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Módulo 4

A FUNÇÃO DE
CUIDADOR SOCIAL
Módulo 4
A FUNÇÃO DE
CUIDADOR SOCIAL

SECRETARIA NACIONAL DE SECRETARIA ESPECIAL DO


ASSISTÊNCIA SOCIAL DESENVOLVIMENTO SOCIAL
GOVERNO FEDERAL

MINISTÉRIO DA CIDADANIA
BY NC ND

SECRETARIA ESPECIAL DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL Todo o conteúdo do curso Formação básica no SUAS para Funções de
Nível Médio, da Secretaria Nacional de Assistência Social, do Ministério
SECRETARIA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL da Cidadania do Governo Federal - 2022, está licenciado sob a Licença
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DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

COORDENADORIA-GERAL DE GESTÃO DO TRABALHO E


EDUCAÇÃO PERMANENTE
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acesso a conteúdos extras. Para acessá-los, basta apontar a câmera do seu
dispositivo móvel (smartphone ou tablet) para o código (obs.: é necessário
estar conectado à internet).
Siglas
BPC - Benefício de Prestação Continuada
Centro POP - Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua
CNAS - Conselho Nacional de Assistência Social
CRAS - Centro de Referência de Assistência Social
CREAS - Centro de Referência Especializado de Assistência Social
ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente
ILPI - Instituição de Longa Permanência para Idosos
LOAS - Lei Orgânica de Assistência Social
NECA - Associação de Pesquisadores e Formadores da Área da Criança
e do Adolescente
NOB/SUAS - Norma Operacional Básica do SUAS
NOB-RH/SUAS - Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do SUAS
OSC - Organização da Sociedade Civil
PAEFI - Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos
PAIF - Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família
PIA - Plano Individual de Atendimento
PNAD Contínua - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
PNAS - Política Nacional de Assistência Social
PSB - Proteção Social Básica
PSE - Proteção Social Especial
SFV - Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos
SUAS - Sistema Único de Assistência Social
Sumário
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Objetivos do módulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

UNIDADE 1 – O trabalho de cuidado a crianças e adolescentes, idosos e pessoas com deficiência na Política Nacional de Assistência Social. . . 8
1.1 Contextualizando o cuidado a crianças e adolescentes, idosos e pessoas com deficiência. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.2 O conceito de cuidado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.3 Desproteções sociais e violações de direitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.4 O papel do Estado e das famílias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

UNIDADE 2 – A função do cuidador social no SUAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16


2.1 Contextualizando a função do cuidador social. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.2 Conhecendo a Resolução CNAS nº 9/2014 à luz da Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais do SUAS – Resolução CNAS nº
109/2009. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.3 O âmbito dos cuidados prestados pela Proteção Social Básica e pela Proteção Social Especial de Média Complexidade e de Alta
Complexidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

UNIDADE 3 – As atribuições dos cuidadores sociais no trabalho com crianças e adolescentes nos Serviços de Acolhimento Institucional. . . 25
3.1 Contextualizando as atribuições do cuidador social no acolhimento institucional de crianças e adolescentes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3.2 Unidades de atendimento do SUAS que prestam cuidados e proteção integral a crianças e adolescentes: tipos e características gerais . . . 29
3.3 O desenvolvimento saudável no contexto institucional: promovendo boas práticas de cuidado e educação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

UNIDADE 4 – As atribuições dos cuidadores sociais no trabalho com idosos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45


4.1 Unidades de atendimento do SUAS que prestam atenção e cuidados a idosos: tipos e características gerais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
4.2 Qualidade de vida, desenvolvimento pessoal e participação social: promovendo boas práticas de cuidado a idosos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
UNIDADE 5 – As atribuições dos cuidadores sociais no trabalho junto a pessoas com deficiência. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
5.1 Unidades de atendimento do SUAS que prestam atenção e cuidados a pessoas com deficiência: tipos e características gerais . . . . . . . . . . . 61
5.2 Qualidade de vida, desenvolvimento pessoal e participação social: promovendo boas práticas de cuidado à pessoa com deficiência . . . . . 68

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Apresentação
Olá, cursista!

No presente módulo, trataremos do trabalho do cuidador social no atendimento ao público que demanda seus cuidados e com
no Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Para tanto, uma configuração mais próxima e real ao que postula a Política
tomaremos como base a Resolução do Conselho Nacional Nacional de Assistência Social.
de Assistência Social (CNAS) nº 09/2014, à luz da Tipificação
Nacional dos Serviços Socioassistenciais do SUAS (Resolução Desejamos um excelente estudo!
CNAS nº 109/2009), de modo a contribuir com a ampliação do
conhecimento teórico e prático, necessário para uma atuação
qualificada do cuidador social nas unidades de atendimento QR CODE
do SUAS. Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone
ou tablet) para o QR Code ao lado para assistir ao vídeo de
Nesse sentido, o foco deste módulo se concentra: no conteúdo apresentação do módulo ou acesse o link: <apresentação-do-
referente ao trabalho de cuidado de crianças e adolescentes, módulo_m4_vídeo1>.
idosos e pessoas com deficiência de diferentes idades na Política
de Assistência Social (Unidade 1); na função do cuidador social
no SUAS (Unidade 2); e nas especificidades da atuação do Objetivos do módulo
cuidador social de crianças e adolescentes, idosos e pessoas com ■ Apresentar a atuação do cuidador social no âmbito do SUAS.
deficiência, distribuídas nas Unidades 3, 4 e 5, respectivamente. ■ Especificar o trabalho de cuidado de crianças e adolescentes,
idosos e pessoas com deficiência na política de
Espera-se que os saberes produzidos contribuam para o assistência social.
desenvolvimento de formas efetivas de atuação do cuidador ■ Explicitar a função do cuidador social como integrante de
social como integrante de uma equipe multiprofissional, uma equipe multiprofissional nos distintos serviços
principalmente na perspectiva do desenvolvimento de ações e do SUAS.
atividades de cuidados básicos de vida diária, de desenvolvimento ■ Especificar as funções do cuidador social nas diferentes
pessoal e de cuidados instrumentais de participação social. unidades de atendimento do SUAS, em distintos ambientes
Ações essas capazes de qualificar o trabalho desse profissional de trabalho.

7 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


O trabalho de
cuidado a crianças e
adolescentes, idosos e
pessoas com deficiência
na Política Nacional de
UNIDADE 1 Assistência Social
Nesta unidade, você vai aprender sobre o trabalho que envolve
o cuidado de crianças, adolescentes, idosos e pessoas com
deficiência na política de assistência social. Para tanto,
serão abordados o conceito de cuidado, as desproteções sociais e
violações de direitos, bem como o papel do Estado e
das famílias.

1.1 Contextualizando o cuidado a crianças e adolescentes,


idosos e pessoas com deficiência
Você já ouviu falar da Constituição Federal de 1988? Trata-
se de um documento que assegura os direitos fundamentais
a todas as pessoas, como educação, saúde, alimentação,
trabalho, moradia, transporte, lazer, segurança, previdência
social, proteção à maternidade e à infância, assistência aos
que necessitam; institui a seguridade social contributiva e não Foto: © [rafapress] / Shutterstock.
contributiva, integrada pela saúde, previdência e assistência
social. Antes desse documento, a assistência social não era Já a política de assistência social diz respeito à proteção
reconhecida como política pública de garantia de direitos. social, na perspectiva de garantia de direitos nas situações de
O que se tinha era o chamado assistencialismo, baseado na vulnerabilidade, risco de negligências, violências e direitos
benevolência, ou seja, na doação e na troca de favores em forma violados, dependência e/ou ausência de cuidados, promovendo
de caridade. serviços que garantam renda, convivência familiar e
comunitária, acolhimento e participação social. Dessa forma,
em 1993, foi aprovada a Lei n° 8.742, chamada Lei Orgânica
de Assistência Social (LOAS), que preconiza a proteção social
para todas as pessoas que dela necessitarem. Já o SUAS só foi
regulamentado em 2004, por meio da Política Nacional de
Assistência Social (PNAS). Em 2005, foi regulamentada a Norma
Operacional Básica (NOB/SUAS), estabelecendo-se normas e
diretrizes da política de assistência a serem materializadas pelo
SUAS sob a forma de benefícios, serviços, programas e projetos.

9 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


Pode-se dizer que a assistência social inclui, como público-

1
alvo de suas ações, cidadãos e grupos em situações de
vulnerabilidade social, risco e direitos violados, envolvendo:
Acolhida
■ Exclusão pela pobreza.
■ Vivência de situações de risco, como cuidados precarizados.
Fragilidade ou rompimento de vínculos familiares.

2

■ Inserção precária no mercado de trabalho.


■ Identidades estigmatizadas em termos étnicos, culturais Renda
e sexuais.

E entre os principais objetivos da PNAS, temos:

3
■ A proteção social a famílias, crianças e adolescentes, idosos e
pessoas com deficiência. Convivência familiar, comunitária e social
■ A promoção da integração ao mercado de trabalho.
■ A vigilância socioassistencial dos territórios para a
identificação das vulnerabilidades e da capacidade protetiva

4
das famílias.
■ A defesa de direitos para garantir o seu pleno acesso por meio
dos serviços socioassistenciais. Desenvolvimento da autonomia

Para que o SUAS possa se estruturar e funcionar de forma


efetiva, normativas são editadas com diretrizes e conceitos

5
norteadores da prestação de serviços socioassistenciais em todo
o território nacional. Assim, temos as chamadas seguranças
afiançadas pelo SUAS, que, junto a outras políticas, compõe a Apoio e auxílio
proteção social no país e se estrutura para garantir:

10 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


Especialmente, no que diz respeito à proteção social a famílias,
crianças, adolescentes, idosos e pessoas com deficiência, destacamos
que o trabalho de cuidado com esse público se refere à atenção para
a situação de dependência sob distintas formas, promovendo a
acessibilidade no domicílio, nos serviços e na comunidade.

Seguranças afiançadas pela PNAS

Envolve postura afetiva e respeitosa de atendimento às demandas, interesses, necessidades e possibilidades para promover formas de acesso aos direitos sociais, por meio de
ações, cuidados, serviços e projetos operados em rede, bem como a prestação de serviços. O objetivo da acolhida é proteger e apoiar na superação de situações de violência,
abandono e isolamento de crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos, restaurando sua autonomia, capacidade de convívio e protagonismo mediante a oferta de condições
Acolhida
materiais de abrigo, repouso, alimentação, higienização, vestuário e aquisições pessoais. Nessa perspectiva, os usuários devem ser atendidos com dignidade, preservando-se sua
identidade, integridade e história de vida; ter acesso a espaço com padrões de qualidade de higiene, acessibilidade, habitabilidade, salubridade, segurança, conforto, alimentação
em padrões nutricionais adequados e adaptados a necessidades específicas, ambiência acolhedora, preservando-se a privacidade do usuário e a guarda de seus pertences.

A segurança de convivência familiar, comunitária e social é um direito reconhecido pela legislação nacional, como o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Estatuto do Idoso e o Estatuto
da Pessoa com Deficiência, devendo ser assegurada ao longo do ciclo de vida, por meio de um conjunto de serviços locais que ofertem convivência, socialização e acolhida.
Nessa perspectiva, não são aceitas situações de reclusão, de perda das relações. É no convívio social que desenvolvemos nossas potencialidades, nossa intersubjetividade e nos
Convivência familiar,
constituímos cultural e politicamente. Por isso, deve-se promover aos usuários a vivência de experiências que contribuam para o fortalecimento de vínculos familiares, de ampliação da
comunitária e social
capacidade protetiva e de superação de fragilidades e riscos no ofício de cuidar. Além disso, deve-se promover o acesso a serviços socioassistenciais e de políticas públicas setoriais,
conforme necessidades específicas como: envelhecimento populacional; famílias reduzidas com poucos filhos, ou nenhum filho; todos trabalhando para o sustento da família;
e menor capacidade intergeracional de cuidados das famílias.

Deve-se oportunizar aos usuários a construção de projetos individuais e coletivos, ações de cuidado que favoreçam a autoestima, a autonomia, a inclusão e a
Desenvolvimento
sustentabilidade, de acordo com suas necessidades, interesses e possibilidades; criação de estratégias para atenuar os agravos decorrentes da dependência, promovendo
pessoal e da autonomia
inclusão familiar e social, além de promover o acesso à documentação civil, às orientações e às informações sobre o serviço, os direitos e como acessá-los.

Dá-se por meio de benefícios continuados e eventuais que assegurem Proteção Social Básica a idosos e pessoas com deficiência sem fonte de renda e sustento; pessoas e famílias vítimas de
Segurança de sobrevivência
calamidades e emergências; situações de forte fragilidade pessoal e familiar, em especial as mulheres chefes de família e seus filhos. Inclui ações de cuidado que favoreçam o desenvolvimento
ou de rendimento e
pessoal de capacidades e habilidades para o exercício da cidadania, conquista de melhores graus de liberdade, respeito à dignidade humana, diminuição de estigmas e preconceitos, participação
de autonomia
e conquista de maior independência pessoal e qualidade nos vínculos, bem como a ampliação da capacidade de cuidados das famílias, dos serviços e dos territórios e autocuidado.

11 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


1.2 O conceito de cuidado Cuidado como conceito inter-relacional – cuidado e cuidador:
O conceito de cuidado envolve a relação entre os seres humanos. pessoas com deficiência de natureza distinta, nos diversos ciclos
Assim, para praticar sua humanidade, a pessoa precisa cuidar de vida, ou pessoas idosas com algum grau de dependência,
de outra pessoa, para crescer no sentido ético do termo. em decorrência de inúmeras barreiras (visão, audição,
Do mesmo modo, as pessoas precisam ser cuidadas para superar compreensão, comunicação, sensorial, emocional, nutricional,
adversidades e dificuldades impostas pela vida (WALDOW, 2006). de higiene, arquitetônicas, atitudinais, de isolamento,
em situação de rua e pobreza, entre outras). Nesse sentido,
o conceito de cuidado envolve:

■ As condições biopsicossociais que dificultam o


desenvolvimento pessoal, emocional, cognitivo e a
participação social, ampliando riscos de isolamento social,
dependência de cuidados, exclusão, negligências, violências
e outras violações de direitos.
■ Cuidados dinâmicos, que podem variar no tempo, no grau
de necessidade, tipos, formas e frequência de suportes.
■ A interseccionalidade das condições, que impõe cuidados
diferenciados. Por exemplo: ser uma pessoa com deficiência,
mulher, negra, pobre, mãe de crianças; pessoa idosa com
deficiência, pobre, morando em zona rural, entre outras
condições. Exige ações facilitadoras do Estado, das famílias
e da sociedade.

Interseccionalidade
O termo interseccionalidade permite a compreensão das desigualdades, bem como
da sobreposição de opressões e discriminações existentes na sociedade. Trata-se,
portanto, de um conceito sociológico que se ocupa das interações e marcadores
sociais e suas implicações na vida de grupos minoritários.

12 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


O ordenamento jurídico brasileiro insere a questão do cuidado Nessa perspectiva, o cuidado é compreendido como direito
em diversos dispositivos legais, como a Constituição Federal de humano e social. Assim, podemos dizer que o direito ao cuidado
1988, na qual o dever de cuidar guarda relação com o princípio tem sido reconhecido como importante fundamento, ao lado da
da dignidade da pessoa humana, disposta em seu artigo previdência social, da saúde, da educação e da cidadania social.
primeiro. Nessa perspectiva, o cuidado se vincula às relações de O cuidado, nesses termos, especialmente quando dispensado
afeto, de solidariedade entre os seres humanos, a crianças, idosos e pessoas com deficiência, é assumido
de responsabilidade familiar, e da pessoa, como cidadã. como direito humano, no qual as relações entre Estado,
O ato de cuidar envolve, portanto, compromissos efetivos e família e indivíduo são compartilhadas do ponto de vista da
de relação com o outro, como norma ética da convivência, responsabilidade social do cuidado às pessoas.
apresentando-se enquanto valor informador da dignidade da
pessoa humana (BARBOZA, 2006). Diante disso, devemos – além de assumir o cuidado como direito
de promoção do desenvolvimento pessoal das seguranças
emocionais, da autonomia, da autoestima – incluir as pessoas
no âmbito do SUAS, conforme preconiza a PNAS. O cuidado
pode estar presente no dia a dia das relações institucionais e
profissionais, fundamentado na troca, na comunicação e na
contribuição mútua que se estabelece entre o profissional ou o
técnico e o público atendido (AGICH, 2008).

