Você está na página 1de 96

Governo Federal

2018 – Ministério do Desenvolvimento Social (MDS)

Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação (Sagi)


Departamento de Formação e Disseminação (DFD)

Secretaria Nacional de Renda de Cidadania (Senarc)


Departamento de Condicionalidades (Decon)

Conteudistas
Helbert de Sousa Arruda
Karoline Aires Ferreira

Apoio Técnico
Amaliair Cristine Atallah
Ana Carolina Carvalho
Gustavo André Bacellar Tavares de Sousa
Karoline Aires Ferreira
Marina Ramos Vasconcelos Rada
Natália Cerqueira de Sousal, Kenia Flor Tavares

Projeto Gráfico e Diagramação


Tarcísio da Silva

Capa
Gustavo André Bacellar Tavares de Sousa

É permitida a reprodução total ou parcial, desde que citada a fonte.


Venda proibida.

Manual de Aprendizagem
1ª edição – novembro de 2018

Distribuições e informações
Ministério do Desenvolvimento Social
Secretaria Nacional de Renda de Cidadania
Ed. The Union – SMAS – Setor de Múltiplas Atividades Sul
Trecho 3 – Lote 1 – Ao lado da Leroy Merlin - 2º Andar
CEP: 71215-300 – Brasília/DF
Endereço eletrônico: www.mds.gov.br
LISTA DE SIGLAS

BPC – Benefício de Prestação Continuada

CAS – Conselhos de Assistência Social

CEBAS – Certificação de Entidades Beneficentes de Assistência Social

CEMPRE – Cadastro Central de Empresa

CF/88 – Constituição Federal de 1988

CGVS – Coordenação Geral de Vigilância Socioassistencial

CIB – Comissão Intergestores Bipartite

CIT – Comissão Intergestores Tripartite

CNAS – Conselho Nacional de Assistência Social

CNEAS – Cadastro Nacional de Entidades de Assistência Social

COFINS – Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social

CONFOCO – Conselho Nacional de Fomento e Colaboração

CRAS – Centro de Referência da Assistência Social

CREAS – Centro de Referência Especializado da Assistência Social

CSLL – Contribuição Social sobre o Lucro Líquido

DGSUAS – Departamento de Gestão do SUAS

FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço

FNAS – Fundo Nacional de Assistência Social

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social

LA – Liberdade Assistida

LOAS – Lei Orgânica de Assistência Social

MDS – Ministério do Desenvolvimento Social


MP – Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão

MROSC – Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil

MSE – Medida Socioeducativa

NOB/SUAS – Norma Operacional Básica do SUAS

NOB-RH/SUAS – Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do SUAS

OSC – Organização da Sociedade Civil

OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público

PAEFI – Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos

PAIF – Proteção e Atendimento Integral à Família

PBF – Programa Bolsa Família

PEAS – Pesquisa das Entidades de Assistência Social Privadas sem Fins Lucrativos

PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil

PMIS – Procedimento de Manifestação de Interesse Social

PNAS – Política Nacional de Assistência Social

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PSC – Prestação de Serviços à Comunidade

SAGI – Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação

SCFV – Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos

SICONV – Sistema de Gestão de Convênios e Contratos de Repasse

SNAS – Secretaria Nacional de Assistência Social

STN – Secretaria do Tesouro Nacional

SUAS – Sistema Único de Assistência Social


SUMÁRIO
Lista de siglas...................................................................................................................................................................... 4

Introdução........................................................................................................................................................................... 11

Módulo I - Contextualização do MROSC no âmbito do SUAS........................................................................... 12

Aula 1. A Lei nº 13.019/2014 no contexto do MROSC e do SUAS................................................................ 13

1.1 A concepção da Lei nº 13.019/2014................................................................................. 13

1.2 A agenda do MROSC e seu processo de elaboração.............................................. 13

1.3 OS TRÊS EIXOS ORIENTADORES DO MROSC.......................................................... 14

1.4 Aplicação das novas regras.............................................................................................. 15

1.5 O poder normativo do CNAS e a observância do MROSC às normas


específicas das políticas setoriais.......................................................................................... 16

Aula 2. A estrutura de gestão do SUAS e seus normativos............................................................................ 16

2.1 O SUAS e as entidades e organizações de assistência social.............................. 16

2.2 O Sistema Único de Assistência Social (SUAS)........................................................ 17

2.3 Objetivos da assistência social........................................................................................ 18

2.4 Princípios................................................................................................................................. 18

2.5 Diretrizes da assistência social........................................................................................ 19

2.6 A Norma Operacional Básica – NOB/SUAS............................................................... 19

2.7 A Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS........................................................... 19

2.8 O princípio da gestão compartilhada no SUAS........................................................ 20

2.9 O público da política de assistência social................................................................. 21

2.10 Serviços e benefícios......................................................................................................... 22

2.11 Programas e projetos......................................................................................................... 24

2.12 O SUAS e as entidades e organizações de assistência social........................... 26


Aula 3. A celebração de parcerias no SUAS.......................................................................................................... 26

3.1 Pressupostos para celebração de parcerias no SUAS............................................ 26

3.1.1 Pressupostos da NOB/SUAS para a celebração de parcerias no SUAS....... 27

3.1.2 Pressupostos da NOB-RH/SUAS para a celebração


de parcerias no SUAS................................................................................................................ 27

3.1.3 Pressupostos da Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais para a


celebração de parcerias no SUAS......................................................................................... 28

3.1.4 Pressupostos da Lei nº 12.101/2009 para a celebração


de parcerias no SUAS................................................................................................................ 28

3.1.5 Pressupostos da Resolução CNAS nº 21/2016 que estabelece


requisitos para celebração de parcerias no SUAS.......................................................... 29

3.2 Entidades e organizações de assistência social....................................................... 29

3.2.1. Atendimento, assessoramento, defesa e garantia de direitos........................ 30

3.2.2 Rol de atividades de assessoramento e defesa e garantia de direitos........ 31

Módulo II - Principais questões do MROSC e suas implicações no SUAS...................................................... 38

Aula 4. Gestão administrativa e diretrizes para a efetivação das


parcerias no SUAS......................................................................................................................................................... 39

4.1 Criação e gestão administrativa das entidades e organizações


de assistência social.................................................................................................................... 39

4.2 Quem são e o que fazem as entidades e organizações


de assistência social.................................................................................................................... 40

4.3 O termo de colaboração, termo de fomento e acordo de cooperação......... 48

4.4 Utilização de modelos de documentos....................................................................... 51

4.5 O que é o CNEAS?............................................................................................................... 52

4.6 Diferença entre o CNEAS e a CEBAS........................................................................... 53

4.7 A regulamentação da relação público-privada e níveis de


reconhecimento das entidades de assistência social no SUAS................................. 53
Aula 5. Principais regras e questões sobre a celebração de
parcerias no SUAS......................................................................................................................................................... 54

5.1 Novidades na celebração das parcerias....................................................................... 55

5.2 A Resolução do CNAS nº 21/2016.................................................................................. 56

5.3 Principais questões do MROSC no contexto do SUAS.......................................... 56

5.3.1 Chamamento público....................................................................................................... 56

5.3.2 Territorialidade e abrangência do chamamento público.................................. 58

5.3.3 Aplicação da dispensa de chamamento público


aos serviços socioassistenciais............................................................................................... 59

5.3.4 Emendas parlamentares................................................................................................. 60

5.3.5 Subvenções......................................................................................................................... 62

5.3.6 Regras de utilização de recursos nas parcerias.................................................... 62

5.3.7 Pagamento de pessoal das entidades...................................................................... 62

5.3.8 Reprogramação de recursos do cofinanciamento federal............................... 63

5.3.9 Custos indiretos................................................................................................................. 63

5.3.10 Regra aplicável às parcerias com recursos federais,


estaduais e municipais............................................................................................................... 63

5.3.11 Possibilidade de aquisição de equipamentos e


materiais permanentes ou realização de reformas e
obras em parcerias com cofinanciamento federal......................................................... 63

5.3.12 Impossibilidade de uso do recurso do cofinanciamento


federal para o fomento às entidades de assistência social......................................... 64

5.4 Prestação de contas............................................................................................................ 65

5.5 Procedimento simplificado............................................................................................... 66

5.6 Garantia da publicidade das parcerias com respeito


à dignidade dos usuários.......................................................................................................... 66

5.7 Regras de transição............................................................................................................. 68


Módulo III - Atuação dos gestores do SUAS na agenda do MROSC................................................................ 70

Aula 6. O papel de cada ator na gestão do SUAS e as respectivas


implicações no MROSC............................................................................................................................................... 71

6.1 As fases das parcerias no novo modelo do MROSC................................................ 71

6.1.1 Planejamento........................................................................................................................ 72

6.1.2 Seleção e celebração........................................................................................................ 74

6.1.3 Execução............................................................................................................................... 77

6.1.3.1 O que é permitido pagar com os recursos da parceria?.................................. 78

6.1.3.2 O que não é permitido pagar com os recursos da parceria?........................ 79

6.1.3.3 Liberação de parcelas................................................................................................... 79

6.1.3.4 Formas de pagamento................................................................................................. 79

6.1.3.5 Prorrogação da parceria.............................................................................................. 80

6.1.4 Monitoramento e avaliação........................................................................................... 80

6.1.5 Prestação de contas......................................................................................................... 81

6.1.5.1 Os elementos da prestação de contas.................................................................... 82

6.1.5.2 Novos prazos................................................................................................................... 83

6.1.5.3 Resultado final................................................................................................................. 83

6.2 Gestores da política de assistência social (União, estados,


Distrito Federal e municípios)................................................................................................. 85

6.3 O papel dos conselhos de assistência social (CAS)............................................... 85

6.4 Entidades e organizações de assistência social....................................................... 87

6.5 A atuação em rede............................................................................................................... 87

6.6 Usuário da política de assistência social..................................................................... 89

Conclusão............................................................................................................................................................................. 89

Referências bibliográficas.............................................................................................................................................. 90
MENSAGEM AO PARTICIPANTE

Caro(a) participante,

Este é o curso do Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil


(MROSC) do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), oferecido pela
Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação (SAGI) e a Secretaria Nacio-
nal de Assistência Social (SNAS) do Ministério do Desenvolvimento Social
(MDS). Tem como objetivo capacitar agentes públicos das três esferas do
Governo, conselheiros da assistência social em suas respectivas esferas do
governo, representantes de usuários ou de organizações da sociedade civil,
representantes de entidades e organizações de assistência social, pelos tra-
balhadores do setor e usuários com interesse na instituição, implementação,
execução e monitoramento deste Marco Regulatório no âmbito do SUAS.

O curso é composto de três módulos, e cada um deles aborda conteúdos


com informações que podem ser aprofundadas por meio de leituras comple-
mentares ou consultas à bibliografia recomendada, possibilitando a amplia-
ção da sua visão sobre o tema, além de promover o crescimento pessoal e
profissional. Conheça, a seguir, estrutura do curso:

Curso do MROSC

Módulo I Módulo II Módulo III


Contextualização do Principais questões do Atuação dos gestores
MROSC no âmbito do MROSC e suas do SUAS na agenda
SUAS implicações no SUAS do MROSC

Aula 1 - A Lei nº Aula 4 - Gestão Aula 6 - O papel de cada


13.019/2014 administrativa e ator na gestão do SUAS
no contexto do diretrizes para a efetivação e as respectivas
MROSC e do SUAS das parcerias no SUAS implicações no MROSC

Aula 5 - Principais regras e


Aula 2 - A estrutura de questões sobre a
gestão do SUAS e seus celebração de parcerias
normativos no SUAS

Aula 3 - A celebração
de parcerias no
SUAS

Bons estudos!

10 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


INTRODUÇÃO

A Lei no 13.019/2014 (BRASIL, 2014c), de abrangencia nacional, conhecida


como Marco Regulatorio das Organizacoes da Sociedade Civil (MROSC), e
também como "Lei de Fomento e de Colaboração", entrou em vigor no dia
23 de janeiro de 2016 instituindo um novo regime jurídico para as relações
de parceria entre a administração pública e as organizações da sociedade
civil (OSCs). Isso significa que todas as parcerias celebradas pela União,
Distrito Federal e estados com as OSCs não poderão mais ser realizadas por
meio de convênios. Elas serão firmadas considerando os novos instrumen-
tos jurídicos e as novas regras, desde a seleção das propostas, passando
pela execução até a prestação de contas (BRASIL, 2013).

No âmbito do SUAS, a nova lei substitui, a partir de sua vigência, o mode-


lo de convênios existente, que se baseava na Lei nº 8.666/1993 (BRASIL,
1993a), e passa a disciplinar a forma como os entes devem selecionar e
financiar as ofertas das entidades e organizações de assistência social, con-
forme a Lei nº 8.742, de 1993 (BRASIL, 1993b).

O novo Marco Regulatório traz maior segurança jurídica para as entidades


e organizações de assistência social, que passam a contar com uma única
norma estruturante, aplicável às suas relações de parceria com os diversos
órgãos e entidades da administração pública federal, distrital, estadual e mu-
nicipal.

Vale a pena destacar que, no caso dos municípios, a Lei passou a vigorar a
partir de janeiro de 2017, considerando como organização da sociedade civil
as entidades privadas sem fins lucrativos, sejam associações, fundações, co-
operativas ou organizações religiosas.

Por fim, tendo em vista esse amplo contexto, ressalta-se que o MROSC con-
templa não apenas sua definição e concepção, mas também a descrição do
processo de aperfeiçoamento do ambiente jurídico e institucional relativo às
suas parcerias com as organizações da sociedade civil (OSCs).

módulo i | Contextualização do MROSC no âmbito do SUAS 11


MÓDULO I
CONTEXTUALIZAÇÃO DO MROSC
NO ÂMBITO DO SUAS
Este módulo tem como objetivo contextualizar o Marco Regulatório das Organiza-
ções da Sociedade Civil (MROSC) no âmbito do SUAS, apresentando e detalhan-
do a Lei nº 13.019/2014, bem como a estrutura de gestão do SUAS e a celebração
de parcerias nesse cenário.
AULA 1.
A Lei nº 13.019/2014 no contexto do MROSC
e do SUAS

Esta aula visa proporcionar a compreensão da criação da Lei nº 13.019/2014


(BRASIL, 2014c) como MROSC, analisar sua agenda e seu processo de ela-
boração, bem como identificar seus eixos orientadores: contratualização
com o poder público, sustentabilidade, certificação, conhecimento e gestão
de informações. Além disso, pretende promover a compreensão do Decreto
Federal regulamentador nº 8.726/2016 (BRASIL, 2016c) e o conhecimento
sobre a aplicação das novas regras e as mudanças concernentes a entidades
de assistência social e da administração pública.

1.1 A CONCEPÇÃO DA LEI Nº 13.019/2014

Os debates sobre a elaboração da Lei nº 13.019, de 31 de julho de 2014, se


deram no contexto da agenda do MROSC, coordenada pelo Governo Fe-
deral, atendendo também a demandas apresentadas por diversas organiza-
ções, coletivos, redes e movimentos sociais, que reivindicavam a valorização
e reconhecimento de seu trabalho, bem como o aprimoramento da relação
com a administração pública.

A Lei nº 13.019/2014 foi criada em razão da necessidade de o Estado brasi-


leiro exercer o aperfeiçoamento do seu ambiente jurídico e institucional em
relação a essas parcerias com as OSCs, com base nos princípios da demo-
cracia participativa e o dever de prestação de contas do Estado. Essa Lei,
comumente tratada como a “Lei de Fomento e de Colaboração”, instituiu
normas gerais para as parcerias entre a Administração Pública – direta e
indireta da União, dos estados, dos municípios e do Distrito Federal – e as
OSCs (BRASIL, 2014c).

1.2 A AGENDA DO MROSC E SEU PROCESSO DE ELABORAÇÃO

As ações do Marco Regulatório são parte da agenda estratégica do Governo


Federal que, em conjunto a sociedade civil, definiu três eixos orientadores:
Contratualização, Sustentabilidade e Certificação, e Conhecimento e Gestão
de informações.

Esses temas são trabalhados tanto na dimensão normativa – projetos de


lei, decretos, portarias – quanto na dimensão do conhecimento – estudos e
pesquisas, seminários, publicações, cursos de capacitação e disseminação
de informações sobre o universo das organizações da sociedade civil.

módulo i | Contextualização do MROSC no âmbito do SUAS 13


1.3 OS TRÊS EIXOS ORIENTADORES DO MROSC

A Lei nº 13.019/2014, conforme mencionado, conhecida como “Lei de Fo-


mento e de Colaboração”, institui normas gerais para as parcerias entre a
Administração Pública – direta e indireta da União, dos estados, dos municí-
pios e do Distrito Federal – e as OSCs. Foi criada, especialmente, pela neces-
sidade de o Estado brasileiro aperfeiçoar o ambiente jurídico e institucional
relativo às suas parcerias com as organizações da sociedade civil (OSCs),
com base nos princípios da democracia participativa e o dever de prestação
de contas do Estado (BRASIL, 2014c).

Como citado anteriormente, a agenda política do MROSC é ampla e está


estruturada em três eixos orientadores:

Contratualização com o
poder público

Agenda do
MROSC

Sustentabilidade e Conhecimento e gestão


certificação de informações

Conheça, a seguir, detalhes de cada um desses eixos:

 Contratualização com o poder público: diz respeito às parcerias com


a administração pública em geral, com especial enfoque à implementa-
ção da Lei nº 13.019/2014.

 Sustentabilidade e certificação: simplificação e desburocratização


do regime tributário (imunidades e isenções incidentes sobre as OSCs,
proposta de Simples Social, incentivos fiscais) e dos títulos e certificados
outorgados pelo Estado.

 Conhecimento e gestão de informações: produção de estudos e pes-


quisas, seminários, publicações, cursos de capacitação e disseminação
de informações sobre o universo das organizações da sociedade civil e
suas parcerias com a administração pública.

A partir da instituição dessa Lei, é possível dizer que o Estado brasileiro reforçou
seu papel fundamental de garantia de direitos e entrega de serviços públicos de
qualidade à sociedade e, ao mesmo tempo, reconheceu que conta plenamente
com o auxílio da sociedade civil para pautas que são de sua especialidade.

14 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


1.4 APLICAÇÃO DAS NOVAS REGRAS

Fundamentalmente, esse novo regime atinge o reconhecimento das peculia-


ridades das OSCs diferenciando-as dos órgãos públicos por meio de regras
próprias para a execução de projetos ou atividades de relevância pública em
parceria com o Estado.

O Decreto federal regulamentador nº 8.726, de 27 de abril de 2016 (BRASIL,


2016c), normatizou a Lei nº 13.019/2014 (BRASIL, 2014c) na esfera da admi-
nistração pública federal. Cada ente da federação pode ter sua própria regu-
lamentação, no entanto a falta dela não é motivo para não implementar as
diretrizes do MROSC, pois, na ausência de decreto local, o Decreto federal
pode ser aplicado subsidiariamente pelos estados, DF e municípios.

Conheça, a seguir, as mudanças provocadas por essas normatizações1.

O QUE MUDA PARA AS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL


• Regime jurídico próprio, mais adequado à forma de funcionamento das
organizações.

• Clareza sobre as regras a serem cumpridas, que, atualmente, podem


variar ano a ano, entre órgãos e entre entes.

• Permite o pagamento da equipe de trabalho e de despesas administrati-


vas, proporcionalmente ao uso no objeto da parceria.

• Esclarece sobre a formalização do:


– Termo de Colaboração: gerado a partir da iniciativa da administra-
ção para execução de políticas públicas que envolvem transferências
de recursos financeiros;
– Termo de Fomento: utilizado para fomentar ideias novas que con-
tribuam para as políticas públicas e permite a iniciativa da sociedade
civil, envolvendo transferência de recursos financeiros, e
– Acordo de Cooperação: parceria efetivada sem a realização de
transferências de recursos financeiros

O QUE MUDA PARA A Administração pública


• Organiza, em uma única lei nacional, o regramento do repasse de recur-
sos para OSC.

• Consolida regras como:


– chamamento público, garantindo transparência e oportunidades
iguais;
– exigência de “ficha limpa” para organizações e seus dirigentes;
– exigência de tempo de existência (três anos) e experiência no ob-
jeto da parceria.

• Possibilita prestação e análise de contas simplificadas para as parcerias


e cria a aprovação com ressalvas.

• Amplia as exigências de planejamento das parcerias com a sociedade civil. 1 Fonte: Menezes (2016, p. 54).

módulo i | Contextualização do MROSC no âmbito do SUAS 15


Vale destacar que, embora tenha caráter geral, a aplicação dessas mudanças deve
observar também as normas específicas das políticas públicas setoriais, a exem-
ATENÇÃO! plo da política de assistência social, conforme prevê o art. 2º-A da respectiva Lei:
A Lei nº 13.019/2014 entrou em
vigor no dia 23 de janeiro de 2016 Art. 2º-A. As parcerias disciplinadas nesta lei respeitarão, em todos
para a União, estados e DF, e no os seus aspectos, as normas específicas das políticas públicas seto-
dia 1º de janeiro de 2017 para os
riais relativas ao objeto da parceria e as respectivas instâncias de
municípios. Essa Lei reconhece
que as especificidades de cada pactuação e deliberação. (BRASIL, 2017).
política pública é fundamental
para que ocorra a parceria com
as OSCs, inaugurando, assim, um 1.5 O PODER NORMATIVO DO CNAS E A OBSERVÂNCIA DO
relacionamento público-privado
MROSC ÀS NORMAS ESPECÍFICAS DAS POLÍTICAS SETORIAIS
fundado em condições legalmen-
te estabelecidas, pautadas em
objetivos coletivos, na construção
O Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) foi instituído pela Lei Orgâni-
participativa e no reconhecimento
do papel das organizações como ca da Assistência Social – LOAS (Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993), como
parceiras complementares da órgão superior de deliberação colegiada, vinculado à estrutura do órgão da admi-
atuação estatal (BRASIL, 2014c).
nistração pública federal responsável pela coordenação da Política Nacional de
Assistência Social – PNAS (atualmente, o Ministério do Desenvolvimento Social
– MDS), cujos membros, nomeados pelo presidente da República, têm mandato
de dois anos, sendo permitida uma única recondução por igual período.

Na esfera da União, é o CNAS que está à frente do processo de viabilização


do controle social do SUAS, tendo como principais competências aprovar a
política pública de assistência social, normatizar e regular a prestação de ser-
viços de natureza pública e privada, zelar pela efetivação do SUAS, apreciar
e aprovar propostas orçamentárias, entre outras.
ATENÇÃO!
O CNAS, respaldado em seu poder Nesse sentido, destaca-se o art. 18, inciso II, da Lei nº 8.742/1993 (BRASIL,
normativo, editou diversas Reso-
luções normatizando a prestação
1993b), que prevê a competência do CNAS para “normatizar as ações e re-
das ofertas socioassistenciais indis- gular a prestação de serviços de natureza pública e privada no campo da
pensáveis, bem como no contexto
assistência social” (BRASIL, 1993).
do MROSC, no SUAS, destaca-se a
Resolução nº 109, de 2009 (BRASIL,
2009a), que aprovou a Tipificação
Nacional de Serviços Socioassisten- AULA 2.
ciais e a Resolução nº 21, de 2016,
que estabelece requisitos para
A estrutura de gestão do SUAS e seus
celebração de parcerias, conforme
a Lei nº 13.019, de 31 de julho
normativos
de 2014, entre o órgão gestor da
assistência social e as entidades ou
organizações de assistência social 2.1 O SUAS E AS ENTIDADES E ORGANIZAÇÕES DE ASSISTÊN-
no âmbito do SUAS.
CIA SOCIAL

Partindo do princípio da observância das especificidades das políticas públi-


cas para a consecução das parcerias a ideia é iniciar este estudo com uma
imersão na estrutura da política de assistência social e nos seus normativos.
Assim, esta aula apresenta a estrutura organizacional e a linha do tempo da

16 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


instituição do SUAS, descreve os objetivos, princípios e diretrizes da assistên-
cia social, identifica as normativas que dão sustentabilidade ao SUAS, como
a Norma Operacional Básica da Assistência Social – NOB/SUAS (BRASIL,
2012a). Também aponta o público da assistência social e como funciona o
princípio da gestão compartilhada, os níveis de Proteção Social Básica e Es-
pecial e os respectivos serviços. Além disso, descreve os programas, projetos,
serviços e benefícios socioassistenciais, e analisa o poder normativo do CNAS.

Destaca-se que é necessário compreender o SUAS e seu caráter descentrali-


zado e participativo, que tem por função a gestão do conteúdo específico da
assistência social no campo da proteção social brasileira.

