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METODOLOGIA DE
ARTICULAÇÃO DA REDE
E
GARANTIA DE DIREITOS
Belo Horizonte
2017
Governador do Estado de Minas Gerais
Fernando Damata Pimentel
Cristiane Pereira Gabriel, Édina dos Santos Martins, Juliane Cristina Guimarães Silva,
Maria Aparecida Marques Vasconcelos, Marilene Evangelista Meira.
LISTA DE SIGLAS
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 7
2 A DIRETORIA DE ABORDAGEM FAMILIAR E ARTICULAÇÃO DE REDE SOCIAL 9
3 ARTICULAÇÃO DE REDE ................................................................................................ 11
4 A REDE E O TRABALHO SOCIEDUCATIVO ................................................................. 16
4.1 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E OS SERVIÇOS DE PROTEÇÃO SOCIAL .................................................. 20
4.3.1.1 Orientações gerais para o fluxo – Adolescentes sem contato familiar ....................... 33
4.3.1.2 Orientações no caso de adolescentes que fizeram contato familiar, mas que essas não
exercem função protetiva. ...................................................................................................... 35
4.3.1.4 Fluxo para Acionamento da Rede Social nos casos de adolescente sem contato
familiar ................................................................................................................................... 36
5.3.3 CEAPA.......................................................................................................................... 44
5.3.4 PRESP........................................................................................................................... 45
7 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 63
8 ANEXOS ............................................................................................................................... 65
1 INTRODUÇÃO
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encaminhamento à rede implique, necessariamente, na responsabilidade das equipes em
acioná-la, mas também, no compromisso de orientar a família.
Reconhece-se a importância da família para o acompanhamento da medida
socioeducativa (MSE) aplicada ao adolescente, tratando-se, na sequência, da articulação da
rede nos casos em que o socioeducando(a) se encontra sem contato familiar. Destaca-se, neste
caso, que a rede é acionada como colaboradora no processo de localização e sensibilização da
família. Pontua-se a necessidade de que as unidades sejam capazes de apresentar seu trabalho
para os atores da rede, para então colocá-los em busca da família, de forma que a rede
compreenda a importância da ação a ser desenvolvida.
Posteriormente, apresenta-se os programas que complementam a rede de atendimento
ao adolescente, sendo eles: o Programa de Atendimento aos adolescentes egressos das
medidas de semiliberdade e internação (Se Liga) e o Programa de Proteção à Criança e ao
Adolescente Ameaçado de Morte (PPCAAM).
No quinto e último capítulo, que recebeu o nome de “A Articulação de Rede nas
Diversas Medidas Socioeducativas”, são tratadas as ações de articulação da rede com base nas
especificidades de cada uma das medidas socioeducativas, de forma que o tópico possui
quatro subseções: “Articulação de Rede na Internação Provisória”, “Articulação de Rede na
Internação Sanção”, “Articulação de Rede na MSE de Semiliberdade”, e, “Articulação de
Rede na MSE de Internação”. Em cada subseção, são explicitadas as peculiaridades do
atendimento socioeducativo e os objetivos da articulação da rede.
Durante o processo de construção da presente metodologia, a DAF pode contar com a
realização de pesquisa de campo, realizada por estudante da Fundação João Pinheiro, na qual
os diretores de atendimento dos Centros Socioeducativos de Internação Provisória e
Internação, os diretores gerais das Casas de Semiliberdade e representantes das equipes
técnicas, foram convidados a externar suas percepções acerca do trabalho em rede,
enfatizando as expectativas em relação à nova metodologia. Tal pesquisa utilizou como
amostra as unidades de Belo Horizonte e da região metropolitana (Sete Lagoas e Ribeirão das
Neves), de modo que, mesmo não sendo possível abranger todas as unidades socioeducativas
do Estado, acredita-se que as questões levantadas sejam pertinentes à política de atendimento
ao adolescente em cumprimento de MSE privativas de liberdade, de modo que a metodologia
oriente sobre os aspectos mais problematizados. Espera-se que a Metodologia de Articulação
da Rede e Garantia de Direitos possa, de fato, contribuir e enriquecer o trabalho realizado
8
pelas equipes, resultando em ações eficientes e em acesso qualificado do adolescente e seus
familiares aos serviços da rede.
1
O organograma da Subsecretaria de Atendimento Socioeducativo pode ser consultado no Anexo 1 desta
Metodologia.
9
aqueles oriundos de outros municípios, de modo que a família seja coparticipante do
processo pedagógico desenvolvido no programa de atendimento socioeducativo;
IV – promover e orientar ações de atendimento às famílias dos adolescentes
estruturadas em conceitos e métodos que assegurem o acesso às políticas públicas
aos integrantes do núcleo familiar;
V – elaborar, coordenar, orientar e acompanhar a implementação da metodologia de
articulação, em âmbito técnico, da rede de atendimento social público e comunitário
para encontrar soluções e encaminhamentos das necessidades dos adolescentes e
seus familiares;
VI – promover aos adolescentes o pleno acesso ao exercício da cidadania. (MINAS
GERAIS, 2016)
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Como instrumentos orientadores para o trabalho das equipes socioeducativas, a DAF
teve a incumbência de produzir a presente metodologia, bem como a Metodologia de
Atendimento à Família, e ainda, formulou o Catálogo de Rede, que sistematiza as
informações acerca dos principais serviços e equipamentos que compõem a rede estadual de
atendimento social, partindo do mapeamento das próprias unidades socioeducativas e
complementando com outras informações pertinentes.
Espera-se que o processo de trabalho com as famílias e a rede possam se tornar
organizados e dinâmicos, nos permitindo rever e construir fluxos e modos de trabalho, não
abstendo da premissa do caso a caso. É possível construir política por meio de um caso, de
uma situação ou mesmo de uma inquietação cotidiana. O trabalho em rede nos ensina isto!
3 ARTICULAÇÃO DE REDE
11
atendimento integrado, evitando a fragmentação e/ou a sobreposição das ações.
(BRASIL, 2011, p.63)
O trabalho de articulação da rede deve primar por uma conexão que envolve: a
formação dos atores da rede, o alinhamento entre os serviços e a interação constante entre os
diversos parceiros. Outra premissa norteadora da atuação em rede nas MSE está no princípio
da incompletude institucional.
Logo, tem-se a articulação de parcerias como um dos pontos centrais, visto que as
instituições socioeducativas não podem se fechar em si mesmas, já que a lógica da
incompletude institucional nos aponta que o trabalho durante o cumprimento da medida passa
por vários atores. Dessa maneira, a articulação em rede deve ser pensada como dispositivo de
intervenção no posicionamento do adolescente diante da prática infracional. Prevê, tanto uma
postura compatível com a doutrina da proteção integral (ao possibilitarmos aos adolescentes o
acesso aos mais diversos direitos em sociedade) quanto a aposta no enlace do adolescente
com outros atores na cidade. Podemos vislumbrar, na articulação em rede, duas dimensões de
trabalho: a institucional e a subjetiva.
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No âmbito institucional, a DAF possui lugar estratégico, mas é necessário que cada
unidade socioeducativa posicione-se como um ponto na rede. Para tanto, torna-se essencial
conhecer os parceiros e estabelecer fluxos com as parcerias, de modo a estreitar a relação
entre as instituições para otimizar o fluxo de atendimento aos adolescentes. Em um primeiro
momento, as parcerias necessárias para o cumprimento dos eixos da medida socioeducativa,
bem como os dispositivos de garantia de demais direitos, devem ser delimitadas. Entendem-se
como parcerias todos os serviços, parceiros e colaboradores que, formal ou informalmente,
influenciam e participam do cumprimento da medida socioeducativa. Como exemplo,
podemos citar a rede de assistência social, entre outros.
Outro ponto que deve ser considerado na articulação com os serviços da rede é o
cuidado que a equipe socioeducativa precisa manter em relação às informações repassadas aos
parceiros. Não se trata de omitir informações, mas de transmiti-las a partir de pareceres
técnicos cautelosos, que possibilitem o entendimento do caso e a construção de
encaminhamentos, sem expor os adolescentes e suas referências familiares, dado o caráter
sigiloso da justiça da infância e da juventude.
Diante da delimitação das parcerias, a unidade socioeducativa deve sistematizar uma
série de informações que são cruciais para a relação desses atores. Tal sistematização, vamos
denominar de Mapeamento. Mapear as parcerias tem o intuito de compreender as articulações
estabelecidas pelas unidades com os diversos serviços e entidades da cidade. Um mapeamento
de parcerias envolve: nome do parceiro, área de atuação, público-alvo, breve descrição da
metodologia de atendimento (o que oferece, como oferece, formas de acesso). Esta
sistematização de informações requer uma organização da unidade, tanto para sua elaboração
quanto para constantes atualizações.
Mapear a rede de parceiros, serviços e colaboradores articulados formal e
informalmente, pela medida socioeducativa, nos auxilia a compreender os pontos de alcance e
impasse na articulação de parcerias; a compreender como estes fatores influenciam e
interferem no atendimento e cumprimento de medida dos adolescentes e a reconhecer
aspectos que demandam articulação e formalização de parcerias pelos gestores.
