as diferenças que as constituem.
Considerando essas reflexões, esperamos ter contribuído através deste trabalho
sobre algumas especificidades do serviço social e o desafio no contexto negligência
a partir de uma abordagem qualitativa, de cunho bibliográfico
O presente trabalho compreende os seguintes capítulos: O primeiro apresenta
um breve entendimento sobre a família brasileira. O segundo capítulo aborda as
tipologias da negligencia familiar contra criança e adolescente. No terceiro capitulo,
apresentamos a uma análise e reflexão do ponto de vista do estatuto da criança e
adolescente ECA. E no quarto capítulo enfatizamos o dever do estado e da família em
relação a criança e o adolescente. a metodologia da pesquisa com enfoque na
pesquisa qualitativa, bibliográfica.
Portanto espera-se, que essa pesquisa contribua para que a sociedade de um
modo geral possa identificar os casos de negligência familiar contra criança.
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No Brasil Império apenas o casamento católico era conhecido, uma vez que era
a religião oficial do país. Deste modo, somente poderiam casar-se as pessoas que
seguissem a religião católica. A princípio, esta exigência não gerava constrangimento,
já que a população brasileira era predominantemente católica. Esta situação foi
alterada com o aumento populacional resultante, principalmente, da imigração que fez
aumentar a população de não católicos.
Os indivíduos que tinham outras concepções religiosas, isto é, aqueles que não
praticavam o catolicismo, estavam proibidos de contraírem o matrimônio. O
casamento como entidade familiar foi mantida pelas legislações imperiais, sendo,
porém, acrescentado os não católicos, reconhecendo-se em 1861, como casamento
civil as demais uniões religiosas (WALD, 2002).
Percebe-se que a Igreja detinha o monopólio das leis referentes ao matrimônio,
determinava as leis e atribuía condições. As regras do casamento seguiam os
preceitos do Concílio de Trento de 1563 e das Constituições do Arcebispo da Bahia.
Por muito tempo, a Igreja Católica foi titular dos direitos matrimoniais; pelo Decreto de
3 de novembro de 1827 os princípios do direito canônico regiam todo e qualquer ato
nupcial, com base nas disposições do Concílio Tridentino e da Constituição do
Arcebispado da Bahia. (DINIZ, 2008).
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Nas décadas de 1970 e 1980, esse fato começou a tomar novos rumos. A
conjuntura da sociedade brasileira passou por um processo de democratização,
donde se levantaram questões pertinentes da cidadania e os direitos.
2.2 A família em situação de Vulnerabilidade Social
2.2.1 A Vulnerabilidade Social
No que diz respeito à vulnerabilidade social, Carleto, Alves e Gontijo (2010) e
Silva, Costa e Kinoshita (2014) apontam que a pobreza não seria o único motivo para
a vulnerabilidade, mas também as relações sociais, as redes de suporte, as rupturas
sócio relacionais, a população em situação de rua, ausência de moradia convencional,
uso de drogas, violência, desemprego, entre outras. Portanto, a pessoa é considerada
em situação de vulnerabilidade quando exposta a situações que atrapalham o
desenvolvimento eficaz e que a impede de realizar com êxito a socialização, fatores
esses que dificultam a possibilidade de superar desafios.
A vulnerabilidade social caracteriza-se como uma fragilidade do sujeito à riscos
e como um obstáculo para os mesmos em exercerem as funções sociais na promoção,
assistência ou defesa de direitos como cidadão, e pode limitar o potencial das pessoas
de garantir a sobrevivência e proteção das crianças e dos adolescentes (CARLETO;
ALVES; GONTIJO, 2010; SILVA; COSTA; KINOSHITA, 2014).
Assim, Conceição (2010) descreve que os espaços geográficos, a localização,
a composição e a forma de um território influenciados pelos fatores socioeconômicos
e culturais, caracterizam um contexto social de vulnerabilidade.
Desta forma, as dificuldades de acesso, a inexistência de recursos e serviços,
a baixa infraestrutura de suporte e redes sociais são produtos e, ao mesmo tempo,
elementos constituintes de hermenêutica dos processos das situações de rupturas e
fragmentação das relações humanas por meio da divisão de classes, da segmentação
de sistemas e ofertas de trabalho - o que dificulta uma reestruturação e inserção
igualitária de diferentes parcelas da população e mantém os meios e situações de
vulnerabilidades (CONCEIÇÃO, 2010, p.55).