“[...] o cuidar não se reduz apenas a um estilo de relação pessoal,


mas se constrói como um valor que se agrega ao trabalho
profissional e faz parte de uma relação de inclusão, escuta e
reconhecimento do outro [...] como forma de acolhimento e
qualidade da atenção.” (FALEIROS, 2013, p. 86-88).

Foto: © [DraganaGordic] / Shutterstock.

13 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


1.3 Desproteções sociais e violações de direitos que, porventura, direcionamos ao indivíduo/família, sem que
Confira no podcast o conceito de desproteção social. pensemos que a própria família está desprotegida, e, portanto,
sem condições de exercer sua capacidade protetiva, haja vista a
responsabilidade do Estado de garantir a proteção social.
PODCAST
O Estado tem importante papel na garantia de direitos. Existem situações que, somadas à desproteção social e
Contudo, se não cumprir com a sua responsabilidade à falta de serviços de compartilhamento de cuidados,
pública, instituída na Constituição Federal de 1988, pode podem vulnerabilizar ainda mais pessoas e famílias.
promover a desproteção social. A desproteção social Casos em que, diante da pobreza, da falta de acesso à
relaciona-se à precariedade de acesso a bens e serviços educação, saúde, cultura, lazer e a tecnologias assistivas,
e à violação de direitos. Em outras palavras, o conceito e da ausência de rede de apoio, pode haver situações
de desproteção social está associado a situações de de risco e violações de direito. Além disso, existem as
vulnerabilidade e risco social e pessoal, que, dada a situações de muito estresse e sobrecarga de cuidados a
insuficiência de garantias de proteção social pelo Estado crianças, pessoas com deficiência, idosos, cuidadoras
e pela sociedade, podem culminar em um conjunto de únicas e outras condições. Daí a importância do apoio
violações de direitos básicos. especializado, diferenciado, de auxílio e suporte à família
com pessoas que requerem cuidados mais específicos nas
situações de dependência, como pessoas com deficiência,
Há de se reconstruir o olhar para a realidade social, da qual idosos e crianças e adolescentes (sujeitos em situação
fazem parte os sujeitos e famílias que demandam cuidados peculiar de desenvolvimento).
dos serviços socioassistenciais. É fundamental se apropriar de
conceitos que apontam para as realidades vividas pelas pessoas,
de modo a qualificar o funcionamento dos serviços, programas,
projetos e benefícios ofertados como parte do sistema de
proteção. O conceito de desproteção social nos convida a refletir
sobre a complexidade de ofertar cuidados, os novos saberes a
serem construídos, as parcerias necessárias e a culpabilização

14 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


1.4 O papel do Estado e das famílias
Como visto anteriormente, ao Estado, à família e à sociedade O SUAS, portanto, se organiza em torno de uma rede de
incube a responsabilidade de garantir proteção social. proteção social descentralizada política e administrativamente,
E, a partir da Política Nacional de Assistência Social, deve-se garantindo participação popular, com primazia da
assegurar o direito de cidadania, por meio do atendimento responsabilidade do Estado, tendo como eixos primordiais
às necessidades básicas dos segmentos populacionais, a territorialização e a matricialidade familiar; ou seja, tem o
vulnerabilizados pela pobreza e pela exclusão social. foco na família como núcleo social fundamental para todos os
Assim, as ações que estão no âmbito do SUAS devem ter serviços da política de assistência social. Em outras palavras,
centralidade na família, considerando não apenas as questões a família é um contexto central para a política de assistência
relacionadas ao sujeito em si, mas ao seu contexto familiar e social, devendo ser superada a ideia de culpabilização, uma vez
social, assim como o direito fundamental à convivência que os processos de exclusão sociocultural,
familiar e comunitária. bem como as transformações socioeconômicas,
aprofundam as vulnerabilidades e enfraquecem as condições
de cuidados das famílias.

15 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


A função do cuidador
UNIDADE 2 social no SUAS
Nesta unidade, você conhecerá a Resolução CNAS nº 09/2014,
à luz da Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais do PODCAST
SUAS, instituída pela Resolução CNAS nº 109/2009; aprenderá O SUAS tem como foco central a atenção às famílias e aos
sobre os cuidados prestados pelo SUAS e sobre as especificidades indivíduos, por meio de serviços que promovem seguranças
das situações de vulnerabilidade, risco social e violação de socioassistenciais, de acordo com as necessidades e
direitos dos públicos atendidos pela Proteção Social Básica e a situação de vulnerabilidade e risco social em que se
Especial de Média e Alta Complexidade. encontram. O trabalho social desempenhado pelo cuidador
social no SUAS busca promover o desenvolvimento de
2.1 Contextualizando a função do cuidador social potencialidades e o fortalecimento de vínculos familiares
Entre os profissionais que compõem as equipes de referência e comunitários, a partir de ações de caráter preventivo,
do SUAS, temos o cuidador social. A atuação desse profissional protetivo e proativo. Além disso, busca promover a
se desenvolve a partir de ações articuladas ao impacto social participação social, a autonomia e a autoestima do
previsto na Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais público atendido. Ao dar apoio às famílias, diminui-se a
para cada serviço que prevê esse trabalho a ser realizado no sobrecarga dessas na tarefa de cuidar, desenvolvendo
âmbito do SUAS. Confira no podcast a seguir a função do formas de comunicação e cuidado, com vistas à autonomia
cuidador social. dos envolvidos e ao desenvolvimento das capacidades
adaptativas para a vida diária. Quanto à participação
social e autoestima, deve-se: acompanhar o deslocamento
do usuário, viabilizando seu acesso a serviços básicos
(bancos, mercados, farmácias, entre outros), com atenção
às necessidades específicas; incentivar a convivência mista
entre os residentes de diversos graus de dependência;
ajudar no desenvolvimento do protagonismo, bem como
promover condições para a independência e o autocuidado.

17 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


O trabalho realizado pelo cuidador social deve ser guiado por
princípios éticos estabelecidos na Norma Operacional Básica
de Recursos Humanos do SUAS (NOB-RH/SUAS e na NOB/
SUAS 2012), que orienta gestores e demais trabalhadores(as) do
SUAS quanto às suas competências e metodologias de trabalho
desenvolvidas voltadas às famílias e indivíduos atendidos pela
rede de serviços socioassistenciais.

2.2 Conhecendo a Resolução CNAS nº 9/2014 à luz da


Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais do SUAS –
Resolução CNAS nº 109/2009
A Resolução CNAS nº 9, de 15 de abril de 2014, reconhece
as ocupações profissionais de ensino médio e fundamental
que compõem as equipes de referência do Sistema Único de
Assistência Social (SUAS), previstas na Norma Operacional
Básica de Recursos Humanos do Sistema Único de Assistência
Social (NOB-RH/SUAS). A resolução também apresenta as
funções de cada uma dessas ocupações, elencando o conjunto de Foto: © [alphaspirit.it] / Shutterstock.
atividades ou tarefas que são executadas de forma sistemática
pelo trabalhador de uma determinada ocupação. Em resumo, a Resolução CNAS nº 9/2014 trata dos profissionais
do SUAS com ensino médio e fundamental completos,
Assim, a normativa reconhece os profissionais que compõem o validando as ocupações dessas escolaridades já estabelecidas
SUAS e que contribuem com o trabalho, por meio do conjunto na NOB-RH/SUAS. Além disso, reconhece outras ocupações e
de seus conhecimentos, habilidades e ações. Em outras palavras, áreas de ocupações com ensino médio e fundamental completos
reconhece as competências profissionais específicas de cada de auxílio às especificidades dos serviços, programas, projetos,
área, que, por sua vez, deve atuar de forma integrada com as benefícios e transferência de renda, em seu provimento, para o
demais, de modo a alcançar os objetivos e resultados esperados. apoio às funções de gestão e operacional do sistema.

18 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


considerando as necessidades e limitações de cada pessoa, bem
SAIBA MAIS como oficinas de culinária e atividades socioculturais.
Para conhecer mais sobre a Resolução CNAS nº 9/2014 e as
atribuições gerais do cuidador social, acesse o documento Contribuir para a melhoria da atenção
na íntegra, disponível em: http://blog.mds.gov.br/ prestada aos membros das famílias em
redesuas/resolucao-no-9-de-15-de-abril-de-2014/. situação de dependência: essa atuação
pode ser ampliada no serviço de média
complexidade, que tem como usuários a
E quais as atribuições do cuidador social no SUAS? pessoa cuidada e seu cuidador familiar.
É necessário saber, primeiramente, que o cuidador social é Dessa forma, o atendimento prestado, por meio de espaços de escuta
um profissional de nível médio, não sendo exigido formação e de orientação acolhedores, deve contribuir com estratégias para
superior ou técnica específica para atuar nessa função. Já o evitar a sobrecarga do cuidador familiar e apoiá-lo,
auxiliar de cuidador deve ter, pelo menos, o nível fundamental visando diminuir o risco de violações por conta dessa sobrecarga.
de escolaridade e capacitação específica. Este presta apoio às
funções do cuidador social e auxílio no cuidado com o usuário. Desenvolver atividades para o acolhimento,
proteção integral e promoção da autonomia
Dessa forma, a resolução n° 9/2014 atribui ao cuidador social, e autoestima dos usuários: é necessário
entre outras, as funções relacionadas a seguir. que o cuidado ultrapasse o atendimento às
necessidades do corpo físico, pois,
Desenvolver atividades de cuidados básicos no acolhimento e na promoção da autonomia
essenciais para a vida diária e e autoestima, deve-se considerar,
instrumentais de autonomia e participação por exemplo, as questões emocionais, a história de vida,
social dos usuários, a partir de diferentes os sentimentos e as emoções da pessoa a ser cuidada,
formas e metodologias, contemplando as a partir de atividades de passeios, oficinas de dança e música,
dimensões individuais e coletivas: essa função exige o diálogo durante o banho ou troca de roupa/fralda, no sentido de
engajamento do cuidador em atividades de cuidados básicos, tornar esses momentos menos constrangedores para o idoso ou
por exemplo: dar banho, trocar fraldas – seja em bebês/ pessoa com deficiência.
crianças, idosos ou pessoas com deficiência que demandem esse
suporte –, além de promover atividades físicas e corporais,

19 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


Atuar na recepção dos usuários Desenvolver atividades recreativas
possibilitando uma ambiência acolhedora: e lúdicas: é de grande importância para o
esse trabalho exige sensibilidade e empatia, fortalecimento de vínculos entre os usuários,
ou seja, o cuidador social deve ter uma as famílias e a equipe profissional.
atitude acolhedora com o usuário, prestando Além disso, contribui com o
informações sobre o serviço, esclarecendo desenvolvimento, qualidade de vida e bem-estar dos usuários.
possíveis dúvidas que os usuários possam ter
acerca do atendimento e acompanhamento de sua demanda. Potencializar a convivência familiar
e comunitária: abrange a participação do
Apoiar os usuários no planejamento e cuidador social em atividades de mediação de
organização de sua rotina diária: visitas familiares nos casos, por exemplo,
envolve o auxílio do cuidador no de pessoas em situação de institucionalização.
planejamento e organização das atividades Tal função envolve incentivo e trabalhos
a serem realizadas ao longo do dia pelo junto à comunidade, de modo que essa passe a atuar como apoio
usuário, como horários do banho, descanso, social às famílias.
alimentação, compras e passeios. Para tanto, o cuidador deve
conhecer e levar em consideração as particularidades, gostos e Apoiar famílias que possuem, entre os seus
necessidades específicas da pessoa cuidada. membros, indivíduos que necessitam de
cuidados, por meio da promoção de
Apoiar e acompanhar os usuários em espaços coletivos de escuta e troca de
atividades externas: essa ação é muito vivência familiar: essa função requer que o cuidador social
importante para o aspecto relacional entre o crie espaços de escuta e expressão para as famílias, como as
cuidador e o usuário, pois pressupõe que, no rodas de conversas para trocas de experiências, por exemplo.
acompanhamento em atividades externas, haja
diálogo, trocas de informações e vivências, de modo que o usuário Há, ainda, em relação às atribuições do cuidador social,
não se sinta só. Além disso, promover passeios em praças, museus o dever de comunicação com a equipe de referência e com a
e parques ambientais garante a convivência comunitária, evitando coordenação do serviço, conforme fluxos estabelecidos,
o isolamento social e suas consequências, como o sentimento de e o cumprimento do sigilo profissional.
solidão, desenvolvimento de depressão e ansiedade.

20 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


desqualificar/culpabilizar os usuários ou suas famílias pela
QR CODE situação vivenciada e ter respeito pela história de vida dos
Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone ou usuários, evitando a exposição por meio de comentários ou
tablet) para o QR Code ao lado para assistir ao vídeo sobre circulação de informações pessoais destes e de suas famílias
sigilo profissional do cuidador social ou acesse o link: dentro e fora do serviço.
<sigilo_profissional_video2>.

2.3 O âmbito dos cuidados prestados pela Proteção Social


O sigilo envolve a proteção à privacidade dos usuários, Básica e pela Proteção Social Especial de Média Complexidade
preservando suas informações pessoais. A violação do e de Alta Complexidade
sigilo profissional pode acarretar até ações judiciais, A atuação do cuidador social no SUAS pode ser realizada
por isso o cuidador social deve estar atento a esse ponto, no âmbito da Proteção Social Básica, a partir de serviços,
evitando comentar aspectos relativos à intimidade e às programas, projetos e benefícios ofertados pelo Centro de
informações pessoais dos usuários, as quais devem ser Referência da Assistência Social (CRAS). Também pode ocorrer
utilizadas estritamente no âmbito profissional, para no âmbito da Proteção Social Especial, que abrange a média e a
o bom desenvolvimento do trabalho e atendimento às alta complexidades, as quais dispõem de serviços e programas
necessidades específicas de cada usuário. Pela NOB-RH/ especializados voltados a famílias e indivíduos, incluindo
SUAS, o sigilo apresenta-se de duas formas: na postura ética pessoas idosas e pessoas com deficiência, em situação de risco
dos trabalhadores, orientada pelos códigos de ética de cada ou com direitos violados.
profissão, e nos parâmetros desenvolvidos pela equipe de
referência interdisciplinar, para o registro das informações Proteção Social Básica
divulgadas pelo público atendido por outras instituições. A assistência social organiza o conjunto de serviços e ações que
estão sob seu escopo a partir de dois tipos de proteção.
Dessa forma, deve-se garantir o sigilo e a privacidade do público O primeiro refere-se à Proteção Social Básica (PSB), tendo como
atendido nas salas de atendimentos individualizados/coletivos, objetivo a prevenção de situações de risco, por meio de ações de
bem como na escuta qualificada. O cuidador social passa fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, com foco
boa parte do tempo com o público atendido, por isso, o seu na potencialidade para a superação das vulnerabilidades vividas
trabalho deve ser conduzido por uma postura ética e respeitosa, por indivíduos e famílias, em decorrência da pobreza, privação,
preservando, assim, o sigilo do que é escutado. Nesse sentido, ausência de renda, acesso precário ou nulo aos serviços públicos
o cuidador social também deve ter o cuidado de não e fragilização de vínculos afetivos, discriminações etárias,

21 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


étnico-raciais, de gênero ou por deficiência, entre outras. Além do PAIF, a Tipificação Nacional dos Serviços
Os serviços, programas, projetos e benefícios da PSB são Socioassistenciais também prevê a oferta do Serviço de PSB
ofertados pelo Centro de Referência da Assistência Social no Domicílio para Pessoas com Deficiência e Idosas, que visa
(CRAS), unidade pública estatal descentralizada, de base garantir acesso a direitos e prevenir essa população de agravos
territorial e gestão municipal e do Distrito Federal. Entre de vulnerabilidades que possam fragilizar e romper os vínculos
suas funções, tem-se a execução do Serviço de Proteção e familiares e comunitários. Considera-se que a oferta do
Atendimento Integral à Família (PAIF). Esse serviço visa serviço no ambiente do domicílio pode ser o atendimento mais
fortalecer o papel protetivo das famílias, envolvendo-as como adequado e oportuno para atender às necessidades específicas
protagonistas sociais e capazes de responder pelas atribuições dos usuários, pois dá suporte às dinâmicas no ambiente
de sustento, guarda e educação de seus filhos e garantir a domiciliar, envolvendo familiares, amigos e a comunidade,
proteção aos seus membros em situação de dependência, auxiliando no fortalecimento da autonomia e das relações de
como idosos e pessoas com deficiência. cuidado e convívio familiar e comunitário, e também no
acesso a direitos.

