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Módulo de

Estratificação e
Mobilidade Social
Curso de Licenciatura em Ensino de História

Faculdade de Ciências Sociais e Filosóficas

Departamento de História

Universidade Pedagógica
Rua João Carlos Raposo Beirão nº 135, Maputo
Telefone: (+258) 21-320860/2 ou 21 – 306720
Fax: (+258) 21-322113

Centro de Educação Aberta e à Distancia


Programa de Formação à Distância
Av. de Moçambique, Condomínio Vila Olímpica, bloco 22 edifício 4, R/C, Zimpeto
Telefone: (+258) 82 3050353
e-mail: cead@up.ac.mz / up.cead@gmail.com
Ficha técnica

Autoria: Rafael Herculano Madime

Revisão Científica: Crimildo Muhacha

Revisão da Engenharia de EAD e Desenho Instrucional: Cristina Ribeiro Loforte

Edição Linguistica:

Edição técnica/Maquetização: Anselmo Ângelo Maduela

Layout da Capa: Valdinácio Florêncio Paulo


Imagem base da Capa: Gaël Epiney

Primeira Edição© 2020

Impresso e Encadernado por

© Todos os direitos reservados. Não pode ser publicado ou reproduzido em nenhuma forma ou meio –mecânico ou
eletrónico- sem a permissão da Universidade Pedagógica.
Índice
Visão Geral do Módulo 1

Unidade 1: Estratificação Social 1

Lição n° 1 4
Conceito de Estratificação Social e Considerações Básicas da Disciplina ....................... 4
1.1 Conceito de Estratificação Social ...................................................................... 4
1.2 Aspectos fundamentais para a abordagem da disciplina ................................... 6

Lição n° 2 9
Características da Estratificação Social: desigualdade, diferenciação e hierarquização .. 9
2.1 Desigualdade, diferenciação e hierarquização .................................................. 9

Lição n° 3 14
Factores da Estratificação Social .................................................................................... 14
3.1. Factores da Estratificação Social ................................................................ 14

Lição n° 4 17
Teorias de Classe e de Estratificação Social ................................................................... 17
4.1. Teorias Marxistas e Neomarxistas ou de conflito ....................................... 18
4.2 Teoria Funcionalista ou de consenso............................................................... 20

Lição n° 5 24
Crítica à teoria funcionalista de estratificação ................................................................ 24
5.1 Crítica à teoria funcionalista de estratificação ................................................ 24

Lição n° 6 27
Teorias Weberianas......................................................................................................... 27

Lição n° 7 30
Sistemas de Estratificação Social ................................................................................... 30
7.1 Sistemas fechados............................................................................................ 31
7.2 Sistemas Abertos de Estratificação Social ...................................................... 32

Lição n° 8 35
Funções Básicas da Sociedade ........................................................................................ 35
8.1 Definição do Conceito de Sociedade ............................................................... 36
8.2 Funções básicas da sociedade .......................................................................... 36
Unidade 2: Mobilidade Social 45

Lição n° 9 48
Conceito e Tipos de Mobilidade Social .......................................................................... 48
9.1 Conceito de Mobilidade Social ....................................................................... 48
9.2 Tipos de Mobilidade Social ............................................................................. 49

Lição n° 10 53
Factores da Mobilidade Social ........................................................................................ 53
10.1 Factores colectivos ........................................................................................ 54
10.2 Factores individuais ....................................................................................... 54

Lição n° 11 57
Formação das elites e mobilidade social, o exemplo de Moçambique ........................... 57
11.1 Elite ............................................................................................................... 58
11.2 Contexto do surgimento da Elite em Moçambique ....................................... 59

Lição n° 12 65
Papel Social e a Multiplicidade de Tarefas ..................................................................... 65
12.1 Papel Social ................................................................................................... 66
12.2 Características do Papel Social...................................................................... 66
12.3 Conteúdo e níveis do Papel Social ................................................................ 67
12.4 Formação e multiplicidade dos papéis sociais .............................................. 69

Lição n° 13 73
Desvio Social .................................................................................................................. 73
13.1 Desvio Social ................................................................................................. 73
13.2 Desvio social, atentado ou não? .................................................................... 74
13.3 Factores que contribuem para o desvio social ............................................... 75

Lição n° 14 83
Conceito e Tipos de Mobilidade Social .......................................................................... 83
14.1 Controlo Social .............................................................................................. 84
14.2 Significado do Controlo Social ..................................................................... 84
14.3 O papel das sanções sociais no controlo ....................................................... 85
14.4 Canais de controlo social ............................................................................... 85
14.5 Mecanismos do controlo Social .................................................................... 86
14.6 Conformismo social e obediência ................................................................. 87

Lição n° 15 91
Globalização: Contexto, Conceito e características ........................................................ 91
15.1 Contexto e Conceito de Globalização ........................................................... 92
15.2 Características da globalização ..................................................................... 93
Lição n° 16 98
Globalização como fábula, factor perverso e como possibilidade.................................. 98

Lição n° 17 104
Problemas, significado político-social e impacto da globalização ............................... 104
17.1 Problemas e significado político-social da globalização ............................. 105
17.2 Impacto da globalização .............................................................................. 106
17.3 Globalização/Mobilidade ............................................................................ 107

Lição n° 18 111
Exclusão social e reinvenção de identidades ................................................................ 111
18.1 Exclusão social ............................................................................................ 112
18.2 Factores da Exclusão social e identidade .................................................... 112
18.3 Formas de exclusão social ........................................................................... 115
Visão Geral do Módulo
Introdução
SEJA BEM-VINDO AO MÓDULO DE ESTRATIFICAÇÃO E
MOBILIDADE SOCIAL

Caro/a Estudante!

O presente módulo foi escrito com o propósito de lhe oferecer um


instrumento de apoio ao longo das suas aulas de Estratificação e
Mobilidade Social. Trata-se de um instrumento básico que, não
deve ser encarado como único para a sua aprendizagem. Daí que,
deverá, igualmente, potenciar a consulta das diferentes referências
bibliográficas que se lhe apresentam no fim de cada lição e/ou
unidade temática. A sua elaboração tomou como base o plano
temático da mesma disciplina e constante no Plano Curricular de
Licenciatura em Ensino de História.

No que concerne à organização, o módulo comporta sempre a


introdução da lição e/ou unidade temática, os objectivos que se
pretendem alcançar, os conteúdos programáticos, alguns exercícios,
que lhe vão ajudar a testar o nível de compreensão dos conteúdos
de cada lição, bem como sugestões para leituras complementares
com vista a alargar a sua visão e orientar a pesquisa de informação
que for necessária na abordagem dos conteúdos em causa.

A importância do estudo do Módulo de Estratificação e Mobilidade


Social é permitir-lhe a compreensão da dinâmica das diferentes
comunidades e sociedades ao longo dos tempos. É com base nesse
estudo que poderá compreender os factores e as condições que
conduziam e têm conduzido à hierarquização nos grupos, bem
como os elementos que concorrem para a passagem dos indivíduos
de um grupo social/classe para o outro. Portanto, a disciplina visa
despertar-lhe a atenção para a inovação e criatividade que lhe
poderão conduzir à compreensão da ascensão ou regressão de
determinados grupos sociais.

1
Objectivos do Módulo
Uma vez terminado o estudo deste módulo, você deverá ser capaz de:
 Analisar os factores da estratificação social;
 Distinguir os tipos de formações sociais;
 Reconhecer os traços de estratificação social num determinado
grupo social;
 Analisar os factores de mobilidade social;
 Explicar os “momentos” das mudanças sociais;
 Distinguir os diferentes tipos de mobilidade social;
 Explicar o impacto da multiplicidade de tarefas;
 Analisar os factores do desvio social;
 Analisar as manifestações da globalização;
 Explicar as implicações da exclusão social.

Estrutura do Módulo
O presente módulo está organizado em unidades de aprendizagem.
Cada unidade tem uma Introdução, Objectivos de aprendizagem,
Auto-avaliação da unidade e Resumo. Em cada unidade, a
abordagem dos conteúdos organiza-se em Lições. Por sua vez, cada
Lição compreende uma introdução, os objectivos da lição, o
conteúdo a ser estudado, as actividades de aprendizagem,
exercícios, questões de debate, orientações para a tomada de notas
e outros elementos que variam de uma unidade para outra. No fim
de cada lição, encontra-se um resumo e uma proposta de auto-
avaliação. No fim da Unidade encontra-se uma Auto-avaliação da
Unidade, comentários para as auto-avaliações e sugestão de leituras
complementares.

2
Os conteúdos deste módulo estão distribuídos em duas unidades de
aprendizagem, a primeira com 8 (oito) lições e a segunda com 10
(dez) lições. Por conseguinte, o módulo compreende um total de 18
(dezoito) lições, conforme ilustra o quadro que se segue:

Unidade Lições Horas


1. Estratificação Social 1ª Conceito de Estratificação Social e 34h
considerações básicas da disciplina;
2ª Características de Estratificação:
desigualdade, diferenciação e hierarquização;
3ª Factores de Estratificação Social;
4ª Teorias de Classe e de Estratificação Social;
5ª Crítica à teoria funcionalista de estratificação;
6ª Teorias Weberianas;
7ª Sistemas sociais de Estratificação Social;
8ª Funções básicas da sociedade.
2. Mobilidade Social 9ª Conceito e Tipos de Mobilidade Social; 41h
10ª Factores de Mobilidade Social;
11ª Formação das elites e mobilidade social, o
exemplo de Moçambique;
12ª Papel Social e Multiplicidade de Tarefas;
13ª Desvio Social;
14ª Controlo Social;
15ª Globalização: contexto, conceito e
características;
16ª Globalização como fábula, factor perverso e
possibilidade;
17ª Problemas, significado político-social e
impacto da globalização;
18ª Exclusão Social e reinvenção de identidades.

A quem se destina o Módulo


Este módulo foi elaborado tendo como grupo alvo os estudantes do
4º ano do curso de Licenciatura em Ensino de História da
Universidade Pedagógica, na modalidade de Educação à Distância.
Porém, isto não significa que o mesmo não possa ser estudado por
outros interessados nos conteúdos aqui discutidos.

3
Avaliação
Para a consolidação da aprendizagem, estão propostos no fim de
cada lição e unidade temática, actividades de exercitação com o
objectivo de permitir a sua auto-avaliação. Com efeito, tais
actividades serão individualmente resolvidas por cada estudante e,
depois, serão debatidas com o docente e/ou com os restantes
colegas da turma. Para além destes, poderão ser tomados em
consideração outros instrumentos de avaliação como: testes,
trabalhos individuais, em pares ou mesmo em grupos, chats e
fóruns no moodle, entre outros. Para todos os efeitos, não
desperdice tempo deixando as actividades para mais tarde, pois elas
irão se avolumando à medida que se abordarem novas lições.
Lembrando ainda que a compreensão dessas actividades pode
ajudar muito na assimilação do conteúdo das lições subsequentes.
Para a avaliação sumativa, o módulo/disciplina compreenderá dois
testes, sendo um presencial e o outro no moodle e um trabalho em
grupo. A culminação inclui a realização de um exame escrito.

Ícones de Actividades
Caro estudante, para lhe ajudar a orientar-se no estudo deste
módulo e facilmente foram usados marcadores de texto do tipo
ícones. Os ícones foram escolhidos pelo CEMEC (Centro de
Estudos Moçambicanos e Etnociência) da Universidade
Pedagógica. Tomou-se em consideração a diversidade cultural
Moçambicana. Encontre, a seguir, a lista de ícones, o que a figura
representa e a descrição do que cada um deles indica no módulo:

4
1. Exercício 2. Actividade 3. Auto-Avaliação

[peneira]
[colher de pau com alimento
[enxada em actividade] para provar]
4. Exemplo/estudo de 5. Debate 6. Trabalho em grupo
caso

[Jogo Ntxuva]
[fogueira] [mãos unidas]

7. Tome nota/Atenção 8. Objectivos 9. Leitura

[estrela cintilante] [livro aberto]


[batuque soando]

10. Reflexão 11. Tempo 12. Resumo

[sentados à volta da
fogueira]
[sol]
[embondeiro]
13. Terminologia 14. Video/Plataforma 15. Comentários
Glossário

[Balão de fala]

[Dicionário] [computador]

5
1. Exercício (trabalho, exercitação) – A enxada relaciona-se com
um tipo de trabalho, indica que é preciso trabalhar e pôr em prática
ou aplicar o aprendido.
2. Actividade - A colher com o alimento para provar indica que é
momento de realizar uma actividade diferente da simples leitura, e
verificar como está a ocorrer a aprendizagem.
3. Auto-Avaliação – A peneira permite separar elementos, por isso
indica que existe uma proposta para verificação do que foi ou não
aprendido.
4. Exemplo/Estudo de caso – Indica que há um caso a ser resolvido
comparativamente ao jogo de Ntxuva em que cada jogo é um caso
diferente.
5. Debate – Indica a sugestão de se juntar a outros (presencialmente
ou usando a plataforma digital) para troca de experiências, para
novas aprendizagens, como é costume fazer-se à volta da fogueira.
6. Trabalho em grupo –Para a sua realização há necessidade de
entreajuda, que se apoiem uns aos outros
7. Tome nota/Atenção – Chamada de atenção
8. Objectivos – orientação para organização do seu estudo e daquilo
que deverá aprender a fazer ou a fazer melhor
9. Leitura adicional – O livro indica que é necessário obter
informações adicionais através de livros ou outras fontes.
10. Reflexão – O embondeiro é robusto e forte. Indica um momento
para fortalecer as suas ideias, para construir o seu saber.
11. Tempo – O sol indica o tempo aproximado que deve dedicar á
realização de uma tarefa ou actividade, estudo de uma unidade ou
lição.
12. Resumo – Representado por pessoas sentadas à volta da fogueira
como é costume fazer-se para se contar histórias. É o momento de
sumarizar ou resumir aquilo que foi tratado na lição ou na unidade.
13. Terminologia/Glossário – Representado por um livro de consulta,
indica que se apresenta a terminologia importante nessa lição ou

6
então que se apresenta um Glossário com os termos mais
importantes.
14. Vídeo/Plataforma – O computador indica que existe um vídeo
para ser visto ou que existe uma actividade a ser realizada na
plataforma digital de ensino e aprendizagem.
15. Balão com texto – Indica que existem comentários para lhe ajudar
a verificar as suas respostas às actividades, exercícios e questões de
auto-avaliação.

7
Conteúdos
Lição n° 1 4
Conceito de Estratificação Social e Considerações Básicas da Estratificação Social
Disciplina 4
1.1 Conceito de Estratificação Social 4
1.2 Aspectos fundamentais para a abordagem da disciplina
6
Lição n° 2 9
Características da Estratificação Social: desigualdade, diferenciação
e hierarquização 9

UNIDADE
2.1 Desigualdade, diferenciação e hierarquização 9
Lição n° 3 14
Factores da Estratificação Social 14

1
3.1. Factores da Estratificação Social 14
Lição n° 4 17
Teorias de Classe e de Estratificação Social 17
4.1. Teorias Marxistas e Neomarxistas ou de conflito
18
4.2 Teoria Funcionalista ou de consenso 20
Lição n° 5 24
Crítica à teoria funcionalista de estratificação 24
5.1 Crítica à teoria funcionalista de estratificação 24
Lição n° 6 27
Teorias Weberianas 27
Lição n° 7 30
Sistemas de Estratificação Social 30
7.1 Sistemas fechados 31
7.2 Sistemas Abertos de Estratificação Social 32
Lição n° 8 35
Funções Básicas da Sociedade 35
8.1 Definição do Conceito de Sociedade 36
8.2 Funções básicas da sociedade 36

Pág. 1 - 44

Unidade 1: Estratificação Social

1
Introdução
A existência do Homem ao longo de diferentes fases/etapas que
acompanharam o desenvolvimento das comunidades e sociedades
foi caracterizada por uma certa organização, mesmo que denotando
a divisão do trabalho, e que com o tempo foi se aperfeiçoando, com
todas as suas consequências. Neste contexto, é fundamental que se
discuta de que maneira tais sociedades foram-se hierarquizando ou
estruturando, bem como as razões que teriam contribuindo para tal
facto. Paralelamente a isso, vários teóricos procuraram explicar a
questão da estratificação/hierarquização das sociedades, sendo por
isso importante que se analisem as fundamentações das suas teses.

A superprodução dos estratos que caracterizam uma dada sociedade


é um perfil que mostra a composição de uma sociedade e pela qual
se pode fazer toda uma série de inferências e combinações. A
própria qualidade de vida que as pessoas têm é reflexo do modo
como a distribuição da riqueza é feita nessa sociedade. A
abordagem da estratificação social permite compreender como e as
razões que fazem com que as pessoas sejam ordenadas ou
colocadas dentro de uma classe ou camada “apropriada”. Daí que,
as ideias básicas de estratificação social se encontram nas mais
diversas sociedades das épocas remotas, tendo como base, muitas
vezes, a estrutura económica, na óptica dos marxistas. Com efeito,
nesta unidade irá estudar como as sociedades foram se organizando
e como partilhavam o rendimento final do seu trabalho.

Objectivos da unidade
Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:
 Definir o conceito de Estratificação Social;
 Identificar as características da Estratificação Social;
 Identificar os critérios da Estratificação Social;

2
 Explicar os critérios da Estratificação Social;
 Distinguir as teorias de Estratificação Social;
 Descrever os sistemas Sociais de Estratificação Social;
 Identificar os tipos de formações sociais;
 Explicar as funções básicas da sociedade;

3
Lição n° 1
Conceito de Estratificação Social e Considerações Básicas da Disciplina

Introdução
Caro/a estudante, a abordagem desta disciplina requer antes de
mais não só a percepção do conceito de Estratificação Social, como
também a compreensão dos aspectos básicos a tomar em
consideração para sua melhor pesquisa, leitura e compreensão.
Estes dois aspectos constituem parte dos elementos essenciais que
irão flexibilizar o seu raciocínio neste contexto e, particularmente,
nesta lição.

Ao completar esta lição, você deverá ser capaz de:

 Definir o Conceito de Estratificação Social;

 Descrever os aspectos fundamentais para a abordagem da


Estratificação Social;

Objectivos

Tempo de estudo da lição: 3 horas

Tempo

1.1 Conceito de Estratificação Social

Estratificação social refere-se a uma arrumação hierárquica entre os


indivíduos ou grupos, em divisões de poder e riqueza, numa certa
sociedade. É a diferenciação hierárquica entre indivíduos e grupos,
segundo suas posições (Silva, 1981: 8).

A Estratificação Social indica a existência de diferenças, de


desigualdades entre pessoas ou grupos de uma determinada
sociedade. Ela indica a existência de grupos de pessoas que

4
ocupam posições diferentes, principalmente nos âmbitos
económico e profissional (Almeida, 1984: 24).

Para Ferrari (1983: 428), a Estratificação Social é entendida como


“a superposição de estratos ou camadas sociais dentro de uma dada
sociedade, que em princípio tal (sociedade) deve ser aberta”. A
estratificação é uma característica universal das sociedades
humanas, mas os seus critérios constituem uma criação do
observador. Este pode escolher um critério quantitativo, qualitativo
ou combinar ambos (Silva, 1981: 8).

A Estratificação Social esteve presente em todas as épocas: desde


os primeiros grupos de indivíduos (homens das cavernas) até os
nossos tempos. Ela apenas mudou de forma, de intensidade e de
causas. Por exemplo, a Revolução Industrial e a transformação dos
sistemas económicos contribuíram para que as questões sobre a
desigualdade social fossem melhor visualizadas, discutidas e
percebidas, principalmente depois do advento do capitalismo,
tornando-as mais evidentes. Portanto, a arrumação dos indivíduos
ou grupo de indivíduos, numa certa sociedade/comunidade,
obedecendo a vários critérios, desde as épocas remotas até aos
nossos dias, é que traduz a definição do conceito de Estratificação
Social.

1. Em que período histórico pode-se falar da Estratificação Social


(Comunidade Primitiva, Antiguidade, época Medieval, época
moderna ou contemporânea)?

2. Que aspectos tomaria como exemplos para justificar a


Actividade
estratificação nos três primeiros períodos apresentados em 1)?

5
Certamente que identificou, dentre as épocas mencionadas, os
períodos históricos susceptíveis da abordagem de Estratificação
Social. Mais do que os identificar, deverá, igualmente, explicar o que
justifica a hierarquização ou desigualdade social em cada uma das
Comentario
etapas históricas. Aí estaria a mencionar exemplos que abrangerão a
pergunta número 2. Caso tenha dificuldades, sugere-se que volte a ler
os conceitos da lição, discuta com os colegas e até se possível
comparar as respostas.

Entendido o conceito de Estratificação social e sua evolução em


termos cronológicos, bem como as suas motivações, o que foi
comprovado pela realização da Actividade 1, na subsecção que se
segue iremos reflectir em torno dos aspectos que serão considerados
para melhor compreensão dos fenómenos sociológicos que
caracterizaram os homens ao longo dos diferentes momentos
históricos.

1.2 Aspectos fundamentais para a abordagem da disciplina

A disciplina de Estratificação e Mobilidade Social procura dar


subsídios para a interpretação e compreensão dos fenómenos
sociais que caracterizam o dia-a-dia dos Homens. Para a
compreensão desses diferentes fenómenos sociais, dão-se exemplos
do mundo, em geral, e da realidade moçambicana, em particular.
Em termos de tratamento dos conteúdos, olha-se para as épocas
históricas desde a Comunidade Primitiva (com as comunidades
“igualitárias”), passando pela época Antiga (com o esclavagismo),
época Média (com as sociedades estamentais e castas), época
Moderna (com a industrialização) até à contemporaneidade (com a
globalização/mundialização e exclusão social). Contudo, os
aspectos fundamentais que compõem esta disciplina são
antecedidos pela apresentação de alguns conceitos básicos.

6
Busque subsídios para o estudo desta disciplina não só nas obras de
História, mas também nas obras de Sociologia e Antropologia.
Durante as suas leituras é preciso considerar exemplos do dia-a-dia
das sociedades e, particularmente, da comunidade em que você
vive para que esta (disciplina) lhe seja mesmo útil.

Resumo da lição
Na presente lição discutiu-se o conceito de Estratificação Social,
assim como os aspectos fundamentais a ter em consideração
para a abordagem da disciplina. Em relação ao conceito de
Estratificação Social, mereceram particular destaque os
seguintes aspectos:

 Definiu-se a Estratificação Social como


arrumação/agrupamento de indivíduos no seio de uma
comunidade ou sociedade, tomando em consideração
determinados aspectos pré-estabelecidos;

 Muitas vezes, a hierarquização é visível em sociedades


de sistemas abertos de Estratificação Social;

 Na definição do conceito de Estratificação Social, os


diferentes autores mostraram-se convergentes ao
trazerem a questão de superposições dos envolvidos nos
grupos sociais;

 Quanto à abordagem da disciplina, olhando para a sua


denominação, fica claro que ela nos remete a uma leitura
interdisciplinar. As temáticas serão desenvolvidas com
auxílio de obras de Sociologia. É dentro dos aspectos
fundamentais da abordagem da disciplina que, também,
se percebe o objectivo central da mesma.

