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FACULDADE EVANGÉLICA DO PIAUÍ - FAEPI

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

ANA MARIA PEREIRA DA SILVA

NEGLIGÊNCIA FAMILIAR CONTRA CRIANÇA E ADOLESCENTE:


UM ESTUDO ANALÍTICO E REFLEXIVO DO PONTO DE VISTA DO
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

TERESINA-PI
MAIO 2020
ANA MARIA PEREIRA DA SILVA

NEGLIGÊNCIA FAMILIAR CONTRA CRIANÇA E ADOLESCENTE:


UM ESTUDO ANALÍTICO E REFLEXIVO DO PONTO DE VISTA DO
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Monografia apresentada à Coordenação do


Curso de Serviço Social da Faculdade
Evangélica do Piauí – FAEPI como requisito
parcial para a obtenção do título de bacharel em
Serviço Social, sob a orientação do Profº Esp.
Bento Alves da Silva

TERESINA-PI
MAIO 2020
ANA MARIA PEREIRA DA SILVA

NEGLIGÊNCIA FAMILIAR CONTRA CRIANÇA E ADOLESCENTE:


UM ESTUDO ANALÍTICO E REFLEXIVO DO PONTO DE VISTA DO
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Monografia apresentada à Coordenação do


Curso de Serviço Social da Faculdade
Evangélica do Piauí – FAEPI como requisito
parcial para a obtenção do título de bacharel em
Serviço Social, sob a orientação do Profº Esp.
Bento Alves da Silva

Aprovada em ______/_______/_______

Banca Examinadora

____________________________________________________
Prof. Esp. Bento Alves da Silva
Orientador

______________________________________________________
Prof. (ª) Esp./Ms./Dr(ª).

Examinador

TERESINA-PI
MAIO 2020
Mais do que máquinas, precisamos de humanidade.
Mais do que inteligência, precisamos de afeição e
doçura. Sem essas virtudes a vida será de violência e
tudo estará perdido.
CHARLES CHAPLIN
4

Dedico esse trabalho, aos meus filhos e ao meu


esposo por compreender minha ausência em
vários momentos da vida, durante o meu curso
de Serviço Social. A Deus fonte de vida e
inspiração e pela a oportunidade de realização
deste sonho: Minha formação superior. Aos
meus pais, meus irmãos e colegas de sala de
aula em especial a toda equipe da faculdade
FAEPI.
5

AGRADECIMENTOS

A Deus fonte de vida inspiração, aos professores e demais familiares pela dedicação,
amor e carinho a mim concedido e especial a minha irmã Jesus e meu cunhado Batista
pelo acolhimento em sua residência.
Aos meus pais José e Francisca Santana, por me ensinarem a importância do
conhecimento para a minha formação pessoal e profissional;
Aos meus irmãos e demais familiares, pelo amor, carinho, paciência e incentivo
nessa realização de minha formação superior;
Aos amigos pessoais, de curso e demais colegas, por estarmos sempre
compartilhando saberes;
O meu muito obrigado, aos professores da FAEPI em especial ao meu
orientador Prof.º Bento Alves da Silva pela compreensão, paciência, disponibilidade
de tempo dado a minha pessoa e por colaborar com a correção minuciosa deste
trabalho.
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RESUMO

O trabalho aqui apresentado visa fazer uma análise e reflexão sobre a negligência
familiar contra crianças e adolescentes. Neste sentido definiu-se o problema da
pesquisa, casos de negligência familiar que ocorrem com mais frequência com
crianças e adolescentes. Assim tem-se como objetivo geral: Analisar a negligência
familiar contra criança e adolescente a partir de estudo analítico e reflexivo. Como
objetivos específicos: Identificar a negligência familiar contra criança e adolescente;
conhecer os efeitos decorrentes da negligencia familiar contra criança e adolescente;
conhecer o contexto social das famílias em situação de vulnerabilidade. A pesquisa
foi realizada a partir de uma abordagem qualitativa, de cunho baseado em
levantamento bibliográfico que se baseia em autores como: Lobo (2004), Lago (2003),
Yazbek (2007) e Godinho (2011), além de: periódicos, revistas, sites, dentre outros.
Por fim, as considerações finais, que expressam as razões, desafios de realizar a
pesquisa, resultados e satisfação do trabalho realizado em relação ao TCC, que nos
vislumbrou a descoberta do respeito mútuo e assim percebermos o importante papel
do Assistente Social na luta pela garantia dos direitos da criança e do adolescente,
ocupando o seu papel de implementador de ações preventivas e educativas junto as
famílias em situação de violência doméstica.

Palavras-chaves: Adolescente. Criança. Família. Negligência. Violência domestica.


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ABSTRACT

The work presented here aims to analyze and reflect on family neglect against children
and adolescents. In this sense, the research problem was defined, cases of family
negligence that occur more frequently with children and adolescents. Thus, the general
objective is to: Analyze family neglect against children and adolescents from an
analytical and reflective study. As specific objectives: To identify family neglect against
children and adolescents; to know the effects of family neglect against children and
adolescents; to know the social context of vulnerable families. The research was
carried out from a qualitative approach, based on a bibliographic survey that is based
on authors such as: Lobo (2004), Lago (2003), Yazbek (2007) and Godinho (2011), in
addition to: journals, magazines , sites, among others. Finally, the final considerations,
which express the reasons, challenges to carry out the research, results and
satisfaction of the work carried out in relation to the TCC, which saw the discovery of
mutual respect and thus we perceive the important role of the Social Worker in the
struggle for guarantee of the rights of children and adolescents, playing their role of
implementing preventive and educational actions with families in situations of domestic
violence.

Keywords: Adolescent. Kid. Family. Negligence. Domestic violence.


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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS


LISTA DE SIGLAS
ANCED – Associação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do
Adolescente
CEB´s – Comunidades Eclesiais de Bases
CONANDA – Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito
CRAS – Centro de Referência de Assistência Social
CRCA - Centro de Referência da Criança e do Adolescente
CREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência Social
DNCr – Departamento Nacional da Criança
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente
FUCABEM – Fundação Catarinense do Bem-estar do menor
FUNABEM – Fundação Nacional do Bem Estar do Menor
LBA – Legião Brasileira de Assistência
MDS – Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
MNMMR – Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua
OIT – Conferência Internacional do Trabalho
ONU – Organização das Nações Unidas
PNAS – Política Nacional de Assistência Social
PNBEM – Política Nacional de Bem-Estar do Menor
SAM – Serviço Nacional de Assistência a Menores
SEAS – Secretaria de Estado de Assistência Social
SUAS – Sistema Único de Assistência Social
SUS – Sistema Único de Saúde
UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância
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SUMARIO
1 INTRODUÇÃO -----------------------------------------------------------------------------------------
2 UM BREVE HISTÓRICO SOBRE FAMÍLIA BRASILEIRA --------------------------------
2.1 Situação histórica da criança e do adolescente no Brasil -----------------------------
2.2 A família em situação de Vulnerabilidade Social -----------------------------------------
2.2.1 A Vulnerabilidade Social --------------------------------------------------------------------
2.2.2 Vulnerabilidade Social dentro do meio Familiar --------------------------------------
2.3 O Contexto da negligencia Familiar contra criança e adolescente ------------------
2.3.1 Identificação da Negligência para um Desenvolvimento Sadio -----------------
3 TIPOLOGIA DA NEGLIGÊNCIA FAMILIAR CONTRA CRIANÇA E
ADOLESCENTE (CONCLUÍDO) --------------------------------------------------------------------
3.1 Violência Psicológica ----------------------------------------------------------------------------
3.2 Violência física ------------------------------------------------------------------------------------
3.3 Violências e Exploração Sexual --------------------------------------------------------------
3.4 Exploração do trabalho infantil ----------------------------------------------------------------
4 UMA ANÁLISE E REFLEXÃO DO PONTO DE VISTA DO ESTATUTO DA
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE- ECA ----------------------------------------------------------
4.1 base legal do ECA --------------------------------------------------------------------------------
4.1.1 Os Conselhos de Direitos e os Conselhos Tutelares ------------------------------
4.1.2 Os fundos da Criança e do Adolescente ----------------------------------------------
4.1.3 A Associação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do Adolescen
te – ANCED -------------------------------------------------------------------------------------------
4.1.4 Funções do Conselho Tutelar ------------------------------------------------------------
4.2 Dever do estado e da família em relação à criança e ao adolescente (Caracte
rísticas dos Conselhos Tutelares) -----------------------------------------------------------------
4.3 Direito da Criança e do adolescente---------------------------------------------------------

CONSIDERAÇÕES FINAIS --------------------------------------------------------------------------

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ---------------------------------------------------------------


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1 INTRODUÇÃO
A negligência familiar contra a criança e adolescente é uma realidade mundial,
e precisa ser vista por toda a sociedade, haja vista que a criança e o adolescente está
em processo de construção de sua identidade, por isso torna-se necessário amplia as
pesquisas sobre a temática, para que se tenha encaminhamentos reflexivos sobre o
papel do assistente social diante desses aspectos relacionados a negligência familiar.
A estrutura do trabalho inicia com um breve entendimento sobre o termo
família brasileiro, uma abordagem histórica de família no contexto brasileiro e a família
em situação de vulnerabilidade social. A negligência familiar contra a criança e
adolescente é uma realidade mundial que precisar ser vista por toda a sociedade.
Nesse sentido, durante todo o processo metodológico da pesquisa,
procuramos uma abordagem crítica sobre o tema negligência familiar contra criança
e adolescente: Um estudo analítico e reflexivo do ponto de vista do ECA, para que
pudessem ser desveladas as contradições presentes na situação de negligência
praticada contra criança e adolescentes no âmbito familiar.
Para os profissionais oriundos de diferentes bases teóricas, práticas e
orientações, resta o desafio de se colocarem em favor da prática profissional e
principalmente, a favor do público alvo, as diferenças que as constituem.
Considerando essas reflexões, esperamos ter contribuído através deste trabalho
sobre algumas especificidades do serviço social e o desafio no contexto negligência
a partir de uma abordagem qualitativa, de cunho bibliográfico
O presente trabalho compreende os seguintes capítulos: O primeiro apresenta
um breve entendimento sobre a família brasileira. O segundo capítulo aborda as
tipologias da negligencia familiar contra criança e adolescente. No terceiro capitulo,
apresentamos a uma análise e reflexão do ponto de vista do estatuto da criança e
adolescente ECA. E no quarto capítulo enfatizamos o dever do estado e da família em
relação a criança e o adolescente. a metodologia da pesquisa com enfoque na
pesquisa qualitativa, bibliográfica.
Portanto espera-se, que essa pesquisa contribua para que a sociedade de um
modo geral possa identificar os casos de negligência familiar contra criança.
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2 UM BREVE HISTÓRICO SOBRE FAMÍLIA BRASILEIRA

A evolução da família, sobretudo nas sociedades ocidentais, embasou-se na


consanguinidade entre seus integrantes, ou seja, na ascendência de seus integrantes,
gerando grupos familiares provenientes de um patriarca. Aos poucos, essa estrutura
foi modificada para estruturas familiares menores, constituídos a partir da união entre
homens e mulheres. Esse padrão de estrutura familiar remanesce, sendo adotados
pelas legislações ocidentais atuais, como no Brasil, país formado com base nos
princípios da Igreja Católica Apostólica Romana.
Na organização jurídica da família hodierna é mais decisiva a
influência do direito canônico. Para o cristianismo, deve a família
fundar-se no matrimônio, elevado a sacramento por seu fundador. A
Igreja sempre se preocupou com a organização da família,
disciplinando-a por sucessivas regras no curso dos dois mil anos de
sua existência, que por largo período histórico vigoraram, entre os
povos cristãos, como seu exclusivo estatuto matrimonial.
Considerável, em consequência, é a influência do direito canônico na
estruturação jurídica do grupo familiar.

No Brasil Império apenas o casamento católico era conhecido, uma vez que era
a religião oficial do país. Deste modo, somente poderiam casar-se as pessoas que
seguissem a religião católica. A princípio, esta exigência não gerava constrangimento,
já que a população brasileira era predominantemente católica. Esta situação foi
alterada com o aumento populacional resultante, principalmente, da imigração que fez
aumentar a população de não católicos.
Os indivíduos que tinham outras concepções religiosas, isto é, aqueles que não
praticavam o catolicismo, estavam proibidos de contraírem o matrimônio. O
casamento como entidade familiar foi mantida pelas legislações imperiais, sendo,
porém, acrescentado os não católicos, reconhecendo-se em 1861, como casamento
civil as demais uniões religiosas (WALD, 2002).
Percebe-se que a Igreja detinha o monopólio das leis referentes ao matrimônio,
determinava as leis e atribuía condições. As regras do casamento seguiam os
preceitos do Concílio de Trento de 1563 e das Constituições do Arcebispo da Bahia.
Por muito tempo, a Igreja Católica foi titular dos direitos matrimoniais; pelo Decreto de
3 de novembro de 1827 os princípios do direito canônico regiam todo e qualquer ato
nupcial, com base nas disposições do Concílio Tridentino e da Constituição do
Arcebispado da Bahia. (DINIZ, 2008).
12

No período colonial, com a chegada dos colonizadores, era comum as


relações amorosas entre os europeus e as índias, que não era tido como família, visto
que os europeus se baseavam na doutrina da Igreja Católica, que via tais fatos como
desobediência aos preceitos religiosos. Com a relutância dos indígenas em serem
escravizados, a alternativa achada pelo rei português foi trazer mão de obra africana,
ocasião na qual os negros se estabeleceram provocando uma intensa miscigenação;
acontecimento importante na cultura, crença e comportamento de todos os povos,
entretanto considerado imoral pelo catolicismo.
Somente depois da metade do século XVIII, com a instituição da Lei do
Marquês de Pombal, o casamento entre índios e brancos foi permitido, devido a
extinção da escravidão indígena (CHIAVENATO, 1999). Desta maneira, a família se
desenvolveu no Brasil, produto de uma combinação de raças e culturas, sob o controle
repressor da igreja católica. No Brasil colonial e imperial, apenas era válido o
casamento segundo o ritual católico. Para Simões (2007, p. 179)

Com a Lei n. 1.144 de 11/09/1861, o Estado passou a admitir o


casamento segundo o rito religioso dos próprios nubentes. O Decreto
n.119-A de 17/01/1890 estabeleceu a separação entre a igreja e o
Estado, que se tornou laico ou não confessional.