De modo geral, o mapeamento institui as parcerias, ou seja, é um trabalho de
construção de um laço institucional da unidade socioeducativa com cada ponto da rede,
despersonalizando os avanços da unidade – servindo de base para articulação da instituição,
de modo que o sucesso das articulações passa a independer de quem as efetivam, pois a
relação estabelecida com os atores foi construída de instituição para instituição, e não de uma
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pessoa para outra. Em outro aspecto, o mapeamento nos convoca a saber mais sobre o papel
dos parceiros e o seu modo de atuação, ilustrando de fato onde devemos avançar ou aprimorar
a articulação, pelas lacunas que eventualmente surgem.
Cabe ressaltar que a Diretoria de Abordagem Familiar e Articulação de Rede Social
tem a função de contribuir no mapeamento no que cabe aos aspectos que demandem
articulação e formalização de parcerias entre os gestores da unidade socioeducativa. Ressalta-
se que esta configuração não exclui a participação técnica no processo, no entanto, é
importante salientar a responsabilidade da DAF no que diz respeito ao diálogo com a rede de
atendimento socioassistencial, bem como a atribuição do diretor de atendimento de
“promover e organizar articulações de parcerias para qualificação do atendimento ao
adolescente” e do diretor geral de “articular e representar institucionalmente a unidade nos
espaços políticos, institucionais, entre outras” (SUASE, 2014).
A articulação com os parceiros deve visar à consistência das conexões pretendidas.
Não se trata apenas de encaminhar o adolescente, mas de vislumbrar o seu aproveitamento
neste encaminhamento. Assim, ambos os parceiros devem se debruçar sobre essa questão,
despertados pela iniciativa das unidades socioeducativas. Precisamos lançar mão do diálogo,
eventualmente da flexibilização de critérios, visando à ampliação das possibilidades com o
parceiro e um impacto destas conexões sobre o processo de cumprimento de medida dos
adolescentes.
A lógica dos encaminhamentos deve sempre se pautar no fluxo de referência e
contrarreferência, o que estabelece um trabalho conjunto e contínuo com os atores. Portanto,
um ponto de extrema importância nesta relação é o cuidado com as parcerias, o qual envolve,
desde a articulação para inserção do adolescente e de sua família na rede, o acompanhamento
dos efeitos e dos possíveis impasses, tanto para a inserção, quanto para continuidade no
serviço durante a medida socioeducativa, até a preparação do desligamento do adolescente da
MSE. Processos estes que perpassam, naturalmente, os resultados da articulação no
cumprimento da medida. E é neste ponto que incide a dimensão subjetiva da articulação com
a rede.
A articulação da rede deve levar em consideração o sujeito ao qual deverá atender, e a
construção de intervenções deve considerar a sua história e a trajetória até chegar a MSE. Nas
medidas socioeducativas de semiliberdade e internação a construção do Plano Individual de
Atendimento (PIA), permite que o adolescente e a família apresentem o seu percurso na
cidade através do levantamento dos equipamentos e serviços por onde passaram. Neste
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sentido, o instrumento nos possibilita identificar a compreensão que cada indivíduo possui
dos seus direitos e deveres, bem como a sua capacidade de buscar auxílios que poderão
intervir em sua condição.
A dimensão subjetiva da articulação de rede é o que permite que o adolescente seja
protagonista das ações e não apenas o objeto da intervenção. É importante tomar a prática do
estudo de caso como um espaço de discussão que envolve, avaliação e construção de cada
articulação realizada, o que convoca cada ator envolvido a medir se a inserção do adolescente
no fluxo das conexões construídas e sustentadas pelas medidas possibilita, de fato, que este se
reconheça no uso dos aparatos sociais, proporcionando a formação de vínculo com demais
equipamentos sociais e o exercício da cidadania. Considerando recursos metodológicos como
os atendimentos, o PIA, os estudos de caso e a construção técnica do caso, aliado ao caráter
subjetivo do trabalho em rede, concluímos que a rede social deve ser pensada para cada
adolescente e com cada um deles.
Uma rede comporta os enlaçamentos do adolescente com a cidade, parentes, amigos e
instituições. Cada sujeito imprime na sua rede uma dinâmica que lhe é própria, devendo ser
levada em consideração no momento de trilhar com o adolescente seu caminho pelos
territórios construídos e reconstruídos na medida socioeducativa. Na prática, precisamos
pensar o que é possível introduzir nesses fluxos para que o adolescente participe e adquira
certa experiência, manejo e desenvoltura na rede. O técnico oferece o serviço, mas será que é
possível de algum modo que alguns pontos do fluxo sejam articulados pelos adolescentes e/ou
família? Esta é uma pergunta que não pode se ausentar do trabalho de articulação em rede.
Faz-se necessário que as unidades socioeducativas se percebam não apenas como
“articuladores da rede”, mas também e, principalmente, como facilitadores do acesso do
adolescente e seus familiares aos serviços que compõem a rede, de modo que, uma vez
finalizada a medida, o adolescente e sua família tenham estabelecido vínculos suficientemente
autônomos com a rede, de maneira que o acesso aos serviços não seja interrompido.
Vale ressaltar que a formação de rede é um processo dinâmico, acontecendo a todo
instante, na composição e decomposição de novos territórios. Logo, é um trabalho que não
tem início, meio e fim, mas é contínuo e exige da unidade, a cada caso, novas articulações.
É importante chamar a atenção para a importância do registro das informações em
relação às ações de articulação. Tal prática deve ser parte da rotina das equipes, de modo que
na ausência do profissional que realizou as articulações ou mesmo na hipótese de
transferência do adolescente de uma unidade para outra, os avanços alcançados no trabalho
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com a rede não se percam, que os encaminhamentos não sejam interrompidos e as relações
com a rede não sejam descontinuadas.
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assegurados na legislação pertinente à criança e ao adolescente e nas demais leis destinadas à
sociedade em geral.
Diante disso, o trabalho de acionar e articular a “rede” deve ter por objetivo maior a
criação de estratégias que possam viabilizar e garantir aos adolescentes e seus familiares o
acesso aos serviços, programas e projetos que possibilitem sua inserção qualificada nas
políticas públicas. Ao finalizar a MSE, espera-se que o adolescente possa dar continuidade à
sua vida com autonomia, acesso a oportunidades diversas das que teve até ser judicialmente
restrito ou privado de liberdade e tendo reais possibilidades de fazer escolhas que viabilizem
sua desvinculação da dinâmica infracional. Espera-se, ainda, que o trabalho em rede possa ter
evoluído o bastante para que a família esteja suficientemente fortalecida para apoiar o
adolescente neste processo.
Na prática, o trabalho em rede no contexto socioeducativo é um grande desafio para as
instituições executoras das medidas, pois não raras são as vezes em que o público alvo do
trabalho, o adolescente autor de ato infracional, sofre os efeitos decorrentes da própria prática
que lhe acarretou a aplicação da medida socioeducativa, sendo “mal visto” e “indesejado”
pela sociedade em geral e, às vezes, pelos próprios representantes das políticas públicas.
Entretanto, o SINASE tem como um dos princípios norteadores da execução das MSE
privativas de liberdade a Incompletude Institucional, que pressupõe exatamente que as
unidades socioeducativas façam o movimento de construir a inclusão ou a reinserção social
dos adolescentes “para além dos muros”, promovendo o acesso desses aos serviços prestados
pelas diversas políticas públicas fora do ambiente e do espaço físico das instituições. Neste
sentido, o SINASE, pontua que:
A operacionalização da formação da rede integrada de atendimento é tarefa essencial
para a efetivação das garantias dos direitos dos adolescentes em cumprimento de
medidas socioeducativas, contribuindo efetivamente no processo de inclusão social
do público atendido. (SINASE, 2007, p. 31)
Diante disso, está posto o papel articulador e mediador das unidades socioeducativas,
que no desenvolver do seu trabalho terão a incumbência de identificar, reunir, sensibilizar e
agregar as instituições representantes das diversas políticas setoriais que possam compor a
rede de atendimento ao adolescente. Conforme as orientações técnicas para os CRAS, uma
articulação intersetorial:
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Neste ponto reside um desafio fundamental para as unidades socioeducativas, pois via
de regra, os adolescentes atendidos pelas MSE são sujeitos que possuem em sua trajetória de
vida o “desenlace” com as políticas públicas como uma constante. Desta maneira, quando não
estiveram totalmente excluídos do acesso aos serviços, programas e projetos sociais, eles
possuem uma passagem precária por esses, marcada por vínculos extremamente fragilizados,
o que, frequentemente, se reproduz na relação de seus familiares com os equipamentos da
rede.
Diante de tal situação, sendo as unidades socioeducativas um dos “nós” que compõe a
rede de atendimento ao adolescente em cumprimento de medida, tais instituições têm por
responsabilidade a busca pela construção e manutenção de espaços e de formas de
comunicação com os atores da rede. O objetivo é que suas ações possam ser coordenadas e
tenham um efeito construtivo para o adolescente e seus familiares, durante e após o
cumprimento da medida, reconhecendo e destacando a importância da continuidade do
atendimento após a finalização da medida socioeducativa.
Deve-se primar pelo cuidado com os atores que compõem a rede de atendimento ao
adolescente, de modo que serviços, instituições e indivíduos que tem a responsabilidade de
colaborar com o desenvolvimento do trabalho sejam tratados de forma adequada, garantindo-
se a participação democrática e horizontalizada nos espaços de discussão. Na construção
coletiva é essencial assegurar o respeito às abordagens e perspectivas diferentes, sem, no
entanto, preterir o objetivo maior do trabalho em rede que é a garantia de direitos ao
adolescente pela sua inclusão qualificada nas políticas públicas pertinentes ao caso.