7
Auto-avaliação 1
1. Defina o conceito de Estratificação Social.
2. Que elementos podem ser avançados para atestar a
estratificação social na época feudal?
3. A estratificação é uma característica universal das sociedades
humanas, mas os seus critérios constituem uma criação do
observador.
- Explique o significado desta afirmação.
4. Qual é o objectivo do estudo de Estratificação e Mobilidade
Social?

Para a sua melhor orientação na resposta da auto-avaliação, pode-se


auxiliar nas obras apresentadas no fim desta lição.

Leituras complementares
AIRON, Raymond. Novos Temas de Sociologia Contemporânea: Luta
de Classes. Lisboa, Editorial Presença, 1993.
BARROS, José d‟Assunção. O campo da História: Especialidades e
Abordagens. São Paulo, Editora Atlas, 2004.
FERRARI, Afonso Trujillo. Fundamentos de Sociologia. São Paulo,
McGraw-Hill, 1983.

8
Lição n° 2
Características da Estratificação Social: desigualdade, diferenciação e
hierarquização

Introdução
Para uma melhor abordagem da estratificação social, é preciso
apresentar alguns traços distintivos que levem à percepção do
fenómeno “Estratificação”. Existem características ou traços que
distinguem os indivíduos, mas que, na essência, não conduzem à
estratificação. Eis a pertinência de procurar trazer-se, nesta lição, as
características que lhe podem conduzir a compreender melhor o
fenómeno da estratificação social. Ao que parece, apriori, os termos
desigualdade, diferenciação e hierarquização são sinónimos. De
facto, do ponto de vista sociológico eles obedecem a uma certa teia.
Nesta lição poderá perceber como se estabelece essa teia.

Ao completar esta lição, você deverá ser capaz de:

 Identificar os factores que levam à desigualdade social;


 Explicar como a desigualdade leva à diferenciação social;
 Descrever as formas pelas quais a diferenciação social
assume um determinado tipo de estratificação social;
Objectivos

Tempo de estudo da lição: 4 horas

Tempo

2.1 Desigualdade, diferenciação e hierarquização

Na perspectiva de Ferreira (2013: 425), pode-se entender que as


desigualdades sociais ocupam uma larga amplitude da estrutura das
sociedades. Pode-se falar das desigualdades relacionadas com o

9
sexo, a idade, a categoria socioprofissional, a etnia (…). A
desigualdade social não é uma simples diferença individual.
Algumas diferenças que se podem encontrar entre os indivíduos
que compõem uma sociedade são sociologicamente irrelevantes: a
estrutura física, a cor dos olhos, alguns gostos artísticos, podem não
influenciar nas oportunidades da vida concreta ou nada dizer sobre
as posições sociais de cada um. Assim, fala-se em desigualdade
social quando se verifica um grau variável de acesso a bens,
serviços ou oportunidades, cuja raiz explicativa se encontre nos
próprios mecanismos da sociedade.

Na verdade, a desigualdade “consiste na repartição não uniforme,


na população de um país ou região de todos os tipos de vantagens e
desvantagens” (Giddens, 1993: 212). Ainda na mesma esteira de
pensamento, o autor em referência explica que, as desigualdades
sociais como características da estratificação social “constituem
estruturas entre diferentes grupos de indivíduos”, estando os
mecanismos de estruturação baseados na sociedade.

Depreende-se do exposto anteriormente que, em qualquer


sociedade, povo ou região, existem elementos distintivos que
ajudam a compreender a existência das desigualdades sociais,
existindo aqueles que em nada influenciam no status do indivíduo
no seio de um grupo.

Em síntese, a desigualdade social é uma diferença socialmente


condicionada no acesso a recursos; o facto de se deter maior ou
menor volume de riqueza; maior ou menor prestígio ou valorização
social; diferentes possibilidades de escolarização e sucesso escolar;
diferentes capacidades de exercício de poder ou de cidadania –
estes são exemplos de aspectos que fazem compreender a
existência da desigualdade, pois condicionam os destinos do
indivíduo e, por conseguinte, o tipo de vida de cada um. Como diz
Jean Cazeneuve e, secundado pelos funcionalistas, “a desigualdade
entre os homens é um facto natural e inevitável”. O que se deve

10
evitar/combater e que constitui um grande problema são as
diferenças abismais.

A questão das classes depende da existência de forças que


sistematicamente estruturam as oportunidades de vida colectivas, e
assim criam fechamento de classes. Quer dizer, uma estrutura de
classes define trajectos de vida colectivas que levam, regularmente,
certos grupos sociais a desempenharem certas actividades com base
em oportunidades diferenciadas. O essencial das desigualdades tem
diferentes terminologias, a saber: classes sociais, estratos, camadas,
estatutos/status, grupos sociais, entre outros (Ferreira, 2013: 427).

Na visão de Ferrari (1983: 391), só se fala da diferenciação social


onde há desigualdades. Por outras palavras, o fenómeno da
desigualdade leva à diferenciação social, ao estabelecimento de
classes, camadas, castas e estamentos e, ainda, permite um
determinado tipo de estratificação (aberto ou fechado). Com efeito,
com a desigualdade aparece a diferenciação e esta, por sua vez,
origina a hierarquização ou agrupamento olhando para os
privilégios, posses ou poderes. Portanto, estas são as três
características básicas da estratificação social, onde as diferenças
individuais constituem desigualdade; as diferenças colectivas
denominam-se diferenciação social e esta última cria a ordenação
da sociedade, daí a hierarquização.

1. A diferença entre dois indivíduos não constitui desigualdade social.


Explique porquê?

2. Que elementos distintivos podem ajudar a entender a existência das


Actividade
desigualdades e diferenciações sociais?

3. Que apreciação faz em relação à existência da diferenciação social


na contemporaneidade?

4. Num determinado bairro, onde se encontram indivíduos vizinhos,


enquanto uns se levantam para a actividade docente, uns vão à
actividade de consultoria no escritório, outros são operários numa

11
fábrica de descaroçamento de castanha de caju, uns poucos são
agricultores, existindo um número que se dedica à actividade
comercial.

- Comente a realidade exposta em 4), considerando os conteúdos


aprendidos na lição nº2, dada em 2.1.

Ao responder à pergunta número 1, deverá procurar demonstrar que a


diferença entre pessoas sempre existirá. Porém, há que trazer os aspectos
de distinção que é para ajudar a compreender a realidade. Por exemplo,
eles podem ser diferentes pela cor da pele, etnia, religião, … estes
Comenntário
elementos indicam, de facto, a diferença, mas não se referirem à
desigualdade social. Estar-se-ia a falar da desigualdade social se se
tratasse de grupos de indivíduos com elementos que influenciam no seu
modo de vida ou status social, por exemplo, ramo profissional aliado à
renda.

Quanto à pergunta número 2, deverá referir-se a uma série de aspectos


que um determinado grupo tem em vantagem ou desvantagem e que
influenciam sobremaneira no seu modo de vida.

No que se refere à pergunta número3, na sua resposta não deve descurar


o facto de as diferenciações caracterizarem as sociedades na
contemporaneidade e de que as diferenciações sempre hão-de e devem
existir nos homens; pois um eventual igualamento significaria ausência
da necessidade de trabalhar, de se formar, de produzir cada vez melhor.
Por outras palavras, não faria sentido remunerar da mesma maneira dois
indivíduos com níveis completamente diferentes. Para todos os efeitos, é
preciso que olhe para a questão da equidade na distribuição da riqueza.

Na pergunta número 4, deverá frisar o facto de aquela realidade, por si


só, não significar diferenciação social. O que existe é que os indivíduos
abraçam diferentes ramos de actividade e, pode ser que, o seu padrão de
vida não tenha diferenças acentuadas.

Assim que já sabe o que é estratificação social, bem como caracterizá-la,

12
está em condições de continuar a aprender, avançando para os Factores
da Estratificação Social, tópico que será tratado na próxima lição.

Resumo da lição
Nesta lição, o caro estudante ficou a saber que a Estratificação Social se
caracteriza pela existência da desigualdade, esta que leva à
diferenciação social e, por conseguinte, a diferenciação social conduz à
hierarquização, esta última que pressupõe a existência de diferentes
grupos que podem ser classes sociais, camadas ou estamentos.

Auto-avaliação 2
1. Observe quais são os aspectos mais marcantes da desigualdade e
diferenciação social da sua localidade. A seguir, faça uma lista de
tais aspectos para discutir com seus colegas.

2. O que é diferenciação social?

Leituras complementares
FERREIRA, J.M. Carvalho, CARVALHO, João Peixoto et al.
Sociologia. Lisboa, Editora McGRAW-HILL, 2013.

FERRARI, Afonso Trujillo. Fundamentos de Sociologia. São Paulo,


McGraw-Hill, 1983.

13
Lição n° 3
Factores da Estratificação Social

Introdução
Nas sociedades tem-se assistido à hierarquização dos indivíduos ou
grupos dos mesmos. Essa hierarquização deve-se a uma série de
factores cuja explicação é encontrada no respectivo meio social.
Assim, na presente lição procura-se identificar os diferentes
factores que intervêm na estratificação social, assim como a
influência que tais factores geram no meio em que as pessoas se
encontram.

Ao completar esta lição, você deverá ser capaz de:

 Distinguir os factores que conduzem à estratificação social;


 Explicar a influência dos diferentes factores que conduzem à
estratificação social

Objectivos 

Tempo de estudo da lição: 2 Horas

Tempo

3.1. Factores da Estratificação Social

Na perspectiva de Ferrari (1983: 391), existem características


herdadas que as pessoas apresentam, como: sexo, capacidade
mental, e outros aspectos de natureza biológica1. Para além disso,
os Homens apresentam traços distintivos adquiridos na sua vida
social. Por exemplo, a influência do indivíduo ou da família no
meio social em que se encontra, o nível académico, a sua entrega

1
São os casos da cor da pele, a capacidade de inovação e a criatividade.

14
no trabalho, entre outros, o que lhe dá mais reconhecimento. Os
factores da estratificação social podem ser: distribuição desigual da
renda e da riqueza. Neste caso, segundo Lenski apud Ferrari
(1983), a distribuição obedeceria a um curioso dualismo
contraditório – da necessidade e do poder. O poder rege a
distribuição de recompensas e tem mais benefícios. A maior parte
das acções humanas são motivadas pela necessidade de satisfazer
as exigências vitais e derivados. Os trabalhadores que sofrem as
consequências de “mais-valia” são inferiorizados pela sua
incapacidade de administrar os seus fracos rendimentos.

 Que factores têm influenciado em grande medida para a


estratificação social na sua comunidade ou bairro?

Ao comentar a questão anterior, você deverá tomar em


consideração os factores discutidos nesta lição, bem como outros
que, mesmo não tendo sido abordados, sejam notórios no seu meio
social.

Constituem outros factores dominantes para a Estratificação Social


os seguintes: côr da pele, religião, educação, ramo de ocupação
profissional, família de nascimento, nos casos de estamentos e
castas onde há condenação por nascimento.

Agora que já sabe o que influencia para a hierarquização das


sociedades, acreditamos que estão criadas as condições para a
abordagem das teorias de classe e de estratificação social. Então,
preste atenção ao pensamento dos teóricos sobre as desigualdades
sociais que serão apresentados na próxima lição.

15
Resumo da lição
Os factores da Estratificação Social são traços distintivos adquiridos
na vida social. As contradições em torno da desigualdade social entre
os seres humanos nas sociedades contemporâneas têm sido em termos
da distribuição da “renda” e “riqueza”, assim como, para Lenski,
adviria da “necessidade” e do “poder”.

Auto-avaliação
1. Em que medida a riqueza, a necessidade e o poder influenciam na
Estratificação Social?

2. Nas sociedades contemporâneas, a altura do indivíduo, a


humildade da família em que nasceu podem ou não constituir
factores de Estratificação social?

Leituras complementares
FERREIRA, J.M. Carvalho, CARVALHO, João Peixoto et al.
Sociologia. Lisboa, Editora McGRAW-HILL, 2013.

FERRARI, Afonso Trujillo. Fundamentos de Sociologia. São Paulo,


McGraw-Hill, 1983.

GIDDENS, Anthony. Capitalismo e Moderna Teoria Social: uma


análise das obras de Marx Durkheim e Max Weber. 4ª ed. Lisboa,
Editorial Presença, 1994.

16
Lição n° 4
Teorias de Classe e de Estratificação Social

Introdução
Nesta lição, dá-se especial atenção aos teóricos que analisaram a
questão de classes sociais e os fundamentos da Estratificação
Social. Na verdade, foram vários os teóricos que analisaram a
estratificação social, porém, por agora o foco incide sobre aquelas
que Ferrari (1983), Ferreira et al (2004) e Ferreira et al (2013)
consideraram fundamentais.

As ideias básicas de estratificação social encontram-se nas mais


diversas sociedades das épocas mais remotas. Outrossim, as
metodologias de abordagem encontram uma ligação muito próxima
nas obras escritas no final do século XIX e início do século XX.
Assim, os autores referidos no parágrafo anterior, embora
reconhecendo a existência de muitas teorias, resumem-nas em três,
nomeadamente: Teorias Marxistas e Neomarxistas ou de conflito,
Teoria Funcionalista ou de consenso e Teorias Weberianas.

Corresponde a Karl Marx a primazia de uma elaboração científica


para compreender a estratificação social a partir da posição social
da pessoa como decorrência da estrutura económica.
Seguidamente, Max Weber, no seu desejo de corrigir Marx,
impulsionou o conhecimento teórico de estratificação social.
Todavia, mais tarde, apareceram outros teóricos como: Davis e
Moore, Parsons, Sorokin e Lenski (…). Estes últimos
proporcionaram à teoria de estratificação social conteúdo científico,
dentro de perspectivas multidimensionais (Ferrari, 1983:410).

17
Ao completar esta lição, você deverá ser capaz de:

 Identificar as ciências auxiliares da História;

 Descrever o contributo das outras ciências na produção da


História.
Objectivos
 Identificar as diferentes teorias de estratificação social;

 Explicar as bases para o fundamento das teorias de


estratificação social;

 Distinguir as três teorias, consideradas clássicas, de


estratificação social;

 Analisar criticamente as teorias clássicas de estratificação


social;

 Criticar a teoria funcionalista ou de consenso;

 Apresentar as limitações da teoria Marxista.

Tempo de estudo da lição: 6 Horas

Tempo

Nesta lição estudar-se-ão diferentes teorias com base nas quais se


discute a origem da estratificação das classes sociais. Essas teorias
permitem-nos comparar as diferentes posições defendidas pelos
respectivos autores e, por via disso, termos uma visão sobre a
hierarquização nos nossos dias e posicionarmo-nos quanto à
necessidade ou não da existência de classes sociais.

4.1. Teorias Marxistas e Neomarxistas ou de conflito

Para Marx, a história pode ser dividida em Civilização Antiga,


Feudalismo e Capitalismo. Cada um deles é caracterizado por um
modo de produção e, fundada nele, estabelecer-se-ia uma estrutura
bipolarizada da estratificação social: uma classe dominante, isto é,

18
dos donos dos meios de produção, e uma classe dominada formada
pelos trabalhadores. Para este teórico, a lei, o governo, a arte e a
literatura, a ciência e a filosofia, todos servem mais ou menos
directamente, aos interesses da classe dominante. Marx considera a
produção como sendo o eixo básico para a estruturação da
estratificação social (Ferrari, 1983: 411).

Ferreira et al (2004) corroboram com Ferrari (1983) ao afirmarem


que: “Marx considera as classes sociais como possuindo a sua
definição no nível directamente produtivo das sociedades: as
relações sociais de produção” (Ferreira et al, 2004:324). Para Marx,
os grupos sociais não apenas se justapõem na estrutura produtiva,
como desempenham as suas actividades em inter-relação uns com
os outros.

As classes sociais são o eixo de mediação entre a vida económica e


as práticas dos grupos sociais: o comportamento político-
ideológico e cultural dos indivíduos é algo que se remete, em
última análise, para a posição que estes ocupam nas relações
sociais de produção.

Os Neomarxistas são pro-Marxistas, ou seja, novos marxistas.


Ademais, estes tinham como objectivos centrais: (i) resolver alguns
pontos menos conclusivos da obra de Marx acerca dos critérios da
identificação das classes; (ii) situar teoricamente algumas
novidades que o século XX apresentou, identificando situações
contemporâneas de classes.

Os neomarxistas defendem que a leitura dos originais de Marx não


é conclusiva. A ideia da sobredeterminação do nível económico
nem sempre se encontra de forma estrita nos seus textos. A tese da
“determinação em última instância” do económico sobre os outros
níveis da sociedade, por exemplo, não é da sua autoria. Trata-se de
uma tentativa, promovida por Engels, para solucionar algumas
ambiguidades de hierarquização causal. Portanto, um dos grandes
problemas colocados pelos neomarxistas é integrar na teoria de

19
estratificação social numerosos grupos sociais que a visão de Marx
subestimou, ou que adquiriu relevo só com o decorrer do século
XX. Em alguns casos, esses grupos sociais subestimados por Marx
assumiram um papel preponderante na sociedade. Portanto, o
objectivo é “actualizar” Marx, perante uma realidade que ele não
poderia ter conhecido, ou que na medida em que pôde vislumbrar,
não soube dar valor.

Em termos de limitações, os marxistas viram-se encurralados: ao


realizar uma análise estrutural global das sociedades, Marx tende a
identificar a predominância de duas classes, detentora dos meios de
trabalho e a que vende a sua força de trabalho. É no trabalho e na
actividade económica que o Homem define o essencial da sua
existência.

4.2 Teoria Funcionalista ou de consenso

Ferreira et al (2004: 352-356) afirmam que as desigualdades


sociais se encontram enraizadas na sociedade; não existe
organização social que possa sobreviver em condições perfeitas de
igualdade. Para eles, as desigualdades sociais, em vez de serem um
mal a evitar, são “funcionais”: é precisamente a ocorrência dos seus
mecanismos que permite uma sociedade possuir integridade,
dinamismo e, no fundo, satisfazer os indivíduos e os grupos que a
compõem.

Nem todas as posições sociais podem ser ocupadas pelos mesmos


indivíduos: algumas exigem aptidões naturais particulares para o
seu desempenho, outras exigem largo tempo de formação e treino
para serem bem desempenhadas. Se a sociedade “recompensasse”
igualmente todas as posições sociais, dificilmente encontraríamos
indivíduos dispostos a ocupar posições de maior responsabilidade,
a perder anos da sua vida em estudo e formação para o melhor
desempenho de alguns lugares. Logo, a satisfação das aspirações,
qualidades e integridade do indivíduo gera preocupação.

20
As desigualdades sociais que conduzem à estratificação social são
uma necessidade funcional do sistema. As teorias funcionalistas
ligam-se às teorias liberais das desigualdades sociais. Os
defensores da teoria funcionalista insistem na relevância do
crescimento dos estratos.

Depois de ter lido sobre as teorias Marxistas e Neomarxistas e


Funcionalista ou de Consenso verifique a qualidade da sua
aprendizagem realizando a seguinte actividade.

1. Para os Marxistas, a existência de indivíduos que detêm o


poder político contribui para o aumento da estratificação
social.
Actividade
- Explique porquê.

2. Explique por que é que tanto os Marxistas como os


Neomarxistas insistem na economia como base para a
organização social e a emergência de conflitos.

3. Um grupo de funcionários reunidos em concertações laborais


decidiu que a remuneração de cada membro passaria a ser feita
de forma igualitária, independentemente da prestação e das
qualificações académicas. Que leitura faz desta realidade?

1. Você deverá, dentre outros aspectos, explicar que,


normalmente, e particularmente nos nossos dias, os que detêm
o poder político têm tido mais dividendos em relação à
Comentário restante camada populacional. Esses, igualmente, apropriam-
se mais do excedente.
2. Ao responder a esta questão é importante demonstrar que as
distinções entre os indivíduos são acima de tudo explicadas
pelo âmbito económico, até o status e os que detêm o poder
político têm sido influenciados pelos primeiros.

21
5. 3. Na análise desta pergunta, o caro estudante deve
fundamentar a necessidade de remuneração diferenciada em
função das “qualidades de cada membro do grupo ou
organização”.

Na próxima lição, vamos dar seguimento ao esclarecimento em


torno das “falhas da teoria funcionalista de estratificação”, bem
como a abordagem das teorias Weberianas. Para isso, não se deve
deixar de lado o conhecimento tido em relação aos grandes passos
que a teoria Funcionalista trouxe para os diferentes grupos das
sociedades.

Resumo da lição
As teorias de estratificação social mais conhecidas foram propostas
por Marx, Weber e pelos funcionalistas. A teoria Marxista de
estratificação social refere-se à história considerando a civilização
antiga, feudalismo e capitalismo, caracterizadas por modos de
produção que estabelecem estruturas bipolares: as classes dominante e
dominada. A produção é o eixo básico da estruturação da
estratificação social. As teorias funcionalistas de estratificação social
correspondem a uma necessidade social de explicar o funcionamento
da sociedade dentro de um determinado tipo de estratificação. As
contribuições que mais se destacam são de Parsons, Moore e Davis.

Auto-avaliação 4
1. Quais são as ideias centrais da Teoria Marxista?
2. Qual é a intenção dos Neomarxistas, entanto que seguidores de
Marx?
3. Que crítica é feita à teoria Marxista?

22
Leituras complementares
DA CRUZ, M. Braga. Teorias Sociológicas: os Fundadores e os
Clássicos, Antologia de textos. Lisboa, Fundação Calouste
Gulbenkian, 1989.

FERREIRA, J.M. Carvalho, CARVALHO, João Peixoto et al.


Sociologia. Lisboa, Editora McGRAW-HILL, 2004.

23
Lição n° 5
Crítica à teoria funcionalista de estratificação

Introdução
Embora a teoria funcionalista de estratificação social ou de
consenso tenha demonstrado bons avanços para a compreensão das
actuais sociedades, nem todos os aspectos por si desenvolvidos são
totalmente salutares. Eis a razão da presente abordagem com vista a
analisar tais realidades que carecem de reparos ou mesmo maior
atenção no dia-a-dia. Portanto, nesta lição, apresentam-se as
realidades consideradas críticas à teoria em análise.

Ao completar esta lição, você deverá ser capaz de:

 Explicar em que medida a teoria funcionalista de


estratificação social apresenta recuos para a compreensão
das sociedades contemporâneas;

Objectivos  Comparar a teoria funcionalista com a teoria Marxista.