Conforme o mesmo autor depois da Proclamação da República e o Estado


laico, a Constituição de 1891 adotou o casamento civil diante da autoridade leiga e
em seguida a Constituição de 1934 até o presente, é que foi admitido o casamento
religioso com efeitos civis, desde que seja por meio de prévia habilitação.
O Estado ainda sofria influência da igreja católica, mas aos poucos começou
a afasta-se das intervenções da igreja e passou a instruir a família conforme o aspecto
social; a organização familiar passou de simples agente complementar do Estado,
para componente essencial da sociedade. Até a proclamação da Carta Magna de
1988, o quadro era totalmente restrito, uma vez que somente os grupos gerados
através do casamento eram considerados como familiar proposto pelo Código Civil de
1916 que, perante a influência francesa, criava os critérios matrimonias.
Segundo esta mesma perspectiva, evidencia-se a Lei do Divórcio, que
conferia à parte responsável pela separação, diversas punições, mencionando que de
qualquer forma o vínculo familiar constituído pelo matrimônio teria que ser preservado.
Era, necessariamente, “o sacrifício da felicidade pessoal dos membros da família em
nome da manutenção do vínculo de casamento” (CHIAVENATO, 1999.p.04). Assim
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sendo, o Estado acreditava que a família surgia exclusivamente apoiada no


casamento. Os grupos de indivíduos ligados sem esse modelo não eram encarados
como família e, em virtude disso, não contavam com a proteção do governo.
No entanto, a Constituição Federal de 1988, trouxe consequências
expressivas a respeito dessas concepções, através dos princípios constitucionais
especificados que incidiram essencialmente no Direito de Famílias. O artigo 1°, III, da
Constituição Federal, reconhece o princípio da dignidade do ser humano, e é
considerado como ponto de mudança do modelo de família; num único dispositivo
espancou séculos de hipocrisia e preconceito (VELOSO, 2005).
A Constituição Federal de 1988 priorizou a família como pilar da sociedade
aceitando suas novas configurações, determinando novos valores sociais, apoiado na
valorização do indivíduo, além de garantir tratamento prioritário às crianças e aos
adolescentes, baseado na igualdade e dignidade do indivíduo. A partir desse
momento, ocorreram diferentes reformas jurídicas, como por exemplo: a igualdade
atribuída aos homens e mulheres, sendo igualitária a proteção de ambos e incluindo
os filhos provenientes ou não do casamento ou de adoção; o divórcio, como processo
de dissolver o casamento civil e, a equiparação, quanto aos direitos assegurados à
família gerada através do casamento, bem como à formada pela união estável e às
monoparentais.
Segundo Pereira união estável é: (...) a relação afetivo-amorosa entre um
homem e uma mulher, não-adulterina e não-incestuosa, com estabilidade e
durabilidade, vivendo sob o mesmo teto ou não, constituindo família sem o vínculo do
casamento civil. A família monoparental é formada por um dos pais, seja ele solteiro,
separado, divorciado ou viúvo, e seus filhos. Para Leite (2007, p. 61), a família
monoparental se configura “quando a pessoa considerada (homem ou mulher)
encontra-se sem cônjuge, ou companheiro, e vive com uma ou várias crianças. Assim
Souza (apud FACHIN, 2011, p. 7) reitera que “o grande número de famílias não
matrimonializadas, oriundas de uniões estáveis, ao lado de famílias monoparentais,
denota a abertura de possibilidades às pessoas, para além de um único modelo de
família”.
No campo familiar, ressalta-se a conquista feminina com o acesso da mulher
no mercado de trabalho, tendo, além disso, igualdade de direitos na vida pública,
dessa forma o homem passa a dedica-se as tarefas domésticas, proteção e educação
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dos filhos, deixando de ser responsável unicamente pela subsistência da família. De


acordo com Dalbério (2007, p.46):

Essa nova dimensão na qual o homem deve assumir tarefas


domésticas cria em muitos deles uma situação de revisionismo de
todas as ideologias que dizem respeito ao machismo. É obvio que
muitos ainda não estão entendendo essa nova situação, vivem como
se a mulher ainda devesse prestar-lhe todos os serviços e ainda lhe
ajudasse na manutenção das despesas familiares. Carregam ainda
em consciência as visões burguesas de família, cujo modelo o homem
tem direitos, por manter a família (Dalbério 2007, p.46).

É importante frisar que, a mulher, antes inferior, teve sua capacidade


reconhecida em relação à sua condição de cônjuge. Portanto, a família passou a ser
atribuída como prioridade o ser humano, sendo categoricamente inconstitucional
infringir direitos a respeito da sua dignidade; o conceito de “família-instituição” foi
trocado para “família-instrumento” do desenvolvimento da pessoa humana, protegida
de acordo com interesse de seus componentes, com igualdade bem como
solidariedade entre eles (FARIAS, ROSENVALD, 2011).
Nesse contexto, o Código Civil de 2002 teve a regulamentação e o
reconhecimento jurídico da união estável e da família monoparental. As mudanças na
instituição familiar surgiram a partir do esforço pela legalização da união homoafetiva,
que apesar de não está prevista na Constituição Federal, encontra-se respaldada pelo
princípio da isonomia e é uma realidade da sociedade moderna que já foi reconhecida
pela doutrina e pela jurisprudência. Esse cenário transformou-se com a Lex
Fundamentallis de 1988, refletindo igualmente no Código Civil de 2002, tornando-se
pluralizada, democrática, igualitária substancialmente, hétero ou homoparental,
biológica ou socioafetiva, com unidade socioafetiva e caráter instrumental (FARIAS,
ROSENVALD, 2011).
Além da ampliação do conceito de família colocado pela Constituição Federal
de 1988, o Supremo Tribunal Federal, compreendeu que as uniões entre
homossexuais deveriam ser classificadas como famílias, obtendo a mesma proteção
do Estado dedicada aos casais unidos pelos vínculos da união estável (LÔBO, 2004).
Deste modo, o conceito de família foi se adequando a realidade colocada pela
sociedade, do mesmo jeito que a legislação teve que se adaptar a estas modificações,
já que os casamentos ditos tradicionais estão cada vez mais difíceis e menos estáveis,
tendo como consequência filhos de pais divorciados ou solteiros, elevando a
quantidade de famílias onde os pais e as mães adquirem a mesma função, entretanto
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a mulher assume a tutela e a incumbência da educação de seus filhos. Nessa


perspectiva, Souza (apud, DIAS, 2005, p. 39) expõe que:

Agora o que identifica a família não é nem a celebração do casamento


nem a diferença de sexo do par ou envolvimento de caráter sexual. O
elemento distintivo da família, que a coloca sob o manto da
juridicidade, é a presença de um vínculo afetivo a unir as pessoas com
identidade de projetos de vida e propósitos comuns, gerando
comprometimento mútuo. Cada vez mais, a idéia de família se afasta
da estrutura do casamento.

Em vista disso, a família foi ganhando novos contextos, procurando a união


estabelecida através do afeto, à configuração foi transformada e a função do pai e da
mãe foi mudando. A instituição familiar evoluiu e continua evoluindo, pois não há mais
lugar para a família patriarcal onde imperava o abuso de poder, a hierarquia, o
autoritarismo assim como a predominância pelo interesse patrimonial.

2.1 Situação histórica da criança e do adolescente no Brasil


Neste subtópico busca-se caracterizar o estudo da trajetória dos direitos
infanto-juvenis ao longo dos tempos, destacando o Estatuto da Criança e do
Adolescente no caso brasileiro, a partir do referencial teórico aqui mostrado.
No período do Brasil Colônia, os anos entre 1500 a 1800, o que conduzia as
crianças e os adolescentes era a soberania paternal. Os pais detinham o direito de
designar sobre a profissão e o casamento dos seus filhos. Nesse período, segundo
Guimarães (2014, p. 18), não havia:

Um sistema legal formalizado. O Estado brasileiro não intervia no


contexto familiar, somente no fim deste período foram criadas leis para
coibir castigos muito fortes que os pais davam em seus filhos. O que
se destacava neste contexto era a caridade de igrejas para impetrar
os bons costumes e o controle social para as condutas das crianças.

No tocante à origem dos direitos fundamentais, há registros entre a


Declaração de Direitos do Povo da Virgínia, de 1776, e a Declaração dos Direitos do
Homem, proclamada em 2 de outubro de 1789, na França. E, “[...] posteriormente, a
aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, proferida em 1948, pela
Assembléia (sic) Geral das Nações Unidas, deu um novo rumo aos direitos
fundamentais” (GIUSTI, 2012).
Para Prates (2011, p. 12) comenta que:

É apenas no século XX que a criança e o adolescente começam a


ganhar espaço no sistema legislativo, ou seja, quando iniciam as
16

preocupações com a tutela dos interesses desses menores. Tanto é


que, no ano de 1924, foi adotada pela Assembleia da Liga das Nações,
a Declaração de Genebra dos Direitos das Crianças, a qual, embora
não tenha sido o suficiente para o verdadeiro reconhecimento
internacional dos direitos das crianças, não deixou de ser um
“pontapé” inicial para que isso ocorresse.

No entanto, os direitos infanto-juvenis passaram a ser reconhecidos


universalmente, por meio da Declaração Universal dos Direitos da Criança, no ano de
1959. Esse documento, conforme Amin (2008 apud PRATES, 2011, p. 12):

Estabeleceu, dentre outros princípios: proteção especial para o


desenvolvimento físico, mental, moral e espiritual; educação gratuita e
compulsória; prioridade em proteção e socorro; proteção contra
negligência, crueldade e exploração; proteção contra atos de
discriminação.

As crianças e os adolescentes passaram um grande período na história


brasileira, sem terem o devido amparo judicial e político, constando poucos registros
e referências até o início do século XX (SANTIAGO, 2014).
A partir da situação de agravamento da questão social, no ano de 1927
instituiu-se o primeiro Código de Menores de Mello Mattos. Ataíde e Silva (2014)
revelam que esse código regia:

A Doutrina da Situação Irregular e atuava de forma moralista e


repressiva, de modo que crianças e adolescentes vítimas de
abandono, maus-tratos, em situação de miserabilidade ou infratores
eram consideradas em Situação Irregular e seriam assistidas por este
código.

Entre 1930 e 1945, a assistência à infância era uma questão de defesa


nacional. Rizzini (1995 apud SILVEIRA, 2003, p. 25) aponta que o então presidente
Getúlio Vargas “expressava as grandes preocupações das elites da época com
relação à assistência à infância, tais como a defesa da nacionalidade e a formação de
uma raça sadia de cidadãos úteis”.
Em 1940, o Departamento Nacional da Criança (DNCr) articulou o
atendimento às crianças, combinando orientação higienista com campanhas
educativas, serviços médicos e assistência privada (SILVEIRA, 2003). E em 1941,
surgiu o Serviço Nacional de Assistência a Menores (SAM), instituição vinculada ao
Ministério da justiça e aos juizados de menores, para:

Orientar e fiscalizar educandários particulares, investigar os “menores”


para fins de internamento e ajustamento social, proceder exames
médico-psico-pedagógicos, abrigar e distribuir os “menores” pelos
17

estabelecimentos, promover a colocação de “menores”, incentivar a


iniciativa particular de assistência a “menores” a estudar as causas do
abandono. (SILVEIRA, 2003, p. 26).