O trabalho cuidadoso em relação aos parceiros da rede precisa ser realizado
permanentemente, pois toda rede está sujeita a conflitos e pontos de negação e de
inflexibilidade, tendo em vista que a experiência nos mostra que a trajetória infracional do
adolescente pode romper ou fragilizar seus laços com a rede social. Diante desse impasse
reside a importância das articulações institucionais com a participação da direção das
unidades e do núcleo gerencial da SUASE, por meio da Diretoria de Abordagem Familiar e
Articulação da Rede Social. Ademais, deve-se pensar na formação continuada da rede, de
modo que, para além das discussões de caso, haja momentos em que os parceiros se reúnam
para trabalhar a qualificação de todos os atores da rede, promovendo espaços para troca de
experiências e para a transmissão de conhecimento acerca dos serviços, de forma que a equipe
socioeducativa apresente o trabalho da unidade aos parceiros e os parceiros apresentem seu
trabalho à unidade.
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Para potencializar os efeitos dessa articulação é necessário que seja estabelecido um
fluxograma para subsidiar o relacionamento entre os serviços, e esse deve funcionar
de maneira a criar diversas estratégias, entre elas, reuniões, capacitações, eventos,
palestras, fóruns, enfim qualquer instrumento que exija integração entre as equipes
que atuam na rede. (BRASIL, 2011, p.63)
É importante, ainda, destacar que a rede possui caráter dinâmico e flexível, de modo
que no decorrer do trabalho, considerando os avanços e os limites das ações e dos
encaminhamentos realizados, podem ocorrer transformações na rede. A inserção de novos
atores colabora na atuação sobre aspectos que não tinham sido observados inicialmente, ou
que já vinham sendo trabalhados, mas não avançaram o bastante, demonstrando a necessidade
de ser aprimorados. Para tanto, avaliar o trabalho em rede deve ser uma prática periódica que,
assim como a construção de encaminhamentos, envolve a participação de todos os atores.
Em relação ao acionamento dos equipamentos da rede socioassistencial, este pode
ocorrer de formas diversas, dependendo das peculiaridades e do andamento do caso. Contatos
telefônicos, contatos virtuais (via e-mail), estudos de caso, visitas técnicas institucionais2,
entre outras, são formas de que a unidade socioeducativa pode se utilizar para conversar com
os serviços. Entretanto, importa destacar que à medida que o acompanhamento do adolescente
evolui, as articulações tendem a ser intensificadas e os contatos tendem a ocorrer de forma
mais direta, de maneira que os contatos telefônicos e virtuais devem se tornar meios para a
articulação de espaços de discussões, tais como visitas institucionais, reuniões e estudos
realizados presencialmente, essenciais para o fortalecimento da parceria estabelecida.
Pensando-se no cuidado e na valorização dos parceiros, orienta-se que, sempre que for
possível, as reuniões e estudos com os equipamentos sejam realizadas nas sedes dos serviços
e que a unidade socioeducativa se organize para comparecer ao local com pontualidade.
Quando não for possível os encontros no território, é importante considerar a disponibilidade
de recursos e de deslocamento do parceiro, para que a demanda da unidade socioeducativa
não comprometa o funcionamento do serviço.
Para avançarmos na discussão da “Articulação da rede” se faz necessária a
contextualização dos serviços que perpassam a rede de atendimento ao adolescente. A seguir,
trazemos a descrição de serviços de proteção social disponíveis no Sistema Único de
Assistência Social, aqueles que compõem o Sistema de Garantia de Direitos, bem como
outros que também podem ser convidados a compor a rede, nos casos em que assim for
necessário.
2
As visitas técnicas institucionais devem ser registradas no Formulário de Visita à Rede que encontra-se no
Anexo 2 desta metodologia
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4.1 A ASSISTÊNCIA SOCIAL E OS SERVIÇOS DE PROTEÇÃO SOCIAL
A Constituição Federal de 1988 deu status de direito garantido a diversas ações que até
então eram executadas no Brasil na perspectiva das benesses e da caridade. Dentre tais ações,
a Carta Magna prevê a Assistência Social como direito da população que dela necessita e
como dever do Estado, de modo que nos artigos 203 e 204 estão postas as definições do
público-alvo, os objetivos, as diretrizes, os princípios e as ações que tal política abarca. Em
1993 foi publicada a Lei 8.742, a Lei Orgânica da Assistência Social que foi alterada
posteriormente pela Lei 12.435 de 2011. A LOAS, como ficou conhecida a Lei 8.742/93,
regulamenta e detalha a forma de organização da Política de Assistência Social. Destaca-se,
dentre outros aspectos, que a LOAS pontua o caráter não contributivo da política e a
necessidade de que haja a sua integração com as demais políticas setoriais para o atendimento
das necessidades básicas das pessoas atendidas.
Em 2004, após a realização de vários eventos para discussão dos aspectos pertinentes à
política de Assistência Social, dentre os quais as Conferências Nacionais de Assistência
Social que envolveram instâncias estatais e da sociedade civil, o Conselho Nacional de
Assistência Social aprovou a Política Nacional de Assistência Social, que criou um modelo
unificado de gestão para a Assistência Social, o chamado Sistema Único de Assistência Social
(SUAS), vigente desde o ano de 2005.
A partir de então, a Assistência Social, política responsável pela garantia da Proteção
Social3, passou a trabalhar numa perspectiva descentralizada e com a prestação de serviços
hierarquizados, de acordo com a complexidade.
Desta forma, o Sistema único de Assistência Social (SUAS), atualmente se divide da
seguinte forma:
SUAS
3
Garantia de inclusão a todos os cidadãos que se encontram em situação de vulnerabilidade e/ou em situação de
risco
20
A articulação entre o sistema socioeducativo e os serviços socioassistenciais contribui
para a troca de conhecimento e enfrentamento das vulnerabilidades sociais, como também
para a identificação e fortalecimento das potencialidades dos membros da família. É
importante que a equipe socioeducativa responda às situações ligadas à vulnerabilidade e
risco social do adolescente e de sua família através de ações articuladas com a rede
socioassistencial, evitando ações fragmentadas entre as Políticas Públicas.
Importa destacar que a proteção social básica tem por princípio a organização do
serviço com base territorial. De modo que a localização física do equipamento é determinada
com base nos altos índices de vulnerabilidade e risco social dos territórios. Os equipamentos
responsáveis pela prestação dos Serviços pertinentes à Proteção Social Básica são os Centros
de Referência de Assistência Social (CRAS).
O Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) é uma unidade pública estatal
descentralizada da política de assistência social, responsável pela organização e
oferta de serviços da proteção social básica do Sistema Único de Assistência Social
(SUAS) nas áreas de vulnerabilidade e risco social dos municípios e DF. Dada sua
capilaridade nos territórios, se caracteriza como a principal porta de entrada do
SUAS, ou seja, é uma unidade que possibilita o acesso de um grande número de
famílias à rede de proteção social de assistência social. (BRASIL, 2009, p.9)
21
A atuação dos CRAS tem por objetivos “[...] fortalecer a função protetiva da família,
prevenir a ruptura dos seus vínculos, promover seu acesso e usufruto de direitos e contribuir
na melhoria de sua qualidade de vida.” (PORTAL PBH, 2017).
Para tanto, várias estratégias estão previstas no repertório de ações dos CRAS, tais
como “[...] atividades coletivas como palestras, oficinas, campanhas, reuniões e grupos de
reflexão, além de atendimento individual, visitas domiciliares e institucionais [...]”
(PORTAL PBH, 2017).
Na perspectiva do atendimento socioeducativo, a articulação da unidade
socioeducativa com os equipamentos da Proteção Básica é extremamente importante, visto
que frequentemente os CRAS possuem conhecimento acerca do território de origem dos
adolescentes, bem como acerca da situação social da família, sendo que em alguns casos a
família é previamente acompanhada.
A articulação com os CRAS tem papel fundamental na busca de informações sobre a
família do adolescente e para a construção conjunta de intervenções entre as medidas
socioeducativas privativas de liberdade e a Assistência Social. Por se tratar de um dispositivo
público de base territorial, além de promover a organização e articulação da rede
socioassistencial e de outras políticas, a inserção do adolescente e de sua família no CRAS
auxilia na construção de identidades, no processo de pertencimento ao local, além de
contribuir para o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.
Embora a vulnerabilidade faça parte do perfil do público das medidas socioeducativas,
não raramente nos deparamos com tais situações: adolescentes e seus familiares
desconhecidos pelos equipamentos, assim como, adolescentes e seus familiares que
desconhecem a rede. Ao identificar situações como essas, é importante que a equipe técnica
avalie em conjunto com a família a possibilidade de acionamento do serviço, de modo que
este seja apresentado e que ela seja orientada quanto às formas de acesso antes do
encaminhamento. Paralelo à apresentação do serviço à família, o CRAS deve ser
periodicamente informado dos casos pertencentes ao seu território e que foram admitidos na
unidade socioeducativa.