Proteção Social Especial


O segundo tipo de proteção é a Proteção Social Especial
(PSE), que dispõe de um conjunto de serviços e programas
especializados de média complexidade e alta complexidade
voltados a famílias e indivíduos, incluindo pessoas idosas e
pessoas com deficiência, em situação de risco ou com direitos
violados. Ressalta-se que os riscos e violações podem estar
relacionados também à situação de dependência de cuidados de
terceiros em virtude da idade (pessoa idosa) e da deficiência.

22 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


Proteção Social Especial de Média Complexidade
A PSE de Média Complexidade organiza serviços, programas e
projetos especializados destinados ao trabalho social
(em grupo ou individualizado), continuado e articulado com
a rede socioassistencial, bem como com as demais políticas
setoriais e com o Sistema de Justiça. Entre as unidades que
prestam serviço de média complexidade, temos: 1) Centro de
Referência Especializado de Assistência Social (CREAS);
2) Centro de Referência Especializado para População em
Situação de Rua (Centro POP); 3) Centro-Dia.

Proteção Social Especial de Alta Complexidade


Já na PSE de Alta Complexidade, temos os serviços de
acolhimento em diferentes modalidades para famílias ou
indivíduos que estão sem referência familiar ou que precisam
As ações realizadas pela PSE visam contribuir com o ser afastados do núcleo familiar de origem, como forma de
fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, com garantir sua proteção integral. Para cada público (crianças
a qualificação das funções protetivas da família e com a e adolescentes; jovens entre 18 e 21 anos; jovens e adultos
reconstrução de vínculos familiares fragilizados ou rompidos, com deficiência; adultos e famílias; mulheres em situação
além de proteger famílias e indivíduos no enfrentamento de violência doméstica; idosos; famílias ou indivíduos
de situações de violação de direitos. Dessa forma, a PSE está desabrigados/desalojados), há modalidades específicas de
voltada às pessoas que se encontram em situação de risco serviços de acolhimento tipificadas. De modo geral, os serviços
pessoal e social ou já vivenciam violação dos direitos humanos de acolhimento funcionam como moradias provisórias até que
(ocorrência de violência física, psicológica, negligência, seja viabilizado o retorno à família de origem,
abandono, violência sexual – abuso e exploração), situação de o encaminhamento para a família substituta (quando for o caso)
rua, trabalho infantil, prática de ato infracional, fragilização ou o alcance da autonomia (como moradia própria/alugada).
ou rompimento de vínculos, afastamento do convívio familiar, No que diz respeito às pessoas com deficiência, o serviço de
como a precarização dos cuidados familiares nas situações de acolhimento em distintas unidades visa garantir a proteção
dependência das pessoas idosas e das pessoas com deficiência. integral nos vínculos familiares fragilizados ou rompidos,
A PSE abrange os serviços de média e alta complexidade. especialmente nas Residências Inclusivas – unidades inseridas

23 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


na comunidade que contam com cuidadores sociais na equipe Da mesma forma, os cuidados prestados no âmbito do
de referência. acolhimento institucional, de modo geral, devem favorecer
a convivência e o fortalecimento de vínculos familiares e
No que tange aos cuidados prestados ao público atendido, comunitários, além de contribuir para o desenvolvimento e
a figura do cuidador social se faz presente, especialmente, nos ampliação da autonomia dos usuários.
serviços de acolhimento, Centros-Dia e domicílios dos usuários.
No Centro-Dia, os cuidados prestados ampliam e auxiliam os
cuidados familiares, evitando a precarização desses cuidados
em decorrência de fatores como a vivência da extrema pobreza,
o envelhecimento dos cuidadores familiares e o estresse diário.
Assim, o serviço contribui para prevenir a institucionalização,
garantir a convivência familiar e comunitária do usuário e
fortalecer o papel protetivo das famílias.

24 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


As atribuições dos
cuidadores sociais no
trabalho com crianças
e adolescentes nos
Serviços de Acolhimento
UNIDADE 3 Institucional
Nesta unidade, você aprenderá sobre o acolhimento
institucional de crianças e adolescentes, especialmente sobre
o trabalho do cuidador social nessas unidades. Para tanto,
abordaremos as modalidades de acolhimento institucional
para crianças e adolescentes, suas características gerais e as
principais funções do educador social, com exemplos de boas
práticas nesse contexto, com vistas à proteção integral de
crianças e adolescentes.

3.1 Contextualizando as atribuições do cuidador social no


acolhimento institucional de crianças e adolescentes
Você sabia que antes da promulgação do Estatuto da Criança e
do Adolescente (ECA) em 1990, muitas crianças e adolescentes,
especialmente as que viviam em situação de pobreza, eram
recolhidas em grandes instituições, denominadas de orfanatos,
internatos, educandários? Estas tinham uma arquitetura
imponente, pilares e paredes altos, barreiras edificadas entre
o mundo interno e externo dessas instituições. Elas acolhiam
um número muito grande de crianças e adolescentes na mesma
unidade, de modo que o atendimento era extremamente
coletivizado, com controle do tempo e disciplinarização rígidos, Foto: © [Klochkov SCS] / Shutterstock.
além da segregação social sofrida por essas crianças e adolescentes,
que costumavam passar muitos anos nessas instituições e
praticamente não tinham contato com suas famílias.

26 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


Contudo, a definição do contexto institucional e os modos de se Atualmente, o encaminhamento de crianças e adolescentes para
referirem a ele sofreram transformações a partir do ECA, sendo o os serviços de acolhimento ocorre apenas por medida protetiva de
termo “acolhimento institucional” oficializado com a promulgação caráter excepcional e provisório, determinada pela autoridade
da Lei 12.010/2009. Nesse sentido, os Serviços de Acolhimento judicial, devendo ser aplicada somente em situações de grave risco
Institucional devem, como um equipamento da política de Proteção à sua integridade física e/ou psíquica (BRASIL, 2009).
Social Especial, ajustar-se a essa nova definição sociojurídica
e constituir-se em contexto promotor de desenvolvimento. A excepcionalidade do acolhimento significa que separar uma
Isso significa reconhecer que a criança e o adolescente não se criança ou adolescente de sua família deve ser a última opção,
desenvolvem somente a partir de elementos materiais necessários realizada somente após a família ter sido atendida por serviços que
à satisfação das suas necessidades básicas, mas também a partir a apoiem no cuidado com os filhos e ajudem a superar as situações
da oportunidade de, nesses ambientes, beneficiar-se das relações de violação de direito. Apenas quando a criança ou adolescente
afetivas disponíveis para o seu cuidado e educação. estiver em situação de abandono ou correndo risco permanecer no
ambiente familiar e não possuir nenhum outro parente que tenha
vínculo afetivo com ele(a) e possa se responsabilizar pelos seus
SAIBA MAIS cuidados, é que a criança ou adolescente deve ser encaminhada
Diversas pesquisas têm demonstrado que passar muitos para um serviço de acolhimento. E atenção: pobreza não é motivo
anos em uma instituição, longe do convívio familiar e sem para se afastar uma criança/adolescente da sua família!
atendimento individualizado é muito prejudicial para o
desenvolvimento de crianças e adolescentes, especialmente Em relação à provisoriedade, quando verificada a necessidade
durante a primeira infância. Uma das pesquisas mais de afastamento do contexto familiar, o tempo de acolhimento da
importantes sobre esse tema é o estudo dos “Órfãos da criança e do adolescente no serviço deverá ser de no máximo 18
Romênia”, que acompanhou durante quase duas décadas meses. Nesse período, todos os esforços devem ser feitos para que
o desenvolvimento de crianças que viviam em grandes a situação que levou ao acolhimento seja superada e a criança/
instituições na Romênia, e constatou que ficar muito tempo adolescente possa retornar de forma segura para sua família (seus
nessas instituições, especialmente nos primeiros anos de vida, pais ou parentes próximos, como avós ou tios). Quando isso não
pode causar prejuízos ao desenvolvimento físico, psicológico e for possível, a criança ou adolescente deve ser encaminhado pelo
socioemocional. Assista ao vídeo “O caso dos órfãos da Romênia: Judiciário para adoção, de modo que tenha, assim, uma nova
o começo da vida”, disponível em: https://www.youtube.com/ família. A permanência da criança e adolescente por período
watch?v=QmKggL2oJeo. superior a 18 meses deverá ser excepcional e, nesses casos, será
necessária justificativa por escrito ao juiz.

27 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


convivência familiar e comunitária, educação, saúde, acesso a
benefícios e inclusão em programas de transferência de renda
e relações de vínculos no serviço de acolhimento.

SAIBA MAIS
Para conhecer os princípios que norteiam a construção
do PIA, leia as “Orientações Técnicas para elaboração do
PIA”, disponível em: https://sapeca.campinas.sp.gov.
br/sites/sapeca.campinas.sp.gov.br/files/publicacoes/
OrientacoestecnicasparaelaboracaodoPIA%20Parte%201.pdf.

Ressalta-se que, durante todo o processo de acolhimento,


a família de origem deve ser acompanhada pela equipe
profissional, assim como a criança e o adolescente, a partir de um
conjunto de ações estratégicas projetadas no Plano Individual de
Atendimento (PIA). Tais ações devem atender às especificidades
Foto: © [Titikul_B] / Shutterstock.
de cuidado da criança ou adolescente acolhido, no melhor
interesse destes, e apoiar a família a superar as situações que
O Plano Individual de Atendimento (PIA) é um instrumento ensejaram o acolhimento.
que norteia as ações a serem realizadas para viabilizar a
proteção integral, a reintegração familiar e comunitária e a
autonomia de crianças e adolescentes afastados do contexto GESTÃO EFETIVA
familiar e sob proteção de serviços de acolhimento. É uma A elaboração do PIA é de responsabilidade da equipe do serviço
estratégia de planejamento que, a partir do estudo detalhado de acolhimento, mas deve contar com a participação dos
de cada caso, compreende a singularidade dos sujeitos e cuidadores. Deve envolver, ainda, os diferentes atores da rede
organiza as ações e atividades a serem desenvolvidas com de atendimento responsáveis pela atenção às necessidades do
a criança, adolescente e sua família durante o período acolhido e sua família (posto de saúde, escola, CREAS etc.), além de
de acolhimento, nas áreas da documentação, jurídica, envolver o próprio acolhido e sua família na sua elaboração.

28 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


Dessa forma, a participação do cuidador social na elaboração Os Serviços de Acolhimento Institucional são as unidades do
do PIA é de fundamental importância, uma vez que atua como SUAS que prestam cuidados e proteção integral a crianças e
colaborador nas intervenções a serem desenvolvidas ao longo do adolescentes que precisam ficar provisoriamente afastados do
acompanhamento de cada caso. contexto familiar e que contam com o trabalho do cuidador
social. Existem duas modalidades de acolhimento: abrigo
institucional e Casa Lar.
DICAS DE MÍDIAS
O documentário “O Começo do Fim” conta a história do As duas possuem pontos em comum e também diferenças.
fim da FEBEM de São Paulo, após a promulgação do ECA. Como pontos em comum temos:
O vídeo está disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=S0ZhiI_C0Xk&t=10s. ■ Localização: áreas residenciais, que favoreçam a convivência
social o acesso aos equipamentos comunitários (escolas,
Assista também ao documentário “Que Casa é Essa: postos de saúde, praças).
Acolhimento Institucional”, que ilustra de forma ■ Fachada: Deve ter aspecto semelhante ao de uma residência,
simples e didática como deve ser o funcionamento de um com arquitetura no mesmo padrão das demais residências
serviço de acolhimento para crianças e adolescentes na da comunidade. Não devem ser instaladas placas indicativas
perspectiva da doutrina da proteção integral. da natureza institucional da unidade e nem nomenclaturas
O vídeo está disponível em: https://www.youtube.com/ que remetam a aspectos negativos, que despotencializam as
watch?v=fABrQtp4jwA&t=237s. crianças e adolescentes.

Já as diferenças entre essas unidades de acolhimento estão


3.2 Unidades de atendimento do SUAS que prestam cuidados sintentizadas no quadro a seguir.
e proteção integral a crianças e adolescentes: tipos e
características gerais
Neste tópico, você aprenderá sobre os serviços que prestam
cuidados e proteção integral a crianças e adolescentes (com
deficiência ou não), bem como sobre ações de boas práticas de
cuidado e educação a serem desenvolvidas pelo cuidador social
no contexto institucional.

29 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


Abrigo Institucional Casa Lar A principal diferença entre a Casa Lar e o Abrigo Institucional,
além do número de crianças e adolescentes atendidos pelas
Serviço de acolhimento provisório
oferecido em unidades residenciais, unidades, está na figura do cuidador residente (pessoa ou casal),
Serviço que oferece nas quais pelo menos uma pessoa que deve residir na Casa Lar juntamente com as crianças/
acolhimento provisório para ou casal trabalha como educador/
adolescentes acolhidos, sendo responsável pelos cuidados e
crianças e adolescentes cuidador residente – em uma
afastados do convívio familiar casa que não é a sua – prestando organização da rotina.
por meio de medida protetiva cuidados a um grupo de crianças
Definição de abrigo (ECA, art. 101), e adolescentes afastados do
em função de abandono, convívio familiar por meio de É importante destacar que esses serviços devem evitar
ou cujas famílias/responsáveis medida protetiva de abrigo (ECA, especializações e atendimentos exclusivos (adotar faixas
encontrem-se temporariamente art. 101), em função de abandono
impossibilitados de cumprir sua ou cujas famílias ou responsáveis etárias muito estreitas, direcionar o atendimento apenas a
função de cuidado e proteção. encontrem-se temporariamente determinado sexo, atender exclusivamente ou não atender
impossibilitados de cumprir sua
função de cuidado e proteção. crianças e adolescentes com deficiência ou que vivam com
HIV/aids). E, caso seja necessária a atenção especializada,
Crianças e adolescentes de 0 a esta deve ser assegurada por meio da articulação com a rede
18 anos sob medida protetiva
de abrigo. Esta unidade é, de serviços, que, inclusive, pode contribuir para a capacitação
Crianças e adolescentes
particularmente, adequada ao específica dos cuidadores.
Público-alvo de 0 a 18 anos sob medida
atendimento de grupos de irmãos
protetiva de abrigo.
e a crianças e adolescentes com
perspectiva de acolhimento
de média ou longa duração.

Número máximo de
crianças e adolescentes 20 crianças e adolescentes. 10 crianças e adolescentes.
por unidade

Equipe profissional mínima: Coordenador, equipe técnica


coordenador, equipe técnica (psicólogo, assistente social
Recursos humanos (psicólogo, assistente social e e pedagogo), educador/
pedagogo), educador/cuidador cuidador residente e auxiliar
e auxiliar de educador/cuidador. de educador/cuidador.

Fonte: Adaptado do documento de Orientações Técnicas: Serviços de


Acolhimento de Crianças e Adolescentes (BRASIL, 2009).

30 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


3.3 O desenvolvimento saudável no contexto institucional:
promovendo boas práticas de cuidado e educação
O acolhimento institucional, mesmo sendo uma medida
provisória para a criança e/ou do adolescente, deve garantir
bem-estar, possibilitar a construção de novos vínculos e
desenvolvimento de projetos de vida. Dessa forma,
os serviços de acolhimento para crianças e adolescentes podem
constituir-se contextos de promoção para o desenvolvimento
saudável, independente do tempo que a criança ou adolescente
permaneça acolhido, pois são pessoas em pleno processo de
desenvolvimento. O atendimento deverá ser oferecido para
um pequeno grupo e garantir a singularidade do acolhido,
fornecendo espaços privados, objetos pessoais e registros,
inclusive fotográficos, sobre a história de vida e desenvolvimento
Figura ilustrativa da capa e contracapa do documento de Orientações de cada criança e adolescente. Confira no podcast a importância
Técnicas (BRASIL, 2009a). da figura do cuidador social neste processo.

SAIBA MAIS
Para saber mais sobre as características dos serviços de
acolhimento para crianças e adolescentes e como deve ser
desenvolvido o trabalho nessas unidades, leia o documento
“Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento de Crianças e
Adolescentes” (BRASIL, 2009a), disponível em: https://www.mds.
gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/
orientacoes-tecnicas-servicos-de-alcolhimento.pdf.