Silveira acrescenta que, em 1942, a Legião Brasileira de Assistência (LBA),


por iniciativa da Sra. Darcy Vargas, apareceu para gerar serviços de assistência
social, em particular às famílias dos brasileiros convocados na guerra. Juntamente
com o DNCr garantia “ estímulo às creches, auxílio aos idosos, a doentes e grupos de
lazer, propondo-se a favorecer o reajustamento das pessoas, moral ou
economicamente desajustadas, proteger a maternidade e a infância” (SILVEIRA,
2003, p. 26).
Na década de 1950, período do governo Kubitschek, originaram-se
estratégias abarcando a saúde da criança, a participação da comunidade, através do
DNCr, apoiado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e pela
Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), com o
estabelecimento de Centros de Recreação. Nesse período, o Serviço Nacional de
Assistência a Menores foi apontando como um sistema desumano, ineficaz e
perverso, além da superlotação e falta de cuidados de higiene (SILVEIRA, 2003). Para
Costa (1990 apud SILVEIRA, 2003, p. 28) “[...] essa mentalidade cristalizou-se no
SAM com resultados que a imprensa dos anos 50 divulgou por todo o país. O
estabelecimento menorista era chamado de ‘sucursal do inferno’ e ‘escola do crime’,
entre outras coisas”.
Em 1961, o presidente Jânio Quadros, sugeriu a extinção do SAM criando a
Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM), aprovada pelo Congresso
em primeiro de novembro de 1964, durante o contexto da ditadura militar (SILVEIRA,
2003). Para Rizzini (1995 apud SILVEIRA, 2003, p. 28), “[...] a mudança de uma
estratégia repressiva para uma estratégia integrativa e voltada para a família tem um
novo ordenamento institucional dentro de um governo repressivo [...]”.
As diretrizes da Política Nacional de Bem-Estar do Menor (PNBEM) foram
efetivadas pela FUNABEM na esfera federal e os órgãos estaduais executores,
FEBEM’s. Em Santa Catarina, passou a ser chamada de FUCABEM (Fundação
Catarinense do Bem-estar do menor) (SILVEIRA, 2003). A PNBEM voltava-se para
famílias que apresentavam “situação de baixa renda, de pouca participação no
consumo de bens materiais e culturais, de incapacidade de trazer a si os serviços de
habitação, saúde, educação e lazer” (RIZZINI, 1995 apud SILVEIRA, 2003, p. 30).
18

Na década de 1970, a assistência à criança e ao adolescente era voltada para


a educação popular e o método Paulo Freire, visto que incentivavam o aprendizado
da leitura e da escrita, oportunizando um despertar crítico e a consequente elaboração
de um projeto coletivo de organização social (SILVEIRA, 2003). Conforme Gramsci
(1989 apud SILVEIRA, 2003, p. 34), “[...] toda geração educa a nova geração, isto é,
forma-a; a educação é a luta contra os instintos ligados às funções biológicas
elementares, uma luta contra a natureza, a fim de dominá-la e de criar o homem ‘atual’
à sua época”. Quanto à PNBEM, a assistência passou a não ser vista como uma
intimidação social, prevalecendo a concepção assistencialista. Percebia-se a criança
e o adolescente como “carente” biopsicossocial e culturalmente (SILVEIRA, 2003).
A partir da década de 1975, apareceram novos horizontes na esfera social,
reivindicando direitos, apreciando o exercício social presentes no cotidiano popular. A
PNBEM se dissipou frente às exigências sociais, contidas nas ponderações da
FUNABEM, reconhecendo-se as falhas da política social existente. O fracasso do
sistema FUNABEM vinculou-se à concepção híbrida do serviço de correção,
repressão e assistencial, apontada por um sistema gestor centralizador e vertical,
representando os estereótipos do cuidado voltado à criança e ao adolescente, como
um “feixe de carências” (SILVEIRA, 2003).
Verifica-se que, a partir da segunda metade da década de 1970, as políticas
praticadas até então no sentido de melhor atender crianças e adolescentes sofreram
fortes críticas e pressão por parte da população, a qual exigia mudanças no campo
do atendimento aos menores. Esse fato levou a se instalar uma Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI) no Congresso Nacional em 1975. Essa CPI apontou a
existência de crianças e adolescentes abandonados em 87,17% dos municípios, e
revelou uma significativa situação de pobreza como a fundamental razão declarada
por 90,28% dos municípios para essa conjuntura de abandono (SILVEIRA, 2003).
Em 1979, um novo caminho no tocante ao direito da criança e do adolescente
foi estabelecido pela Lei nº 6.697/79, de 10 de outubro de 1979, que instituiu o Código
de Menores. Ocorreu também, o Ano Internacional da Criança, marco que estimulou
o surgimento de ações não oficiais em prol da criança e do adolescente envoltos em
situações de exclusão social. Esse impulso, na opinião de Silveira (2003, p. 41),
evidencia-se na:
19

Proliferação de programas de atendimento a crianças e adolescentes,


numa perspectiva libertadora enquanto princípio, com práticas
pedagógicas “alternativas”, ainda sob grande influência da teologia da
libertação e das propostas pedagógicas do educador Paulo Freire.

Na esfera social, multiplicaram-se ações de contendas e de represálias por


parte de estudantes, do movimento popular e sindical, de mulheres, com a adesão de
setores progressistas da Igreja Católica – Comunidade Eclesial de Base (CEB´s) e a
Comissão de Justiça e Paz , da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), do Movimento
de Direitos Humanos, do Movimento Feminino pela Anistia, entre outros. Nesse
contexto, percebeu-se “[...] uma diversidade dos movimentos e grupos contestatórios,
diversidade inerentes às condições e às especificidades que envolvem cada um deles
e o marcante empenho, por parte destes, em manter sua autonomia” (SILVEIRA,
2003, p. 41).
Mediante esse contexto, verificou-se uma grande mobilização por parte de
entidades não governamentais, mas que trabalhavam e batalhavam pelos cidadãos
menos favorecidos, dentre eles as crianças e os adolescentes.
Quanto aos movimentos, predominavam valores da justiça social e de
solidariedade, entendidos por Sader (1995 apud SILVEIRA, 2003, p. 42) como “[...] o
repúdio à forma instituída da prática política, encarada como manipulação, teve por
contrapartida a vontade de serem ‘sujeitos da sua própria história’, tomando nas mãos
as decisões que afetam suas condições de existência”.
Permeando a década de 1985, os movimentos sociais se atinham às
violações aos direitos humanos com maior intensidade e engajamento. Na esfera das
crianças e dos adolescentes, multiplicavam-se as denúncias, os atos e os
descontentamentos populares em prol da defesa de seus direitos. Houve reação
contra as diretrizes jurídicas (Código de Menores) e políticas (Política Nacional de
Bem-Estar do Menor) vivenciadas nesse período, sugerindo o fortalecimento
democrático das políticas de atenção às crianças e aos adolescentes. Para tanto,
surgiu o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua (MNMMR), no ano de
1985 (SILVEIRA, 2003).
A MNMMR, segundo Silveira (2003, p. 48), é:

Uma organização não-governamental (sic), autônoma e de


voluntariado, que atua na defesa e promoção dos direitos das crianças
e dos adolescentes de rua do Brasil, e constitui-se, desde sua criação,
como uma rede de pessoas das mais variadas atividades com atuação
unificada, (folder de divulgação do MNMMR). Seu surgimento está
20

vinculado às denúncias das diferentes formas de violência e de


violações de direitos inerentes da pessoa, calcando-se na Declaração
Internacional dos Direitos da Criança (SILVEIRA 2003, p. 48).

Nas décadas de 1970 e 1980, esse fato começou a tomar novos rumos. A
conjuntura da sociedade brasileira passou por um processo de democratização,
donde se levantaram questões pertinentes da cidadania e os direitos.
2.2 A família em situação de Vulnerabilidade Social
2.2.1 A Vulnerabilidade Social
No que diz respeito à vulnerabilidade social, Carleto, Alves e Gontijo (2010) e
Silva, Costa e Kinoshita (2014) apontam que a pobreza não seria o único motivo para
a vulnerabilidade, mas também as relações sociais, as redes de suporte, as rupturas
sócio relacionais, a população em situação de rua, ausência de moradia convencional,
uso de drogas, violência, desemprego, entre outras. Portanto, a pessoa é considerada
em situação de vulnerabilidade quando exposta a situações que atrapalham o
desenvolvimento eficaz e que a impede de realizar com êxito a socialização, fatores
esses que dificultam a possibilidade de superar desafios.
A vulnerabilidade social caracteriza-se como uma fragilidade do sujeito à riscos
e como um obstáculo para os mesmos em exercerem as funções sociais na promoção,
assistência ou defesa de direitos como cidadão, e pode limitar o potencial das pessoas
de garantir a sobrevivência e proteção das crianças e dos adolescentes (CARLETO;
ALVES; GONTIJO, 2010; SILVA; COSTA; KINOSHITA, 2014).
Assim, Conceição (2010) descreve que os espaços geográficos, a localização,
a composição e a forma de um território influenciados pelos fatores socioeconômicos
e culturais, caracterizam um contexto social de vulnerabilidade.
Desta forma, as dificuldades de acesso, a inexistência de recursos e serviços,
a baixa infraestrutura de suporte e redes sociais são produtos e, ao mesmo tempo,
elementos constituintes de hermenêutica dos processos das situações de rupturas e
fragmentação das relações humanas por meio da divisão de classes, da segmentação
de sistemas e ofertas de trabalho - o que dificulta uma reestruturação e inserção
igualitária de diferentes parcelas da população e mantém os meios e situações de
vulnerabilidades (CONCEIÇÃO, 2010, p.55).
Para Castel (1997), existem três eixos de trabalho - trabalho estável, trabalho
precário e não trabalho - estes estão ligados diretamente a inserção relacional forte,
fragilidade relacional e isolamento social. Separando, assim, a vulnerabilidade como
21

uma zona, relacionada ao trabalho precário e fragilidade dos apoios relacionais. A


zona de vulnerabilidade pode ser caracterizada por duas classes de trabalho:
pequenos trabalhadores independentes sem reservas econômicas e trabalhadores
precários do campo ou da cidade que não recebem seus benefícios. Tornando-os
instáveis, pois não possuem um trabalho fixo, além de serem considerados frágeis em
sua inserção relacional (CASTEL,1997).
Conceição (2010) ressalta que famílias vulneráveis são propícias a rupturas de
vínculos e afetos, uma vez que podem proporcionar cuidados precários básicos aos
menores, que são fatores de risco para o desenvolvimento benéfico.
Segundo estudos de Siqueira (2010), a maior parte das famílias em situação
de vulnerabilidade social possui baixa escolaridade, desenvolvem atividade informal
de trabalho e/ou os pais são separados.
Com isso, Carleto, Alves e Gontijo (2010) também reforçam que, devido a
situação de vulnerabilidade das famílias, é possível observar atrasos no
desenvolvimento escolar infantil diante, muitas vezes, da necessidade de entrada
precoce da criança no mundo do trabalho e de cuidado dos familiares, como idosos
ou crianças mais novas, limitando e privando o desempenho ocupacional.
Conforme Oliveira, Flores e Souza (2012) relatam que a privação dos direitos
como o de saneamento básico, moradia, alimentação, causam a situação de
vulnerabilidade social e podem ser considerados como um fator de risco para
problemas no desenvolvimento, pois afetam aspectos ambientais e biológicos
interferindo em um desenvolvimento adequado para as crianças.
2.2.2 Vulnerabilidade Social dentro do meio Familiar
Ultimamente a família brasileira tem sofrido várias mudanças, em
consequência dos eventos econômicos, sociais e demográficos. Essas
transformações são percebidas nos níveis de reprodução da população, na redução
da fertilidade e mortalidade, no aumento da expectativa de vida, ocasionado por
melhores condições de vida e saúde, nos modelos de relacionamento entre os
integrantes da família, na função da mulher dentro e fora do ambiente doméstico, no
crescimento das uniões consensuais, e outras (NASCIMENTO, 2006).
De acordo com o autor, mesmo com essas mudanças, a família segue sendo
como espaço de convivência e troca de experiências; e simultaneamente um espaço
de divergência e de tranquilidade, causado pela disposição de bens. A família é o
22

espaço que assegura a seus membros sobrevivência, desenvolvimento e proteção


integral.
Além da relevância da família como espaço privilegiado de convivência e
socialização, é importante salientar, como expõe Goldani (2002), que as intensas
transformações políticas e econômicas, e os problemas gerados pelo mercado
mundial levam os indivíduos e famílias a vivenciarem episódios de vulnerabilidade
social, e apesar dos governos tentarem harmonizar suas economias, as reforma são
demoradas e complexas, o que aumenta os deveres da família como estrutura de
proteção social para redução das situações de vulnerabilidades sofridas por seus
integrantes.
Os trabalhos produzidos a respeito da vulnerabilidade social revelam que seu
conceito é heterogêneo devido às inúmeras situações que podem atingir indivíduos,
famílias e, conforme Nery (2009) compreende diferentes aspectos, entre os quais: a
dos bens materiais, a sociodemográfica, a ambiental e a afetivo-relacional. As
primeiras pesquisas vistas na literatura apresentam as vulnerabilidades somente
baseada na perspectiva econômica, pois se baseiam em análises da capacidade de
mobilidade social, começando da hipótese de que o aspecto econômico interfere na
diminuição de oportunidades, o que influencia, justamente, nas possibilidades de
acesso a bens e serviços.
No Brasil, seguramente, a pobreza é uma das principais vulnerabilidades que
afetam as famílias. Conforme Godinho (2011), no Brasil, a pobreza é resultado de um
sistema histórico de desigualdades sociais, que se refere à nossa trajetória da gênese
da civilidade, da cidadania, da economia nacional e das relações de poder, que
originaram as situações que vivenciamos atualmente, nas relações de trabalho, no
trato com o que é coletivo, nas diferenças sociais e na falta de políticas públicas
eficientes.
Yazbek (2007) esclarece que a pobreza, além da falta de renda, provoca uma
situação de submissão, pela ausência de poder de mando, de decisão, criação e
direção. Dessa forma, a submissão faz parte da classe dos dominados, dos sujeitos à
exploração e à exclusão social, econômica, política e cultural, portanto, consiste em
um processo de internalização das condições reais sofrida por estes indivíduos. Além
disso, a situação de submissão está relacionada a um cenário de necessidades
objetivas e subjetivas, assim, “não se reduz às privações materiais, alcançando
diferentes planos e dimensões da vida do cidadão.” (COUTO; YAZBEK; RAICHELIS,
23