Na PNAS estão elencados os serviços ofertados pela Proteção Social Básica através
dos Centros de Referência de Assistência Social, aos quais de acordo com a demanda, os
adolescentes e suas famílias poderão ser encaminhados. De acordo com a PNAS (2005), são
serviços que “[...] potencializam a família como unidade de referência, fortalecendo seus
vínculos internos e externos de solidariedade, através do protagonismo de seus membros e da
22
oferta de um conjunto de serviços locais que visam a convivência, a socialização e o
acolhimento, em famílias cujos vínculos familiar e comunitário não foram rompidos, bem
como a promoção da integração ao mercado de trabalho...”. Tais serviços se encontram
listados na Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais (2013), sendo eles:
23
Conforme a lógica da hierarquização dos serviços socioassistenciais previstos na
PNAS, a Proteção Social Especial foi subdivida em duas modalidades, a saber: Proteção
Social de Média Complexidade e Proteção Especial de Alta Complexidade.
A Proteção Especial de Média Complexidade atua em casos em que indivíduos e/ou
famílias encontram-se em situação de violação de direitos, mas em que o vínculo familiar e/ou
comunitário não foi completamente rompido, de modo que as ações desenvolvidas são no
sentido de fortalecer e retomar os vínculos e promover a reinserção dos sujeitos. Neste
sentido, a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais elenca as seguintes estratégias
de trabalho:
24
São serviços que compõem a Proteção Especial de Alta Complexidade:
25
quanto à necessidade do acolhimento institucional. Uma vez acionada, a Vara Infracional
procederá no sentido de oficiar a Vara Cível da Infância e da Juventude.
Tal fluxo não se aplica aos adolescentes de outros municípios e àqueles acautelados
provisoriamente. No que diz respeito aos desligados das medidas de internação e
semiliberdade de outros municípios, não existe um fluxo firmado até o momento. Nos casos
de adolescentes desligados da internação provisória, a equipe da unidade deve informar a
situação de inexistência de referência familiar à Vara Infracional, por meio de relatório, a fim
de que, caso o adolescente seja desligado sem aplicação de alguma medida socioeducativa, o
judiciário possa prosseguir com os tramites para o acolhimento institucional do adolescente.
4
Vide Anexo 3
26
Delegacias Especializadas, Defensorias Públicas, Varas e Promotorias Especializadas da
Infância e da Juventude e os Centros de Defesa da Criança e do Adolescente.
O Sistema de Garantia de Direitos possui três eixos que são norteadores da atuação das
entidades que dele fazem parte, a saber: Eixo da Promoção dos Direitos, que agrega todas as
ações do poder executivo que promovem a efetivação dos direitos (saúde, educação,
assistência social, etc.); o Eixo do Controle e Efetivação do Direito, em que as ações são
realizadas tendo em perspectiva o controle social em relação à efetivação dos direitos de
crianças e adolescentes; e o Eixo da Defesa dos Direitos Humanos, que abrange as instituições
que atuam na defesa dos direitos de crianças e adolescentes.
Embora seja importante que o trabalho socioeducativo esteja atento a todos os eixos
do Sistema de Garantia de Direitos, na prática, as articulações ocorrem com maior frequência
e intensidade com as instituições do eixo da Defesa dos Direitos Humanos. O artigo 6º da
resolução do CONANDA delimita do que trata tal eixo, afirmando que ele
No artigo 7º a resolução trata dos órgãos que compõem a frente de trabalho no Eixo da
Defesa dos Direitos Humanos, sendo eles:
27
As articulações com as instituições do Sistema de Justiça devem ser realizadas na
perspectiva de se garantir ao adolescente o acesso à justiça conforme previsto no art. 141 do
Estatuto da Criança e do Adolescente, no qual se prevê “Art. 141. É garantido o acesso de
toda criança ou adolescente à Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário,
por qualquer de seus órgãos.” (BRASIL, 1990)
Para além das instituições do Sistema de Justiça, o Conselho Tutelar se destaca como
órgão do SGD que é de grande relevância na articulação da rede no contexto socioeducativo,
pois, não raramente, os conselheiros conhecem os adolescentes e seus familiares, possuindo
informações acerca da trajetória de vida e das situações de vulnerabilidade e risco social a que
a família está submetida, tendo o dever “zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do
adolescente” definidos no Estatuto da Criança e do Adolescente. (BRASIL, 1990)
O Conselho Tutelar é um órgão que compõe o Sistema de Garantia de Direitos da
Criança e do Adolescente e possui previsão legal na Lei 8069/90 (Estatuto da Criança e do
Adolescente). O Estatuto da Criança e do Adolescente preconiza que todos os municípios
brasileiros tenham ao menos um Conselho Tutelar instituído, de modo que tal órgão atue na
defesa dos direitos de crianças e adolescentes na perspectiva da descentralização político-
administrativa e da municipalização do atendimento.
Deste modo, o Ministério Público de Minas Gerais divulgou uma cartilha informativa
sobre o Conselho Tutelar, na qual reitera que os conselhos tutelares são órgãos municipais que
têm “por função primordial representar a sociedade na proteção e garantia desses direitos,
no âmbito municipal. Deve ser o braço forte da sociedade para promover ações que busquem
prevenir e impedir situações de risco para crianças e adolescentes.” (CAODCA/MG)
De acordo com a referida cartilha que foi intitulada “Conselho Tutelar Perguntas e
Respostas” e publicada através do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de
Defesa dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes do Estado de Minas Gerais
(CAODCA/MG), o Conselho Tutelar:
A família é uma das instituições responsáveis pela efetivação dos direitos da criança e
do adolescente, sendo a que, primordialmente, desenvolve as funções de cuidado e proteção
29
para este público. A Constituição Federal de 1988 define como responsabilidade da família,
da sociedade e do Estado a garantia do bem-estar de crianças e adolescentes, evidenciando o
caráter prioritário e integral da atenção a esses. Conforme expresso no artigo 227 da referida
lei:
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao
adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) (BRASIL,
1988).
31
processo de responsabilização. Desta forma, as equipes técnicas desempenham papel de suma
importância no que concerne ao processo de sensibilização da família para comprometer-se
com a MSE. Isto pode ocorrer de forma imediata, quando há informações corretas sobre a
localização e formas de contato com a família, facilitando que ela se faça presente desde o
início da MSE. Por outro lado, pode se constituir em um grande desafio, quando tais
informações não acompanham o adolescente, quando a família não se coloca disponível ou
não exerce sua função protetiva.
Nos casos em que o adolescente é acautelado provisoriamente ou em que ele recebe
MSE restritiva ou privativa de liberdade, mas a equipe técnica da unidade não consegue de
imediato o contato e a localização da família, é importante que se tracem estratégias para este
fim. Desta forma, é essencial que sejam realizadas articulações com a rede de serviços
disponíveis no território de residência do adolescente e de sua família, de modo que os
equipamentos públicos e comunitários possam colaborar na busca por seus familiares.
Reconhecendo a importância da participação da família no acompanhamento da MSE,
durante as discussões que deram embasamento para a revisão da Metodologia de Atendimento
à Família, foram debatidos e desenhados fluxos para nortear a busca pela família dos
adolescentes acautelados através da articulação com os equipamentos da rede, de modo que o
objetivo de tais é agilizar a localização dos familiares para que eles se façam presentes na
MSE o mais rapidamente possível, entendendo que a participação familiar é essencial para o
processo de responsabilização do (a) socioeducando (a).
Cabe ressaltar que esses fluxos desenhados para as medidas socioeducativas com o
objetivo de orientar o trabalho com os adolescentes sem contato familiar, também contribuem
para o trabalho com as famílias que não exercem função protetiva, ou seja, não se
corresponsabilizam e nem participam do cumprimento da medida socioeducativa. Destaca-se
que os fluxos servem para orientar o trabalho, mas que as equipes devem manter a autonomia
para desempenhar outras ações, tendo em vista que, ocasionalmente, os direcionamentos neles
presentes podem não ser suficientes para alcançar o objetivo ao qual se prestam, sendo
necessárias outras intervenções, de modo que a existência destes fluxos não deve engessar o
trabalho.
Desta forma, apresenta-se a seguir as orientações acerca dos fluxos, conforme
discutido na Comissão de Revisão da Metodologia de Atendimento à Família.
32
4.3.1.1 Orientações gerais para o fluxo – Adolescentes sem contato familiar
Quando for necessário colher informações sobre a família com a rede, pois o
adolescente está sem contato, além do contato telefônico, devem-se utilizar
instrumentos5 que formalizem o pedido de informações pela unidade sobre
acompanhamentos ou atendimentos realizados com o adolescente e sua família. Nestes
instrumentos deve estar especificada a instituição socioeducativa a qual está se
representando e, brevemente, a contextualização do trabalho realizado na medida
socioeducativa, de forma a esclarecer aos serviços que irão disponibilizar as
informações.
A articulação da rede não é hierarquizada, ou seja, não tem uma ordem quanto aos
serviços que devem ser acionados. Portanto, cada caso guiará quais serviços e
equipamentos serão acionados.
A busca ativa através da visita domiciliar deve ser utilizada como um recurso para o
trabalho na falta de contato com a família, com o objetivo de levantar possíveis
referências do adolescente, iniciar o trabalho de sensibilização da família e conhecer
os equipamentos da rede.
Caso a rede apresente atrasos ou dificuldades para enviar informações, como também
nos momentos em que forem necessárias articulações para construção do caso,
orienta-se que a equipe realize uma visita institucional e/ou proponha a realização de
um estudo de caso com os serviços da rede.