Tempo de estudo da lição: 3 Horas

Tempo

5.1 Crítica à teoria funcionalista de estratificação

Ferreira et al (2004: 355-356), reflectindo em torno da teoria


funcionalista, fazem alusão às seguintes críticas: (i) a teoria
representa uma ligação pronunciada à forma de concepção social
característica das sociedades contemporâneas; (ii) assume a
ideologia de uma mobilidade social muito presente no grupo social
e; (iii) os funcionalistas não compreendem as mudanças históricas
das sociedades.

24
Apesar das críticas, a teoria funcionalista de estratificação
apresenta contributos para a análise das desigualdades, pois,
parece adequada para compreender os múltiplos processos da
mobilidade social das sociedades contemporâneas. Ao contrário da
teoria de classes, o funcionalismo sublinha a inserção individual em
processos de ascensão ou regressão, permitindo o entendimento dos
momentos em que não se manifestam conflitos e verifica-se uma
aceitação global da organização social. Para avaliar o valor que se
atribui aos canais de mobilidade e instituições que promovem a
subida do sistema social e explicação de algumas formas de
resistência a processos de mudança social. A passagem que umas
sociedades efectuam de uma guerra para paz, ou progressiva
laicização dos comportamentos influencia na sua vivência
quotidiana.

 Compara as teorias marxistas da teoria funcionalista


tomando em consideração o seu ideal central.

No comentário à questão anterior, você deverá fazer menção ao


facto de as teorias marxistas tenderem para a colectividade e
igualdade e não para o individualismo, diferentemente da teoria
funcionalista que olha par o esforço individual e, por conseguinte, a
remuneração diferenciada. Depois desta reflexão sobre as teorias
marxistas e funcionalistas bem como das suas limitantes, na
próxima lição, avançaremos para a abordagem das teorias
weberianas. De modo a avançar com segurança, veja o resumo
desta lição e realize a actividade de auto-avaliação proposta.

Resumo da lição
A teoria funcionalista de estratificação social é criticada por ter uma
visão simplesmente do presente e sem considerar a evolução das
comunidades ou sociedades. Esta teoria peca ainda por centrar a sua

25
análise apenas na sociedade contemporânea. O seu mérito centra-se na
valorização do esforço e proactividade individual, daí optar pela
recompensa mais dirigida e não grupal.

Auto-avaliação 5
1. Qual é a ideia central dos funcionalistas? Que avaliação você faz
dessa ideia?
2. Apresente os aspectos críticos da teoria Funcionalista de
estratificação social.

Leituras complementares
FERREIRA, J.M. Carvalho, CARVALHO, João Peixoto et al.
Sociologia. Lisboa, Editora McGRAW-HILL, 2004.

26
Lição n° 6
Teorias Weberianas

Introdução
A teoria weberiana considera as organizações como sistemas
burocráticos, que constituem o ponto de partida para sociólogos e
cientistas políticos no estudo das organizações. Nesta lição, aborda-
se a sociologia compreensiva da acção social e apresentam-se as
características positivas e negativas da burocracia. As origens das
desigualdades sociais são a base de estudo na presente lição, ou
seja, procura-se analisar em que medida cada eixo de desigualdade
social, económica, de prestígio e do poder político vai influenciar
no modo de vida das comunidades.

Ao completar esta lição, você deverá ser capaz de:

 Identificar os eixos de desigualdades sociais segundo Max


Weber;

 Explicar em que medida as desigualdades sociais são tidas


Objectivos como normais ou anormais;

Tempo de estudo da lição: 3 Horas

Tempo

Ao tratar do problema das desigualdades sociais, Max Weber


apresenta três eixos dessas igualdades:

1º Desigualdades económicas – estabelecidas em função da


posição perante o mercado. Estas acrescentam à noção marxista o
facto de não envolverem apenas a propriedade e o controlo dos

27
meios de produção, mas também a posse dos outros recursos como,
por exemplo, as qualificações educacionais.

2º Desigualdades de prestígio: “honra social” ou estilos de vida.


Dependem menos de variáveis objectivas do que de apreciações
subjectivas dos indivíduos no decorrer da interacção de uma
identidade exclusiva de um grupo.

3º Desigualdades de poder: constituem os partidos. Eles ligam-se


não apenas ao poder político, mas também ao agrupamento de
indivíduos que possuem interesses idênticos e perseguem um
objectivo comum.

 É comum ouvir-se, no dia-a-dia, que as sociedades podem


ser desiguais, porém elas devem viver a equidade. Isto leva
a percepção de que existe igualdade e equidade.

- Explique quando é que se estaria na situação de equidade ou


igualdade.

Ao responder à colocação anterior, você deverá tomar em


consideração que equidade não pode ser entendida como ausência
das desigualdades; mas, falar-se-á da desigualdade social quando as
diferenças são abismais no seio de um grupo ou sociedade.

As desigualdades não estão dissociadas: são normais, dado que a


uma posição de classe se associe um estilo de vida particular.
Weber quer lembrar que a preponderância relativa dos níveis de
desigualdades é variável, nas sociedades: assim em períodos de
grandes alterações económicas, é normal que as posições de classes
adquiram centralidade. De igual modo, permite integrar nos
diversos vectores estruturais: a inclusão de múltiplos eixos de
desigualdades e a admissão de sua interligação permitem encarar a
sua teoria como „‟pluridimensional”. Abordadas as três teorias de
classe e de estratificação social, na próxima lição, trataremos dos
sistemas de estratificação social. Para encerrar esta lição, leia o
resumo e realize a actividade de auto-avaliação.

28
Resumo da lição
A teoria Weberiana resulta da crítica feita a Marx sobre a
estratificação social. As classes sociais seriam, para este teórico, a
distribuição do poder dentro de uma comunidade. Neste caso, o poder
seria a capacidade de um homem realizar a sua própria vontade numa
acção comunitária.

Para ter ideia do seu nível de compreensão sobre as teorias de


estratificação social, responda às perguntas de auto-avaliação que a
seguir são apresentadas. Igualmente, no fim da lição, tem uma
sugestão de referências bibliográficas que lhe irão ajudar a construir
respostas consistentes às perguntas de auto-avaliação.

Auto-avaliação 6
1. Qual é a essência defendida pelos Weberianos?
2. A teoria Marxiana advoga que “toda a história da humanidade é
de luta de classes”.
- Analise o trecho destacado.
3. Marx não foi Marxista. Concorda com a afirmação? Fundamente
a sua opção!

Leituras complementares
DA CRUZ, M. Braga. Teorias Sociológicas: os Fundadores e os
Clássicos, Antologia de textos. Lisboa, Fundação Calouste
Gulbenkian, 1989.

FERREIRA, J.M. Carvalho, CARVALHO, João Peixoto et al.


Sociologia. Lisboa, Editora McGRAW-HILL, 2004.

FERRARI, Afonso Trujillo. Fundamentos de Sociologia. São


Paulo, McGraw-Hill, 1983.

29
Lição n° 7
Sistemas de Estratificação Social

Introdução
Nesta lição, irá perceber como é que as diferentes sociedades foram
se organizando no seu modo de vida, desde as mais antigas até às
modernas. Ao longo da lição, procura-se caracterizar os diferentes
sistemas de organização das sociedades, que podem ser fechados e
abertos. O tipo de sistema é que dita a mobilidade social ou
ausência da mesma, olhando para os diferentes grupos que
dinamizam as comunidades.

Ao completar esta lição, você deverá ser capaz de:

 Identificar os sistemas de estratificação social;

 Caracterizar os sistemas fechados e os sistemas abertos de


estratificação social;
Objectivos
 Distinguir sociedades escravocratas, de castas e
estamentos;

 Caracterizar uma sociedade de castas;

Tempo de estudo da lição: 6 Horas

Tempo

Na presente lição, iremos distinguir os sistemas de estratificação


social, bem como apresentaremos exemplos de sociedades que se
identificaram com sistemas fechados e com sistemas abertos. A
abordagem toma como base sociedades antigas, com o
esclavagismo até as sociedades contemporâneas. Em seguida,
preste atenção à apresentação de cada um dos sistemas.

30
7.1 Sistemas fechados

Na perspectiva de Ferrari (1983: 392), as sociedades de


estratificação fechada podem ser escravocratas, de castas e
estamentos. Com efeito, apresentam-se, de seguida, as
características deste tipo de sistemas. Existem três tipos de
sociedades fechadas e que passamos a caracterizar.

7.1.1 Sociedades escravocratas


O percurso da história geralmente apresenta sociedades escravistas
formadas por escravizadores e escravos. Dentro do sistema
escravista, o escravo era considerado mais como objecto do que
como pessoa, dado que podia ser comprado, vendido e até ser
morto pelo seu dono em casos extremos (como acontecia na Roma
antiga onde alguns senhores permitiam que os seus escravos
fossem mortos durante as suas recepções). Em todas as épocas da
sua vigência histórica, o escravo teve um status atribuído, apesar de
terem existido duas formas de obtenção do escravo: pela captura e
pelo nascimento (Ibid.:393).

7.1.2 Sociedade de Castas


A casta, em particular a hindu, constitui um exemplo notório do
desenvolvimento de status atribuído como o princípio da
desigualdade social (veja o vídeo no link a seguir para mais
detalhes https://youtu.be/vs5BO6owG6w?t=113). Na casta, quanto
acontece no racismo, o status é atribuído independentemente dos
méritos individuais ou das qualidades pessoais. Portanto, as castas
são sistemas de hierarquias ou posições rígidas, fechadas que se
caracterizam: i) pelo status atribuído por ocasião do seu
nascimento; ii) pela permanência dentro de uma casta pelo resto da
vida; iii) pela prática de endogamia, isto é, o indivíduo só poderá
casar dentro da sua casta; iv) a ocupação dentro da casta é
hereditária.

31
Em termos de estruturação, a sociedade indiana tradicional
apresentava quatro castas ou varnas:

 os brâmanes ou sacerdotes;
 os xatrias ou guerreiros;
 os vaicias ou mercadores;
 os sudras ou camponeses e outros trabalhadores.

À margem, existiam os párias ou intocáveis, assim considerados


por serem da classe mais inferior em relação a todos. Estes não
tinham nenhuma relação social de convivência com um dos grupos
anteriores, pois o simples facto de tocar neles poderia trazer-lhe
azar.

7.1.3 Sociedade estamental


O estamento é um sistema fechado de estratificação social que
predominou basicamente na sociedade feudal, até século XVII, na
Europa, tendo sobrevivido mais tempo na América Latina e Ásia.
Os estamentos são camadas fechadas intimamente relacionadas ao
status atribuído, a privilégios e ao poder fundiário. Este sistema
consiste numa escala hierárquica de vários estratos sociais
claramente diferenciados e rigidamente separados entre si pela lei e
pelos costumes. De forma mais ampla, a estratificação estamentária
aparece constituída por cinco camadas: nobreza, militares, clero,
burguesia e povo (pode-se conferir Ferrari, 1983: 398-400).

7.2 Sistemas Abertos de Estratificação Social

Os sistemas abertos de estratificação social caracterizam-se por


permitir a mobilidade social, na qual um actor social pode
incrementar ou diminuir sua posição social. Explicitamente, não há
restrições legais ou tradicionais à mobilidade social ascendente ou
descendente. Neste sistema, são altamente valorizados os status
adquiridos, o esforço do indivíduo, assim como as capacidades do
indivíduo são reconhecidas. As classes e camadas sociais são os
sistemas fundamentais nos quais as pessoas se distribuem.

32
As classes sociais constituem aspecto distintivo da diferenciação
social. Diferente das castas e estamentos, as classes sociais
permitem grande mobilidade social, a verticalidade em ambos
sentidos têm sido característica básica. A mudança de status tem
derivado da diferenciação na distribuição do poder e da
propriedade. Na verdade, este sistema alia-se sobremaneira à teoria
funcionalista de estratificação social e isso fica evidente pela
valorização do empenho de cada indivíduo, quebrando-se a
condenação por nascimento, então vigente.

1. Em que se difere o escravo obtido por via de captura e o


escravo obtido pela sua condenação desde o nascimento?

2. Quando se pode falar da mobilidade social no sistema de


Actividade castas?

Para melhor responder às actividades colocadas, é preciso, antes de


mais, reler a lição. Em relação à pergunta 1, é preciso ter em
consideração que o primeiro escravo poderia advir como resultado

Comentário de vitória em guerra ou pela compra, diferentemente deste, o


condenado pelo nascimento poderia ser filho de um devedor que
não conseguia liquidar a sua letra ou simplesmente ser uma pessoa
nascida na camada dos escravos. Na pergunta 2, a mobilidade
social só é possível no sentido regressivo e nunca ascendente. Na
próxima lição, terá a oportunidade de aprender sobre as funções
básicas da sociedade, mas para terminar esta lição veja o resumo e
realize a actividade de auto-avaliação que vão ajudar a fazer o
balanço da sua aprendizagem.

33
Resumo da lição
Os sistemas fechados de estratificação social caracterizam-se pela
quase ausência da mobilidade social. Estes sistemas podem ser
escravocratas, castas e estamentos. Os sistemas abertos de
estratificação social caracterizam-se por permitir a mobilidade social.
Neste sistema, as pessoas são reconhecidas pela sua
capacidade/meritocracia.

Auto-avaliação 7
1. Sobre a existência de classes sociais dentro da sociedade
moçambicana, escreva 3 ou 4 linhas explicando o que ocorreria
com os níveis de estimulação profissional se não houvesse
distinções?
2. Inspirando-se nos funcionalistas, discuta com os colegas se as
classes sociais são fundamentais ou não. Depois escreva no seu
caderno a conclusão a que chegarem.
3. Distinga sociedades fechadas de sociedades abertas de
estratificação social.

Leituras complementares
FERRARI, Afonso Trujillo. Fundamentos de Sociologia. São
Paulo, McGraw-Hill, 1983.

TUMIN, Melvin. M. Estratificação Social: Formas e Funções das


Desigualdades. São Paulo, Pioneira Editora, 1970.

http://www.scielo.br/pdf/rsp/v15n1/05.pdf

34
Lição n° 8
Funções Básicas da Sociedade

Introdução
Nesta lição, irá aprender a relevância de se viver em sociedade.
Aliás, viver em sociedade é um dos aspectos fundamentais da
existência do ser humano. É a sociedade que molda os homens em
função das suas necessidades por meio de regras de convivência. Já
pensou como seria o dia-a-dia dos Homens se não houvesse
normais que regulassem a sociedade?

Ao completar esta lição, você deverá ser capaz de:

 Definir o conceito de sociedade;

 Distinguir funções gerais das específicas da sociedade;

 Explicar em que se baseia a criação de normas que


Objectivos
justificam funções específicas da sociedade;

 Explicar a socialização como uma das funções da


sociedade.

Tempo de estudo da lição: 4 Horas

Tempo

Para perceber acerca das funções básicas da sociedade é


fundamental que antes tenha a definição do conceito “sociedade”.
Por isso, vamos iniciar com a definição do referido conceito daí
que a sua atenção é bastante necessária. Só assim irá claramente
compreender a lição.

35
8.1 Definição do Conceito de Sociedade

Sociedade pode ser considerada como um meio natural em que o


ser humano realiza todas as suas actividades; um conjunto de seres
humanos (grupos) que vivem em contínua inter-relação para a qual
se encontram estrutural e funcionalmente organizadas (Ferrari,
1983:100).

8.2 Funções básicas da sociedade

As sociedades devem ter padrões mínimos traçados de integração


dos seus habitantes, mas também elas são chamadas a exercer
funções sociais básicas independentes para garantir a sua
persistência. As sociedades possuem funções gerais e específicas
previstas ou elaboradas pelos seus sistemas sociais, grupos ou
instituições.

Para a composição das relações sociais e dos status que se


estabelecem em sociedades padronizadas e com funções diversas, é
preciso que haja uma organização objectiva das “normas sociais” e
da pessoa humana enquanto individualidade (Martins, 2010: 40).

8.2.1 Funções gerais da sociedade


Depois de apresentada a definição do conceito sociedade,
concentrem-se, em seguida, em pequenos grupos de três estudantes
e respondam às seguintes perguntas sobre as funções gerais da
sociedade:

1. Baseando-se nas vossas experiências do dia-a-dia, discutam


e registem no caderno 4 aspectos que explicam as funções
gerais da sociedade.

2. Discutam se das funções identificadas em 1, existem ou não


algumas que se adequam às vossas comunidades e
apresentem a resposta no caderno.

3. Que entidades ou organismos sociais traçam normas sociais


gerias?

36
8.2.2 Funções específicas da sociedade
As funções específicas da sociedade gravitam em torno das
respostas grupais às necessidades básicas e primárias dos
indivíduos e não nas ofertas de cada sistema social específico. As
funções específicas da sociedade têm como finalidade manter a
continuidade de si mesma e procurar o equilíbrio das acções
humanas. Tais funções são, dentre várias: socializadora,
renovadora, divisão, distribuição de serviços e administração
social.

A função socializadora permite a integração dos seus membros


mais novos; a função renovadora processa-se de forma ordenada e
eficiente através de regras e normas das mais diversas instituições
sociais; a função de distribuição de serviços e divisão é inerente ao
desempenho individual de papéis ou obrigações de cada actor
social; a função administrativa permite que as necessidades
primárias sejam satisfeitas, para que os direitos e as obrigações
possam ser respeitados e que se encontre o apoio necessário às
ideologias, aspirações e credos.

1. O que faz com que os membros de uma sociedade se


entendam nas suas acções do dia-a-dia?

2. Já imaginou uma sociedade na qual não há passagem de

Actividade testemunho para as gerações mais novas?

3. Que diferença existe entre funções gerais e específicas numa


sociedade?

Para responder à primeira pergunta, você deverá se referir às


normas de conduta social, bem como aos hábitos e costumes
padronizados.

Comentário No que se refere à pergunta 2, é importante referir que a passagem


de testemunho para as novas gerações é um aspecto imprescindível
no contexto da socialização, ou seja, a sociedade deve garantir que

37
os mais velhos deixem o seu legado para melhor condução dos que
a seguir irão encabeçar o poder.
Finalmente, em relação à pergunta 3, o caro estudante deverá
tomar em consideração que existem normas de conduta social
comuns a quase todas as sociedades e outras que são restritas em
função da realidade e da intenção de cada grupo social. Esta lição
marca o fim da primeira unidade do módulo, de seguida, leia o
resumo e realize a actividade de auto-avaliação que lhe é proposta.
Depois da auto-avaliação e antes de entrar na segunda unidade do
módulo, confira os comentários de todas as actividades de auto-
avalição da unidade e certifique-se se respondeu devidamente.

Resumo da lição
As funções da sociedade são traçadas, muitas vezes, pelos grupos a que
os indivíduos pertencem, bem como pelas instituições que controlam
tais grupos. Existem funções meramente genéricas das sociedades mas
também existem aquelas que variam em função dos grupos em causa,
espaço e padrão de vida, daí denominarem-se específicas. Em suma,
seja como for, um dos pressupostos básicos da sociedade é a integração
das gerações recentes e o seu acompanhamento mediante as regras e
normas previamente traçadas e vigentes.

Auto-avaliação 8
1. Preste atenção à vivência na sociedade em que você se encontra
inserido.
a) Quais têm sido as funções básicas da sociedade para com os
seus membros?
b) Quem são os que costumam traçar as normas ou regras que
vigoram?
2. Considerando a vida na sociedade/comunidade na qual faz parte,
sugira normas específicas que possam ajudar a mesma.

38
Leituras complementares
FERRARI, Afonso Trujillo. Fundamentos de Sociologia. São
Paulo, McGraw-Hill, 1983.

http://www.marilia.unesp.br/Home/RevistasEletronicas/Kinesis/Os
papeissociaisnaformacao.pdf

39
Comentários das Auto-avaliações das Lições
Comentários da Auto-avaliação 1

1. Ao responder a esta pergunta, deverá tomar em consideração as


definições já avançadas neste módulo. Mais do que copiá-las, deverá
ver quais são os elementos comuns tomados em consideração para a
definição. Querendo, na base das leituras, poderá igualmente sugerir
um conceito trazido por outros autores.

2. Na sua resposta deve demonstrar que existiam diferentes níveis


sociais entre os indivíduos, o que lhes conferia status diferentes.
Dentre vários aspectos, deverá fazer menção ao Clero, à Nobreza
feudal (duques, condes, viscondes, barões, entre outros), à nobreza
militar, servos, escravos, entre outros. De realçar que, é fundamental
que recorra ao conhecimento de outros campos de saber,
concretamente dos eixos temáticos históricos precedentes.

3. Deverá explicar que a estratificação social não é um fenómeno


recente. Desde as épocas mais antigas, as sociedades ou comunidades
procuraram estruturar-se em função dos aspectos julgados essenciais
nesse espaço. Não existe um critério único para a hierarquização. Esta
depende de cada sociedade e compreendida por quem se predispõe a
analisa-la.

4. Ao responder, é fundamental referir-se à necessidade de interpretar


os fenómenos sociais que caracterizaram e caracterizam cada uma das
sociedades.

Comentário da Auto-avaliação 2

As ideias centrais para cada pergunta são as seguintes: primeiro,


deverá tomar em conta a essência da desigualdade e diferenciação
social, bem como a realidade da sua localidade, para identificar os
elementos de distinção e debater com os colegas. Segundo, explicar a
diferenciação social, tomando em consideração a questão de
agrupamentos que são formados em função de determinadas

40
prerrogativas ou mesmo desvantagens, descartando factores
biológicos. Para isso, é necessário considerar os diferentes aspectos
que advêm da dinâmica da vida social e da sua capacidade criativa.

Comentário da Auto-avaliação 3

Primeiro, deverá, dentre vários aspectos, focalizar o facto de a riqueza


quando mal distribuída, quer dizer, quando não obedece ao princípio
de equidade, gera hierarquização, pois existirão os que vão se
beneficiar mais em relação aos outros. Quanto mais necessidade de
satisfazer um grupo julgar que tem mais poder do que os outros, isso
leva, igualmente, à Estratificação. Sempre que os que detêm o poder
(económico, político, por exemplo) julgarem que devem auto-
favorecer-se, os outros irão se sentir à margem e, em virtude disso,
irão surgir clivagens que darão origem à Estratificação social. Na
contemporaneidade, os elementos evocados na segunda pergunta em
nada influenciam para a Estratificação, salvo em sociedades pré-
letradas ou da antiguidade, onde poderiam contar para liderar ou não
as guerras ou ainda a condenação na classe ou camada em que tiver
nascido.

Comentário da Auto-avaliação 4

1. De entre outros aspectos que se possam trazer nas respostas da


auto-avaliação, é preciso fazer menção aos factores de produção e a
economia como estando na origem de classes. Por isso, suas ideias
centrais gravitam em torno de duas classes: dominante e dominada.
Estes teóricos desenvolveram suas ideias em pleno século XIX.