2010, p. 40). Alguns autores trazem o discurso de que uma grande quantidade da
população que não é classificada como pobre quando se considera sua renda, mas
pode ser vista como vulnerável.
De acordo com Carneiro (2009, p. 170), “nem todos os que se encontram em
situação de vulnerabilidade são pobres - situados abaixo de alguma linha monetária
da pobreza - nem todos os pobres são vulneráveis da mesma forma”. Contudo, a
vulnerabilidade não pode ser considerada apenas pela pobreza.
Para Kaztman (2000, pg.7) a vulnerabilidade pode ser compreendida como
“a incapacidade de uma pessoa ou de um domicílio para aproveitar-se das
oportunidades, disponíveis em distintos âmbitos socioeconômicos, para melhorar sua
situação de bem-estar ou impedir sua deterioração”. O autor acredita que a
vulnerabilidade seria resultante da falta de sincronismo do acesso as estruturas de
oportunidade ofertadas pelo mercado, pela sociedade e pelo Estado e os
trabalhadores dos domicílios que deveriam usufruir dessas oportunidades.
Fundamentado nessa concepção, Busso (2001, p. 25) enfatiza que:
O enfoque da vulnerabilidade tem como potencialidade contribuir para
identificar indivíduos, grupos e comunidades que por sua menor
dotação de ativos e diversificação de estratégias estão expostos a
maiores níveis de risco por alterações significativas nos planos sociais,
políticos e econômicos que afetam suas condições de vida individual,
familiar e comunitária (Busso 2001, p. 25).

Percebe-se que o reconhecimento dos indivíduos e das famílias em


vulnerabilidade social é importante para a elaboração de pesquisas sociais, sendo
base para ações de políticas públicas sociais, pois, conforme Goldani (2002), a
maioria das famílias no Brasil depara-se com um cenário difícil de vulnerabilidades,
que faz com que seus integrantes não tenham disponíveis os serviços de educação,
trabalho e segurança.
De acordo com Carvalho; Almeida, (2003), a pobreza, o desemprego e a falta
de expectativas têm levado uma parcela considerável de jovens para a criminalidade,
o que colabora para o crescimento de conflitos, como a violência doméstica e nas
ruas, situações que comprometem o convívio e a estrutura familiar. De acordo com a
Política Nacional de Assistência Social-PNAS (2004) à condição de vulnerabilidade e
às situações de riscos é vista como:
“famílias e indivíduos com perda ou fragilidade de vínculos de
afetividade, pertencimento e sociabilidade; ciclos de vida; identidades
estigmatizadas em termos étnico, cultural e sexual; desvantagem
pessoal resultante de deficiências; exclusão pela pobreza e ou no
24

acesso às demais políticas públicas; uso de substâncias psicoativas;


diferentes formas de violência advindas do núcleo familiar, grupos e
indivíduos; inserção precária ou não inserção no mercado de trabalho
formal e informal; estratégias e alternativas diferenciadas de
sobrevivência que podem representar risco pessoal e social”. (PNAS,
2004, p. 33).

Quando se examina a idéia de vulnerabilidade social pelo ponto de vista da


PNAS (2004), verifica-se que a pobreza é reconhecida como uma das condições que
a caracterizam, porém o conceito de pobreza não se limita apenas à falta de renda,
visto que esta é desencadeadora de diferentes aspectos das necessidades humanas,
deste modo, é preciso investigá-la como um fenômeno complexo.
No entanto, apesar da constatação da necessidade de políticas públicas
dirigidas a família, é evidente que não basta à lei; é necessário produzir normas,
modelos e instrumentos para que o direito passe do papel para a promoção efetiva.
Há muitas responsabilidades na área da assistência social para que esse processo
avance, partindo do acesso a informações explícitas aos usuários dos CRAS, dos
Centros de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS), dos serviços
oferecidos e dos beneficiários de programas, no intuito de informar ao usuário o
significado de cada uma dessas atenções, assim como a forma de atenção que lhe
vier a ser proporcionada (BRASIL, 2013).
2.3 O Contexto da negligencia Familiar contra criança e adolescente

De acordo com o dicionário Aurélio, negligencia significa: "Desleixo descuido,


desatenção, menosprezo, preguiça, indolência". Palavras um tanto quanto vagas e
com significados dependentes de valores culturais e pessoais.
A exemplo de estudos científicos internacionais sobre o fenômeno da negligencia da
familiar voltado a criança e ao adolescente que não compartilham de uma definição
comum, segue as concepções de AZEVEDO e GUERRA, (1998, p. 72):

É um padrão de comportamento constante e um estado inadequado


da paternagem e ou maternagem quando comparada As normas da
comunidade; Grave omissão que coloque em risco o desenvolvimento
da criança; consiste em falha ao cuidar das necessidades de uma
criança, falha raramente proposital, tratando-se de uma inabilidade de
comportamento dos pais; É quando os pais deixam crianças mais
novas sem supervisão por extensos períodos de tempo, fornecem
cuidados e alimentação inadequados para criança; Situação na qual o
responsável pela criança seja deliberadamente, seja por total falta de
atenção, permite que ela experimente sofrimento e/ou ainda não
preencher para ela os requisitos geralmente considerados essenciais
25

para o desenvolvimento das capacidades físicas e emocionais de um


ser humano AZEVEDO e GUERRA, (1998, p. 72).

Ainda conforme acima, pode-se juntar também que a negligencia pode ser
caracterizada ainda "como uma das formas de violência que consistem em não dar a
criança aquilo que necessita, quando isto é essencial ao seu desenvolvimento sadio"
( Assis 1985).
A negligência pode se apresentar como moderada ou severa, para
compreendermos melhor faz-se necessário entender sobre o assunto modalidades de
negligência, conformas as que seguem abaixo:
1) médica - necessidade de saúde de uma criança quando não estão sendo
preenchidas;
2) educacional - os pais não providenciam o substrato necessário para a frequência à
escola;
3) higiênica - quando a criança vivência precárias condições de higiene;
4) de supervisão - a criança deixada sozinha, sujeita a riscos;
5) física - não há roupas adequadas, não recebe alimentação suficiente. Para tanto as
descrições e fundamentações das mesmas ficará para momento oportuno dentro
desse trabalho.
2.3.1 Identificação da Negligência para um Desenvolvimento Sadio
Para Gil (1979) o alto índice de maus tratos contra a criança e a adolescente
em nossa sociedade mostra que os pais negligentes geralmente escolhem um bode
expiatório. As crianças conhecidas como "bebes mal tratados" recebem as mais
variadas formas de violência, os maus tratos As crianças afetam infinitamente, e a
negligência segundo o autor citado é a forma de violência mais praticada embora as
idades variam, pois a maioria das vítimas tem menos de três anos e a metade das
crianças maltratadas acabam morrendo de maus tratos e negligencia, independente
de classe social. Os pais que maltratam são provenientes de todos os níveis de classe,
grupo cultural, religioso. Pode-se dizer que ela pode decorrer de vários fatores e
diferentes modalidades e/ou ainda isoladas ou combinadas.
Morais Apud Barudy (1997) nos fala que:

"As crianças dependem, diz a autora, biologicamente,


psicologicamente e socialmente dos pais e não há outra alternativa a
não ser aceitar a situa cão como legitima, Para as vítimas fica o pacto
do silêncio como forma de fidelidade ao agressor o que impede as
crianças e adolescentes a expressão de sua dor e de seu sofrimento”.
26

A sociedade brasileira ficou chocada ao assistir através dos telejornais e


Programa do Ratinho, do SBT, com a exibição de cenas repugnantes de um adulto
torturando uma menina de três anos a ponto de obriga-la a comer as próprias fezes,
em seguida os pais tomam conhecimento da tragédia do bebê paulista (Brenda), a
menina sofria torturas de espancamento e a mãe negligente se omitiu de socorre-la,
Brenda tinha sido internada em cinco hospitais diferentes sem que ninguém se
dispusesse a denunciar a situação. 0 pediatra Joao Márcio Mainenti, último a cuidar
de Brenda, procurou a polícia e infelizmente Brenda veio a óbito.
Nas famílias negligentes e omissas, ou os adultos, mais especificamente os
pais, apresentam comportamentos contínuos que refletem a ausência ou a
insuficiência dos cuidados que destinam as suas crianças. Um contexto de pobreza e
de isolamento social geralmente está em torno do sistema familiar, contexto este que
coincide na maior parte do tempo com muitas outras carências apresentadas na
história de vida dos pais.
Os pais negligentes são adultos que não se ocupam de seus filhos nas suas
necessidades físicas, psicológicas e sociais, e a não ocupação ou deficiência podem
ser o resultado de três dinâmicas que se entrelaçam: a biológica, a cultural e a
contextual, dinâmicas essas que são diferentes, mas as conseqüências para as
vitimas podem ser idênticas (Morais Apud Barudy, 1998).
As quais veremos detalhadamente no capitulo a seguir.
27

3 TIPOLOGIA DA NEGLIGÊNCIA FAMILIAR CONTRA CRIANÇA E


ADOLESCENTE (CONCLUÍDO)

A negligência é caracterizada por omissões quanto ao cuidado e proteção


infantil, revela-se na falta de provimento de alimentos, roupas, cuidados escolares e
médicos e de outros que são indispensáveis ao desenvolvimento da criança. As
omissões de cuidados pelos responsáveis correspondem à higiene, estímulos e
condições para frequentar a escola, para a oferta de medicamentos, entre outros.
(BRASIL, 2006). A negligência é o tipo mais frequente de maus tratos e inclui a
negligência física, a emocional e a educacional.
Negligência Física: Acontece quando o responsável não oferece os cuidados
necessários para manter o desenvolvimento da criança, incluindo a falta de
alimentação adequada, não prestação de serviços médios, vestuários impróprios, má
higiene e situações de abandono ou vigilância a essas crianças.
Negligência Emocional: acontece quando o responsável ignora, não atende
as necessidades emocionais da criança, como carinho, proteção, há uma privação de
afeto e suporte emocional para que a criança se desenvolva plenamente.
Negligência Educacional: Quando não são proporcionadas as condições para
formação moral e intelectual da acriança, como a privação da escolaridade ou faltas
frequentes sem justificativa, consumo de álcool e drogas que são hábitos que
interferem no desenvolvimento psíquico da criança e adolescente.
Para que se possa refletir a respeito da família e negligência é preciso, mesmo
que de maneira sucinta, discorrer sobre a violência doméstica, já que a negligência é
apontada como um tipo de violência que acontece na família. Segundo Guerra (2011,
p.32), esse tipo de violência caracteriza “(...) todo ato ou omissão praticado por pais,
parentes ou responsáveis contra crianças e/ou adolescentes que – sendo capaz de
causar dano físico, sexual e/ou psicológico à vítima (...)”. A violência doméstica é
considerada um crime, pois os agentes da violência são aqueles que deveriam cuidar
e assegurar o direito de desenvolvimento da criança e do adolescente. Portanto, a
violência doméstica, como o próprio nome evidencia, compreende a violência
praticada por pessoas próximas ou íntimas e que convivem no mesmo espaço
doméstico, podendo acontecer entre parceiros, pais e filhos, e outros, pressupondo
uma dominação de um para com o outro. Além disso, é uma forma clara de negar a
alguém a possibilidade de viver com igualdade, liberdade e respeito (RAZERA et
al,2014).
28