2.2 O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (SUAS)

O SUAS é o modelo de organização da política de assistência social. As


ideias-chave do SUAS, como operacionalizador do direito à assistência so-
cial, foram deliberadas na IV Conferência Nacional de Assistência Social, em
2003. Depois disso, a PNAS de 2004, as NOB/SUAS de 2005 e 2012, e a Nor-
ma Operacional Básica de Recursos Humanos do SUAS (NOB-RH/SUAS)
de 2006 foram aprovadas pelo CNAS como resultado de um amplo debate
democrático com gestores, trabalhadores, entidades e usuários, e a LOAS
– Lei nº 8.742/1993 (BRASIL, 1993b), foi alterada pela Lei nº 12.435/2011.
Veja, a seguir, a linha do tempo das normativas que mostram a trajetória da
política de assistência social:

1988 Promulgada a Constituição Federal.


1990 Primeira redação da LOAS, que é vetada no Congresso Nacional.
1993 Aprovação da LOAS (Lei nº 8.742, de 1993).
1997 Editada a NOB.
1998 Editada nova NOB e aprovação da 1º PNAS.
Deliberação IV Conferência Nacional de Assistência Social pela implanta-
2003
ção do SUAS como modelo de gestão da AS.
Editada a PNAS, aprovada pela Resolução nº 145, de 15 de outubro de
2004
2004, do CNAS (Em vigor).
Edição de nova NOB após realização da V Conferência Nacional de Assis-
2005
tência Social.
Editada a NOB-RH/SUAS, aprovada pela Resolução nº 01, de 25 de janei-
2006
ro de 2007, do CNAS (Em vigor).
Aprovação do Plano Decenal do SUAS (2006-2016) na VI Conferência
2007
Nacional de Assistência Social.
Editada a Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais, aprovada
2009
pela Resolução nº 109, 11 de novembro de 2009, do CNAS (em vigor).
2011 Sanção da Lei nº 12.435 que promove alterações estruturais na LOAS.
Editada Nova Norma Operacional do SUAS, aprovada pela Resolução
2012
nº 33, de 2012, do CNAS (Em vigor).

módulo i | Contextualização do MROSC no âmbito do SUAS 17


O SUAS se organiza de modo a valorizar as competências e a capacidade de
gestão dos estados e municípios. Há instâncias que auxiliam na necessária
coordenação e cooperação entre os entes, como a Comissão Intergestores
ATENÇÃO! Tripartite (CIT), com representação da União, estados, DF e municípios, e as
Os conselhos de assistência social Comissões Intergestores Bipartite (CIB) em cada estado, com representação
são obrigatoriamente deliberati- dos respectivos estados e municípios.
vos e paritários entre governo e
sociedade civil e têm papel na nor-
matização das ações, na aprovação
2.3 OBJETIVOS DA ASSISTÊNCIA SOCIAL
do financiamento e dos critérios
de partilha dos recursos da área,
além do controle social de modo
mais amplo.
De acordo com a LOAS, em seu Art. 2º, a proteção social, que visa à garantia da
vida, à redução de danos e à prevenção da incidência de riscos, especialmente:

a. a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à


velhice;

b. o amparo às crianças e aos adolescentes carentes;

c. a promoção da integração ao mercado de trabalho;

d. a habilitação e reabilitação das pessoas com deficiência e a promo-


ção de sua integração à vida comunitária; e

e. a garantia de um salário-mínimo de benefício mensal à pessoa com


deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a
própria manutenção ou de tê-la provida por sua família.

Também tem por objetivos a vigilância socioassistencial, que analisa territo-


rialmente a capacidade protetiva das famílias e, nela, a ocorrência de vulne-
rabilidades, de ameaças, de vitimizações e danos; e a defesa de direitos, que
visa garantir o pleno acesso aos direitos no conjunto das provisões socioas-
sistenciais. Além disso, no seu objetivo de enfrentamento da pobreza, a as-
sistência social ocorre de forma integrada às políticas setoriais, garantindo
mínimos sociais e provimento de condições para atender contingências e
promovendo a universalização dos direitos sociais.

2.4 PRINCÍPIOS

No que diz respeito aos princípios, a assistência social é regida conforme o


Art. 4º da LOAS:

I. da supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as


exigências de rentabilidade econômica; da universalização dos direitos
sociais, a fim de tornar o destinatário da ação assistencial alcançável pe-
las demais políticas públicas;

18 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


II. do respeito à dignidade do cidadão, a sua autonomia e ao seu direi-
to a benefícios e serviços de qualidade, bem como à convivência familiar
e comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de necessi-
dade;

III. da igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discrimi-


nação de qualquer natureza, garantindo-se equivalência às populações
urbanas e rurais; e

IV. da divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos


assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo poder público dos ATENÇÃO!
critérios para sua concessão. Dentre os princípios citados, é
importante destacar que elevou-se
a qualidade das ofertas de serviços,
2.5 DIRETRIZES DA ASSISTÊNCIA SOCIAL bem como a equidade na garantia
da distribuição dessas ofertas.

A organização da assistência social, de acordo com a Constituição Federal de


1988 (BRASIL, 1988) e a LOAS, em seu Art. 5º, tem como base as seguintes
diretrizes:

I. descentralização político-administrativa para os estados, o Distrito


Federal e os municípios, e comando único das ações em cada esfera de
governo;

II. participação da população, por meio de organizações representa-


tivas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os
níveis;

III. primazia da responsabilidade do Estado na condução da política de


assistência social em cada esfera de governo.

2.6 A NORMA OPERACIONAL BÁSICA – NOB/SUAS

A NOB/SUAS organiza, para todo o território nacional, os princípios e dire-


trizes de descentralização da gestão e execução dos serviços, programas,
projetos e benefícios inerentes à PNAS (BRASIL, 2012a). Seu conteúdo
orienta o desempenho dos diferentes atores do sistema, definindo ainda o
papel dos entes federados e as responsabilidades das instâncias de pactua- SAIBA MAIS
ção e deliberação do sistema. A NOB/SUAS foi aprovada pelo
CNAS por meio da Resolução nº
33, de 12 de dezembro de 2012.
2.7 A LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL – LOAS Você pode acessá-la na íntegra no
endereço eletrônico:
<https://bit.ly/2nzjhdN>.

A abertura para a formalização da participação e do controle social se deu


com a promulgação da CF/88, Constituição esta que abriu espaços para o

módulo i | Contextualização do MROSC no âmbito do SUAS 19


pleno exercício do controle social por intermédio dos conselhos, conferên-
cias, plebiscitos, iniciativas populares e referendos.

Alguns desses espaços de conselhos e conferências tornaram-se fundamen-


tais para a execução das políticas sociais, não sendo diferente para a política
PARA REFLETIR de assistência social.
Você sabe o que é a LOAS?

Pois bem, a LOAS é a Lei que Sabemos que a assistência social, como citado anteriormente, passou a ter
organiza a política de assistência
caráter de política social na CF/88, mas sua efetiva regulamentação foi obti-
social no Brasil, que é um direito,
e este exige definição de normas da somente em 1993, por meio da LOAS (BRASIL, 1993).
e critérios objetivos. Segundo
Yazbek (2006), a LOAS estabelece
uma nova matriz para a assistência 2.8 O PRINCÍPIO DA GESTÃO COMPARTILHADA NO SUAS
social no país, passando a se cons-
tituir como uma política de respon-
sabilidade estatal, ao ponto que a Considerando que a gestão compartilhada se caracteriza pela interação con-
oferta de serviços, programas, pro-
jetos e benefícios socioassistenciais
junta entre as instâncias das esferas de governo, a iniciativa privada e/ou
deve ser garantida na perspectiva sociedade civil, são possíveis as ações de cooperação entre elas, buscando
do direito e do acesso aos que dela um modelo de gestão que tende a atingir o desenvolvimento sustentável por
necessitam.
meio da participação coletiva.

Sabe-se, então, que a gestão da PNAS é evidenciada pelo seu formato des-
centralizado, participativo e com o papel prioritário de responsabilidade do
Estado na sua condução, formalizando assim as seguintes diretrizes (BRA-
SIL, 2004a, não paginado):

a. relação intra e intergovernamental de complementaridade e coope-


ração;

b. gestão pactuada, intergovernamental, que operacionalize as políti-


cas e diretrizes definidas em conjunto com a sociedade por intermédio
das instâncias de controle social;

c. comando único, com autonomia, em cada esfera de governo, com


funções de articulação intersetorial, formulação da política de assistência
social e gestão de benefícios, serviços, programas e projetos.

De acordo com a definição presente no site do Ministério do Desenvolvi-


mento Social (BRASIL, 2015a),

O processo de gestão descentralizada do SUAS, conta também


com instâncias de pactuação: a Comissão Intergestores Tripartite
(CIT) e as Comissões Intergestores Bipartite (CIB). As Comissões
Intergestores constituem-se em espaços de articulação e expressão
das demandas dos gestores federais, estaduais e municipais, carac-
terizando-se como instâncias de negociação e pactuação de aspec-
tos operacionais da gestão do SUAS.

20 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


Veja, a seguir, a representação de como pode ser a gestão compartilhada e a ATENÇÃO!
relação existente entre os vários elementos de gestão, dentro de suas respec- A gestão compartilhada é compos-

tivas instâncias: ta por instâncias de negociação e


pactuação, de gestão, de delibe-
ração e controle social, bem como
Figura 3 – Esquema de gestão compartilhada de financiamento, em que cada
uma delas possui suas atribuições
Instâncias de Instâncias de dentro do contexto do SUAS.
Instâncias Instâncias de
Negociação Deliberação
de Gestão Financiamento
e Pactuação Controle Social

MDS Comissão Conselho Fundo Nacional


Intergestores Nacional (CNAS) (FNAS)
Tripartite
Secretarias
Estaduais
Conselhos Fundos
Estaduais (CEAS) Estaduais (FEAS)
Secretarias Comissão
Municipais Intergestores
Bipartite Conselho do Fundo do
Distrito Federal Distrito Federal
(CAS/DF) (FAS/DF)

Conselhos Fundos
Municipais Municipais
(CMAS) (FMAS)

Rede de Serviços Governamentais e não Governamentais de Assistência Social

Destinatários/Ususários

2.9 O PÚBLICO DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL PARA REFLETIR


E o que é vulnerabilidade
e riscos sociais?
• Vulnerabilidade pode se dar em decorrência
A PNAS define o público usuário da política de assistência social como cida-
da pobreza, privação (ausência de renda,
dãos e grupos que se encontram em situação de vulnerabilidade e riscos precário ou nulo acesso aos serviços públicos,
sociais (BRASIL, 2004a). entre outros) e/ou fragilização de vínculos
afetivos – relacionais e de pertencimento social
(discriminações etárias, étnicas, de gênero, por
Por essa razão, é essencial que os serviços se estruturem de modo a permitir deficiência, entre outras).
• Riscos sociais se caracterizam pela situação de
que o cidadão-usuário possa fazer escolhas, sendo parte do diagnóstico de
direitos violados ou ameaçados ou, ainda, pelo
seus problemas e da construção de caminhos de superação da situação de rompimento dos vínculos familiares ou comu-
vulnerabilidade ou risco, sempre que for possível. Embora caiba ao Estado nitários. Geralmente decorrem de situações de
abandono, maus tratos, abuso sexual, trabalho
garantir o direito, não cabe ao Estado tutelar ou definir o que é melhor para a infantil, cumprimento de medidas socioedu-
vida dos seus cidadãos. Não basta reconhecer o caráter universal do direito, cativas previstas no Estatuto da Criança e do

mas também a essencialidade do protagonismo do cidadão. Adolescente, entre outras.

A responsabilização estatal e a existência de um sistema único devem afir-


mar a dimensão relacional da cidadania. Nesse sentido, é incompatível com
o sentido de cidadania a designação de usuários desse sistema como desti-
natários, isto é, aqueles que recebem algo – e não cidadãos que têm direito
a bens e serviços. Além disso, é essencial que sejam garantidos espaço de
escuta, manifestação e participação no processo de gestão da política.

módulo i | Contextualização do MROSC no âmbito do SUAS 21


2.10 SERVIÇOS E BENEFÍCIOS

Os objetivos da assistência social previstos na LOAS são também tratados


como funções da política nacional de assistência social, conforme a PNAS
(BRASIL, 2004a) e a NOB/SUAS. Os serviços de assistência social operam
integralmente as funções de proteção social, de defesa de direitos e de vigi-
lância socioassistencial.

De acordo com a LOAS, entendem-se por serviços socioassistenciais as ati-


vidades continuadas que visem à melhoria de vida da população e cujas
ações, voltadas para as necessidades básicas, observem os objetivos, princí-
pios e diretrizes daquela Lei. Esta institui os dois principais serviços de res-
ponsabilidade estatal que estruturam o SUAS – o Serviço de Proteção e Aten-
dimento Integral à Família (Paif) e o Serviço de Proteção e Atendimento
Especializado a Famílias e Indivíduos (Paefi). Os demais serviços foram tipi-
ficados por deliberação do CNAS (BRASIL, 2018) – Tipificação Nacional dos
ATENÇÃO! Serviços Socioassistenciais – em atenção ao disposto no art. 18, II da LOAS,
A assistência social, em sua função que lhe atribui competência para normatizar as ações e regular a prestação
de proteção social e de acordo
dos serviços de natureza pública e privada no campo da assistência social.
com a PNAS e a NOB/SUAS, deve
garantir as seguranças de acolhida,
de renda, de convívio ou vivência A construção de seguranças sociais no âmbito da assistência social tem por
familiar, comunitária e social; de perspectiva identificar a particularidade e a especificidade do campo dessa
desenvolvimento da autonomia
individual, familiar e social e de so-
política social. A assistência social tem que dar conta de três grandes segu-
brevivência a riscos circunstanciais. ranças sociais, que agrupam as já mencionadas: a de acolhida, a de convívio
e a de sobrevivência (e renda).

A segurança de acolhida implica em que a assistência social crie condições


para que nenhum ser humano fique ao abandono ou ao relento por ausência
de acolhida, sobretudo em momentos climáticos ou de catástrofes que atin-
gem a condição humana. Um exemplo de segurança de acolhida é o serviço
de abrigo institucional para crianças e adolescentes em situação de abando-
no, previsto na Tipificação Nacional.

A segurança de convívio significa que se deve atuar para impedir o isola-


mento e o abandono, ou seja, gerar condições para que o convívio social
entre membros de uma família conte com o apoio na relação pais e filhos;
estimular atividades de convívio como exercício de sociabilidade, afirmação
da identidade e do reconhecimento social individual e coletivo em diversos
ciclos de vida nos territórios de vivência. Um exemplo de política de assis-
tência social que garante a segurança de convívio é o serviço de convivência
e fortalecimento de vínculos, previsto na Tipificação Nacional.

A segurança de sobrevivência (e de renda) é uma das mais típicas e dissemi-


nadas formas de presença da política de assistência social. Ela implica em
afiançar condições básicas de renda, meios materiais e cuidados enquanto

22 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


elementos que possibilitam a sobrevivência em diferentes situações limiares
vividas em uma sociedade que mercantiliza o acesso a bens e a condições
de sobrevivência. Enquanto as demais seguranças geralmente operam por
meio de serviços, a segurança de sobrevivência opera por meio de benefí-
cios, como os eventuais em virtude de nascimento, morte, vulnerabilidade
temporária ou calamidade pública (art. 22 da LOAS), o Benefício de Presta-
ção Continuada (BPC – art. 20 a 21A da LOAS) e o benefício do Programa
Bolsa Família (PBF – Lei nº 10.836, de 2004).

O quadro a seguir apresenta os serviços socioassistenciais tipificados, por


nível de proteção, com destaque para a possibilidade de serem ou não ofer-
tados por meio de parceria com entidades ou organizações de assistência
social:

Tipo de
NOME DO SERVIÇO QUEM OFERTA
Proteção
Serviço de Atendimento Integral Centro de Referência da Assis-
às Famílias (PAIF) tência Social (CRAS)
Proteção Serviço de Convivência e Fortale- CRAS, unidade estatal ou entida-
Social cimento de Vínculos (SCFV) de de assistência social
Básica Serviço de Proteção Social Básica
CRAS ou entidade de assistência
no Domicílio para pessoas com
social
Deficiência e Idosas
Serviço de Proteção e Atendi- Centro de Referência Especiali-
mento Especializado a Famílias e zado da Assistência Social (CRE-
Indivíduos (PAEFI) AS)
Serviço de Proteção Social a Ado-
lescentes em Cumprimento de
Medida Socioeducativa de Liber-
CREAS*
dade Assistida (LA) e de Presta-
ção de Serviços à Comunidade
(PSC)
Proteção CREAS ou entidade de assistên-
Serviço Especializado em Abor-
Social cia social, podendo ser também
dagem Social
Especial de ofertado pelo Centro POP
Média Com- CREAS, Centro Dia de Referên-
Serviço de Proteção Social Espe-
plexidade cia para Pessoa com Deficiên-
cial para Pessoas com Deficiên-
cia ou entidade de assistência
cia, Idosas e suas Famílias
social
Centro de Referência para Popu-
Serviço Especializado para Pes-
lação em Situação de Rua (Cen-
soas em Situação de Rua
tro POP)
Serviço de Acolhimento (Institu-
cional, em Repúblicas, Serviço Unidades de acolhimento estatal
de Acolhimento em Família Aco- ou entidade de assistência social
lhedora)

módulo i | Contextualização do MROSC no âmbito do SUAS 23


Tipo de
NOME DO SERVIÇO QUEM OFERTA
Proteção
Serviço de Acolhimento em Resi- Residências Inclusivas estatais
Proteção
dências Inclusivas ou entidade de assistência social
Social Espe-
Unidades de Acolhimento provi-
cial de Alta Serviço de Proteção em Situa-
sório estruturadas em casos de
Complexi- ções de Calamidade Públicas e
calamidade ou emergência estatal
dade de Emergências
ou entidade de assistência social
Fonte: Brasília ([2017?], p. 11).
* O Serviço de Proteção Social a Adolescentes em Cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade
Assistida (LA) e de Prestação de Serviços à Comunidade (PSC) é de responsabilidade estatal. No entanto,
sabe-se que há várias entidades de assistência social que possuíam parcerias/convênios para atuar com
esses adolescentes. Embora não possa haver descontinuidade do serviço, gestores e entidades devem
estar atentos à vedação de celebrar parceria cujo objeto envolva atividade exclusiva de Estado, de acordo
com o art. 40 da Lei nº 13.019/2014 (BRASIL, 2014c).

Já o quadro a seguir apresenta os benefícios continuados e eventuais exis-


tentes e quem pode ofertá-los:

BENEFÍCIOS QUEM OFERTA

Benefício de Prestação Continuada (BPC) União, diretamente

Benefícios Eventuais (natalidade, fune- Estados e municípios, conforme legis-


ral, calamidade pública e vulnerabilida- lação própria, diretamente ou por meio
des temporárias) de entidade de assistência social

Programa Bolsa Família (PBF) União, diretamente

SAIBA MAIS Fonte: Brasil ([2017?], p. 12).

Conheça mais sobre a Tipificação Nacional de


Serviços Socioassistenciais acessando o ende-
reço eletrônico: <https://bit.ly/2nzh7L9>.
Destaca-se, ainda, que a LOAS, ao tratar da garantia do direito do cidadão a
benefícios e serviços, prescreve que esses devem ser “de qualidade” (art. 4º,
inciso III). A garantia de qualidade dos serviços e benefícios depende direta-
mente da institucionalidade da política pública, da forma com a qual se arti-
cula com outras políticas, do seu financiamento, da infraestrutura dos seus
equipamentos, dos seus recursos humanos e, especialmente, da forma
como estrutura e garante a participação e mobilização dos cidadãos.

ATENÇÃO! 2.11 PROGRAMAS E PROJETOS


A Lei nº 13.019/2014 não utiliza os termos
serviços e benefícios. Em caso de parcerias
para a realização de serviços e benefícios Programas de assistência social são ações integradas e complementares
socioassistenciais, estes devem se enquadrar com objetivos, tempo e área de abrangência definidos para qualificar, in-
como atividade, conforme a nova Lei:
centivar e melhorar os benefícios e os serviços socioassistenciais (art. 24 da
Art. 2º[…]
III-A – atividade: conjunto de operações que se LOAS). Devem ser definidos pelos respectivos CAS, com prioridade para a
realizam de modo contínuo ou permanente, inserção profissional e social.
das quais resulta um produto ou serviço neces-
sário à satisfação de interesses compartilhados
O quadro a seguir apresenta os programas federais atualmente vigentes e
pela administração pública e pela organização
da sociedade civil. (BRASIL, 2014c). seu fundamento legal:

24 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


PROGRAMAS FEDERAIS
QUE ARTICULAM AÇÕES FUNDAMENTO LEGAL
INTERSETORIAIS
Resolução CNAS nº 18/2012
Acessuas Trabalho
Resolução CNAS nº 25/2016
Portaria Interministerial MTE/MDS/MEC/SDH
BPC Trabalho
nº 2, de 02/08/2012
Portaria Interministerial MEC/MDS/MS/SDH-
BPC na Escola
-PR nº 18/2007
Programa de Erradicação do Resolução CNAS nº 08/2013
Trabalho Infantil – PETI Portaria MDSA nº 318/2016
Portaria MDS nº 142/2012
Capacita SUAS
Resolução CNAS nº 8/2012
Decreto nº 8.869/2016
Programa Primeira Infância Resolução CNAS nº 19/2016
no SUAS Resolução CNAS nº 20/2016
Portaria MDS nº 295/2016
Fonte: Brasil ([2017?], p. 13).

A LOAS também prevê que a possibilidade de projetos de enfrentamento da


pobreza (art. 25), que compreendem a instituição de investimento econômi- ATENÇÃO!
co-social nos grupos populares, por meio da articulação e participação de A Lei nº 13.019/2014 difere da LOAS no que diz
diferentes áreas governamentais e em sistema de cooperação entre organis- respeito aos conceitos de “projeto” e “atividade”. Veja:

mos governamentais, não governamentais e da sociedade civil. Trata-se da • Projeto: conjunto de operações limitadas no
definição de uma estratégia de ação, num plano macro, que envolve vários tempo das quais resulta um produto destinado à
satisfação de interesses compartilhados pela admi-
atores para uma finalidade específica: o enfrentamento da pobreza. Não há, nistração pública e pela organização da sociedade
atualmente, uma regulamentação desses projetos. civil” (art. 2º, III-B). Essa definição se ocupa de um
plano micro do projeto/produto a ser concebido
dentro do escopo de cada parceria com limitação
Considerando essas definições é necessário esclarecer os conceitos estrutu- temporal, ou seja, se diferenciando do conceito de
atividade descrito, que tem natureza continuada
rantes que se ocupam de um plano micro para o desenvolvimento de servi-
ou permanente.
ços, programas e projetos socioassistenciais. • Atividade: conjunto de operações que se realizam
de modo contínuo ou permanente, das quais resul-
CONCEITO PLANO ta um produto ou serviço necessário à satisfação
O QUE É?
ESTRUTURANTE MICRO de interesses compartilhados pela administração
pública e pela organização da sociedade civil. (art.
É a padronização das especificações das formas
Serviços 2º, III-A). Em caso de parceria para a realização de
Parametrização de oferta dos serviços e programas socioassisten- serviços, programas e benefícios socioassistenciais,
Programas
ciais. estes devem se enquadrar como atividade.
São aquelas ofertas socioassistenciais que não
podem sofrer solução de continuidade e consti-
tuem essencialmente os serviços socioassisten-
ciais, instituídos por meio da Tipificação Nacional
Atividades
aprovada pela Resolução nº 109 (BRASIL, 2009a), Serviços
continuadas
de 11 de novembro de 2009, que, nos termos da
LOAS, a partir da sua capacidade instalada, visam
a melhoria da vida da população e cujas ações
estão voltadas às necessidades básicas.

módulo i | Contextualização do MROSC no âmbito do SUAS 25


CONCEITO PLANO
O QUE É?
ESTRUTURANTE MICRO
É o tempo de existência definido, ou lapso
temporal delimitado para ofertas de programa
Limite Programas
ou projetos socioassistenciais, podendo ter sua
Temporal Projetos
vigência atrelada à existência da condição que os
instituiu.
É a forma de execução dos serviços, programas e
Oferta estatal
projetos socioassistencias, podendo ser ofertadas Serviços
ou privada
(entidade de diretamente pelo estado ou indiretamente por Programas
assistência meio de parceria com entidades de assistência Projetos
social)
social.

2.12 O SUAS E AS ENTIDADES E ORGANIZAÇÕES DE ASSISTÊN-


CIA SOCIAL

As organizações da sociedade civil concernentes ao SUAS são denominadas


na LOAS como entidades de assistência social e, nos termos do art. 3º, com-
preendem aquelas sem fins lucrativos que, isoladas ou cumulativamente,
prestam atendimento e assessoramento aos beneficiários abrangidos por
esta Lei, bem como as que atuam na defesa e garantia de direitos.

O funcionamento dessas entidades de assistência social depende de prévia


inscrição nos CAS dos municípios ou Distrito Federal.

Além disso, a LOAS preconiza que as parcerias com as entidades de assis-


SAIBA MAIS tência social no âmbito do SUAS devem estar em conformidade com os Pla-
Conheça outras normativas nacio-
nais que estabelecem diretrizes e nos de Assistência Social.
procedimentos para as entidades
de assistência social, tais como
o Decreto nº 6.308, de 2007 AULA 3.
(BRASIL, 2007), e a Resolução nº
14, de 2014, do CNAS A celebração de parcerias no SUAS

Nesta aula vamos compreender os pressupostos para celebração de parce-


rias no SUAS, descrever as entidades e organizações de assistência social e
identificar as categorias das entidades, entre atendimento, assessoramento
e defesa e garantia de direitos, bem como conhecer as atividades de asses-
soramento e defesa e garantia de direitos.

3.1 PRESSUPOSTOS PARA CELEBRAÇÃO DE PARCERIAS NO SUAS

As organizações da sociedade civil podem celebrar parcerias do SUAS com os


estados e municípios desde que atendam aos requisitos previstos nas norma-
tivas da políticas e, para isso, devem ser atendidos alguns pressupostos.

26 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


Constituem-se pressupostos as normativas nacionais que regem as ofertas
socioassistenciais sendo que as principais são a: NOB/SUAS, NOB-RH/
SUAS, Tipificação Nacional, Lei nº 12.101/2009 (BRASIL, 2009b) e Resolu-
ção CNAS nº 21/2016 BRASIL, 2016b).

3.1.1 PRESSUPOSTOS DA NOB/SUAS PARA A CELEBRAÇÃO DE PARCE-


RIAS NO SUAS

Os pressupostos da NOB/SUAS são:

 União, estados, Distrito Federal e municípios devem garantir que a


peça orçamentária esteja de acordo com os planos de assistência social e
o pacto de aprimoramento, conforme prevê o inciso XIII do art. 12;

 garantir e organizar a oferta dos serviços socioassistenciais nos ter-


mos da Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, conforme
inciso XVII do art. 12;

 zelar pela execução direta ou indireta dos recursos transferidos pela


União, inclusive no que tange à prestação de contas, conforme prevê o
inciso XVIII dos arts. 15, 16 e 17; e

 preencher o sistema de cadastro nacional de entidades e organiza-


ções de assistência social, conforme inciso XIX dos arts. 16 e 17.

3.1.2 PRESSUPOSTOS DA NOB-RH/SUAS PARA A CELEBRAÇÃO DE PAR-


CERIAS NO SUAS

A NOB-RH/SUAS (BRASIL, 2006) constitui parâmetro único para gestão do


trabalho na assistência social, englobando todos os órgãos gestores e exe-
cutores das ofertas socioassistenciais, incluindo as entidades de assistência
social, conforme prevê seu item 17 do Capítulo I.