2. É preciso referir-se ao facto de os Neomarxistas pretenderem


actualizar os escritos de Marx, ou seja, procurar dar valor ou buscar
alguns elementos que Marx não incluiu nos seus estudos.

3. A grande crítica que se faz aos Marxistas é que eles


sobrevalorizaram duas classes apenas, e olharam somente para o
âmbito económico como gerando a hierarquização das sociedades.

41
Comentário da Auto-avaliação 5

Há que explicar que os funcionalistas defendem a necessidade de


existência de classes, pois isto gera inovação, criatividade e interesse
pelo trabalho, formação e entrega pessoal. Os mesmos vão mais além
ao defenderem que, se os indivíduos estivessem agrupados em
camadas ou classes fechadas, isso não dinamizaria as
sociedades/comunidades. Quanto a mim, aliando-me à própria
denominação da teoria de consenso, sou apologista da ideia da
funcionalidade, pois só desta forma se pode criar dinâmica, interesse e
inovação entres os homens.

Você deverá procurar evidenciar que a teoria funcionalista de


estratificação social é criticada pelo excesso do individualismo. Para
isso, deverá apresentar exemplos do dia-a-dia que demonstram essa
realidade. Em caso de dificuldades, pode partilhá-la com o seu tutor
geral.

Comentário da Auto-avaliação 6

1. Convém explicar a ideia dos weberianos comparando-a com a dos


marxistas, dando a entender que eles insistem na necessidade de
distribuição de recursos no seio da comunidade.

2. É preciso que o estudante traga exemplos que atestam a luta de


classes, olhando para as etapas de evolução histórica, desde a
antiguidade até a actualidade. Em caso de dúvidas, consulte os colegas
da turma.

3. Você deverá dar uma resposta que nos remete ao entendimento de


que Marx teve as suas próprias ideias (marxianas). Marxistas foram os
que tentaram interpretar os escritos de Marx e tentaram dar
significado em função do seu tempo.

Comentários da Auto-avaliação 7

Na primeira e segunda perguntas, deve reflectir, entre outros aspectos,


sobre o facto de as classes sociais existirem e não poderem ser
eliminadas, pois elas encorajam a formação, a dinâmica no trabalho,

42
bem como a iniciativa para o sucesso das organizações. Ademais, é
uma prova de que os Homens raciocinam e agem de forma
diferenciada no seu dia-a-dia. Na sua explanação, você deverá dar a
entender que, os sistemas abertos de estratificação social permitem a
mobilidade social, podendo ser ascendentes ou regressivo;
diferentemente daqueles, os sistemas fechados de estratificação social
caracterizam-se pela ausência da mobilidade social, quando acontece
é apenas no sentido regressivo.

Comentário da Auto-avaliação 8

1. a) Você deverá tomar como referência as funções básicas já


aprendidas e daí procurar ver quais têm sido as funções que a
sociedade em que se encontra inserido/a desempenha.

b) Deverá referir-se aos grupos ou indivíduos que tomam dianteira no


estabelecimento de normas de socialização na sua sociedade, por
exemplo, anciãos, líderes comunitários, pessoas mais velhas da
família, órgãos locais do Estado, entre outros.

2. Para verificar se as normas que propôs são adequadas, apresente-as


no caderno e depois peça a opinião do seu tutor geral para o melhor
encaminhamento.

43
Resumo da Unidade
Nesta unidade, aprendemos sobre a hierarquização das sociedades,
considerando as diferentes etapas de evolução humana. A
desigualdade, diferenciação e hierarquização constituem
características de estratificação. Quanto aos factores que
conduzem à estratificação social, há que citar: a influência do
indivíduo, a capacidade mental, a criatividade, entre outros. É
salutar referenciar que a teoria de classe e de estratificação social
que alia à contemporaneidade é a Funcional ou de consenso, pois
encoraja as desigualdades sociais, já que estas activam o esforço
dos indivíduos nos grupos ou organizações em que se encontram,
daí que a esta teoria se associam os sistemas abertos de
estratificação social.

44
Conteúdos
Lição n° 9 48
Conceito e Tipos de Mobilidade Social 48
9.1 Conceito de Mobilidade Social 48
9.2 Tipos de Mobilidade Social 49
Mobilidade Social
Lição n° 10 53
Factores da Mobilidade Social 53
10.1 Factores colectivos 54
10.2 Factores individuais 54
Lição n° 11 57

UNIDADE
Formação das elites e mobilidade social, o exemplo de Moçambique 57
11.1 Elite 58
11.2 Contexto do surgimento da Elite em Moçambique 59
Lição n° 12 65

2
Papel Social e a Multiplicidade de Tarefas 65
12.1 Papel Social 66
12.2 Características do Papel Social 66
12.3 Conteúdo e níveis do Papel Social 67
12.4 Formação e multiplicidade dos papéis sociais 69
Lição n° 13 73
Desvio Social 73
13.1 Desvio Social 73
13.2 Desvio social, atentado ou não? 74
13.3 Factores que contribuem para o desvio social 75
Lição n° 14 83
Conceito e Tipos de Mobilidade Social 83
14.1 Controlo Social 84
14.2 Significado do Controlo Social 84
14.3 O papel das sanções sociais no controlo 85
14.4 Canais de controlo social 85
14.5 Mecanismos do controlo Social 86
14.6 Conformismo social e obediência 87
Lição n° 15 91
Globalização: Contexto, Conceito e características 91
15.1 Contexto e Conceito de Globalização 92
15.2 Características da globalização 93
Lição n° 16 98
Globalização como fábula, factor perverso e como possibilidade 98
Lição n° 17 104
Problemas, significado político-social e impacto da globalização 104
17.1 Problemas e significado político-social da globalização 105
17.2 Impacto da globalização 106
17.3 Globalização/Mobilidade 107
Lição n° 18 111
Exclusão social e reinvenção de identidades 111
18.1 Exclusão social 112
18.2 Factores da Exclusão social e identidade 112
18.3 Formas de exclusão social 115
Pág. 45 - 126

Unidade 2: Mobilidade Social

45
Introdução
Paralelamente à estratificação social, tem havido fluidez e flexibilidade
das classes sociais dentro de uma certa sociedade. Quer dizer, em
sociedades com sistemas abertos, a passagem de um indivíduo ou grupo
de uma classe ou camada para outra tem sido uma característica básica,
daí a mobilidade social. Esta realidade caracteriza muitas sociedades do
período contemporâneo. Com efeito, nesta unidade, apresenta-se a
definição do conceito de Mobilidade Social, discutem-se os tipos de
mobilidade social, bem como os factores que a impulsionam.
Naturalmente, esse fenómeno (mobilidade social) gera grupos
diferenciados, daí abordar-se a questão das elites, tendo-se como exemplo
o caso de Moçambique.

É importante perceber também que, toda a dinâmica criada pela


mobilidade social vai culminar com a existência de vários papéis
desempenhados pela mesma pessoa ou grupo de indivíduos. Certamente
que, onde há vários indivíduos ou grupos de indivíduos, se notam variadas
práticas socioculturais ou mesmo económicas que não se ajustam ao
padrão definido pela sociedade em causa, daí o desvio comportamental e a
necessidade de restauração do mesmo (desvio comportamental), o que
conduz ao controlo social.

A dinâmica criada pela Mobilidade Social permite a ligação entre


indivíduos, grupos e até países, surgindo desta forma a homogeneização –
um dos aspectos também discutidos nesta unidade. Por isso, nesta unidade
procura-se, dentre outros aspectos, analisar os elementos que geram
dinâmicas sociais, bem como os aspectos que dela advêm.

46
Objectivos da unidade
Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:
 Descrever as cosmogonias;

 Definir o conceito de Mobilidade Social;

 Distinguir os tipos de Mobilidade Social;

 Explicar os factores de Mobilidade Social;

 Caracterizar o fenómeno da globalização;

 Explicar o impacto de multiplicidade de tarefas como


resultado da mobilidade social;

 Explicar os factores que criam o desvio social nos


indivíduos e/ou grupos;

 Analisar os mecanismos de controlo social face ao


comportamento desviado;

 Descrever a base de formação das elites e a mobilidade


social em Moçambique;

 Descrever os resultados advindos da exclusão social de


indivíduos ou grupos.

47
Lição n° 9
Conceito e Tipos de Mobilidade Social

Introdução
Nesta lição, apresenta-se a definição do conceito Mobilidade Social,
assim como os tipos da mesma. Os dois aspectos tratados na presente
lição são essenciais para a compreensão de outros aspectos subsequentes
da presente unidade. O estudo da mobilidade social, concretamente dos
seus tipos, ajuda a compreender a disposição de diferentes grupos em
função da sua condenação por nascimento, influência, meritocracia, entre
outros factores.

Ao completar esta lição, você deverá ser capaz de:

 Definir o conceito de mobilidade social;

 Identificar os tipos de mobilidade social;

 Distinguir mobilidade social vertical da mobilidade social


Objectivos
horizontal/falsa mobilidade.

Tempo de estudo da lição: 3 Horas

Tempo

9.1 Conceito de Mobilidade Social

Para Ferrari (1983: 431), Mobilidade Social é o fenómeno sociológico em


que indivíduos ou grupo de indivíduos se deslocam de uma classe para
outra.

Ferreira et al (2013: 477) entendem a Mobilidade Social como mudança


de posição social. Essa mudança pode ocorrer durante a vida de um
indivíduo ou de uma geração.

48
Como se pode depreender, nas duas definições, os autores apontam para a
movimentação das pessoas, passando a adquirir novo status podendo ser
de uma posição mais baixa ou alta. Tal movimentação, geralmente,
confere ao indivíduo ou grupo uma identidade diferente da anterior.

Procure apresentar duas definições de Mobilidade Social mas que


sejam de outros autores diferentes dos constantes nesta lição. Em
seguida, apresente os aspectos comuns existentes nessas definições.
Actividade

Você pode buscar as duas definições exigidas na referência


electrónica sugerida como leitura complementar ou outras à sua
escolha. O essencial é, no fim, apresentar as similaridades dessas
Comentário definições.

A deslocação/mudança de indivíduos ou grupos de uma classe para outra


pode ser no sentido ascendente ou regressivo. Igualmente, pode envolver
uma mobilidade geográfica, quer dizer, migração interna ou internacional
(Ferreira et al, 2013: 477).

A relação entre a análise da mobilidade social e as desigualdades sociais é


imediata: só se pode definir mobilidade social depois de estar demarcado
o conjunto de posições sociais existentes. É por isso que a mesma
(Mobilidade Social) varia em função do tipo de sociedade, aberta ou
fechada (Ibid., p.478).

9.2 Tipos de Mobilidade Social

Na perspectiva de Ferrari (1983) e Ferreira et al (2013), de forma


genérica, identificam-se dois tipos de mobilidade social, designadamente:
Mobilidade Social vertical e Mobilidade social horizontal. Estas
tipologias foram, pela primeira vez, apresentadas pelo sociólogo Pitirin A.
Sorokin.

49
9.2.1 Mobilidade Social Vertical
A Mobilidade Social Vertical é notória em todas as sociedades abertas,
embora em graus diferentes. Ela consiste em um indivíduo ou grupo
passar de uma classe para outra, adquirindo um novo status. Esta
passagem pode significar descida ou subida de escala.

A mobilidade social ascendente corresponde ao deslocamento de


indivíduos e grupos das camadas mais baixas para os estratos elevados.
Por seu turno, a mobilidade social descendente ocorre quando as pessoas
e grupos não podem manter-se nas suas posições elevadas, ou nas classes
em que nasceram, sendo obrigados a descer na escala social. Se as pessoas
permanecerem firmemente fixadas na posição de classe de seus pais,
então está-se perante uma sociedade de classe fechada.

Dê exemplos de mobilidade social vertical ascendente e regressiva


que já vivenciou no seu dia-a-dia.

Actividade

O/A estudante poderá apontar os exemplos no seu caderno de


anotações e depois pedir a opinião do tutor geral.

Comentário

9.2.2 Mobilidade Social Horizontal


Este tipo de mobilidade é também conhecido como falsa mobilidade. É o
deslocamento ou passagem de indivíduos e grupos de uma camada para
outra dentro da mesma classe social. São os casos de pessoas que mudam
de emprego ou de actividade, mas que recebem um salário semelhante ao
anterior – como é o caso de um docente N3 que sai de um subsistema de
ensino para outro. A mobilidade social horizontal de grupos pode ser
encarada em termos de factores económicos, políticos, religiosos,
profissionais, entre outros.

50
Imagine a situação de um Médico que trabalhava a 400km da
capital provincial de uma cidade e que passados cinco anos foi
transferido para a capital. Explique o tipo de mobilidade que teria
ocorrido.
Actividade

O/A estudante deverá dar a entender a ocorrência da mobilidade


horizontal ou falsa mobilidade, pois houve mudança do espaço
habitual e as condições sociais também irão alterar
Comentário consideravelmente.

Na próxima lição, terá a oportunidade de aprender sobre as os factores da


mobilidade social, mas para terminar esta lição veja o resumo e realize a
actividade de auto-avaliação que vão ajudar a fazer o balanço da sua
aprendizagem.

Resumo da lição
Nesta lição, deve se entender como mobilidade social a capacidade de
um indivíduo ou grupo sair de uma classe ou camada para outra. Tal
saída pode ser no sentido de ascensão ou regressão. No que concerne
aos tipos de mobilidade social, estes podem ser: vertical (ascendente e
regressivo) e horizontal ou falsa mobilidade.

Auto-avaliação 9
Preste atenção à comunidade na qual se encontra inserido/a, escreva
um comentário de 5 a 6 linhas de texto em torno da mobilidade social
que tem acontecido.

51
Comentários da auto – avaliação 9
Ao escrever o seu comentário tome em consideração a teoria
anteriormente apresentada sobre os tipos e sub-tipos da
mobilidade social. No seu comentário, deverá avançar alguns
exemplos que permitam melhor discussão com os seus colegas
na aula.

Leituras complementares
FERRARI, Afonso Trujillo. Fundamentos de Sociologia. São
Paulo, McGraw-Hill, 1983.

FERREIRA, J.M. Carvalho, CARVALHO, João Peixoto et al.


Sociologia. Lisboa, Editora McGRAW-HILL, 2013.

52
Lição n° 10
Factores da Mobilidade Social

Introdução
Nesta lição, apresentam-se alguns factores que concorrem para a
deslocação de um indivíduo ou grupo de indivíduos de uma classe ou
camada para outra. Procura-se explicar ainda em que medida cada factor
influencia na mobilidade social.

A mobilidade social é firmada por uma série de factores ou causas que


determinam o sucesso ou o fracasso, a estima ou a reprovação, o aumento
ou a diminuição do poder e prestígio, a concentração da riqueza ou o
empobrecimento (…). Assim, na pressente lição o/a estudante terá a
oportunidade de estudar sobre os diferentes factores que contribuem para
a mobilidade social dos indivíduos, dentre eles, individuais e colectivos.

Ao completar esta lição, você deverá ser capaz de:

 Identificar os factores que concorrem para a mobilidade


social;

 Explicar em que medida cada factor influencia na


Objectivos mobilidade social;

 Identificar os factores mais comuns para a mobilidade


social.

Tempo de estudo da lição: 4 Horas

Tempo

Uma vez estudados, na lição anterior, o conceito de mobilidade social e os


tipos de mobilidade social, passemos agora à análise dos factores que

53
contribuem para a mobilidade dos indivíduos ou grupos de pessoas duma
classe para outra.

10.1 Factores colectivos

A estrutura ocupacional e a mobilidade social relacionam-se com o


incremento de novas profissões, devido aos influxos económicos e
tecnológicos da industrialização. As profissões que oferecem melhor
remuneração e mais prestígio propiciam a passagem para o status mais
valorizado (Ferrari, 1983:431). O intercâmbio de posições é outro factor
que permite a mobilidade social. Neste caso, a sociedade proporciona aos
membros dos estratos mais baixos meios para competir com os que estão
numa estrutura social mais alta, a partir da abertura de oportunidades para
mudança de profissões ou cargos no mercado de trabalho.

10.2 Factores individuais

Entre as características individuais que facilitam a promoção de um posto


para o outro estão os factores como: inteligência, constância ou dedicação,
educação, gratificação adiada, família, casamento e etnicidade.

O factor educacional representa valioso canal de ascensão social,


principalmente nas sociedades em que predominam os analfabetos.

O factor adiamento da gratificação, no sentido de mobilidade, significa


apenas adiar a fim de obter vantagens numa meta posterior.

A família é mobilidade social devido à sua grande influência na


sociedade.

O casamento é um factor de mobilidade social quando se considera o


sistema de heterogamia, ou seja, casamento entre desiguais.

A inteligência como factor de mobilidade social, não obstante existir uma


adequada correlação, é vista entre as possibilidades de sucesso.

A motivação é fundamental para a mobilidade social porque as pessoas


motivadas aspiram posições mais elevadas.

Quanto à etnicidade como factor da mobilidade social, encontra uma forte


ligação com a cor da pele de uma pessoa, pois esta pode representar uma

54
barreira ou uma facilitação para a mobilidade social de um indivíduo
(Ferrari, 1983:434-443).

1. Dos factores de mobilidade social apresentados na lição,


quais são os mais comuns na sua comunidade?

a) Apresente outros factores que podem concorrer para a

Actividade mobilidade social.


b) Explique os factores mencionados em a).

Certamente que conseguiu responder às actividades propostas. Caso


não tenha conseguido, sugiro que reveja a lição e depois discuta
com os seus colegas que habitam na mesma comunidade e depois
escreva-os no seu caderno de anotações.
Comentário

Na próxima lição, terá a oportunidade de aprender sobre a formação das


elites e mobilidade social, a exemplo de Moçambique, mas para terminar
esta lição veja o resumo e realize a actividade de auto-avaliação que vão
ajudar na prossecução da sua aprendizagem.

55
Resumo da lição
Os factores da mobilidade social podem ser extrapolados em dois
conjuntos: factores colectivos e factores individuais. Os factores
colectivos são decorrentes: i) da própria estrutura ocupacional e; ii) do
intercâmbio de posições.

Os factores individuais da mobilidade social são: educação, adiamento


de gratificação, família, casamento, inteligência, motivação e
etnicidade.

Auto-avaliação
1. Faça uma lista das famílias que na sua sociedade passaram de uma
classe social para outra, tanto em termos de mobilidade social
ascendente como regressiva. Sempre que possível, indique o(s)
factor(es) que influenciou ou influenciaram.

2. Reflicta na seguinte questão: “um modo de diminuir as tensões


sociais seria ou não diminuir as classes pobres e ricas e aumentar as
condições das classes médias?”

Leituras complementares
PASTORE, José. Desigualdade e Mobilidade Social no Brasil. São
Paulo, Queiroz Edições, 1979.

FERRARI, Afonso Trujillo. Fundamentos de Sociologia. São


Paulo, McGraw-Hill, 1983.

http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1224255137E5cIQ8me5Ut
57VI0.pdf

56
Lição n° 11
Formação das elites e mobilidade social, o exemplo de Moçambique

Introdução
Na presente lição, aborda-se a elite e a mobilidade social tomando-se
como exemplo a realidade moçambicana. A elite moçambicana teve as
suas origens no colonialismo português, a partir do processo de
assimilação, recurso às autoridades tradicionais como instrumentos de
auxílio colonial, a educação metropolitana, a luta armada de libertação
nacional, entre outros factores de natureza individual ou mesmo grupal. A
abordagem começa pela apresentação do conceito de elite, passando pela
contextualização do surgimento da mesma, assim como pela explicação
dos aspectos que, nesta realidade, influenciam a sua mobilidade social.

Ao completar esta lição, você deverá ser capaz de:

 Definir o conceito de elite;

 Explicar o contexto do surgimento da elite em Moçambique


olhando para a evolução temporal;
Objectivos
 Distinguir os diferentes grupos elitistas;

 Analisar o processo de mobilidade social na elite


Moçambique.

Tempo de estudo da lição: 4 Horas

Tempo

Considerando que já compreendeu a abordagem dos factores que


concorrem para a mobilidade social dos indivíduos ou grupos de

57
indivíduos, então já há condições para se estudar sobre as Elites. Desta
feita, temos a oportunidade de analisarmos sobre a formação e o
desenvolvimento da elite em Moçambique.

11.1 Elite

Para Pité (1997: 47-48), denomina-se Elite a uma camada social que
conseguiu atingir níveis muito altos na sua actividade, que pode ser
política, académica ou socioeconómica. Esta é constituída pelos
indivíduos que têm funções dirigentes, abarcando a elite governamental e
a não governamental. As elites estão sempre presentes em todas as formas
de direcção ou governo, sendo responsáveis pela desigualdade da
distribuição da riqueza de uma sociedade, assim como do prestígio social.

Definindo Elite, Vergas (1994: 389) diz que, na sua significação mais
geral, o termo denota um grupo de pessoas que numa sociedade qualquer,
ocupa posições eminentes. Mais especificamente, designa um grupo de
pessoas ilustres num determinado campo, principalmente a minoria
governante e os círculos onde é recrutada.

Munaga (1986: 47) refere a elite como sendo “aqueles que dispõem de
maior acesso aos valores e ao seu controlo, às pessoas que ocupam as
mais altas posições numa determinada sociedade. Além da elite do poder
(elite política), existem elites de riqueza, responsabilidade e
conhecimentos”.

Embora usem termos distintos, os três autores convergem na medida em


que consideram a elite como sendo um grupo de indivíduos de destaque
na sociedade, apesar de ser a minoria, que tem sua origem em vários
âmbitos que dinamizam o quotidiano das massas populares. A elite,
mesmo que em menor número, acaba por suplantar a maioria, devido ao
seu poder.

Discutida a definição de Elite, agora pode prestar atenção à pergunta que


se segue. A compreensão da definição de Elite ajudá-lo-á na compreensão
das aulas subsequentes.

58
Analisando as três definições de Elite já apresentadas e tomando em
consideração a realidade moçambicana, diga com qual delas se
identifica e fundamenta a sua escolha.
Actividade

Ao responder à pergunta anterior, você deverá tomar como base a


elite existente em Moçambique para melhor se posicionar e, depois,
apresente os aspectos que conduziram a optar por essa definição.
Poderá, igualmente, pedir a opinião do tutor geral para o ajudar a
Comentário analisar a sua resposta.

11.2 Contexto do surgimento da Elite em Moçambique

De acordo com Oloruntimehn (1985: 576), o regime português não era


excepção à verdade de que toda a administração utiliza estruturas
intermediárias, principalmente devido a razões de economia e eficácia. O
governo colonial fazia uso variado das instituições e das elites tradicionais
para mais facilmente controlar as populações submetidas. Neste caso, as
elites recrutadas para sustentar a dominação colonial dificilmente
recebiam melhores tratos do que os africanos educados pelo sistema
colonial. Tal como as novas elites educadas, os chefes “tradicionais”
estavam em posição ambígua. Nos olhos do povo tinham perdido o
carácter tradicional das suas funções e de seu papel e, nalgumas vezes, os
colonizadores consideravam-nos como instrumentos de controlo e não
como autênticos parceiros.