A Diretoria de Abordagem Familiar e Articulação de Rede Social da SUASE deve ser
acionada pela equipe socioeducativa em caso de dificuldade na localização de
familiares, como aparato gerencial para articulação de fluxos institucionais com os
municípios, no que compete aos serviços territoriais, assim como quando houver
empecilhos na articulação da rede.
As dificuldades de inserção e acompanhamento dos adolescentes e seus familiares, em
serviços, programas e equipamentos da rede, mesmo após articulações permanentes,
devem ser informadas no PIA e/ ou nos relatórios de acompanhamento da medida.
Quando a unidade não consegue contato com a família, a rede de saúde pode ser
acionada como parceira no processo de busca. Neste caso, os equipamentos da
Atenção Primária terão mais condições de ofertar informações sobre a família por ser
5
Vide anexo 4.
33
um serviço territorializado, mas o contato com a rede de saúde pode ser estendido, de
acordo com o caso.
Em relação aos adolescentes que apresentem trajetória de vida nas ruas e que não
possuam contato com a família, a unidade deve ampliar a rede de proteção ao
adolescente, através do acionamento dos serviços de proteção à pessoa em situação de
rua disponíveis no município, tais como: a Abordagem Social6; CREAS POP7;
Consultório de Rua8; o Centro POP Miguilim9 (presente em Belo Horizonte) e
serviços similares.
Quando o adolescente ainda continua sem contato familiar, mesmo após as
intervenções, articulações e ações realizadas, a equipe técnica deve informar ao
Judiciário, por meio de relatório circunstanciado, as dificuldades encontradas para
realizar contato com a família, assim como para corresponsabilizá-la, além de
contextualizar o trabalho realizado pela unidade para garantir a convivência familiar
do adolescente. Além disso, o Conselho Tutelar de referência do território do
adolescente deve ser informado oficialmente. Especificamente, na internação
provisória, esse informe deve ser formalizado nos relatórios que são protocolados para
as audiências, mantendo a informação oficial ao Conselho Tutelar.
6
A Abordagem Social é um serviço da Proteção Social Especial da Política de Assistência Social,
atende ou acompanha pessoas de qualquer faixa etária, inclusive crianças e adolescentes que se
encontram em trajetória de vida nas ruas. O método de trabalho mais presente é a busca ativa e o
acompanhamento dos usuários no ambiente da rua. Em Belo Horizonte o serviço conta com equipes
para cada regional, sendo garantido atendimento em turnos alternados entre manhã, tarde e noite.
7
O CREAS POP é um serviço que oferta ao público em situação de vida nas ruas atendimento,
orientação individual e grupal, atividades direcionadas para o desenvolvimento de sociabilidades.
Espaço para guarda de pertences, higiene pessoal, alimentação, provisão de documentação e endereço
institucional para utilização como referência.
8
O Consultório na rua é uma estratégia da Política de Saúde com vistas a ofertar os serviços básicos de
saúde para as pessoas em situação de vida nas ruas, de modo que equipes multiprofissionais que
desenvolvem ações integrais de saúde frente às necessidades dessa população.
9
O Centro Pop Miguilim caracteriza-se por ser um serviço de retaguarda da Abordagem Social, pois
este que realiza o acompanhamento psicossocial mais sistemático, ou seja, no ambiente da rua. Destina-
se a crianças e adolescentes de 7 a 17 anos que se encontram em trajetória de vida nas ruas. No local, o
público alvo tem acesso à garantia de necessidades básicas, como alimentação e higiene pessoal. O local
também conta com oficinas e demais atividades, além de contar com uma equipe técnica formada por
uma psicóloga e uma assistente social que realiza o acompanhamento psicossocial, principalmente
voltada para a articulação da rede social. As informações sobre funcionamento e localização do Centro
Pop Miguilim constam no Catálogo de Rede.
34
4.3.1.2 Orientações no caso de adolescentes que fizeram contato familiar, mas que essas
não exercem função protetiva.
35
sensibilização da família para o exercício de suas responsabilidades em relação ao
adolescente. No entanto, quando as ações desenvolvidas não alcançam seus objetivos,
caracterizando a ausência de referência familiar e impossibilidade de retorno ao convívio, a
unidade socioeducativa deve avaliar, em conjunto com a rede, a necessidade de sugestão de
medida protetiva para acolhimento institucional.
Sendo este o caso, a equipe deverá dar ciência dessa demanda nos relatórios
encaminhados à Vara Infracional, a qual acionará a Vara Cível da Infância e Juventude da
comarca de origem do adolescente, caso ela corrobore com a avaliação da equipe
socioeducativa. Em Belo Horizonte, as unidades devem observar o fluxo de encaminhamento
para o Acolhimento Institucional estabelecido a partir das discussões da Comissão de
Convivência Familiar e Participação da Família na Medida Socioeducativa, a qual integra o
Fórum Permanente do Sistema de Atendimento Socioeducativo de Belo Horizonte.
4.3.1.4 Fluxo para Acionamento da Rede Social nos casos de adolescente sem contato
familiar
36
Adolescente
Chega na Unidade
Internação Provisória/Semiliberdade/
Internação
Acolhida
Sim Não
Agendamento da Visita.
Orientação sobre o local, funcionamento da unidade, Contato com a rede Socioassistencial, Rede de Saúde, Conselho
sensibilização para comparecer na unidade, presenças Tutelar, Escolas, Abrigo, Projetos Sociais, Consultório de Rua,
autorizadas. Abordagem Social, etc.
Agendamento de atendimento presencial à família, informar
sobre audiências, levantamento de informações, orientação sobre Levantamento de possíveis referências para o(a) adolescente
a medida. (Amigo, Tio, Vizinho, Etc.); Visita domiciliar.
Sim Não
Agendamento da Visita.
Orientação sobre o local, funcionamento da
Acionar a Diretoria de Abordagem Familiar e unidade, sensibilização para comparecer à
Articulação de Rede Social da SUASE. unidade e orientação sobre quais são as
Informar o Judiciário por meio de relatório. presenças autorizadas.
Informar oficialmente o Conselho Tutelar. Agendamento de atendimento presencial à
família, levantamento de informações,
orientação sobre a Medida.
37
5 PROGRAMAS COMPLEMENTARES DA REDE DE ATENDIMENTO AO
ADOLESCENTE
A atuação em rede como eixo de trabalho de uma política de atendimento, nos
convoca a trazer outros atores para o acompanhamento, de modo que os objetivos sejam
comuns e que os esforços empreendidos para o seu alcance sejam adequados, evitando a
fragmentação de ações e o uso improdutivo de recursos. Soma-se a isto a observação e
avaliação permanente das intervenções, considerando a assertividade dos encaminhamentos
propostos. Compreender que nenhuma política, sozinha, atende as necessidades globais do
indivíduo, justifica, por si só, a articulação da rede.
Para avançarmos nesta discussão apresentamos, a seguir, uma contextualização dos
serviços que perpassam a rede de atendimento ao adolescente.
10
Vide Metodologia do Programa de Acompanhamento ao Adolescente Desligado das Medidas Socioeducativas
de Internação ou Semiliberdade em Minas Gerais – Se Liga.
38
Trata-se de um programa de livre participação, que acompanhará o adolescente por um
período máximo de 1 (um) ano, contado a partir da data de sua inclusão no Programa Se Liga.
O prazo para acompanhamento é baseado no caráter pontual do programa que, ao não se
estender no tempo e à totalidade na garantia dos direitos do adolescente, operando na ótica da
incompletude institucional, permite que ele se vincule aos demais serviços disponíveis na rede.
Logo, o Se Liga se constitui como um suporte ao adolescente, trabalhando para que ele consiga
construir suas escolhas, sem envolvimento com a criminalidade.
A proposta é que cada adolescente possa ser livre para escolher o uso que fará do
programa, considerando os eixos: profissionalização, educação, trabalho e renda, saúde, cultura,
esporte, lazer e família, visando contribuir para o fortalecimento de suas relações sociais. Apesar
de intervir nos mesmos eixos que as medidas socioeducativas, o Se Liga não se constitui como
uma continuidade destas, tanto por ser um programa de livre participação, quanto por não ter
como objeto de trabalho a responsabilização do adolescente por um ato infracional. Assim, os
encaminhamentos e as articulações do Se Liga serão realizados a partir da elaboração em
atendimentos de seus pontos de interesse, levando em consideração a prévia construção e
discussão do caso com a equipe da unidade socioeducativa.
É importante ressaltar que o acompanhamento do adolescente após o seu desligamento
se articula com o seu percurso durante o cumprimento da medida socioeducativa, já que uma
das funções do programa é trabalhar com ele as escolhas realizadas durante a medida
socioeducativa, contribuindo para que possa sustentá-las, quando for o caso.
O Se Liga opera de modo a corroborar a construção de alternativas ao ato infracional,
envolvendo a continuidade das ações iniciadas e/ou apontadas pela Unidade, assim como novas
escolhas do adolescente que surgem diante do desligamento da medida. O trabalho em rede é
ponto crucial do programa, sendo que sua atuação tem foco no território do adolescente, assim
como ocorre durante o trabalho socioeducativo.
39
perspectiva da proteção integral, conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº
8.069, de 13 de julho de 1990) e a Constituição Federal de 1988.