17. Os princípios e diretrizes contidos na presente NOB/RH-SUAS


têm por finalidade primordial estabelecer parâmetros gerais para a
gestão do trabalho a ser implementada na área da Assistência So- PARA REFLETIR
E o que são as equipes de refe-
cial, englobando todos os trabalhadores do SUAS, órgãos gestores rência?
e executores de ações, serviços, programas, projetos e benefícios da Equipes de referência são aquelas
constituídas por servidores efetivos
Assistência Social, inclusive quando se tratar de consórcios públicos e
responsáveis pela organização
entidades e organizações da assistência social (BRASIL, 2006, p. 13). e oferta de serviços, programas,
projetos e benefícios de proteção
O plano de trabalho da parceria deverá contar com o detalhamento das equipes social básica e especial, levando-se
em consideração o número de
de trabalho em conformidade com a NOB-RH/SUAS (equipes de referência) famílias e indivíduos referenciados,
especificando também os valores de impostos, contribuições sociais, salários, o tipo de atendimento e as aquisi-

férias, décimo terceiro salário, verbas rescisórias e demais encargos sociais. ções que devem ser garantidas aos
usuários.

módulo i | Contextualização do MROSC no âmbito do SUAS 27


3.1.3 PRESSUPOSTOS DA TIPIFICAÇÃO NACIONAL DOS SERVIÇOS SO-
CIOASSISTENCIAIS PARA A CELEBRAÇÃO DE PARCERIAS NO SUAS

Os serviços socioassistenciais se encontram tipificados/padronizados pela


Resolução CNAS nº 109/2009 BRASIL, 2009a).

ATENÇÃO! A tipificação é uma norma geral do SUAS de observância obrigatória pelos inte-
O art. 40 da Lei nº 13.019/2014 veda a
grantes do Sistema. A tipificação organiza os serviços socioassistenciais por
celebração de parcerias que tenham por
objeto, envolvam ou incluam, direta ou níveis de complexidade do SUAS: Proteção Social Básica e Proteção Social Es-
indiretamente, delegação das funções pecial de Média e Alta complexidade, conforme apresentou-se anteriormente.
de regulação, de fiscalização, de exer-
cício do poder de polícia ou de outras
atividades exclusivas de Estado. Assim,
Para a celebração das parcerias o órgão gestor deverá dar destaque aos itens:
as ofertas socioassistenciais classificadas
como públicas e estatais e, portanto,
compreendidas como atividades exclu-
Específica o lócus de oferta do Ser-
sivas de Estado, não podem constituir Unidade viço e, portanto, a possibilidade de
objeto de parceria (BRASIL, 2014c).
prestação por Unidade Referência.

Referência a procedência dos usuá-


Abrangência
rios e o alcance do Serviço.

A Lei no 13.019/2014, em seu artigo 24, §2o, inciso II, prevê a possibilidade
do estabelecimento de cláusula no chamamento público que delimite o ter-
DICA ritório ou abrangência da prestação de atividades ou da execução de proje-
O edital de chamamento poderá
tos, conforme estabelecido nas políticas setoriais (BRASIL, 2014c).
contar com cláusula que restrinja
territorialmente para atender espe-
cificidade da política de assistência 3.1.4 PRESSUPOSTOS DA LEI Nº 12.101/2009 PARA A CELEBRAÇÃO DE
social. PARCERIAS NO SUAS

O art. 18, §4º, da Lei nº 12.101/2009 (BRASIL, 2009b), prevê que as entida-
des certificadas como de assistência social terão prioridade na celebração
de parcerias com o poder público para a execução de programas, projetos e
ações de assistência social.

É importante esclarecer que a priorização da Lei nº 12.101/2009 não


deve restringir o caráter competitivo da seleção, preconizado pela Lei no
13.019/2014, em seu artigo 24, §2º.

Art. 24. Exceto nas hipóteses previstas nesta Lei, a celebração de

ATENÇÃO! termo de colaboração ou de fomento será precedida de chama-


mento público voltado a selecionar organizações da sociedade civil
Da mesma forma não deverá ser exigido
como condição para formalização das que tornem mais eficaz a execução do objeto. (BRASIL, 2014c).
parcerias que a entidade ou organização
de assistência social possua Certificação Entende-se que a CEBAS não se trata de um nível de reconhecimento obriga-
de Entidade Beneficente de Assistência
Social (CEBAS), sob pena de ferir o
tório no contexto SUAS, mas uma condição opcional àquelas entidades que
caráter competitivo da seleção. desejam a isenção tributária. Além disso, estabelecer essa Certificação como
requisito seria privilegiar somente as entidades com financiamento indireto
no acesso de recurso direto.

28 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


3.1.5 PRESSUPOSTOS DA RESOLUÇÃO CNAS Nº 21/2016 QUE ESTABE-
LECE REQUISITOS PARA CELEBRAÇÃO DE PARCERIAS NO SUAS

A Resolução nº 21, de 2016 (BRASIL, 2016b), estabelece requisitos para a


celebração de parcerias entre o órgão da assistência social e a entidade ou
organização de assistência social, quais sejam:

I. ser constituída em conformidade com o disposto no art. 3º da Lei nº


8.742, de 7 de dezembro de 1993;

II. estar inscrita no respectivo conselho municipal de assistência social


ou no conselho de assistência social do Distrito Federal, na forma do art.
9º da Lei nº 8.742, de 1993;

III. integrar o Cadastro Nacional de Entidades de Assistência Social


(CNEAS), de que trata o inciso XI do art.19 da Lei nº 8.742/1993, na for-
ma estabelecida pelo Ministério do Desenvolvimento Social (MDS).

Essa Resolução também regulamenta a hipótese de dispensa de que trata o


inciso VI do art. 30 da Lei nº 13.019/2014 (BRASIL, 2014c), aplicando àque-
las entidades ou organizações de assistência social que cumprem cumulati-
vamente os requisitos necessários para celebração e quando:

I. o objeto do plano de trabalho for a prestação de serviços socioassis-


tenciais regulamentados; e

II. a descontinuidade da oferta pela entidade apresentar dano mais gra-


voso à integridade do usuário, que deverá ser fundamentada em parecer
técnico, exarado por profissionais de nível superior das categorias reco-
nhecidas na Resolução CNAS nº 17, 20 de junho de 2011 (BRASIL, 2011a).

Nos casos de ampliação da capacidade de oferta do órgão gestor a reali-


zação do chamamento público é regra, mesmo para aquelas entidades ou
organizações de assistência social que possuam parcerias em vigor.

O credenciamento prévio necessário para aplicar dispensa de chamamento


público tratado no inciso VI do art. 30 da Lei nº 13.019/2014 (BRASIL, 2014c), ATENÇÃO!
passa a ser compreendido como o cadastro no CNEAS. O CNEAS é uma ferramenta de
gestão, que armazena informa-
ções sobre as organizações e ofer-
3.2 ENTIDADES E ORGANIZAÇÕES DE ASSISTÊNCIA SOCIAL tas socioassistenciais com atuação
no território nacional, alimentado
pelo gestor público.

Entidades de Assistência Social são pessoas jurídicas de direito privado sem


fins lucrativos, criadas sob a forma de associação, fundação ou organização
religiosa, de acordo com as prescrições do Código Civil brasileiro – Lei nº
10.406, de 2002 (BRASIL, 2002b).

módulo i | Contextualização do MROSC no âmbito do SUAS 29


As entidades e organizações de assistência social estão previstas no art. 3º
da LOAS. Pela primeira vez as entidades e organizações de assistência social
tiveram um tratamento legal que as diferenciou das entidades certificadas
como beneficentes ou filantrópicas – regidas anteriormente pelo art. 55 da
Lei nº 8.212/1991 (BRASIL, 1991) e pelo Decreto nº 2.536/1998 (BRASIL,
1998a) e, atualmente, pela Lei nº 12.101/2009 (BRASIL, 2009b) –, dando a
elas um papel relevante para a estruturação e composição da rede prestado-
ra de serviços socioassistenciais, sob coordenação dos órgãos gestores da
política de assistência social.

3.2.1. ATENDIMENTO, ASSESSORAMENTO, DEFESA E GARANTIA DE


DIREITOS

A Resolução CNAS nº 191/2005 (BRASIL, 2005), que regulamenta o artigo 3º


da LOAS, estabelece e organiza as entidades de assistência social que prestam
atendimento, assessoramento e atuam na defesa e garantia de direitos. Fazem
parte deste contexto as organizações constituídas sem fins lucrativos, que rea-
lizam, de forma continuada, serviços, programas e projetos de proteção social
e de assessoramento, e defesa de direitos socioassistenciais. Dado o exposto,
a respectiva Resolução amplia o conceito de entidades de assistência social
para o campo do assessoramento, defesa e garantia de direitos.

Art. 3. As entidades e organizações de assistência social deverão ser


inscritas nos Conselhos Municipais de Assistência Social ou Conse-
lho de Assistência Social do Distrito Federal – DF para seu regular
funcionamento, cabendo aos referidos Conselhos a fiscalização das
entidades, independentemente do recebimento direto de recursos
da União, Estados, DF e Municípios. (BRASIL, 2005, p. 3).

No âmbito do SUAS, as entidades e organizações de assistência social, além


de prestarem atendimento, assessoramento, defesa e garantia de direitos ao
público da assistência social, devem:

 definir expressamente, em seus atos constitutivos, sua natureza,


objetivos, missão e público-alvo, de acordo com a LOAS;

 garantir a universalidade do atendimento, independentemente de


contraprestação do usuário (gratuidade);

 ter finalidade pública e transparência nas suas ações;

 estar inscrita nos CAS para regular funcionamento (art. 9º da


LOAS); e

 estar cadastrada no CNEAS.

30 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


Dessa forma, as entidades e organizações de assistência social podem ser:

 de atendimento: quando prestam serviços, executam programas ou


projetos ou concedem benefícios;

 de assessoramento: quando atuam para o fortalecimento dos mo-


vimentos sociais e da organização de usuários, formação e capacitação
de lideranças; e

 de defesa e garantia de direitos: quando voltadas para a defesa e


efetivação dos direitos socioassistenciais, construção de novos direitos,
promoção da cidadania, enfrentamento das desigualdades sociais e arti-
culação com órgãos públicos de defesa de direitos.

3.2.2 ROL DE ATIVIDADES DE ASSESSORAMENTO E DEFESA E GARAN-


TIA DE DIREITOS

O SUAS reconhece a primazia das organizações de assistência social no


campo do assessoramento, defesa e garantia de direitos, considerando que
elas gozam de autonomia e possuem liberdade de organização para o forta-
lecimento da democracia.

Por essa razão, o CNAS, na Resolução nº 27/2011 (BRASIL, 2011b), enten-


deu mais adequado caracterizá-las do que tipificá-las. Estabeleceu conceitos
e parâmetros para o reconhecimento e a pertinência das atividades de asses-
soramento e de defesa e garantia de direitos, no campo socioassistencial,
que devem estar voltadas para a aquisição de conhecimentos, habilidades
e desenvolvimento de potencialidades que contribuam para o alcance da
autonomia pessoal e social dos usuários da assistência social e facilitem sua
convivência familiar e comunitária.

Em seu Art. 2º, a respectiva Resolução estabelece o seguinte:

Art. 2º As atividades de assessoramento e de defesa e garantia de


direitos compõem o conjunto das ofertas e atenções da política
pública de assistência social articuladas à rede socioassistencial,
por possibilitarem a abertura de espaços e oportunidades para o
exercício da cidadania ativa, no campo socioassistencial, a criação
de espaços para a defesa dos direitos socioassistenciais, bem como
o fortalecimento da organização, autonomia e protagonismo do
usuário. (BRASIL, 2011b, p. 2-3).

Além disso, as ofertas compreendidas no campo do atendimento devem


buscar a articulação com as ações de defesa e garantia de direitos, para
sua qualificação ética e política no que diz respeito à política de assistência
social.

módulo i | Contextualização do MROSC no âmbito do SUAS 31


Para isso, a referida resolução aprovou uma matriz, representada logo abaixo,
que relaciona um rol de atividades com os seus objetivos, público e resultados
esperados, para auxiliar gestores e entidades na caracterização desse campo.

ASSESSORAMENTO, DEFESA E GARANTIA DE DIREITOS


RESULTADOS/
ATIVIDADE OBJETIVOS PÚBLICO-ALVO IMPACTOS ESPE-
(O QUÊ) (PARA QUÊ) (PARA QUEM) RADOS (CON-
TRIBUIR PARA)
1. Assessora- a) Fortalecer a parti- Prioritariamen- a) Fortalecimento
mento polí- cipação, autonomia te famílias e da cidadania dos
tico, técnico, e protagonismo de indivíduos em usuários;
administrativo e movimentos sociais, situação de
financeiro. organizações e grupos vulnerabilidade, b) qualificação da
populares e de usu- riscos pessoais intervenção e pro-
ários; e sociais, grupos tagonismo dos
e organizações sujeitos nos espa-
b) identificar as poten- de usuários e ços de participa-
cialidades, mobilizar movimentos ção democrática,
e organizar grupos e sociais, bem como conselhos,
lideranças locais, por como entidades comissões locais,
meio de sua articu- com atuação conferências, fó-
lação com a política preponderante runs, audiências
de assistência social ou não na área públicas, entre
e demais políticas de assistência outros;
públicas; social. c) efetivação de
c) subsidiar a interven- direitos e amplia-
ção nas instâncias e ção do acesso à
espaços de participa- proteção social;
ção democrática;
d) qualificação
d) fortalecer e quali- dos serviços,
ficar as entidades e programas, pro-
organizações quanto jetos e benefícios
ao seu planejamento, ofertados pela
captação de recursos, rede socioassis-
gestão, monitoramen- tencial;
to, avaliação, oferta e
execução dos serviços, e) fortalecimento
programas, projetos e autonomia dos
e benefícios socioas- sujeitos, grupos e
sistenciais e para sua comunidades por
atuação na defesa e meio das redes
garantia de direitos. de produção soli-
dária regional/lo-
cal e da utilização
de tecnologias
inovadoras;
f) socialização
dos conhecimen-
tos produzidos
junto aos diferen-
tes atores da polí-
tica de assistência
social;
g) incidência
na redução da
pobreza e demais
vulnerabilidades e
riscos sociais.

32 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


ASSESSORAMENTO, DEFESA E GARANTIA DE DIREITOS
RESULTADOS/
ATIVIDADE OBJETIVOS PÚBLICO-ALVO IMPACTOS ESPE-
(O QUÊ) (PARA QUÊ) (PARA QUEM) RADOS (CON-
TRIBUIR PARA)
2. Sistematiza- a) Fomentar e apoiar Famílias e Os mesmos
ção e dissemina- projetos de inclusão indivíduos em resultados/im-
ção de projetos cidadã, com base nas situação de pactos esperados
inovadores de vulnerabilidades e vulnerabilidade, na atividade 1.
inclusão cidadã, riscos identificados no riscos pessoais e
que apresen- diagnóstico socio- sociais, grupos e
tem soluções territorial, que visem organizações de
alternativas o enfrentamento da usuários e movi-
para enfrentar a pobreza e o desen- mentos sociais.
pobreza, a serem volvimento social e
incorporadas econômico
nas políticas
públicas.

ASSESSORAMENTO, DEFESA E GARANTIA DE DIREITOS


RESULTADOS/
ATIVIDADE OBJETIVOS PÚBLICO-ALVO IMPACTOS ESPE-
(O QUÊ) (PARA QUÊ) (PARA QUEM) RADOS (CON-
TRIBUIR PARA)
3. Estímulo a) Favorecer a inserção Famílias e Os mesmos
ao desenvolvi- no mundo do traba- indivíduos em resultados/im-
mento integral lho, por meio da iden- situação de pactos esperados
sustentável das tificação de potencia- vulnerabilidade, na atividade 1.
comunidades, lidades do território, riscos pessoais e
cadeias organi- desde o planejamento, sociais, grupos e
zativas, redes de estruturação, monito- organizações de
empreendimen- ramento e avaliação usuários e movi-
tos e à geração das ações de inclusão mentos sociais.
de renda. produtiva em âmbito
local e da articulação
com o sistema público
do trabalho, emprego
e renda;
b) potencializar o
desenvolvimento do
empreendedorismo
e da capacidade de
autogestão, na pers-
pectiva da economia
solidária.

módulo i | Contextualização do MROSC no âmbito do SUAS 33


ASSESSORAMENTO, DEFESA E GARANTIA DE DIREITOS
RESULTADOS/
ATIVIDADE OBJETIVOS PÚBLICO-ALVO IMPACTOS ESPE-
(O QUÊ) (PARA QUÊ) (PARA QUEM) RADOS (CON-
TRIBUIR PARA)
4. Produção e a) Ampliar o conheci- Prioritariamen- Os mesmos
socialização mento público sobre a te famílias e resultados/im-
de estudos e política de assistência indivíduos em pactos esperados
pesquisas que social; situação de na atividade 1.
ampliem o co- vulnerabilidade
nhecimento da b) incorporar o co- e riscos pessoais
sociedade sobre nhecimento produ- e sociais, grupos
seus direitos de zido pela sociedade e organizações
cidadania e da sobre a defesa dos de usuários,
política de as- direitos de cidadania, movimentos
sistência social, na perspectiva da in- sociais, bem
bem como dos tersetorialidade, como como gestores,
gestores públi- referência na formu- trabalhadores e
cos, trabalhado- lação, implementação entidades com
res e entidades e avaliação da política atuação prepon-
com atuação de assistência social; derante ou não
preponderante c) subsidiar a formu- na assistência
ou não na as- lação, implementação social.
sistência social, e avaliação da política
subsidiando-os de assistência social.
na formulação,
implementação
e avaliação da
política de assis-
tência social.

ASSESSORAMENTO, DEFESA E GARANTIA DE DIREITOS


RESULTADOS/
ATIVIDADE OBJETIVOS PÚBLICO-ALVO IMPACTOS ESPE-
(O QUÊ) (PARA QUÊ) (PARA QUEM) RADOS (CON-
TRIBUIR PARA)
5. Promoção da a) Fortalecer o prota- Famílias e Os mesmos
defesa de direi- gonismo dos usuários indivíduos em resultados/im-
tos já estabele- na defesa dos seus situação de pactos esperados
cidos por meio direitos de cidadania; vulnerabilidade e na atividade 1.
de distintas riscos pessoais e
formas de ação b) acessar⁄promover sociais, grupos e
e reivindicação os direitos de cidada- organizações de
na esfera política nia já estabelecidos. usuários e movi-
e no contexto mentos sociais.
da sociedade,
inclusive pela
articulação com
órgãos públicos
e privados de de-
fesa de direitos.

34 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


ASSESSORAMENTO, DEFESA E GARANTIA DE DIREITOS
RESULTADOS/
ATIVIDADE OBJETIVOS PÚBLICO-ALVO IMPACTOS ESPE-
(O QUÊ) (PARA QUÊ) (PARA QUEM) RADOS (CON-
TRIBUIR PARA)
6. Reivindicação a) Buscar o reconhe- Famílias e Os mesmos
da construção de cimento de novos indivíduos em resultados/im-
novos direitos direitos de cidadania situação de pactos esperados
fundados em no- e acesso à proteção vulnerabilidade, na atividade 1.
vos conhecimen- social. riscos pessoais e
tos e padrões de sociais, grupos e
atuação reconhe- organizações de
cidos nacional usuários e movi-
e internacional- mentos sociais.
mente.

ASSESSORAMENTO, DEFESA E GARANTIA DE DIREITOS


RESULTADOS/
ATIVIDADE OBJETIVOS PÚBLICO-ALVO IMPACTOS ESPE-
(O QUÊ) (PARA QUÊ) (PARA QUEM) RADOS (CON-
TRIBUIR PARA)
7. Formação po- a) Promover acesso a Famílias e Os mesmos
lítico-cidadã de conhecimento, meios, indivíduos em resultados/im-
grupos popula- recursos e metodo- situação de pactos esperados
res, nela incluin- logias direcionadas vulnerabilidade, na atividade 1.
do capacitação ao aumento da riscos pessoais e
de conselheiros/ participação social e sociais, grupos e
as e lideranças ao fortalecimento do organizações de
populares. protagonismo dos usuários, movi-
usuários na reivindi- mentos sociais e
cação dos direitos de conselheiros.
cidadania.

ASSESSORAMENTO, DEFESA E GARANTIA DE DIREITOS


RESULTADOS/
ATIVIDADE OBJETIVOS PÚBLICO-ALVO IMPACTOS ESPE-
(O QUÊ) (PARA QUÊ) (PARA QUEM) RADOS (CON-
TRIBUIR PARA)
8. Desenvolvi- a) Ampliar o acesso Famílias e Os mesmos
mento de ações da população em geral indivíduos em resultados/
de monitora- às informações sobre situação de impactos
mento e controle a implementação da vulnerabilidade, esperados na
popular sobre política de assistência e riscos pessoais atividade 1.
o alcance de social; e sociais, grupos
direitos socio- e organizações
assistenciais e b) qualificar as inter- de usuários e
a existência de venções nos espaços movimentos
suas violações, de participação demo- sociais.
tornando públi- crática;
cas as diferentes c) aferir se a política
formas em que de assistência está em
se expressam e consonância com as ATENÇÃO!
requerendo do demandas da socie- O termo “atividade”, aqui, não foi
poder público dade.
utilizado no sentido específico que
serviços, progra-
mas e projetos lhe deu a Lei nº 13.019, de 2014,
de assistência como visto anteriormente. Na re-
social. solução do CNAS, trata-se de uma
expressão mais genérica, sinônimo
de ação ou conjunto de ações.

módulo i | Contextualização do MROSC no âmbito do SUAS 35


Como visto, as entidades de atendimento são aquelas cujas ofertas são tipi-
ficadas ou regulamentadas pelo governo. Via de regra, as parcerias com elas
serão propostas pela administração pública e deverão ser formalizadas por
meio de Termo de Colaboração. Já as entidades de assessoramento e defesa
de direitos atuam com temas cuja primazia é da sociedade civil e, geral-
mente, são elas que detêm conhecimento para propor parcerias ao governo.
Nesse segundo caso, estaremos diante de uma parceria mediante termo de
fomento.

36 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


módulo i | Contextualização do MROSC no âmbito do SUAS 37
MÓDULO II
PRINCIPAIS QUESTÕES DO MROSC
E SUAS IMPLICAÇÕES NO SUAS
Este módulo é composto de duas aulas. A primeira apresenta a gestão administra-
tiva e os aspectos que envolvem a efetivação das parceiras sob os moldes da nova
Lei, enquanto a segunda aula explicita as regras para a celebração das parcerias,
quer seja o funcionamento do chamamento público, quer seja a forma do repasse
dos recursos e sua respectiva prestação de contas.
AULA 4.
Gestão administrativa e diretrizes para a
efetivação das parcerias no SUAS

Entre os vários objetivos desta aula, temos como destaques uma reflexão
sobre a gestão administrativa das entidades sociais, descrever quem são e
as funções das entidades sociais, bem como os termos de colaboração e
fomento. Iremos também refletir sobre os modelos de documentos a serem
utilizados no novo regime do MROSC e compreender o que é e a diferença
entre CNEAS e CEBAS. Por fim, conheceremos a regulação da relação públi-
co-privada e as entidades sociais.

4.1 CRIAÇÃO E GESTÃO ADMINISTRATIVA DAS ENTIDADES E


ORGANIZAÇÕES DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

Do ponto de vista de sua constituição, as entidades e organizações de as-


sistência social são pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrati-
vos, criadas sob forma de associação, fundação ou organização religiosa,
de acordo com as prescrições do Código Civil brasileiro (Lei nº 10.406, de
2002). Elas se enquadram no conceito de organizações da sociedade civil
conforme definição da Lei nº 13.019/2014 (BRASIL, 2014c).

A existência de entidades e organizações de assistência social está funda-


mentada na liberdade de associação prevista no art. 5º na CF/88:

XVII – é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a


de caráter paramilitar;

XVIII – a criação de associações e, na forma da lei, a de coope-


rativas independem de autorização, sendo vedada a interferência
estatal em seu funcionamento.

XIX – as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas


ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se,
no primeiro caso, o trânsito em julgado;

XX – ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer


associado;

XXI – as entidades associativas, quando expressamente autoriza-


das, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou ex-
trajudicialmente; (BRASIL, 1988).

módulo iI | Principais questões do MROSC e suas implicações no SUAS 39


No âmbito do SUAS, o Decreto nº 6.308/2007 (BRASIL, 2007), que regulamenta
os art. 3º e 9º da LOAS e a Resolução CNAS nº 14/2014, que define os parâme-
tros nacionais para a inscrição nos CAS, trazem alguns requisitos que se aplicam
especificamente às entidades e organizações que querem atuar na política de as-
sistência social (BRASIL, 2014a). Assim, além de prestar atendimento, assesso-
ramento, defesa e garantia de direitos ao público da assistência social, conforme
ATENÇÃO!
descrito anteriormente, as entidades de assistência social devem:
As entidades de assistência social
gozam de imunidade tributária
em relação a seu patrimônio,  definir expressamente, em seus atos constitutivos, sua natureza,
renda e serviços (art. 150, VI, “c” objetivos, missão e público-alvo, de acordo com a LOAS;
da CF/88), além da possibilidade
de obter a CEBAS, na forma da Lei
nº 12.101/2009 (BRASIL, 2009b),
 garantir a universalidade do atendimento, independentemente de
para usufruir da imunidade de contraprestação do usuário (gratuidade); e
contribuições para a Seguridade
Social, especialmente da cota
 ter finalidade pública e transparência nas suas ações.
patronal do Instituto Nacional
de Seguridade Social – INSS (art.
195, § 7º da CF/88). Além disso, Além disso, para seu regular funcionamento no domínio do SUAS, as enti-
elas também podem se qualificar dades ou suas ofertas de assistência social deverão estar inscritas nos CAS
como Organização da Sociedade
de todos os municípios em que atuar, submetendo-se à fiscalização deles.
Civil de Interesse Público (OSCIP),
na forma da Lei nº 9.790/1999
(BRASIL, 1999a). Entretanto, essa
qualificação é incompatível com
4.2 QUEM SÃO E O QUE FAZEM AS ENTIDADES E ORGANIZA-
a CEBAS, devendo a entidade ÇÕES DE ASSISTÊNCIA SOCIAL
optar por uma das duas. Vale
destacar que ter a CEBAS ou ser
OSCIP não são requisitos para as A partir de 2006, com a Pesquisa das Entidades de Assistência Social Pri-
parcerias previstas na nova Lei.
vadas sem Fins Lucrativos (PEAS), a política de assistência social passou a
ter um dado oficial sobre o universo das entidades de assistência social em
atuação no Brasil.