Em geral, o colonialismo necessitava de uma base social para sobreviver,


base habitualmente assegurada pela difusão da cultura do colonizador por
meio da educação. Os resultados obtidos pelo sistema educativo criado
para esse efeito determinam as normas que permitem constituir um novo
grupo de elite no interior da sociedade colonizada. A difusão da cultura
importada do colonizador é, entretanto, acompanhada, quase

59
invariavelmente, de contactos culturais harmoniosos e de conflitos
culturais que podem redundar em reacções violentas da população
submetida (Ibid.: 576).

Na verdade, Oloruntimehn faz perceber que o Estado colonial português


precisou de intermediários que pudessem coadjuvá-lo nos seus variados
interesses, daí optarem por mobilizarem as estruturas locais, bem como
educar alguns colonizados. É neste contexto que, em Moçambique,
surgiram grupos de ilustres que graças à educação e/ou à sua participação
no movimento nacionalista moçambicano, viriam mais tarde a constituir o
maior grupo político elitista, tal é o caso de muitas figuras que
compunham o governo de transição de Moçambique2.

Hedges (1999:176) explica que, quanto ao ensino oficial português em


Moçambique, a política educacional do regime fascista, no essencial,
visava promover uma identificação dos africanos com os valores que
defendiam a formação de cidadãos capazes de compreender plenamente
os imperativos da vida portuguesa, interpretá-los e transformá-los numa
realidade constante, a fim de assegurar a continuidade da nação
portuguesa no império colonial.

Para além da elite política já referenciada, há que distinguir outras origens


da elite:

 Religiosa: em Moçambique é constituída por certas figuras com


enorme influência no Estado e na Sociedade Civil devido ao seu
papel e, constantemente, deram ou têm dado impulso na dinâmica

2
Joaquim Alberto Chissano (Primeiro Ministro); Mário da Graça Machungo (Ministro
da Coordenação Económica); Rui Baltazar (Ministro da Justiça); Guidion Ndobe
(Ministro da Educação e Cultura); Armando Guebuza (Ministro de Administração
Interna); Óscar Monteiro (Ministro de Informação); Joaquim Paulino (Ministro da Saúde
e Assuntos Sociais); Alberto Chipande (Membro da Comissão Militar Mista); Alcântara
Santos (Ministro das Obras Públicas e Habitação); Baptista Picolo (Ministro das
Comunicações e Transporte); Sebastião Mabote (Membro da Comissão Militar Mista);
Jacinto Veloso (Membro da Comissão Militar Mista); Mariano Matsinhe (Ministro do
Trabalho); (…).

60
social e política. Exemplos: Dom Dinis Sengulane, o malogrado
Dom Jaime Gonçalves, Francisco Chimoio, entre outros.

 Intelectual: que dá seu corpo no âmbito do conhecimento


científico em diferentes domínios. Ex.: Reitores das Universidades
e Institutos/Escolas Superiores, vários pesquisadores e
comentadores académicos.

 Económica: que se notabiliza pela sua riqueza material e muitas


vezes com forte influência no governo. Estes, muitas vezes, estão
ligados à elite política.

No concernente à Mobilidade Social, importa referir que a sociedade


moçambicana se caracteriza por um sistema de tipo aberto. Porém, a
passagem de um indivíduo de um estrato para outro é condicionada por
diferentes factores: económico (sua capacidade inovadora, bem como o
rendimento); social (conhecimento técnico, nível académico, influência
pessoal com outras elites, origem familiar, amizade); político (ala política,
sua influência e visão crítica, factores históricos).

Jairoce (2012: 11), estudando a formação da elite política e económica em


Moçambique, estabelece dois marcos cronológicos: o 1º que vai de 1975
(ano da independência) a 1987 (ano da introdução da economia do
mercado); o 2º que vai de 1987 até à actualidade. O autor denomina a elite
do primeiro marco cronológico de “socialista” em que alguns, mesmo sem
formação académica e técnica reconhecida, e outros com formação
superior deram sua energia na libertação do país diante do sistema
colonial português. A segunda elite é constituída pelos mesmos
indivíduos (a considerada geração 25 de Setembro) aditada de outra mais
académica e tecnocrata (a chamada geração 8 de Março). É neste segundo
grupo que vai surgir a verdadeira elite política e económica num ambiente
de promiscuidade entre a arte e o negócio.

Depois do estudo dos aspectos respeitantes à origem e evolução da elite


em Moçambique, certamente que você está mais preparado para interagir
em volta desse assunto. Por isso, é convidado (a) a realizar as actividades
que se seguem:

61
1. Analise como muitas figuras que compõem a elite económica
conseguem influenciar o governo e mesmo a elite política em
Moçambique.

Actividade 2. Que relação se estabelece entre a Luta Armada de Libertação


Nacional e a elite política em Moçambique?

3. A elite política e económica em Moçambique é caracterizada


pela promiscuidade. Fundamente esta posição.

Em 1, no seu comentário, deverá considerar que quem detém o


“capital”, automaticamente está munido para aliciar e manipular o
poder político.

Em 2, quanto à relação entre a Luta Armada de Libertação Nacional


Comentário
e a elite política em Moçambique, deverá considerar que, neste
caso, quase sempre se está perante as mesmas figuras, que
determinam o rumo do país, encabeçando o partido político.

Finalmente, em 3, você deve referir-se ao facto de as mesmas


figuras deterem os poderes económicos e políticos, daí
determinarem sobremaneira as políticas/regras de dinâmica no país.

Na próxima lição, terá a oportunidade de aprender sobre o Papel social e a


multiplicidade de tarefas, porém como fim desta lição veja o resumo e
realize a actividade de auto-avaliação que vão ajudar na continuação da
sua aprendizagem.

62
Resumo da lição
Falar da elite, especificamente na realidade moçambicana, é sinónimo
de aludir a um grupo social de status considerável que se destaque no
seio de várias pessoas. Tal destaque justifica-se pela sua história na
Luta Armada de Libertação Nacional, pela capacidade de educação
tida durante o período colonial, pela dinâmica económica ou política,
pela família em que se encontra, entre outros aspectos. Ao abordar
acerca da formação da elite moçambicana, é preciso ter atenção no
facto de ela se especificar em política, economia, religião ou
intelectual/academia, embora existam situações em que a elite se
tenha formado a partir da comunhão destes elementos, em particular,
políticos e económicos.

Auto-avaliação 11
1. Como é que é garantida a disseminação da influência para a
maioria pela elite?

2. Em Moçambique, apresenta-se como elite dominante aquela que


tem seus marcos históricos e políticos no nacionalismo e no imediato
pós-independência. Apesar de esta (elite) ter mesma origem de
formação, ela apresenta facções no seu seio (Sumich, 2008: 322).

- Que razões explicam tais facções internas?

3. Como analisa a questão da mobilidade social na elite


moçambicana considerando os períodos de 1975- 1990 e de 1990 à
actualidade?

63
Leituras complementares
HEDGES, David. História de Moçambique: Moçambique no Auge
do Colonialismo, 1930-1961. 2ª ed., Volume 2. Maputo, Livraria
Universitária, 1999.

JAIROCE, Jorge F. Contribuição para o Estudo da Formação da


Elite Política e Económica de Moçambique. São Paulo, UFRJ.
2012.

http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1218639505B4yEE8zd4L
m89HK9.pdf acesso aos 01/03/19.

http://jorgejairoce.blogspot.com/2012/09/contribuicao-para-o-
estudo-da-formacao.htm

http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1218639505B4yEE8zd4L
m89HK9.pdf

64
Lição n° 12
Papel Social e a Multiplicidade de Tarefas

Introdução
Em todas as sociedades, os seus membros têm posições e papéis
demarcados. Não existem sociedades em que todos os membros tenham a
mesma ocupação. Os papéis e normas sociais dão sentido à vida. As
obrigações, os deveres e os direitos de cada um já elucidam esta realidade.
É nesta base que a presente lição procura apresentar o conceito de papel
social, características, conteúdo do papel social, formação dos papéis
sociais, bem como as implicações que ocorrem como resultado do
choque/conflito de diferentes papéis no mesmo indivíduo.

Ao completar esta lição, você deverá ser capaz de:

 Definir o conceito de papel social;

 Explicar as características do papel social;

 Descrever o conteúdo do papel social;


Objectivos
 Explicar as implicações da multiplicidade de tarefas no
indivíduo.

Tempo de estudo da lição: 3 Horas

Tempo

65
12.1 Papel Social

Worsley (1983: 287) define papel social como sendo o conjunto dos
comportamentos que se espera de um indivíduo no desempenho das suas
actividades sociais.

Na visão de Oliveira et al (1989: 143), papel social é o comportamento,


conduta ou função desempenhada por uma pessoa no interior de um
grupo.

Por sua vez, Ferrari (1983) entende o papel social como sendo “o
desempenho de determinados direitos e obrigações referentes a um status
específico ou com um status global”. O papel social reflecte um certo
comportamento esperado, daí um conjunto de expectativas.

Papel social é aquilo que se espera de alguém que tem um certo estatuto
social. É o conjunto de deveres ou funções que a pessoa tem. Por
exemplo: espera-se que um professor explique as matérias, que avalie os
alunos, etc., que eduque visando a formação integral.

12.2 Características do Papel Social

As características do papel social tornam-se mais consequentes quando o


papel: a) é produto cultural; b) é estabelecido antes pela sociedade que
pelo indivíduo; c) é socializado; d) relaciona-se inteiramente com o status;
e) traz consigo uma carga de expectativas de comportamento; f) implica
ideia de reciprocidade (Ferrari, 1983: 163).

a) Quando se diz que o papel social é um produto cultural significa


que ele é elaborado por uma cultura, para a qual se aplica de
maneira concreta, quer dizer, os papéis são usualmente
determinados por um tipo de sociedade, podendo não ter efeito
noutra sociedade.

b) Em relação ao facto de o papel ser estabelecido pela sociedade e


excepcionalmente pelo indivíduo, permite que exista um certo
acordo na execução dos papéis. Isto evita que cada um dê seu
valor particular ao papel.

66
c) O papel social é socializado porque é aprendido no percurso da
existência das pessoas. Estas sempre estão sendo submetidas ao
processo de socialização e ressocialização. O indivíduo, sendo
actor e membro de grupos, associações, instituições sociais, entre
outros, está submetido à aprendizagem, ao ensinamento de papéis
sociais, daí que no percurso da sua existência também deverá
observa-los, redefini-los e cumpri-los com obrigação.

d) O papel social está intimamente ligado com o status social, na


medida em que indica o lugar em que se situa uma determinada
pessoa no espaço social. O papel social é um dos critérios usados
para medir o status social.

e) O papel social implica expectativas: as expectativas do papel


social não significam que as acções estão prescritas
minuciosamente, pois existe uma margem de variação ou de
composição de alternativas. Considerando estes limites, o desvio
no cumprimento dos papéis sociais não traz consigo uma carga de
sanções sociais negativas. As expectativas das outras pessoas
influenciam no comportamento da pessoa que desempenha um
papel social.

f) O papel pressupõe a ideia da reciprocidade: significa que não


somente se deve esperar do indivíduo que desempenha um papel,
mas que esse indivíduo também espera dos outros. Portanto, a
ideia de reciprocidade é uma série coerente interna de reacções
condicionadas do indivíduo que se encontra em determinada
situação social (Ferrari, 1983: 163-164).

12.3 Conteúdo e níveis do Papel Social

A observação das obrigações abre espaço para a realização do papel


social. Assim, o cumprimento do papel de um professor é educar/formar.
De contrário, se ele não educar/formar estará em risco a efectivação do
seu papel social.

O papel social é formado por modelos elaborados pelas normas sociais


que regulam a forma de se conduzir tanto nos seus aspectos externos,

67
como nas suas manifestações internas ou mentais. Por exemplo, de um
professor não só se espera que ele eduque ou forme, como também se
espera que ele tenha atitudes e valores, sirva de exemplo em função do
seu papel social.

- Níveis do Papel Social

Ao falar-se de papéis sociais e de comportamentos em sociedade, é


importante definirem-se três níveis de papel social:

O Papel Institucional é aquele que a sociedade impõe perante o lugar que


o indivíduo ocupa. Podemos verificar esta situação, por exemplo, quando
a sociedade exige que um chefe de família cumpra devidamente o seu
papel.

O Papel Individual, mediante a personalidade de cada indivíduo. Este vai


assumir o seu papel perante a sociedade, isto é, cada chefe de família,
mediante a sua personalidade, cumpre o seu papel “à sua maneira”.

O Papel Interaccional: a sociedade é composta por seres complementares,


ou seja, um papel existe apenas em relação a outros papéis. Por exemplo,
o papel de pai implica o papel do filho, o papel de médico implica o papel
do doente, o papel de professor implica o papel do aluno (Worsley,
1983:287).

No entanto, não é só a sociedade que espera determinado comportamento


por parte de cada membro no exercício das suas funções. Cada um de nós
também espera um determinado comportamento por parte dos restantes
membros do grupo que se encontram em idêntica situação. O
comportamento que se espera de um professor é o mesmo que esse
professor espera dos restantes professores, pois eles realizam funções
idênticas. Por outro lado, esse professor esperará dos seus alunos o
cumprimento dos seus papéis. Estas expectativas mútuas (o que se espera
de nós e o que esperamos dos outros) demonstram a relação existente
entre nós, os outros e a sociedade.

68
1. O que se pode esperar de um indivíduo que, tendo diferentes
papéis sociais, não consiga satisfazê-los no seu dia-a-dia?

2. Ouve-se com frequência o termo estatuto social. Será que é o

Actividade mesmo que papel social?

3. Explique em que circunstâncias se pode falar do papel


institucional e do papel individual.

Na pergunta 1, você deve esclarecer que a multiplicidade de papéis


faz com que haja choque entre eles, pois irá realizar as actividades
parcialmente, chegando ao nível de prejudicar as outras.

Em 2, o/a estudante deverá deixar claro que o que se espera que o


Comentário
indivíduo faça como responsável não dita o seu nível hierárquico ou
lugar social em que as pessoas o irão colocar. Portanto, o seu
comentário deve evidenciar que o estatuto social não é o mesmo
que papel social.

Na pergunta 3, em caso de dúvida nesta pergunta, sugiro que


discuta com dois colegas próximos ou peça apoio do tutor geral.

Imaginando que já tenha percebido as características e níveis do papel


social, passemos em seguida ao estudo da formação e multiplicidade dos
papéis sociais. O estudo do tema que se segue poderá ajudá-lo a entender
que os papéis sociais variam em função dos espaços e culturas de cada
sociedade ou comunidade.

12.4 Formação e multiplicidade dos papéis sociais

Tanto Ferrari (1983) como Worslay (1983) afirmam que, nas diversas
sociedades, os papéis sociais são elaborados em função das exigências de
uma cultura específica. Daí que os papeis sociais de base, condicionados
pela cultura, não são os mesmos em todas as sociedades. Por exemplo, nas
sociedades tradicionais, o papel da mulher é a reprodução/procriação,
obediência ao marido e trabalhar à terra. Porém, nas sociedades modernas,

69
à mulher cabe o papel de procriação não como imposição, mas como um
papel negociável. Em termos de trabalho, a mulher tem um papel de
destaque nos sectores secundário e terciário, podendo competir, suplantar
ou estar em pé de igualdade com o homem. Assim sendo, pode concluir-
se que a multiplicação dos papéis sociais se relaciona com o nível de
desenvolvimento da sociedade. Cada sociedade exerce influência na
formação dos papéis exigidos por ela, conforme a importância relativa
dada a esses papéis pelos membros, em conformidade com os aludidos
padrões culturais e com os seus sistemas sociais.

Carvalho e Vieira (2008: 7) sustentam que, uma vez que cada função
exige um comportamento típico, são inúmeros os comportamentos que
realizamos. Assim, ao exercermos as diferentes funções que nos são dadas
pela sociedade, estamos a desempenhar uma multiplicidade de papéis
sociais.

No entender de Worsley (1983: 287-291), cada pessoa desempenha vários


papéis, ou seja, uma mesma pessoa pode ser mulher, mãe, esposa, filha,
amiga, professora, sindicalista, etc. Quando há diversidade de papéis que
uma mesma pessoa desempenha costuma designar-se multiplicidade de
papéis.

Numa multiplicidade de papéis podem existir conflitos: por vezes os


diferentes papéis envolvem exigências difíceis de conciliar umas com as
outras. Por exemplo: o papel de professor pode ser difícil de conciliar com
o papel de pai, se a pessoa em causa não tiver condições de trabalho. A
multiplicidade de papéis /tarefas a desempenhar numa colectividade
conduz a que cada um dos seus membros desempenhe funções
específicas, de que resultam comportamentos diversos, mas típicos.

Na próxima lição, terá a oportunidade de aprender sobre o desvio social,


mas para terminar esta lição veja o resumo e realize a actividade de auto-
avaliação que vão ajudar a fazer o balanço da sua aprendizagem.

70
Resumo da lição
O papel social é gerado pelo próprio processo histórico da sociedade.
É definido como conjunto de códigos e normas sociais. As
características do papel social estão relacionadas com os factos: a) é
produto cultural; b) é estabelecido antes pela sociedade que pelo
indivíduo; c) é socializado; d) relaciona-se inteiramente com o status;
e) traz consigo uma carga de expectativas de comportamento; f)
implica ideia de reciprocidade. A formação de papéis sociais, nas mais
diversas sociedades, acontece de forma semelhante, isto é, de acordo
com as exigências da cultura e da sociedade. Tensão e conflito de
papéis emergem quando há dificuldades no cumprimento das
obrigações; quando não é possível reduzir a tensão, os papéis podem
ficar em conflito.

Auto-avaliação 12
1. Quais são as características do papel social e em que consistem?

2. Como se produzem os conflitos de normas?

3. Discuta com colegas: o seu papel de estudante do Curso de


Licenciatura em Ensino de História está correspondendo às suas
expectativas e às expectativas dos seus professores? Quais são as
razões? De que modos seriam superadas as possíveis
inconsistências, se for o caso?

Leituras complementares

71
OLIVEIRA, M. L. et al. Sociologia. 4ª ed. Lisboa, Texto Editora,
1989.

WORSLEY, Peter. Introdução à Sociologia, 5ª ed. Lisboa,


Publicações Dom Quixote, 1983.

LAKATOS, Eva M. MARCONI, Mariana de A. Sociologia Geral.


7ª ed. São Paulo, Atlas, 2011.

NEVES, SM. Os Papéis sociais e a Cidadania. In ZANELLA,


AV., et al., org. Psicologia e práticas sociais [online]. Rio de
Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 2008. pp. 28-48.
ISBN: 978- 85-99662-87-8. Available from SciELO Books.

72
Lição n° 13
Desvio Social

Introdução
Qualquer indivíduo ou grupos humanos, no seu dia-a-dia, por vezes, têm
enveredado por condutas ou comportamentos que se mostrem
desajustados em relação ao padrão de vida requerido pela sociedade ou
mesmo pelos membros à sua volta. Assim, na presente lição, procura
explicar-se a noção de desvio social ou comportamental, compreender se
esse fenómeno constitui atentado ou não para os membros da sociedade.
De igual modo, explicam-se os factores que concorrem para o desvio
social.

Ao completar esta lição, você deverá ser capaz de:

 Definir o conceito de desvio social;

 Explicar se o desvio social é atentado ou não;

 Explicar os factores que concorrem para o desvio social;


Objectivos
 Distinguir os tipos de desvio social.

Tempo de estudo da lição: 4 Horas

Tempo

13.1 Desvio Social

Ferreira et al (2004: 429) definem desvio social como aquele


comportamento que vai contra os valores do grupo, ou seja, ocorre o
desvio social quando o indivíduo ou grupo de indivíduos não corresponde
às normas de uma certa cultura. Quer dizer, cada sociedade, ao definir a
esfera de comportamentos socialmente aceites, define ao mesmo tempo
uma esfera de condutas desviantes. Portanto, a problemática do desvio

73
resulta, antes de mais, de uma operação de definição e classificação
social.

Na visão de Ferrari (1983: 464), desvio social é a violação das normas


explícitas de um determinado sistema social. Com efeito, essa violação de
normas produz efeitos correctivos ou punitivos por outros membros da
sociedade que são encarregues de velar pelo equilíbrio social.

O conceito de desvio social normalmente possui uma certa conotação


negativa, mas há casos em que ele pode ser visto como um acto positivo.
Por exemplo, quando um casamento não dá certo, as pessoas podem
separar-se; quando um feto constitui perigo de saúde à mãe… pode-se
abortar.

Os exemplos a serem considerados nos desvios comportamentais não são


abrangentes em termos de espaços. Quer dizer, um aspecto considerado
desviante para uma certa sociedade pode não ser para uma outra.

13.2 Desvio social, atentado ou não?

A avaliar por Ferreira et al (2004: 429), o desvio social pode ser visto
como:
1º - Um atentado à ordem social;
2º - Signo da incapacidade dos grupos e das sociedades em matéria de
socialização e contenção dos seus membros.
A existência do comportamento desviado de algumas pessoas não leva
necessariamente ao aparecimento do problema social3. Quando o desvio
do comportamento é irrelevante, porque não afecta a estabilidade, a
coesão e a integração da comunidade, e por isso mesmo os membros da
sociedade não tomam consciência da sua existência, não emerge definição
do problema social. Neste caso, a colectividade tende a tolerar o desvio
porque não atinge a ordem moral dominante e outras ordens morais
subordinadas.

3
Sociologicamente define-se o “problema social” como qualquer condição, situação,
desvio, discrepância que afecta a estabilidade e ordem social e que produz uma tomada
de consciência nos grupos afectados e que zelam pela estabilidade social (Ferrari, 1983:
466).

74
13.3 Factores que contribuem para o desvio social

Constituem exemplos de factores que contribuem para o desvio social os


seguintes: pressão demográfica, mobilidade social, produção e consumo,
transporte, comunicações, ciência e técnica, etc. A par deste quadro de
mudanças, encontra-se, ainda, um conjunto importante de transformações
estruturais e institucionais que marcarão directamente a face do desvio e
do controlo social nas sociedades modernas, nomeadamente:

a) Progressiva transformação e perda de influência dos grupos sociais


primários tradicionais;

b) Difusão de uma racionalidade instrumental, ligada à crença no


progresso da técnica e ciência;

c) Adopção de novos valores, normas e ideologias.

Na perspectiva de Johnson apud Lakatos & Marconi (2011: 228), são


causas do desvio social as seguintes: socialização falhada ou carente;
sanções fracas; orientação ou determinação do comportamento; execução
injusta ou corrupta da lei (quando as pessoas encarregadas pela execução,
manutenção e aplicação da lei não fazem de maneira justa, equitativa ou
equilibrada).