Na cartilha “PPCAAM e as Portas de Entrada: O Ponto de Partida para a Proteção”,
elaborada pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH) em 2014,
define-se que
O PPCAAM trabalha mediante dois pilares: (a) a garantia do direito à vida, através
da retirada imediata do ameaçado de morte do local de risco, transferindo-o para
uma nova localidade, em segurança, e (b) a proteção integral, que inclui a efetivação
da inserção social dos protegidos, através de uma ação intersetorial com o SGD, no
sentido de garantir direitos individuais e sociais básicos a quem está protegido.
(SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS, 2014)
40
A proteção é efetuada retirando a criança e o adolescente ameaçado de morte do
local de risco, preferencialmente com seus familiares, e inserindo-os em comunidade
segura. Prima-se pela garantia de sua proteção integral através de inclusão de todos
os protegidos em serviços de saúde, educação, esporte, cultura e se necessário, em
cursos profissionalizantes, políticas de assistência social e mercado de trabalho.
(SECRETARIA DOS DIREITOS HUMANOS,2014)
Diante disso, é importante que a família seja, minimamente, esclarecida sobre o que é
o programa, de modo que ela possa refletir sobre sua necessidade. É muito pertinente que
antes do acionamento do PPCAAM a equipe tenha explorado com o adolescente e sua família
a existência de alternativas, tais como a mudança do território de ameaça pelo núcleo familiar
ou mesmo a mudança do adolescente, com a indicação de outros familiares ou de pessoas de
seu convívio que possam se responsabilizar por ele em um outro território que não seja o do
local da ameaça.
Uma vez avaliado a inclusão do adolescente no PPCAAM, o programa emite seu
parecer, de modo que, caso o parecer seja favorável, a inclusão ocorrerá logo após a
progressão ou desligamento da medida socioeducativa. A inclusão do adolescente pode
ocorrer juntamente com seu núcleo familiar ou na modalidade individual. No primeiro caso, o
adolescente e sua família são colocados sob proteção em um novo território, em que o
PPCAAM avalie que não exista risco e assim será desenvolvido o acompanhamento no
sentido de promover a inserção social de toda família no novo local de moradia.
Na hipótese em que a família não se disponha a aderir ao programa ou em que o
adolescente não possua referência familiar, ele pode fazer a adesão de maneira individual.
Neste caso, o adolescente será encaminhado a uma unidade de acolhimento institucional,
sendo que o PPCAAM desenvolverá as intervenções previstas no trabalho de proteção em
parceria com a unidade na qual o adolescente tenha sido acolhido.
Destaca-se que a inclusão do adolescente em cumprimento de MSE privativas de
liberdade no PPCAAM, caso seja avaliada como pertinente pela equipe do programa, somente
ocorrerá a partir do desligamento do adolescente da medida de semiliberdade ou de
internação, visto que a restrição/privação da liberdade é incompatível com a proteção, dado
que o adolescente já se encontra sob a responsabilidade do Estado, mas em local conhecido, o
que é conflitante com o caráter sigiloso do programa de proteção.
41
têm como foco a intervenção direta nos fatores ou nas dinâmicas sociais ligados à violência e
à criminalidade. O objetivo geral desta Política é a prevenção e a redução de violências e
criminalidades e o aumento da sensação de segurança no Estado de Minas Gerais, sendo que o
seu público alvo são os grupos mais vulneráveis a violências e criminalidades (SUPEC,
2017).
Esta Política complementa as políticas de Proteção Social, mas não as substitui. A
diferença é que a primeira atua com o público que está vivenciando diretamente em
panoramas de violências e de criminalidade e sobre a dinâmica do fenômeno criminal, além
de favorecer o acesso deste público às políticas de proteção social (SUPEC, 2017).
Os programas da Política de Prevenção à Criminalidade da Secretaria de Estado de
Segurança Pública de Minas Gerais são considerados pontos da rede social de grande
relevância para o trabalho das medidas socioeducativas privativas de liberdade. Essa
afirmação se revela na possibilidade de serem realizadas articulações pelas equipes
socioeducativas com esses programas que visem à busca de informações sobre a dinâmica e o
histórico familiar do adolescente, já que tanto ele quanto sua família podem ter sido ou estar
sendo atendidos e/ou acompanhados pelos programas de prevenção social. Especificamente,
o Programa de Mediação de Conflitos e o Fica Vivo!, as quais compõem esta política de
prevenção, tem base territorial e são localizados nos Centro de Prevenção à Criminalidade,
portanto, podem contribuir para a análise das configurações do território do adolescente e
assim, auxiliar na construção do trabalho técnico nas medidas socioeducativas.
A articulação de rede com os programas da prevenção também permite a construção
de estratégias conjuntas para o acompanhamento dos adolescentes e de suas famílias,
principalmente, aqueles mais vulnerabilizados pelas situações de violência e pela dinâmica da
criminalidade.
Deve estar claro para as equipes das unidades socioeducativas as funções e os
objetivos desses programas, bem como o alcance para o atendimento ao adolescente e de suas
famílias. Neste sentido, apresentamos as principais características de cada programa que
compõe essa Política.
O Programa Fica Vivo! atua tendo como público alvo jovens de 12 a 24 anos,
moradores de territórios vulneráveis e com altos índices de criminalidade onde funcionam os
Centros de Prevenção Social à Criminalidade (CPC). O trabalho desenvolvido no programa
possui foco “ [...] na prevenção e na redução de homicídios dolosos de adolescentes e jovens
[...] em áreas que registram maior concentração de homicídios.” (SUPEC, 2017)
Para tanto, o Fica Vivo! desenvolve suas ações em dois eixos de trabalho, a saber, o
eixo da Proteção Social e o eixo da Intervenção Estratégica.
No eixo Proteção Social, a partir da análise da dinâmica social das violências e da
criminalidade dos territórios, o programa promove oficinas de esporte, cultura e arte; realiza
projetos locais, de circulação e institucionais; faz atendimentos individuais dos jovens e
promove Fóruns Comunitários. Além disso, o programa articula com os serviços públicos
para encaminhamentos de adolescentes e jovens. (SUPEC, 2017)
Nota-se que no referido eixo de trabalho o foco das ações é a promoção de espaços em
que o exercício da cidadania, bem como a oportunidade de escuta e da qualificação do trânsito
social sejam ofertados aos jovens, de modo que o programa se coloca como mais um
equipamento na rede de atendimento que promove o acesso a direitos.
43
Já o eixo da Intervenção Estratégica tem como foco a “ampliação da sensação de
segurança e a legitimidade do policiamento preventivo e das ações preventivas”, de modo que
“contempla a operacionalização de Policiamento Preventivo Especializado, realizado pelo
Grupo Especializado em Policiamento de Áreas de Risco da Polícia Militar “ (GEPAR). Para
que tais ações sejam possíveis, o Programa Fica Vivo! articula interinstitucionalmente a
Secretaria de Estado de Segurança Pública (SESP), as Polícias Militar e Civil, Ministério
Público, Poder Judiciário e órgãos municipais de Segurança Pública. (SUPEC, 2017)
[...] esse eixo contempla também a formação e funcionamento dos Grupos de
Intervenção Estratégica (GIE), que têm como principal objetivo a prevenção e redução de
conflitos e rivalidades violentas por meio da ampliação da assertividade e tempestividade das
ações repressivas realizadas nas áreas de abrangência do Programa.
O acesso ao Fica Vivo! ocorre por demanda espontânea, de modo que os jovens que
desejam participar das ações desenvolvidas pelo programa podem se apresentar tanto na sede
do CPC, como nos locais em que acontecem as oficinas. As oficinas do programa
desenvolvem atividades diversificadas e que ocorrem em pontos estratégicos do território de
abrangência do CPC justamente para proporcionar proximidade dos jovens atendidos com os
responsáveis pelo desenvolvimento destas.
O Programa Fica Vivo! pode ser mais um ator a contribuir com o trabalho
socioeducativo no que diz respeito à a identificação, tanto das peculiaridades do território de
residência do adolescente, como das relações que ele estabelece em seu cotidiano. Desta
forma, o acionamento do programa pode auxiliar a equipe no processo de construção e
qualificação do caso, visto que as informações fornecidas pelo programa podem agregar ao
trabalho técnico aspectos observados na rotina do adolescente em seu território, entendendo-o
como um construto não apenas físico, mas também social e cultural.
5.3.3 CEAPA
44
Importante pontuar que o público alvo do programa tem a oportunidade de manter os
vínculos familiares e sociais, exercer sua cidadania, acessar a rede de proteção social e
cooperar com a instituição que será beneficiada com suas atividades. Além disso, um dos
objetivos específicos do Programa é trabalhar por meio da mitigação das vulnerabilidades
sociais através da promoção social. (METODOLOGIA PROGRAMA CEAPA/MG – Central
de Apoio e Acompanhamento às Penas e Medidas Alternativas de Minas Gerais).
5.3.4 PRESP
45
trajetória do adolescente e de sua família na rede de atendimento. É necessário analisar a
circulação no território e nos serviços da rede, onde fizeram laço, tiveram impasses, quais
serviços acionar e por quê. Cabe verificar como se deu até então o acompanhamento realizado
pela rede de atendimento à família, de modo a balizar futuras articulações de rede na unidade
socioeducativa.