São observados quatro tipos de violência doméstica: Psicológica, Física,


Sexual e a negligência. Veremos suas definições a seguir.
3.1 Violência Psicológica
Essa violência, designada como tortura psicológica, é a forma mais subjetiva
de maus tratos, sendo o modelo mais comum de dominação dos adultos sobre as
crianças e adolescentes e estar relacionado aos outros tipos de violência. A violência
psicológica é um dos recursos mais usados pelos responsáveis para dominação das
crianças, por isso mesmo menos registrado (BRAUN, 2002). A violência psicológica
se caracteriza por comportamentos de pais ou responsáveis que demonstram
desinteresse ou agressão à criança ou adolescente, comprometendo sua
autoimagem, autoestima, provocando-lhe sofrimento emocional (ABRANCHES e
ASSIS, 2011; SILVA, 2009). Este tipo de violência é considerada a questão principal
da negligência e do abuso infantil, sendo ainda a que causa mais prejuízos ao
desenvolvimento infantil. Ainda conforme as autoras, a violência psicológica embora
presente e mais frequente que os demais abusos são pouco diagnosticados, em
virtude, da falta de definição e conceitos os quais auxiliaria no processo de detecção
e prevenção da mesma.
3.2 Violência física
A violência física é definida como o uso da força física contra a criança
praticada pelo adulto. Esse tipo de violência pode provocar lesões leves e ainda a
morte, podendo ser bastante nociva tanto no plano físico quanto no plano afetivo da
vítima. É com certeza a forma de violência cujo reconhecimento se torna mais fácil,
em razão do dano que provoca à vítima. Segundo Brasil (2006) a violência física
possui manifestações que são mais passíveis de identificação, frente aos danos
visíveis que provoca. É caracterizada como uma ação violenta com uso de força física,
de maneira intencional ou não acidental, realizada pelos responsáveis ou pessoas
próximas das crianças, que pode ocasionar dor, ferimento, ou até a morte, deixando
marcas ou não no corpo. O Ministério da Saúde (2002) descreve que este tipo de
violência tem sido atribuído à condição de pobreza em que vivem suas famílias, que
necessitam da participação dos filhos para complementar a renda familiar.
3.3 Violências e Exploração Sexual.
No Brasil, a violência sexual é apontada, desde tempos atrás, como uma das
principais causas de morbimortalidade, despertando desde então, no setor da saúde,
uma grande preocupação com essa temática que, progressivamente, deixa de ser
29

considerada um problema exclusivo da área social e jurídica para ser também incluída
no universo da saúde pública.
Para alguns pesquisadores da área de saúde mesmo com a falta de
integração e escassez de dados é possível inferir que as várias modalidades de
violência ocorridas no ambiente familiar podem ser responsáveis por grande parte dos
atos violentos que compõem o índice de morbimortalidade (Minayo, 1994).
Embora seja um fenômeno que ocorre desde a Antigüidade, a violência sexual
doméstica, em especial aquela dirigida à criança e ao adolescente, passou a ser mais
discutida no meio científico a partir dos anos 80 conforme (Santos,1987; Azevedo &
Guerra, 1988; 1989; 1995; Marques, 1986; Minayo, 1993; Saffioti, 1997).
Em vista a essa nova nuance, é também nessa década que começam a surgir
os primeiros programas específicos para atendimento dessa problemática, previsto no
artigo 87, inciso III, lei 8.069/90 – Estatuto da Criança e Adolescente, como o Centro
Regional de Atenção aos Maus-Tratos na Infância primeiro em São José do Rio Preto
(SP) implantado em outubro de 1988, conforme modelo do CRAMI – Campinas, criado
em 1985. Desde então, o conhecimento sobre essa forma de violência vem sendo
ampliado e sua gravidade reconhecida, ainda que os dados globais sobre sua
magnitude não estejam devidamente dimensionados.
No Brasil, a padronização para registrar situações de violência sexual familiar
é fragmentada, o que provoca prejuízo para uma rotina clara e eficaz, ocasionando
deficiências nos procedimentos a serem seguidos pelos profissionais e instituições,
pois além disso, há carência de políticas públicas eficazes que viabilizem a criação e,
principalmente, a manutenção de programas preventivos e de tratamento, necessários
para promover o aprimoramento e evolução de técnicas eficazes no enfrentamento
dessa problemática.
Devido a fatores como medo, falta de credibilidade no sistema legal e o
silêncio cúmplice que envolve as vitimizações sexuais, as mesmas são de difícil
notificação. Nos Estados Unidos, as denúncias junto às autoridades legais
apresentam taxas varáveis de 16 a 32%, com cerca de 300 a 350 mil pessoas com
idade de até 12 anos ou mais vitimizadas anualmente, e igual número de vítimas com
idade abaixo de 12 anos. No Brasil, inexistem dados globais a respeito do fenômeno,
estimando-se que menos de 10% dos casos chegam às delegacias.
De acordo com Saffioti, 1997:
30

Nas vitimizações sexuais, além das lesões físicas e genitais sofridas,


as crianças e adolescentes tornam-se mais vulneráveis a outros tipos
de violência, aos distúrbios sexuais, ao uso de drogas, a prostituição,
à depressão e ao suicídio. As vítimas enfrentam ainda, a possibilidade
de adquirirem doenças sexualmente transmissíveis, o vírus da
imunodeficiência humana (HIV) e o risco de uma gravidez indesejada
decorrente do estupro.

Diante dessa magnitude de acontecimentos, a violência sexual adquiriu caráter


endêmico, convertendo-se num complexo problema de saúde pública cujo
enfrentamento torna-se um grande desafio para a sociedade.
De acordo com Azevedo & Guerra (1995)
Ao organizar a sociedade, os seres humanos utilizam vários eixos de
hierarquização, estabelecendo regras culturais, sociais, éticas e legais
para reger o comportamento de indivíduos na coletividade, e assim as
regras de autoridade, gênero e idade são fatores de grande
importância na análise das relações sociais e interpessoais da
violência sexual dentro do espaço doméstico ou fora do mesmo.

Contudo a regra da autoridade determina o domínio do mais forte sobre o mais


fraco, enquanto que a de gênero, regula as relações entre homens e mulheres. A regra
de idade, de um lado rege as relações entre crianças e adolescentes e, do outro, as
relações entre adultos detentores do poder e desses sobre os primeiros, socialmente
excluídos do processo decisório. Na violência sexual doméstica, as vitimizações
ocorrem no território físico e simbólico da estrutura familiar onde o homem
praticamente possui o domínio total.
Conforme assim, ela é definida por Deslandes (10, p. 13), como
"Todo ato ou jogo sexual, relação heterossexual ou homossexual cujo
agressor esteja em estágio de desenvolvimento psicossexual mais
adiantado que a criança ou o adolescente com o intuito de estimulá-
las sexualmente ou utilizá-las para obter satisfação sexual".

Desta forma dentro do espaço doméstico, por um processo de domínio e poder


estabelecido pelas regras sociais, agressores com laços consanguíneos ou de
parentescos perpetram o tipo de violência sexual chamada de intrafamiliar.
Atualmente, a noção de cidadania requer que os membros da sociedade,
reconhecidos como cidadãos de acordo com um marco legal democraticamente
estabelecido, possuam o direito à liberdade, à participação, à garantia da vida, à
sobrevivência e ao bem-estar, rompendo antigos padrões societários, na década de
90, o Brasil realiza um importante avanço no campo dos direitos humanos, aprovando
o Estatuto da Criança e do Adolescente.
31

A partir de então, esses passaram a ser juridicamente considerados como


sujeitos de direitos e não mais menores incapazes, objetos de tutela, de obediência e
de submissão, tendo como paradigma os recentes avanços da normativa internacional
e possuindo como conteúdo o melhor da experiência acumulada pelo movimento
social brasileiro, o ECA é um instrumento que colabora decisivamente na identificação
dos mecanismos e exigibilidade dos direitos constitucionais da população infanto-
juvenil. Privilegia-se nele, um espaço para a denúncia e o ressarcimento e qualquer
fato que viole os direitos das crianças e adolescentes, ainda que à revelia dos
mesmos.
Para os dias atuais, a sociedade e o Estado brasileiros promovem o
enfrentamento dos diversos tipos de violência, assegurando às crianças e
adolescentes o pleno exercício de seus direitos constitucionais e estatutários. Nesse
sentido, destacam-se os Conselhos Tutelares e do Centro de Referência da Criança
e do Adolescente (CRCA). O Conselho Tutelar, órgão permanente e autônomo, não
jurisdicional, tem como atribuição o atendimento direto de denúncias, o diagnóstico
da realidade de violação de direitos, o monitoramento do Sistema de Garantia de
Direitos e o atendimento direto de serviços, suprindo a falta de políticas públicas.
O CRCA desenvolve, em parceria com o Ministério Público, um programa que
prioriza o atendimento de crianças e adolescentes em situação de risco pessoal e
social, segundo os preceitos estabelecidos pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente. Atualmente vem sendo observado alguns avanços não só na área da
saúde, como também educação e segurança pública, o que provavelmente
desencadeará novos processos e possibilidades de ações. No ano de 2000, foi
promulgada a lei 10.498, de 5 de janeiro de 2000, que dispõe sobre a obrigatoriedade
da notificação dos casos em que haja suspeita ou confirmação de maus-tratos contra
criança e adolescente para os estabelecimentos de Educação, Saúde e Segurança
Pública.
Em sintonia com esta determinação, o Ministério da Saúde publicou, no Diário
Oficial da União, a portaria 1968, de 25 de outubro de 2001, que estabelece a
obrigatoriedade da Notificação Compulsória para os profissionais dos
estabelecimentos do Sistema Único de Saúde (SUS), criando a Ficha de Notificação
Compulsória de Maus-Tratos Contra Criança e Adolescente, fundamentadas nos
artigos 13 e 245 do Estatuto da Criança e Adolescente (Ministério da Saúde, 2001).
32

Essas ações federais e estaduais são instrumentos fundamentais para o


processo de conhecimento e visibilidade desse problema nos municípios, Estados e
país, colaborando com trabalhos de pesquisa e, consequentemente, proporcionando
melhoria na qualidade dos programas de intervenção.
3.4 Exploração do trabalho infantil
Desde os tempos antigos a criança desempenhava atividades no âmbito
doméstico, colaborando na plantação e na colheita destinada à subsistência da família
e comunidade, deixando aos adultos as atividades de maior complexidade e risco.
Não se conhece naquele período, qualquer preocupação em garantir direitos e
proteção à criança. Culturalmente aceito, o trabalho realizado era ensinado pelos pais,
cujos ofícios iam passando de geração em geração.
Na Grécia, no Egito, em Roma, entre outros povos, os filhos de escravos eram
obrigados a trabalhar para seus donos ou para terceiros, quando este assim o
determinasse. No sistema feudal, que tem seu início na Europa a partir do século X,
os servos e suas famílias, inclusive crianças, trabalhavam para os senhores no cultivo
da terra, cujo produto obtido era parte do proprietário e parte do servo. Invernos
rigorosos, moradias insalubres e alimentação precária, somavam-se às longas
jornadas de trabalho. Tal situação rebatia no cotidiano dos trabalhadores provocando
cansaço profundo e consequente baixa produtividade. Há que se ressaltar, os
trabalhadores submetiam-se a essa vida em troca de proteção, embora precária.
Em decorrência da exploração dos senhores feudais sobre os servos e da
implementação do comércio nas cidades, ocorre o êxodo dos trabalhadores rurais
para os centros urbanos. O trabalho de caráter artesanal passa a suprir a necessidade
do consumo de mercadorias pela nobreza.
São criadas neste período as Corporações de Ofício, organizações dos
artesãos que tinham dentre seus objetivos a defesa de seus interesses. Delas faziam
parte os mestres, donos das oficinas e das matérias primas, com comprovada aptidão;
os companheiros, que eram trabalhadores assalariados; e os aprendizes (crianças e
adolescentes), que deviam apresentar boa conduta e obediência ao seu mestre. A
este cabia a transmissão de conhecimentos e a educação moral, impondo-lhes
castigos quando necessário.
Cabe ressaltar aqui que o adolescente tinha sua iniciação aos doze anos, não
havia remuneração pelo trabalho realizado e estava sujeito a uma jornada de trabalho
33

excessiva. O descontentamento e as revoltas constantes dos trabalhadores começam


a colocar em xeque o sistema vigente. De acordo com Oliva (2005, P. 36):

A demorada aprendizagem, a dificuldade cada vez maior de acesso à


condição de mestre, o despotismo e uma série de outros problemas,
dentre os quais o início da formação de novas corporações por
companheiros rebelados (as companhias), com o fito de combater dos
mestres, fizeram com que o regime entrasse definitivamente em
declínio (OLIVA, 2005, p.36).