Ainda na esteira do mesmo autor (Ibid.: 233) pode-se perceber que


quando se nota o desvio comportamental, há sanções específicas por meio
das quais o grupo reage contra elementos que actuam em contradição com
as normas estabelecidas pelos diferentes códigos, tal como se atesta no
quadro que se segue:

Grupo ou base social Códigos Sanções específicas Fo


O Estado a) Código penal a) Multa, prisão, morte nte
b) Código civil b) Indemnização ou :
restituição Lak
A Igreja Código religioso Excomunhão, isolamento ato
Organizações profissionais Códigos profissionais Exclusão, perda de direito de s &
exercer a profissão Ma
Família Código familiar Castigo feito pelos pais, rco
exclusão da herança ni
(20
11: 233)

75
Como se pode depreender, em cada grupo social, quando ocorre um
comportamento desviante, há sempre uma tentativa de corrigir ou
reabilitar o indivíduo por meio de aplicação de sanções negativas. Estas
variam em função da gravidade do comportamento, do espaço, entre
outras razões.

1. a) Considerando a definição dada em torno de desvio social,


identifique quatro aspectos que para a sua sociedade ou
comunidade seriam considerados desviantes.

Actividade b) A que tipologia ou tipologias se enquadra(m) os aspectos


avançados em a)?

c) Como é que a colectividade tem procurado corrigir tais


aspectos?

2. Apresente 5 exemplos de aspectos que demonstram o desvio


comportamental na sua comunidade e diga como é feita a
socialização desses membros.

No que se refere à pergunta (1.a), certamente que você


compreendeu a definição do conceito de desvio social. A partir dela
e do debate com os colegas, espera-se que tenha identificado quatro
aspectos que para a sua sociedade seriam considerados desviantes
Comentário do ponto de vista comportamental. Caso não, converse igualmente
com as estruturas locais da sua comunidade para melhor
entendimento.
Em (1.b), para melhor nomear os desvios identificados na pergunta
anterior, em criminosos e não criminosos, antes de mais, deverá
reler a lição e distinguir os dois tipos. Depois, discuta a
nomenclatura feita com três colegas da sua turma.
Na pergunta (1.c), em função dos aspectos identificados em a), você
deverá explicar como é que a colectividade em volta procura
corrigir tais actos. Dentre várias formas de correcção, pode falar de

76
encarceramento ou privação de liberdade, excomunhão, pagamento
de multa, indemnização, isolamento, entre outras. Sugiro ainda que
converse com o tutor geral em torno desta questão.
Em 2, caso tenha dúvidas na resposta desta pergunta, sugiro que
converse com dois colegas da sua comunidade e apontem os
aspectos consensuais.

13.4 Émile Durkheim e a génese da teoria do desvio e do controlo


social

Durkheim foi o pioneiro da investigação do desvio e controlo social. Para


ele, o crime é um fenómeno normal que caracteriza todas as sociedades,
sendo que a cada tipo social corresponderá um conjunto específico de
crimes, assim como uma determinada taxa de crime. Daí que há
momentos em que o mesmo é exagerado, chegando a atingir proporções
anormais. O pensador vai mais longe ao afirmar que o crime não só é
normal, como também é necessário e “útil”.

1º - O crime é a expressão do carácter limitado da autoridade da


consciência colectiva: nada é bom indefinidamente e sem limites. Neste
caso, tem uma utilidade indirecta. Por exemplo: para provarmos a
capacidade ou incapacidade dos que zelam pela ordem e tranquilidade
públicas deve haver crime!

2º- Ele analisa o problema do crime no quadro do seu modelo de evolução


social em que o direito repressivo era a sua forma específica do controlo.

Para Durkheim o crime consiste em todo o acto que, em qualquer grau,


determina contra o seu autor essa reacção característica a que se chama
pena, sendo que a pena consiste numa reacção passional, de intensidade
gradual, que a sociedade exerce por intermédio de um corpo constituído
sobre aqueles dos seus membros que violaram certas normas de conduta.

3º- Na sua obra sobre o suicídio, Durkheim aprofunda e sistematiza o


estudo do desvio social, ao incluir neste um novo segmento de
comportamentos classicamente qualificados desviantes. O autor não
considera o suicídio algo patológico. O suicídio é perfeitamente natural

77
em qualquer sociedade e liga-se às suas próprias características. É assim
um fenómeno passível de explicação sociológica, se bem que não deixa de
ser, em certa medida, um comportamento individual. Ele reflecte o seu
grau de conformidade social.

Assim, chama-se suicídio todo o caso de morte que resulta directa ou


indirectamente de um acto positivo ou negativo praticado pela própria
vítima, acto que a mesma sabia produzir este resultado.

Podem distinguir-se três tipos de suicídio, segundo Durkheim: o suicídio


egoísta, o suicídio altruísta e o suicídio anómico. Todos eles podem
manter-se dentro de limites normais ou, pelo contrário, atingir proporções
patológicas (o raciocínio é mesmo da sua análise de crime).

O suicídio egoísta é um acto que se reveste de individualismo extremo. É


o tipo de suicídio que predomina nas sociedades modernas e praticado por
indivíduos que não estão integrados na sociedade, quer dizer, isolados dos
grupos sociais como família, amigos e comunidade.

O suicídio altruísta é um acto em que o indivíduo está tomado pela


obediência e força coercitiva do colectivo ao qual pertenceu ou pertence.
Um exemplo típico de suicídio altruísta é o caso dos soldados japoneses
que lutaram na II Guerra Mundial e que ficaram conhecidos como
Kamicazes; outro exemplo é o dos terroristas religiosos.

O suicídio anómico é aquele que está mais articulado com as


características das sociedades modernas. Ele deve-se ao carácter anómico
dos processos de regulação da actividade económica nos mundos
industrial e comercial.

1. Certamente que já acompanhou na sua comunidade, cidade ou


mesmo na televisão situações de suicídio.

a) Que razões terão sido avançadas para tais suicídios?

Actividade b) Em que tipos de suicídios enquadraria as causas que identificou


em a)? Fundamente as suas opções!

2. A compreensão da definição do conceito de desvio

78
comportamental varia de sociedade para sociedade. Explique
porquê?

Em (1.a), você deverá elencar as prováveis razões que terão


conduzido ao suicídio. Não se recordando de algumas, poderá ainda
conversar com um membro da sua família ou com colegas da
mesma comunidade.
Comentário Na pergunta (1.b), considerando os tipos de suicídio estudados:
egoísta, altruísta e anómico, você irá classificar os aspectos
referenciados em a). Em caso de dificuldades pode conversar com
os elementos do seu grupo de estudo.
Em 2, na sua explicação, é preciso tomar em consideração que a
classificação dos aspectos em comportamentos desviantes é feita
em função das regras de cada sociedade. Por isso, o que é desvio
comportamental para uma certa sociedade, pode não ser para outras.
Por exemplo, em Moçambique, considera-se de comportamento
desviado quem fuma suruma, a eutanásia, entre outros. Mas, para os
jamaicanos, fumar suruma não identifica o indivíduo como
desviado. Para os índios, a eutanásia é muito bem vista, pois serve
para aliviar a dor.

13.5 Tipos de desvio social

De forma simplificada, consideram-se dois tipos de desvio: (i) desvios


não criminosos e (ii) desvios criminosos, embora esta tipologia se choque
com os aspectos legais, de tal modo que pelos seus estatutos legais, o que
não é criminoso numa sociedade passa a ser noutras sociedades. Citam-se
como exemplos de desvios não criminosos: alcoolismo, toxicomanias,
homossexualismo, prostituição e doenças mentais.

Relativamente aos desvios criminosos: facilmente as pessoas podem


passar de um desvio não criminoso para um criminoso, pois um viciado
em drogas pode roubar ou até matar para conseguir os tóxicos. Os desvios
criminosos estão relacionados com a delinquência, o crime e o suicídio.

79
A delinquência juvenil, por exemplo, compreende todas transgressões da
lei realizadas por menores de idade e que com base na lei podem ser
submetidos aos tribunais de menores; o desvio comportamental do
indivíduo denominado crime é definido por lei; o suicídio é considerado
normalmente como um fenómeno de anormalidade comportamental. Mais
detalhes podem ser encontrados na génese da teoria de desvio social na
visão de Durkheim, já tratados.

Agora você já compreende o que é desvio comportamental, quando e por


que acontece. Está, pois, em condições de reflectir sobre como controlar
os desvios comportamentais. Na próxima lição, iremos analisar os
aspectos que visam o seu controlo nas comunidades/sociedades. A
aprendizagem a seguir poderá contribuir na adequação das medidas para a
manutenção da ordem social.

Resumo da lição
A vivência de um indivíduo à margem das regras emanadas pela
colectividade significa desvio social/comportamental. A noção de
desvio comportamental existe em todas as sociedades, porém o
mesmo é definido e classificado em função das normas já traçadas.
Um aspecto considerado desviante para uma certa sociedade pode não
ser para uma outra.

Há vezes que o desvio social significa um atentado para a harmonia da


colectividade, mas noutras vezes, mesmo que poucas, o mesmo é
entendido como libertador. Por exemplo, quando um casal demonstra
dificuldades de comunhão e a reconciliação fracassa, a separação pode
ser solução. Quando um feto periga a vida da mãe o aborto,
igualmente, pode ser a solução.

Os factores que conduzem ao desvio comportamental são: pressão


demográfica, mobilidade social, produção e consumo, transporte,
comunicações, ciência e técnica, sanções fracas, execução injusta ou

80
corrupta da lei. Existem dois tipos de desvio: desvios não criminosos e
desvios criminosos.

Auto-avaliação 13
1. Apresente os elementos que influenciam para o desvio
comportamental.

2. Durkheim foi o pioneiro da investigação do desvio e controlo


social. Para ele, o crime é um fenómeno normal que caracteriza todas
as sociedades, sendo que a cada tipo social corresponderá um
conjunto específico de crimes. O pensador vai mais longe ao afirmar
que o crime não só é normal, como também é necessário e “útil”
(Carvalho et al, 2004: 431).

a) Explique em que medida o crime é tido como fenómeno normal e


quando é que é necessário e útil.

b) Explique em que circunstâncias se opta pela sanção social?

Leituras complementares
FERRARI, Afonso Trujillo. Fundamentos de Sociologia. São
Paulo, McGraw-Hill, 1983.

LAKATOS, Eva M. MARCONI, Mariana de A. Sociologia Geral.


7ª ed. São Paulo, Atlas, 2011.

https://www.google.com/search?q=desvio+social+pdf&oq=desvio+
social+pdf&aqs=chrome..69i57j0l5.6881j0j8&sourceid=chrome&i
e=UTF-8

81
82
Lição n° 14
Conceito e Tipos de Mobilidade Social

Introdução
Notando-se a existência de um comportamento desviante no seio do
colectivo, surgem sempre medidas correctivas ou de minimização. Eis a
razão da abordagem da presente lição, a partir da qual se procura discutir
acerca das sanções positivas e negativas que advêm da desobediência das
normas pré-estabelecidas. A liberdade comportamental e as tendências
instrutivas, aliado à variação cultural, propiciam a necessidade do
controlo social. Este fenómeno é um facto universal que as sociedades
observavam e observam nos mais diferentes níveis de desenvolvimento.

Ao completar esta lição, você deverá ser capaz de:

 Definir controlo social;

 Explicar a importância do controlo social para as


sociedades;
Objectivos
 Explicar o significado de controlo social;

 Identificar os canais de controlo social;

 Diferenciar os mecanismos de controlo social;

 Distinguir conformismo social e obediência.

Tempo de estudo da lição: 3 Horas

Tempo

83
14.1 Controlo Social

Rocher apud Ferrari (1983:49) define “controlo Social como um conjunto


das sanções positivas e negativas a que uma sociedade recorre para
assegurar a conformidade da conduta aos modelos estabelecidos”. Por seu
turno, Cohen citado pelo mesmo autor entende-o como sendo “meios e
métodos usados para induzir uma pessoa a corresponder às expectativas
de um grupo particular ou de uma sociedade ampla”. Gurvitch entende-o
como sendo a “regulação social por meio da qual a sociedade impõe seu
domínio sobre os indivíduos, mantendo-os coesos”.

Das definições anteriormente apresentadas, compreende-se que há várias


formas de definir o conceito de controlo social, porém elas convergem na
missão socializadora para manter a imposição da estrutura social e inibir
as manifestações do desvio social. Portanto, deve-se entender que o
controlo social é um processo activo que se manifesta no sentido de
orientar o comportamento das pessoas dentro de uma sociedade, de
acordo com as normas sociais, valores e padrões culturais, e as
expectativas da colectividade, limitando o desvio comportamental.

14.2 Significado do Controlo Social

A importância de que se reveste o controlo social é evidente em qualquer


tipo de sociedade. Em todas as sociedades, para o bem comum é preciso
que a ordem seja mantida. Às vezes esta ordem é feita a qualquer custo,
inclusive chegando à eutanásia, como no caso dos espartanos da Grécia
Antiga ou mais recentemente entre os Bororo do Mato Grosso (que
praticavam infanticídio quando nasciam gémeos ou quando o nascimento
frustrava as expectativas dos pais), ou no caso do genocídio dos judeus
durante o regime nazista na Alemanha.

No geral, o controlo social manifesta a sua significação no facto de


assegurar a manutenção da ordem social, a conformidade de cada
membro, evitar o desvio social e através das sanções sociais negativas,
restringir os agravos aos membros da sociedade, visando, pelo menos
idealmente, a re-socialização dos membros (Ferrari, 1983: 450).

84
14.3 O papel das sanções sociais no controlo

Nas variadas sociedades, desenvolvem-se diferentes formas de


recompensas ou reprovações, a fim de que os seus membros possam
manter o status quo da sociedade como um todo, e de cada parcela de
modo específico. Assim, a sanção social4 aparece como uma reacção por
parte da sociedade ou de um número considerável de seus membros a um
modo de comportamento que é por isso mesmo aprovado (sanções
positivas) ou reprovado (sanções negativas), ou qualquer outra classe de
apreciações (como no caso das sanções neutras) que denotam graus
diferentes de pressão social. As sanções sociais servem para regular a
conduta em conformidade com as normas, mais explicitamente os valores,
os costumes, os preceitos e as leis. Ademais, elas configuram, moldam o
pensamento, as ideias, os sentimentos, as atitudes, entre outros.

14.4 Canais de controlo social

A finalidade básica do controlo é permitir a conformidade social e evitar o


desvio social. Para tanto, alguns mecanismos são postos em evidência
pela sociedade para lograr o controlo social efectivo dos seus membros,
ou bem de outras sociedades diante dos efeitos e do trauma de relações
internacionais. Tais mecanismos, de forma abrangente, são: “imitação”,
do “cálculo racional” e da “autoconsciência” (Ferrari, 1983: 454).

Alguns, senão muitos actos comportamentais, são apreendidos por


imitação. A imitação do comportamento do pai para filho facilita a
internacionalização das normas e papéis sociais. Todavia, os resultados da
imitação ganham maior consistência com o reforço, enquanto a imitação
dos modelos inadequados seja reprimida com castigos ou sanções
negativas, porém, sem atingir a agressão. A ética religiosa promove
valores que se caracterizam por seguir exemplos vividos por Jesus Cristo,
Profeta Maomé e Buda.

4
Sociologicamente, o termo sanção tem um significado mais amplo. Pode ser a sanção
social de aprovação, isto é, de reconhecimento colectivo diante do comportamento
previsto como permissível. Neste caso, positiva-se uma sanção favorável, porque é
reconhecida com o valor que garante a persistência da ordem social imperante (Ferrari,
1983, p.451).

85
Em relação ao cálculo racional, convém esclarecer que o comportamento
humano é motivado por duas tendências: (i) a procura do prazer e (ii)
evitar a dor e o sofrimento. Em torno dessas duas tendências, a sociedade
codifica a sua maneira de conduzir os seus diferentes membros, conforme
o desempenho de suas acções sociais, em termos de interacção, papéis e
normas observadas.

14.5 Mecanismos do controlo Social

O controlo social pode ser exercido por factores externos comummente


denominados mecanismos formais e informais (Ferrari, 1983: 455-456).
O controlo social informal acontece no seio dos grupos primários. A
família constitui um exemplo mais marcante em que o controlo é imposto
sem nenhum formalismo. O controlo social formal acontece de forma
institucionalizada, principalmente ao nível de cada um dos sistemas
sociais. É exercido por várias instituições ou agências as quais têm
recebido da sociedade como um todo. A finalidade do controlo social
formal é produzir a conformidade e evitar os casos mais extremos de
desvio social. O desvio social ou inconformidade é objecto do controlo
exercido pelos órgãos policiais, pelos tribunais de justiça, pelos centros de
recuperação de jovens, pelas prisões e por uma infinidade de instituições
sociais. Deste modo, os advogados, juízes, polícias, assistentes sociais,
psiquiatras, sociólogos, psicólogos, entre outros, contribuem para a re-
socialização. Como se pode notar, o controlo social formal é o mecanismo
que mais congrega grupos de restauração social, é mais comum nas zonas
urbanas.

1. Imagine a situação de uma mulher grávida cujo feto periga a


saúde da mãe, ao ponto de a deixar em estado de coma.
Segundo os médicos que têm estado a atendê-la, a solução
passaria ou por salvar o feto ou a mãe e com poucas
Actividade
probabilidades de salvar as duas pessoas.

- Como procederiam os médicos, na sua opinião?

86
2. Explique o conceito de sanção social!

3. Explique em que medida a imitação é um bem para as


sociedades.

Em 1, caso tenha dúvidas, releia a lição e discuta a questão com o


tutor geral. Para todos os efeitos, é fundamental referir-se que há
que optar pelo mal menor.
Na pergunta 2, você deverá ter em consideração que a sanção social
Comentário deve ser entendida no sentido positivo e negativo, sendo para
premiar ou reprimir conforme os casos.
Finalmente, em 3, deverá dar a entender que existiram figuras
(Jesus Cristo, Buda, Maomé) que, imitando as suas práticas, a
sociedade estaria a rumar para a justiça social.

14.6 Conformismo social e obediência

O conformismo ou conformidade representa a alteração ou a modificação


do comportamento e crenças de uma pessoa ou de um grupo, numa
direcção determinada por um grupo mais amplo. Isto significa que o
conformismo não é apenas a aceitação das normas, mas vivenciá-las em
termos comportamentais, internalizando princípios normativos que
impõem tais normas (Charles, 1973:3). Por outro turno, o conformismo é
o processo de adaptação de juízos ou normas pré-existentes no sujeito às
normas de outros indivíduos ou grupos como consequência da pressão
real ou simbólica exercida por este.

Quanto à obediência, à sociedade como um todo não interessa o facto de


determinado indivíduo acreditar/concordar ou não se determinada lei,
norma, princípio é correcto ou válido. O que interessa à sociedade é saber
se o indivíduo ou grupo obedece a lei, norma ou princípio. A obediência
reside no facto de o indivíduo ou grupo social seguir ou observar aquilo
que é exigido pelas normas da sociedade, independentemente de acreditar
ou não na validade das tais normas (Ferrari, 1983: 457). Disto percebe-se
que a pessoa pode chegar à obediência sem que antes se tenha

87
conformado, porque as suas crenças e atitudes podem discutir tais normas.
Logo, o conformismo social e a obediência não agem em consonância na
consciência do indivíduo ou grupo.

Ferrari (1983: 458) explica ainda que o que justifica a obediência é o facto
de as pessoas sentirem-se unidas. Inclusive os elementos divergentes
acompanham as decisões do grupo, pois a decisão da maioria é acatada,
mesmo que essa obediência não tenha a aceitação íntima de alguns de
seus elementos. Eis a razão de o autor considerar que a obediência é um
passo importante para o conformismo, mas não um passo definitivo.

Agora você já compreende o que é controlo social e quando é aplicado.


Na próxima lição, iremos analisar os aspectos respeitantes à globalização:
conceito, contexto e características. A aprendizagem a seguir poderá
contribuir na sua reflexão em relação às dinâmicas que ocorrem nas
diferentes sociedades. Antes de prosseguir veja o resumo da lição e realize
a auto-avaliação.

Resumo da lição
A definição de controlo social resume-se num processo activo que
serve para direccionar o comportamento. Significa que o controlo
social deve restaurar a sociedade, que necessita que a ordem social
seja mantida. O conceito de sanção social não deve ser encarado
sempre no sentido negativo. Sociologicamente, pode também referir-
se à premiação, aprovação ou valorização, daí existir sanção positiva e
sanção negativa. Os canais do controlo social estão vinculados com os
fenómenos de imitação, racionalização, autoconsciência ou
socialização, etc. Os mecanismos de controlo social são factores
externos que se denominam formais e informais.

O conformismo social representa a alteração ou modificação do


comportamento e crenças de uma pessoa ou de um grupo numa
direcção prefixada pelo grupo mais amplo ou pela sociedade. A

88
obediência reside em o indivíduo ou o grupo social seguir, observar
aquilo que é exigido pelas normas da sociedade, sem importar se
acredita ou não na validade de tais normas.

Auto-avaliação 14
1. Explique a necessidade da existência de controlo social.

2. Elabore uma lista de instituições sociais que, na sua sociedade,


exercem o controlo social formal.

3. Explique de que modo a família e a igreja exercem influência


controladora.

4. Analise a ligação que, eventualmente, se estabelece entre o


conformismo e a obediência.

Comentários da auto – avaliação 14


Sugere-se que releia a lição dada e só depois começa a
responder às questões colocadas. Para responder à pergunta 1,
deverá partir do princípio de que é preciso que se trabalhe no
sentido de alterar o comportamento dos indivíduos com
comportamentos desviantes. Neste caso, é preciso garantir a sua
manutenção através do controlo social. Em relação à pergunta 2,
é fundamental que saiba distinguir os mecanismos de controlo
social. A partir daí, deverá trazer exemplos concretos olhando
para a sua realidade social.

Na pergunta 3, é importante compreender que a família e a


igreja são mecanismos informais de controlo social. Desse
ponto de vista, analise até que ponto cada elemento influencia
no controlo social dos indivíduos ou grupos. Caso tenha

89
dificuldades, pode discutir esta questão com os colegas da
turma.

Quanto à pergunta 4, pode-se falar de uma ligação entre o


conformismo e a obediência, na medida em que a obediência já
é um passo para o conformismo. Mas, de forma genérica, a
relação não é directa, pois um indivíduo pode obedecer por
imperativos da sociedade ou força da lei, sem que esteja
conformado. Caso tenha tido dificuldades nesta última questão,
volte a ler a lição dada.