46
Considerando-se a peculiaridade da Internação Provisória, prazo máximo de 45 dias, é
importante ter em perspectiva que a articulação da rede deve ocorrer de maneira ágil. Desta
forma, no período em que o adolescente estiver acautelado provisoriamente, a equipe
socioeducativa deve se empenhar em identificar os pontos essenciais da rede, com destaque
para os serviços nos quais a família possui vínculos e acioná-los, seja com o objetivo de
reunir informações que deverão constar no relatório interdisciplinar a ser enviado ao
judiciário, ou para sensibilizar os serviços em relação a alguma demanda identificada pela
equipe no atendimento ao adolescente ou à família, garantindo-se que ambos sejam orientados
quanto ao funcionamento, às formas de acesso a eles e os serviços ofertados.
É importante ainda, realizar a orientação da família em relação a serviços dos quais ela
pode se valer para superar alguma situação de vulnerabilidade identificada pela equipe, mas
que até então lhes são desconhecidos, de maneira que caso o adolescente seja liberado ao final
do período da internação provisória, a família possa minimamente ter ciência da rede que
pode vir a acessar.
Assim, cabe destacar que os encaminhamentos do adolescente devem ser discutidos
em equipe e com a família, para que esta se aproprie da ação e dê continuidade a ela, ainda
que o adolescente não receba uma medida socioeducativa. Logo a articulação, “[...]deve
contribuir para o alcance de maior grau de independência familiar e pessoal e qualidade nos
laços sociais, devendo, para tanto, primar pela integração entre o acesso a serviços [...]”
(Caderno do CREAS, 2011, p.25).
Isso posto, podem-se elencar alguns elementos imprescindíveis para trabalhar a
temática da rede com as famílias:
47
influenciam e interferem no atendimento às famílias e aos adolescentes para, então,
reconhecer a demanda de articulações em âmbito político-institucional por parte dos
gestores.
48
medida protetiva poderá ser solicitada ao Poder Judiciário por meio do Relatório
Interdisciplinar que circunstancie a necessidade de aplicação da medida protetiva.
É importante ressaltar que a medida de Internação Provisória é atravessada pela
imprevisibilidade do tempo e, portanto é essencial a identificação da demanda dos direitos
violados da família e do adolescente e a intervenção da equipe, sempre que necessária,
visando à fluidez e à autonomia na relação entre a família e a rede de atendimento.
Dado o caráter altamente dinâmico da rotina e do fluxo de adolescentes nos centros de
internação provisória, pensar em articulações complexas torna-se um enorme desafio. Diante
disso, é importante reiterar que as articulações realizadas devem ser construídas com o
adolescente e também com a família, de modo que eles se reconheçam enquanto sujeitos de
direitos e possam investir na busca pelos serviços da rede mesmo que o adolescente seja
desligado da medida de internação provisória sem ser sentenciado a nenhuma outra medida
socioeducativa.
49
adolescente. Disso advém que o trabalho em parceria é um pressuposto básico para as
unidades executoras da internação-sanção, de maneira que o contato com os demais serviços,
principalmente com a medida de origem do adolescente, e a criação de espaços de discussão e
construção coletivas, são essenciais para a realização de intervenções a contento.
Assim sendo, o trabalho em rede na internação-sanção exige abertura e disponibilidade
dos atores envolvidos, dado que no período de cumprimento, embora o adolescente esteja em
uma medida privativa de liberdade, ele não deixa de estar ligado à MSE de origem, de modo
que deve manter-se em perspectiva o seu retorno para a medida anterior. De imediato esse
fato já nos implica com a manutenção e com o fortalecimento do vínculo do adolescente com
a MSE de origem, bem como com os encaminhamentos construídos antes de ser configurado
o descumprimento. Desta forma, verifica-se que objetivo central da internação-sanção é
contribuir para que a conversão da trajetória do adolescente em relação ao descumprimento
das MSE seja possível.
Para tanto, um modelo de rede mais atual se faz necessário, o qual supõe relações mais
horizontalizadas e exige disposição para uma articulação socioeducativa que:
50
encaminhado durante a internação-sanção, a construção da rede ocorre a partir da admissão do
adolescente, considerando-o sujeito ativo no processo, de modo que ele tende a apontar as
intervenções necessárias e se reconhecer nas articulações propostas, resultando em maior
possibilidade de adesão, bem como em mais efetividade nas ações.
É importante, ainda, considerar a rede enquanto território pelo qual o adolescente e
seus familiares circulam voluntariamente, de modo que do lado de cada adolescente, a
unidade realizará um levantamento dos equipamentos da rede por onde ele e sua família já
estiveram, efetuando o contato com estes parceiros quando pertinente ao caso.
Um ponto de extrema importância nesta relação é o cuidado com as parcerias. A
lógica dos encaminhamentos, quando houver, deve sempre se pautar no fluxo de referência e
contra referência, preferencialmente os que já foram estabelecidos pelas medidas de
Liberdade Assistida, Prestação de Serviços à Comunidade ou Semiliberdade, o que estabelece
um trabalho conjunto e contínuo com os parceiros da instituição e com as equipes das diversas
medidas socioeducativas. Tal cuidado parte da ideia de valorização dos parceiros, dando a
cada um a possibilidade de contribuir com o trabalho a partir de sua perspectiva de atuação.
Neste ponto, é essencial localizar junto aos técnicos da medida cujo descumprimento
gerou a internação-sanção os encaminhamentos realizados e como o adolescente vem
conduzindo sua circulação pela rede, no intuito de reforçar os possíveis vínculos do
adolescente com a rede ou construir novas possibilidades, sempre cuidando de articular as
ações com a equipe da medida de origem, visto a necessidade tais sejam contínuas e
emancipatórias, para que o adolescente desenvolva autonomia na sua circulação pela rede,
transcendendo o tempo e as intervenções das medidas socioeducativas.
Uma rede comporta os enlaçamentos do adolescente com a cidade, parentes, amigos e
instituições. Assim, cada sujeito imprime à sua rede uma dinâmica que lhe é própria, devendo
ser levada em consideração no momento de traçar com o adolescente seu caminho pelos
territórios construídos e reconstruídos na medida socioeducativa de origem. Entre as ações de
articulação previstas para a internação-sanção, pode-se citar:
51
Apresentação institucional do trabalho realizado pela unidade a demais
parceiros, como saúde, assistência social, educação, entre outros.
Mapeamento junto ao adolescente e à medida de origem, dos equipamentos e
serviços pelos quais ele e sua família já passaram.
52
A execução da política de atendimento pressupõe e requer uma articulação orgânica
e permanente com todas as demais políticas e com o sistema de administração de
justiça. É o que chamamos de incompletude institucional das ações desenvolvidas
nessa área por um conjunto de instituições distribuído pelas mais diversas áreas do
Estado brasileiro nos níveis federal, estadual, municipal e também pelas
organizações da sociedade civil que atuam nesse campo. (COSTA, 2017)
53
pertinentes a cada caso. Na semiliberdade, encaminhar um familiar à rede pode significar
também uma extensão do atendimento ao adolescente em cumprimento de medida
socioeducativa, criando-se outras possibilidades de abordagem e escuta para o adolescente e
sua família, que podem contribuir, respectivamente, para os processos de responsabilização e
corresponsabilização objetivados pela medida.
A construção de encaminhamentos na semiliberdade deve ser discutida em equipe e
com a família para que essa se aproprie da ação e realmente faça um uso do serviço. Para uma
maior qualificação do encaminhamento, é preciso que o acompanhamento esteja presente
nesse processo. Logo, “o acompanhamento [...] deve contribuir para o alcance de maior grau
de independência familiar e pessoal e qualidade nos laços sociais, devendo, para tanto, primar
pela integração entre o acesso a serviços [...]” (Caderno do CREAS, 2011, p.25).
Isto posto, pode-se elencar alguns elementos imprescindíveis para trabalhar rede com
as famílias:
a) Conhecer os equipamentos e serviços da rede na cidade: a preparação para a
articulação da rede envolve o conhecimento e o mapeamento dos serviços
disponíveis na cidade sede da unidade bem como na de origem do adolescente
quando for o caso. Um mapeamento de parcerias, serviços e colaboradores
articulados, formalmente e informalmente, envolve: nome do parceiro, área de
atuação, público-alvo, breve descrição da metodologia de atendimento (o que
oferece, como oferece), e formas de acesso.
Essa sistematização de informações necessita de constante atualização por parte da
Unidade como também de monitoramento, para identificar os pontos de alcance e
impasse na articulação das parcerias. Isso permite compreender como estes fatores
influenciam e interferem no atendimento às famílias e aos adolescentes para,
então, reconhecer a demanda de articulações em âmbito político-institucional por
parte dos gestores.
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acompanhamento dos casos, sendo possível identificar com quais políticas o
adolescente e sua família tem relação preestabelecida, e quais as eventuais
demandas apresentadas. Conhecer a trajetória da família na rede não tem como
objetivo imediato o encaminhamento, mas sim entender o modo como a família se
desloca de seus impasses, a quem recorrem, quais as políticas que já foram
acessadas pelos adolescentes, como é a relação das famílias com os demais
equipamentos da rede, entre outros. Como resultado dessas ações espera-se que as
referências do caso possam identificar as demandas da família e contrapô-las com
os serviços disponíveis e os serviços já acessados, de modo que conjuntamente à
família possam ser construídas alternativas e encaminhamentos que possam
efetivamente impactar as demandas. Este trabalho deve ser realizado de acordo
com os prazos previstos no PIA, sendo orientado pelo Levantamento de Dados
iniciais e pela Avaliação Inicial.