31 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


PODCAST Os aspectos mais importantes do serviço de acolhimento
Durante o acolhimento, a criança ou o adolescente devem são as características que encorajam e possibilitam que
ter a oportunidade de estabelecer novos vínculos afetivos, a criança e o adolescente participem de uma variedade
favorecendo uma relação de amizade e compreensão. Nesse de atividades com outras pessoas ou espontaneamente,
sentido, a figura do cuidador social é muito importante para sozinhos ou com outras crianças e adolescentes.
que o trabalho de cuidado e educação tenha resultados
satisfatórios e reduza a angústia e o estresse provocados Vejamos, então, quais as principais atribuições do cuidador
pela ruptura dos vínculos familiares. social no serviço de acolhimento para crianças e adolescentes.
No quadro que segue, apresentamos a caracterização geral do
O cuidador social é um profissional importante e cuidador social no Abrigo Institucional e na Casa Lar.
necessário para muitas crianças, adolescentes e suas
famílias, oferecendo a eles momentos e oportunidades
para interações e atividades interessantes, bem como
promovendo uma organização de rotinas de atenção,
cuidado e educação favoráveis para um desenvolvimento
saudável. Assim, o acolhimento pode favorecer o
desenvolvimento socioemocional e a autonomia, quando
oferece um ambiente físico e social com oportunidades
de locomoção, variedades de objetos para a criança
e o adolescente utilizarem em atividades livres e
disponibilidade de cuidadores, com os quais possam
interagir em uma variedade de atividades, além de uma
figura de referência com quem possam criar um forte
vínculo (BRONFENBRENNER, 1996).

32 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


Abrigo Institucional Casa Lar

■ Formação mínima: nível médio e capacitação específica.


■ Formação mínima: nível médio e capacitação específica.
Perfil ■ Desejável experiência em atendimento a crianças e adolescentes.
■ Desejável experiência em atendimento a crianças e adolescentes.
■ Trabalha e reside na Casa Lar.

■ 1 profissional para até 10 crianças/adolescentes, por turno. ■ 1 profissional para até 10 crianças/adolescentes, por turno.
■ A quantidade de profissionais deverá ser aumentada quando houver crianças/adolescentes ■ A quantidade de profissionais deverá ser aumentada quando houver crianças/adolescentes
que demandem atenção específica (com deficiência, com necessidades específicas de saúde que demandem atenção específica (com deficiência, com necessidades específicas de saúde
ou idade inferior a um ano. Para tanto, deverá ser adotada a seguinte relação: ou idade inferior a um ano. Para tanto, deverá ser adotada a seguinte relação:
Quantidade
a. 1 cuidador para cada 8 usuários, quando houver 1 criança/adolescente com demandas a. 1 cuidador para cada 8 usuários, quando houver 1 criança/adolescente com demandas
específicas. específicas.
b. 1 cuidador para cada 6 crianças/adolescentes, quando houver 2 ou crianças/adolescentes b. 1 cuidador para cada 6 crianças/adolescentes, quando houver 2 ou crianças/adolescentes
com demandas específicas. com demandas específicas.

■ Cuidados básicos com alimentação, higiene e proteção.


■ Organização da rotina doméstica e do espaço residencial.
■ Organização do ambiente (espaço físico e atividades adequadas ao grau de desenvolvimento
■ Cuidados básicos com alimentação, higiene e proteção.
de cada criança ou adolescente).
■ Auxílio à criança e ao adolescente para lidar com sua história de vida, fortalecimento da
■ Auxílio à criança e ao adolescente para lidar com sua história de vida, fortalecimento da
autoestima e construção da identidade.
autoestima e construção da identidade.
■ Organização de fotografias e registros individuais sobre o desenvolvimento de cada criança
Principais atividades ■ Organização de fotografias e registros individuais sobre o desenvolvimento de cada criança
e/ou adolescente, de modo a preservar sua história de vida.
desenvolvidas e/ou adolescente, de modo a preservar sua história de vida.
■ Acompanhamento nos serviços de saúde, escola e outros serviços requeridos no cotidiano.
■ Acompanhamento nos serviços de saúde, escola e outros serviços requeridos no cotidiano.
Quando se mostrar necessário e pertinente, um profissional de nível superior deverá também
Quando se mostrar necessário e pertinente, um profissional de nível superior deverá também
participar deste acompanhamento.
participar deste acompanhamento.
■ Apoio na preparação da criança ou adolescente para o desligamento, sendo, para tanto,
■ Apoio na preparação da criança ou adolescente para o desligamento, sendo, para tanto,
orientado e supervisionado por um profissional de nível superior.
orientado e supervisionado por um profissional de nível superior.

Fonte: Adaptado do documento de Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento de Crianças e Adolescentes (BRASIL, 2009).

33 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


Para que o acolhimento alcance um caráter protetivo e
Construção de relações afetivas personalizadas e individualizadas com a criança e o
permita às crianças e aos adolescentes acolhidos, segurança e
adolescente: esta prática requer a valorização do cuidador de referência – aquele com quem a
estabilidade nos cuidados recebidos, a criação de vínculos com o criança/adolescente estabelece uma relação de carinho e de amizade. Incentivar esse trabalho nos
cuidador de referência e previsibilidade da organização da rotina serviços de acolhimento é de fundamental importância para crianças e adolescentes, pois
desenvolver uma relação afetiva e de segurança é uma necessidade primordial e que nenhum
diária, os cuidadores deverão trabalhar, preferencialmente,
instrumental técnico substitui, sendo fundamental para o desenvolvimento pessoal e social.
em turnos fixos diários (evitando o modelo de plantões de 24 por Como exemplo, existem situações de conflitos internos (medo, revolta, tristeza, incertezas) sobre
72 horas ou similares), para que o mesmo cuidador desenvolva as as quais a criança ou o adolescente se sente mais à vontade em conversar com o cuidador com
quem desenvolveu uma relação de maior confiança. Ressalta-se, ainda, que ser esta figura de
mesmas tarefas da rotina de cada dia (por exemplo: acordar, dar
referência não significa substituir a família; ao contrário, o cuidador de referência é um importante
o café da manhã, levar à escola, colocar para dormir, etc.). profissional no trabalho de fortalecimento de vínculos familiares.
Na troca de turno, os cuidadores devem se comunicar,
garantindo que todos fiquem cientes de aspectos importantes
para dar continuidade aos cuidados necessários.

As atribuições do cuidador social no serviço de acolhimento estão


relacionadas a ações práticas que englobam, principalmente,
os cuidados básicos aos acolhidos, como alimentação, higiene,
acompanhamento na escola ou questões de saúde, mas também
vão além desses cuidados. Existem atividades práticas
relacionadas à organização da rotina no serviço de acolhimento
que são de extrema importância para o desenvolvimento pessoal
e social da criança e do adolescente, pois o trabalho do cuidador
social se dá na relação com as particularidades da experiência de
cada criança/adolescente.

Adolescente acolhida, seu bebê e sua educadora de referência. Espaço de Acolhimento de


Crianças e Adolescentes no Pará.

34 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


Apoio no trabalho de fortalecimento dos vínculos e de reintegração familiar: Acolhimento adequado na chegada da criança/adolescente: a retirada da criança e do
o fortalecimento dos vínculos familiares também deve ocorrer nas ações do cuidador social nos serviços adolescente do contexto familiar é marcada por diversos sentimentos (medo, raiva, tristeza, culpa),
de acolhimento. Durante as visitas, por exemplo, o cuidador pode mediar o encontro da criança e do por isso, a sua chegada ao serviço de acolhimento é um momento muito delicado e requer do cuidador
adolescente com a família e, ao invés de monitorar/vigiar a visita, estabelecer um elo comunicativo social algumas habilidades para auxiliar adequadamente a criança e o adolescente nesse processo.
com as famílias e incentivar trocas de informações e afeto com seus filhos/sobrinhos/netos.
É fundamental uma postura ética e respeitosa, compreendendo que, por trás da história de cada
criança e adolescente, há a história de suas famílias. Por isso, deve-se estar atento para a forma como as
famílias são significadas, evitando adjetivá-las como violentas, negligentes e desestruturadas.
GESTÃO EFETIVA
Dicas para o acolhimento de uma nova criança ou adolescente
no serviço de acolhimento.

1) Apresentar-se pelo nome e apresentar as demais crianças


e adolescentes que vivem na casa e os profissionais que ali
trabalham (é importante, antes da chegada de uma nova
criança/adolescente, informar os demais acolhidos e
envolvê-los nos preparativos para receber bem o(a) novo(a)
companheiro – preparar um lanche de boas-vindas, arrumar
o local onde ele vai dormir, etc.).

2) Apresentar à criança e ao adolescente o serviço, falar da forma de


funcionamento e rotina, colocando-se à disposição para atender
às suas necessidades e dúvidas. Mostre o lugar onde irá dormir e o
espaço para guardar seus pertences.

Momento de uma �isita familiar. Espaço de Acolhimento de Crianças e Adolescentes no Pará.

35 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


Exemplos de perguntas e respostas
3) Evitar questionamentos sobre o motivo que ensejou o
acolhimento, a menos que a criança ou o adolescente queira
falar. Evite muitas perguntas, mas manifeste interesse por suas
necessidades naquele momento: se tem sede ou fome, se quer Eu não sei dizer, mas pode ficar
descansar, o que está precisando. Pouco a pouco, invista em tranquilo(a) que você ficará o tempo
necessário e estaremos aqui com você.
situações nas quais o acolhido possa aprender mais sobre seus QUANTO TEMPO EU
hábitos e preferências. Para isso, é importante ter uma postura VOU FICAR AQUI?
receptiva, aberta à escuta, sensível e acolhedora.

Pode acontecer de a criança ou adolescente fazer perguntas


sobre quanto tempo ficará no acolhimento ou se vai voltar pra
casa. Nesses casos, os cuidadores não devem dar respostas
que não possuem, ou das quais não têm certeza. É importante
encontrar formas de responder a essas perguntas de forma
respeitosa e afetiva.
EU VOU VOLTAR PARA É difícil não saber como as coisas
A CASA DOS MEUS vão ser, né? Eu ainda não sei como e
PAIS QUANDO? se isso vai acontecer, mas tenho
certeza de que todo mundo está se
esforçando para você estar
protegido e bem cuidado.

Fonte: Adaptado do Guia de Acolhimento Familiar (2022).

36 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


A saída do serviço de acolhimento se dá, geralmente, por
uma destas vias:

■ Reintegração familiar – retorno à família


de origem ou extensa.
■ Adoção – processo judicial no qual a criança ou o
adolescente passam a ter outra família.
■ Maioridade – ao completar 18 anos.

A importância dos rituais de despedida


A realização de rituais de despedida, quando alguma criança ou
Caixa de recados, cartas e desenhos, recurso utilizado para facilitar a adolescente for sair do serviço, é importante tanto para aquele
comunicação e a expressão de sentimentos entre crianças e adolescentes que vai quanto para os que ficam, pois celebra o fechamento
e os profissionais do serviço de acolhimento. Espaço de Acolhimento de de um ciclo e o início de outro, agora junto à sua família, e dá a
Crianças e Adolescentes no Pará. oportunidade de todos se despedirem.

Exemplos de rituais de despedida: celebrações que envolvam


Apoio na preparação para o desligamento: a preparação as pessoas que fizeram parte da vida da criança/adolescente ao
para o desligamento institucional da criança e do longo do processo de acolhimento, como um lanche especial,
adolescente começa desde a sua chegada ao serviço. Isso com troca de lembranças e mensagens (especialmente aqueles
significa que todo o período de acolhimento é demarcado que carregam valor simbólico), preparação de um álbum
por ações que objetivam garantir a provisoriedade, com de fotos e lembranças dos momentos vivenciados durante o
vistas a possibilitar sua reintegração à família ou, quando acolhimento, entre outros.
isso não for possível, seu encaminhamento para adoção.
Dessa forma, é importante dar oportunidade para que
as crianças e adolescentes entrem em contato com o que
sentem, pensam e planejam em relação a esse momento.

37 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


SAIBA MAIS Apoio nas atividades escolares: além da função de acompanhar a criança e o adolescente à
escola, o cuidador social, com a supervisão do pedagogo, quando for o caso, deve auxiliar a criança
As mudanças na vida de crianças e adolescentes, devido à e o adolescente em suas atividades escolares, incentivando e contribuindo com o processo de
medida de acolhimento, requerem empatia, especialmente aprendizagem do acolhido. Também é uma forma de demonstrar interesse pela vida da criança e
do adolescente, além de ser oportuno para estreitar laços e dialogar sobre o dia a dia na escola.
nos momentos de chegada no serviço e no momento do
desligamento. A oficina “Chegadas e Partidas: Trabalhando
as Transições no Acolhimento”, promovida pelo Instituto
Fazendo História, de 2021, traz discussões importantes sobre
isso (PINHEIRO et al., 2022). Acesse a oficina no link:
www.familiaacolhedora.org.br/guia/601.

Orientação escolar no ser�iço de acolhimento à cuidadora social e adolescentes acolhidas.


Espaço de Acolhimento de Crianças e Adolescentes no Pará.

Trecho de uma carta de despedida escrita por uma


adolescente à cuidadora social do serviço de acolhimento.
Espaço de Acolhimento de Crianças e Adolescentes no Pará.

38 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


Organização de atividades de lazer em espaços externos ao serviço de acolhimento: Auxílio à criança e ao adolescente para lidar com sua história de vida, fortalecimento
o cuidador social pode incluir como parte da rotina do serviço atividades que favoreçam a da autoestima e construção da identidade: essa atribuição pode ser realizada no formato de
convivência comunitária das crianças e adolescentes, inclusive engajando-se em brincadeiras, de oficinas de contação de histórias em rodas de conversas para a discussão de temas diversificados.
forma a estreitar laços e fortalecer vínculos afetivos. Além disso, essa prática contribui para a É uma prática que favorece o desenvolvimento cognitivo e possibilita a elaboração afetiva e
superação da segregação e confinamento de crianças e adolescentes em situação de acolhimento. emocional. Crianças e adolescentes têm diferentes formas de expressar seus pensamentos, que
podem ser por meio do canto, conto, brincadeira, imitação. Por isso, no cuidado a esse público,
é preciso estar aberto e ter flexibilidade nos processos de conversação, oferecendo diferentes
possibilidades de expressão.

Cuidadora social brincando com acolhidos em área externa ao ser�iço. Espaço de Acolhimento
de Crianças e Adolescentes no Pará.

Ati�idade de contação de histórias no ser�iço de acolhimento. Espaço de Acolhimento de


Crianças e Adolescentes no Pará.

39 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


DICAS DE LEITURAS E MÍDIAS Para crianças:
Um recurso importante para abrir canais de diálogo com
crianças e adolescentes é a literatura infanto-juvenil, aaaaaaaaaa
Título Autor Editora
que trata, de forma sensível e lúdica, de temas que,
muitas vezes, são de difícil elaboração. Veja a seguir O coração e a garrafa Oliver Jeffers Salamandra
algumas sugestões, retiradas do “Guia de Acolhimento O livro do adeus Todd Parr Panda Books
Familiar” (2022), de livros para crianças e adolescentes
que falam sobre perda, luto, separações e sentimentos Sinto o que sinto:
e a incrível história Lázaro Ramos Carochinha
com crianças e adolescentes. de Asta e Jaser

Odilon Moraes e
Lá e aqui Pequena Zahar
Carolina Moreyra

Vô, eu sei domar abelhas Isabel Pin e MonikaFeth Brinque Book

Lino André Neves Paulinas

O livro dos sentimentos Todd Parr Panda Books

Vai embora grande


Gilda de Aquino Brinque Book
monstro verde

Pedro vira porco-espinho Janaína Tokitaka Jujuba

O monstro das cores Anna Llenas Aletria

E foi assim que eu e a


Emicida Companhia das Letrinhas
escuridão ficamos amigas

Cristina Núñez Pereira


Emocionário Sextante
e Rafael R. Valcárcel

O menino que chovia Cláudio Thebas Companhia das Letras

40 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


Para adolescentes: QR CODE
Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone ou tablet)
para o QR Code ao lado e assista ao vídeo sobre como lidar com
Título Autor Editora comportamentos desafiadores, ou acesse o link: <Lidando_com_
Nós Eva Furnari Global comportamentos_desafiadores_m4_video3>.