A PEAS foi uma publicação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística


(IBGE) em parceria com o MDS. Os dados foram levantados no ano de 2006
e as entidades visitadas e pesquisadas foram selecionadas por meio do Ca-
dastro Central de Empresas (Cempre), do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IGBGE), que se declararam prestadoras de serviços de assistên-
cia social. O resultado final do estudo contém um conjunto de informações
pertinentes à área da assistência social no Brasil com ênfase para o perfil das
entidades prestadoras de serviços nessa área:

 qualificação como organização social e como OSCIP;

 títulos e credenciamentos pelos órgãos competentes;

 identificação dos serviços prestados;

 modalidades socioassistenciais;

 âmbito de atuação;

40 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


 período de funcionamento;

 metodologia de atendimento;

 instalações e equipamentos disponíveis;

 perfil dos colaboradores quanto à capacitação; e

 nível de formação, financiamentos, parcerias e caracterização do


público-alvo.

De acordo com a pesquisa, foram localizadas 16.089 entidades de assistên-


cia social, sendo que a região Sudeste concentrava 51,8% das entidades,
seguida pela região Sul, com 22,6%, Nordeste, com 14,8%, Centro-Oeste,
com 7,4% e Norte, com 3,4%. O estado de São Paulo concentrava, sozinho,
29,6% de todas as entidades do Brasil.

Entre os anos de 2013 e 2015, a PEAS foi atualizada pelo IBGE, em parceria
com o MDS. Com novo levantamento de entidades a partir do Cempre, a
coleta de informações ocorreu por meio de entrevistas telefônicas assistidas
por computador. Para o conjunto de entidades reconhecidas por sua atua-
ção na assistência social, foram produzidas informações sobre as ofertas, a
estrutura e o funcionamento das entidades.

Entre as inovações dessa edição está o uso da Tipificação Nacional dos Ser-
viços Socioassistenciais e de outras resoluções do CNAS para a caracteriza-
ção das ações socioassistenciais executadas pelas entidades.

O efeito desse movimento é permitir a comparação com outros estudos e


dados produzidos no campo da assistência social, em sintonia com o reor-
denamento em marcha das ações das organizações da sociedade civil.

Em 2010 foi aplicado aos gestores municipais de assistência social o primeiro


questionário sobre as entidades de assistência social – o Censo SUAS da Rede Pri-
vada. Foram coletados os dados de 9.398 entidades de assistência social em 1.439
municípios, todas inscritas nos conselhos de assistência social e com alguma for-
ma de parceria com a gestão. A distribuição regional praticamente se repete: 55%
no Sudeste, 23% no Sul, 12% no Nordeste, 7% no Centro-Oeste, e 3% no Norte.

Em 2011 foi possível que as próprias entidades preenchessem o questio-


nário do Censo SUAS da Rede Privada, após os conselhos municipais de
assistência social confirmarem que elas estavam inscritas conforme o art. 9º
da LOAS. Foram 10.1925 entidades respondentes, sendo 9.456 com alguma
atuação na assistência social, distribuídas em 1.872 municípios brasileiros
e concentradas nas mesmas regiões identificadas na PEAS 2006 e Censo
SUAS 2010. Dessas, 7.708 entidades declararam ter atuação exclusiva ou
preponderante na assistência social.

módulo iI | Principais questões do MROSC e suas implicações no SUAS 41


Das informações coletadas pelo Censo SUAS Rede Privada de 2011, vale des-
tacar as seguintes: a) a receita bruta total de 2010 informada pelas entidades
demonstra que a maioria delas se mantém em funcionamento com um volu-
me reduzido de recursos. 86% delas afirmam ter receita bruta anual inferior
a R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais); b) 20% das entidades informaram
não ter nenhum trabalhador contratado; c) a principal fonte de financiamen-
to de 51% das entidades são recursos de subvenções, convênios e parcerias
com órgãos ou entidades públicas; d) 75% das entidades usufruem de al-
gum tipo de isenção ou imunidade.

Aprofundar a análise sobre essas informações se torna extremamente


relevante quando verifica-se a quantidade de vagas que as entidades de-
claram ofertar por serviços, conforme observa-se nos dados das Tabelas
4, 5 e 6.

Tabela 4 – Quantidade de vagas nos serviços de Proteção Social Básica

Realiza o Quantidade de %
Serviço de Proteção Social Básica
serviço vagas ofertadas vagas
Serviço de convivência e fortaleci-
mento de vínculos para crianças e 4.036 700.402 33,8%
adolescentes de 6 a 15 anos.
Serviço de convivência e fortaleci-
mento de vínculos para adolescentes 3.198 628.425 30,3%
e jovens de 15 a 17 anos.
Serviço de convivência e fortaleci-
mento de vínculos para crianças de 0 2.470 352.381 17,0%
a 6 anos.

Serviço de convivência e fortalecimen-


2.415 251.543 12,1%
to de vínculos para pessoas idosas

Serviço de proteção social básica no


8.190 97.542 4,7%
domicílio para pessoas com deficiência

Serviço de proteção social básica no


829 42.744 2,1%
domicílio para pessoas idosas

Fonte: Censo SUAS 2011 - MDS/SNAS/DGSUAS/CGSVS

Tabela 5 – Quantidade de vagas nos serviços de Proteção Social Especial de


Média Complexidade

Serviço Social Especial de Média Realiza o Quantidade de %


Complexidade serviço vagas ofertadas vagas
Atendimento especializado para pes-
2.191 426.791 29,9%
soas com deficiência e suas famílias
Atendimento especializado em
1.641 348.191 24,4%
abordagem social

42 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


Serviço Social Especial de Média Realiza o Quantidade de %
Complexidade serviço vagas ofertadas vagas
Atendimento especializado para indi-
1.159 245.250 17,2%
víduos e famílias com direitos violados
Atendimento especializado para famí-
lias de crianças e adolescentes sem 581 157.785 11.0%
situação de trabalho infantil
Atendimento especializado para pesso-
1.112 129.372 9.1%
as idosas e suas famílias
Atendimento especializado para pes-
638 77.881 5,5%
soas em situcão de rua
Atendimento especializado para ado-
lescentes em cumprimento de MSE 610 43.395 3,0%
em meio aberto LA e PSC
Total 7.932 1.428.665 100%
Fonte: Censo SUAS 2011 - MDS/SNAS/DGSUAS/CGSVS

Tabela 6 – Quantidade de vagas nos serviços de Proteção Social Especial de


Alta Complexidade

Realiza o Quantidade de
Serviço de PSE de Alta Complexidade %
Serviço vagas ofertadas
Acolhimento Institucional para crian-
284 7.417 8%
ças e adolescentes em Casa-Lar
Acolhimento Institucional para crianças
601 20.790 22%
e adolescentes em abrigo institucional
Acolhimento Institucional para ido-
286 9.822 10%
sos em Casa -Lar
Acolhimento Institucional para ido-
833 37.710 39%
sos em abrigo institucional
Acolhimento Institucional para jo-
vens e adultos em deficiência em resi- 124 3.584 4%
dências inclusivas
Acolhimento Institucional para adul-
93 5.637 6%
tos e famílias em Casa-Lar
Acolhimento Institucional para adul-
167 9.157 10%
tos e famílias em casa de passagem
Acolhimento Institucional para mu-
lheres vítimas de violência em abrigo 100 2.220 2%
institucional
Total 2.488 96.337 100,0%
Fonte: Censo SUAS 2011 - MDS/SNAS/DGSUAS/CGSVS

No entanto, todos esses dados foram coletados antes da aplicação das re-
gras da Resolução CNAS nº 16/2010, que instituiu parâmetros nacionais
para a inscrição das entidades de assistência social e dos serviços, progra-
mas, projetos e serviços socioassistenciais, e estabelece um período de tran-

módulo iI | Principais questões do MROSC e suas implicações no SUAS 43


sição para que as entidades se adequem às novas legislações da assistência
social (especialmente as Leis nº 12.101/2009 e nº 12.435/2011, que alteram
a LOAS, as Resoluções CNAS nº 109/2009 – Tipificação de Serviços –, nº
27/2011 – assessoramento e defesa e garantia de direitos –,nº 33/2011 –
promoção da integração ao mercado de trabalho – e nº 34/2011 – habilitação
e reabilitação de pessoas com deficiência).

Visando conhecer o universo de entidades inscritas nos conselhos, em con-


formidade com os parâmetros nacionais, e constituir a base do sistema de ca-
dastro nacional de assistência social, previsto no inciso XI do art. 19 da LOAS,
o MDS disponibilizou, entre julho de 2012 e março de 2013, um formulário
eletrônico que foi preenchido pelo gestor da assistência social com posterior
confirmação pelo Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS).

A análise dos dados do formulário eletrônico aponta para um universo de


16.839 entidades/CNPJs com algum tipo de inscrição válida, distribuídas em
2.414 municípios. A distribuição regional se altera um pouco com 51,1 %
no Sudeste, 21% no Nordeste, 18,2% no Sul, 5,6% no Centro-Oeste e 4,1%
no Norte. Pela primeira vez a região Nordeste aparece com percentual de
entidades atuantes na assistência social maior que a região Sul. Os estados
brasileiros com mais entidades com atuação na assistência social são Minas
Gerais (3.957), São Paulo (3.664) e Paraná (1.453), conforme a Tabela 7.

Tabela 7 – Quantidade de entidades privadas por unidades federativas

Quantidade de
Quantidade de municípios que Quantidade de
UF entidades/CNPJs
possuem entidades inscritas inscrições
inscritos
AC 5 26 25
AL 11 77 76
AM 10 95 94
AP 1 2 2
BA 123 896 877
CE 76 868 673
DF 1 140 136
ES 66 398 369
GO 74 487 479
MA 29 243 242
MG 461 4.004 3.957
MS 59 319 312
MT 40 164 161
PA 41 250 242
PB 15 87 86
PE 55 684 675

44 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


Quantidade de
Quantidade de municípios que Quantidade de
UF entidades/CNPJs
possuem entidades inscritas inscrições
inscritos
PI 13 63 62
PR 278 1.486 1.453
RJ 66 852 842
RN 29 150 148
RO 20 120 112
RR 1 12 11
RS 327 1.462 1.165
SC 137 685 661
SE 36 199 194
SP 401 3.705 3.664
TO 39 128 121

Esse universo pode ser dividido pelo tipo de inscrição dessas entidades: a)
13.191 inscritas como entidades de assistência social (com atuação exclusi-
va ou preponderante nessa área); b) 499 entidades de assistência social com
inscrição em mais de um município; c) 3.137 entidades não preponderantes
de assistência social com inscrição de serviços, programas, projetos ou be-
nefícios socioassistenciais.

Das 17.420 inscrições deferidas pelos conselhos municipais de assistência


social, 7.765 são ofertas de atendimento direto aos usuários da política de
assistência social e 1.991 de assessoramento, defesa e garantia de direitos
desses usuários. Nesse caso pode-se inferir que as definições quanto aos
tipos de atuação não os distinguem de forma precisa, já que nem sempre é
possível haver essa distinção, uma vez que, nos serviços socioassistenciais
de proteção básica e especial, está contida uma dimensão da defesa de di-
reitos e de sua proteção e promoção, bem como o assessoramento a seus
usuários, compreendido como formas de alcance de patamares superiores
de civilidade ou de cidadania.

Essas 16.839 entidades compuseram a base inicial de dados do Sistema de


Cadastro Nacional de Entidades de Assistência Social (SCNEAS). Em feve-
reiro de 2017, o CNEAS possuía 18.956 entidades distribuídas em 2.684 mu-
nicípios de todas as unidades federativas do país.

Na data de referência (fev./2017), o nível de preenchimento do CNEAS pelos


órgãos gestores de assistência social é de 48,6% dos cadastros concluídos,
restando 30,9% que já tiveram informações parcialmente incluídas e 20,5%
que estão pendentes.

O mapa a seguir representa a distribuição territorial das entidades por mu-


nicípios e estados. As áreas mais escuras indicam municípios com maior
número de entidades no CNEAS, independentemente da situação dos ca-

módulo iI | Principais questões do MROSC e suas implicações no SUAS 45


dastros. É possível notar maior concentração de entidades nas regiões Su-
deste e Sul, onde a presença de organizações é difundida na maior parte dos
territórios.

Figura 1 – Mapa das entidades presentes no CNEAS

Fonte: CNEAS, SNAS/MDSA, fev. 2017.

A partir dos cadastros concluídos (9.268 entidades), é possível reconhecer


um conjunto de 14.851 ofertas socioassistenciais. A Tabela 8 expressa a fre-
quência das ofertas, o tipo e nível de proteção ao qual estão associadas.

Tabela 8 – Frequência das ofertas dos cadastros concluídos do CNEAS

FREQUÊNCIA
TIPO DE OFERTA OFERTA DO CNEAS
ABSOLUTA
Serviço de Convicência e
Proteção Social Básica 4.752
Fortalecimento de Vínculos
Proteção Social de
Acolhimento institucional 1.998
Alta Complexidade
Assessoramento e/ou
Promoção de defesa de direitos já
Defesa e Garantia de 1.599
estabelecidos
Direitos
Proteção Social Proteção Social Especial no domicílio
Especial de Média para pessoas com deficiência, idosos e 1.035
Complexidade famílias

Proteção Social
Especial de Média Habilitação e reabilitação 969
Complexidade

46 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


FREQUÊNCIA
TIPO DE OFERTA OFERTA DO CNEAS
ABSOLUTA
Proteção Social Básica Integração ao mercado de trabalho 904
Desenvolvimento integral sustentável
Assessoramento e/ou
das comunidades, cadeias organiza-
Defesa e Garantia de 533
tivas, redes de empreendimentos e à
Direitos
geração de renda
Benefícios Benefcícios Socioassistenciais 473
Assessoramento e/ou
Assessoramento político, técnico, admi-
Defesa e Garantia de 419
nistrativo e financeiro
Direitos
Assessoramento e/ou
Projetos inovadores de inclusão cidadã
Defesa e Garantia de 394
e enfrentamento da pobreza
Direitos
Monitoramento e controle popular 345
Proteção Social Básica no domicílio
Proteção Social Básica para pessoas com deficiência, idosos e 328
famílias
Assessoramento e/ou
Reivindicação da construção de novos
Defesa e Garantia de 201
direitos
Direitos
Proteção Social
Especial de Média Abordagem social 170
Complexidade
Assessoramento e/ou
Formação político cidadã de grupos
Defesa e Garantia de 165
populares
Direitos
Assessoramento e/ou Produção e socialização de estudos e
Defesa e Garantia de pesquisas sobre cidadania e assistência 138
Direitos social
Proteção Social Medidas socioeducativas em liberdade
Especial de Média assistida e/ou prestação de serviços à 123
Complexidade comunidade
Proteção Social
Especial de Alta Acolhimento em república 109
Complexidade
Proteção Social
Serviço especializado para pessoas em
Especial de Média 107
situação de rua
Complexidade
Proteção Social
Proteção em situações de calamidades
Especial de Alta 44
públicas e de emergência
Complexidade
Proteção Social
Especial de Alta Família acolhedora 28
Complexidade
- Ofertas tipificadas localmente16 17
Fonte: CNEAS, SNAS/MDSA. fev. 2017.

Entre as ofertas mais frequentes, destacam-se o serviço de convivência e for-


talecimento de vínculos, o acolhimento institucional e as ações de promoção
da defesa de direitos já estabelecidos.

No contexto do MROSC, em 2015, teve início um amplo levantamento sobre


as OSCs e suas formas de atuação no território nacional. Com isso, criou-se

módulo iI | Principais questões do MROSC e suas implicações no SUAS 47


uma plataforma georreferenciada que visa reunir informações das variadas
bases de dados da administração pública federal para um conjunto superior
a 440 mil OSCs, denominada Mapa das Organizações da Sociedade Civil.

Entre as informações que concernem às entidades de assistência social


estão o Censo SUAS, o CNEAS e a relação de entidades certificadas pelo
CEBAS-MDS. Além disso, são adicionadas informações que tratam dos tra-
balhadores registrados nas organizações, os convênios monitorados pelo
Sistema de Convênios (Siconv)2, a presença em dados administrativos da
saúde, educação, cultura, esporte, entre outras áreas.

O Mapa das Organizações da Sociedade Civil é atualmente gerido pelo Ins-


tituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), com supervisão da Secretaria
de Governo da Presidência da República.

Na figura a seguir, é possível verificar a quantidade de entidades no país,


bem como outras informações delas disponibilizadas pelo IPEA:

Fonte: IPEA3 .

4.3 O TERMO DE COLABORAÇÃO, TERMO DE FOMENTO E


2 O Sistema de Gestão de Convê- ACORDO DE COOPERAÇÃO
nios e Contratos de Repasse (Siconv)
foi criado em 2008 para administrar as
transferências voluntárias de recursos
A Lei nº 13.019/2014, denominada de Marco Regulatório das Organizações da
da União nos convênios firmados com
estados, municípios, Distrito Federal Sociedade Civil (MROSC), conforme considerações de Cazumbá (2016, p. 1),
e também com as entidades privadas
sem fins lucrativos. Entre as vantagens Trouxe como uma das principais inovações a instituição dos instrumentos
dessa ferramenta está a agilidade na
efetivação dos contratos, a transparên-
que serão utilizados em substituição aos convênios, para disciplinar as par-
cia do repasse do dinheiro público e a cerias firmadas entre o poder público e as entidades privadas sem fins lucra-
qualificação da gestão financeira. tivos, caracterizadas como Organizações da Sociedade Civil – OSC, quando
3 Disponível em: <https://bit.ly/2r-
a relação envolver a transferência de recursos financeiros: o termo de cola-
Qkxf6>. Acesso em: 2 jun. 2018. boração e o termo de fomento.

48 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


Mas o que são esses novos instrumentos normativos e em quais situações
cada um deles deverá ser utilizado? Torna-se necessário analisar, inicialmen-
te, os significados de colaboração e fomento:

 Colaboração: ajuda, cooperação, auxílio, contribuição, assistência.


O termo tem origem no radical latim labor, que significa trabalho. E, da
junção das palavras COM + LABORAR (trabalhar), surge a expressão co-
laborar, que quer dizer “trabalhar com”. Assim, colaboração é o ato de
“trabalhar junto”.

 Fomento: tem por sinônimos as palavras: desenvolvimento, estí-


mulo, encorajamento, incitação. Também tem origem no latim, em que
o termo fomentum significa aquecer (esquentar, colocar combustível).
Dessa forma, fomento corresponde à promoção dos meios e condições
necessários para a conquista de resultados.

Assim a partir disso, apresenta-se o quadro com as respectivas definições e


características de termo de colaboração e termo de fomento no âmbito da
Lei nº 13.019/2014, são elas:

TERMO DE COLABORAÇÃO TERMO DE FOMENTO


(ART. 2º, VII) (ART. 2º, VIII)
Instrumento por meio do qual são
Instrumento por meio do qual são
formalizadas as parcerias estabelecidas
formalizadas as parcerias estabelecidas
pela administração pública com OSCs
pela administração pública com OSCs
para a consecução de finalidades de
para a consecução de finalidades de
interesse público e recíproco propos-
interesse público e recíproco propostas
tas pela administração pública que
pelas OSCs, que envolvam a transferên-
envolvam a transferência de recursos
cia de recursos financeiros.
financeiros.
Iniciativa da Administração pública. Iniciativa das entidades e organizações.
Atuar em colaboração para execução Incentiva e reconhece ações de interesse
de políticas públicas parametrizadas. público desenvolvidas pelas entidades.
Proposição do plano de trabalho, com
parâmetros mínimos prévios ofertados
pela administração pública, para que Proposição do plano de trabalho, com
livre iniciativa, pelas entidades, que
organizações a atuação do Estado em apresenta ideias a serem desenvolvidas.
ação conhecida e estruturadas, com a
expertise da sociedade civil.
Função de qualificação e complementa-
riedade em relação às ofertas parametri-
zadas do SUAS.
Novas tecnologias sociais (ofertas) que
geram inovação nos atendimentos ao
público da assistência social.
Fonte: Brasil ([2017?], p. 21).

No que concerne ao Decreto nº 8.726/2016 (BRASIL, 2016c), o termo de


colaboração e o termo de fomento são assim compreendidos:

módulo iI | Principais questões do MROSC e suas implicações no SUAS 49


TERMO DE FOMENTO TERMO DE COLABORAÇÃO
O termo de colaboração será
adotado para a consecução
de planos de trabalho cuja
O termo de fomento será adota- concepção seja da adminis-
do para a consecução de planos
Decreto de trabalhos cuja concepção tração pública federal, com o
8.726/ seja das OSCs, com o objetivo objetivo de executra projetos
2016 de incentivar projetos desen- ou atividades parametrizados
volvidos ou criados por essas
organizações pela administração pública
federal (compreende no SUAS
serviços, programas e projetos
regulamentados)
Fonte: Informação verbal4.

De acordo com a definição encontrada no Portal de Convênios do Ministério


do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão (MP), ao instituir o termo de
colaboração para a execução de políticas públicas e o termo de fomento para
apoio a iniciativas das organizações – instrumentos próprios e adequados
para as relações de parceria entre o Estado e as OSCs, em substituição aos
convênios – a lei reconhece de forma inovadora essas duas dimensões legí-
timas de relacionamento entre as organizações e o poder público.

FOMENTO COLABORAÇÃO
Atuar em colaboração
Incentivar e reconhecer ações
Função com organizações da socie-
de interesse público
administra- dade civil para execução de
desenvolvidas pelas
tiva políticas públicas parametriza-
organizações da sociedade civil.
das pela administração
Permitir que as organizações
Incentivar e reconhecer projetos da sociedade civil participem
Objeto a serem desenvolvidas ou cria- da execucão de projetos ou
dos por organizações. atividades de iniciativa da
administração pública
Concepção Organizações da sociedade civil Administração pública
4 Apresentação do curso on-line
MROSC SUAS para SAGI, em novem- Fonte: Informação verbal .
5

bro de 2017, slide 127.

De acordo com o Decreto nº 8.726/2016 (BRASIL, 2016c), no que tange à


5 Apresentação do curso on-line
MROSC SUAS para SAGI, em novem-
forma, vigência e valor, os termos de colaboração e fomento possuem as
bro de 2017, slide 128. seguintes características:

50 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


FOMENTO COLABORAÇÃO
Projetos, limitados no tempo,
Forma Projetos, limitados no tempo
ou Atividades, contínuas
Tempo de
Até 5 anos (decreto federal) Até 10 anos (decreto federal)
vigência
Valor Teto Referência
Fonte: Informação verbal .
6

Por outro lado, o acordo de cooperação consiste, também, na parceria com


as mesmas intenções do termo de colaboração e do termo de fomento, só
que, nesse caso, não há transferência de recursos financeiros.

Nos casos dos termos de colaboração e fomento, as minutas contratuais


estarão disponibilizadas e, portanto, as condições mínimas para as referi-
das contratações já estarão predeterminadas, nos editais de chamamento
público, por expressa disposição legal. Porém, no caso dos acordos de coo-
peração, essas condições podem ser mais bem discutidas e dimensionadas DICA
entre o agente público e a OSC, justamente por conta da inexistência de
A ausência de chamamento públi-
transferência de recursos. co não significa que a organização
da sociedade civil e o ente público

Em razão de não envolverem transferência de recursos do ente público para estejam desobrigados de observar
regras mínimas estabelecidas para
a organização da sociedade civil, no caso de acordos de cooperação, está quaisquer das parcerias que os
dispensado o chamamento público, pelo ente da administração, em quais- envolvam, como deixa claro o art.
6º, do Decreto nº 8.726/16.
quer dos três níveis, seja federal, estadual ou municipal.

4.4 UTILIZAÇÃO DE MODELOS DE DOCUMENTOS

Ainda não há modelos de documentos específicos para a assistência social,


como editais, justificativas de dispensa de chamamento, termos de parceria,
forma de prestação de contas, entre outros. Mas já há alguns modelos gerais ATENÇÃO!
ou de outras políticas que podem servir de ponto de partida e ser adaptados O Sistema de Gestão de Convênios
considerando as especificidades da assistência social. e Contratos de Repasse (Siconv)
é a iniciativa do Governo Federal
responsável por todo o ciclo de
Na perspectiva a longo prazo, os gestores devem promover a adaptação ou
vida dos convênios, contratos de
desenvolvimento dos sistemas de gerenciamento e transparência das parce- repasse e termos de parceria, no
rias a fim de atender o preceito do art. 65 da Lei nº 13.019/2014: “A prestação qual são registrados os atos, desde
a formalização da proposta até a
de contas e todos os atos que dela decorram dar-se-ão em plataforma eletrô-
prestação de contas final. Ele está
nica, permitindo a visualização por qualquer interessado” (BRASIL, 2014c). sendo adaptado para poder ser
utilizado pelos estados até o final
Contudo, quanto a este último aspecto, se faz necessário destacar o inciso II de 2017 e, oportunamente, para
os municípios.
do art. 81-A, que excepcionaliza a utilização de plataforma eletrônica para os
municípios de até cem mil habitantes.

Além disso, a nova Lei torna essencial o aperfeiçoamento dos mecanismos 6 Apresentação do curso on-line

já previstos no SUAS de: MROSC SUAS para SAGI, em novem-


bro de 2017, slide 130.

módulo iI | Principais questões do MROSC e suas implicações no SUAS 51


 diagnóstico dos territórios e estimativas de demanda; planejamen-
to das ofertas; definição de indicadores para o monitoramento dos pla-
nos de assistência social;

 estudos de custos dos serviços; reordenamento dos serviços con-


forme tipificação;

 adequação e qualificação das equipes conforme a NOB-RH/SUAS e


resoluções do CNAS.