Para Castel (1997), existem três eixos de trabalho - trabalho estável, trabalho
precário e não trabalho - estes estão ligados diretamente a inserção relacional forte,
fragilidade relacional e isolamento social. Separando, assim, a vulnerabilidade como
21
2010, p. 40). Alguns autores trazem o discurso de que uma grande quantidade da
população que não é classificada como pobre quando se considera sua renda, mas
pode ser vista como vulnerável.
De acordo com Carneiro (2009, p. 170), “nem todos os que se encontram em
situação de vulnerabilidade são pobres - situados abaixo de alguma linha monetária
da pobreza - nem todos os pobres são vulneráveis da mesma forma”. Contudo, a
vulnerabilidade não pode ser considerada apenas pela pobreza.
Para Kaztman (2000, pg.7) a vulnerabilidade pode ser compreendida como
“a incapacidade de uma pessoa ou de um domicílio para aproveitar-se das
oportunidades, disponíveis em distintos âmbitos socioeconômicos, para melhorar sua
situação de bem-estar ou impedir sua deterioração”. O autor acredita que a
vulnerabilidade seria resultante da falta de sincronismo do acesso as estruturas de
oportunidade ofertadas pelo mercado, pela sociedade e pelo Estado e os
trabalhadores dos domicílios que deveriam usufruir dessas oportunidades.
Fundamentado nessa concepção, Busso (2001, p. 25) enfatiza que:
O enfoque da vulnerabilidade tem como potencialidade contribuir para
identificar indivíduos, grupos e comunidades que por sua menor
dotação de ativos e diversificação de estratégias estão expostos a
maiores níveis de risco por alterações significativas nos planos sociais,
políticos e econômicos que afetam suas condições de vida individual,
familiar e comunitária (Busso 2001, p. 25).
Ainda conforme acima, pode-se juntar também que a negligencia pode ser
caracterizada ainda "como uma das formas de violência que consistem em não dar a
criança aquilo que necessita, quando isto é essencial ao seu desenvolvimento sadio"
( Assis 1985).
A negligência pode se apresentar como moderada ou severa, para
compreendermos melhor faz-se necessário entender sobre o assunto modalidades de
negligência, conformas as que seguem abaixo:
1) médica - necessidade de saúde de uma criança quando não estão sendo
preenchidas;
2) educacional - os pais não providenciam o substrato necessário para a frequência à
escola;
3) higiênica - quando a criança vivência precárias condições de higiene;
4) de supervisão - a criança deixada sozinha, sujeita a riscos;
5) física - não há roupas adequadas, não recebe alimentação suficiente. Para tanto as
descrições e fundamentações das mesmas ficará para momento oportuno dentro
desse trabalho.
2.3.1 Identificação da Negligência para um Desenvolvimento Sadio
Para Gil (1979) o alto índice de maus tratos contra a criança e a adolescente
em nossa sociedade mostra que os pais negligentes geralmente escolhem um bode
expiatório. As crianças conhecidas como "bebes mal tratados" recebem as mais
variadas formas de violência, os maus tratos As crianças afetam infinitamente, e a
negligência segundo o autor citado é a forma de violência mais praticada embora as
idades variam, pois a maioria das vítimas tem menos de três anos e a metade das
crianças maltratadas acabam morrendo de maus tratos e negligencia, independente
de classe social. Os pais que maltratam são provenientes de todos os níveis de classe,
grupo cultural, religioso. Pode-se dizer que ela pode decorrer de vários fatores e
diferentes modalidades e/ou ainda isoladas ou combinadas.
Morais Apud Barudy (1997) nos fala que:
considerada um problema exclusivo da área social e jurídica para ser também incluída
no universo da saúde pública.
Para alguns pesquisadores da área de saúde mesmo com a falta de
integração e escassez de dados é possível inferir que as várias modalidades de
violência ocorridas no ambiente familiar podem ser responsáveis por grande parte dos
atos violentos que compõem o índice de morbimortalidade (Minayo, 1994).
Embora seja um fenômeno que ocorre desde a Antigüidade, a violência sexual
doméstica, em especial aquela dirigida à criança e ao adolescente, passou a ser mais
discutida no meio científico a partir dos anos 80 conforme (Santos,1987; Azevedo &
Guerra, 1988; 1989; 1995; Marques, 1986; Minayo, 1993; Saffioti, 1997).