Leituras complementares
Charles Adolphus Kiesler e Sara B. Kiesler. Série "Tópicos de
Psicologia Social". Trad. de Dante Moreira Leite, São Paulo,
Editora Blücher Ltda., 1973 118 p

http://w3.ualg.pt/~jfarinha/activ_docente/psi_social/projec/PS2_5_i
nfluencia_1_0506.pdf

90
Lição n° 15
Globalização: Contexto, Conceito e características

Introdução
Globalização é um “slogan” dos finais do século XX. Este termo-conceito
tem a sua revolução na tecnologia e nas comunicações, que levam o
mundo a transformar-se numa “aldeia global” ou num centro comercial
global no qual tudo está disponível. Por isso, globalização designa,
essencialmente, a íntima ligação entre os países e as pessoas em quase
todos os aspectos da vida.

Os homens vivem bastante ligados como se estivessem numa única


aldeia: estão ligados em termos de comunicação (uso de redes sociais), daí
que as fronteiras são somente físicas, vive-se influências culturais
sobretudo por causa da televisão, a indumentária já não tem fronteiras,
entre outros. Ora, a presente lição não pretende apresentar apenas os
aspectos que justificam ou comprovam a globalização, como também
pretende estabelecer alguns elementos críticos.

Ao completar esta lição, você deverá ser capaz de:

 Definir o conceito de globalização;

 Diferenciar centro de periferia;

 Caracterizar o fenómeno da globalização.


Objectivos

Tempo de estudo da lição: 5 Horas

Tempo

91
15.1 Contexto e Conceito de Globalização

A definição do conceito de globalização tem variado em função da


especialização e interesse de cada pesquisador. Alguns acentuam o
carácter multidimensional do processo; outros focalizam mais a dimensão
económica da globalização e, noutros casos, olha-se para a ideologia
neoliberal e/ou dimensões política ou cultural.

A palavra globalização pode até não ser “elegante” e “atraente”. Porém,


desde o final do século passado, nenhum discurso político fica completo
sem se referir a ela. A globalização tem algo a ver com a tese de que
agora vivemos todos num único mundo. Será esta última ideia válida?
Como provar que vivemos num único mundo? Estas são algumas
questões inquietantes face ao fenómeno e, claramente, fazem aparecer
uma visão céptica da globalização.

O professor Milton Santos discute o cepticismo da globalização no livro


intitulado “Por uma outra globalização: do pensamento à consciência
universal”. Daí ele considerar a globalização uma fábula ou um fenómeno
perverso. Eis o exemplo duma visão cepticista do fenómeno, segundo
Giddens (2001):

De acordo com os cépticos, toda conversa acerca da


globalização não passa disso mesmo, de conversa. Quaisquer
que sejam os benefícios, preocupações ou dificuldades, a
economia global não é assim tão diferente da que existia em
períodos antecedentes. O mundo continua o mesmo, está assim
desde há muitos anos. Para a maioria dos países, argumentam
os cépticos, o comércio externo representa apenas uma pequena
percentagem do rendimento nacional. Além disso, uma boa parte
das trocas económicas é feita entre regiões, sem implicar a
existência de um verdadeiro sistema económico mundial
(Giddens, 2001:20).

Há outras pessoas que adoptam posições muito diferentes. Giddens chama


a estes de radicais. Para estes, a globalização é um facto bem concreto,
cujos efeitos se fazem sentir por toda a parte. O mercado global está muito

92
mais desenvolvido do que estava em épocas muito mais recentes, nos
anos 60 e 70 do século passado. As nações perdem uma boa parte de
soberania que detinham e os políticos perdem muito da sua capacidade de
influenciar os acontecimentos.

Como se pode perceber, na abordagem do fenómeno globalização,


existem os cépticos, que negam a possibilidade de vivência num único
mundo. Por outro, existem os radicais que apontam para a evolução e, por
conseguinte, a demonstração do fenómeno globalização. Ora, é preciso
compreender que, apesar dessa contrariedade, não se pode negar a
existência do fenómeno, embora o mesmo esteja caracterizado por
aspectos benéficos e nocivos para as sociedades. Ademais, se existe o
centro, é que também existe a periferia. Isto deixa claro a existência das
grandes desigualdades sociais, daí ser alvo de crítica.

Para Campos & Canavezes (2007: 8), globalização é “a crescente


interligação e interdependência entre Estados, organizações e indivíduos
do mundo inteiro, não só na esfera das relações económicas, mas também
ao nível da interacção social e política”.

Ainda na visão dos mesmos autores, globalização é uma força condutora


central por trás das rápidas mudanças sociais, políticas e económicas que
estão a remodelar as sociedades modernas e a ordem mundial (Idem).

Por sua vez, Murteira (2003) define globalização como “um processo que
tem conduzido ao condicionamento crescente das políticas económicas
nacionais pela esfera megaeconómica, ao mesmo tempo que se adensam
as relações de interdependência, dominação e dependência entre os
actores internacionais e nacionais, incluindo os próprios governos
nacionais que procuram pôr em prática as suas estratégias no mercado
global” (p. 14).

15.2 Características da globalização

São características da globalização as seguintes:

93
 Desterritorialização, ou seja, as relações entre os homens e entre as
instituições, sejam elas de natureza económica, política ou
cultural, tendem a desvincular-se das contingências do espaço;

 Desenvolvimentos tecnológicos que facilitam a comunicação entre


pessoas e entre instituições e que facilitam a circulação de pessoas,
bens e serviços (Campos & Canavezes, 2007: 13);

 O volume das transacções financeiras mundiais é habitualmente


medido em dólares americanos;

 A Era em que nós vivemos não só traz novidades, como também


traz a revolução;

 A globalização tem influenciado tecnologia, cultura e não somente


no económico como alguns autores destacam, daí admitir que a
mesma é uma rede complexa de processos;

 Os países tornam-se demasiado pequenos para solucionarem


certos problemas, mas também demasiado grandes para
solucionarem pequenos problemas;

 A globalização cria um mundo de vencedores e vencidos, minorias


que enriquecem rapidamente e maiorias condenadas a uma vida de
miséria e desespero (Giddens, 2001: 17).

 A globalização manifesta-se igualmente pela crescente mobilidade


social do capital, uso do inglês como língua comum e crescimento
das multinacionais;

 A economia mundial foi, desde o princípio, estratificada em dois


grupos: centro (países ocidentais - globalizadores) e periferia
(países em desenvolvimento - globalizados);

1. Explique a origem e evolução do fenómeno “Globalização”.

2. Mesmo que o termo “Globalização” crie um mal-estar entre


certas pessoas, as mesmas não têm como se desligar dos
aspectos ligados a esse fenómeno.

94
Exercicio a) Apresente quatro aspectos que fundamentam a existência da
globalização nas sociedades?

b) Identifique três aspectos que demonstram que há


globalizados e globalizadores.

3. Apresente mais duas características da globalização, diferentes


das já apresentadas.

Na pergunta 1, você deverá explicar que a dinâmica da economia-


mundo, a ligação entre países influenciou na criação da aldeia
global. Igualmente, é preciso situar a origem do fenómeno no
século XV, porém com o slogan a aparecer muito mais tarde.
Comentário Em 2.a), partindo da sua vivência comunitária, você deve apresentar
aspectos que permitam entender que, de facto, o mundo está ligado.
Em caso de necessidade, poderá conversar com dois colegas
membros do seu grupo de estudo.
Em 2.b), deverá tomar em consideração as posições céptica e
inovadora face à existência ou não da globalização.
Na pergunta 3, baseando-se em leituras complementares, bem como
na compreensão da lição, deverá trazer mais características. Note
que, na lição, se apresentaram apenas alguns exemplos.
Na próxima lição, terá a oportunidade de aprender sobre a
Globalização como fábula, factor perverso e possibilidade, mas para
terminar esta lição veja o resumo e realize a actividade de auto-
avaliação que vão ajudar a fazer o balanço da sua aprendizagem.

95
Resumo da lição
A globalização apareceu como uma revolução na tecnologia e nas
comunicações, que levam o mundo a transformar-se numa “aldeia
global” ou num centro comercial global no qual tudo está disponível.
A globalização significa a íntima ligação entre os países e as pessoas
que partilham em quase todos os aspectos da vida seja económica,
política, social e/ou cultural. Por um lado, existem os cépticos que
negam a possibilidade de vivência num único mundo. Por outro,
existem os radicais que apontam para a evolução e a demonstração do
fenómeno globalização. Ora, é preciso compreender que, apesar dessa
contrariedade, não se pode negar a existência do fenómeno, embora o
mesmo esteja caracterizado por aspectos benéficos e nocivos para as
sociedades. Existem várias características do fenómeno, o que remete
à constatação inequívoca dos seus reflexos no mundo inteiro. Seja
como for, ao abordar sobre a globalização é preciso considerar dois
pólos, dos globalizadores e dos globalizados, olhando para o nível de
influência que cada um dá.

Auto-avaliação 15
1. Defina o conceito de globalização.

2. Haveria quem, nos nossos dias, se desse ao luxo de viver


desprovido da globalização? Porquê?

3. O que distingue o cepticismo do radicalismo no contexto da


globalização?

4. Escolha duas características da globalização apresentadas na


lição e explique-as com ajuda dos colegas da turma.

96
Leituras complementares
CAMPOS, Luís & CANAVEZES, Sara. Introdução á
Globalização. Lisboa, Instituto Bento Jesus
Bragança/Departamento de Formação, 2007.

GIDDENS, Anthony. O Mundo da Era da Globalização. 3ª ed.


Lisboa, Editorial Presença, 2001

https://dspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/2468/1/Introdu%C3
%A7%C3%A3o%20%C3%A0%20Globaliza%C3%A7%C3%A3o.
pdf

97
Lição n° 16
Globalização como fábula, factor perverso e como possibilidade

Introdução
Nesta lição, apresenta-se uma visão que, mesmo não sendo céptica, é
crítica do fenómeno, na perspectiva de Milton Santos. Ele entende que a
globalização é, por um lado, uma fábula, factor perverso e é uma
possibilidade. Assim, procura-se apresentar as teses e fundamentos deste
preceituado autor, o que possibilita a compreensão da realidade em
análise num outro ângulo. Segundo o autor, a criação de um único espaço
e unipolar é uma tentativa. O mundo é, actualmente, confuso e
confusamente percebido. Estes são os aspectos de fundo que constituem o
cerne da presente lição.

Ao completar esta lição, você deverá ser capaz de:

 Explicar a questão da unicidade como aspecto fundamental


da globalização;

 Explicar a ideia da globalização como (i) fábula, (ii)


Objectivos perverso, (iii) como possibilidade;

Tempo de estudo da lição: 4 Horas

Tempo

98
Globalização como fábula, factor perverso e como possibilidade

De acordo com Santos (2001), no fenómeno da globalização há interacção


de três dados históricos sistematizados: unicidade da técnica; unicidade do
tempo ou a convergência dos momentos e a unicidade do motor.

A unicidade da Técnica dá-se graças à predominância na escala mundial


de um subsistema técnico baseado nas tecnologias de informação.

A unicidade do tempo ou convergência dos momentos expressa-se pela


possibilidade de percepção da instantaneidade e da simultaneidade de
eventos acontecidos em lugares longínquos.

A unicidade do motor explica-se pela mais-valia tornada mundial por via


da produção e unificada por intermédio do sistema financeiro,
identificando território com mercado como se fossem a mesma coisa.

A globalização é uma fábula, pois com a chamada aldeia global


desenvolve-se o culto ao consumo, a morte do Estado e o fim dos
territórios. A existência de conflitos mundiais da actualidade, por
exemplo, nos Estados africanos como: Sudão, Costa do Marfim, Quénia,
Somália, entre outros, levam ao pensamento da globalização como uma
fábula. Em relação à mobilidade populacional, nota-se entre muitos
Estados uma protecção de fronteiras.

Este mundo globalizado, visto como fábula, erige como verdade um certo
número de fantasias, cuja repetição, entretanto, acaba por se tornar uma
base aparentemente sólida de sua interpretação. Fala-se em aldeia global
para fazer crer que a difusão instantânea de notícias realmente informa as
pessoas. A partir desse mito e do encurtamento das distâncias - para
aqueles que realmente podem viajar - também se difunde a noção de
tempo e espaço contraídos. É como se o mundo se tivesse tornado, para
todos, ao alcance da mão. Um mercado avassalador dito global é
apresentado como capaz de homogeneizar o planeta quando, na verdade,
as diferenças locais são aprofundadas. Há uma busca de uniformidade, ao
serviço dos actores hegemónicos, mas o mundo torna-se menos unido,
tornando mais distante o sonho de uma cidadania verdadeiramente
universal (Santos, 2001: 9).

99
A globalização como perversidade: a globalização está-se impondo
como uma fábrica de iniquidades. O desemprego crescente torna-se
crónico. A pobreza aumenta e as classes médias perdem em qualidade de
vida. O salário médio tende a baixar. A fome e o desabrigo generalizam-
se em todos os continentes. Novas enfermidades como HIV/SIDA, entre
outras, se instalam e velhas doenças, supostamente extirpadas fazem o seu
retorno triunfal. A mortalidade infantil permanece, a despeito dos
progressos médicos e da informação. A educação de qualidade é cada vez
mais inacessível. Alastram-se e aprofundam-se males espirituais e morais,
como os egoísmos, os cinismos, a corrupção (Ibid., p.10).

A perversidade sistémica que está na raiz dessa evolução negativa da


humanidade tem relação com a adesão desenfreada aos comportamentos
competitivos que actualmente caracterizam as acções hegemónicas. Todas
essas enfermidades são, directa ou indirectamente, imputáveis ao presente
processo de globalização.

Milton Santos conclui, com efeito, que a globalização é uma


possibilidade. É algo que na essência pode ser submetido à crítica, se se
olhar com mais acuidade para a dinâmica mundial. Fica sem muita graça,
muito menos lógica, o facto de vivendo-se na “mesma aldeia” haja
tamanha contradição e níveis de desenvolvimento que não justificam a
convivência num mesmo mundo “tornado mais pequeno”.

1. Dois a dois, na turma, discutam exemplos que evidenciam o


facto de a globalização ser uma fábula e ideia perversa.

2. Que aspectos já vivenciou na sua comunidade, serviço ou


faculdade e que vão ao encontro da tese defendida por Milton

Exercício Santos?

100
Para a pergunta 1, a ideia é fundamentar a crítica que o autor faz ao
fenómeno da globalização. Para isso, é fundamental apresentar
alguns aspectos que denotam dúvida à homogeneização. Na
pergunta 2, você deverá elencar aspectos do seu dia-a-dia que
Comentário fundamentem a ideia de Milton Santos. Caso não consiga
responder, releia a lição e/ou discuta com colegas do seu grupo.
Depois da abordagem da globalização como fábula, factor perverso
e possibilidade, na próxima lição, terá a oportunidade de aprender
sobre Problemas, significado político-social e impacto da
globalização, mas para terminar esta lição veja o resumo e realize a
actividade de auto-avaliação que vão ajudar na compreensão dos
conteúdos subsequentes.

101
Resumo da lição
Na globalização há interacção de três dados históricos sistematizados:
unicidade da técnica; unicidade do tempo ou a convergência dos
momentos e a unicidade do motor. Devido às contrariedades que o
próprio fenómeno demonstra, Milton Santos, aliando-se parcialmente
aos cepticistas, concluiu que a globalização é uma fábula, perversa e é
uma possibilidade. A ideia de uma aldeia una e homogénea é alvo de
discussão e de rebate.

Auto-avaliação 16
1. Apresente dois exemplos de vivência na sua sociedade que atestam
a unicidade da técnica no contexto da globalização.

2. Apresente dois exemplos de vivência na sua sociedade que atestam


a unicidade do tempo ou convergência dos momentos no contexto da
globalização.

Comentários da auto – avaliação 16


Seguramente que conseguiu responder às três perguntas, se é
que não, então releia a lição e discuta-as novamente com o seu
colega. Na primeira pergunta, deverá procurar demonstrar com
dois aspectos que o mundo está ligado, considerando a questão
da tecnicidade. Quanto à pergunta 2, deverá dar exemplo de
eventos que acontecendo num canto do mundo (país) pode ser
visualizado em simultâneo noutros espaços.

102
Leituras complementares
CAMPOS, Luís & CANAVEZES, Sara. Introdução á
Globalização. Lisboa, Instituto Bento Jesus
Bragança/Departamento de Formação, 2007.

GIDDENS, Anthony. O Mundo da Era da Globalização. 3ª ed.


Lisboa, Editorial Presença, 2001.

SANTOS, Milton. Por Uma outra Globalização: do Pensamento


Único á Consciência Universal. Rio de Janeiro, Record S.
Imprensa, 2001.

103
Lição n° 17
Problemas, significado político-social e impacto da globalização

Introdução
A globalização como um fenómeno económico, político, social e cultural,
apesar de ter várias vantagens e com uma dinâmica mundial
inquestionável tem trazido alguns problemas, em particular para África,
América Latina como espaços globalizados. Tais problemas podem ser
apresentados e vistos do ponto de vista de impacto, sem descurar as
relações sociais estabelecidas entre as metrópoles e as antigas colónias,
sobretudo em África. Ademais, é dentro disto que se pode avaliar a
questão da mobilidade social mercê da homogeneização, daí que na
presente lição se discutem estes aspectos.

Ao completar esta lição, você deverá ser capaz de:

 Explicar os problemas advindos da globalização;

 Explicar o significado político-social da globalização;

 Descrever os impactos da globalização.


Objectivos

Tempo de estudo da lição: 4 Horas

Tempo

104
17.1 Problemas e significado político-social da globalização

A globalização manifesta-se, igualmente, pela crescente mobilidade


social, do capital, uso do inglês como língua comum, crescimento das
multinacionais e a sua colocação nos países periféricos. A economia
mundial foi desde o princípio estratificada em dois grupos: centro (países
ocidentais - globalizadores) e periferia (países em desenvolvimento -
globalizados).

De acordo com Mbokolo (2007: 547-548), no contexto africano, a


mundialização ou globalização representa a poluição. Porquê? Porque os
países capitalistas já atingiram um nível que necessita de mais espaços
planetários e que de contrário podem desaparecer. Uma outra realidade é
que a periferia tem sido vítima de penetração de culturas exógenas que,
nalgumas senão muitas vezes, chocam com a realidade dos globalizados.

Há, hoje, entre os Estados uma competitividade e rentabilidade que se faz,


criando um “darwinismo económico e social”. O capitalismo passa a agir
não só na economia nacional mas também em outros espaços planetários
para rentabilizar os capitais que não encontram espaços para
investimentos ao seu nível nacional. Como se pode perceber, os países em
desenvolvimento passaram a ser vagões e os países desenvolvidos
passaram a ser locomotivas e, desde o século XVIII, o vagão acompanha a
velocidade da locomotiva, quer dizer, há uma dependência maior.

17.1.1Alguns problemas sociais da globalização


A globalização quando mal gerida pode criar sérios problemas sociais:

 O modo de ensino dos países periféricos depende dos países do


centro;

 Hoje em dia o FMI e o BM dão um papel secundário ao


financiamento da saúde e Educação, pois alegam que são sectores
que não produzem riqueza, apenas consomem altos valores e não
possuem lucros imediatos, senão a médio e longo prazo;

 O Estado vai perdendo os seus poderes e;

105
 Os africanos vão aos poucos entrando numa miséria endémica
devido à negação da escolha.

17.1.2 Significado político-social da globalização


Domesticar países fracos para reforçar o modo de vida dos países
desenvolvidos e fortes. Com a globalização, o capitalismo não tem limites
de actuação. Tudo se baseia nas trocas, mas tal troca nunca será em
igualdade, o que agrava a situação de endividamento dos países
carruagens. A globalização cria e aprofunda relações de tipo:

17.1. 3 Nas antigas colónias:


 Locais privilegiados para investir capitais excedentários nas ex-
metrópoles;

 Locais para obtenção de produtos inexistentes nas ex-metrópoles;

 Centros de ensaios de novas políticas macroeconómicas para


debelar a crise de combustíveis através da introdução/produção de
bio-combustíveis.

Nalgumas vezes, a mundialização não é um fenómeno encarado como


bebé inocente, mas sim uma criança criminosa.

17.2 Impacto da globalização

 A globalização está a reestruturar as formas de viver. É dirigida


pelo ocidente, está profundamente marcada pelo poderio político e
económico dos EUA e arrasta com ela consequências muito
desiguais;

 Em muitas partes do mundo, as mulheres estão a exigir autonomia


em relação ao passado e a entrar no mundo laboral em grande
número;

 Directa ou indirectamente, na sua manifestação, a globalização


cria tensões que afectam as maneiras de viver tradicionais e as
culturas da maioria das regiões do mundo: um mundo de tradições
em desmoronamento alimenta o fundamentalismo;

106
 Num mundo em processo de globalização em que a transmissão de
imagens através de todo globo se tornou rotineira, estamos em
contacto regular com outros que pensam de maneira diferente, que
vivem de maneira diferente;

 Os fundamentalistas consideram-na perturbadora e perigosa; quer


se trate de religião, de identidade étnica ou de nacionalismo,
refugia-se numa tradição renovada e purificada e, quantas vezes,
também na violência (Giddens, 2001: 17-19).

1. Apresente dois problemas da Globalização (não copie os que já


constam da lição).

2. Para além dos impactos da globalização já apresentados na

Actividade lição, indique outros três impactos conforme suas leituras


complementares.

3. “Em muitas partes do mundo, as mulheres estão a exigir


autonomia em relação ao passado e a entrar no mundo laboral
em grande número”.

- Discuta com dois colegas o impacto desta realidade para as


vossas comunidades.

Para responder às perguntas 1 e 2, você deverá ser proactivo, não se


limitar na lição dada mas consultar outras referências, mesmo que
não sugeridas, que poderá encontrá-las, por exemplo, através da
internet. Na pergunta 3, você deverá demonstrar como a dinâmica
Comentário do fenómeno global tem sido recebida na sua comunidade, seja por
homens seja pelas mulheres.

17.3 Globalização/Mobilidade

Aliado ao fenómeno globalização, verifica-se uma mobilidade cada vez


maior, não somente do ponto de vista social, como também noutros
âmbitos. O principal factor técnico da mobilidade é o avanço tecnológico,
sobretudo à nível dos transportes, comunicações e/ou informações – estes
elementos até deslocam indivíduos com muita facilidade. Os conceitos

107
tempo-espaço perdem a sua complexidade permitindo uma polarização
diferenciada entre “pobres” e “ricos”. Contudo, é preciso perceber que a
distância para os primeiros continua uma realidade, já para os segundos
têm a capacidade de actuar de imediato, esquecendo a distância. A título
de exemplo, o fenómeno mundialização/mobilidade é sustentado pela
fuga de cérebros de alguns estados para outros, bem como a fixação de
alguns indivíduos do centro na periferia para dinamização das acções que
visam o lucro.

Agora você já compreende o que é Globalização, suas características e seu


impacto. Seguramente que já pode analisar melhor esse fenómeno! Na
próxima lição, iremos analisar os aspectos respeitantes à Exclusão social e
a reinvenção das identidades. Antes de prosseguir veja o resumo da lição
e realize a auto-avaliação para melhor balanço da sua aprendizagem.