4.5 O QUE É O CNEAS?

O CNEAS consolida as informações que caracterizam as entidades e as


credencia para ingressar na esfera da política de assistência social em dife-
rentes estágios. Trata-se de instrumento de gestão que possibilita conhecer
a cobertura e os tipos dos serviços ofertados pelas entidades em regular
funcionamento no Brasil, sendo base para a certificação, na forma da Lei nº
12.101/2009 (BRASIL, 2009b), e para o reconhecimento do vínculo SUAS,
previsto no art. 6ºB da LOAS.

O cadastro é alimentado pelo gestor local a partir de informações coletadas


por meio de documentos e relatórios de visitas técnicas locais:

 identificação de cada serviço e programa, projeto ou benefício so-


cioassistencial com informações relativas à continuidade, regularidade,
planejamento e permanência na prestação dos serviços;

 especificação das populações às quais se dirigem os serviços, bene-


fícios, programas e projetos (usuários);

 capacidade de atendimento mensal definida anualmente em plano


de trabalho;

 número de pessoas atendidas e de atendimentos por mês em cada


serviço;

 recursos humanos disponíveis, por formação e regime de contrata-


ção, alocados nos serviços;
ATENÇÃO!
Todas essas informações devem  verificação da gratuidade das ofertas para os usuários (não exigên-
ser validadas, posteriormente, cia de contraprestação pelo serviço);
pelo MDS, que é o responsável
pelo CNEAS.
 forma de participação dos usuários e estratégias utilizadas, desde a
elaboração do planejamento até a execução dos serviços, sua avaliação e
monitoramento.

52 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


4.6 DIFERENÇA ENTRE O CNEAS E A CEBAS

A CEBAS, regulada pela Lei nº 12.101/2009 (BRASIL, 2009b) e o Decreto


Federal nº 8.242/2014 (BRASIL, 2014b), é um certificado concedido pelo Go-
verno Federal às entidades privadas sem fins lucrativos que atuam na área
da assistência social, da educação e da saúde. Conforme já mencionado,
essa certificação tem como principal objetivo o acesso à isenção das contri-
buições para a seguridade social (parte patronal da contribuição previdenci-
ária sobre a folha de pagamento, Contribuição Social sobre o Lucro Líquido
– CSLL, Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social – Cofins,
Contribuição PIS/PASEP). Compete ao MDS conceder a certificação às enti-
dades e organizações de assistência social, sendo-lhes facultado requerê-la.

Já o CNEAS, previsto na LOAS (1993), é um instrumento de reconhecimento


e monitoramento das ofertas socioassistenciais prestadas por organizações
da sociedade civil. Disponibilizado em abril de 2014, o CNEAS é gerencia-
do pelo MDS e deve ser preenchido pelos órgãos gestores municipais, com
apoio dos CAS, das entidades e dos estados. Devem ser cadastradas no
CNEAS as entidades inscritas no conselho de assistência social e que execu-
tam ofertas tipificadas ou regulamentadas pela política de assistência social,
nacionalmente ou em nível local. Também estão cadastrados no CNEAS os
serviços, programas e projetos socioassistenciais ofertados, de forma não
preponderante, pelas organizações da sociedade civil.

4.7 A REGULAMENTAÇÃO DA RELAÇÃO PÚBLICO-PRIVADA E


NÍVEIS DE RECONHECIMENTO DAS ENTIDADES DE ASSISTÊN-
CIA SOCIAL NO SUAS

A atual regulamentação da relação entre Estado e sociedade civil no âmbito


da assistência social indica níveis de reconhecimento das entidades e dos
serviços, desde a inscrição nos CAS municipais e do Distrito Federal (art.
9º da LOAS), como primeiro nível desse reconhecimento, no que tange a
sua identidade, existência e as condições prévias para o funcionamento dos
serviços que se propõe a desenvolver.

A ampliação desse reconhecimento para o CNEAS (art. 19, XI da LOAS),


para a colaboração ou fomento (Lei nº 13.019/2014), para a certificação de
entidades beneficentes (Lei nº 12.101/2009) ou para o reconhecimento do
vínculo SUAS (art. 6ºB, §§ 1º a 3º da LOAS), pendente de regulamentação,
depende da relação a ser estabelecida entre a entidade e o governo, confor-
me sua presença, participação e adesão às diretrizes da política pública.

módulo iI | Principais questões do MROSC e suas implicações no SUAS 53


Figura 4 – Diagrama do processo de regularização da OSC

CEBAS

Vínculo SUAS
Inscrição CNEAS (pendente de
regulamentação)

Colaboração ou
Fomento

Fonte: Brasil ([2017?], p. 35).

Para integrar e organizar as informações sobre as entidades e as várias for-


mas que podem integrar o SUAS, o MDS criou um sistema informatizado.
Ele deverá unificar documentos como plano de ação anual, relatório de ativi-
dades, estatuto social e ata de eleição que poderão ser inseridos eletronica-
mente, pela própria entidade, uma única vez. Também será possível verificar
qual o nível de responsabilidade e de reconhecimento que possuem no
SUAS. É um passo essencial para a constituição da rede socioassistencial
nos termos da LOAS e da NOB/SUAS.
DICA Vale destacar que o fundamento para a construção da rede socioassistencial
De acordo com a NOB/SUAS 2012,
considera-se rede socioassistencial
não é o que a entidade ou organização realiza individualmente, a partir de
o conjunto integrado da oferta sua finalidade estatutária, mas a forma como ela partilha a cobertura das ne-
de serviços, programas, projetos
cessidades coletivas, por meio da oferta de serviços socioassistenciais pres-
e benefícios de assistência social
mediante articulação entre todas as tados em rede articulada de atenção, sob os princípios da responsabilidade
unidades de provisão dos SUAS. pública, universalidade, igualdade, equidade, qualidade e da participação
cidadã.

A construção da rede socioassistencial é um processo de articulação estra-


tégica de sujeitos e cabe ao setor público sua construção. O trabalho das
entidades se integra, instaurando a relação de sistema, resultado da com-
plementariedade, da relação de intercâmbio e de responsabilidades pelos
resultados e pelos direitos dos usuários.

AULA 5.
Principais regras e questões sobre a cele-
bração de parcerias no SUAS

Esta aula permitirá que sejam identificadas as novidades na celebração das


parcerias, conhecer a Resolução CNAS nº 21/2016 (BRASIL, 2016b) e com-
preender o funcionamento do chamamento público. Também será descrito

54 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


o conceito de territorialidade, abrangência e dispensa de chamamento públi-
co aos serviços socioassistenciais. Analisaremos as regras de parcerias por
intermédio de emendas parlamentares e subvenções e compreenderemos
as regras na utilização dos recursos nas parcerias. Ao final, conheceremos o
funcionamento da prestação de contas, o procedimento simplificado e pu-
blicidades das parcerias, e também analisaremos a base de ações das regras
de transição.

5.1 NOVIDADES NA CELEBRAÇÃO DAS PARCERIAS

No âmbito da nova Lei das parcerias entre a administração pública e OSCs,


algumas alterações são propostas para que as entidades ou organizações de
assistência social celebrem parcerias, como a necessidade de agir com mais
planejamento, de comprovar experiências prévias nas atividades que preten-
dem realizar, de possuir capacidade técnica e operacional e comprovar sua
regularidade jurídica e fiscal.

Ressalta-se que, na esfera da Lei nº 13.019/2014, as entidades e organiza-


ções da sociedade civil adquirem um papel de maior protagonismo e parti-
cipação na política de assistência social, sobretudo com a possibilidade de
utilização do instrumento termo de fomento, pelo qual as entidades podem
apresentar propostas para a celebração de parcerias com o poder público,
DICA
• A realização do PMIS não é pré-re-
permitindo a inovação das ofertas desenvolvidas, bem como a adoção de quisito para o termo de fomento
novas tecnologias sociais pela administração pública. ou para o termo de colaboração,
e não implica, necessariamente,
na realização de um chamamento
Nessa linha da inovação, a Lei traz o Procedimento de Manifestação de In-
público, nem na dispensa de um
teresse Social (PMIS), que permite a cidadãos, movimentos sociais e orga- processo seletivo.
nizações a apresentação de propostas ao poder público, para que este avalie • A nova Lei traz o fim do foco na
prestação de contas de meios, com
a possibilidade de haver um chamamento público objetivando a parceria. A
um deslocamento do controle da
proposta encaminhada à administração pública deverá atentar para ques- execução financeira para a cen-
tões relevantes de interesse público, apresentar diagnóstico da realidade a tralidade da execução do objeto
– controle pelos resultados.
ser modificada e, se possível, informações sobre custos de execução e viabi-
lidade da proposta.

Outra grande novidade é a possibilidade da atuação em rede, por duas ou


mais organizações da sociedade civil devidamente constituídas e em re-
gularidade jurídica e fiscal, tanto na modalidade de fomento como na de ATENÇÃO!
colaboração. Nos respectivos termos de atuação em rede, é fundamental Para celebrar a parceria é
especificar as atribuições de cada uma, indicando a responsável pelo projeto fundamental que o plano de
trabalho seja construído utilizando
como um todo.
indicadores que demonstrem
concretamente a consecução das
Como visto, trata-se de uma Lei de caráter geral, para todas as parcerias do ações da política de assistência
governo com OSC de qualquer área de atuação. Além das regulamentações social e que assim possam ser
mensurados quando da prestação
estaduais e municipais que já estão ocorrendo, sua interpretação e aplicação
de contas.

módulo iI | Principais questões do MROSC e suas implicações no SUAS 55


no âmbito do SUAS deve considerar os atos normativos específicos das par-
cerias com entidades de assistência social, que também podem ser gerais
(expedidos pelo ente federal), estaduais ou municipais. Um desses atos nor-
mativos é a Resolução CNAS nº 21, de 24 de novembro de 2016.

5.2 A RESOLUÇÃO DO CNAS Nº 21/2016

A Resolução CNAS nº 21/2016 (BRASIL, 2016b) estabelece requisitos para


celebração de parcerias, conforme a Lei nº 13.019/2014 (BRASIL, 2014c),
entre órgão gestor de assistência social e as entidades ou organizações de
assistência social concernentes ao SUAS. Ela foi fruto de inúmeros debates
ocorridos na câmara técnica da CIT constituída para essa finalidade, na pró-
pria CIT e no CNAS e é decorrência do poder normativo do CNAS previsto
ATENÇÃO! no art. 18 da LOAS.
A Resolução CNAS nº 21/2016
(BRASIL, 216b), além de recep-
5.3 PRINCIPAIS QUESTÕES DO MROSC NO CONTEXTO DO SUAS
cionar o novo marco regulatório
no contexto do SUAS, afirmando
a possibilidade de sua aplicação
em consonância com as demais
A desburocratização do processo de prestação de contas, a transparência
normas da política de assistência na aplicação dos recursos públicos e a possibilidade de maior planejamento
social, também:
para execução das etapas da parceria são alguns dos avanços conquistados
• legitima os níveis de reconhe-
cimento das entidades no SUAS, pelo novo MROSC. Importante dizer que a nova Lei define o chamamento
estabelecendo a inscrição e público como regra geral, bem como outros aspectos relevantes, dispondo
o CNEAS como requisitos das
um padrão nacional para as parcerias entre as organizações de assistência
parcerias;
• reitera que a CEBAS não deve social e os órgãos gestores.
ser exigida como condição para
a formalização das parceria, mas
que o edital deve estabelecer a 5.3.1 CHAMAMENTO PÚBLICO
forma de priorizar as entidades
que possuem CEBAS, observando
O chamamento público é um processo de seleção no qual se privilegia a ob-
o que consta no §4º do art. 18
da Lei nº 12.101/2009 (BRASIL, servância de alguns dos princípios constitucionais, como a impessoalidade,
2009b); moralidade e publicidade, assim, garante a transparência e a isonomia na
• estabelece o chamamento
seleção e no acesso aos recursos públicos.
público como regra geral das
parcerias no SUAS, especialmen-
te nos casos de ampliação da De acordo com o art. 24 da Lei nº 13.019/2014, os entes governamentais –
capacidade de oferta; exceto nas hipóteses previstas na Lei – são obrigados a abrir processo de
• estabelece as hipóteses de dis-
pensa do chamamento quando:
chamamento público, e as organizações devem apresentar propostas para
o objeto do plano de trabalho for execução do objeto da parceria, que serão julgadas e selecionadas, pondo
a prestação dos serviços socioa-
fim a uma das principais polêmicas referentes às parcerias: a forma de sele-
ssistenciais regulamentados; e a
descontinuidade da oferta pela ção (BRASIL, 2014c).
entidade apresentar dano mais
gravoso à integridade do usuário, O diagrama a seguir apresenta as várias etapas, fases, ações e atores envol-
desde que fundamentado em
vidos no processo do chamamento público, bem como os requisitos neces-
parecer técnico.
sários para sua validação e conclusão:

56 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


Figura 5 – Diagrama das etapas do chamamento público
Etapa de Seleção (competitiva) Etapa de Celebração

Chamamento Público de Parcerias com OSC

1ª fase OSC 2ª fase OSC 3ª fase 4ª fase OSC 5ª fase 6ª fase

Análise de eventuais Convocação da OSC para

Apresentação dos documentos e do Plano de Trabalho


Avaliação das Emissão de

Regularização da documentação e ajustes no Plano


recursos de homologação apresentação do Plano de
Edital propostas Parecer de Celebração da(s)
(divulgação por mim. 30d) dos resultados definitivos Trabalho e verificação de
(prazo estabelecido no órgão Técnico selecionadas(s)

Apresentação dos recursos em até 5d (Decreto art.18)

de trabalho em até 15d (Decreto art. 28)


(Decreto art.9) edital) do processo de seleção requisitos documentais (Lei art. 35, v)

em até 15 dias (Decreto arts. 25 e 26)


(Decreto art.16) (Decreto art.19) (Lei. art. 22 e Decreto arts. 25 e 26

(prazo do edital min. 30d) Decreto art.11


Apresentação das propostas

Programação Orç. Plano de Requisitos Mérito da


Descrição da Prazo para análise dos
Trabalho (Decreto art. 26) proposta Assinatura do termo
realidade recursos
05 dias Requisitos Identidade e
Objeto da parceria Descrição
Estatutários reciprocidade de
Objetivos e da realidade
interesse
metas (Lei art. 34) Entrega do Manual de
Datas, prazos, Requisitos Prestação de Contas
critérios etc. Os resultados definitivos Forma de Viabilidade de sua
Documentais
serão homologados e execução execução
Prazo (Lei art. 34)
VALOR publicados no sítio
eletrônico e DOU Metas e Verificação do Publicação do extrato no
(estimativa de custo) cronograma de
atividades Diário Oficial
desembolso
Valor global
Minuta de Previsões de
instrumento da receitas e
parceria Não caberão despesas
novos recursos A celebração depende
Parecer jurídico
(Decreto Meio p/ de indicação expressa
Creitérios de Divulgação do receitas e de prévia dotação
jugalmento resultado art.18, §4º)
despesas orçarmentária
preliminar
(Decreto art. 24)
(prazo do edital) Cronograma
(Decreto art.17) Adm. Pública
de
Parecer jurídico desembolso analisa a
prévio documentação
Ações com e o Plano de
pagamento Trabalho
em espécie

Administração Comissão de Comissão de Administração


Pública Seleção Seleção Pública
Fonte: Informação verbal7 Apresentação Curso MROSC SUAS para SAGI, slide: 201.

A seguir, veja algumas características do chamamento público no contexto


tanto da Lei nº 13.019/2014, art. 24 (BRASIL, 2014c) como no Decreto nº
8.726/2016, art. 9 (BRASIL, 2016c).

LEI Nº 13.019/2014 (ART. 24) DECRETO Nº 8.726/2016 (ART. 9)


A programação orçamentária que auto-
Especifica a programação orçamentária.
riza e viabiliza a celebração.
O objeto da parceria com indicação da
O objeto da parceria. política, do plano, do programa ou da
ação correspondente.
As datas, os prazos, as condições, o lo-
A data, o prazo, as condições, o local e
cal e a forma de apresentação das pro-
a forma de apresentação das propostas.
postas.
As condições para interposição de recur-
As condições para interposição de re-
so administrativo no âmbito do proces-
curso administrativo.
so de seleção.
O valor de referência para a realização
O valor previsto para a realização do
do objeto, no termo de colaboração, ou
objeto.
o teto, no termo de fomento.
A previsão de contrapartida em bens e
serviços, se for o caso.
A minuta do instrumento de parceria. A minuta do instrumento de parceria.
De acordo com as características do As medidas de acessibilidade para pes-
objeto da parceria, medidas de acessibi- soas com deficiência ou mobilidade re-
7 Apresentação do curso on-line
lidade para pessoas com deficiência ou duzida e idosos, de acordo com as ca-
MROSC SUAS para SAGI, em novem-
mobilidade reduzida e idosos. racterísticas do objeto da parceria. bro de 2017, slide 201.

módulo iI | Principais questões do MROSC e suas implicações no SUAS 57


LEI Nº 13.019/2014 (ART. 24) DECRETO Nº 8.726/2016 (ART. 9)
As datas e os critérios de seleção e julga- As datas e os critérios de seleção e julga-
mento das propostas, inclusive no que mento das propostas, inclusive no que
se refere à metodologia de pontuação e se refere à metodologia de pontuação e
ao peso atribuído a cada um dos crité- ao peso atribuído a cada um dos crité-
rios estabelecidos, se for o caso. rios estabelecidos.
Disposição expressa sobre atuação em
rede.
Fonte: Informação verbal .
8

O chamamento público possui as seguintes definições quanto aos elemen-


tos que o compõem:

Comissão deve ter ao menos um servidor de cargo efetivo ou em-


Comissão prego permanente, com possibilidade de especialistas e assessora-
ATENÇÃO! de seleção mento externo. Designada pelo órgão ou constituída pelo Conselho
Há exceções ao chamamento pú-
Gestor de Fundos Setoriais, conforme legislação específica.
blico previstas nos arts. 30 e 31, Publicação do edital, recebimento e avaliação de propostas, divul-
elas que reportam às hipóteses gação do resultado preliminar, análise dos recursos e homologação
de dispensa de chamamento.
Processo do resultado final. Documentos e plano de trabalho são apresenta-
Essa dispensa pode ocorrer
quando se configuram situações
dos depois, com procedimento inspirado no pregão (inversão de
nas quais, embora viável a com- fases), conforme preconiza a Lei nº 13.019/2014.
petição entre os interessados, o Prazo do O edital deverá estar aberto para receber propostas por no mínimo
legislador decidiu não o tornar
edital 30 dias a partir de sua publicação (federal no Siconv).
obrigatório e; quando o chama-
mento público é considerado i) descrição da realidade e o nexo com a atividade ou projeto; ii)
inexigível, o que se caracteriza Propostas ações a serem executadas, as metas e seus indicadores; iii) prazos
pela inviabilidade de competi-
para execução; e iv) valor global.
ção entre as OSCs, em razão da
natureza singular do objeto da Convocação Somente as OSCs selecionadas são convocadas a encaminhar o
parceria ou se as metas somente das selecio- plano de trabalho detalhado e a comprovar os requisitos documen-
puderem ser atingidas por uma nadas tais e estatutários para celebração da parceria.
entidade específica.
Fonte: Informação verbal9.

5.3.2 TERRITORIALIDADE E ABRANGÊNCIA DO CHAMAMENTO PÚBLICO

A Lei nº 13.019/2014 veda, no §2º do art. 24, que o edital de chamamento


público contenha cláusulas que comprometam, restrinjam ou frustrem o ca-
ráter competitivo do ato convocatório (BRASIL, 2014c).

Contudo, a fim de atender as especificidades das políticas setoriais o inciso


II do §2º do mesmo art. 24, prevê a possibilidade do estabelecimento de
8 Apresentação do curso on-line
cláusula que delimite o território ou abrangência da prestação de atividades
MROSC SUAS para SAGI, em novem- ou da execução de projetos.
bro de 2017, slides 193 e 194.

Nessa perspectiva, o chamamento público, nos termos da Lei, pode ser na-
9 Apresentação do curso on-line
MROSC SUAS para SAGI, em novem-
cional, mas em relação às parcerias no SUAS é imprescindível considerar a
bro de 2017, slide 195. territorialidade como um critério relevante quando da elaboração do edital.

58 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


À luz das normativas do SUAS, o território é a base de organização das ações
ofertadas, e a territorialização é uma das diretrizes estruturantes da gestão
do Sistema. Esse lugar estratégico do território reflete o entendimento de DICA
que, para a garantia da proteção social de assistência social, é necessário o Considerando o melhor interesse
do usuário das ofertas socioassis-
conhecimento da realidade, a compreensão das dinâmicas socioespaciais
tenciais, nos casos em que essa
e demográficas, a leitura da presença e incidência de situações de vulnera- relação justificar, podemos afirmar
bilidades e riscos sociais, das vivências e das mediações políticas, sociais, que a diretriz da territorialização
suplanta a garantia de competitivi-
culturais, econômicas e relacionais presentes nos lugares. dade. Assim, é facultada ao gestor
da assistência social a delimitação
ou não do território no edital de
5.3.3 APLICAÇÃO DA DISPENSA DE CHAMAMENTO PÚBLICO AOS SER- chamamento público, consideran-
VIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS do o objetivo e as especificidades
do que se pretende alcançar por
meio da parceria.
Conforme já mencionado, a regra estabelecida pela Lei nº 13.019/2014 é que
haja o chamamento público para que seja escolhida a OSC que firmará a de-
vida parceria com a administração pública, mediante análise de proposta de
projeto e a respectiva apresentação de documentos previstos tanto no edital
como no próprio instrumento legal (BRASIL, 2014c).

Todavia, como toda regra há exceção, a Lei nº 13.019/2014, por ser ampla e
complexa, não poderia deixar de trazer as situações nas quais não se justifica
ou pode ser facultado o chamamento público. Especificamente para a políti-
ca de assistência social, aplica-se a hipótese prevista no inciso VI do art. 30
da Lei nº 13.019/2014:

No caso de atividades voltadas ou vinculadas a serviços de educa-


ção, saúde e assistência social, desde que executadas por organiza-
ções da sociedade civil, previamente credenciadas pelo órgão gestor
da respectiva política. (BRASIL, 2014c).

ATENÇÃO!
Vale lembrar que a Resolução CNAS nº 21/2016 definiu que a dispensa do chamamento público se aplicará às entidades ou organizações de
assistência social que estejam inscritas nos respectivos conselhos municipais de assistência social ou no Conselho de Assistência Social do Distrito
Federal e cadastradas no CNEAS, quando:

• o objeto do plano de trabalho for a prestação de serviços socioassistenciais regulamentados; e


• o dano a ser gerado ao usuário devido ao rompimento do vínculo for maior que a vantagem de realizar outro chamamento público.
Importante, ainda, destacar que a fundamentação do dano ao usuário deverá ser registrada por parecer de profissional de nível superior das cate-
gorias reconhecidas na Resolução CNAS nº 17, de 20 de junho de 2011.

Quanto à questão do dano gerado ao usuário, a natureza de alguns serviços


socioassistenciais, especialmente os de alta complexidade – sobretudo em
instituições de longa permanência – pode configurar hipótese de dispensa
do chamamento público, com a justificativa de evitar que a eventual trans-

módulo iI | Principais questões do MROSC e suas implicações no SUAS 59


ferência dos usuários, em função de uma parceria com entidade distinta da
que lhes presta o serviço, contribua para um novo rompimento de vínculos,
ensejando, assim, fator de risco a sua integridade física e emocional.

O serviço de acolhimento, em qualquer modalidade de oferta, pressupõe a


DICA construção de vínculo de afeto e confiança entre os usuários e a equipe téc-
Para a efetivação das parcerias, o
nica, educadores/cuidadores e demais profissionais. A execução desse servi-
gestor local deverá avaliar, além
das condições técnicas e de infraes- ço deve se dar em unidade de referência inserida na comunidade com carac-
trutura das entidades, se a possibili- terísticas residenciais, ambiente acolhedor e estrutura física adequada,
dade de rompimento do vínculo
visando o desenvolvimento de relações mais próximas do ambiente familiar.
com os demais usuários, a equipe
e com o ambiente já familiar pode
acarretar danos à integridade física
5.3.4 EMENDAS PARLAMENTARES
e emocional dos usuários. Além
disso, nos casos de ampliação da
capacidade de oferta do órgão É de conhecimento geral que as emendas parlamentares são destinadas a
gestor, fazer o chamamento pú-
projetos que serão executados nos municípios que constituem a base polí-
blico é regra, não cabendo, assim,
a dispensa desse procedimento, tica dos parlamentares que as propuseram, não sendo raros os casos nos
mesmo para aquelas entidades ou quais já há a indicação prévia da entidade beneficiada com o recebimento de
organizações de assistência social
recursos públicos.
que possuam parcerias em vigor.

Nos casos das emendas parlamentares, torna-se importante e prudente ve-


rificar a regra do art. 29 da Lei nº 13.019/2014:

Art. 29. Os termos de colaboração ou de fomento que envolvam


recursos decorrentes de emendas parlamentares às leis orçamentá-
rias anuais e os acordos de cooperação serão celebrados sem cha-
mamento público, exceto em relação aos acordos de cooperação,
quando o objeto envolver a celebração de comodato, doação de
bens ou outra forma de compartilhamento de recurso patrimonial,
hipótese em que o respectivo chamamento público observará o dis-
posto nesta Lei. (BRASIL, 2014c).

A LOAS prevê que não compete à União a execução, direta ou indireta (por
meio de parcerias com entidades de assistência social), de serviços, progra-
mas e projetos socioassistenciais. Essa atribuição é exercida pelos estados,
municípios e o Distrito Federal, conforme o inciso V dos arts. 13, 14 e 15,
todos da Lei nº 8.742, de 1993 (BRASIL, 1993b).

Assim a União, via Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS), não re-
passará diretamente, por meio de transferências voluntárias, recursos para
entidades ou organizações de assistência social para prestação de serviços,
programas ou projetos socioassistenciais.