Em vista a essa nova nuance, é também nessa década que começam a surgir
os primeiros programas específicos para atendimento dessa problemática, previsto no
artigo 87, inciso III, lei 8.069/90 – Estatuto da Criança e Adolescente, como o Centro
Regional de Atenção aos Maus-Tratos na Infância primeiro em São José do Rio Preto
(SP) implantado em outubro de 1988, conforme modelo do CRAMI – Campinas, criado
em 1985. Desde então, o conhecimento sobre essa forma de violência vem sendo
ampliado e sua gravidade reconhecida, ainda que os dados globais sobre sua
magnitude não estejam devidamente dimensionados.
No Brasil, a padronização para registrar situações de violência sexual familiar
é fragmentada, o que provoca prejuízo para uma rotina clara e eficaz, ocasionando
deficiências nos procedimentos a serem seguidos pelos profissionais e instituições,
pois além disso, há carência de políticas públicas eficazes que viabilizem a criação e,
principalmente, a manutenção de programas preventivos e de tratamento, necessários
para promover o aprimoramento e evolução de técnicas eficazes no enfrentamento
dessa problemática.
Devido a fatores como medo, falta de credibilidade no sistema legal e o
silêncio cúmplice que envolve as vitimizações sexuais, as mesmas são de difícil
notificação. Nos Estados Unidos, as denúncias junto às autoridades legais
apresentam taxas varáveis de 16 a 32%, com cerca de 300 a 350 mil pessoas com
idade de até 12 anos ou mais vitimizadas anualmente, e igual número de vítimas com
idade abaixo de 12 anos. No Brasil, inexistem dados globais a respeito do fenômeno,
estimando-se que menos de 10% dos casos chegam às delegacias.
De acordo com Saffioti, 1997:
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olhar essa parcela da sociedade, mas com leis (códigos de menores) que não
garantiam uma vida segura como cidadãos de direito. Somente a partir do processo
de redemocratização com povo nas ruas exigindo melhores condições de vida para
os pequenos brasileiros é que as crianças e adolescentes ganham visibilidade e
prioridade em políticas públicas no Estado.
A Declaração dos Direitos da Criança Todo mundo diz que as crianças têm
direito Aa várias coisas. Foi durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, no dia
20 de novembro de 1959, que representantes de centenas de países aprovaram a
Declaração dos Direitos da Criança. Ela foi adaptada da Declaração Universal dos
Direitos Humanos, só que voltada para a criançada! Mas, é muito difícil a luta para
que esses direitos sejam respeitados.
A Declaração dos Direitos da Criança tem 10 princípios que devem ser
respeitados por todos para que as crianças possam viver dignamente, com muito amor
e carinho. Nós brasileiros temos o dever de proteger e valorizar nossas crianças, pois
não devemos esquecer que elas serão o nosso futuro.
1. Todas as crianças são credoras destes direitos, sem distinção de raça, cor, sexo,
língua, religião, condição social ou nacionalidade, quer sua ou de sua família.
2. A criança tem o direito de ser compreendida e protegida, e devem ter oportunidades
para seu desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, de forma sadia e
normal e em condições de liberdade e dignidade. As leis devem levar em conta os
melhores interesses da criança.
3. Toda criança tem direito a um nome e a uma nacionalidade.
4. A criança tem direito a crescer e criar-se com saúde, alimentação, habitação,
recreação e assistência médica adequadas, e à mãe devem ser proporcionados
cuidados e proteção especiais, incluindo cuidados médicos antes e depois do parto.
Diante da declaração dos direitos da criança citado acima fica estabelecido
vários critérios relevantes e obrigatórios para a proteção e o bem estar do menor,
mesmo ele sendo infrator e para fazer jus a este direito às autoridades públicas devem
empenhar-se para aplicação dessa declaração.
A criança e adolescente eram tidos como um problema, porque eles
constituíam um “embrião” de um ciclo de vícios sociais que levava ou poderiam levar
o Estado brasileiro a desordem e eles configuravam uma solução por que eram
facilmente moldáveis, eram peças chaves adaptáveis à serviço do sistema capitalista.
O que o país e seus dirigentes (classe elite dominante) almejavam era sanear, civilizar
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e moralizar o Brasil, incidindo de maneira cruel sobre a camada (RIZZINI, 2011) pobre
da sociedade, violentando de maneira vil todas as crianças e adolescentes.