A parte que falta Shel Silverstein Companhia das Letrinhas

Matilda Roald Dahl WMF Martins Fontes Lidando com comportamentos desafiadores
É importante saber que alguns comportamentos são comuns de
Kafka e a boneca viajante Jordi Sierra i Fabra Martins Fontes serem expressos no acolhimento. Por exemplo, bebês podem
apresentar irritabilidade, alterações de sono, alimentação e
nas funções gastrointestinais; crianças podem demonstrar
Que tal assistir a filmes ou seriados juntos? resistência às regras, agressividade ou apatia e adolescentes
podem se expressar pelo silêncio, negação e confronto.
Alguns temas podem gerar conversas e reflexões valiosas. Nesses casos, é fundamental que o cuidador social, por exemplo,
Algumas sugestões de séries e filmes para se assistir com respeite o silêncio, que não insista na comunicação, mas que
adolescentes: se coloque à disposição para quando a criança ou adolescente
quiserem falar. De igual importância, o cuidador social não
■ Anne with an E (Seriado para TV, Netflix, 2017). deve revidar à agressividade com comportamento autoritário,
■ Onde vivem os monstros (Longa-metragem dirigido mas deve compreender e ajudar a criança ou o adolescente na
por Spike Jonze, 2009). compreensão de seus sentimentos e atitudes agressivas.
■ Divertida Mente (Animação, PixarStudios, 2015) –
esse filme agrada tanto crianças quanto adolescentes. Às vezes, alguns padrões de relacionamento que a criança
e/ou adolescente vivenciou podem se repetir no acolhimento,
como um círculo vicioso: “a criança ou adolescente manifesta
uma necessidade – chora, faz birra, grita –, e o adulto interpreta
seu comportamento como uma afronta ou perturbação e então
pune e/ou castiga. Essa resposta do adulto, que não reconhece
as reais necessidades da criança e/ou adolescente, reforça a

41 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


mensagem de que ele(a) não é amado(a) e valorizado(a).
Isso pode piorar seu comportamento, de forma que passe a
chorar e/ou gritar ainda mais e ter comportamentos mais
desafiadores” (Guia de Acolhimento Familiar).

Cuidadores preparados para lidar com comportamentos


desafiadores e para entender as necessidades e formas de
comunicação das crianças e/ou adolescentes acolhidos podem
quebrar esse ciclo vicioso e oferecer respostas mais adequadas a
essas manifestações, estabelecendo, assim, um “círculo virtuoso”.
Para tanto, é necessário buscar compreender o que está por trás
dos comportamentos e responder de forma afetuosa e cuidadosa.

42 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


Necessidades e
comportamentos
meninos/meninas
Desobedece, desafia, insulta, agride.

Necessidades e
comportamentos
Pensamentos e sentimentos meninos/meninas
meninos/meninas Desobedece, desafia, insulta, agride.
Não me quer nem entende. Sinto
raiva e desespero.
Círculo Pensamentos e sentimentos
dos que cuidam
vicioso Só quer chamar a atenção, ele quer
me controlar, isso me deixa irritado.

Pensamentos e sentimentos
meninos/meninas
Tente me ajudar. Sinto que me quer
bem e se preocupa comigo. Mas vou
Círculo Pensamentos e sentimentos
dos que cuidam
Comportamento dos
que cuidam
me assegurar... virtuoso Está novamente no ciclo. Isto não é
bom. Vou ajudá-lo porque sei que
Irritação, castigo, retirada de carinho. precisa de carinho e ajuda.

Comportamento dos
que cuidam
Expressão de compreensão e carinho,
com limites claros e flexíveis.

Fonte: Guia de Acolhimento Familiar (2022).

43 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


Como podemos observar, o papel do cuidador social é
fundamental para o desenvolvimento das atividades
socioeducativas, considerando o trabalho interdisciplinar
a ser desempenhado pelo serviço de acolhimento. Esse
profissional desempenha um importante papel nas atividades
desenvolvidas, requerendo habilidades específicas, aliadas
a conhecimentos no campo dos direitos humanos, sociais,
educacionais, entre outros.

Trata-se de um profissional que auxilia ativamente para o


protagonismo e a autonomia de crianças e adolescentes.
Com isso, contribuem com o fortalecimento de vínculos,
convivência familiar e comunitária e reintegração familiar,
além de estimularem a construção de um projeto de vida,
auxiliando na superação de situações de fragilidades pessoais e
sociais vivenciadas pelo vínculo rompido.

SAIBA MAIS
O “Caderno do Educador Social” aborda a prática do
educador/cuidador de serviços de acolhimento para crianças
e adolescentes. Organizado pelo NECA/SP –Associação
de Pesquisadores e Formadores da Área da Criança e do
Adolescente, o documento está disponível em:
https://www.neca.org.br/wp-content/uploads/apostila-
educadores-ref-7.pdf.

44 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


As atribuições dos
cuidadores sociais no
UNIDADE 4 trabalho com idosos
Esta unidade tem o objetivo de compreender o cuidado a pessoas Convivência e Fortalecimento de Vínculos – que atendem
idosas na política de assistência social e entender o papel do pessoas de diversas faixas etárias, inclusive idosos –, e o Serviço
cuidador social nas diferentes unidades de atendimento do SUAS de Proteção Social Básica no Domicílio para Pessoas com
junto a essa população. Desse modo, abordaremos dois temas: Deficiência e Idosos, que é um serviço voltado especificamente
ao atendimento a idosos, pessoas com deficiência e suas
■ Unidades de atendimento do SUAS que prestam atenção e famílias, em que o cuidador social compõe a equipe de
cuidados a idosos: tipos e características gerais. referência, cuja unidade de atendimento costuma ser o Centro
de Referência de Assistência Social (CRAS).
■ Qualidade de vida, desenvolvimento pessoal e participação
social: promovendo boas práticas de cuidado a idosos.

4.1 Unidades de atendimento do SUAS que prestam atenção e


cuidados a idosos: tipos e características gerais

A população idosa no Brasil tem aumentado


progressivamente. A Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (PNAD Contínua) de 2017 identificou que 14,6%
da população brasileira têm 60 anos ou mais de idade,
o que equivale a cerca de 30,3 milhões de pessoas.

Dessa maneira, é importante a elaboração de políticas sociais


que contribuam com o favorecimento do processo saudável
de envelhecimento, com preservação da autonomia e garantia
de direitos.

Diante disso, um dos objetivos da Política Nacional de


Assistência Social (PNAS) é a proteção social aos idosos.
No que se refere à Proteção Social Básica, destacam-se o Serviço
de Proteção e Atendimento Integral à Família e o Serviço de

46 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


Já na Proteção Social Especial (PSE) de Média Complexidade,
a pessoa idosa pode receber atendimento no Serviço de ■ Propiciar que o cuidador familiar consiga conciliar
Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos os cuidados da pessoa idosa com suas atividades
(PAEFI), no Serviço Especializado em Abordagem Social e produtivas (trabalho e/ou educação).
no Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua, ■ Prevenir os diversos tipos de violência e rompimento de
que são serviços organizados por ciclos de vida, atendendo vínculos familiares, comunitários e sociais.
pessoas de todas as faixas etárias – inclusive idosos. ■ Evitar institucionalizações precarizadas.
■ Proporcionar o desenvolvimento pessoal, a autonomia e
Na PSE, destaca-se ainda o Serviço de Proteção Social Especial a inclusão social.
para Pessoas com Deficiência, Idosas e suas Famílias. É um
serviço voltado especificamente ao atendimento a idosos,
pessoas com deficiência e suas famílias, em que o cuidador
social compõe a equipe de referência. As unidades de
atendimento podem ser o próprio domicílio do usuário,
o Centro de Referência Especializado Assistência Social
(CREAS), a Unidade Referenciada ou o Centro-Dia.

O Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas com


Deficiência, Idosas e suas Famílias pode ser ofertado
diretamente pelo município, ou em parceria com as
Organizações da Sociedade Civil (OSCs). Os objetivos gerais
desse serviço são:

Cuidador familiar

■ Minimizar o isolamento e a exclusão social de É a pessoa que, por vínculos parentais, assume a responsabilidade, direta ou não,
pelo cuidado de um familiar doente/ou dependente. O cuidador familiar é aquele que
cuidado e de cuidador. vivencia o ato de cuidar não remunerado. Sua identidade está intrinsecamente ligada
■ Garantir o acesso a outros serviços da rede. à história pessoal e familiar – baseada nos contextos sociais e culturais –, a qual nem
■ Reduzir os custos financeiros de cuidados das famílias. sempre tem laços consanguíneos, mas laços emocionais.

47 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


O Centro-Dia para Idosos é uma unidade de Proteção Social Síntese dos serviços do SUAS que contam com a presença do cuidador
Especial de Média Complexidade. Deve funcionar cinco dias social destinados a pessoas idosas
por semana e é caracterizado como um espaço para atender
Serviço Descrição Locais
idosos com ou sem deficiência, que em sua maioria ainda
residem ou mantêm vínculos com suas famílias,
Tem o objetivo de garantir o acesso aos
mas apresentam algumas dificuldades para a realização de serviços em toda a rede socioassistencial. Domicílio do Usuário, por
Serviço de Proteção
atividades de autocuidado, instrumentais de autonomia e Busca prevenir situações de risco, meio de uma equipe, que
Social Básica no
isolamento e exclusão social e se desloca até o domicílio
participação social. Assim, as atividades socioassistenciais nessa Domicílio para
proporcionar qualidade de vida, cidadania e que integra a equipe do
Pessoas com
unidade devem contribuir para um processo de envelhecimento e inclusão na vida social. Promove ações Centro de Referência de
Deficiência e Idosos
extensivas à família, como informação, Assistência Social (CRAS).
saudável, o favorecimento da autonomia, o fortalecimento dos orientação e encaminhamentos.
vínculos familiares e do convívio comunitário, e a prevenção de
situações de risco social (BRASIL, 2013). É um serviço especializado para pessoas
com deficiência ou idosas com algum
Serviço de Proteção
grau de dependência e suas famílias, Centro-Dia
No Serviço de Proteção Especial de Alta Complexidade, Social Especial
que tiveram limitações agravadas por CREAS
para Pessoas com
há duas modalidades de acolhimento para pessoas idosas, Deficiência, Idosas
violações de direitos. Promove atividades Unidade Referenciada
que garantem a autonomia, a inclusão Domicílio do usuário
de ambos os sexos, independentes ou com algum grau de e suas Famílias
social e a melhoria da qualidade de
dependência: as repúblicas, que são destinadas a pessoas vida das pessoas que usam o serviço.
com capacidade de gestão coletiva da moradia e condições
Modalidade Casa Lar: serviço de
de desenvolver, de forma independente, as atividades acolhimento que garante moradia
cotidianas, e o Serviço de Acolhimento Institucional, e proteção integral a idosos, com Casa Lar
em que o cuidador social compõe a equipe de referência, atendimento em unidade residencial
para grupos de até 10 idosos(as).
e pode ser oferecido em duas modalidades: (1) Casa Lar, e (2)
Abrigo Institucional/ILPI – Instituição de Longa Permanência Serviços de
Acolhimento Modalidade ILPI: serviço de acolhimento
para Idosos. Os idosos acolhidos nessas unidades são aqueles Institucional que garante moradia e proteção integral a
Abrigo Institucional /
cujas possibilidades de autossustento ou permanência sob os idosos com diferentes necessidades e graus
Instituição de Longa
de dependência. O atendimento é realizado
cuidados de familiares foram esgotadas, por dificuldade da em unidade institucional com característica
Permanência para
Idosos (ILPI )
família em prover as demandas de cuidado especializado e domiciliar. A capacidade de atendimento
é de até 4 idosos (as) por quarto.
permanente, nas situações de maior dependência.

Fonte: Adaptado de Brasil (2021).

48 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


DICAS DE LEITURAS 4.2 Qualidade de vida, desenvolvimento pessoal e participação
O Programa da União Europeia EUROsociAL+, em parceria social: promovendo boas práticas de cuidado a idosos
com a Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa com
Deficiência, do Ministério da Mulher, da Família e dos De acordo com a Organização Mundial da Saúde,
Direitos Humanos do Brasil, visando a construção de a qualidade de vida é a percepção do indivíduo sobre a sua
uma política nacional de apoio aos cuidadores familiares vida, a partir de seus objetivos, expectativas, e satisfação
que levasse em consideração experiências nacionais e pessoal. Deste modo, envolve o bem-estar nas dimensões
internacionais, elaborou o documento “Boas práticas espiritual, física e psicoemocional e nos âmbitos social,
internacionais e do Brasil de apoio ao cuidador familiar”, da saúde, da educação, da habitação, entre outros.
disponível em: https://eurosocial.eu/wp-content/
uploads/2022/02/Herramienta_80_Boas-praticas- Quando se discute a oferta de cuidado e o favorecimento da
internacionais-e-do-Brasil-de-cuidado-1.pdf. qualidade de vida à pessoa idosa e/ou com deficiência deve-
se considerar dois conceitos-chave, que são a autonomia e a
Para aprofundar-se ainda mais sobre o tema, estão independência. A autonomia é a capacidade de tomar decisões
disponíveis estas três cartilhas interativas: e gerenciar os diversos aspectos da vida. A independência
refere-se à capacidade da pessoa em realizar suas atividades
■ “Centro-Dia para Idosos”, do GESUAS, disponível em: diárias sem ajuda. Ao contrário, a dependência ocorre
https://blog.gesuas.com.br/centro-dia-idosos/. quando a pessoa necessita de assistência direta ou supervisão
■ “Serviço de Acolhimento Institucional para Idosos no para desempenhar suas atividades (AGICH, 2008; PINTO;
Contexto das ILPIs”, do GESUAS, disponível em: https:// VERÍSSIMO; MALVA, 2020).
www.gesuas.com.br/blog/acolhimento-idosos-ilpis/.
■ “A ausência do Serviço de Proteção Social Básica no A situação de dependência de cuidados amplia o risco
Domicílio para Pessoas com Deficiência e Idosas e seus à violação de direitos, pois dificulta o acesso a serviços
impactos no PAIF”, disponível em: https://www.gesuas. essenciais. Por isso, deve-se pensar em uma forma de
com.br/blog/a-ausencia-do-servico-de-protecao-social- autonomia do cuidado, centrado na pessoa, entendendo a
basica-no-domicilio-para-pessoas-com-deficiencia-e- autonomia como um direito, por meio de práticas assistenciais
idosas-e-seus-impactos-no-paif/. que garantam segurança de acolhida, segurança de convívio
ou vivência familiar, comunitária e social, e segurança de
desenvolvimento de autonomia individual, familiar e social,
conforme preconiza o SUAS.

49 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


O processo de trabalho do cuidador social envolve uma série O quadro a seguir apresenta uma síntese de funções do
de etapas como planejamento, implementação/execução de cuidador social, determinadas pela Resolução nº 9/2014.
atividades e registro.

1
O planejamento é o ato de direcionar o trabalho a ser realizado,
com vistas a administrar e organizar as ações, traçar objetivos e metas,
e analisar recursos e materiais. Deve ser realizado em conjunto pela
equipe profissional do serviço, com a participação ativa do cuidador social.

A implementação envolve a execução de atividades

2
planejadas. Durante a execução, o papel do cuidador social pode
variar de acordo com a capacidade cognitiva e o grau de
dependência do usuário. Então, a função desse profissional pode ser
apenas no apoio/estímulo, ou na assistência direta e supervisão,
quando houver maior a dependência; porém, sempre estimulando o
protagonismo e a autonomia.

3 Ressalta-se que, no final de cada intervenção, devem ser realizados


registros sobre ela (VILLAS BOAS et al., 2021).

50 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


Funções do cuidador social
Centro-Dia Serviços de acolhimento

Desenvolver atividades para o acolhimento e a recepção dos usuários, a fim de identificar necessidades e demandas.

Acompanhamento do usuário em todas as atividades do serviço, inclusive fora da unidade.

Contribuição para desenvolver a autonomia, a independência, a autoestima e o protagonismo.

Realização de atividades socioassistenciais e socioculturais de acordo com o programado pela equipe.

Atividades da vida diária

■ Apoio na ingestão assistida de alimentos, nas atividades de higiene e cuidados pessoais. ■ Apoio nos cuidados básicos com alimentação, higiene e proteção.
■ Apoio na locomoção e nos deslocamentos no serviço. ■ Apoio na locomoção e nos deslocamentos no serviço.