108
Resumo da lição
A globalização é uma realidade que não só une diferentes países,
como também, por outro lado, destrói ou coroe o tecido sociocultural,
particularmente em África. No processo de globalização, há dois
pólos: globalizadores e globalizados. Mais do que ser céptico ou
radical, é preciso analisar os diferentes elementos que influenciam na
globalização. Com este fenómeno, globalizam-se também os riscos,
por exemplo, o uso do dólar em todas as transacções. Com a
globalização, a estratificação e a mobilidade social tendem a crescer.
Os limites físicos permanecem, mas em algum momento são
quebrados pela unicidade e a técnica, aliado às facilidades de
comunicação. O seu impacto deve ser analisado, pois é nalgumas
vezes positivo e noutras vezes negativo, particularmente para África.

Auto-avaliação
1. Que problemas têm ocorrido na sua sociedade como resultado da
globalização?

2. Porque se afirma que a globalização cria o “darwinismo


económico e social”?

3. Explique por que é que a globalização é pro-mobilidade social?

4. Que avaliação se pode fazer do impacto da globalização,


especialmente para os países africanos?

109
Leituras complementares
MURTEIRA, Mário. Economia Mundial: a Emergência duma
Nova Ordem Global. Lisboa, Difusão Cultural, 2003.

CAMPOS, Luís & CANAVEZES, Sara. Introdução á


Globalização. Lisboa, Instituto Bento Jesus
Bragança/Departamento de Formação, 2007.

RIBEIRO, Raquel e POECSCHL, Gabrielle. Globalização e suas


consequências: Representações de estudantes profissionais
portugueses. 2013. Artigo Científico disponível via internet.

110
Lição n° 18
Exclusão social e reinvenção de identidades

Introdução
Ao longo da existência dos indivíduos nos diferentes espaços geográficos,
estes não ocupam mesmas posições sociais, não têm mesmas
oportunidades de emprego/trabalho e/ou remunerações, não têm mesma
origem, entre outros aspectos. Por isso, alguns têm sido isolados em
função da sua realidade e que se manifesta de diversas formas. Eis a razão
da abordagem da seguinte lição, no sentido de compreender o que é, no
quotidiano, a exclusão social, que factores a justificam, como se
caracteriza, bem como as formas em que a mesma (exclusão social) se
manifesta. Trata-se, portanto, de procurar mais um aspecto patente na
dinâmica social.

Ao completar esta lição, você deverá ser capaz de:

 Definir o conceito de Exclusão Social;

 Explicar o contexto do aparecimento da exclusão social;

 Descrever os factores da exclusão social e a reinvenção das


Objectivos
identidades;

 Explicar as formas de exclusão social.

Tempo de estudo da lição: 5 Horas

Tempo

111
18.1 Exclusão social

Na visão de Ferreira et al (2013: 428), a exclusão social pode ser definida


como “um oposto à integração social”. Do mesmo modo, pode ser
entendida como impossibilidade para participar nas organizações,
instituições e programas da sociedade, entre outras situações variadas que
conduzem ao isolamento da pessoa ou grupo. A exclusão social pode-se
referir às instituições económicas e sociais (emprego, acesso à profissão,
rendimento, associações, políticas, direito ao voto, elegibilidade escolar,
educação).

Exclusão social é um termo que caracteriza o distanciamento de uma


pessoa ou grupo que esteja em situação desfavorável ou vulnerável em
relação aos demais indivíduos e grupos da sociedade.

18.2 Factores da Exclusão social e identidade

Girod (1984) apud Ferreira et al (2013: 519-520) diz que, muitas vezes, a
exclusão social está aliada à pobreza, ou a um conjunto de recursos tal que
as pessoas, famílias ou categorias abrangidas tendem a estar excluídas das
formas mais simples dos modos de vida, hábitos e actividades
considerados normais nos seus países.

Num sentido amplo, a noção de exclusão social pode abranger a ausência


de vários direitos de cidadania. A exclusão social ou não integração
acontece em quase todos os quadrantes, embora as manifestações sejam
variadas. Igualmente, dá a possibilidade de nos apercebermos da
multiplicidade de níveis absolutos que este estatuto pode assumir. A
carência de acesso aos recursos pode significar privação de alimentação
básica, num contexto, e incapacidade de acesso a uma maior variedade de
bens (habitação convencional, melhores cuidados sanitários), noutro,
representando a segunda situação um relativo bem-estar em relação à
primeira. Portanto, a situação de falta de “recursos” é relativa e lida com
recursos variáveis (alimentos, assuntos sociais, financeiros, jurídicos, etc).

Os problemas de pobreza e exclusão social sempre existiram, e se


interligam às classes sociais, com a sua relevância para sociedades
modernas, chegando a ditar a identidade social da pessoa ou grupo. Em

112
termos de factores da exclusão social, há vários, mas destaque vai para os
seguintes: a degradação das condições de vida de muitos indivíduos; o
número crescente de desempregados; grupos sociais sem trabalho
permanente ou mal pagos; inexistência de apoios públicos aos grupos em
risco; crescimento de tensões sociais ligadas aos fenómenos de
discriminação (violência étnica e racial) (Ibid., p.523).

As pessoas e os grupos que vivem em condições de exclusão social,


normalmente, são marginalizados pela sociedade, sofrendo preconceitos
pela diferença de condição social, raça, religião, género, orientação
sexual, escolhas de vida, entre outros.

A exclusão social caracteriza-se por um conjunto de fenómenos que se


configuram no campo alargado das relações sociais contemporâneas: o
desemprego estrutural, a precarização do trabalho, a desqualificação
social, a desagregação identitária, a desumanização do outro, a anulação
da alteridade, a população de rua, a fome, a violência, a falta de acesso a
bens e serviços, à segurança, à justiça e à cidadania, entre outras (Lopes,
2006: 13).

A identificação dos factores de exclusão e inclusão social está associada à


vulnerabilidade social, o que significa um processo multidimensional de
indicadores que exibem assimetria no que respeita à variabilidade
espácio-temporal. Percebe-se, no entanto, que alguns dos factores
clássicos de exclusão (fome, pobreza e desemprego) e inclusão (emprego
e justiça social), apesar de antigos, permanecem ainda em evidência na
sociedade contemporânea.

113
1. Olhando para a sua sociedade ou comunidade, que aspectos
têm concorrido para a exclusão social?

2. Que consequências advêm ou podem advir da exclusão social?

3. Que aspectos têm pesado para a exclusão social, olhando para


Exercício a diversidade cultural moçambicana?

4. Que crítica se pode fazer em relação à exclusão social


patológica?

Para a resolução dos exercícios, pode-se discutir dois a dois depois


da leitura da lição.

Na pergunta 1, inspirando-se na lição, vocês deverão apresentar os


diferentes elementos que na vossa comunidade ou sociedade
Comentário
concorrem para a exclusão social. Esses elementos deverão ser
registados nos cadernos de anotações. Por exemplo, factor
educacional, ocupação profissional, entre outros que reflictam a
realidade concreta.

Em 2, vocês deverão dar a entender que da exclusão social podem


advir situações de natureza: trauma psicológico, incompreensão dos
conteúdos na sala de aula, mau desempenho laboral, isolamento da
vizinhança, entre outros.

Quanto à pergunta 3, vocês deverão fazer perceber que para a


diversidade cultural moçambicana têm pesado aspectos como:
regionalismo (sul, centro e norte) - uns se acham mais “cultos” que
os outros; menosprezo pelos hábitos alimentares; comentário contra
os “erros regionais” no pronunciamento de certas palavras em
português. Em função da realidade de cada um, considerar-se-ão
outros elementos.

Finalmente, em 4, na vossa discussão deverão dar a entender que a


exclusão social patológica pode conduzir a trauma psicológico, ao
abandono no tratamento da doença, à estigmatização, etc.

114
18.3 Formas de exclusão social

Exclusão cultural e étnica: ela é direccionada às minorias étnicas e


culturais ou simplesmente aquelas etnias desprezíveis, mesmo sem
fundamentação para tal. Ex: as comunidades consideradas “com cultura
baixa”.

Exclusão económica: determina a exclusão de pessoas que possuam


rendas inferiores. Ex: os pobres ou com emprego menos remunerado.

Exclusão etária: designa a exclusão por idades. Ex: crianças e idosos.

Exclusão sexual: este tipo de exclusão é determinado pelas diferentes


orientações sexuais. Ex: a exclusão dos transexuais.

Exclusão de género: é relativa ao género masculino e feminino. Ex: a


exclusão das mulheres.

Exclusão patológica: exclusão de uma pessoa ou grupo de pessoas


devido às doenças. Ex: os portadores de HIV/SIDA, Tuberculose, entre
outras.

Exclusão comportamental: ela direcciona a exclusão sobre os


comportamentos destrutivos. Ex: dos indivíduos toxicodependentes, de
má conduta ou mesmo conduta duvidosa.

115
Resumo da lição
Quando se fala de exclusão social, a primeira ideia que se deve
entender é o distanciamento ou isolamento de um indivíduo ou grupo.
Constituem factores de exclusão social, dentre vários, os seguintes: a
degradação das condições de vida de muitos indivíduos; o número
crescente de desempregados; grupos sociais sem trabalho permanente
ou mal pagos; inexistência de apoios públicos aos grupos em risco;
crescimento de tensões sociais ligado ao fenómeno de discriminação.
Relativamente às formas de exclusão social, há que considerar as
seguintes: exclusão cultural e étnica; exclusão económica; exclusão
etária; exclusão sexual; exclusão de género; exclusão patológica;
exclusão comportamental.

Auto-avaliação 18
1. Explique em que medida o emprego pode ser um aspecto de
exclusão social.

2. Que aspectos acha que seriam potenciados na sua comunidade


para minimizar a exclusão social?

116
Comentários para a auto – avaliação das lições
Comentário da Auto-avaliação 10

Em 1, deve tomar em consideração a sua vivência e a


experiência da sua sociedade para elencar as famílias que
passaram de uma classe para outra. Deverá, igualmente, referir-
se ao tipo de mobilidade, assim como ao factor que ditou tal
mobilidade. Em caso de dúvida, pode debater com outros
colegas da turma.

Em 2, deverá comentar a favor da redução do fosso das


desigualdades. Quer dizer, é preciso referenciar o facto de que,
onde há mais pobres e mais ricos as tensões tendem a avolumar-
se. Por conseguinte, é ideal que trabalhe no sentido de garantir a
equidade. Não se exige tanto que haja igualdade social, mas que
as diferenças não sejam abismais.

Comentário da Auto-avaliação 11

Na pergunta 1, você deve comentar considerando que, a


disseminação de influência para a maioria tem como suporte a
revolução da informação, a conjuntura política, social, cultural e
económica da comunidade em que tal elite está inserida. Facto
que se consubstancia com as circunstâncias conjunturais que
teriam influenciado a emergência das elites africanas e
disseminação do seu papel a favor da resistência contra as
políticas coloniais, numa primeira fase, e a luta pelas
independências posteriormente. A elite designa um pequeno
grupo que num conjunto mais vasto (maioria): religioso,
cultural, político, militar, económico, social ou outro é tido
como superior pelas suas funções de comando, de direcção, de
orientação ou de simples representação.

Na pergunta 2, de facto, existem diversas facções e clivagens


sociais no seu seio. Tais clivagens estão relacionadas com os

117
diversos antecedentes sociais dos membros da elite e incluem a
etnia, a região, a religião e o nível de instrução. Existem
também fissuras entre a velha guarda revolucionária, que
participou na luta de libertação, aqueles que aderiram ao partido
pouco depois e a nova geração de “tecnocratas” que assumiram
posições de destaque na fase final do período socialista ou já
depois do mesmo. Algumas das actuais facções dentro da
hierarquia da FRELIMO resultam destas diferenças, ainda que
tendam geralmente a emergir em torno de tópicos como o papel
da economia de mercado, a democratização e outras grandes
questões. Embora muitos membros da elite tenham sérias
divergências de opinião e, em privado, possam manifestar
verdadeira animosidade uns pelos outros, há que não exagerar a
importância destas clivagens (Sumich, 2008: 322).

Finalmente, na pergunta 3, é preciso considerar os diferentes


factores que possibilitaram e/ou possibilitam a mobilidade
social na elite moçambicana, considerando a periodização
avançada por Jairoce, daí que o artigo deste autor é um dos
recomendados para a leitura complementar.

Comentário da Auto-avaliação 12

Em 1, certamente conseguiu responder à esta pergunta! Caso


não tenha conseguido, volte a ler a lição ou consulte a alguns
colegas da turma.

Em 2, deve referir-se ao facto de os conflitos de normas se


produzirem devido à incapacidade de executar algumas tarefas
devido às coincidências; para além de se encontrar numa
sociedade ou cultura cujos padrões de vivência ainda não foram
assimilados.

Em 3, deverá explicar se o que espera dos seus professores está


acontecendo ou não. De qualquer forma, deverá discutir as
soluções com os colegas, assim como propor medidas

118
alternativas se se verificarem fragilidades.

Comentários da Auto-avaliação 13

Na pergunta 1, caso não tenha conseguido identificar os


elementos que influenciam no desvio comportamental, por
favor, volte a ler a lição e pode debater com alguns membros do
seu grupo de estudo.

Em 2.a), dentre os vários aspectos das suas leituras, é preciso


referenciar que o crime é tido como fenómeno normal quando
obedece a uma certa taxa e não é exagerado. Ele é a expressão
do carácter limitado da autoridade da consciência colectiva:
nada é bom indefinidamente e sem limites; neste caso, tem uma
utilidade indirecta. Por exemplo: para provarmos a capacidade
ou incapacidade dos que zelam pela ordem e tranquilidade
públicas deve haver crime! Se for necessário, partilhe esta
pergunta com o seu tutor geral.

Em 2.b), você deverá explicar que se opta pela sanção social


quando um indivíduo apresenta um comportamento desviado,
tudo no sentido de reabilitá-lo; ou mesmo quando ele está num
bom caminho, porém, desejando encorajar, louvar ou enaltecer
os seus feitos. É fundamental ainda explicar que existe sanção
positiva e sanção negativa.

Comentário de Auto-avaliação 15

Em 1, ao definir o conceito de globalização, você deverá buscar


um conceito diferente do que vem na lição ou mesmo procurar
explicar o seu entendimento e não necessariamente transcrever.

Em 2, você deverá dar a entender que ninguém nos nossos dias


ousaria dar-se ao luxo de viver desprovido da globalização.
Muitas das nossas acções são influenciadas pela ligação
internacional, através da facilidade dos variados meios de
comunicação. A nossa vivência, em termos sociais, económicos,
culturais e até político é influenciada pelo fenómeno em análise.

119
Em 3, é fundamental, se é que não conseguiu responder, reler a
lição e explicar a posição dos que estão a favor da globalização
e dos que estão reservados quanto às evidências do mesmo. Em
caso de alguma dúvida, pode pedir opinião do seu tutor geral.

Em 4, finalmente, mais do que identificar as características da


globalização, é preciso que as explique, dê detalhes sobre as
mesmas, apresentando exemplos sempre que for necessário.

Comentários da Auto-avaliação 17

Na pergunta 1, você deverá mencionar alguns problemas que


são vividos na sua sociedade ou comunidade como resultado da
globalização. Na sua articulação, deve considerar aspectos
positivos e negativos que se fazem sentir.

Na pergunta 2, dentre outros aspectos, você deverá explicar a


pergunta considerando dois pólos, dos globalizadores e
globalizados. Deve, ainda, demonstrar que África está a sofrer
mais influência do ocidente e pouco dá. Com efeito, realidades
e hábitos africanos, alguns bons, vêm-se a desmoronar.

Na pergunta 3, a globalização é pró-mobilidade social, pois


consubstancia-se por uma dinâmica populacional cada vez
maior. Tal dinâmica deve-se ao recurso às medias, agilidade na
comunicação, assim como a mobilidade de indivíduos na
dinâmica comercial, intelectual ou académica, entre outros.

Finalmente, na pergunta 4, você não deve apenas identificar os


impactos. É fundamental que explique em que medida cada um
deles influencia para África, podendo discutir esta questão com
alguns colegas da turma.

Comentário da Auto-avaliação 18

Em 1, o emprego pode ser um aspecto de exclusão social


quando este (emprego) é rotulado, menosprezado, não é da
preferência da maioria, é de salubridade, entre outros. Porém,
não deveria ser assim. Era suposto que se respeitassem as

120
realidades de cada indivíduo.

Em 2, você deverá apresentar sugestões de aspectos que acha


que deveriam ser colocados em prática para minimizar o
problema de exclusão social. Em caso de dificuldades, discuta a
questão com colegas da sua comunidade.

121
Resumo da Unidade
Do estudo feito nesta unidade percebeu-se que a mobilidade social é
explicada pela passagem de um indivíduo ou grupo de indivíduos de
uma classe para outra. Existem dois tipos de mobilidade social:
vertical e horizontal. Constituíram aspectos de abordagem,
igualmente, os factores da mobilidade social que se subdividem em
colectivos e individuais. Quanto à formação da elite e à mobilidade
social, só podem ser compreendidos considerando os contextos
político, económico e social.
Em todas as sociedades, espera-se que cada indivíduo cumpra com o
seu papel como membro social/comunitário. Considerando que o
indivíduo tem várias relações sociais que estabelece com as pessoas
em volta, os seus papéis se multiplicam e a falta de cumprimento
desses papeis cria choques na convivência. Na abordagem desta
unidade percebeu-se, ainda que, na vida social têm existido
indivíduos que tomam comportamentos desviantes no seu meio
social. Esse desvio tem sido motivado, em suma, pela satisfação dos
desejos materiais e imateriais. A correcção desses indivíduos conduz
ao controlo social, que é aplicado em função das normas vigentes no
respectivo meio social.
Na contemporaneidade, os Homens vivem num meio global, quer
dizer, eles estão ligados no seu dia-a-dia, apesar de estarem em
espaços diferentes. Há uma influência que se faz sentir no “modus
vivendi”, sobretudo a partir dos pólos da Europa e América. Ora,
neste processo de globalização, existem globalizados e
globalizadores, daí ter-se falado dos cépticos e progressistas face ao
fenómeno, pois, na prática não há trocas mútuas, mas sim
influenciadores e influenciados. Em termos de impactos, a
globalização tem impactos positivos e negativos. Em termos de
Mobilidade Social, esta é maior nas sociedades que vivem a
globalização.

122
Leituras Complementares
BORBA, A. & LIMA H. Exclusão e Inclusão Social nas Sociedades
Modernas: Um olhar sobre a situação em Portugal e na União
Europeia. São Paulo, 2011. Artigo Científico, disponível via internet.

LOPES, José Rogério. Exclusão social e controle social: estratégias


contemporâneas de redução da sujeiticidade. Psicologia & Sociedade.
Florianópolis, v. 18, n. 2, p. 13-24, 2006.

123
Leituras Complementares para o Módulo
AIRON, Raymond. Novos Temas de Sociologia Contemporânea: Luta
de Classes. Lisboa, Editorial

Presença, 2001.

ANTHONY, Giddens. Sociologia.5ª ed. Lisboa, Fundação Calouste


Gulbenkian, 2007.

BARROS, José d‟Assunção. O campo da História: Especialidades e


Abordagens. São Paulo, Editora Atlas, 2004.

BURKE, Peter. Sociologia e História. Porto, Afrontamento, 1990.

CAMPOS, Luís & CANAVEZES, Sara. Introdução à Globalização.


Lisboa, Instituto Bento Jesus

Bragança/ Departamento de Formação, 2007.

CEZERILO, Luís. Cultura e Estratificação na Sociedade Tradicional


Africana. Maputo, Impressa Universitária, 2002.

DIAS, Reinaldo. Sociologia do Direito: A Abordagem fenómeno


jurídico como facto social. São

Paulo, Editora Atlas, 2009.

DA CRUZ, M. Braga. Teorias Sociológicas: os fundadores e os


clássicos, Antologia de textos.

Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1989.

FERREIRA, J.M. Carvalho, CARVALHO, João Peixoto et al.


Sociologia. Lisboa, Editora McGRAW-HILL, 2004.

FERRARI, Afonso Trujillo. Fundamentos de Sociologia. São Paulo,


McGraw-Hill, 1983.

GIDDENS, Anthony. Capitalismo e Moderna Teoria Social: Uma


análise das obras de Marx Durkheim e Max Weber. 4ª ed. Lisboa,
Editorial Presença, 1994.

124
GIDDENS, Anthony. O Mundo na Era da Globalização 3ª ed. Lisboa,
Editorial Presença, 2001.

HEDGES, David. História de Moçambique: Moçambique no auge do


colonialismo, 1930-1961. 2ª ed, Volume 2. Maputo, Livraria
Universitária, 1999.

JAIROCE, Jorge F. Contribuição para o estudo da formação da elite


política e económica de Moçambique. São Paulo, UFRJ, 2012.

LAKATOS, Eva M. MARCONI, Mariana de A. Sociologia Geral. 7ª


ed. São Paulo, Atlas, 2011.

MENDES, J.M. Amado. História Económica e Social dos Séculos XV


a XX. 2ª ed. Lisboa, Fundação

Calouste Gulbenkian, 1992.

OLIVEIRA, M. L. et al. Sociologia. 4ª ed. Lisboa, Texto Editora,


1989.

Peter Worsley, Introdução à Sociologia. 5ª ed. Lisboa, Publicações


Dom Quixote, 1983.

PITÉ, Jorge. Dicionário breve de sociologia. Lisboa, Editorial


Presença, 1997.

SANTOS, Milton. Por Uma outra Globalização: do pensamento


único á Consciência Universal. Rio

de Janeiro, Record S. Imprensa, 2001.

SILVA, Graciette Borges da. Criterios da Estratificação Social. São


Paulo, Atlas, 1981.

SUMICH, Jason. Construir uma nação: ideologias de modernidade da


elite moçambicana, 2008.

disponível em:
http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1218639505B4yEE8zd4Lm8
9HK9.pdf

125
Considerações Finais
Terminada a abordagem do módulo, acredita-se que tenha aprendido ou
aperfeiçoado diferentes aspectos que interferem na dinâmica das
sociedades. Igualmente, em função do aprendizado poderá entender
melhor as razões que levam à ocorrência de determinados assuntos
histórico-sociais, bem como as suas implicações nos seus respectivos
meios sociais. Espera-se que a inspiração em determinadas vivências
desde a antiguidade até à contemporaneidade contribua significativamente
na interpretação e análise dos fenómenos do dia-a-dia, desde o local,
nacional até ao transnacional. Que a sua intervenção nos assuntos da
sociedade, comunidade ou bairro espelhe uma mente aberta e iluminada
pela aprendizagem das diferentes lições discutidas ao longo do módulo.

126

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