Denominado Código de Menores Mello Matos, criado pelo juiz Mello Matos, foi
instituído em 1927 e executava ações repressoras e autoritárias com indivíduos de 18
anos de idade, de classe pobre que viviam a margem da sociedade, despossuídos de
direitos civis sem nenhuma perspectiva de alcançar uma educação, saúde, lazer,
moradia entre outros requisitos para se ter uma infância saudável e plena. Isso porque
os indivíduos em idade infantil eram visto como um problema social estava em
situação de abandono moral ou material, ou seja, em “situação irregular”, estavam
longe de suas famílias, não possuíam meios para garantir sua sobrevivência, por que
eram vistos pelo estado como delinquentes e muitas vezes elas acabavam nas ruas
sozinhas e abandonadas (AGUIAR, 1998).
No inicio do século XX segundo Rizzini (2011), enquanto na Europa já tinha
uma consciência da criança e do adolescente, ainda não se tinha por parte da
sociedade brasileira uma definição sobre o que seria uma criança e um adolescente.
Ensaiavam-se as primeiras nomenclaturas sobre essa fase da vida tais como: púbere,
rapaz e rapariga e que normalmente faziam correlação à criminalidade.
Assim, Rizzini coloca que o termo delinquência juvenil começa a ser usado com
mais amplitude anos depois:
“[...] Além disso, nota-se o uso corrente do termo menor dotado de
uma conotação diferente da anterior: torna-se categoria jurídica e
socialmente construída para designar a infância pobre-abandonada
(material e moralmente) e delinquente. Ser menor era carecer de
assistência, era sinônimo de pobreza, baixa moralidade e
periculosidade” (2011, p.134).
Diante do que nos traz a autora, ser criança e adolescente na época mais
precisamente a pobre, era caso de polícia, era tida com perigosa, que merecia por
parte do Estado uma investigação minuciosa assim como sua família, para que fosse
feita uma classificação do seu caso e que depois disso seria definido sua tutela.
A família do “menor” era investigada para avaliar sua condição ou capacidade
legal e moral que justificasse a guarda de suas crianças ou a perda do pátrio poder.
Foram criados vários instrumentos e mecanismo de perda, suspenção e restituição de
guarda das crianças à sua família na época. Antes da lei (8.069/90), a proteção infantil
era feita de forma centralizada, realizada por um juiz de direito de caráter repressor,
que tratava as crianças e adolescentes como “questão de polícia” (AGUIAR, 1998) e
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não abraçava todas as crianças, mas somente aquelas que tivessem em situação fora
do convívio familiar, tivesse cometido ato infracional entre outros.
Essa situação de abandono familiar a as ações judiciais de violência contra as
crianças e adolescentes, representava uma aliança entre Assistência e Justiça como
explica Rizzinni (2011, p.125): “ e que deu origem à ação tutelar do estado, legitimada
pela criação de uma instância regulatória da infância – o juízo de Menores e por uma
legislação especial- O Código de Menores (década de 20)”.
Assim segundo compreensão do que relata Rizzini em seus escritos, a Justiça
e a Assistência objetivavam uma sustentação que embasasse suas ações repressivas
e filantrópicas que tinham o intuito de sanear o problema social de ser criança, que
em nada a protegia violentando-a em seus direitos.
Tais ações eram politicamente aceitas por serem consideradas pelo Estado
como, uma função regulatória que enquadrava as crianças a terem disciplina e serem
treinadas para o trabalho. A união da justiça e da assistência caracterizava-se numa
ação de cunho moral que incidia na camada mais pobre da sociedade. Sob a
legalização desse código de menor de 1927 no período de 1930 a 1945, o Estado agia
de forma controladora sobre esses indivíduos da população pobre brasileira, criando
em 1942 o Serviço de Assistência ao Menor (SAM).
O SAM era um órgão do Ministério da Justiça, caracterizava a primeira iniciativa
de política pública direcionada à criança e adolescente no Brasil, responsável por agir
de forma corretiva e repressiva que representava um sistema prisional para menores
de idade. Configurava-se por Internatos (reformatórios e casa de correção) para
crianças e adolescentes que cometiam ato infracional e por Patronatos Agrícolas e
escolas de aprendizagem de ofícios urbanos, para os menores que se encontravam
em situação de ruas e abandono (AGUIAR, TÂNIA, 1998).
Contudo, o SAM não realizou boas ações administrativas e como relata Melim (2004,
p.4):
“[...] o desempenho desta instituição foi conturbado, devido a inúmeras
denúncias de desvio de dinheiro, bem como de atos violentos
cometidos contra os internos. Os castigos corporais eram tão
frequentes e intensos que muitas vezes levavam a criança ao óbito.