O §5º do Art. 4º do Decreto nº 7.788, de 2012, estabelece que o FNAS po-


derá repassar recursos destinados à assistência social aos entes federados
por meio de convênio, ajuste, acordo, contrato ou instrumento congênere,

60 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


sendo vedado ao convenente transferir a terceiros a execução do objeto do
instrumento (BRASIL, 2012b).

Nessa perspectiva as emendas parlamentares federais, que são destinadas


às entidades e organizações de assistência social, as beneficiarão por meio
de convênio firmado entre a União e o estado, Distrito Federal ou município,
já que o FNAS não formaliza parcerias diretamente com OSCs, segundo o
Decreto nº 7.788, de 15 de agosto de 2012 (BRASIL, 2012b).

Figura 6 – Fluxograma dos recursos originados de emendas parlamentares


federais

Emenda Parlamentar Fundos dos


Federal carimbada
para a Entidade de FNAS Estados e
Municípios
Assistência Social

Fonte: Informação verbal10.

Importante destacar que o §5º do art.4º veda o subconveniamento, cabendo


ao ente recebedor (municípios e estados) da emenda parlamentar federal a
execução e prestação de contas ao FNAS.

Os estados, municípios e Distrito Federal revertem os materiais e bens


adquiridos às entidades e organizações de assistência social por meio de
outros instrumentos jurídicos que não são os termos de fomento e de co-
laboração, tendo em vista que nesses casos não envolvem a execução de
serviços, programas ou projetos de assistência social.

Em relação às emendas parlamentares estaduais e municipais, os repasses


serão feitos para o Fundo Estadual ou Municipal de Assistência Social, e
estes, por sua vez, repassam os valores para as devidas entidades. Quanto a
esse processo, não há a exigência de chamamento público.

Figura 7 – Fluxograma dos recursos originados de emendas parlamentares


estaduais ou municipais

Emenda
Estadual ou
Parlamentar
Municipal
carimbada

Ausência de
FEAS ou
Chamamento
FMAS Público
10 Apresentação do curso on-line
MROSC SUAS para SAGI, em novem-
Entidade de Celebração do
bro de 2017, slide 191.
Assistência Termo de Fomento
Social ou de Colaboração
11 Apresentação do curso on-line
MROSC SUAS para SAGI, em novem-
Fonte: Informação verbal11.
bro de 2017, slide 192

módulo iI | Principais questões do MROSC e suas implicações no SUAS 61


De forma geral, os estados, Distrito Federal ou municípios executam o recur-
so oriundo das emendas parlamentares a fim de beneficiar as entidades es-
colhidas, adquirindo, assim, materiais permanentes e de consumo, veículos
e contratação de serviços de terceiros de curta duração.

5.3.5 SUBVENÇÕES

A nova lei se aplica aos casos de subvenções previstas no inciso I do § 3º do


art. 12 da Lei nº 4.320, de 1964 (BRASIL, 1964), exceto em relação ao chama-
mento público, que será inexigível, conforme hipótese do inciso II do art. 31
da Lei nº 13.019/2014 (BRASIL, 2014c).

Deverá haver rubrica geral na Lei Orçamentária Anual do estado, município


ou Distrito Federal referente à subvenção social e também à edição de lei
específica que estabelecerá o valor e a entidade beneficiada.

5.3.6 REGRAS DE UTILIZAÇÃO DE RECURSOS NAS PARCERIAS

A legislação cria regras novas e mais claras para as parcerias entre Estado e
sociedade civil e garante maior transparência e segurança no repasse de re-
cursos públicos para as organizações. Dessa maneira, deve-se previamente
conhecer como funcionam essas novas regras e quais pontos foram essen-
ciais, para que esses recursos possam ser devidamente utilizados.

5.3.7 PAGAMENTO DE PESSOAL DAS ENTIDADES


SAIBA MAIS
Art. 46. Poderão ser pagas, entre
A Lei nº 13.019/2014 trouxe expressamente em seu art. 46, apresentado a
outras despesas, com recursos
vinculados à parceria: seguir, a possibilidade de utilização dos recursos da parceria, entre outras
I – remuneração da equipe despesas, para: a remuneração da equipe encarregada da execução do plano
encarregada da execução do
de trabalho, inclusive de pessoal próprio da organização, durante a vigência
plano de trabalho, inclusive de
pessoal próprio da organização da da parceria, incluídas as despesas com encargos sociais e trabalhistas.
sociedade civil, durante a vigência
da parceria, compreendendo as Ressalta-se que, apesar de ser possível o pagamento da remuneração dos
despesas com pagamentos de
impostos, contribuições sociais,
recursos humanos e seus encargos, a equipe contratada pela entidade não
Fundo de Garantia do Tempo de tem vínculo trabalhista com o poder público, conforme o disposto no § 3º do
Serviço – FGTS, férias, décimo
art. 46 da Lei nº 13.019/2014:
terceiro salário, salários proporcio-
nais, verbas rescisórias e demais
encargos sociais e trabalhistas; §3º O pagamento de remuneração da equipe contratada pela or-
(BRASIL, 2015c). ganização da sociedade civil com recursos da parceria não gera
vínculo trabalhista com o poder público. (BRASIL, 2014).

ATENÇÃO!
As verbas rescisórias poderão ser pagas após o término da parceria, desde que proporcionais ao tempo em
que o profissional atuou na execução do objeto.

62 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


5.3.8 REPROGRAMAÇÃO DE RECURSOS DO COFINANCIAMENTO FEDERAL

O cofinanciamento federal dos serviços, programas e projetos socioassis-


tenciais é realizado na modalidade fundo a fundo, possibilitando ao gestor
a reprogramação dos saldos no final do exercício, conforme o disposto nos
art. 30 e 31 da Portaria MDS nº 113, de 2015 (BRASIL, 2015a).

Nos casos de termos de fomento ou de colaboração firmados em âmbito


local, o recurso transferido para a entidade poderá ser utilizado até a data
DICA
Em casos excepcionais, o
final de vigência do respectivo instrumento. Após o final da vigência, a par- pagamento em data posterior à
cela relativa ao recurso federal e a respectiva aplicação financeira não utiliza- vigência do instrumento deverá ser
devidamente justificado, se expres-
das deverão ser devolvidas à conta vinculada de origem do recurso.
samente autorizado pelo gestor
da parceria e desde que o fato
gerador da despesa tenha ocorrido
5.3.9 CUSTOS INDIRETOS
durante a vigência do instrumento
pactuado.
A Lei define custo indireto no domínio de uma parceria. Esses custos podem
ser despesas com internet, transporte, aluguel e telefone, bem como a remu-
neração de serviços contábeis e de assessoria jurídica necessários para que a
OSC cumpra a legislação de transparência e prestação de contas do uso do
recurso público. Eles devem estar previstos no plano de trabalho.

5.3.10 REGRA APLICÁVEL ÀS PARCERIAS COM RECURSOS FEDERAIS, ES-


TADUAIS E MUNICIPAIS

Quando a parceria envolve recursos federais, estaduais e municipais, a regra


aplicável a ela depende de dois aspectos. O primeiro refere-se à finalidade do
recurso e o segundo às regras procedimentais relativas às etapas de celebra-
ção, execução e prestação de contas.

Com relação à finalidade, o gestor local e a entidade deverão respeitar as


regras de utilização de acordo com a fonte do recurso e com sua origem.
Sendo assim, a despesa a ser realizada com recurso da União deverá ter
como base as normas federais. Analogamente, por exemplo, as despesas
com recursos e fonte estaduais deverão seguir as normas estaduais.

No que diz respeito ao segundo aspecto, o gestor local deverá observar o DICA
que diz a Lei nº 13.019/2014, as normas gerais do SUAS e os normativos Os procedimentos relativos à
aplicação das regras da parceria
municipais, como o decreto de regulamentação da Lei.
com a entidade deverão observar a
norma local na formalização.

5.3.11 POSSIBILIDADE DE AQUISIÇÃO DE EQUIPAMENTOS E MATE-


RIAIS PERMANENTES OU REALIZAÇÃO DE REFORMAS E OBRAS EM
PARCERIAS COM COFINANCIAMENTO FEDERAL

Em parcerias que envolvem a execução dos recursos do cofinanciamento


federal dos serviços, programas e projetos socioassistenciais, deve-se obser-

módulo iI | Principais questões do MROSC e suas implicações no SUAS 63


var a natureza da despesa, pois esses são destinados, atualmente, ao custeio
das ações, não podendo ser feitas despesas de capital, tais como:

 aquisição de bens e materiais permanentes;

 construção ou ampliação de imóveis;

 reformas que modifiquem a estrutura da edificação; e

SAIBA MAIS  em obras públicas ou na constituição de capital público ou privado.


Art. 2º
I – Material de Consumo, aquele A Portaria nº 448, de 13 de setembro de 2002 (BRASIL, 2002a), da Secretaria
que, em razão de seu uso corrente
e da definição da Lei 4.320/64,
do Tesouro Nacional (STN), em seu Art. 2º, define a natureza das despesas e
perde normalmente sua identida- especifica o que é considerado material de consumo e material permanente.
de física e/ou tem sua utilização
limitada a dois anos.
De outra forma, destaca-se que são possíveis as obras de conservação, adap-
II – Material Permanente, aquele
que, em razão de seu uso corrente, tação de bens imóveis e reparos, considerando que tais despesas são classi-
não perde a sua identidade física, ficadas como de custeio.
e/ou tem uma durabilidade supe-
rior a dois anos (BRASIL, 2002).
Conforme a Lei nº 4.320/64, em seu art. 12, a despesa será classificada nas
seguintes categorias econômicas:

§ 1º Classificam-se como Despesas de Custeio as dotações para


manutenção de serviços anteriormente criados, inclusive as des-
tinadas a atender a obras de conservação e adaptação de bens
imóveis. (BRASIL, 1964).

A Portaria STN nº 448/2002 (BRASIL, 2002a), no que se refere à manutenção


e conservação de bens imóveis, dispõe que deve haver registro do valor das
despesas com serviços de reparos, consertos, revisões e adaptações; pintura
e reformas de imóveis em geral, reparos em instalações elétricas e hidráuli-
cas; reparos, recuperações e adaptações de biombos, carpetes, divisórias e
lambris, manutenção de elevadores, limpeza de fossa e afins.

5.3.12 IMPOSSIBILIDADE DE USO DO RECURSO DO COFINANCIAMEN-


TO FEDERAL PARA O FOMENTO ÀS ENTIDADES DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

A natureza do termo de fomento tem como objetivo incentivar o desenvolvi-


mento de novos projetos que, no âmbito do SUAS, têm função de qualificar
e complementar as ofertas já parametrizadas/tipificadas.

Nessa perspectiva, é importante lembrar dos preceitos da Portaria MDS nº


113, de 10 de dezembro de 2015, ao tratar da execução financeira dos recur-
sos do cofinanciamento federal, que estabelece, no caso dos Blocos de Fi-
nanciamento (Proteção Social Básica, Proteção Social Especial de Média Com-

64 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


plexidade e da Proteção Social Especial de Alta Complexidade), ser necessário
guardar compatibilidade com a Tipificação Nacional dos Serviços Assisten-
ciais, com o respectivo Plano de Assistência Social e demais normativos. ATENÇÃO!
No caso dos programas e projetos,
Assim, os recursos referentes a cada Bloco de Financiamento, Programa e o uso do recurso deve ser compa-
tível com o Plano de Assistência
Projeto devem ser aplicados exclusivamente nas ações e finalidades defini- Social, o Plano de Ação e demais
das para estes e, portanto não sendo compatível com a celebração de parce- normativos.

rias por meio dos termos de fomento.

5.4 PRESTAÇÃO DE CONTAS

SAIBA MAIS
A Lei nº 13.019/2014 traz uma nova lógica para a prestação de contas das Art. 64. A prestação de contas
apresentada pela organização da
parcerias, com base na avaliação de resultados. O foco da prestação de con-
sociedade civil deverá conter ele-
tas e de sua análise é a execução do objeto, considerando a verdade real e os mentos que permitam ao gestor
resultados alcançados (art. 64, §3º). da parceria avaliar o andamento
ou concluir que o seu objeto foi
executado conforme pactuado,
A lógica da prestação de contas, em parceria com recurso do cofinanciamen-
com a descrição pormenorizada
to, deve ser compatibilizada com os normativos vigentes no SUAS, especial- das atividades realizadas e a com-
mente quando ela envolver recursos de cofinanciamento federal. provação do alcance das metas e
dos resultados esperados, até o
período de que trata a prestação
No caso da execução de serviços, programas ou projetos socioassistenciais de contas.
por meio da colaboração com entidades e organizações de assistência so- […]

cial, o gestor estadual ou municipal fica responsável por verificar a boa e § 3o A análise da prestação de
contas deverá considerar a verda-
regular utilização do recurso por parte da instituição. de real e os resultados alcançados
(BRASIL, 2014).
Neste aspecto, caso sejam apuradas impropriedades ou irregularidades na
execução dos recursos provenientes do erário federal por parte da entidade,
o gestor local será instado a encaminhar informações, documentos ou de-
volver recursos à União, conforme a situação, de acordo com o disposto no
art. 25 da Portaria MDS nº 113/2015:

Art. 25 Compete aos estados, municípios e o Distrito Federal zelar


pela boa e regular utilização dos recursos transferidos pela União
executados direta ou indiretamente por estes.

Parágrafo único. Os entes serão responsáveis pela boa e regular uti-


lização do recurso, devendo, sempre quando solicitados, encami-
nhar informações, documentos ou realizar devolução de recursos
à União, nos casos de comprovada irregularidade na execução dos
serviços, programas e projetos, inclusive por meio das entidades e
organizações de assistência social, ou de irregularidade na apura-
ção dos índices de gestão, conforme o caso. (BRASIL, 2013).

Se a identificação da irregularidade ou impropriedade partir de uma notifica-


ção, por exemplo, do FNAS, o gestor local deverá encaminhar justificativas

módulo iI | Principais questões do MROSC e suas implicações no SUAS 65


combinadas com documentação comprobatória ou a devolução do recurso
para a União, não impedindo as demais ações, a posteriori, junto à entidade.

É importante destacar que toda documentação relativa à execução física e


financeira da parceria deverá estar à disposição tanto do seu órgão gestor
como dos órgãos federais de controle interno e externo, conforme disposto
no inciso XV dos arts. 42 e 68 da Lei nº 13.019/2014.

5.5 PROCEDIMENTO SIMPLIFICADO

É possível ter procedimento simplificado de prestação de contas para as


parcerias no âmbito do SUAS regulado por decreto estadual ou municipal.
A Lei nº 13.019/2014 prevê que o regulamento poderá criar mecanismo de
procedimento simplificado de prestação de contas conforme definido no §3º
do art. 63:

Art. 63 A prestação de contas deverá ser feita observando-se as


regras previstas nesta Lei, além de prazos e normas de elaboração
constantes do instrumento de parceria e do plano de trabalho.

[…]

§ 3º O regulamento estabelecerá procedimentos simplificados para


prestação de contas. (BRASIL, 2015c).

Vale lembrar que, mesmo com o procedimento simplificado, a entidade de-


verá manter todos os documentos comprobatórios das despesas e da exe-
cução física e financeira da parceria, observando as normas específicas. Por
consequência, o gestor da parceria deverá ter acesso à documentação e terá
a responsabilidade, perante o FNAS, de prestar contas do cofinanciamento
federal.

Acrescente-se que a definição de procedimento simplificado deve observar o


disposto no art. 2º, XIV da Lei 13.019/2014, de acordo com o qual a análise e
manifestação conclusiva das contas são responsabilidades da administração
pública, sem prejuízo da atuação dos órgãos de controle.

5.6 GARANTIA DA PUBLICIDADE DAS PARCERIAS COM RESPEI-


TO À DIGNIDADE DOS USUÁRIOS

O art. 11 da Lei nº 13.019/2014 prevê que “a organização da sociedade civil


deverá divulgar na internet e em locais visíveis de suas sedes sociais e dos
estabelecimentos em que exerça suas ações todas as parcerias celebradas
com a administração pública” (BRASIL, 2014).

66 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


Isso significa que a celebração das parcerias deve ser visibilizada. No entan- DICA
to, deve-se assegurar que a privacidade da oferta dos serviços e integridade Recomenda-se que os serviços de

dos usuários sejam preservadas, de forma a não os estigmatizar. acolhimento de alta complexidade,
por serem ofertados em unidades
com características residenciais,
A exceção a essa recomendação se dá nos casos de serviço de acolhimento não possuam identificação externa,
para pessoas idosas, que deverão ter identificação externa visível, conforme de forma a evitar a estigmatização
e garantir privacidade e dignidade
disposto no art. 37, § 2º da Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003 – Estatuto
aos usuários.
do Idoso (BRASIL, 2003).

Assim, para realizar a publicidade das parcerias celebradas com a adminis-


tração pública para a prestação de serviço de acolhimento é recomendado
que as informações sejam divulgadas nas áreas internas da entidade, em
locais de fácil visibilidade.

A administração pública deverá manter, em seu site oficial na internet, a


relação das parcerias celebradas com OSCs e dos respectivos planos de tra-
balho. As informações serão as seguintes:

a. data de assinatura, identificação do instrumento de parceria e do


órgão responsável;

b. nome e CNPJ da OSC;

c. descrição do objeto da parceria;

d. valor total e valores liberados, quando for o caso;

e. situação da prestação de contas;

f. valor total da remuneração da equipe de trabalho, as funções que


seus integrantes desempenham e a remuneração prevista para o respec-
tivo exercício, quando vinculados à execução do objeto e pagos com re- DICA
cursos da parceria. A relação das parcerias celebradas
com as OSCs deverão ficar dispo-
A administração pública também deverá agir com transparência ativa ao lon- níveis por, pelo menos, 180 dias,
contados após seu encerramento.
go do processo seletivo e nos casos de dispensa e inexigibilidade de chama-
mento público – situações essas que demandarão do gestor público justifi-
cação das razões de não ter realizado o processo de seleção.

A justificativa deverá ser publicada, pelo menos, cinco dias antes da for-
malização da parceria, no site oficial do órgão e, eventualmente, em outros
meios oficiais.

Além disso, é necessário dar transparência aos atos de gestão, publicando


em meios oficiais de comunicação a nomeação do gestor da parceria, a de-
signação das comissões de seleção e de monitoramento e avaliação.

módulo iI | Principais questões do MROSC e suas implicações no SUAS 67


5.7 REGRAS DE TRANSIÇÃO

A Lei nº 13.019/2014, apesar de publicada em 1 de agosto de 2014, entrou


em vigor para a União e os estados em janeiro de 2016, depois de transcor-
ridos 540 dias de sua publicação, e, para os municípios, vigora desde 1 de
janeiro de 2017.

Como regra geral, a Lei no art. 83 disciplina que as parcerias já existentes no


momento da entrada em vigor permanecerão regidas pela legislação vigente
ao tempo de sua celebração, sem prejuízo de aplicação subsidiária, desde
que em benefício do alcance do objetivo da parceria.

Além disso, prevê a prorrogação de ofício no caso de atraso na liberação


do recurso por parte da administração pública, por período equivalente ou
superior ao atraso, e também no prazo de um ano da entrada em vigor da
Lei (23/01/2017, para estados, União e Distrito Federal, e 01/01/2018, para
os municípios) e a possibilidade de substituição dos instrumentos para ter-
mos de fomento ou colaboração ou a rescisão unilateral pela administração
pública para as parcerias firmadas:

a. por prazo indeterminado, antes da entrada em vigor da Lei nº


13.019/2014;

b. prorrogáveis por período superior ao inicialmente estabelecido.

Um exemplo dessa segunda hipótese (item b) seriam as parcerias com pra-


zo de vigência inicial de dois anos que já obtiveram prorrogação por prazo
maior do que dois anos, estando vigentes há mais de quatro anos.

Observa-se que o Decreto Federal nº 8.726/2016, embora se aplique apenas


à União, complementou as regras de transição da Lei, podendo ser aplicado
subsidiariamente quando estados, Distrito Federal ou municípios não pos-
suírem regulamento próprio. De acordo com o art. 91 (BRASIL, 2016c):

68 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


 as parcerias que tiverem substituído os instrumentos para termo de
cooperação ou de fomento terão a prestação de contas disciplinadas pela
Lei nº 13.019/2014 e pelo regulamento;

 a administração pública poderá firmar termo aditivo de parceria vi-


gente, a ser regido pela legislação em vigor ao tempo de sua celebração,
desde que limitada a vigência até 23 de janeiro de 2017, ou seja, data
correspondente a um ano após a entrada em vigor da Lei para União,
estados e Distrito Federal; e

 poderá haver aplicação da regra de prestação de contas aos convê-


nios e instrumentos congêneres vigentes na data da entrada em vigor da
Lei nº 13.019/2014 que estejam em fase de execução de seu objeto ou de
análise de prestação de contas.

módulo iI | Principais questões do MROSC e suas implicações no SUAS 69


MÓDULO III
ATUAÇÃO DOS GESTORES DO
SUAS NA AGENDA DO MROSC
Este módulo visa descrever as fases que envolvem as parcerias entre os órgãos ou
entidades da administração pública e as OSCs, bem como identificar os gestores
da assistência social envolvidos na aplicação do novo Marco Regulatório das par-
cerias do SUAS.

70 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


AULA 6.
O papel de cada ator na gestão do SUAS e
as respectivas implicações no MROSC

Com a criação da nova Lei, as OSCs puderam ampliar suas capacidades


de atuação e incorporar muitas de suas pautas à agenda pública, por outro
lado, os demais atores envolvidos nesse novo modelo, como os gestores da
política de assistência social, os CAS e os próprios usuários são elementos
fundamentais na concretização de parcerias para o desenvolvimento social,
em seus vários aspectos.

Nesta aula, vamos conhecer esses atores que encontram-se envolvidos no


processo de celebração de parcerias sob os moldes na nova Lei, bem como
suas atividades em cada fase inerente a esse processo entre as OSCs e a
administração pública.

6.1 AS FASES DAS PARCERIAS NO NOVO MODELO DO MROSC

As parcerias entre os órgãos ou entidades da administração pública e as


OSCs envolvem cinco fases principais:

Figura 8 – Diagrama das fases das parcerias no novo modelo do MROSC

Fonte: Lopes, Santos e Brochardt (2016).

módulo iII | Atuação dos gestores do SUAS na agenda do MROSC 71


FASES ÓRGÃO GESTOR ENTIDADES CMAS

Especificar no Plano Dimensionar Fiscalizar e acom-


de Assistência Social objetivos e indica- panhar a confor-
Planejamento
(AS) à demanda de dores no plano de midade com o
celebrar parcerias. trabalho. Plano de AS.

Elaboração do Edital Acompanhar e exi-


Seleção e Participação da
de Chamamento gir a transparência
celebração seleção.
Público. da seleção.

Fiscalizar o
Exigir a prestação da Publicizar todas
cumprimento das
Execução oferta nos termos do as parcerias na
metas do plano de
plano de trabalho. internet.
trabalho.

Estabelecer metas
Visitar aos locais claras no plano Acompanhar e fis-
Monitoramento
onde se desenvolvem de trabalho para calizar a execução
e avaliação
as atividades. fins de monitora- das parcerias.
mento.

Prestação de Relatório de execu-


Plataforma eletrônica.
contas ção do objeto.

6.1.1 PLANEJAMENTO

A etapa de planejamento é comum tanto à administração pública quanto às


organizações da sociedade civil. É considerada a fase mais importante de
uma parceria, pois, diante de um bom planejamento, há a garantia da plena
efetividade das demais etapas de seleção e celebração, execução, monitora-
mento e avaliação e, sobretudo, prestação de contas.

A partir do planejamento poderá ser elaborado o plano de trabalho, docu-


mento essencial para a realização da parceria.

O plano de trabalho deverá conter as seguintes informações:

a. descrição da realidade que será objeto da parceria, devendo ser


demonstrado o nexo entre essa realidade e as atividades ou projetos e
metas a serem atingidas;

b. descrição de metas a serem atingidas e das atividades a serem de-


senvolvidas;

c. previsão de receitas e despesas a serem realizadas na execução das


atividades ou dos projetos;

72 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


d. forma de execução das atividades ou dos projetos e de cumprimen-
to das metas a eles atreladas;

e. definição dos parâmetros a serem utilizados para a aferição do


cumprimento das metas;

f. ações que demandarão pagamento em espécie, quando for o caso.

O plano de trabalho poderá incluir, eventualmente, o pagamento dos custos


indiretos necessários à realização da parceria, independentemente da pro-
porção em relação ao seu valor total. Poderão ser incluídos custos como:
despesas de consumo, estrutura e gestão como água, luz, internet, transpor-
te, aluguel, telefone, assessoria jurídica e serviços de contabilidade.

É importante levar em consideração que os custos indiretos não se confun-


dem com uma taxa de administração, de gerência ou outra similar (nesses
casos, proibidas). Todavia, se a organização ratear os custos com qualquer
outra fonte de financiamento, esta deverá apresentar memória de cálculo
que permita demonstrar a parte paga pela parceria e a parte paga com ou-
tros recursos. O objetivo desses registros é garantir que não haja duplicida-
de ou sobreposição de fontes de recursos em uma mesma parcela.

Além das informações citadas, deverão constar no plano de trabalho o deta-


lhamento de todos os valores referentes ao pagamento da equipe de traba-
lho. Nele, deverão ser incluídos:

a. valores dos impostos;

b. contribuições sociais;

c. FGTS;

d. férias;

e. décimo terceiro salário;

f. salários proporcionais;

g. verbas rescisórias;

h. demais encargos sociais.

É nesta etapa que cada parte envolvida deverá compreender o que se de-
seja com a parceria, refletindo sobre todas as necessidades em temos de
estrutura administrativa e, especialmente, de metas e resultados a serem
alcançados.

módulo iII | Atuação dos gestores do SUAS na agenda do MROSC 73


6.1.2 SELEÇÃO E CELEBRAÇÃO

A obrigatoriedade do procedimento de realização do chamamento público


foi a principal inovação implementada por essa etapa de seleção e celebra-
ção das parcerias.

Além de ser considerada uma medida de ação transparente e de incenti-


vo à gestão pública democrática, o chamamento público serve como meio
de ampliar as possibilidades de acesso das OSCs aos recursos públicos, ao
mesmo tempo que permite ao Estado ter contato com um universo mais
abrangente de organizações.