Atividades instrumentais de autonomia e participação

■ Apoio na administração de medicamentos indicados por via oral e de uso externo, prescritos por profissionais. ■ Apoio no planejamento e na organização da rotina diária, como auxílio em atividades como: fazer compras, uso
do celular e tecnologias de comunicação.
■ Auxílio em atividades como: fazer compras, uso do celular e tecnologias de comunicação.
■ Apoio na administração de medicamentos indicados por via oral e de uso externo, prescritos por profissionais.
■ Apoio do usuário e familiares nos grupos e oficinas.
■ Monitoramento dos cuidados com a moradia, organização e limpeza do ambiente e preparação de atividades.
■ Organização de registros individuais sobre o desenvolvimento de cada usuário.
■ Preservação da identidade e da história de vida.

Favorecimento dos vínculos familiares e comunitários

■ Suporte nas atividades com o usuário e o cuidador familiar, sob a orientação da equipe. ■ Acompanhamento aos serviços de saúde, educação, profissionalização e outros.
■ Envolvimento nas ações que ocorrerem no domicílio e na comunidade, como estímulo à participação em ■ Apoio nas ações de convivência comunitária.
atividades comunitárias.
■ Apoio na preparação do usuário para o desligamento, quando for o caso, contando com orientação e supervisão
■ Suporte aos familiares. de um profissional de nível superior.

Fonte: Adaptado de Brasil (2009b; 2013; 2014).

51 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


Uma das funções do cuidador social é recepcionar os idosos
nos serviços, possibilitando um ambiente acolhedor e a Estimular o idoso a ressignificar o processo de envelhecimento, e se reconhecer enquanto
identificação de demandas. Deve-se realizar a acolhida por protagonista da sua história de vida, auxiliando no resgate de memórias e imagens,
meio de uma escuta ativa e qualificada, favorecendo o diálogo tanto em conversas e interações quanto durante as atividades socioassistenciais.
e a expressão das necessidades e interesses. Quando o usuário
adentra nos serviços, deve-se traçar seu perfil e o da sua família,
a fim de estabelecer um plano de atendimento adequado às Proporcionar e estimular ao idoso experiências de participação cidadã:
necessidades específicas. Esse contato inicial é um momento expressão de opiniões, escolha de temas, reivindicação de direitos,
participação em reuniões e tomada de decisões.
propício para o estabelecimento de vínculos. Assim, esse
profissional pode apresentar os espaços da unidade, a equipe e
os tipos de atendimentos que são realizados.
Identificar capacidades, desenvolver potencialidades e projetos de vida.
Quanto ao estímulo do protagonismo, da autonomia e da
autoestima, o cuidador social pode realizar diversas ações,
tais como:
Apoiar e orientar a inserção de novas atividades no uso do tempo livre, como
leitura, uso de tecnologias, atividades manuais, educacionais, (re)inserção no
mercado de trabalho, entre outras.

52 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


Outro eixo no cuidado à pessoa idosa é a prevenção ou
diminuição de rupturas dos vínculos familiares, comunitários
e do isolamento social. O trabalho social desempenhado pelo
cuidador social, junto à equipe de referência, é promover o
fortalecimento de vínculos e da intergeracionalidade. Para
isso, é fundamental propor grupos e oficinas que envolvam os
familiares e ações comunitárias no território. O cuidador social
pode adotar diversas estratégias como:

Apoiar e facilitar interações sociais com familiares, amigos e vizinhos, tanto


presenciais quanto por meio de ligações, troca de mensagens, vídeo- chamadas e
Atividades em Centro-Dia em Bragança Paulista (SP). Foto: Prefeitura de mídias sociais, quando possível.
Bragança Paulista.

Organizar e acompanhar o idoso na participação em eventos na comunidade,


como passeios, visitas a instituições e espaços públicos, e de lazer.

Apoiar na identificação, no acesso e na permanência em serviços de educação,


como a universidade da terceira idade, o trabalho, a religiosidade, entre outros.

Favorecer o desenvolvimento de atividades intergeracionais.

Atividade socioeducacional em ILPI. Foto: Ministério do Desenvolvimento Social.

53 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


Tendo em vista o processo de envelhecimento, compreender
o funcionamento do trabalho social em grupos é fundamental
para os profissionais que atuam nessa área. Assim, o cuidador
social pode colaborar na organização, no auxílio e no
incentivo dos idosos nas atividades socioassistenciais e
socioculturais nas unidades, como atividades de convívio,
oficinas, manifestações artísticas e culturais, atividades
recreativas e lúdicas, atividades físicas, organização de
aniversários e datas comemorativas, entre outras. Compreende-
se que as atividades socioassistenciais para as pessoas idosas
devem considerar e valorizar as experiências vividas. Por isso,
Atividade intergeracional. Foto: Liga Solidária. é fundamental a importância desse profissional para estimular
a criatividade, a expressão e a interação, durante essas ações.

Atividade no território em Fortaleza (CE). Foto: Prefeitura de Fortaleza.


Atividades socioculturais – Centro Dia em Bebedouro (SP). Foto:
Prefeitura de Bebedouro.

54 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


No que tange às atividades da vida diária,
o cuidador social pode auxiliar o idoso a partir
Auxiliar na alimentação e na higiene.
de diferentes formas e metodologias, como a
assistência direta ou a supervisão, a depender
da complexidade do serviço. Quando o idoso
apresenta dependência funcional, especialmente
Preparar os objetos necessários para as atividades.
nos serviços de alta complexidade, deve-se estar
atento a procedimentos específicos, baseados
nas orientações previstas no “Guia prático do
cuidador” (BRASIL, 2008) e no “Manual de Evitar deixar o idoso sozinho durante as atividades de autocuidado.
qualidade do cuidado em instituição de longa
permanência para idoso” (VILLAS BOAS et al.,
2021), tais como:
No banho, observar a pele do idoso, para verificar se há feridas,
vermelhidão, inchaços e/ou hematomas.

Orientar a higiene bucal, ou realizar a higienização, inclusive quando houver


prótese dentária (dentadura).

Ajudar na locomoção.

55 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


Em relação ao posicionamento da pessoa idosa, deve-se favorecer
o conforto e a postura adequada, para evitar lesões por pressão, almofada cotovelo
para os pés dobrado
como feridas, úlceras ou escaras. Por isso, é importante estimular
pernas
o idoso acamado a mudar de posição pelo menos a cada duas esticadas
horas durante o dia.

QR CODE
Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone
ou tablet) para o QR Code ao lado para assistir a animação
sobre como posicionar uma pessoa idosa ou acesse o link:
<posicionamento_pessoa_idosa_m4_animacao1>. pescoço alinhado travesseiro sob
cobertor sob
com a coluna a cabeça
as panturrilhas

Quando ele estiver deitado de costas, recomenda-se colocar


um travesseiro embaixo da cabeça e um travesseiro ou Fonte: Brasil (2008).
cobertor fino embaixo da panturrilha (barriga das pernas),
conforme figura a seguir.

56 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


Quando o idoso for deitado de lado, deve-se colocar um Também é função do cuidador social prestar assistência nas
travesseiro embaixo da cabeça e outro nas costas para dar atividades instrumentais de autonomia e participação,
maior conforto. A perna que fica por cima deve estar levemente relacionadas à gestão pessoal, domiciliar, financeira e de
dobrada e apoiada em outro travesseiro, para que ela fique participação cidadã. Assim, esse profissional pode adotar
alinhada ao quadril, conforme figura abaixo. ações como:

perna de cima Apoiar e monitorar os cuidados com a moradia,


para frente como organização e limpeza do ambiente
joelho dobrado braços envolvendo e preparação dos alimentos.
travesseiro

travesseiro sob travesseiro sob


as pernas a cabeça e pescoço
Orientar o planejamento, a organização da rotina diária
e o cuidado com a própria saúde.

Administrar as medicações,
conforme a prescrição e a orientação da equipe.

joelho levemente cabeça alinhada


toalha dobrado com a coluna
para apoio Comunicar à equipe sobre mudanças
apoio para
a coluna no estado geral do idoso.

Fonte: Brasil (2008). Apoiar na orientação, na informação,


e no acesso a serviços, benefícios,
transferência de renda e inclusão no trabalho.

57 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


De acordo com Pinto et al. (2020), para que todas essas atribuições
do cuidador social com a pessoa idosa e/ou com deficiência GESTÃO EFETIVA
(a serem apresentadas na Unidade 5), é necessária uma série Durante as ações de cuidado com o idoso e/ou pessoa com
de competências e habilidades do campo relacional para a deficiência, leve em consideração suas vulnerabilidades pessoais
promoção do cuidado pessoal e institucional. Nesse sentido, e sociais, bem como as suas potencialidades.
há três elementos a serem considerados na qualidade do cuidado: Por isso, valorize cada momento (formal ou informal), planejando
o ser (atitudes), o saber (conhecimento) e o fazer (habilidades). atividades com a pessoa e de acordo com os seus interesses:

O ser reporta-se à competência afetiva e capacidade para ■ Estimule-a a participar de atividades de autocuidado
estabelecer e manter relações. Permite ao cuidador relacionar-se e convivência.
de forma positiva consigo, com o meio ambiente e com os outros.
■ Faça atendimentos personalizados, chamando a
O saber remete à competência cognitiva. No caso do cuidador pessoa pelo nome, demonstrando conhecê-la ou estar
social, refere-se aos conhecimentos e técnicas sobre a forma interessado nela.
de cuidar.
■ Explique o que é e como será feito, encoraje-a a falar, não a
Por fim, o fazer refere-se à competência instrumental de censure, e elogie-a quando possível.
execução das técnicas e habilidades aprendidas.
■ Tenha sensibilidade e cuidado com o corpo dela, ao tocá-la,
Para colocar em prática tais elementos, o cuidador social deve proporcione conforto e segurança, demonstrando cuidado
expressar habilidades como escuta ativa e qualificada, para e conduta ética.
buscar compreender as reais demandas da pessoa cuidada,
demonstrando interesse e atenção pelo que ela tem a dizer; Tais atitudes podem facilitar a valorização e o cuidado humanizado.
empatia, para saber colocar-se no lugar do outro, identificar e
valorizar emoções e experiências; respeito às características,
valores, história de vida do outro, para evitar julgamentos;
e sensibilidade, para reconhecer as capacidades da pessoa e
auxiliá-la a identificá-las e utilizá-las.

58 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


DICAS DE LEITURA E MÍDIAS
A atenção integral da pessoa idosa nas instituições de
acolhimento envolve as ações voltadas a atender as
especificidades e as necessidades demandadas pelo
indivíduo. As práticas desenvolvidas pelos cuidadores
nos serviços de acolhimento devem promover a
autonomia e a inclusão social. Para saber mais, acesse o
manual “Qualidade do cuidado em instituição de longa
permanência para idoso”, disponível em: http://www.
mpgo.mp.br/portal/arquivos/2021/06/09/14_09_11_895_
Manual_Qualidade_do_cuidado_em_ILPI_
sugest%C3%B5es_para_o_dia_a_dia.pdf.

Outra dica são estes dois vídeos: “Apoio nas Atividades


da Vida Diária”, disponível em https://www.youtube.
com/watch?v=OJJNGh9UhDg, e “Ciclo de Diálogos
- Convivência, apoio social e proteção da pessoa
idosa”, disponível em https://www.youtube.com/
watch?v=IjlrACr5ILk.

59 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


As atribuições dos
cuidadores sociais
no trabalho junto a
UNIDADE 5 pessoas com deficiência
Esta unidade tem o objetivo de compreender o cuidado a pessoas A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência e o
com deficiência na Política Nacional de Assistência Social, Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015) considera
e especificamente entender o papel do cuidador social nas a pessoa com deficiência aquela com impedimento de longo
diferentes unidades de atendimento do SUAS junto a essa prazo, que pode ser de natureza física, mental, intelectual ou
população. Destaca-se que parte do conteúdo desta Unidade sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras,
é semelhante ao apresentado na Unidade 4, devido às pode interferir na participação social plena e efetiva em relação
particularidades dessas populações, inclusive nas políticas às demais pessoas.
propostas.

Assim, os tópicos serão:

■ Unidades de atendimento do SUAS que prestam atenção e


cuidados a pessoas com deficiência: tipos e características gerais.
■ Qualidade de vida, desenvolvimento pessoal e participação
social: promovendo boas práticas de cuidado à pessoa
com deficiência.

5.1 Unidades de atendimento do SUAS que prestam atenção e


cuidados a pessoas com deficiência: tipos e características gerais

De acordo com o último Censo do IBGE (2010), quase A deficiência física ou motora se refere à alteração completa ou
46 milhões de brasileiros, cerca de 24% da população, parcial de um ou mais membros do corpo humano, que causa o
declararam ter alguma deficiência. A deficiência visual comprometimento da função física. A lista a seguir traz as
estava presente em 3,4% da população brasileira; seguida formas mais comuns de deficiência física ou motora (BRASIL,
da deficiência física, em 2,3%; deficiência intelectual, 2012; SILVEIRA, 2021).
em 1,4%; e deficiência auditiva, em 1,1%.

61 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


Além dessas, há pessoas com deficiência múltipla, que afeta
■ Monoplegia (quando há a alteração de apenas duas ou mais áreas, ou seja, uma associação entre diferentes
um membro) deficiências. Um exemplo seriam as pessoas que têm deficiência
■ Paraplegia (quando há disfunção dos membros inferiores) intelectual e física. Ressalta-se que, para todos os efeitos legais,
■ Tetraplegia (quando há alteração dos membros a pessoa com Transtorno do Espectro Autista (TEA) também
superiores e inferiores) é considerada pessoa com deficiência.
■ Hemiplegia (quando a disfunção é em um lado do corpo)
■ Amputação ou ausência de membro
■ Paralisia cerebral
■ Pessoa com membros com deformidade congênita
ou adquirida
■ Nanismo

A deficiência auditiva, também conhecida como surdez, é a


incapacidade parcial ou total devido à perda de audição.
Pode ser de nascença ou causada posteriormente por doenças
ou traumas. Já a deficiência visual é uma categoria que inclui Foto: © [s-ts] / Shutterstock.
pessoas com cegueira ou com visão reduzida. A deficiência
intelectual é definida como a diminuição da capacidade Culturalmente, há fatores que prejudicam a inclusão social
intelectual, ou seja, o indivíduo apresenta padrões intelectuais da pessoa com deficiência, sendo considerados barreiras.
abaixo dos considerados normais para a idade ou ciclo de São obstáculos, atitudes ou comportamentos que dificultam a
desenvolvimento. Essa deficiência está associada a limitações de participação social e o acesso a direitos. Os tipos e exemplos de
duas ou mais áreas de capacidade do indivíduo, como habilidade barreiras estão listados seguir (BRASIL, 2015).
em responder demandas sociais, comunicação, cuidados
pessoais e desempenho escolar (BRASIL, 2012; SILVEIRA, 2021).
Transtorno do Espectro Autista (TEA)
O TEA caracteriza-se por déficits significativos na comunicação e na interação social,
e por padrões restritivos e repetitivos de comportamentos, interesses e atividades.

62 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


Ressalta-se que as barreiras atitudinais reverberam uma
Urbanísticas: série de preconceitos a respeito da capacidade das pessoas
nas vias e nos espaços públicos com deficiência, que são rotuladas como incompetentes
e privados abertos ao público ou de uso coletivo. ou incapazes. Esse fenômeno é denominado capacitismo,
e caracteriza-se por comportamentos preconceituosos que
promovem uma hierarquização das pessoas a partir da ideia
Arquitetônicas: de que existe um padrão de capacidade funcional. No caso da
nos edifícios públicos e privados. pessoa com deficiência, esse imaginário pressupõe que elas são
incapazes de participar ativamente da sociedade simplesmente
por terem uma deficiência.

Transportes:
nos sistemas e meios de transportes.

Comunicações e informação:
obstáculos que limitam a expressão
ou o recebimento de informações.

Atitudinais:
comportamentos que prejudiquem a participação social.

Tecnológicas:
limitam o acesso às tecnologias.