É a partir do século XVIII, com a descoberta das máquinas e da eletricidade


que surgem as fábricas e uma nova modalidade de trabalhador, o assalariado. Essa
mudança nas relações societárias e na economia chamada Revolução Industrial, vai
marcar o mundo de forma significativa.
O trabalho infantil estava presente ainda nas atividades algodoeiras, nas minas
e nas indústrias metalúrgicas, setores que exigiam o trabalho pesado sem segurança
e que muitas vezes levavam a criança a adoecer e não raro à morte. Crianças eram
retiradas de orfanatos para trabalhar em troca de comida e guarida. Muitas famílias
pobres, sem outra alternativa de subsistência, ofereciam seus filhos para as indústrias
em troca de salários precários. A criança trabalhava para complementação dos
rendimentos, sendo em alguns casos o seu único provedor.
No caso brasileiro, o trabalho infantil também esteve presente. As crianças
pobres sempre trabalharam. Desde o início da colonização, crianças negras e
indígenas são incorporadas ao trabalho. Quando a Revolução Industrial chega ao
Brasil, principalmente as indústrias têxteis passam a utilizar esse tipo de mão de obra,
a custos bem mais baixos, como elemento de exploração e de acumulação de
riquezas. Em “Pequenos Trabalhadores do Brasil”, Irma Rizzini ao discorrer sobre a
história do trabalho infantil no Brasil, retrata a utilização da mão de obra infantil por
grandes indústrias.
Levantamentos bibliográficos demonstram que a partir de 1894 demonstram
que a indústria têxtil foi a que mais recorreu ao trabalho de menores e mulheres no
processo de industrialização do país. Em 1894, 25% do operariado proveniente de
quatro estabelecimentos têxteis da capital eram compostos por menores. Em 1912,
9.216 empregados em estabelecimentos têxteis na cidade de São Paulo, 371 tinham
menos de 12 anos e 2.564 tinham de 12 a 16 anos. Os operários de 16 a 18 anos
eram contabilizados como adultos (RIZZINI, 2007, p.377).
34

4 UMA ANÁLISE E REFLEXÃO DO PONTO DE VISTA DO ESTATUTO DA


CRIANÇA E DO ADOLESCENTE- ECA
Os direitos do Menor ao longo da História, são fatos que a responsabilidade do
menor foi alvo de constantes discussões, desde os tempos mais remotos, em todos
os sistemas jurídicos. Admitia-se que o homem não poderia ser responsabilizado
pessoalmente pela prática de um ato tido como contrário ao julgamento da sociedade,
sem que para isso tivesse alcançado uma certa etapa de seu desenvolvimento mental
e social. Contudo, os menores passaram por exaustivos sacrifícios, inclusive tendo
que pagar com a própria vida até garantir uma codificação de seus direitos mais
fundamentais.
Assim, na Grécia Antiga, era costume popular que seres humanos fossem
sacrificados se nascessem com alguma deformidade física. Seguindo-se ainda pela
época antiga, se faz necessário lembrar a perseguição de Herodes, rei da Judéia, que
mandou executar todas as crianças menores de dois anos, na tentativa de atingir
Jesus Cristo, já então conhecido como o rei dos Judeus. Vê-se, assim, que a época
do paganismo foi concentrada nas agressões e desrespeitos aos direitos
fundamentais dos menores.
O marco histórico do início das garantias às crianças e adolescentes, foi o
Cristianismo que conferiu direitos àqueles, com vistas ao seu bem-estar físico e
material, o que hoje raramente ocorre, sobretudo nos países subdesenvolvidos, onde
sobejam as condições de abandono e pobreza.
O Direito Romano exerceu grande influência sobre o direito de todo o ocidente,
de onde se mantém a noção de que a família se organiza sob um forte poder do pai.
Contudo, o caminhar dos séculos atenuou esse poder absoluto, que poderia matar,
maltratar, vender ou abandonar os filhos. Ainda assim, o Direito Romano adiantou-se
ao estabelecer de forma especifica uma legislação penal adotada aos menores,
distinguindo os seres humanos entre púberes e impúberes. Para esses últimos era
reservado o discernimento do juiz, porém tendo este a obrigação de aplicar penas
bem mais moderadas. Já os menores de até 7 anos eram considerados infantes
absolutamente inimputáveis.
Dentre as sanções atribuídas, destacam-se a obrigação de reparar o dano
causado e o açoite, sendo, contudo, proibida a pena de morte, como se extrai da Lei
das XLI Tábuas, assim explicada por MEIRA: (1972, p. 168-171):
35

TÁBUA SEGUNDADA: os julgamentos e dos furtos; Se ainda não


atingiu a puberdade, que seja fustigado com varas, a critério do pretor,
e que indenize o dano. TÁBUA SÉTIMA Dos delitos: Se o autor do
dano é impúbere, que seja fustigado a critério do pretor e indenize o
prejuízo em dobro (MEIRA 1972, p. 168-171).

A idade média, através dos Glosadores, suportou uma legislação que


determinava a impossibilidade de serem os adultos punidos pelos crimes por eles
praticados na infância. O Direito Canônico ateve-se fielmente às diretrizes
cronológicas de responsabilidade preestabelecidas pelo Direito Romano. No ano de
1791, com a instituição do Código Francês, viu-se um lento avanço na repressão da
delinquência juvenil com aspecto recuperativo, com o aparecimento das primeiras
medidas de reeducação e o sistema de atenuação de penas.
De grande importância para a garantia dos direitos dos menores foi a
Declaração de Genebra, em 1924. Foi a primeira manifestação internacional nesse
sentido, seguida da não menos importante Declaração Universal dos Direitos da
Criança, adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1959, que
estabelece dez princípios considerando a criança e o adolescente na sua imaturidade
física e mental, evidenciando a necessidade de proteção legal. Contudo, foi em 1979,
declarado o Ano Internacional da Criança, que a ONU organizou uma comissão que
proclamou o texto da Convenção dos Direitos da Criança, no ano de 1989, obrigando
aos países signatários a sua adequação das normas pátrias às internacionais.
Outro acordo moral em prol dos direitos da criança foram as Regras Mínimas
de Beijing, adotado pela ONU em 1985. Consagrava-se, pois, uma das mais
modernas legislações ligadas aos menores pelo mundo, qual fosse, a Lei 8069 de 17
de julho de 1990, ou simplesmente Estatuto da Criança e do Adolescente.
Juntamente com o Código de Menores e o Estatuto da Criança e do
Adolescente, o Estatuto da Criança e do Adolescente entrou em vigor em 13 de julho
de 1990 substituindo o antigo Código de Menores, Lei Federal nº 6.697 de 10 de
outubro de1979. Previa o Código de Menores em seu art. 99: “o menor de 18 anos, a
que se atribua autoria de infração penal, será, desde logo, encaminhado à autoridade
judiciária”.
Esta regra, do antigo Código, mudou. O ECA não fala mais em “menor” e sim
em “criança e adolescente”, também não se fala mais em “infração penal”, utiliza-se o
termo “ato infracional” e, por último, o Juiz não é mais a única autoridade competente
para atuar perante a prática de um ato infracional, o Conselho Tutelar é a nova
36

autoridade administrativa que tem atribuição de se dedicar ao atendimento da criança


e do adolescente.
O Código de Menores era uso meramente “judicial”, enquanto o Estatuto é uma
lei “pedagógica”, civilizatória. Houve mudança e conteúdo, método, gestão. O Estatuto
possui um enfoque garantista, emancipador, baseado nos direitos o cidadão.
O ECA não confere pena ao adolescente infrator. Levando em conta a situação
de pessoa em formação e a inimputabilidade, confere medidas socioeducativas e, ou
protetivas, uma vez que o grande objetivo é a ressocialização do adolescente. Seu
objetivo principal é o pedagógico. Só o tratamento, a educação, a prevenção, são
capazes de diminuir a delinquência juvenil.
4.1 base legal do ECA

O Estatuto Da Criança e do Adolescente e a Doutrina da Proteção Integral teve


seus avanços, em termo de norma e até mesmo político institucional são significativos
quando se trata de garantia de direitos individuais, coletivos e das liberdades
fundamentais das crianças e adolescentes, principalmente por prever instrumentos
efetivos para sua concretização, como os Conselhos de Direitos, os Conselhos
Tutelares, os Fundos da Criança e, ainda ação civil pública para responsabilização de
autoridades que, por ação ou omissão, descumprirem o ECA.
É basicamente necessário considerar que o ECA ainda é desconhecido por
boa parte da população e também entre inúmeros operadores do direito, o que
seguramente é um empecilho a mais para que as substituições introduzidas por este
instrumento legal sejam garantidas. Mudanças como, por exemplo, com as crianças
e adolescentes sendo titular de direitos, a superação de uma prática assistencialista
por uma ação socioeducativa e uma gestão descentralizada, com a efetiva
participação popular.
Configura-se, então, um permanente distanciamento entre as normas e sua
efetividade. Fica claro que a simples existência de uma lei não é suficiente para a
transformação da sociedade ou para garantir automaticamente determinados direitos.
As leis são instrumentos e alternativa para aqueles que demandam pelo direito na
perspectiva de superação ou mesmo regulação de situações conflitantes.
Entretanto, a grande contradição encontra respaldo nas medidas
socioeducativas contrapostas à noção de pena, que não se reflete na prática. Sobre
o caráter pedagógico do modelo, o ECA é claro como quando, por exemplo no inciso
37

IV do art., 122 define a internação em estabelecimento educacional como medida


socioeducativa, que de fato, nunca é efetivada, já que não existem condições
concretas no país para isto, resultando em medidas cada vez mais repressivas em
termos de segurança nesses ditos estabelecimentos educacionais. O que temos,
então, é por um lado a doutrina da proteção integral e por outro uma prática repressiva
que pauta a realidade brasileira, uma vez que o Estado não fornece conforto e
proteção ao menor infrator.
Por fim têm-se os instrumentos para a proteção integral que a doutrina define
que é a concepção sustentadora da normativa internacional a respeito dos direitos da
infância e juventude no Brasil, considera que o Município é a melhor instância para o
atendimento desses direitos, prevendo inclusive alguns instrumentos para definir e
conduzir essa política.
4.1.1 Os Conselhos de Direitos e os Conselhos Tutelares
O art., 88, do ECA disciplina, em seu inciso II, a criação de Conselhos
Municipais, Estaduais e Nacional. Estes Conselhos devem ser formados em cada
Município, em cada Estado e ao nível Nacional, garantindo a participação paritária
para os representantes da sociedade. Para que cada criança e adolescente atinjam
seus direitos, a norma prevê a criação dos Conselhos Tutelares, que são órgãos que
retiram dos juizados da infância e da juventude as funções de assistência social
desjurisdicionalizando as questões sociais envolvendo crianças e adolescentes.
Casos em que envolvam violação dos direitos de criança e adolescentes são
encaminhados ao Conselho Tutelar que busca soluções, encaminhando ao Ministério
Público, desenvolvendo trabalho junto à família e comunidade ou mesmo requisitando
serviços públicos. As funções atribuídas a esse órgão serão abordadas no decorrer
do trabalho.
4.1.2 Os fundos da Criança e do Adolescente
Cada Conselho de Direitos deve ter vinculado a si um fundo, como instrumento
de captação de recursos. Este fundo financeiro se constituirá apartir de verbas
públicas, de doações subsidiadas, de multas e dos impostos de renda de pessoas
físicas e jurídicas.
Porém, no ano em que completa 26 anos, o Estatuto da Criança e do
Adolescente ainda enfrenta dificuldades para fazer funcionar esses fundos cuja
receita, de recursos públicos e privados, é empregada em programas sociais. Por falta
38

de credibilidade e divulgação do incentivo fiscal disponível, estima-se que, todo ano,


milhões de reais deixam de ser investidos nesse tema.
Sabe-se também que, esse mecanismo está fraco porque nem todo Município
tem Conselho, e nem todos os Conselhos funcionam com um fundo estruturado. O
desafio é contribuir no processo dessa estruturação, pois existem prefeituras que,
infelizmente, não tem a menor noção sobre como fazer isso.
Os Conselhos municipais às vezes são encarados como “dor de cabeça” pelos
prefeitos. Empresas desconfiam do destino das doações, e muitas não colaboram por
ignorar os incentivos existentes. Assim, considera-se que o grande avanço do ECA é
a definição desses instrumentos para sua efetivação. Ou seja, o potencial de
arrecadação e mobilização é bem razoável, mas os Conselhos têm que estar
capacitados para levar em frente à defesa e o compromisso com os direitos
fundamentais das crianças e adolescentes.
4.1.3 A Associação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do
Adolescente – ANCED
A ANCED surgiu da articulação dos centros de defesa de direitos de crianças
e adolescentes ocorridas, inicialmente, no âmbito do Fórum Nacional de Defesa de
Direitos da Criança e do Adolescente. Essa articulação inicial abrangia instituições
que por todo o país realizavam trabalhos similares e que resolveram se articular para
melhor agir na defesa dos direitos de crianças e adolescentes. Constituíam-se como
organizações da sociedade civil, lutando pela defesa dos direitos humanos infanto-
juvenis, que têm na proteção jurídico-social sua estratégia específica.
No âmbito Nacional, em 2009 a Associação começou a se consolidar e
aparecer no quadro nacional com a participação e assento no Conselho Nacional dos
Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), a qual permaneceu até 2010.
Em 2011 a Associação passou a fazer parte da coordenação colegiada do
Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescente,
como condutor. (2016). Dessa forma descreve-se as funções do Conselho Tutelar no
tópico que segue.
4.1.4 Funções do Conselho Tutelar
O Conselho Tutelar é um órgão permanente e autônomo, encarregado pela
sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente. O art.
131 do ECA nos traz o conceito legal de Conselho Tutelar: (art. 131, ECA). Art. 131.
“O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado
39

pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente,


definidos nesta Lei. (Lei 8.069/90).
O art., transcrito acima trás não somente o conceito como também algumas
das características do órgão, que serão discutidas em momento oportuno. Entre os
doutrinadores, temos algumas definições dos Conselhos Tutelares: Para PEREIRA,
Tânia da Silva. 2003, "conselho tutelar é órgão municipal que exerce atribuições
específicas previstas no art. 136-ECA, e ainda aquelas que visam articular a
comunidade para solucionar os problemas infanto-juvenis que lhe são peculiares" (Lei
8.069/90).
Dessa forma (Liberati, 2008, p. 96) nos traz a seguinte conceituação:
Antes de tudo, o Conselho Tutelar caracteriza-se por um espaço que
protege e garante os direitos da criança e do adolescente, no âmbito
municipal. É uma ferramenta e um instrumento de trabalho nas mãos
da comunidade, que fiscalizará e tomará providências para impedir a
ocorrência de situações de risco pessoal e social de crianças e
adolescentes. [...] (Lei 8.069/90).