Outra relevante conquista é a proibição de inclusão, na fase de seleção, de


cláusulas ou condições que estabeleçam preferências ou distinções, sejam
estas baseadas na localização das organizações participantes ou qualquer
outro motivo que não seja relevante para a efetivação da parceria. Dessa ma-
neira, garante-se a participação de um número maior de organizações com
plena capacidade de apresentar a proposta.

Os itens relevantes pertinentes a essa etapa, são:

a. Edital

No chamamento público, o edital é o documento essencial que estabelecerá


todas as condições e os critérios para a escolha da entidade esclarecendo os
objetivos pretendidos com a parceria.

Para que o edital viabilize uma possível parceria entre o governo e as entida-
des de assistência social, ele deverá conter os seguintes itens:

 programação orçamentária que autoriza e viabiliza a celebração da


parceria;

 tipo de parceria a ser celebrada;

 objeto da parceria;

 datas, prazos, condições, local e forma de apresentação das pro-


postas;

 datas e critérios de seleção e julgamento das propostas (nesta par-


te, deverá ser apresentada também a metodologia de pontuação e, se for
o caso, os “pesos” a serem atribuídos a cada um dos critérios);

 valor ou teto previsto para a realização do objeto;

 condições para interposição de recurso administrativo;

74 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


 minutas dos instrumentos por meio das quais será celebrada a par-
ceria; e

 medidas de acessibilidade para pessoas com deficiência ou mobi-


lidade reduzida e idosos, de acordo com as características do objeto da
parceria.

b. Acessibilidade

O edital de chamamento público poderá conter cláusulas que exijam medi-


das de acessibilidade para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida
e idosos, tais como disponibilização e adaptação de espaços, equipamentos,
transporte, comunicação e bens ou serviços compatíveis com as limitações
físicas, sensoriais ou cognitivas, devendo ser observadas a Convenção sobre
os Direitos das Pessoas com Deficiência e a Lei Brasileira de Inclusão nº
13.146/2015 (BRASIL, 2015b).

c. Publicização do edital

Com relação a sua divulgação, o edital deverá ser publicado no site do ór-
gão público, com antecedência mínima de 30 dias e, ainda, a administração
pública poderá também expor os editais e as informações sobre todas as
parcerias estabelecidas em um único portal da internet.

Após sua publicação, as entidades interessadas poderão elaborar e apresen-


tar suas propostas, com as informações solicitadas. No momento em que
recebê-las, dentro do prazo estabelecido, a administração pública analisará,
no mínimo:

 a adequação das propostas aos objetivos específicos do programa


ou da ação em que se insere o objeto da parceria; e

 a correspondência das propostas ao valor de referência estabeleci-


DICA
O procedimento de análise prévia
do no chamamento público. dessas propostas é obrigatório
e, ao final, deverá formular como
d. Contrapartida resultado uma lista com a ordem
de classificação das propostas
apresentadas.
Com a nova Lei, não há mais a exigência da contrapartida financeira, porém,
se for desejo do órgão, poderá ser solicitada uma contrapartida somente em
forma de bens e serviços.

Essa contrapartida em bens e serviços, quando exigida, deverá ser mensura-


da em valores monetários equivalentes aos preços vigentes no mercado, não
podendo ser exigido o depósito do valor correspondente na conta bancária
específica do termo de fomento ou de colaboração.

módulo iII | Atuação dos gestores do SUAS na agenda do MROSC 75


e. Comissão de seleção

A Comissão de Seleção é a responsável por analisar as propostas enviadas


por uma OSC, sendo considerada como o órgão colegiado destinado a pro-
cessar e julgar os chamamentos públicos constituídos por ato publicado em
meio oficial de comunicação.

Para a instauração da Comissão de Seleção, deve ser assegurada a participa-


ção de pelo menos um servidor ocupante de cargo efetivo ou emprego per-
manente do quadro de pessoal da administração pública, bem como poder
contar com o apoio de especialistas e membros de conselhos de políticas
públicas setoriais indicados para essa finalidade.

Além disso, é importante destacar que, para participar da Comissão de


Seleção, nenhum membro poderá ter mantido, nos últimos cinco anos,
qualquer relação jurídica com, ao menos, uma das organizações partici-
pantes. Quando isso ocorrer, é necessário indicar um substituto com a
mesma qualificação que o membro anterior, porém sem o referido impedi-
tivo. Vale esclarecer também que esse impedimento não barra a continui-
dade da seleção e eventual celebração de parceria entre a OSC e o órgão ou
entidade pública federal a que o fundo esteja vinculado, desde que respei-
ATENÇÃO! tadas as condições citadas.
É necessário que a composição
da Comissão de Seleção seja
publicada em algum meio oficial
de comunicação.

DICA
Um exemplo de relação jurídica que impede a participação do gestor ou
outro membro na Comissão de Seleção é a de nos últimos cinco anos ter
atuado como associado, dirigente ou empregado de qualquer OSC em
disputa no chamamento público específico.

É importante também destacar que as parcerias financiadas com recursos


dos fundos da criança e do adolescente, do idoso, do meio ambiente e de
defesa de direitos difusos, entre outros, poderão ser selecionadas pelos res-
pectivos conselhos gestores, em substituição à comissão de seleção prevista
na Lei nº 13.019/2014, respeitada a legislação específica.

f. Convocação

De acordo com a nova Lei, torna-se necessário observar algumas fases que
compõem o processo de seleção até a celebração da parceria. Conforme citado
anteriormente, a primeira delas é a análise das propostas enviadas pelas OSCs.

Superada a fase de análise das propostas e julgamento de eventuais recur-


sos, o órgão ou a entidade pública deverá homologar e divulgar o resultado

76 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


da classificação das OSCs no processo de seleção na plataforma eletrônica e
em sua página oficial na internet.

É importante salientar que a divulgação deverá ser acompanhada de um re-


latório que apresente se:

 o conteúdo da proposta está de acordo com a modalidade de par-


ceria a ser adotada;

 a execução da proposta é viável e os valores estimados são compa-


tíveis com os preços de mercado; e

 o cronograma previsto na proposta é adequado e permite uma fis-


calização efetiva.

Depois da concretização da classificação das OSCs concorrentes aprova-


das, a administração pública deve convocar a OSC mais bem classificada
no certame para comprovar o preenchimento dos requisitos previstos nos
artigos 33, 34 e 39 da Lei nº 13.019/2014, por meio dos documentos legais
exigidos (BRASIL, 2014c). Por fim, a OSC deverá apresentar o detalhamento
da proposta submetida e aprovada no processo de seleção, que é o plano de
trabalho, com todos os pormenores exigidos pela Lei.

Já na celebração da parceria, o instrumento jurídico (termo de fomento, ter-


mo de colaboração ou acordo de cooperação) deverá conter as cláusulas
essenciais previstas no artigo 42 da Lei nº 13.019/2014 (BRASIL, 2014c). A DICA
cláusula de vigência deverá estabelecer o prazo correspondente ao tempo
Há hipóteses de não aceitação do
necessário para a execução integral do objeto da parceria. chamamento público, no entanto,
elas não dispensam o cumprimen-
to dos demais dispositivos da Lei,
6.1.3 EXECUÇÃO incluindo os requisitos de habilita-
ção e condições para a celebração
da parceria.
A etapa da execução de uma parceria, além de ser considerada como o mo-
mento de realização das atividades planejadas, é o ponto culminante do
planejamento, pois o objeto a ser cumprido necessita ter metas claras que
permitam a aferição dos resultados. Assim, no que diz respeito à execução
dos recursos, as entidades de assistência social podem adotar métodos usu-
almente utilizados no setor privado se responsabilizando pelo gerenciamen-
to administrativo e financeiro dos recursos recebidos.

A etapa da execução incorpora as regras vigentes durante a parceria, es-


pecialmente no que diz respeito ao consumo dos recursos. Os recursos
públicos exigem a existência de um pacto prévio sobre como serão utiliza-
dos. Esse é o anseio com os dispositivos trazidos pela nova Lei, que criou
mecanismos para a organização do sistema de parcerias e um conjunto
de regras mais claras, evitando, assim, os mesmos casos que geravam
insegurança jurídica.

módulo iII | Atuação dos gestores do SUAS na agenda do MROSC 77


A autorização expressa do pagamento das equipes que atuam nos projetos,
ATENÇÃO! assim como o reconhecimento de que os dirigentes também possam ser
Na Lei nº 13.019/2014 foram
pagos pelo trabalho que desempenham na parceria, é uma conquista. Dessa
estabelecidas regras para a etapa forma, a lei valoriza as especificidades das organizações da sociedade civil
de execução, com destaque para
e suas relações de trabalho, que são diferentes do funcionamento da admi-
a regulamentação do pagamento
da equipe do projeto, para o de- nistração pública.
talhamento dos itens de despesa
e para a contrapartida. São temas
que traduzem especificidades 6.1.3.1 O QUE É PERMITIDO PAGAR COM OS RECURSOS DA PARCERIA?
das organizações da sociedade ci-
vil e que não podem ser tratados Todas as despesas previstas no plano de trabalho poderão ser pagas com re-
com a mesma lógica das relações
entre órgãos públicos.
cursos vinculados à parceria, inclusive, a nova Lei contemplou alguns aspec-
tos que anteriormente não estavam claros no ordenamento jurídico. São eles:

a. Equipe de trabalho

É de fundamental importância saber que a seleção e a contratação de equipe


de trabalho pela OSC deverão levar em consideração os objetivos a serem
atingidos com a parceria e os conhecimentos que devem ser associados ao
projeto.

Para compor a equipe de uma parceria, poderão ser contratados profissio-


nais de um grupo pessoal próprio e todos os encargos sociais inclusos, não
deixando de observar que os valores:

 correspondam às atividades previstas no plano de trabalho e à qua-


lificação necessária para a função a ser desempenhada;

 sejam compatíveis com o valor de mercado da região e não superior


ATENÇÃO! ao máximo pago pelo Poder Executivo; e
O pagamento da equipe contra-
tada pela OSC é de responsabili-  sejam proporcionais ao tempo de trabalho dedicado à parceria cele-
dade da organização e sua parti-
brada.
cipação não gera nenhum tipo de
vínculo trabalhista com o poder
público. De forma semelhante, b. Diárias
caso a OSC não cumpra suas
obrigações trabalhistas, fiscais Em relação a alguns aspectos das diárias, como deslocamento, hospedagem
e comerciais, a administração
pública não se torna responsável
e alimentação, estes poderão ser pagos diretamente às pessoas contratadas
por seu pagamento. para a parceria e deverão respeitar os valores máximos adotados pela admi-
nistração pública. As mesmas despesas poderão ser pagas aos voluntários
atuantes na parceria, nos termos da Lei nº 9.608/1998 (BRASIL, 1998b).

c. Custos indiretos

É possível serem custeadas despesas com água, luz, internet, transporte,


aluguel e telefone, bem como remunerações de serviços contábeis e de as-
sessoria jurídica.

78 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


6.1.3.2 O QUE NÃO É PERMITIDO PAGAR COM OS RECURSOS DA PAR-
CERIA?

Os itens a seguir não podem ser pagos com esse tipo de recursos:

a. taxa de administração, de gerência ou similar (esta taxa não se con-


funde com os custos indiretos nem com a remuneração de pessoal);

b. gastos de finalidade diversa do objeto da parceria; e

c. servidor ou empregado público, salvo nas hipóteses previstas em lei.

6.1.3.3 LIBERAÇÃO DE PARCELAS

Quem rege a liberação das parcelas pela administração pública é o cronogra-


ma de desembolso aprovado na parceria.

A lei recomenda que o repasse das parcelas seja acompanhado pela OSC,
por meio de plataforma eletrônica na internet, que deverá ser disponibilizada
pela administração pública. A liberação das parcelas poderá ser suspensa
em três situações:

a. quando houver evidências de irregularidade na aplicação de parcela


anteriormente recebida;

b. quando for constatado desvio de finalidade na aplicação dos recur-


sos ou quando a organização estiver inadimplente em relação às obriga-
ções estabelecidas no termo de colaboração ou de fomento; e

c. quando a OSC deixar de adotar, sem justificativa suficiente, as me-


didas apontadas pela administração pública ou pelos órgãos de controle DICA
para resolver questões pendentes. Para a liberação das parcelas é
muito importante que todas as
orientações sejam comunicadas
Para o recebimento dos recursos durante a execução da parceria, é neces- por escrito e arquivadas para facili-
sário ter uma conta bancária específica para que esses recursos sejam de- tar a prestação de contas final.

positados e administrados. Essa conta deverá ser isenta de tarifa bancária


e ser de um banco público indicado pelo órgão da administração pública.
Os rendimentos gerados com essas aplicações serão utilizados no próprio
objeto da parceria, estando sujeitos às mesmas condições de prestação de
contas exigidas para os recursos transferidos.

6.1.3.4 FORMAS DE PAGAMENTO

Outro fator importante é que os pagamentos dos recursos deverão ser re-
alizados, em regra, mediante transferência bancária, com identificação do
beneficiário final.

módulo iII | Atuação dos gestores do SUAS na agenda do MROSC 79


Nas situações em que for necessário realizar pagamentos em dinheiro, de-
verão ser emitidos recibos como documento de comprovação e informados
os dados do beneficiário da despesa na plataforma eletrônica. Um exemplo
dessa forma de pagamento são os projetos em regiões da Amazônia, que
necessitam do transporte de barqueiros, ou nas regiões de povos e comu-
nidades tradicionais, onde os beneficiários ou prestadores de serviços não
têm conta bancária.

6.1.3.5 PRORROGAÇÃO DA PARCERIA

Com relação à possibilidade de prorrogação de uma determinada parceria,


deve-se levar em consideração os seguintes aspectos:

 a vigência de uma parceria poderá ser alterada caso a organização


solicite ou quando houver atraso por parte da administração pública na
liberação dos recursos;

 se a OSC necessitar mais tempo para concluir suas atividades, de-


verá apresentar um pedido formal, devidamente justificado, no mínimo
30 dias antes do término previsto; e

 quando for motivada por atraso da administração pública, a prorro-


gação deve corresponder exatamente ao período de atraso.

6.1.4 MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO

Um processo de monitoramento e avaliação tem importância estratégica


para efetivar a gestão de uma política pública, pois permite um acompanha-
mento orientado com foco nos objetivos e metas previstos, possibilitando,
assim, o apontamento de eventuais erros, a revisão de decisões, a racionali-
zação de recursos públicos e, consequentemente, um redirecionamento das
ações, visando o melhor caminho a ser percorrido.

Quanto à execução da parceria, a administração pública deverá estabelecer


o acompanhamento de como os projetos e as atividades estão se desenvol-
vendo, com especial atenção para os resultados alcançados pela organiza-
ção parceira. É de suma importância visitar os locais onde as atividades e os
projetos forem desenvolvidos.

Recomenda-se, sempre que possível, que o acompanhamento das parcerias


com tempo de duração superior a um ano possa contar com mais uma fer-
ramenta: a “pesquisa de satisfação com os beneficiários” – seus resultados
passam a auxiliar a avaliação da parceria, reorientar e revisar, caso necessá-
rio, as metas e atividades.

80 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


Com relação a essas ações de monitoramento e avaliação, sabe-se que o
poder público poderá contar com o apoio técnico de terceiros, delegar com-
petências ou até mesmo firmar sociedades com outros órgãos ou entidades DICA
que estejam próximos ao local do projeto a ser avaliado. A análise dos resultados da parceria
será descrita em um relatório técni-
co de monitoramento e avaliação,
Dentro do contexto dessa fase, há a instituição da Comissão de Monitora-
a ser apresentado à Comissão de
mento e Avaliação, que é um órgão colegiado que tem por função básica Monitoramento e Avaliação.
monitorar e avaliar as parcerias celebradas com organizações da sociedade
civil, estabelecido por ato publicado em meio oficial de comunicação, ou
seja, no Diário Oficial e no site. Essa Comissão deverá ter assegurada a par-
ticipação de pelo menos um servidor ocupante de cargo efetivo ou emprego
permanente do quadro de pessoal da administração pública, bem como de
membros de conselhos de políticas públicas setoriais indicados para essa
finalidade.

É possível também que a execução da parceria possa ser acompanhada e


fiscalizada pelos conselhos de políticas públicas relacionados às atividades
desenvolvidas e pelos mecanismos de controle social previstos na Lei de
Acesso à Informação nº 12.527/2011 (BRASIL, 2011c).

As atividades a serem realizadas pelos gestores públicos são:

 acompanhar e fiscalizar a parceria;

 informar ao seu superior hierárquico algum acontecimento que


comprometa as atividades ou metas da parceria;

 informar ao seu superior hierárquico qualquer indício de irregulari-


dade na gestão dos recursos e apontar as providências a serem adotadas;

 emitir parecer de análise da prestação de contas final, com base no


relatório técnico de monitoramento e avaliação e em outros relatórios; e

 disponibilizar materiais e equipamentos tecnológicos necessários


às atividades de monitoramento e avaliação. ATENÇÃO!
Caso as atividades da parceria não
Cabe ressaltar que, pela nova Lei, o gestor público também tem a obrigação sejam realizadas pela organização

pessoal de emitir o parecer técnico e conclusivo. ou se comprove que não foram


bem executadas, a administração
pública poderá:
As medidas destacadas devem ser tomadas sempre com a intenção de que • retomar os bens públicos que
os serviços essenciais à população não sejam interrompidos. estejam com a OSC parceira; ou
• assumir a responsabilidade pela
execução do restante do objeto
6.1.5 PRESTAÇÃO DE CONTAS previsto no plano de trabalho.

Antes de detalhar esta fase, é importante conhecer seu significado. A pres-


tação de contas é uma ação que concerne, geralmente, à área da economia

módulo iII | Atuação dos gestores do SUAS na agenda do MROSC 81


e das finanças, pública ou privada, que consiste em apresentar um relatório
(ou vários, se for o caso) que mostre os movimentos financeiros ou econô-
micos de uma empresa, entidade pública ou de indivíduo durante determi-
nado período de tempo.

No caso da Lei nº 13.019/2014 (BRASIL, 2014c), foi evidenciado um novo


ponto de vista sobre a prestação de contas, compartilhando a responsabi-
lidade dessa etapa entre as OSCs e a administração pública. Pode parecer
óbvio, mas é uma mudança importante de abordagem. Afinal, se os recursos
utilizados em uma parceria são públicos, é o público, a sociedade como um
todo, que deverá saber como o seu dinheiro está sendo usado.

ATENÇÃO! É sempre bom ressaltar que uma boa prestação de contas é o resultado de
As atividades no processo de um bom planejamento e de uma execução cuidadosa, preocupada em aten-
prestação de contas têm seu der o que estava previsto no plano de trabalho.
início no momento da liberação
da primeira parcela dos recursos
financeiros, observando as regras
A Lei determina que o poder público forneça manuais específicos para orien-
previstas na Lei nº 13.019/2014, tar as organizações no momento da celebração das parcerias, tendo como
bem como os prazos e as normas premissas a simplificação e racionalização dos procedimentos. Se houver
estabelecidas.
alterações no conteúdo desses manuais, elas devem ser previamente infor-
madas à OSC e amplamente publicadas em meios oficiais de comunicação.

Para atender à transparência na execução das atividades e seus respectivos


repasses, a prestação de contas deverá ser inserida em plataforma eletrôni-
ca, permitindo que qualquer cidadão interessado possa acompanhar o anda-
mento dessas atividades e os valores gastos.

DICA
Não há previsão de prestação de contas a cada parcela, mas de forma anual, além da final.
Sempre que a duração da parceria exceder um ano, a organização da sociedade civil deverá
apresentar prestação de contas ao fim de cada exercício para monitorar o cumprimento das
metas da parceria.

6.1.5.1 OS ELEMENTOS DA PRESTAÇÃO DE CONTAS

O objetivo da prestação de contas a ser elaborada e apresentada pela OSC


é permitir que o gestor público avalie o cumprimento do objeto a partir da
confrontação das metas previstas, verificando se essas foram alcançadas ou
não. O relatório de execução do objeto deverá conter a descrição das ativi-
dades ou projetos desenvolvidos para a parceria e comparativo das metas
propostas e dos resultados alcançados. Nele, devem ser anexados todos os
documentos que comprovem a realização das ações, tais como listas de pre-
sença, fotos, vídeos etc.

82 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


Caso haja descumprimento de determinadas metas e resultados que foram
registrados no plano de trabalho, a administração pública poderá solicitar
que a OSC apresente o relatório de execução financeira de forma mais de-
talha, ou seja, com a descrição das despesas e receitas realizadas. Nesse
relatório (que deverá ser assinado pelo representante legal da OSC e pelo
contador responsável) deverá ser comprovada a relação entre a movimenta-
ção dos recursos públicos e pagamento das despesas. Os dados financeiros
deverão demonstrar se há coerência entre as receitas previstas e as despesas
geradas.

Outro ponto que a lei também determina, é que a análise da prestação de


contas considere a “verdade real”, conceito que reforça a ideia de que a aná- DICA
lise não pode restringir-se à “verdade formal”, mas, ao contrário, ter foco Quando o relatório da visita técnica
e o relatório técnico de moni-
nos fatos ocorridos e nos resultados efetivamente alcançados.
toramento e avaliação forem elabo-
rados, o respectivo órgão público
deverá considerá-los e eles deverão
6.1.5.2 NOVOS PRAZOS ser homologados pela Comissão de
Monitoramento e Avaliação, antes
Quanto ao prazo, a OSC deverá apresentar a prestação de contas na data da conclusão de sua análise.

estabelecida pela Lei nº 13.019/2014 e em sintonia com o estabelecido pelo


decreto que regulamenta essa norma. Embora data seja um referencial a ser
perseguido, é possível prorrogar esse prazo, desde que devidamente justifi-
cado.

ATENÇÃO!
O órgão da administração pública terá a responsabilidade de
analisar a prestação final de contas em até 150 dias após o seu
recebimento, podendo ser prorrogável por mais 150 dias.

No caso de constatação de alguma irregularidade ou omissão na prestação


de contas, a OSC terá o prazo de 45 dias para resolver a pendência, prorro-
gáveis por, no máximo, outros 45. E, por fim, todos os documentos originais
utilizados na prestação de contas devem ser guardados pela OSC pelo prazo
de dez anos para fins de futuras consultas.

6.1.5.3 RESULTADO FINAL

O resultado final é um relatório que deverá ser elaborado pelo gestor público
responsável por meio de um parecer técnico contendo a análise de prestação
de contas da parceria. Esse documento deverá mencionar:

 resultados alcançados e seus benefícios;

 impactos econômicos ou sociais;

módulo iII | Atuação dos gestores do SUAS na agenda do MROSC 83


 grau de satisfação do público beneficiário; e

 possibilidade de sustentabilidade das ações após o término da parceria.

A manifestação final sobre a prestação de contas deverá apresentar uma


dessas opções:

 aprovação da prestação de contas;

 aprovação da prestação de contas com ressalvas; ou

 rejeição da prestação de contas e determinação da imediata instau-


ração de tomada de contas especial.

Uma novidade proporcionada pela nova Lei é a permissão dada à OSC para
solicitar autorização referente à devolução de recursos por meio de ações
compensatórias de interesse público, mediante a apresentação de novo pla-
no de trabalho relacionado ao objeto da parceria e a área de atuação da orga-
DICA nização, desde que não tenha havido dolo ou fraude e não seja caso de res-
Há um prazo de prescrição das san-
tituição integral de recursos.
ções administrativas de cinco anos,
contados a partir da apresentação Na Figura 9 podemos verificar uma representação, em visão macro, de todo
da prestação de contas.
o fluxo que envolve as cinco fases da celebração de parcerias sob o que rege
a Lei nº 13.019/2014 (BRASIL, 2014c):

Figura 9 – Diagrama das fases da Lei nº 13.019/2014


Fases da Lei

Seleção Celebração Execução Prestação de Contas

Edital de Convocação da(s) OSC(s) Liberação dos recurso OSC apresenta o Relatório
Chamamento Público selecionadas(s) para a execução do objeto Final de Execução do
Objeto

Termo de Termo de
Fomento OU Colaboração OSC apresenta documentos Depositados em conta OSC apresenta o Relatório
para a celebração corrente específica Final de Execução
Financeira
(somente se não forem cumpridas
as metas e resultados)
Apresentação das Plano de Requisitos
Planejamento

São automaticamente
propostas pelas OSCs Trabalho documentais aplicados em cadernetas de
poupança ou fundo de
investimentos Emissão de parecer técnico
Avaliação das propostas conclusivo
Aprovação do Plano de Monitoramento e
pela administração pública Trabalho e documentos avaliação
Aprovar as contas
O monitoramento e avaliação
Homologação dos terão caráter preventivos e Aprovar as contas
resultados definitivos Assinatura do termo senador, objetivando a adequada com ressalvas
e regular gestão das parcerias

Será acordo Visita in loco Rejeitar as contas


de cooperação Entrega do Manual de
quando náo envolver Prestação de Contas
transferência de recursos Ferramentas tecnológicas
financeiros Ações compensatórias ou
(Decreto art.5) ressarcimento ao erário
Pesquisa de satisfção
Publicação do extrato no
Diário Oficial
Plataforma eletrônica

Prestação de Contas Anual

OSC apresenta Relatório Parcial de Execução do Objetivo

Fonte: Informação verbal . 12

12 Apresentação do curso on-line


MROSC SUAS para SAGI, em novem-
bro de 2017, slide 114.

84 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


6.2 GESTORES DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (UNIÃO,
ESTADOS, DISTRITO FEDERAL E MUNICÍPIOS)

O Plano de Ação para implementação da lei deverá abranger medidas de cur-


to, médio e longo prazo. A curto prazo, os gestores de assistência social de-
verão realizar o levantamento dos convênios com entidades ou organizações
de assistência social ainda vigentes; avaliar a necessidade de prorrogação
de cada parceria, conforme as regras de transição; capacitar multiplicadores
acerca do MROSC para agentes públicos e integrantes de OSCs, responsá-
veis pela seleção, celebração, acompanhamento e prestação de contas das
parcerias.