63 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


saúde (oferecendo diagnóstico, tratamento e reabilitação),
QR CODE acesso à educação e ao trabalho, garantia de proteção social e
Aponte a câmera do seu dispositivo móvel (smartphone qualidade de vida.
ou tablet) para o QR Code ao lado e assista ao vídeo sobre
acessibilidade ou acesse o link: <acessibilidade_m4_video4>.
DICA DE MÍDIA
A forma de designar as pessoas com deficiência passou por
Um conceito-chave no cuidado da pessoa com deficiência é o diversas transformações ao longo dos anos e é resultado
de acessibilidade. Tal termo significa proporcionar que elas de processos históricos de luta contra o preconceito a essa
desempenhem de forma efetiva suas atividades cotidianas e população, além de representar importante avanço na
de participação na sociedade, e tenham acesso e permanência conquista de direitos e inclusão social desses indivíduos.
nos diversos locais. Para isso, podem ser disponibilizadas
tecnologias assistivas, serviços e informações nos espaços, Assim, as terminologias como “pessoa com necessidades
edifícios e equipamentos urbanos, e recursos humanos que especiais”, “portador de deficiência” e “deficiente”
garantam segurança e autonomia. atualmente não são adequadas.

As tecnologias assistivas, ou ajudas técnicas, são recursos, Saiba mais assistindo ao vídeo “Conceito de Deficiência –
equipamentos, dispositivos e serviços que contribuem para BPC para Pessoa com Deficiência”, disponível em: https://
proporcionar ou ampliar a funcionalidade e a inclusão de pessoas www.youtube.com/watch?v=UBAkDFmx8QE.
com deficiência ou mobilidade reduzida. São classificadas em
diversas categorias, como auxílios para a vida diária, comunicação
aumentativa e alternativa, recursos de acessibilidade, sistemas A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência expressa
de controle de ambiente e veículos, órteses e próteses, auxílios de que é dever do Estado, da sociedade e da família assegurar a essas
mobilidade, aparelhos visuais e auditivos, entre outros. pessoas a efetivação dos direitos garantidos a elas, provendo-
lhes bem-estar pessoal, social e econômico. Logo, a garantia dos
Assim, para ampliação da participação e da inclusão social direitos referentes à segurança de renda, de acolhida,
das pessoas com deficiência, é necessário desenvolver ações de ao desenvolvimento da autonomia e da convivência familiar e
enfrentamento e de superação dessas barreiras, oportunizando comunitária é dever da assistência social na condição de política
acesso a direitos, equipamentos sociais públicos, atenção à pública de Estado, organizada no Brasil pelo Sistema Único de
Assistência Social (SUAS).

64 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


Proteção Social Básica nos CREAS. Além disso, temos o Serviço de Proteção Social
Como explicado na Unidade 4, na Proteção Social Básica (PSB) há o Especial para Pessoas com Deficiência, Idosas e suas Famílias,
Programa de Proteção e Atendimento Integral à Família e o Serviço que conta com o cuidador social em sua equipe de referência e
de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SFV), que são serviços pode ser ofertado no Centro-Dia.
voltados para toda a população em situação de vulnerabilidade –
incluindo as pessoas com deficiência, além do Serviço de Proteção
Social no Domicílio para Pessoas com Deficiência e Idosos, que é
voltado a esse público específico e conta com o cuidador social na
equipe de referência . Tal serviço busca garantir o acesso a direitos,
diminuir barreiras físicas e atitudinais, e ofertar a proteção social,
o bem-estar e a inclusão social dessa população, inclusive
realizando os encaminhamentos necessários para que ela possa
receber o Benefício de Prestação Continuada (BPC).

SAIBA MAIS
Você sabe o que é o Benefício de Prestação Continuada (BPC)?
É um benefício no valor de um salário mínimo mensal,
previsto na Constituição Federal, voltado a pessoas com
deficiência e idosos que se enquadram nos critérios do Foto: © [Gilles Lougassi] / Shutterstock.
programa. Para saber mais, acesse: http://blog.mds.gov.br/
redesuas/bpc-perguntas-frequentes-ja-esta-disponivel/. O Serviço de Proteção Social Especial ofertado em um
Centro-Dia de Referência é concebido em consonância com a
Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais do SUAS.
Proteção Social Especial de Média Complexidade Seu objetivo é prestar atendimento especializado nas situações
A Proteção Social Especial de Média Complexidade oferece de vulnerabilidades, risco pessoal e social por violação de
serviços destinados a indivíduos e famílias em situação de risco direitos às pessoas com deficiência em situação de dependência
ou violação de direitos – incluindo as pessoas com deficiência. e suas famílias, por meio da oferta de um conjunto de ações que
É o caso, por exemplo, do Programa de Proteção e Atendimento contribuam para a garantia das seguranças previstas na Política
Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI), desenvolvido Nacional de Assistência Social (PNAS):

65 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


■ A segurança de acolhida das demandas reais dos usuários, destinado a jovens e adultos com deficiência e que não dispõem
interesses, necessidades e possibilidades e a garantia de de condições de autossustentabilidade, nem retaguarda
formas de acesso aos direitos sociais. familiar temporária ou permanente. Tais residências devem
estar inseridas na comunidade, funcionar em locais com
■ A segurança de desenvolvimento da autonomia por meio de estrutura física adequada, que garanta rotas acessíveis,
vivências de experiências que promovam o desenvolvimento e ter a finalidade de favorecer a construção progressiva da
de potencialidades e ampliação do universo informacional e autonomia, do protagonismo e do fortalecimento dos vínculos,
cultural, que utilizem recursos disponíveis pela comunidade, com vistas à reintegração ou convivência.
família e recursos lúdicos para potencializar a autonomia e a
criação de estratégias que diminuam os agravos decorrentes
da dependência e do isolamento social e promovam a
inserção familiar e social.

De acordo com a Tipificação Nacional de Serviços


CRAS
Socioassistenciais, o Serviço de Proteção Social Especial
para Pessoas com Deficiências e suas Famílias, ofertado
em Centros-Dia (ou no Centro de Referência Especializado
de Assistência Social referenciado ao CREAS), é destinado a
pessoas com deficiência, com algum grau de dependência em
todo o ciclo de vida, que tiveram ou têm as suas limitações
agravadas por condições de risco ou violação de direitos que
comprometem a independência e a autonomia. Nesses locais,
é ofertado um conjunto de serviços organizados em três
categorias: desenvolvimento da convivência; fortalecimento
de vínculos familiar e comunitário; e aprimoramento
dos cuidados pessoais.
Rotas acessíveis

Proteção Social Especial de Alta Complexidade São percursos livres de qualquer obstáculo de um ponto a outro, origem e destino,
e que compreendam uma continuidade e a aplicação de medidas de acessibilidade.
Na Proteção Social Especial de Alta Complexidade, destaca-se o
Serviço de Acolhimento Institucional em Residência Inclusiva,

66 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


Para que o acolhimento nas Residências Inclusivas alcance Além do PIA, a equipe técnica, juntamente com os acolhidos,
um caráter protetivo e proveja aos acolhidos segurança e tendo também a participação dos cuidadores, deve elaborar
estabilidade nos cuidados recebidos, deve-se criar vínculos o Plano de Organização do Cotidiano para as atividades
com o cuidador de referência e manter a previsibilidade da de rotinas, o qual deve contemplar os cuidados oferecidos
organização da rotina diária. Os cuidadores deverão trabalhar, durante o dia e a forma de engajamento do usuário, regras
preferencialmente, em turnos fixos diários, para que o mesmo de convivência e orientações de conduta relacional dos
cuidador desenvolva as tarefas da rotina diária. Na troca de profissionais, a fim de adotar comportamentos assertivos,
turno, os cuidadores devem se comunicar, garantindo que todos ou seja, que não estimulem a superproteção, nem a
fiquem cientes de aspectos importantes para dar continuidade superestimação das habilidades dos acolhidos. Ressalta-se
aos cuidados necessários. que a construção e a efetivação desse plano são fundamentais,
pois a organização da rotina é essencial para vários objetivos
A capacidade máxima de atendimento deve ser de até dez desse serviço, especialmente o desenvolvimento de autonomia
pessoas por residência, e cada dormitório deverá acomodar até e independência, utilizando o cotidiano como instrumento
três usuários. terapêutico (BRASIL, 2016).

Para planejar o atendimento aos usuários das residências


inclusivas, deve ser elaborado um Plano Individual de
Atendimento (PIA), conforme explicado na Unidade 3.
Trata-se de um instrumento técnico que contém ações
e metas de atendimento. O PIA deve ser estruturado de
forma participativa pela equipe técnica e pelo usuário,
quando possível. As propostas devem considerar os aspectos
funcionais, como grau de dependência e identificação de
necessidades de tecnologia assistiva. Deve-se também analisar
o perfil psicossocial do acolhido, como história de vida, situação
e dinâmica familiar, a fim de identificar as possibilidades de
reinserção familiar ou convivência (BRASIL, 2016).

67 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


DICAS DE LEITURAS E MÍDIAS Síntese dos serviços do SUAS que contam com a presença do cuidador
A Residência Inclusiva é uma unidade que oferta social destinados às pessoas com deficiência
Serviço de Acolhimento Institucional, no âmbito da
Proteção Social Especial de Alta Complexidade do SUAS, Serviço Descrição Locais
para jovens e adultos com deficiência, em situação
Domicílio do usuário,
de dependência, que não disponham de condições de Serviço de
Tem o objetivo de garantir o acesso aos serviços em por meio de uma
Proteção
autossustentabilidade ou de retaguarda familiar, Social Básica
toda a rede socioassistencial, a fim de prevenir situações equipe que se desloca
de risco, isolamento e exclusão social e proporcionar até o domicílio e que
e prioritariamente para aqueles atendidos pelo Benefício no Domicílio
qualidade de vida, cidadania e inclusão na vida integra a equipe do
para Pessoas
de Prestação Continuada (BPC), em sintonia com a com Deficiência
social, além de promover ações extensivas à família, Centro de Referência
como informação, orientação e encaminhamentos. de Assistência
Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais. e Idosos
Social (CRAS).

Serviço de
Para saber mais sobre o tema, assista ao vídeo Proteção Social
É um serviço especializado para pessoas com
deficiência ou idosas com algum grau de dependência Centro-Dia
“Residências Inclusivas e o Acolhimento Socioassistencial Especial para
e suas famílias que tiveram limitações agravadas CREAS
Pessoas com
da Pessoa com Deficiência”, disponível em: https://www. por violações de direitos. Promove atividades que Unidade Referenciada
Deficiência,
youtube.com/watch?v=i27fFt2tQFw. garantem a autonomia, a inclusão social e a melhoria Domicílio do usuário
Idosas e suas
da qualidade de vida das pessoas que usam o serviço.
Famílias

Uma dica de leitura é o documento “Orientações para Serviço de acolhimento que garante moradia e proteção
gestores, profissionais, residentes e familiares sobre integral a jovens e adultos com deficiência, cujos
vínculos familiares estejam rompidos ou fragilizados.
o Serviço de Acolhimento Institucional para Jovens Serviços de
É previsto para jovens e adultos com deficiência que
Acolhimento Residência Inclusiva
e Adultos com Deficiência em Residências Inclusivas: Institucional
não dispõem de condições de autossustentabilidade,
de retaguarda familiar temporária ou permanente
Perguntas e Respostas” (BRASIL, 2016), disponível em: ou que estejam em processo de desligamento
https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/ de instituições de longa permanência.
assistencia_social/Cadernos/caderno_residencias_ Fonte: Adaptado de Brasil (2021).
inclusivas_perguntas_respostas_maio2016.pdf.
5.2 Qualidade de vida, desenvolvimento pessoal e
E, para fechar, outra referência interessante é o texto participação social: promovendo boas práticas de cuidado à
“Centro Dia: Atendimento das pessoas com deficiência e pessoa com deficiência
suas famílias”, disponível em: https://novoead.cidadania. Os serviços do SUAS destinados à pessoa com deficiência, dos
gov.br/webview.php/srv/www/htdocs/badiunetdata/ quais o cuidador social compõe a equipe de referência, realizam
files/1/559khuegja2jfeetxvmo_packge/mod1/sumario.html. um conjunto de atividades a fim de proporcionar a autonomia,

68 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


a inclusão e a qualidade de vida. Os serviços Serviços de
Domicílio Centro-Dia
prestados pelo domicílio, Centro-Dia e serviços acolhimento
de acolhimento apresentam vários pontos em
Apoio socioassistencial e sociocultural
comum, tais como:
• Informações sobre acesso a
direitos e à rede assistencial.
• Colaboração e supervisão de atividades • Assistência nas atividades
• Orientação sobre a importância
■ Desenvolvimento de atividades para socioassistenciais e socioculturais. socioassistenciais e socioculturais.
do autocuidado e da superação
o acolhimento e identificação de do isolamento social.
demandas.
Atividades da vida diária
■ Acompanhamento do usuário nas
atividades do serviço, inclusive fora da • Orientação na ingestão assistida • Apoio na ingestão assistida • Supervisão e/ou assistência nos
unidade/domicílio. de alimentos, nas atividades de de alimentos, nas atividades de cuidados básicos de alimentação,
higiene e cuidados pessoais. higiene e cuidados pessoais. higiene e proteção.
■ Desenvolvimento da autonomia, • Orientação na locomoção e nos • Apoio na locomoção e nos • Auxílio na locomoção.
independência, autoestima e deslocamentos no domicílio e território. deslocamentos no serviço. • Assistência no posicionamento.
protagonismo.
■ Reconhecimento do território dos Atividades instrumentais e de participação
serviços/domicílios.
• Assistência no planejamento e
■ Reconhecimento e criação de parcerias • Orientação no planejamento • Apoio no planejamento e organização da rotina diária.
com equipamentos. e organização da rotina. organização da rotina. • Monitoramento dos cuidados
• Orientação na administração • Apoio na administração com a moradia, como organização
■ Organização e participação de de medicamentos indicados de medicamentos indicados e limpeza do ambiente, objetos
atividades socioculturais. por via oral e de uso externo, por via oral e de uso externo, e tecnologia assistiva.
prescrito por profissionais. prescritos por profissionais. • Organização de registros individuais
sobre o desenvolvimento pessoal.

Também existem várias diferenças nas ações Promoção dos vínculos familiares, comunitários
prestadas por domicílio, Centro-Dia e serviços de
•Realização de atividades com o
• Orientação aos cuidadores • Acompanhamento nas visitas
acolhimento, em diversos âmbitos. usuário e o cuidador familiar.
familiares sobre o fortalecimento familiares e sociais.
• Mobilização e fortalecimento do
do papel protetivo da família. • Apoio na preparação do usuário para
convívio e de redes sociais de apoio.
• Suporte ao cuidador familiar o desligamento, quando for o caso,
• Suporte ao cuidador familiar
para redução do estresse. contando com orientação e supervisão
para redução do estresse e
• Identificação de redes sociais de apoio. de um profissional de nível superior.
custos orçamentários.

Fonte: Adaptado de Brasil (2009b, 2013, 2014, 2016, 2017).

69 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


Dentre as funções específicas do cuidador
social, destaca-se o auxílio nas atividades da
Apoio nos cuidados básicos com alimentação,
vida diária e instrumentais de autonomia e higiene, banho, vestuário e locomoção.
participação , a partir de diferentes formas
e metodologias, contemplando as dimensões
individuais e coletivas. Ressalta-se que o
Organização do ambiente, no que se refere
cuidado deve ser pautado na autonomia, à estrutura física e a atividades de rotina.
e o papel do cuidador social perpassa pela
supervisão ou assistência direta, conforme o
grau de dependência e levando em consideração Apoio e monitoramento dos cuidados com a moradia,
o Plano de Organização do Cotidiano. Na lista como organização, uso e limpeza do ambiente,
a seguir, destacam-se algumas das funções das tecnologias assistivas, e da preparação de tarefas.
desse profissional.

Apoio na administração de medicamentos.

Orientação na prevenção de acidentes.

Apoio e acompanhamento em serviços básicos,


tais como bancos, mercados e farmácias, conforme as necessidades.

Acompanhamento nas atividades do Atendimento


Educacional Especializado e/ou de reabilitação.

70 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


Muitas das tarefas realizadas pelo cuidador social nesses
serviços dependem não só do grau de dependência e do ciclo de
vida da pessoa, mas também do tipo de deficiência.

Os cuidados devem focar no estímulo à pessoa com


deficiência para a realização dessas atividades de forma
autônoma, sempre que isso for possível, evitando a
superproteção e a superestimação.