4.2 Dever do estado e da família em relação a criança e o adolescente


(Características dos Conselhos Tutelares)
Vistas essas noções conceituais, podemos destacar algumas características
dos Conselhos tutelares que passamos a estudar agora:

Permanência: a Lei define o Conselho tutelar como órgão permanente,


visando a intenção de mantê-lo perpétuo, sem sofrer a interrupção em
suas atividades por motivo de modificação dos seus quadros ou do
poder público municipal, atendendo a fins político-partidários.
Autonomia: outra das características básicas do Conselho Tutelar é a
autonomia, nesse sentido, o órgão deve funcionar sem qualquer
influência de outros órgãos da administração pública. É essa
autonomia que garantirá o desempenho das atribuições previstas em
Lei.

Não jurisdicionalidade, conforme acima, é uma das características que


podemos observar também no artigo 136 do ECA, que conceitua o Conselho Tutelar,
e que, parece-nos óbvia, haja vista que essa é característica privativa do Poder
Judiciário, pode, porém, o Conselheiro Tutelar encaminhar ao Ministério Público ou
ao Poder Judiciário as questões dentro de suas atribuições. Essas são as principais
características do órgão elencadas pelos doutrinadores.

4.3 Direito da Criança e do adolescente


A trajetória do direito da criança e adolescente no Brasil foi marcada por muita
invisibilidade, violência, desrespeito e maus tratos. O Brasil começou tardiamente a
40

olhar essa parcela da sociedade, mas com leis (códigos de menores) que não
garantiam uma vida segura como cidadãos de direito. Somente a partir do processo
de redemocratização com povo nas ruas exigindo melhores condições de vida para
os pequenos brasileiros é que as crianças e adolescentes ganham visibilidade e
prioridade em políticas públicas no Estado.
A Declaração dos Direitos da Criança Todo mundo diz que as crianças têm
direito Aa várias coisas. Foi durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, no dia
20 de novembro de 1959, que representantes de centenas de países aprovaram a
Declaração dos Direitos da Criança. Ela foi adaptada da Declaração Universal dos
Direitos Humanos, só que voltada para a criançada! Mas, é muito difícil a luta para
que esses direitos sejam respeitados.
A Declaração dos Direitos da Criança tem 10 princípios que devem ser
respeitados por todos para que as crianças possam viver dignamente, com muito amor
e carinho. Nós brasileiros temos o dever de proteger e valorizar nossas crianças, pois
não devemos esquecer que elas serão o nosso futuro.
1. Todas as crianças são credoras destes direitos, sem distinção de raça, cor, sexo,
língua, religião, condição social ou nacionalidade, quer sua ou de sua família.
2. A criança tem o direito de ser compreendida e protegida, e devem ter oportunidades
para seu desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, de forma sadia e
normal e em condições de liberdade e dignidade. As leis devem levar em conta os
melhores interesses da criança.
3. Toda criança tem direito a um nome e a uma nacionalidade.
4. A criança tem direito a crescer e criar-se com saúde, alimentação, habitação,
recreação e assistência médica adequadas, e à mãe devem ser proporcionados
cuidados e proteção especiais, incluindo cuidados médicos antes e depois do parto.
Diante da declaração dos direitos da criança citado acima fica estabelecido
vários critérios relevantes e obrigatórios para a proteção e o bem estar do menor,
mesmo ele sendo infrator e para fazer jus a este direito às autoridades públicas devem
empenhar-se para aplicação dessa declaração.
A criança e adolescente eram tidos como um problema, porque eles
constituíam um “embrião” de um ciclo de vícios sociais que levava ou poderiam levar
o Estado brasileiro a desordem e eles configuravam uma solução por que eram
facilmente moldáveis, eram peças chaves adaptáveis à serviço do sistema capitalista.
O que o país e seus dirigentes (classe elite dominante) almejavam era sanear, civilizar
41

e moralizar o Brasil, incidindo de maneira cruel sobre a camada (RIZZINI, 2011) pobre
da sociedade, violentando de maneira vil todas as crianças e adolescentes.
Denominado Código de Menores Mello Matos, criado pelo juiz Mello Matos, foi
instituído em 1927 e executava ações repressoras e autoritárias com indivíduos de 18
anos de idade, de classe pobre que viviam a margem da sociedade, despossuídos de
direitos civis sem nenhuma perspectiva de alcançar uma educação, saúde, lazer,
moradia entre outros requisitos para se ter uma infância saudável e plena. Isso porque
os indivíduos em idade infantil eram visto como um problema social estava em
situação de abandono moral ou material, ou seja, em “situação irregular”, estavam
longe de suas famílias, não possuíam meios para garantir sua sobrevivência, por que
eram vistos pelo estado como delinquentes e muitas vezes elas acabavam nas ruas
sozinhas e abandonadas (AGUIAR, 1998).
No inicio do século XX segundo Rizzini (2011), enquanto na Europa já tinha
uma consciência da criança e do adolescente, ainda não se tinha por parte da
sociedade brasileira uma definição sobre o que seria uma criança e um adolescente.
Ensaiavam-se as primeiras nomenclaturas sobre essa fase da vida tais como: púbere,
rapaz e rapariga e que normalmente faziam correlação à criminalidade.
Assim, Rizzini coloca que o termo delinquência juvenil começa a ser usado com
mais amplitude anos depois:
“[...] Além disso, nota-se o uso corrente do termo menor dotado de
uma conotação diferente da anterior: torna-se categoria jurídica e
socialmente construída para designar a infância pobre-abandonada
(material e moralmente) e delinquente. Ser menor era carecer de
assistência, era sinônimo de pobreza, baixa moralidade e
periculosidade” (2011, p.134).

Diante do que nos traz a autora, ser criança e adolescente na época mais
precisamente a pobre, era caso de polícia, era tida com perigosa, que merecia por
parte do Estado uma investigação minuciosa assim como sua família, para que fosse
feita uma classificação do seu caso e que depois disso seria definido sua tutela.
A família do “menor” era investigada para avaliar sua condição ou capacidade
legal e moral que justificasse a guarda de suas crianças ou a perda do pátrio poder.
Foram criados vários instrumentos e mecanismo de perda, suspenção e restituição de
guarda das crianças à sua família na época. Antes da lei (8.069/90), a proteção infantil
era feita de forma centralizada, realizada por um juiz de direito de caráter repressor,
que tratava as crianças e adolescentes como “questão de polícia” (AGUIAR, 1998) e
42

não abraçava todas as crianças, mas somente aquelas que tivessem em situação fora
do convívio familiar, tivesse cometido ato infracional entre outros.
Essa situação de abandono familiar a as ações judiciais de violência contra as
crianças e adolescentes, representava uma aliança entre Assistência e Justiça como
explica Rizzinni (2011, p.125): “ e que deu origem à ação tutelar do estado, legitimada
pela criação de uma instância regulatória da infância – o juízo de Menores e por uma
legislação especial- O Código de Menores (década de 20)”.
Assim segundo compreensão do que relata Rizzini em seus escritos, a Justiça
e a Assistência objetivavam uma sustentação que embasasse suas ações repressivas
e filantrópicas que tinham o intuito de sanear o problema social de ser criança, que
em nada a protegia violentando-a em seus direitos.
Tais ações eram politicamente aceitas por serem consideradas pelo Estado
como, uma função regulatória que enquadrava as crianças a terem disciplina e serem
treinadas para o trabalho. A união da justiça e da assistência caracterizava-se numa
ação de cunho moral que incidia na camada mais pobre da sociedade. Sob a
legalização desse código de menor de 1927 no período de 1930 a 1945, o Estado agia
de forma controladora sobre esses indivíduos da população pobre brasileira, criando
em 1942 o Serviço de Assistência ao Menor (SAM).
O SAM era um órgão do Ministério da Justiça, caracterizava a primeira iniciativa
de política pública direcionada à criança e adolescente no Brasil, responsável por agir
de forma corretiva e repressiva que representava um sistema prisional para menores
de idade. Configurava-se por Internatos (reformatórios e casa de correção) para
crianças e adolescentes que cometiam ato infracional e por Patronatos Agrícolas e
escolas de aprendizagem de ofícios urbanos, para os menores que se encontravam
em situação de ruas e abandono (AGUIAR, TÂNIA, 1998).
Contudo, o SAM não realizou boas ações administrativas e como relata Melim (2004,
p.4):
“[...] o desempenho desta instituição foi conturbado, devido a inúmeras
denúncias de desvio de dinheiro, bem como de atos violentos
cometidos contra os internos. Os castigos corporais eram tão
frequentes e intensos que muitas vezes levavam a criança ao óbito.
Nesse cenário de violência de todo tipo o SAM passou a ser conhecido
como Sem Amor ao Menor tento sua falência em 1964”.

Na suspensão de periculosidade da ação da criança ou adolescente, ainda sim,


ele ficava sob a vigilância do juiz de menor, mesmo não tendo cometido crime ou
43

delito, o que declarava que essa parcela da sociedade não tinha direito civil e a lei não
a protegia, colocando esse grupo sempre sob os olhos da justiça que o tinha como
um problema social (RIZZINNI, 2011).
O regime militar de 1964 implanta o novo Código de Menor de 1979 e baseava-
se na doutrinação de situação irregular do menor, no que também era base para o
código Mello Matos. Esse código desenvolve a política de atendimento a criança e
adolescente contendo dois documentos legais que o regulamentava: PNBEM – a
Política do Bem Estar do Menor e o Código de Menores na Lei de número 669/79
(RIZZINI, 2011).
Em 1998, com a Emenda Constitucional n.20 fica proibido o trabalho noturno,
perigoso ou insalubre a menores de 18 anos e de qualquer trabalho a menores de 16
anos, salvo na condição de aprendiz.
Em 2000 o Brasil ratifica a Convenção 182, que trata das piores formas de
trabalho infantil e promulga o Decreto nº 3.597 de 12 de setembro do mesmo ano.
É clara a mudança de postura do Brasil nos últimos anos no sentido de buscar garantir
o direito da criança e do adolescente a uma vida digna, aos estudos, à saúde, lazer
entre outros. Segundo Maria do Carmo Brant de Carvalho:
As prioridades políticas emergem na sociedade e só adentram a
agenda do Estado quando se constituem em demanda vocalizada, Isto
é, quando grupos da sociedade civil organizam- se em torno desta
demanda; focalizam- na e agem sensibilizando e mobilizando outros
segmentos societários em torno da mesma. Nesta condição adensam
forças e pressões transformando- a em prioridade e introduzindo- a no
campo da disputa política. Ela se torna prioridade efetiva quando
ingressa na agenda estatal; torna- se interesse do Estado e, não mais
apenas, dos grupos organizados da sociedade (BRANT, 1999, p. 13).

Historicamente o trabalho infantil vinha sendo encarado pela sociedade como


natural, principalmente para as camadas pobres da população, que se utilizavam dele
para sobreviver. Ë assim que para os pobres, o trabalho precoce virou sina justificada
como modo privilegiado de formação e inclusão social das camadas populares
(BRANT, 2000, p. 14 ).
A conjugação de várias forças vem contribuindo para essa mudança. Os
movimentos populares que lutaram pela defesa de direitos desde a ditadura, o
incentivo e a pressão de organismos internacionais voltados para a ampliação da
discussão da garantia dos direitos humanos, tão aviltada nos países de regimes
totalitários, principalmente na América Latina, a criação do Fórum DCA, que
conjugava inúmeros segmentos da sociedade para discutir e propor novos rumos na
44

legislação vigente, o novo paradigma da Proteção Integral e ainda a descentralização


que propiciou a elaboração e gestão de políticas regionalizadas voltadas para a
criança e adolescente. Além disso, sanções comerciais foram impostas ao Brasil pelos
Estados Unidos e por países da Europa no sentido de pressionar as nossas empresas
a não utilizarem o trabalho infantil como mão de obra.
A Convenção dos Direitos da Criança da ONU, foi quem elaborou pela primeira
vez uma definição de criança, utilizando-se do critério etário:
ARTIGO 1º Para efeitos da presente Convenção considera-se como criança todo ser
humano com menos de dezoito anos de idade, a não ser que, em conformidade com
a lei aplicável à criança, a maioridade seja alcançada antes.
Todavia, o ECA diferencia a criança do adolescente, entendendo que tratam-
se de pessoas em formação e que requerem um cuidado diferenciado. Assim, em
consonância com o ECA esta pesquisa considera:
ARTIGO 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze
anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.
São adotados os termos criança e adolescente e não menor, tendo em vista a
conotação preconceituosa do termo, que por anos foi utilizado como forma de referir-
se a crianças vindas de famílias pobres.
Para efeito da presente pesquisa, o conceito de trabalho infantil utilizado é o
estabelecido na 90° Conferência Internacional do Trabalho OIT/2002, na Convenção
182 que o insere nas seguintes categorias:
Trabalho realizado por pessoas abaixo da idade mínima especificada pela
legislação nacional (de acordo com normas internacionais) para o tipo de tarefas a
serem desenvolvidas e que, portanto, provavelmente prejudique a educação ou o
desenvolvimento pleno da criança ou adolescente.
O trabalho perigoso que ponha em risco o bem estar físico, mental, ou moral
da criança; e, as formas inquestionavelmente piores de trabalho infantil, ou seja,
escravidão, prostituição, conflitos armados, pornografia, e outras atividades ilícitas.
Está referenciada também, pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/11/98, pelo artigo
7º, inciso XXXIII, da Constituição Federal Brasileira que proíbe “trabalho noturno,
perigoso ou insalubre a menores de 18 anos e de qualquer trabalho a menores de
dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos”.
Após o período da ditadura e a partir da Constituição Federal de 1988, houve, no país,
uma definição de valores éticos fundamentais, que passaram a reconhecer os direitos
45