No médio prazo, é necessário regulamentar, em âmbito local, a Lei nº


13.019/2014. Na sequência, é importante desencadear ações de: adaptação
dos demais normativos ou manuais existentes para a assistência social;
elaboração de modelos dos instrumentos jurídicos de acordo com a nova
legislação – editais de chamamento e termos de colaboração e fomento;
elaboração de orientações objetivas e simplificadas; instituição e designação
das comissões permanentes: seleção e monitoramento e avaliação.

Na perspectiva a longo prazo, os gestores devem promover a adaptação ou


desenvolvimento dos sistemas de gerenciamento e transparência das par-
cerias a fim de atender o preceito do art. 65 da Lei “A prestação de contas e
todos os atos que dela decorram dar-se-ão em plataforma eletrônica, permi-
tindo a visualização por qualquer interessado”.

6.3 O PAPEL DOS CONSELHOS DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (CAS)

O papel dos CAS deve ser compreendido à luz da LOAS, combinada com a
Lei nº 13.019/2014. Considerando sua composição paritária entre governo e
sociedade civil – que inclui trabalhadores, entidades e usuários da política de
assistência social – os conselhos são espaços de participação e construção
democrática que deverão sediar os principais debates sobre a interpretação
e aplicação do novo Marco Regulatório das parcerias no SUAS.

A Lei nº 13.019/2014 inova ao trazer no parágrafo único do art. 16 a pos-


sibilidade de os conselhos de políticas públicas apresentarem propostas à
administração pública para celebração de termo de colaboração com organi-
zações da sociedade civil.

Importante esclarecer que as propostas apresentadas pelos conselhos não


vinculam a administração pública, contudo fortalecem o controle social
quando no exercício da competência de acompanhamento da execução da
política de assistência social. Nesse sentido, os conselhos poderão provocar

módulo iII | Atuação dos gestores do SUAS na agenda do MROSC 85


a administração pública apresentando propostas de atividades que avaliam
ser relevantes para serem exercidas e executadas em regime de colaboração
com as OSCs.

Na sequência, o MROSC reafirma, em seu art. 60, o papel de fiscalização e


acompanhamento dos conselhos de políticas públicas que se conforma com
as definições da LOAS para os conselhos de assistência social.

Além disso, conforme já tratado e com base nos arts. 2º-A e 30, VI do novo
Marco Regulatório, o CNAS deliberou os requisitos para serem observados
pelas entidades ou organizações de assistência social quando da celebração
das parcerias no SUAS, por meio da Resolução nº 21/2016.

Nesse contexto, caberá aos conselhos de assistência social, sem prejuízo


das demais atribuições:

a. Inscrever as entidades e organizações de assistência social, bem


como os serviços, programas, projetos e benefícios socioassistenciais
por elas prestados, autorizando-as a funcionar no âmbito da PNAS e,
portanto, a formalizar parcerias com a administração pública nessa área;

b. Acompanhar e fiscalizar:

 as entidades ou organizações de assistência social e o conjunto de


ofertas inscritas, de forma planejada, por meio de visitas, elaboração de
pareceres, deliberação coletiva, publicização de decisões, promoção de
audiências públicas, entre outras ações;

 a conformidade da parceria entre a entidade ou organização de as-


sistência social e a administração pública com as normativas do SUAS.

Por fim, é importante esclarecer que os conselhos de assistência social, di-


ferentemente de conselhos gestores de fundos específicos, não provocam
ou participam do procedimento do chamamento público que se constitui
ATENÇÃO! atribuição do órgão gestor da assistência social.
O Confoco tem o potencial de
se tornar o lócus institucional Para reforçar o controle social sobre a celebração das parcerias entre o gover-
da agenda desse novo Marco
Regulatório, para que sejam
no e as OSCs, foi criado pelo art. 83 do Decreto nº 8.726/2016 (e previsto no
formuladas e divulgadas boas art. 15 da Lei nº 13.019/2014), o Conselho Nacional de Fomento e Colabora-
práticas da relação entre a admi- ção (Confoco), órgão colegiado paritário (11 estados e 11 OSCs) de natureza
nistração pública e as OSCs, de
maneira a gerar conhecimento
consultiva, integrante da estrutura do Ministério do Planejamento, Desen-
e fortalecer o diálogo entre os volvimento e Gestão.
atores envolvidos. De natureza
consultiva e composição paritária
Entre suas competências, destacam-se o monitoramento, a avaliação da
entre órgãos da administração
pública, dentre os quais o MDSA, implementação e a proposição de diretrizes e ações para efetivar a Lei nº
representantes de OSCs, redes e 13.019/2014. Cabe destacar que a Lei ainda prevê a criação de instâncias par-
movimentos sociais, o Confoco
é integrante da estrutura do
Ministério do Planejamento,
Desenvolvimento e Gestão.

86 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


ticipativas, como o conselho de fomento e colaboração, em níveis estadual,
distrital e municipal. E que estas instâncias não se sobrepõem aos conse-
lhos setoriais de políticas públicas, a exemplo dos conselhos de assistência
social, devendo o Confoco consultar esses conselhos quanto às políticas e
ações voltadas ao fortalecimento das relações de fomento e de colaboração
propostas.

Por fim, vale frisar a natureza transversal dos conselhos de fomento e cola-
boração que tem objetivo de apoiar políticas e ações voltadas ao fortaleci-
mento das relações de fomento e de colaboração que perpassam as diversas
políticas setoriais que realizam parcerias com as OSCs.

6.4 ENTIDADES E ORGANIZAÇÕES DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

O novo Marco Regulatório traz maior segurança jurídica para as entidades e


organizações de assistência social: agora há uma única norma estruturante,
aplicável às suas relações de parceria com os diversos órgãos e entidades da
administração pública federal, distrital, estadual ou municipal.

A nova Lei exigirá que as entidades aperfeiçoem seu planejamento, sendo


capazes de conhecer bem os recursos humanos, técnicos ou físicos neces-
sários para a execução de suas atividades ou projetos.

Também há previsão de tempo mínimo de existência (no mínimo dois anos


nas parcerias com estados ou DF e um ano com municípios), experiência
prévia e capacidade técnica e operacional da organização para celebrar par-
ceria, além da regularidade jurídica e fiscal. A forma de atuação em rede é
reconhecida como legítima e importante.

Importante lembrar, ainda, que algumas entidades deverão adaptar seus es-
tatutos, conforme art. 2º, I, 33 e 36 da Lei nº 13.019/2014 (BRASIL, 2014c);
art. 44 e seguintes e 1.093 e seguintes do Código Civil (BRASIL, 1988); e Lei
nº 9.867/1999 (BRASIL, 1999b).

6.5 A ATUAÇÃO EM REDE

A atuação em rede consiste na articulação de duas ou mais organizações


da sociedade civil para execução de iniciativa agregadora de projetos, cuja
reunião de esforços é essencial para a plena realização do objeto da parceria,
ou seja, as entidades que desenvolvem projetos em conjunto serão agora re-
conhecidas como “Atuação em Rede”. Para tanto, elas devem especificar em
seu projeto quais atividades cada uma irá desempenhar, sendo uma delas a
responsável pelo plano como um todo.

módulo iII | Atuação dos gestores do SUAS na agenda do MROSC 87


A organização da sociedade civil celebrante é a responsável pela rede e deve
ATENÇÃO! atuar como entidade supervisora, mobilizadora e orientadora da rede.
A atuação em rede pressupõe ca-
pilaridade, horizontalidade e des- A iniciativa agregadora de projetos pode ser caracterizada pela efetivação de
centralização das ações, devendo
primar pelo fortalecimento e
ações coincidentes, quando houver identidade de intervenções, ou de ações
valorização das iniciativas locais e diferentes e complementares à finalidade que se pretende atingir, quando
pelos princípios da solidariedade,
houver identidade de propósitos.
cooperação mútua, multilideran-
ça e intercâmbio de informações
e conhecimentos. Iniciativas agregadoreas de projetos executados por
Atuação em rede
duas ou mais organizações da sociedade civil.
A responsabilidade integral perante a Administração pú-
blica é da organização celebrante do termo de fomento
Previsão no Edital
ou de colaboração, devendo ela responder pela execu-
ção e prestar contas.
Rede deve ser convocada no edital do chamamento pú-
Requisitos no edital
blico (federal).
A OSC celebrante deve possuir:
Requisitos de
Mais de 5 anos de inscrição no CNPJ.
elegibilidade da OSC
celebrante capacidade técnica e operacional para supervisionar e orien-
tar diretamente a atuação da OSC que com ela atuar em rede.
OSCs executante deve comprovar regularidade jurídica e
OSC executante
fiscal à OSC celebrante.
Fonte: Informação verbal13.

E como funciona a atuação em rede na esfera do Decreto 8.726/2016?

Termo de atuação em rede Art. 46

§ 1º O termo de atuação em rede especificará direitos e obri-


Termo de atuação gações recíprocas e estabelecerá, no mínimo, as ações, as
em rede metas e os prazos que serão desenvolvidos pela organização
da sociedade civil executante e não celebrante e o valor a ser
repassado pela organização da sociedade civil celebrante.
§2º A organização da sociedade civil celebrante deverá
comunicar à administração pública federal a assinatura
do termo de atuação em rede no prazo de até sessenta
dias, contado da data de sua assinatura.

Comunicação de §3º Na hipótese de o termo de atuação em rede ser res-


assinatura e rescisão cindido, a organização da sociedade civil celebrante de-
do termo e regularidade verá comunicar o fato à administração pública federal
jurídica e fiscal no prazo de quinze dias, contado da data da rescisão.
13 Apresentação do curso on-line
MROSC SUAS para SAGI, em novem-
§4º A organização da sociedade civil celebrante deverá
bro de 2017, slide 216 assegurar, no momento da celebração do termo de atu-
ação em rede, a regularidade jurídica e fiscal da orga-
14 Apresentação do curso on-line
nização da sociedade civil executante e não celebrante.
MROSC SUAS para SAGI, em novem-
bro de 2017, slide 217. Fonte: Informação verbal14.

88 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


6.6 USUÁRIO DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

O usuário da política de assistência social deve ser o grande beneficiário da


aplicação da Lei nº 13.019/2014 no SUAS. Para isso, espera-se que o novo
marco regulatório potencialize os arranjos participativos e democráticos do
SUAS, em contraposição à lógica do benefício ou ganho e do favor que vigo-
ATENÇÃO!
Cabe ao usuário participar, sempre
rava antes da constitucionalização do direito à assistência social.
que possível, dos diversos espaços
de manifestação, reivindicando
seus direitos, zelando pela finali-
CONCLUSÃO dade pública das parcerias e pela
qualidade das ofertas socioassis-
tenciais.
Chegamos ao final do nosso curso. Seu principal objetivo foi evidenciar e
analisar os impactos causados pela Lei nº 13.019/2014, conhecida como o
Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil. Para tanto, procu-
rou-se expor um breve histórico acerca da legislação referente às parcerias
realizadas entre o poder público e as entidades de assistência social, de-
monstrando seu surgimento, evolução e principais características, além de
traçar os principais pontos referentes à Lei nº 13.019 no que diz respeito
ao SUAS. Foram apontados os principais pontos da nova Lei, como seus
pilares, seu campo de aplicação, suas principais ferramentas de concretiza-
ção, seu plano de execução e monitoramento, por intermédio das fases das
parcerias.

Dado ao exposto, detalharam-se pontos polêmicos referentes ao MROSC, a


forma dos repasses, a prestação de contas e seu monitoramento, bem como
as significativas alterações feitas pela Lei nº 13.204/2015 – que modificaram
de forma substancial o texto da Lei inicial antes mesmo que entrasse em
vigor – e, finalmente, foram apresentados alguns obstáculos que poderão
ser encontrados em sua execução pelo Estado brasileiro e o formato do pro-
cesso de transição para a nova Lei (BRASIL, 2015c).

módulo iII | Atuação dos gestores do SUAS na agenda do MROSC 89


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Presidência da República. Decreto nº 4.320, de 17 de março de 1964.


Estatui Normas Gerais de Direito Financeiro para elaboração e controle dos
orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito
Federal. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 mar. 1964. Disponível em:
<https://bit.ly/2t2OFVl>. Acesso em: 21 maio 2018.

______. Presidência da República. Constituição Federal de 1988, de 5 de ou-


tubro de 1988. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988.

______. Presidência da República. Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991. Dis-


põe sobre a organização da Seguridade Social, institui Plano de Custeio, e
dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 25 jul. 1991.
Disponível em: < https://bit.ly/2LSoYgZ>. Acesso em: 11 maio 2018.

______. Presidência da República. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Re-


gulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas para
licitações e contratos da Administração pública e dá outras providências.
Diário Oficial da União, Brasília, DF, 22 jun. 1993a. Disponível em: <https://
bit.ly/1ORDrb1>. Acesso em: 17 maio 2018.

______. Presidência da República. Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993.


Dispõe a organização da Assistência Social e dá outras providências. Diá-
rio Oficial da União, Brasília, DF, 8 dez. 1993b. Disponível em: <https://bit.
ly/2liMVTm>. Acesso em: 19 maio 2018.

______. Presidência da República. Decreto nº 2.536, de 6 de abril de 1998.


Dispõe sobre a concessão do Certificado de Entidade de Fins Filantrópicos a
que se refere o inciso IV do art. 18 da Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993,
e dá outras providência [REVOGADO]. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 7
abr. 1998a. Disponível em: <https://bit.ly/2ldYJXk>. Acesso em: 18 maio 2018.

______. Presidência da República. Lei nº 9.608, de 18 de fevereiro de 1998.


Dispõe sobre o serviço voluntário e dá outras providências. Diário Oficial
da União, Brasília, 19 fev. 1998b. Disponível em: <https://bit.ly/2ywc3Qn>.
Acesso em: 4 jun. 2018.

______. Presidência da República. Lei nº 9.790, de 23 de março de 1999. Dis-


põe sobre a qualificação de pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lu-
crativos, como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, institui
e disciplina o Termo de Parceria, e dá outras providências. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 24 mar. 1999a. Disponível em: <https://bit.ly/2K3m6Rl>.
Acesso em: 16 maio 2018.

90 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


______. Presidência da República. Lei nº 9.867, de 10 de novembro de 1999.
Dispõe sobre a criação e o funcionamento de Cooperativas Sociais, visan-
do à integração social dos cidadãos, conforme especifica. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 11 nov. 1999b. Disponível em: <https://bit.ly/2IUO4yX>.
Acesso em: 5 jun. 2018.

______.Ministério da Fazenda. Secretaria do Tesouro Nacional. Portaria nº


448, de 13 de setembro de 2002. Divulga o detalhamento das naturezas de
despesas 339030, 339036, 339039 e 449052. Brasília, DF, 2002a. Disponível
em: <https://bit.ly/2tdul3N>.Acesso em: 2 jun. 2018.

______. Presidência da República. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002.


Institui o Código Civil. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 11 jan. 2002b.
Disponível em: <https://bit.ly/1v8TV4y>. Acesso em: 6 maio 2018.

______. Presidência da República. Lei nº 10.741, de 1 de outubro de 2003.


Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 3 out. 2003. Disponível em: <https://bit.ly/2sXAReQ>.
Acesso em: 3 jun. 2018.

______. Ministério do Desenvolvimento Social. Política Nacional de Assis-


tência Social – PNAS. Brasília, DF, 2004a.

______. Presidência da República. Lei nº 10.836, de 9 de janeiro de 2004. Cria


o Programa Bolsa Família e dá outras providências. Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 12 jan. 2004b. Disponível em: <https://bit.ly/1v8TV4y>. Acesso
em: 14 maio 2018.

______. Ministério do Desenvolvimento Social. Resolução CNAS nº 191, de


10 de novembro de 2005. Institui orientação para regulamentação do art. 3º
da Lei Federal nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993 – LOAS, acerca das en-
tidades e organizações de assistência social mediante a indicação das suas
características essenciais. Brasília, DF: CNAS, 2005.

______. Ministério do Desenvolvimento Social. Norma Operacional Básica


de Recursos Humanos do SUAS – NOB-RH/SUAS. Brasília, DF, 2006.

______. Presidência da República. Decreto nº 6.308/2007, de 14 de dezem-


bro de 2007. Dispõe sobre as entidades e organizações de assistência social
de que trata o art. 3º da Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, e dá outras
providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 dez. 2007. Disponível
em: <https://bit.ly/2JT5TuC>. Acesso em: 17 maio 2018.

módulo iII | Atuação dos gestores do SUAS na agenda do MROSC 91


______. Ministério do Desenvolvimento Social. Resolução CNAS nº 109, de
11 de novembro de 2009. Aprova a Tipificação Nacional de Serviços Socioa-
ssistenciais. Brasília, DF: CNAS, 2009a.

______. Presidência da República. Lei nº 12.101, de 27 de novembro de 2009.


Dispõe sobre a certificação das entidades beneficentes de assistência social;
regula os procedimentos de isenção de contribuições para a seguridade so-
cial; altera a Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993; revoga dispositivos das
Leis nos 8.212, de 24 de julho de 1991, 9.429, de 26 de dezembro de 1996,
9.732, de 11 de dezembro de 1998, 10.684, de 30 de maio de 2003, e da Medi-
da Provisória nº 2.187-13, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências.
Diário Oficial da União, Brasília, DF, 30 nov. 2009b. Disponível em: <https://
bit.ly/2IUzOX5>. Acesso em: 24 maio 2018.

______. Ministério do Desenvolvimento Social. Resolução CNAS nº 17, de


20 de junho de 2011. Ratificar a equipe de referência definida pela Norma
Operacional Básica de Recursos Humanos do Sistema Único de Assistência
Social – NOB-RH/SUAS e reconhecer as categorias profissionais de nível
superior para atender as especificidades dos serviços socioassistenciais e
das funções essenciais de gestão do Sistema Único de Assistência Social –
SUAS. Brasília, DF: CNAS, 2011a.

______. Ministério do Desenvolvimento Social. Resolução CNAS nº 27, de 19


de setembro de 2011. Caracteriza as ações de assessoramento e defesa e ga-
rantia de direitos no âmbito da Assistência Social. Brasília, DF: CNAS, 2011b.

______. Presidência da República. Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011.


Regula o acesso a informações previsto no inciso XXXIII do art. 5º, no inciso
II do § 3º do art. 37 e no § 2º do art. 216 da Constituição Federal; altera a Lei
nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990; revoga a Lei nº 11.111, de 5 de maio
de 2005, e dispositivos da Lei nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991; e dá outras
providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 18 nov. 2011c. Disponível
em: <https://bit.ly/1eKDwfY>. Acesso em: 5 jun. 2018.

______. Ministério do Desenvolvimento Social. Norma Operacional Básica


do SUAS – NOB/SUAS. Brasília, DF, 2012a.

______. Presidência da República. Decreto nº 7.788/2007, de 15 de agosto


de 2012. Regulamenta o Fundo Nacional de Assistência Social, instituído
pela Lei no 8.742, de 7 de dezembro de 1993, e dá outras providências. Diário
Oficial da União, Brasília, DF, 16 ago. 2012b. Disponível em: <https://bit.
ly/2t9cScz>. Acesso em: 17 maio 2018.

______. Secretaria-Geral da Presidência da República. Marco Regulatório das


Organizações da Sociedade Civil. Brasília, DF, 2013.

92 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


______. Ministério do Desenvolvimento Social. Resolução CNAS nº 14, de
15 de maio de 2014. Define os parâmetros nacionais para a inscrição das
entidades ou organizações de Assistência Social, bem como dos serviços,
programas, projetos e benefícios socioassistenciais nos Conselhos de Assis-
tência Social. Brasília, DF: CNAS, 2014a.

______. Presidência da República. Decreto nº 8.242, de 23 de maio de 2014.


Regulamenta a Lei nº 12.101, de 27 de novembro de 2009, para dispor sobre
o processo de certificação das entidades beneficentes de assistência social e
sobre procedimentos de isenção das contribuições para a seguridade social.
Diário Oficial da União, Brasília, DF, 26 maio 2014b. Disponível em: <ht-
tps://bit.ly/2JOv2uE>. Acesso em: 16 maio 2018.

______. Presidência da República. Lei 13.019, de 31 de julho de 2014. Es-


tabelece o regime jurídico das parcerias entre a administração pública e as
organizações da sociedade civil, em regime de mútua cooperação, para a
consecução de finalidades de interesse público e recíproco, mediante a exe-
cução de atividades ou de projetos previamente estabelecidos em planos
de trabalho inseridos em termos de colaboração, em termos de fomento ou
em acordos de cooperação; define diretrizes para a política de fomento, de
colaboração e de cooperação com organizações da sociedade civil. Diário
Oficial da União, Brasília, DF, 1 ago. 2014c. Disponível em: < https://bit.
ly/2rrWC7C>. Acesso em: 5 maio 2018.

______. Ministério do Desenvolvimento Social. Portaria MDS nº 113, de 10


de dezembro de 2015. Regulamenta o cofinanciamento federal do Sistema
Único de Assistência Social – SUAS e a transferência de recursos na moda-
lidade fundo a fundo e dá outras providências. Brasília, DF: MDS, 2015a.

______. Presidência da República. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Ins-


titui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da
Pessoa com Deficiência). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 7 jul. 2015b.
Disponível em: < https://bit.ly/2numMRn>. Acesso em: 3 jun. 2018.

______. Presidência da República. Lei nº 13.204, de 14 de dezembro de


2015. Altera a Lei nº 13.019, de 31 de julho de 2014, “que estabelece o regi-
me jurídico das parcerias voluntárias, envolvendo ou não transferências de
recursos financeiros, entre a administração pública e as organizações da
sociedade civil, em regime de mútua cooperação, para a consecução de fi-
nalidades de interesse público; define diretrizes para a política de fomento
e de colaboração com organizações da sociedade civil; institui o termo de
colaboração e o termo de fomento. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 15
dez. 2015c. Disponível em: <https://bit.ly/2IXxURr>. Acesso em: 15 maio
2018.

módulo iII | Atuação dos gestores do SUAS na agenda do MROSC 93


______. Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão – MP. Por-
tal dos Convênios. Fomento e colaboração: uma nova relação de parceria por
meio da Lei 13.019/2014. Brasília, DF, 2016a. Disponível em: <https://bit.
ly/2JQGH8g>.Acesso em: 8 maio 2018.

______. Ministério do Desenvolvimento Social. Resolução CNAS nº 21, de


24 de novembro de 2016. Estabelece requisitos para celebração de parcerias,
conforme a Lei nº 13.019, de 31 de julho de 2014, entre o órgão gestor da
assistência social e as entidades ou organizações de assistência social no
âmbito do Sistema Único de Assistência Social – SUAS. Brasília, DF: CNAS,
2016b.

______. Presidência da República. Decreto nº 8.726, de 27 de abril de 2016.


Regulamenta a Lei nº 13.019, de 31 de julho de 2014, para dispor sobre re-
gras e procedimentos do regime jurídico das parcerias celebradas entre a
administração pública federal e as organizações da sociedade civil. Diário
Oficial da União, Brasília, DF, 28 abr. 2016c. Disponível em: <https://bit.
ly/2LTQGKe>. Acesso em: 18 maio 2018.

______. Secretaria de Estado de Governo. MROSC no SUAS. Belo Horizon-


te, MG, 2017. Disponível em: <https://bit.ly/2MurDP1>.Acesso em: 12 mai.
2018.

______. Ministério do Desenvolvimento Social. Escola Nacional de Admi-


nistração pública. Cartilha para aplicação do Marco Regulatório das Orga-
nizações da Sociedade Civil – MROSC (Lei nº 13.019/2014) no âmbito do
Sistema Único de Assistência Social – SUAS.. Brasília, DF, [2017?].

______. Ministério do Desenvolvimento Social. Conselho Nacional de Assis-


tência Social. O que é o CNAS? Blog CNAS, Brasília, DF, 2018. Disponível
em: <https://bit.ly/2t9wAUV>.Acesso em: 9 maio 2018.

CAZUMBÁ, N. Termo de fomento e termo de colaboração: novos instru-


mentos de parceria do MROSC. 2016. Disponível em: <https://bit.ly/2JWG-
TWQ>. Acesso em: 11 mai. 2018.

ESPÍRITO SANTO (Governo). Marco Regulatório das Organizações da Socie-


dade Civil e Entidades: Trilha Planejamento e Gestão Pública. Vitória: ESESP,
2017. Disponível em: <https://bit.ly/2Mux1Sf>.Acesso em: 17 mai. 2018.

94 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc


LOPES, L. F. SANTOS, B. BROCHARDT, V. Entenda o MROSC: Marco Re-
gulatório das Organizações da Sociedade Civil. Brasília, DF: Presidência da
República, 2016.

MENEZES, P. M. Nova relação de parceria com as OSCs e o Estado: fomento


e colaboração. Rede ODS Brasil, Barcarena, 2016. Disponível em: <https://
bit.ly/2MoHaCW>. Acesso em: 17 maio 2018.

MIGUEL, S. V. Lei nº 13.019/14 – Acordos de Cooperação e Plano de Traba-


lho: aspectos práticos. São Paulo: Governo do Estado, 2017. Disponível em:
<https://bit.ly/2JUO8y8> Acesso em: 15 mai. 2018.

RIO DE JANEIRO (Governo). Secretaria de Estado de Assistência Social e


Direitos Humanos. NOB/SUAS – Norma Operacional Básica do Sistema
Único de Assistência Social. Rio de Janeiro, [2018]. Disponível em: <https://
bit.ly/2rLcOOR>.Acesso em: 3 maio 2018.

STORTO, P. R. PINTO, A. L. F. MROSC na prática: Guia de orientações para


gestoras e gestores públicos e para organizações da sociedade civil. Rio de
Janeiro: Abong, 2017.

SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA DAS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDA-


DE CIVIL. MROSC: Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil.
São Paulo, 2018. Disponível em: <https://bit.ly/2JDy84D>.Acesso em: 3 mai.
2018.

YAZBEK, M. C. A assistência social na prática profissional: história e perspec-


tivas. In: Serviço Social & Sociedade, São Paulo: Cortez, n. 85, 2006.

módulo iII | Atuação dos gestores do SUAS na agenda do MROSC 95


96 Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil | mrosc

Você também pode gostar