Essa preocupação deve acompanhar todos os cuidados


oferecidos na rotina, e especial atenção deve ser dada aos
cuidados de saúde, mantendo relações próximas com a rede
local do SUS.

Salienta-se que o cuidador tem que estar atento à capacidade Projeto Integrar – pistas visuais. Arte: Neimer Gianvechio | Autismo
funcional e ao controle das partes do corpo do usuário, Projeto Integrar.
especialmente da cabeça e do tronco, pois isso facilita pensar a
posição mais adequada para a realização de atividades. Ainda em relação às atividades instrumentais,
No caso das pessoas com deficiência intelectual ou transtorno o estabelecimento de regras de convívio, a organização e a
do espectro autista, deve-se garantir que elas entendam flexibilidade da rotina são centrais para alcançar a autonomia,
a necessidade de uma atividade. Para isso, recomenda-se com o consequente efeito pedagógico de estimular a
planejar as tarefas de forma simples e estruturá-las por etapas responsabilidade e o respeito pelo outro, e a possibilidade de
sequenciais, e para isso pode-se utilizar pistas visuais. vivenciar a liberdade de escolha. Esse equilíbrio dependerá do
bom senso e da reflexão conjunta dos profissionais e moradores
sobre o dia a dia da residência.

Pistas visuais
Estratégia que utiliza sequência de imagens para ilustrar como cada etapa de uma
tarefa pode ser executada.

71 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


SAIBA MAIS Organizar registros individuais,
de modo a preservar e valorizar a história de vida.
As atividades da vida diária ou de autocuidado estão
relacionadas ao cuidado de si, ou seja, são atividades que
envolvem a higiene do corpo, o vestuário e a alimentação. Para
Valorizar as potencialidades,
muitos, essa nomenclatura é desconhecida, mas para as pessoas tanto durante conversas e interações quanto no apoio às atividades.
com deficiência e profissionais que atuam com esse público,
tal termo é bastante comum. Assim, dependendo do tipo
de deficiência e do grau de limitação ou dependência, Construir junto com o usuário a organização do cotidiano,
na escolha e no uso de tecnologia assistiva no serviço,
é necessário que o cuidador social saiba como identificar no domicílio e na comunidade.
e estimular a funcionalidade da pessoa cuidada. Saiba mais
assistindo ao vídeo “Estratégias de intervenção nas atividades Acompanhar os usuários aos serviços de saúde, educação e
da vida diária”, disponível em: https://www.youtube.com/ profissionalização externas ao serviço. Colaborar no planejamento,
watch?v=fHLhPVhP60E, e ao vídeo “Atividades da vida diária na identificação prévia dos locais e na acessibilidade a estes.
para autonomia da criança com deficiência”, disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=YEuLseyvaZY.
Apoiar a superação das barreiras no acesso à informação.

Outras atribuições que o cuidador social realiza para a garantia


de direitos e a inclusão social da pessoa com deficiência podem Colaborar na participação em atividades recreativas e de lazer.
ser feitas a partir dos seguintes eixos norteadores.

Protagonismo
Apoiar o acesso a programas de qualificação profissional
Este eixo tem por objetivo promover experiências que e inclusão produtiva e digital.
potencializam a autonomia por meio da valorização da
identidade e da singularidade do sujeito. Para isso, o cuidador
social deve estimular a liberdade de escolha, a tomada de Apoiar a preparação do usuário para o desligamento do serviço,
quando for o caso, contando com orientação e supervisão
decisão e o exercício da cidadania do usuário. Algumas ações de um profissional de nível superior.
que podem ser realizadas pelo cuidador são:

72 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


Convivência social
Este eixo busca promover a autonomia, a qualidade de vida
e o sentimento de pertencimento, por meio de ações que
valorizem o convívio social e familiar. Algumas das funções do
cuidador social são:

Promoção de convívio e de organização de ações de socialização.

Desenvolvimento do convívio familiar


(família nuclear, extensa ou ampliada),
grupal e social, tanto presencial quanto virtual.

Apoio na realização de atividades com usuário,


cuidador familiar, familiares, amigos e relacionamentos afetivos.
Residência Inclusiva em Jundiaí (SP). Foto: Prefeitura Municipal de Jundiaí.

Apoio e orientação aos cuidadores familiares


para a autonomia no cotidiano no domicílio e na comunidade.

Mobilização e fortalecimento do convívio


e de redes sociais de apoio.

Apoio na identificação, acesso e permanência nos espaços de lazer,


educação, cultura e religiosidade no território.

Estímulo à participação de cuidadores


e familiares nas ações no território.

Residência Inclusiva em Franca (SP). Foto: Jornal da Franca.

73 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


GESTÃO EFETIVA
As atividades com o cuidador familiar podem ser realizadas
por meio de diferentes metodologias, como reuniões
periódicas, oficinas sobre cuidados e direitos da pessoa
com deficiência, grupos de apoio e suporte, atividades
socioculturais e atividades em grupos mistos (pessoas com
deficiências e familiares), usando metodologias integrativas.

Atividade corporal em um Centro-Dia em Belém – PA. Foto: João Gomes/


COMUS, Prefeitura de Belém.

Quanto ao trabalho com a família de origem, especialmente na


Residência Inclusiva, é importante ressaltar que os moradores
Atividade Sociocultural em Sorocaba – SP. que tiverem referências familiares, tanto da família nuclear
Foto: Prefeitura de Sorocaba. quanto da família extensa, devem ser incentivados a estreitar
esses vínculos, ainda que não seja possível mais viver na mesma
casa de sua família. Essas referências familiares constituem-
se elementos importantes para a manutenção de laços sociais
e para o sentimento de pertencimento. Para tal, sugere-se que
sejam viabilizadas visitas de ambas as partes, de modo que a
família reconheça o espaço da Residência Inclusiva como a casa
do seu familiar. O trabalho com as famílias não deve envolver
apenas os cuidadores diretos, mas outros familiares (irmãos,
tios, avós), os membros da família ampliada e pessoas que
Oficina de culinária realizada em um Centro-Dia de Belém – PA. tenham ou venham a ter relações diretas com a pessoa com
Foto: João Gomes/COMUS, Prefeitura de Belém. deficiência, entre outros arranjos familiares.

74 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


GESTÃO EFETIVA O cuidador social tem papel fundamental na equipe de
No que concerne às ações no território, sugere-se que a equipe referência no cuidado à pessoa idosa e/ou com deficiência.
técnica realize a articulação com a comunidade, tanto no que se
refere aos moradores quanto às instituições, para a sensibilização, O papel do cuidador social vai além da realização de atividades de
difusão de informações, acessibilidade e diminuição de barreiras. cuidado direto, pois o convívio diário repercute no entendimento
Como estratégias metodológicas, destacam-se: da realidade social da pessoa cuidada e de sua família, o que
contribui para colaborar na identificação, no registro e no
■ Reconhecimento do território onde residem, bem como acompanhamento das necessidades e demandas dos usuários.
o reconhecimento dos usuários pelo território, Ressalta-se que é na convivência diária e na realização de suas
enquanto cidadãos. atribuições que o cuidador social busca informar, sensibilizar e
■ Reconhecimento e criação de parcerias com assegurar aos usuários o direito de (re)construção da autonomia,
equipamentos públicos e privados (de entretenimento, da autoestima e da inclusão.
religiosos e educacionais).
■ Reconhecimento e criação de parcerias com
equipamentos sociais (unidades de saúde, associações e
equipamentos culturais).
■ Mapeamento das redes e de serviços especializados.
■ Participação em conselhos de controle social de
políticas públicas.
■ Organização de campanhas educativas, datas temáticas e
eventos de mobilização.
■ Organização de atividade socioculturais em conjunto
com a vizinhança.

Parcerias com os serviços do território em Campinas – SP.


Foto: Arquivo Prefeitura Municipal de Campinas.

75 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


Veja a seguir uma retomada dos principais pontos abordados
neste módulo.

SÍNTESE DO MÓDULO
Neste módulo, você conheceu os serviços que prestam cuidado
integral a crianças, adolescentes, idosos e pessoas com deficiência
na política de assistência social e o papel do cuidador social
nas diferentes unidades de atendimento do SUAS junto a essa
população. Nos tópicos desenvolvidos, você aprendeu sobre:

■ Serviços e unidades na Proteção Social Básica e Especial de


Parcerias com os serviços do território. Média e Alta Complexidade que prestam atendimento a
Foto: Fernanda Sunega/Prefeitura Municipal de Campinas. pessoas com deficiência, idosos e crianças e adolescentes.

■ A promoção de boas práticas de cuidado a crianças e


adolescentes e à pessoa com deficiência nas unidades de
atendimento do SUAS voltadas ao cuidado desse público.

■ Funções específicas do cuidador social.

■ Ações de estímulo à autonomia e à participação social


dos usuários a partir de diferentes formas e metodologias,
contemplando as dimensões individuais e coletivas.

Você finalizou o Módulo 4!


Ação de cidadania no território – Centro-Dia em Teresina – PI.
Foto: SEMCASPI/Prefeitura de Teresina. Esperamos que o curso tenha colaborado com o desenvolvimento
de habilidades que contribuam com sua rotina de trabalho.

76 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


Referências
AGICH, G. Dependência e autonomia na velhice: um modelo BRASIL. Lei 12.010, de 3 de agosto de 2009. Dispõe sobre
ético para o cuidado de longo prazo. São Paulo: Loyola, 2008. adoção; altera as Leis nº 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto
da Criança e do Adolescente, 8.560, de 29 de dezembro de 1992;
BARBOZA, H. H. O Cuidado como Valor Jurídico. In: A ética revoga dispositivos da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002
da convivência familiar e sua efetividade no cotidiano dos - Código Civil, e da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT,
tribunais. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 237. aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1°º de maio de 1943; e dá
outras providências. Brasília, DF: Presidência da República,
BITTENCOURT, A. A. D. de; THOMAZO, J. S. di. Caderno do 2009. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
Educador. São Paulo: NECA, 2020. ato2007-2010/2009/lei/l12010.htm. Acesso em: 11 ago. 2022.

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei
Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da
Organização do texto: Juarez de Oliveira. 4. ed. São Paulo: Pessoa com Deficiência). Brasília, DF: Presidência da República,
Saraiva, 1990. 168 p. (Série Legislação Brasileira). 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
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BRASIL. Centro Dia: Atendimento das Pessoas com Deficiência
e suas Famílias. Brasília, DF: Ministério da Cidadania, 2012. BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da
Disponível em: https://novoead.cidadania.gov.br/webview.php/ Criança e do Adolescente (ECA). 6. ed. Brasília: Senado Federal,
srv/www/htdocs/badiunetdata/files/1/559khuegja2jfeetxvmo_ Subsecretaria de Edições Técnicas, 2005.
packge/mod1/sumario.html. Acesso em: 11 ago. 2022.
BRASIL. Orientações para gestores, profissionais, residentes
BRASIL. Centro-Dia de Referência para Pessoa com e familiares sobre o Serviço de Acolhimento Institucional
Deficiência. Brasília, DF: Ministério do Desenvolvimento Social para Jovens e Adultos com Deficiência em Residências
e Combate à Fome, 2012. Inclusivas: Perguntas e Respostas. 1. ed. Brasília: Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2016.
BRASIL. Guia prático do cuidador. Brasília: Ministério da
Saúde, 2008.

77 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


BRASIL. Orientações Técnicas sobre o Serviço de Proteção BRONFENBRENNER, U. A ecologia do desenvolvimento
Social Especial para as Pessoas com Deficiência e suas Famílias humano: experimentos naturais e planejados. Porto Alegre:
ofertado em Centro-Dia de Referência. Brasília: PNUD, 2013. Artes Médicas, 1996.
BRASIL. Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento
para Crianças e Adolescentes. Brasília: Conselho Nacional dos FALEIROS, V. de P. Desafios de cuidar em Serviço Social: uma
Direitos da Criança e do Adolescente; Conselho Nacional de perspectiva crítica. Revista Katálysis, v. 16, número especial, p.
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BRASIL. Proteção Social Básica no Domicílio para Pessoas IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA.
com Deficiência e Idosa. Brasília, DF: Ministério do Censo Brasileiro de 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2012.
Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2017.
IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
BRASIL. Resolução CNAS nº 9, de 15 de abril de 2014. Ratifica e ESTATÍSTICA. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
reconhece as ocupações e as áreas de ocupações profissionais de Contínua: notas metodológicas. Rio de Janeiro: IBGE, 2017.
ensino médio e fundamental do Sistema Único de Assistência
Social – SUAS. Brasília, DF: CONAD, 2014. NOGUEIRA, J.; BRAUNA, M. Boas práticas internacionais
e do Brasil de apoio ao cuidador familiar. Madri: Programa
BRASIL. Serviços da Proteção Social Especial do SUAS: Versão EUROsociAL, 2021.
Preliminar. Brasília, DF: Ministério da Cidadania, 2021.
PINHEIRO, A.; CAMPELO, A. A.; VALENTE, J. (org.). Guia de
BRASIL. Serviços da Proteção Social Especial do SUAS: acolhimento familiar. São Paulo: Instituto Fazendo História, 2022.
Versão Preliminar, Resumida e Atualizada. Brasília, DF: SNAS/
SUAS/MDS, 2011. PINTO, A. M.; VERÍSSIMO, M., MALVA, J. Manual do
cuidador: envelhecimento ativo e saudável. Coimbra: Imprensa
BRASIL. Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais. da Universidade de Coimbra, D. L. 2020.
Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
Fome, 2009b. SILVEIRA, A. Cuidado e convívio com pessoas com
deficiência: guia para familiares e cuidadores. 1. ed. Frederico
Westphalen, RS: Editora Gráfica Grafimax, 2021.

78 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


VILLAS BOAS, P. J. F. et al. (org.) Manual: qualidade do cuidado
em instituição de longa permanência para idoso. Belo Horizonte
(MG): ILPI, 2021.

WALDOW, V. R. Cuidar: expressão humanizadora da


enfermagem. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.

79 MÓDULO 4 – A FUNÇÃO DE CUIDADOR SOCIAL


UNIVERSIDADE FEDERAL DE DESIGN GRÁFICO CONTEUDISTAS DO MÓDULO
SANTA CATARINA Supervisão: Sonia Trois Dalízia Amaral Cruz
Airton Jordani Jardim Filho Elson Ferreira Costa
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (SEAD) Lais dos Santos da Silva
Laura Schefer Magnus SECRETARIA
labEAD Márcio Luz Scheibel Murilo Cesar Ramos
Nicole Alves Guglielmetti Waldoir Valentim Gomes Junior
COORDENAÇÃO GERAL Vinicius Costa Pauli
Luciano Patrício Souza de Castro Vinicius Leão da Silva NARRAÇÃO/APRESENTAÇÃO
Áureo Mafra de Moraes
FINANCEIRO REVISÃO TEXTUAL
Fernando Machado Wolf Supervisão: Cleusa Iracema Pereira Raimundo AUDIODESCRIÇÃO
Guilherme Ribeiro Colaço Mäder Vanessa Tavares Wilke
CONSULTORIA TÉCNICA EAD Vivian Ferreira Dias
Giovana Schuelter PROGRAMAÇÃO
Supervisão: Alexandre Dal Fabbro NARRAÇÃO/AUDIODESCRIÇÃO
COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO Bruno Fuhrmann Kehrig Silva Milene Silva de Castro
Cristina Spengler Azambuja Luiz Eduardo Pizzinatto
INTÉRPRETE LIBRAS
COORDENAÇÃO DE AVEA AUDIOVISUAL Vitória Cristina Amancio
Andreia Mara Fiala Supervisão: Rafael Poletto Dutra
Andrei Krepsky de Melo SUPERVISÃO TUTORIA
DESIGN INSTRUCIONAL Dilney Carvalho da Silva Amanda Herzmann Vieira
Supervisão: Milene Silva de Castro Daniele de Castro Diogo Félix de Oliveira
Christian Jean Abes Iván Alexis Bustingorri João Batista de Oliveira Junior
Larissa Usanovich de Menezes Jeremias Adrian Bustingorri Thaynara Gilli Tonolli
Laura Tuyama Monica Stein
Rodrigo Humaita Witte
SECRETARIA NACIONAL DE SECRETARIA ESPECIAL DO
ASSISTÊNCIA SOCIAL DESENVOLVIMENTO SOCIAL

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