humanos individuais e coletivos. A partir disto, o Estado pressionado também pela


sociedade civil e por organismos internacionais, passou a exercer um papel
fundamental na elaboração de políticas públicas voltadas à efetivação destes direitos,
principalmente no campo da infância e da adolescência e aí está inserida a questão
do trabalho infantil.
No decorrer da década de 90, diversos fatores têm gerado um quadro mais
favorável para o combate ao trabalho infantil no Brasil. A atuação de organismos
internacionais(especialmente da OIT e do UNICEF), a aprovação do Estatuto da
Criança e do Adolescente e a consequente implantação de uma rede de conselhos de
defesa dos direitos desses segmentos, as numerosas denúncias de exploração da
mão-de-obra infantil, a mobilização de grupos sociais envolvidos com o tema, em
diferentes regiões - são alguns dos fatores que têm contribuído não só para a
disseminação de ações institucionais de erradicação do trabalho infantil, mas também
para que essa questão tenha assumido destaque na agenda social brasileira
(AMARAL, C., C. SILVEIRA, et al. 2000, p. 16).
É a partir de 1995 que ações institucionais para a prevenção e erradicação do
trabalho infantil se tornam mais específicas, tendo como eixos principais a
sensibilização e mobilização social para a questão do trabalho infantil, maior
fiscalização e incentivo para a atuação contra o trabalho infantil através da ação do
Ministério do Trabalho e do Ministério Público do Trabalho e dos Conselhos de Direito,
criação de canais de denúncia, propostas de incentivo a inclusão e permanência na
educação básica e em ações complementares à escola, incremento da renda e
desenvolvimento de ações sócio educativas junto às famílias (AMARAL, C., C.
SILVEIRA, et al. 2000).
Em 1997, aparece pela primeira vez no Plano Plurianual3 a previsão de ações
voltadas para a erradicação do trabalho infantil.
Em 1999, o Programa PETI foi ampliado, ganhando espaço em diversos estados e
cidades do país e aos poucos foi modificando os significativos indices de crianças e
adolescentes em situação de trabalho no Brasil.
De acordo com dados do FNPETI constantes da Avaliação da integração do PETI ao
Programa Bolsa Família (FNPETI 2007 – pg6), em 1980 o Brasil contava com cerca
de 6,9 milhões de crianças e adolescentes trabalhadores, número que pulou para 9,6
milhões em 1992.
46

Após a implementação do PETI os índices de trabalho infantil no Brasil foram


sendo alterados, totalizando 7,7 milhões de crianças e adolescentes em situação de
trabalho em 1998, 6,6 milhões em 1999 e cerca de 5,5 milhões de crianças e
adolescentes em 2001, dado este retirado da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (PNAD). Constatou-se massiva presença de crianças e adolescentes na
faixa etária de 10 a 15 anos (2,8milhões) e de adolescentes entre 16 e 17 anos (2,4
milhões).
É importante ressaltar que o combate ao trabalho infantil contou com a
participação do Estado e teve colaboração do Ministério do Trabalho e Emprego, da
Secretaria Especial de Direitos Humanos, ligada a Presidência da República e do
Ministério Público do Trabalho.
Em 1997, aparece pela primeira vez no Plano Plurianual3 a previsão de ações
voltadas para a erradicação do trabalho infantil.
Em 1999, o Programa PETI foi ampliado, ganhando espaço em diversos estados e
cidades do país e aos poucos foi modificando os significativos indices de crianças e
adolescentes em situação de trabalho no Brasil.
De acordo com dados do FNPETI constantes da Avaliação da integração do
PETI ao Programa Bolsa Família (FNPETI 2007 – pg6), em 1980 o Brasil contava com
cerca de 6,9 milhões de crianças e adolescentes trabalhadores, número que pulou
para 9,6 milhões em 1992.
Após a implementação do PETI os índices de trabalho infantil no Brasil foram
sendo alterados, totalizando 7,7 milhões de crianças e adolescentes em situação de
trabalho em 1998, 6,6 milhões em 1999 e cerca de 5,5 milhões de crianças e
adolescentes em 2001, dado este retirado da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (PNAD). Constatou-se massiva presença de crianças e adolescentes na
faixa etária de 10 a 15 anos (2,8milhões) e de adolescentes entre 16 e 17 anos (2,4
milhões).
É importante ressaltar que o combate ao trabalho infantil contou com a
participação do Estado e teve colaboração do Ministério do Trabalho e Emprego, da
Secretaria Especial de Direitos Humanos, ligada a Presidência da República e do
Ministério Público do Trabalho.
O trabalho infantil por muito tempo foi considerado uma prática natural como
parte do processo de socialização das crianças e adolescentes, além de ser visto
como uma alternativa à miséria e à criminalidade. Contudo, a partir da década de
47

1990, essa visão passou a ser desmistificada mundialmente, disseminando-se a


cultura de que o lugar da criança é na escola. Amplia-se o entendimento de que
garantir os direitos da criança e do adolescente é condição para um maior
desenvolvimento socioeconômico.
Essa transformação no modo de ver a questão do trabalho infantil decorre do
novo modelo de desenvolvimento que vem sendo discutido nos últimos tempos, tendo
como instrumento maior participação social e políticas públicas de educação integral.
Trata-se de um modelo de desenvolvimento sob uma ótica mais ampla e
integrada, que extrapola os limites econômicos. Um desenvolvimento que leva em
consideração a expansão das liberdades reais, implicando na eliminação de tudo que
limita as escolhas e oportunidades das pessoas.
Entende-se, então, que erradicar o trabalho infantil, uma das faces mais
perversas do mundo do trabalho contemporâneo, é derrubar barreiras que limitam o
processo de formação de sujeitos ativos, fundamental para o desenvolvimento
sustentável. Cresce a visibilidade da problemática do trabalho infantil, pois são cada
vez menos legitimados os argumentos de que a atividade produtiva é uma alternativa
melhor que o crime e a miséria nas ruas.
Defende-se que os dois problemas devem ser enfrentados simultaneamente.
Logo, as políticas públicas de combate ao trabalho infantil não podem ser concebidas
como uma ação exclusiva do Estado.
Elas devem, em conjunto com a sociedade civil e organizada, provocar
mudanças na decisão familiar para que seus impactos finais sobre a exclusão de
crianças do mercado de trabalho não sejam limitados.
Em decorrência dessa nova visão de desenvolvimento, intensificam-se as ações de
combate ao trabalho infantil no Brasil, em especial, a partir de 1996 com a implantação
do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), reduzindo ao longo dos anos
o número de crianças e adolescentes inseridos na População Economicamente Ativa
(PEA).
48

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O que apresentamos durante o trabalho teve como objetivo primeiro
compartilhar um conhecimento adquirido, teórico-prático, propondo algumas atitudes
para estimular a reflexão acerca do fenômeno violência doméstica contra criança e
adolescente, com o objeto de foco na negligência familiar.
A negligência familiar é fato, e seus desafios de intervenção são inúmeros e
complexos. Observamos que a discussão traz no bojo questões múltiplas e por isso
tal estudo não é um processo acabado, e sim o início de uma construção do
conhecimento adquirido, procurando propor uma reflexão dinamizadora.
Durante este estudo observamos que a falta de moradia adequada, o
desemprego, o baixo salário e outros fatores, são bastante influenciadores para que
ocorra a violência doméstica dentro do âmbito familiar. Acreditamos que é possível
lançar um olhar, que possibilite expressar as reais dificuldades das famílias
preparando-as para o exercício da cidadania, levando-as a busca de soluções. Alguns
autores no decorrer desse trabalho nos afirmaram que: "Quando trabalhamos com
famílias, toda e qualquer ação deve ser planejada, pois a princípio estamos entrando
no ambiente físico e simbólico, privado e por mais que façamos uma boa interação
com a mesma, estamos aos olhos da família, investidos de um conhecimento próprio,
técnico do profissional que atende".
Dentro da visão família observamos diferentes composições familiares, bem
como uma dinâmica própria, cada família apresenta uma organização diferenciada,
ou seja, existem inúmeras diversificações de formas de famílias ou de arranjos
familiares que não mais o tradicional, pai, mãe, e filho, percebemos que a violência
doméstica acontece dentro de quatro paredes, local onde deveria ser lugar de
segurança para as crianças e adolescentes e ela é praticada entre os diferentes
membros que constituem a organização familiar. Acontece nas diferentes classes
sociais e das mais diferentes formas: física, psicológica. sexual, negligência ou ainda
a violência fatal.
Ao conceber a criança, e o adolescente como sujeitos de direito, o Estatuto
caracteriza o valor desses sujeitos como seres humano, mas os desafios são muitos
para concretizar a lei. A instituição do Estatuto constituiu-se num avanço, pois ele nos
diz respeito aos direitos que não podemos esquecer tendo como primeiro direito da
criança e do adolescente o da "proteção ã vida e a saúde, mediante a efetivação de
49

políticas sociais públicas que permitem o nascimento e o desenvolvimento sadio e


harmonioso em condições dignas de existências".
Para trabalhar com situações de violência doméstica é essencial a construção
do vínculo familiar, dentro de uma compreensão buscando priorizar o convívio familiar.
preciso avaliar e diagnosticar cada caso de violência doméstica, e quando constatado
a veracidade dos maus tratos, deve ser adotado os procedimentos mais adequados
para com as situações consideradas mais complexas, pois cada família apresenta um
conjunto particular de fatores que levam a prática abusiva, exigindo urna resposta
própria as necessidades apresentadas.
No que se refere às famílias negligentes, podemos perceber que estas
enfrentam vários problemas para a busca de sua sobrevivência, o que acaba refletindo
sensivelmente no relacionamento familiar. A negligência passa a ser analisada dentro
de uma globalidade de variáveis, e são necessários linhas de ação de atendimentos
adequados e com garantias de políticas públicas que vão de encontro com suas
necessidades.
As primeiras ações concretas no que se refere a atuação do Estado no combate
ao trabalho infantil, foram desencadeadas a partir da constatação da grave situação
das crianças e adolescentes trabalhadores, de diversos municípios do Estado de Mato
Grosso do Sul, onde, nos primeiros anos da década de 90 a mão de obra infantil era
utilizada nas carvoarias e na colheita da erva-mate.
Tal situação levou a criação de uma Comissão Permanente de Investigação e
Fiscalização das Condições de Trabalho nas Carvoarias e Destilarias do Mato Grosso
do Sul (1993) que contava com a participação do poder público e da sociedade civil.
Frente a denúncias de que o trabalho realizado afetava sobremaneira a saúde das
crianças e adolescentes a Assembléia Legislativa do Mato Grosso do Sul iniciou uma
ofensiva no sentido de identificar os focos de trabalho infantil naquele Estado, bem
como as suas condições de trabalho, criando uma Comissão Parlamentar de Inquérito
para investigar a questão.
Dessa forma faz-se necessário garantir programas de atendimento as famílias,
buscando um enfoque integrador e globalizante, onde a instituição família seja levada
a descoberta do respeito mútuo e assim percebemos o importante papel do Assistente
Social na luta pela garantia dos direitos da criança e do adolescente, ocupando o seu
papel de implementador de ações preventivas e educativas junto as famílias em
situação de violência doméstica.
50

O Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil, criado em


1994, teve papel importante no Mato Grosso do Sul e no Brasil até hoje,
acompanhando, articulando, projetando ações e definindo prioridades de pauta no
enfrentamento do trabalho infantil.
Foram efetivadas parcerias importantes, principalmente com órgãos
internacionais tais como a OIT e UNICEF e instituídas ações locais como a criação do
Fórum Estadual de Erradicação do Trabalho Infantil do Mato Grosso do Sul.
Todo esse movimento culminou na implantação do Programa de Ações Integradas –
PAI (1995) para eliminação do trabalho infantil nas carvoarias do Mato Grosso do Sul,
numa iniciativa do governo daquele Estado e do Fórum Nacional.
O PAI, que posteriormente (1996) foi estendido a outras regiões do Brasil,
contava com ações integradas no âmbito da saúde, educação, promoção social entre
outras, nas diferentes esferas governamentais e com a participação da sociedade civil.
O seu objetivo era o de eliminar o trabalho infantil e propiciar melhoria das condições
de vida e de trabalho das famílias envolvidas no Programa.
51

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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