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Para tanto, deve-se evitar a judicialização dos encaminhamentos, recorrendo à
justiça apenas nos casos em que a família já não responde à unidade ou em
situações que ultrapassem nossa mediação (casos de violência intrafamiliar, entre
outros).
Para que a família possa desenhar seu percurso na rede mais ativamente, ainda
que conduzida pela unidade, é necessário que o fluxo com o parceiro esteja claro e
estabelecido, para não ocasionar maiores prejuízos, como o não atendimento da
família. Desta forma, a unidade precisa delimitar quando é o caso de chamar a
família à rede e quando é o caso de chamar a rede para a família.
Trata-se de uma nuance que perpassa os diversos tipos de encaminhamentos,
sendo que a família é encaminhada à rede quando houver essa possibilidade
colocada e trabalhada anteriormente pela unidade com o parceiro. Já o outro
movimento, chamar a rede para a família, torna-se muito importante nos casos em
que o percurso da família já é extenso na rede, a não adesão aos serviços se repete,
ou há qualquer problema no fluxo estabelecido entre a casa e o parceiro. Assim,
nesses casos, antes de colocar a família novamente no movimento de ir até outro
serviço, é crucial que os serviços estejam alinhados para afinar as propostas e o
direcionamento da atuação, o que de imediato já coloca em destaque a
necessidade de comunicação e de articulação da casa de semiliberdade com os
serviços e equipamentos da rede.
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informações que socializa, bem como a necessidade de que as mesmas sejam
compartilhadas.
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socioeducando(a), conforme descrito no ECA. Contudo, para alcançar a corresponsabilidade
não basta às equipes convocar a família para o acompanhamento da medida, faz-se necessário,
localizar, na dinâmica familiar, os pontos passíveis de fortalecimento, para que a família
possa auxiliar o(a) adolescente em seu percurso na medida socioeducativa.
Considerando-se que o público alvo da MSE de internação é, frequentemente, advindo
de realidades marcadas por diversas violações de direitos, como ilustra o perfil do adolescente
apresentado no SINASE (2007, p.29) e diante da dificuldade de mudança dessa situação
mesmo durante o cumprimento da medida, não raro surgem no atendimento às famílias
questões que convocam a equipe para que, além do acompanhamento da medida
socioeducativa, trabalhe o esclarecimento e encaminhamento da família à rede social.
Assim, a equipe depara-se com realidades familiares muito diversas, sendo comum a
necessidade da atuação de outras políticas públicas para trabalhar as questões levantadas.
Ainda que os técnicos da medida socioeducativa de internação possuam como função uma
abordagem mais centrada nas relações do adolescente com a família, muitas questões
paralelas - de cunho afetivo, social, econômico, dentre outros - perpassam tal relação, sendo
imprescindível o direcionamento correto dos problemas apresentados pela família às políticas
públicas pertinentes.
Cabe ressaltar que o encaminhamento à rede deve estar pautado, para além da garantia
de direitos, no “respeito à autonomia das famílias e indivíduos, tendo em vista o [...]
desenvolvimento das capacidades e potencialidades para o enfrentamento e superação de
condições adversas oriundas das situações vivenciadas” (Caderno CREAS, 2011, p.24).
Trata-se, pois, de fomentar o acesso e de incentivar e promover a busca autônoma da
família e do(a) adolescente pelos serviços dos quais necessitam. Os encaminhamentos devem
ser realizados de maneira que a família aprenda o modo de recorrer à rede social em suas
dificuldades, incentivando sua independência em relação à medida socioeducativa de
internação. Então, o trabalho refere-se, primordialmente, a eleger intervenções e espaços que
proporcionem à família e ao (à) adolescente, dentro do possível, o lugar de protagonista, de
forma que ambos possam se reconhecer como parte essencial do processo, dado que é
imperioso que a autonomia dos sujeitos em relação às MSE seja fortalecida para que, mesmo
quando a MSE vier a ser encerrada, a família e o (a) adolescente continuem a acessar a rede
qualificadamente. Esse trabalho de construção do reconhecimento pelo (a) adolescente e de
sua família como integrantes do processo de inclusão na rede pode ser realizado através de
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atendimentos com ambos, de forma a esse processo ser realizado simultaneamente e para que
todos possam expor seus interesses, necessidades e objetivos.
Nessa perspectiva, o encaminhamento do(a) adolescente e da família à rede não é
restrito às situações de violação de direitos, pressupondo atuação em uma perspectiva ampla
de acesso básico aos serviços públicos nas áreas de saúde, educação, assistência social,
previdência, trabalho e segurança, e outras que sejam pertinentes a cada caso. Encaminhar um
familiar à rede pode significar também, uma extensão do atendimento ao (à) adolescente em
cumprimento de medida socioeducativa, criando-se outras possibilidades de abordagem e
escuta para o(a) socioeducando(a) e sua família, contribuindo, respectivamente, para os
processos de responsabilização e corresponsabilização objetivados pela medida, os quais
constituem o foco das ações estratégicas pactuadas no Plano Individual de Atendimento.
A construção de encaminhamentos na internação deve ser discutida em equipe e com a
família para que esta se aproprie da ação e realmente faça um uso qualificado do serviço.
Sempre que for possível, a família deve ser envolvida na execução dos encaminhamentos
propostos, acompanhando efetivamente o(a) adolescente. Os momentos em que será
pertinente a participação da família devem ser definidos após avaliação da equipe
socioeducativa, preferencialmente, realizada em estudo de caso em que participem a equipe
técnica e a equipe de segurança. A proposta do encaminhamento ao (à) adolescente deverá ser
discutida com este e sua família por meio de atendimento técnico, sendo uma estratégia de
sensibilização dos familiares quanto à corresponsabilização pela MSE, assim como para
integrá-los ao processo de inclusão do(a) socioeducando (a) nos diversos espaços.
Para uma maior qualificação do encaminhamento, é preciso que o acompanhamento
esteja presente nesse processo. Logo, “o acompanhamento [...] deve contribuir para o alcance
de maior grau de independência familiar e pessoal e qualidade nos laços sociais, devendo,
para tanto, primar pela integração entre o acesso a serviços [...]” (Caderno do CREAS, 2011,
p.25).
Isto posto, pode-se elencar alguns elementos imprescindíveis para trabalhar rede com
as famílias:
a) Conhecer os equipamentos e serviços da rede na cidade: a equipe técnica deve
estar preparada para a articulação da rede. Sendo assim, é necessário que haja
conhecimento prévio e um mapeamento dos serviços disponíveis na cidade em que a
unidade se localiza e na de origem do adolescente.
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Um mapeamento de parcerias envolve: nome do parceiro, área de atuação, público-
alvo, breve descrição da metodologia de atendimento (o que oferece, como oferece),
formas de acesso. Essa sistematização de informações necessita de constante
atualização, cabendo à unidade se organizar, periodicamente, de modo a manter o
mapeamento em dia.
Mapear a rede com os atores, serviços e colaboradores articulados, formalmente e
informalmente, pela unidade de internação, nos auxilia a compreender os pontos de
alcance e impasse na articulação e a compreender como esses fatores influenciam e
interferem no atendimento às famílias.
Destaca-se que, ao se reconhecer aspectos que demandam articulação e formalização
de parcerias e a construção de fluxos interinstitucionais, os gestores da unidade
socioeducativa (Diretor Geral e Diretor de Atendimento) e Diretoria de Abordagem Familiar e
Articulação de Rede Social deverão participar das discussões e articulações com a instituição
com a qual será realizado o trabalho. Ressalta-se que esta configuração não exclui a
participação técnica no processo, no entanto, é importante salientar a responsabilidade da
DAF no que diz respeito ao diálogo com a rede de atendimento socioassistencial, bem como a
atribuição do diretor de atendimento de “promover e organizar articulações de parcerias para
qualificação do atendimento ao adolescente” e do diretor geral de “articular e representar
institucionalmente a unidade nos espaços políticos, institucionais, entre outras” (SUASE,
2014).
b) Conhecer a rede social da família: partindo do conhecimento e estudo prévio da rede
social da cidade, a equipe deve abordar em atendimento com cada família seu percurso
na rede. Nesse momento, pode-se localizar melhor tanto a trajetória do adolescente no
seio familiar, quanto os movimentos da família na comunidade em geral.
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7 REFERÊNCIAS
BRASIL. Norma Operacional Básica. Sistema Único de Assistência Social. Brasília, 2005.
COSTA, Antônio Carlos Gomes da. O ECA e outras políticas sociais. Disponível em: <
http://fundacaotelefonica.org.br/promenino/trabalhoinfantil/colunistas/o-eca-e-outras-
politicas-sociais/ >. Acesso em 11/09/2017.
63
http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/Perguntas_Servi
co_AbordagemSocial.pdf >. Acesso em 30/09/2017.
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Anexo 2: Formulário de Visita à Rede
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Anexo 3 Fluxo de Encaminhamento para Acolhimento Institucional em Belo Horizonte
Relatório do Caso
Determinação da vaga
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processo legal, solicitando a disponibilização da vaga. Este pedido deve ser feito com
antecedência mínima de 30 dias.
Relatório de Desligamento
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Anexo 4: Instrumentos de Formalização de pedido de Informações à Rede
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