Nesse cenário de violência de todo tipo o SAM passou a ser conhecido
como Sem Amor ao Menor tento sua falência em 1964”.
delito, o que declarava que essa parcela da sociedade não tinha direito civil e a lei não
a protegia, colocando esse grupo sempre sob os olhos da justiça que o tinha como
um problema social (RIZZINNI, 2011).
O regime militar de 1964 implanta o novo Código de Menor de 1979 e baseava-
se na doutrinação de situação irregular do menor, no que também era base para o
código Mello Matos. Esse código desenvolve a política de atendimento a criança e
adolescente contendo dois documentos legais que o regulamentava: PNBEM – a
Política do Bem Estar do Menor e o Código de Menores na Lei de número 669/79
(RIZZINI, 2011).
Em 1998, com a Emenda Constitucional n.20 fica proibido o trabalho noturno,
perigoso ou insalubre a menores de 18 anos e de qualquer trabalho a menores de 16
anos, salvo na condição de aprendiz.
Em 2000 o Brasil ratifica a Convenção 182, que trata das piores formas de
trabalho infantil e promulga o Decreto nº 3.597 de 12 de setembro do mesmo ano.
É clara a mudança de postura do Brasil nos últimos anos no sentido de buscar garantir
o direito da criança e do adolescente a uma vida digna, aos estudos, à saúde, lazer
entre outros. Segundo Maria do Carmo Brant de Carvalho:
As prioridades políticas emergem na sociedade e só adentram a
agenda do Estado quando se constituem em demanda vocalizada, Isto
é, quando grupos da sociedade civil organizam- se em torno desta
demanda; focalizam- na e agem sensibilizando e mobilizando outros
segmentos societários em torno da mesma. Nesta condição adensam
forças e pressões transformando- a em prioridade e introduzindo- a no
campo da disputa política. Ela se torna prioridade efetiva quando
ingressa na agenda estatal; torna- se interesse do Estado e, não mais
apenas, dos grupos organizados da sociedade (BRANT, 1999, p. 13).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O que apresentamos durante o trabalho teve como objetivo primeiro
compartilhar um conhecimento adquirido, teórico-prático, propondo algumas atitudes
para estimular a reflexão acerca do fenômeno violência doméstica contra criança e
adolescente, com o objeto de foco na negligência familiar.
A negligência familiar é fato, e seus desafios de intervenção são inúmeros e
complexos. Observamos que a discussão traz no bojo questões múltiplas e por isso
tal estudo não é um processo acabado, e sim o início de uma construção do
conhecimento adquirido, procurando propor uma reflexão dinamizadora.
Durante este estudo observamos que a falta de moradia adequada, o
desemprego, o baixo salário e outros fatores, são bastante influenciadores para que
ocorra a violência doméstica dentro do âmbito familiar. Acreditamos que é possível
lançar um olhar, que possibilite expressar as reais dificuldades das famílias
preparando-as para o exercício da cidadania, levando-as a busca de soluções. Alguns
autores no decorrer desse trabalho nos afirmaram que: "Quando trabalhamos com
famílias, toda e qualquer ação deve ser planejada, pois a princípio estamos entrando
no ambiente físico e simbólico, privado e por mais que façamos uma boa interação
com a mesma, estamos aos olhos da família, investidos de um conhecimento próprio,
técnico do profissional que atende".
Dentro da visão família observamos diferentes composições familiares, bem
como uma dinâmica própria, cada família apresenta uma organização diferenciada,
ou seja, existem inúmeras diversificações de formas de famílias ou de arranjos
familiares que não mais o tradicional, pai, mãe, e filho, percebemos que a violência
doméstica acontece dentro de quatro paredes, local onde deveria ser lugar de
segurança para as crianças e adolescentes e ela é praticada entre os diferentes
membros que constituem a organização familiar. Acontece nas diferentes classes
sociais e das mais diferentes formas: física, psicológica. sexual, negligência ou ainda
a violência fatal.
Ao conceber a criança, e o adolescente como sujeitos de direito, o Estatuto
caracteriza o valor desses sujeitos como seres humano, mas os desafios são muitos
para concretizar a lei. A instituição do Estatuto constituiu-se num avanço, pois ele nos
diz respeito aos direitos que não podemos esquecer tendo como primeiro direito da
criança e do adolescente o da "proteção ã vida e a saúde, mediante a efetivação de
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REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS