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Sabrina Blasius Faust

Deise Warmling
Sheila Rubia Lindner
Elza Berger Salema Coelho

Acesso e acolhimento
na atenção à saúde
do homem

UFSC
2018
Sabrina Blasius Faust
Deise Warmling
Sheila Rubia Lindner
Elza Berger Salema Coelho

Acesso e acolhimento
na atenção à saúde
do homem

Florianópolis
UFSC
2018
Acesso e acolhimento na
atenção à saúde do homem

Catalogação elaborada na Fonte.

Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária responsável:

Rosiane Maria CRB 14/1544

A174

Acesso e acolhimento na atenção à saúde do homem [recurso eletrô

nico] / Sabrina Blasius Faust... [et al.]. -- Florianópolis : Universidade Federal de

Santa Catarina, 2018.

66 p.

Modo de acesso: www.unasus.ufsc.br

Conteúdo do módulo: Humanização e acesso: garantindo o direito à

saúde. – O acolhimento dos homens na atenção básica. – A integralidade na

atenção à saúde do homem

ISBN: 978-85-8267-138-2

1. Atenção básica em saúde. 2. Saúde do homem. 3. Acolhimento.

I. UFSC. II. Curso de Saúde do Homem. III. Faust, Sabrina Blasius. IV. Warmling,

Deise. V. Lindner, Sheila Rubia. VI. Coelho, Elza Berger Salema. VII. Título.

CDU: 364-7
Créditos
Acesso e acolhimento na
atenção à saúde do homem
GOVERNO FEDERAL
Presidente da República
Ministro da Saúde
Secretário de Gestão do Trabalho e da Educação
na Saúde (SGTES)
Diretora do Departamento de Gestão da Educação
na Saúde (DEGES)
Coordenador Geral de Ações Estratégicas em
Educação na Saúde
Responsável Técnico pelo Projeto UNA-SUS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA


Reitor
Ubaldo Cesar Balthazar

Vice-Reitora
Alacoque Lorenzini Erdmann

Pró-Reitor de Pós-graduação
Hugo Moreira Soares

Pró-Reitor de Pesquisa
Sebastião Roberto Soares

Pró-Reitor de Extensão
Rogério Cid Bastos

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Créditos
Acesso e acolhimento na
atenção à saúde do homem
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE GRUPO GESTOR
Diretor Coordenadora do Projeto
Celso Spada Sheila Rubia Lindner

Vice-Diretor Coordenadora do Curso


Fabrício de Souza Neves Elza Berger Salema Coelho

DEPARTAMENTO DE SAÚDE PÚBLICA Coordenadora de Ensino


Chefe do Departamento Deise Warmling
Fabrício Augusto Menegon
Coordenadora Executiva
Subchefe do Departamento Gisélida Garcia da Silva Vieira
Maria Cristina Marino Calvo
Coordenadora de Tutoria
EQUIPE TÉCNICA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE Carolina Carvalho Bolsoni
Coordenador
Francisco Norberto Moreira da Silva AUTORIA DO CURSO
Sabrina Blasius Faust
Coordenadora - substituta Deise Warmling
Renata Gomes Soares Sheila Rubia Lindner
Elza Berger Salema Coelho
ASSESSORES TÉCNICOS
Juliano Mattos Rodrigues
REVISÃO DE CONTEÚDO
Michelle Leite da Silva
Revisor Interno:
Kátia Maria Barreto Souto
Antonio Fernando Boing
Caroline Ludmilla Bezerra Guerra
Revisores Externos:
Cícero Ayrton Brito Sampaio
Helen Barbosa dos Santos
Patrícia Santana Santos
Igor Claber
Thiago Monteiro Pithon

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Créditos
Acesso e acolhimento na
atenção à saúde do homem
ASSESSORIA PEDAGÓGICA PRODUÇÃO DE MATERIAL ONLINE
Márcia Regina Luz Dalvan Antônio de Campos
Naiane Cristina Salvi
ASSESSORIA DE MÍDIAS Cristiana Pinho Tavares de Abreu
Marcelo Capillé Thiago Ângelo Gelaim
Rodrigo Rodrigues Pires de Mello
DESIGN INSTRUCIONAL
Soraya Falqueiro PRODUÇÃO TÉCNICA DE MATERIAL:
Ana Lúcia Nogueira Cobra
IDENTIDADE VISUAL E PROJETO GRÁFICO
Pedro Paulo Delpino

ESQUEMÁTICOS
Tarik Assis Pinto

DIAGRAMAÇÃO
Laura Martins Rodrigues

AJUSTES E FINALIZAÇÃO
Adriano Schmidt Reibnitz

REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA E ABNT


Eduard Marquardt

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Acesso e acolhimento na
atenção à saúde do homem

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Apresentação do curso
Acesso e acolhimento na
atenção à saúde do homem

Este curso traz conteúdos importantes para você compreender a relação dos homens com
o serviço de saúde, destacando a importância de promover estratégias para um atendi-
mento integral, bem como a relevância das ações preventivas e de promoção de saúde,
transcendendo o atendimento agudo e pontual. Para tanto, apresentamos alguns desafios
a serem superados e estratégias para o acesso e acolhimento, no sentido de auxiliar você,
profissional da saúde, a qualificar suas práticas, com vistas à atenção integral à saúde do
homem no âmbito da atenção básica.

Compreendendo a saúde enquanto um direito do cidadão, devemos atuar junto aos serviços
da área a fim de garantir o atendimento de qualidade, dentro dos princípios e diretrizes do
Sistema Único de Saúde (SUS). Para isso, é preciso repensar as práticas de saúde com base
na lógica da humanização, considerar a dinamicidade dos processos de cuidado e a partici-
pação ativa dos sujeitos, além de promover diálogos entre usuários e profissionais a fim de
construir projetos coletivos.

Para o acolhimento do homem nos serviços de saúde, é necessário considerar as barreiras


sócio-culturais e institucionais, como também as possibilidades de organização dos serviços
de saúde e, dentro desse contexto, alcançar um atendimento qualificado na atenção básica.

Nesta etapa, vamos discutir, inclusive, a relevância do acesso e a reorganização dos serviços
para aproximar o homem do serviço de saúde. Para que isso ocorra, os profissionais têm pa-
pel fundamental, proporcionando uma escuta qualificada, atendendo de maneira resolutiva e
realizando os encaminhamentos necessários, de forma articulada com a rede.

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Apresentação do curso
Acesso e acolhimento na
atenção à saúde do homem

Existem desafios a serem enfrentados para o acesso dos homens aos serviços de saúde, e
discutiremos três dimensões principais: relativos ao homem-usuário, aos profissionais da
equipe e à estrutura e organização dos serviços. Apesar dos desafios, também encontramos
potencialidades nas práticas de saúde, e a partir destas pode haver a transformação das
práticas cotidianas.

Esperamos que você se aproxime deste debate, reflita e busque possibilidades para transfor-
mar as práticas de saúde em seu território, junto à sua equipe, no âmbito da atenção básica.

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Objetivos de aprendizagem e carga horária
Acesso e acolhimento na
atenção à saúde do homem

Este curso busca refletir sobre as estraté-


gias de ações de acesso e do acolhimento
das populações masculinas, sob a ótica da
humanização e da integralidade.

Objetivos de aprendizagem para este


curso

Ao final deste curso, você será capaz de


identificar estratégias de acesso e acolhi-
mento para a população masculina, pro-
veniente da demanda espontânea ou pro-
gramada, nas diferentes especificidades
de gênero, com vistas à consolidação da
PNAISH.

Carga horária de estudo

30 horas

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Acesso e acolhimento na
atenção à saúde do homem

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Sumário
Acesso e acolhimento na
atenção à saúde do homem

Unidade 1

Humanização e acesso: garantindo o direito à saúde 14

1.1 A humanização do cuidado 18

1.2 O acesso e a qualidade na atenção aos usuários 21

1.3 A importância do papel da equipe de saúde na garantia

do acesso e atendimento humanizado 26

1.4 Recomendação de leituras complementares 29

Unidade 2

O acolhimento dos homens na atenção básica 30

2.1 O cuidado em saúde na população masculina 32

2.2 O acolhimento na saúde do homem 36

2.3 Dispositivos do acolhimento e estratégias de aproximação

do homem ao cuidado em saúde 38

2.4 Recomendação de leituras complementares 41

Unidade 3

A integralidade na atenção à saúde do homem 42

3.1 A integralidade no acesso e acolhimento 44

3.2 O agir em rede para a integralidade na assistência 50

3.3 Desafios e possibilidades para a atenção integral à saúde do homem 54

3.4 Recomendação de leituras complementares 58

Resumo do curso 59

Referências 61

Sobre os autores 65

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Humanização e acesso:
garantindo o direito à saúde
Acesso e acolhimento na
atenção à saúde do homem

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Acesso e acolhimento na Humanização e acesso:
atenção à saúde do homem garantindo o direito à saúde

Em âmbito internacional, a discussão sobre


os direitos sociais, e em especial sobre o
þþAEstado,
saúde é direito de todos e dever do

garantido mediante políti-

direito à saúde, iniciou em 1948 com a De- cas sociais e econômicas que visem

claração Universal dos Direitos Humanos. à redução do risco de doença e de

Este documento reitera que todo homem e outros agravos e ao acesso univer-

sua família têm direito à saúde e bem es- sal e igualitário às ações e serviços

tar, incluindo nesta perspectiva o acesso a para a promoção, proteção e recu-

alimentos, vestuário, habitação, cuidados peração (BRASIL, 1988).

médicos, direito à segurança em caso de


desemprego, doença, invalidez, viuvez, ve- Desta forma, a saúde passou a ser um direito
lhice ou outros casos de perda dos meios público, que subsidia a formulação e imple-
de subsistência em circunstâncias fora de mentação de políticas sociais e econômicas
seu controle (ONU, 1948). que visem garantir aos cidadãos o acesso
universal e igualitário à assistência à saúde.
No Brasil, a Constituição de 1988 foi a pri-
meira a conferir a devida importância à
Importante! Diante deste cenário, é fundamen-
saúde, tratando-a como direito social fun-


tal a compreensão de que a saúde é um direito
damental, cujo texto apresenta dispositivos e deve assegurar uma atenção integral, huma-
nizada, de qualidade e dentro dos princípios e
que tratam expressamente da saúde. O arti- diretrizes preconizados pelo Sistema Único de
Saúde (SUS).
go 196 da Constituição retrata este direito, e
dispõe que:
Para a consolidação do direito à saúde, a
Política Nacional de Atenção Básica (PNAB)

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atenção à saúde do homem garantindo o direito à saúde

surgiu como resultado de experiências vi- tos e ações, fortalecendo serviços em rede Na esfera do Programa de Saúde da Famí-
venciadas por vários atores, como os usuá- e cuidados da saúde. lia uma das questões discutidas é a predo-
rios, os gestores, os movimentos sociais, minância de mulheres e crianças entre os
você, profissional de saúde, e outros traba- Ocorre uma invisibilidade dos homens nos frequentadores dos serviços de atenção
lhadores da área, a fim de consolidar e for- serviços de atenção básica, e para propiciar básica. Os homens procuram os serviços
talecer o SUS. que os homens acessem a rede de atenção como idosos e não como categoria sexual,
à saúde do SUS é necessário que se enten- tendência esta alimentada pelo imaginário
Alinhada à PNAB, que é a porta de entra- da os caminhos na busca pelo cuidado em social e pela organização dos serviços de
da ao SUS, o Ministério da Saúde publicou saúde pela população masculina ao invés atenção primária, que historicamente privi-
a Política Nacional de Atenção Integral à de culpabilizar os homens pela alta incidên- legiaram a saúde materno-infantil. A maior
Saúde do Homem (PNAISH), que apresenta cia de agravos em saúde que geram inter- resistência dos homens em buscar os ser-
estratégias de humanização em saúde, em nações e mortalidade precoce em compara- viços de saúde, principalmente na aten-
consonância com os princípios do SUS, pro- ção às mulheres (SANTOS, 2013). ção básica, relaciona-se também à crença
movendo ações a partir da compreensão da de que a prevenção e o autocuidado estão
singularidade masculina nos diversos con- Não apenas a garantia de acesso é neces- relacionadas à fragilidade, ao contrário da
textos socioculturais e político-econômicos, sária, mas sim viabilizarmos estratégias exposição a situações de risco e invulnera-
com vistas à redução de morbimortalidade para que os homens referenciem estes ser- bilidade a que está relacionada uma visão
por causas evitáveis e o consequente au- viços em suas demandas de saúde. No Bra- hegemônica de masculinidade (CARNEIRO,
mento da expectativa de vida. A Estratégia sil, sabemos que antes da emergência do et al. 2016). Contudo as maiores vítimas de
de Saúde da Família (ESF) tem privilégio SUS, somente trabalhadores de carteira de mortalidade são homens, negros de 14 a 24
neste desafio do SUS, podendo evitar a seg- trabalho assinada tinham garantidos cer- anos, e a produção de cuidado ainda se dá
mentação dos serviços a partir do trabalho tos direitos de acesso à saúde (CARRARA, na posição materno-infantil (SARTI, 2005).
em equipe e do planejamento de atendimen- 2005).

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atenção à saúde do homem garantindo o direito à saúde

Portanto, é preciso que a saúde, sob essa Todas essas políticas foram criadas com
perspectiva de direito, seja uma prática ro-
tineira em nossos serviços. Por isso, propo-
mos repensar as práticas com base na lógi-
a finalidade de efetivar os princípios do
SUS no cotidiano das práticas de saúde.
A PHN surgiu como uma política trans-
 E como você, profissional de saúde pode pro-
mover a inclusão das diferenças?

ca da humanização. versal ao SUS e atravessa e problematiza


diferentes ações do sistema, como a dis- Dentre as alternativas está a realização de
Nesta primeira unidade abordaremos a cussão da PNAB, da PNAISH e de outras rodas de conversa, a atuação em rede e
humanização como estratégia transfor- políticas, buscando construir trocas so- junto aos movimentos sociais, e a gestão
madora de práticas e sujeitos, e o acesso lidárias e comprometidas com a produ- dos conflitos existentes nos serviços. A
como forma de assegurar o direito à saú- ção de saúde, traduzindo os princípios do participação dos trabalhadores na gestão
de. Acompanhe! SUS em modos de operar dos diferentes é fundamental para que eles sejam ativos
equipamentos e sujeitos da rede de saúde nas mudanças dos seus processos de tra-
1.1 A humanização do cuidado (BRASIL, 2013). balho. A inclusão dos usuários e suas re-
des sociofamiliares também é um recurso
Na trajetória de construção e efetivação do Mas o que seria essa humanização da saú- importante, uma vez que amplia a corres-
SUS, sabemos que muitos obstáculos fo- de, considerando que todos somos huma- ponsabilização do autocuidado (BRASIL,
ram vencidos e muitos direitos foram con- nos? Para a PNH, a humanização é enten- 2013).
quistados, com destaque para a implanta- dida como a inclusão das diferenças nos
ção de políticas, o avanço na discussão de processos de gestão e cuidado, que impac- Humanizar significa ir além de uma boa
saúde integral e o atendimento humaniza- tam em mudanças práticas. Mas estas não educação ou colocar-se no lugar do outro,
do. No contexto deste curso, vale destacar se constroem a partir de uma pessoa ou de humanizar é respeitar os sujeitos, sua auto-
a implantação da PNAB, a Política Nacional um grupo isolado; devem ser efetivadas de nomia, garantir saúde e acesso à informa-
de Humanização (PNH) e a PNAISH. maneira coletiva e compartilhada. ção, ao serviço.

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Figura 1 - Humanização da assistência à saúde Os princípios da PNH (BRASIL, 2013) são bilidade pelo cuidado é compartilhada
o que sustenta e dispara um determinado entre a equipe de saúde e o usuário, que
movimento na perspectiva de política pú- também deve assumir uma postura pro-
blica. São eles: tagonista.

• Transversalidade – a PNH é uma política • Protagonismo, corresponsabilidade e


transversal à medida que deve estar in- autonomia dos sujeitos e coletivos – as
serida em todas as políticas e programas mudanças que consideram a autonomia
do SUS. Indica a ampliação do grau de e vontade das pessoas tornam-se mais
comunicação entre sujeitos e serviços, concretas, pois acontecem com o reco-
visando à transformação nas relações nhecimento da importância do papel de
de trabalho e a alteração das relações de usuários e trabalhadores de forma con-
Fonte: Fotolia poder hierarquizadas entre profissional e junta.
usuário.
A PNH, com base nas experiências exitosas As diretrizes da PNH são as orientações
de humanização, afirma que há um “SUS que • Indissociabilidade entre atenção e ges- clínicas, éticas e políticas, que podem ser
dá certo”. E, a partir dele, formulam-se prin- tão – afirma que há uma relação inse- melhor entendidas a partir de alguns con-
cípios que operam de acordo com diretrizes parável entre modos de cuidar (prestar ceitos norteadores e suas formas de exe-
norteadoras para suas ações, permitindo o serviços), gerir e se apropriar do traba- cução, conforme o quadro a seguir.
surgimento de arranjos e dispositivos capa- lho. É importante que os trabalhadores
zes de induzir redes cooperativas, a fim de e usuários conheçam as formas de ges-
superar o caráter centralizado, fragmentado tão e redes de atenção à saúde, sabendo
e verticalizado dos processos de gestão e como participar dos processos de toma-
atenção. da de decisão. Entretanto, a responsa-

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Quadro 1 - Diretrizes da Política Nacional de Humanização (PNH): conceitos e formas de se colocar em prática.

Diretriz O que é? Como você pode colocar em prática?

É o reconhecimento do que o outro traz como legítima ne- Por meio de uma escuta qualificada, que possibilite ao usuário expor suas demandas em saúde,
cessidade de saúde. Sustenta-se na relação entre equipe garantindo o acesso oportuno às tecnologias necessárias e tornando efetivas as práticas de
Acolhimento
e usuário, visando à construção de relações de confiança, cuidado.
compromisso e vínculo.

Gestão É a inclusão de novos sujeitos nos processos de decisão Alguns grupos de trabalho, tais como colegiados gestores, mesas de negociação, contratos in-
participativa referentes à gestão. ternos de gestão, Câmara Técnica de Humanização (CTH), Grupo de Trabalho de Humanização
e cogestão (GTH), Gerência de Porta Aberta (GPA) são possibilidades de efetivação da cogestão na saúde.

Consiste na viabilização de espaços saudáveis, acolhedo- A ambiência pode se efetivar a partir da decisão compartilhada da organização dos espaços físi-
res, que propiciem mudanças no processo de trabalho e cos, de acordo com as necessidades de ambos, usuários e trabalhadores. Por exemplo, garantir
Ambiência
encontros entre as pessoas. que tenha uma cadeira para o homem no consultório de forma a facilitar a inclusão deste nas
consultas e colocar cartazes que inclua os homens.

É uma ferramenta que permite a compreensão da singu- Uma forma de colocá-la em prática é a partir da qualificação do dialogo entre profissionais e
Clínica ampliada laridade do sujeito, da complexidade do processo saúde- profissional-usuário, o que desencadeia decisões compartilhadas.
doença e a superação da fragmentação do conhecimento.

Consiste no reconhecimento da experiência dos profissio- Buscar espaços de diálogo, para reflexão e análise do que causa sofrimento e adoecimento, bem
Valorização do
nais e sua inclusão nos processos de tomada de decisão. como do que fortalece o grupo de trabalhadores, qualificando as formas de agir no serviço de
trabalhador
saúde. Também é relevante a participação dos tr’abalhadores nos espaços coletivos de gestão.

Defesa dos O direito à saúde é garantido por lei, e os serviços de saúde Assegurar o direito do cidadão de acesso à saúde; mantê-lo informado sobre seu estado de
direitos dos têm o papel de informar os usuários sobre isso e assegurar saúde e tomar decisões compartilhadas sobre as intervenções necessárias para o seu cuidado.
usuários que os direitos sejam efetivados.

Fonte: Política Nacional de Humanização (BRASIL, 2013).

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atenção à saúde do homem garantindo o direito à saúde

A articulação entre os princípios, as diretrizes considerando que as estratégias podem fun- saúde da população, o acesso e o acolhi-
e os dispositivos da PNH sustenta o que se cionar ou não e que irão funcionar à medida mento são dimensões essenciais do atendi-
caracteriza como intervenções para transfor- que a equipe der conta de incluir e lidar com mento. O processo de saúde e doença é uma
mação dos processos de trabalho e práticas os fatores que intervêm nas ações. Desta constante na vida de todo cidadão, já que
de saúde. Desse modo, constrói-se a perspec- forma, você percebe que o planejamento faz sempre haverá necessidade de procura pelo
tiva de uma rede de produção de saúde em sentido quando ele é discutido e incluído no serviço de saúde. O modo como o usuário é
conexão, na qual sujeitos e pontos de atenção processo de trabalho da sua equipe. recebido e a oferta de atenção no ambien-
se interligam. Esta é uma tarefa de reinven- te da instituição de saúde, considerando os
ção, que se faz com um trabalho constante de A produção da saúde é um processo em rede aspectos de estrutura, acolhimento, as in-
produção de outros modos de vida, de novas que envolve sujeitos, processos de trabalho formações repassadas e a rede de atenção
práticas de saúde, de outros modos de cuidar, e ainda diferentes saberes e poderes. A for- construída a partir do encontro, todos são
sendo imprescindível a atuação e inovação ma como agimos em nosso trabalho cotidia- elementos que favorecem a reorganização
dos profissionais da saúde sob três grandes no pode contribuir ou não para uma transfor- da assistência e qualificam o atendimento.
dimensões: atenção, gestão e controle social. mação social. É na tentativa de superação
da separação entre o usuário e profissional, Inicialmente, é importante trazer a definição
Temos na PNH um método que encontra e pela construção de uma relação mais ho- de acesso, que é: o alcance do uso adequa-
seus caminhos por meio dos seus partici- rizontal que estamos propondo reflexões so- do dos serviços para o atendimento das
pantes, isto é, uma metodologia inclusiva e bre a humanização do cuidado. demandas dos usuários. Ou seja, é a forma
participativa dentro da capacidade e possibi- com que a pessoa experimenta o serviço de
lidade daqueles que pensam, planejam e exe- 1.2 O acesso e a qualidade na saúde ao procurá-lo (SOUZA, 2008).
cutam suas ações. Para a inclusão de sujei- atenção aos usuários
tos, é necessário que o processo de trabalho Também é importante destacar que acesso
se aprimore, que haja planejamento de ações, Para que se possa intervir na situação de difere de acessibilidade, visto que a segun-

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da se caracteriza pela possibilidade de as Para aumentar esse acesso, são necessá-


Importante! Pesquisadores anseiam que para


pessoas chegarem aos serviços de saúde, uma adequada adesão da população masculi- rias, no âmbito das equipes da ESF, refle-
na, com idade entre 20 e 59 anos, esta deveria
mais relacionada à existência ou não de acessar os serviços de saúde da atenção bási- xões para a construção de mecanismos
unidades de saúde no local e ao transporte ca ao menos uma vez por ano (LEAL, FIGUEI- para qualificar a assistência a esse públi-
REDO, NOGUEIRA-DA-SILVA, 2012).
adequado para tal. Desta forma, acesso e co. Em estudo feito na região Sul do Brasil
acessibilidade são conceitos que devem ser Você e sua equipe já refletiram sobre a pro- (JULIÃO; WEIGELT, 2011), foram referidas
abordados de forma complementar (STAR- cura do homem pelo serviço de saúde da sua as seguintes estratégias para o cuidado da
FIELD, 2004). instituição? Enquanto profissional da prática saúde do homem na atenção básica:
de saúde, você pode já ter se questionado
Existem diferenças nos acesso aos ser- sobre o acesso dos homens, uma vez que os
viços de saúde entre homens e mulheres, serviços de saúde geralmente estão lotados
sendo que as mulheres geralmente pos- e com profissionais sobrecarregados: como,
suem uma vasta oportunidade de acesso então, incluir e garantir o acesso do homem
à atenção básica (AB) para prevenção, pro- na agenda de atendimentos?
curando o serviço para realização de exa-
mes de rotina. Desta forma, a AB pode ser Para a melhoria do acesso do homem aos Estratégias para o cuidado da saúde do homem na
atenção básica:
considerada como porta de entrada ao ser- serviços de saúde, faz-se necessária a reorga-
viço de saúde para elas. Já o homem, na nização do atendimento de acordo com a ló- • realização de exames periódicos para detecção de
grande maioria das vezes, procura o servi- gica preconizada nas políticas públicas. Para neoplasias ou doenças crônicas;
• orientações sobre planejamento reprodutivo;
ço de saúde quando está com algum caso isso, são necessárias ações de fortalecimen-
• uso de preservativos e prevenção do uso abusivo
de dor ou doença aguda; logo, sua porta de to e qualificação da AB que possibilitem a rea- de drogas;
entrada, na maioria das vezes, é a atenção lização de atividades de promoção de saúde, • criação de grupos de educação em saúde.
secundária ou terciária. prevenção de doenças e agravos evitáveis.

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Em estudo que investigou as perspectivas truturação das ofertas em saúde para esse maior frequência do público masculino nos
de implantação da PNAISH, os autores pro- público, a fim de aproximá-lo das unidades novos horários implementados (VIEIRA et
blematizaram a relação entre a oferta de de saúde. al., 2013; LEVORATO et. al. 2014).
serviços e as necessidades em saúde da po-
pulação masculina. Questionou-se se as de- Uma forma de viabilizar o maior acesso dos Para a ampliação do horário de trabalho das
mandas dos homens são principalmente as homens à unidade de saúde é, certamente, UBS, cada equipe deve avaliar, preferencial-
situações de urgência e prevenção focadas ampliar o horário de atendimento, voltando mente em conjunto com a população, as ne-
nos exames de próstata, ou se é o próprio a organização dos locais de atendimento cessidades de cada local. É preciso pensar
do serviço que, por estar organizado para também para a necessidade do usuário. na viabilidade, na eficiência e na efetividade
atender essas necessidades, torna-as mais da ação. Pode inclusive não ser necessário
Figura 2 - Horários alternativos para atendimento aos ho-
visíveis para os profissionais (KNAUTH; mens o atendimento 24 horas em todos os locais
COUTO; FIGUEIREDO, 2012). para que o serviço seja mais acessível ao
homem. Contudo, disponibilizar horários al-
Convidamos você, profissional de saúde, a ternativos ao horário de trabalho da maioria
refletir se a baixa procura dos homens pelas


ações de saúde deve-se ao modelo tradicional dos homens da comunidade, em geral, pos-
de masculinidades, ou, então, se por não haver
a oferta de serviços, as demandas em saúde sui efeitos positivos em relação ao desafio
do homem permanecem invisibilizadas. Qual a do baixo acesso.
sua opinião?

Fonte: Fotolia
Eficiência > Capacidade administrativa de pro-
duzir o máximo de resultados com o mínimo
Embora existam aspectos culturais que fa- Estudos têm apontado que locais que dis-

de recursos.
zem com que os homens procurem menos ponibilizaram atendimento durante os finais Efetividade > Diz respeito ao resultado con-
creto, ou às ações que fizeram acontecer esse
a AB para assistência em saúde, os servi- de semana, horário de almoço, no período
resultado concreto.
ços possuem papel fundamental na rees- noturno ou durante 24 horas, obtiveram

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A questão do trabalho, que muitas vezes faz A partir da reorganização da assistência parece tratar-se de falta de interesse ou bai-
o homem deixar de buscar os serviços de com vistas a ofertar e atender também as xa procura do homem; e para o usuário, por
saúde, também pode ser vista sob outro as- necessidades em saúde do homem, tem- não lhe ser acessível, acaba-se por afastá-lo
pecto. Em vez de um impedimento, pode vir -se a possibilidade de despertar no público dos serviços de saúde (KNAUTH; COUTO;
a ser uma potencialidade. As ações de saú- masculino maior sensação de pertencimen- FIGUEIREDO, 2012).
de do trabalhador podem ser qualificadas to a estes espaços. Sobre a estrutura das
no sentido de atender também demandas ofertas, é identificado como fator negativo Importante! É preciso compreender que os ho-


mens são tão vulneráveis quanto os demais
de prevenção e cuidados com a saúde que para o acesso o tempo gasto para a realiza- grupos (crianças, mulheres, idosos etc.), ne-
envolvam e sensibilizem os homens, trans- ção dos procedimentos, de agendamento e cessitando que suas especificidades em saúde
sejam reconhecidas e valorizadas.
cendendo o papel burocrático dos pontuais encaminhamentos para serviços de referên-
exames periódicos (GOMES; NASCIMEN- cia em saúde, além da dificuldade de aces-
TO, 2007). so a exames e atendimento, o que implica Tanto as questões estruturais dos serviços
na baixa resolutividade da assistência. como os aspectos sociais da população,
Os homens devem ser protagonistas dos principalmente as questões de masculinida-
processos de ações em saúde; as ações O fator do tempo gasto e da dificuldade de des, em que o homem se considera “forte”
devem estar pautadas nas demandas e ne- acesso a exames e atendimento é uma bar- em relação à saúde, interferem no acesso
cessidades da população masculina con- reira que não é exclusiva da população mas- à atenção básica. E um dos caminhos pos-
siderando seus diferentes segmentos. As culina. Mas, em relação aos homens, este síveis para que os profissionais possam
ações que visam o acesso dos homens na desafio pode gerar a impressão de que ape- reduzir essas barreiras nos serviços é a
atenção básica podem ocorrer no território nas eles não se importam com o cuidado construção do vínculo. O estabelecimento
em que os homens circulam, de acordo com da sua saúde. Percebemos, então, mais um do vínculo entre profissional e usuário é o
os contextos loco-regionais. desafio a ser superado: para o profissional, primeiro passo a ser dado para se romper

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com a invisibilidade do homem nos servi- ampliação do atendimento e fortalecimento ra contraditórias, complementam-se, pois
ços, valorizando-se os princípios de equida- da atenção básica. justamente por serem vistos como invulne-
de e integralidade do SUS. ráveis é que os homens tendem a se expor
A discussão sobre masculinidades nos ser- mais – tornando-se mais vulneráveis (GO-
No estudo de Leal, Figueiredo e Silva (2012), viços potencializa o rompimento do estereó- MES E NASCIMENTO, 2007).
investigou-se a percepção dos profissionais tipo socialmente construído da invulnerabi-
sobre a presença masculina nas unidades de lidade masculina, tornando os profissionais
Convidamos você, profissional, a refletir sobre
saúde. Em geral, os usuários homens foram mais sensíveis às demandas de saúde do a colocação de Gomes e Nascimento (2007),
descritos como o acompanhante da mulher homem. Também torna essas necessida- que enxergam a questão de vulnerabilidade
masculina sob dois ângulos distintos: há uma
gestante, de crianças ou pessoas idosas; ou des em saúde mais aparentes, favorecendo contradição entre os resultados das informa-
um mediador, que vem marcar uma consulta
ou um exame para outra pessoa.
mudanças relevantes, e contribuindo para a
ampliação da equidade, integralidade e uni-
 ções epidemiológicas, que apontam para a vul-
nerabilidade masculina, e o senso comum, que
reforça a invulnerabilidade masculina. Ambas
as percepções, embora contraditórias, comple-
versalidade na assistência (STORINO; SOU- mentam-se, pois justamente por serem vistos
como invulneráveis é que os homens tendem a
Entende-se que, além de aumentar o acesso ZA; SILVA, 2013). se expor mais – tornando-se mais vulneráveis.
dos homens à unidade de saúde, é preciso
que a equipe esteja sensível para reconhe- A questão de vulnerabilidade masculina é
cer a população masculina também como vista sob dois ângulos distintos: há uma É preciso que as equipes de saúde estejam
usuária, acolhendo-a, aprimorando a comu- contradição entre os resultados das in- atentas para esse fenômeno, a fim de pro-
nicação e construindo vínculo para que esta formações epidemiológicas, que apontam mover práticas e estratégias de cuidado que
possa estabelecer o cuidado em saúde ne- para a vulnerabilidade masculina, e o sen- possam transcender este paradoxo, promo-
cessário. Desta forma, pode-se pensar jun- so comum, que reforça a invulnerabilidade vendo a saúde e a qualidade de vida desta
to com a equipe sobre as possibilidades de masculina. Ambas as percepções, embo- população.

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Acesso e acolhimento na Humanização e acesso:
atenção à saúde do homem garantindo o direito à saúde

1.3 A importância do papel da equipe direta com a maneira de executar o trabalho


Subjetividade > É produzida por instâncias in-
de saúde na garantia do acesso em saúde – ou seja, como o processo de dividuais, coletivas e institucionais. Aquilo que
produzimos – tecnologias, conceitos, ideias,
e atendimento humanizado trabalho é orientado.
 técnicas – também transforma nosso modo
de ser. Portanto, os “objetos” que produzimos
interferem no processo de produção de subje-
A disponibilidade e o acesso a um conjun- Em seu cotidiano, você já deve ter percebido tividades (TEIXEIRA, 2003).

to de ações e serviços influenciam a saúde que apenas o conteúdo técnico da assistên-


da população, mas não o suficiente para cia não é suficiente para resolver os proble-
resolverem todas as questões implicadas. mas relacionados à saúde. Uma assistência A dimensão humana do trabalho reflete o
No contexto da implementação do SUS, de qualidade e ações de promoção e pre- vínculo dos profissionais com os usuários,
os debates firmaram a perspectiva de que venção são fundamentais, mas também é assim como as próprias formas de viver o
não basta aumentar a disponibilidade e o muito importante o comprometimento dos trabalho em saúde. Compreender o trabalho
acesso ao atendimento; há que se pensar indivíduos envolvidos, ao que se denomina em saúde como relacional é imprescindível,
em que tipo de atendimento é esse. A for- corresponsabilidade e coparticipação. considerando-o a interação entre trabalha-
ma como o serviço em saúde é oferecido dores e usuários, envolvidos com a produ-
potencializa o seu grau de resolubilidade. Os trabalhadores de saúde, como você, ção do cuidado (CECÍLIO, 2001).
Não é suficiente que o usuário tenha aces- possuem projetos individuais e coletivos
Figura 3 - Interdisciplinaridade nas equipes de saúde
so ao SUS, se esse acesso não garante a próprios que de alguma forma interferem
sua saúde em todos os componentes en- no contexto das unidades onde trabalham.
volvidos no binômio saúde–doença. A ori- Isso se dá porque, antes de serem traba-
gem e o transcurso histórico dos problemas lhadores, são sujeitos que trazem no ato da
devem necessariamente ser considerados, produção de saúde a subjetividade, a histo-
bem como as diferentes conformações e os ricidade e os contextos da corporação a que
espaços onde se situam. Isso tem relação pertencem. Fonte: Shutterstock

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Acesso e acolhimento na Humanização e acesso:
atenção à saúde do homem garantindo o direito à saúde

Considerando o exposto, a atenção básica cos. Além disso, há certa fragmentação Uma tecnologia que possibilita acessar me-
possui outro potencial para a integralidade do trabalho, ocasionando contradições em lhor o problema de saúde é a realização da
do atendimento, que é a equipe de profissio- que muitas vezes o profissional atua ape- escuta qualificada pelo trabalhador de saú-
nais de saúde, considerando as equipes de nas individualmente. Para apoiar o usuário de. O adjetivo “qualificada” aqui significa
ESF e o Núcleo de Apoio à Saúde da Família em suas necessidades – física, subjetiva, que há um processo de reflexão desse tra-
(NASF). O trabalho em equipe não deve ser social –, é necessário que os trabalhado- balhador sobre os sentidos que a escuta do
apenas uma simples superposição de pro- res também constituam espaços de apoio outro tem na clínica, seja ela qual for: de me-
fissionais em um mesmo espaço ou serviço à equipe, discutindo suas fragilidades e li- dicina, de enfermagem, de psicologia etc.
de saúde. Este trabalho se caracteriza pela mites como sujeitos, como coletivo, como
relação interativa entre os trabalhadores, serviço. Escuta qualificada > É um dos dispositivos
da PNH. A escuta qualificada deve ser prática
que trocam conhecimentos e se articulam corrente de toda a equipe de saúde, poden-
para a produção de saúde da comunidade,
relacionando e interagindo dimensões com-
A humanização do cuidado passa por se
considerar que as necessidades de saúde
 do-se identificar os sinais de maior risco ou
sofrimento do usuário, proporcionando a prio-
rização do atendimento e fazendo os devidos
encaminhamentos.
plementares de trabalho. devam ser definidas tanto pelos profissio-
nais quanto pelos usuários. Isso nos alerta
O sistema de saúde vigente preconiza a in- para a necessidade de escutar com atenção, Nesta reflexão sobre a escuta, a pessoa
terdisciplinaridade. Para tanto, há a neces- dando legitimidade à demanda apresentada que fala deixa de ser um mero informante,
sidade de dois ou mais profissionais que pelo usuário, pois o sentido dado por ele ao que fornece ao profissional de saúde da-
interajam e se comuniquem por meio de problema pode ser a chave para uma solu- dos objetivos sobre seu problema, e pas-
seus diferentes saberes. Porém, a interdis- ção efetiva do caso. É alta a chance de que sa a ser compreendida como um sujeito
ciplinaridade é um desafio percebido pelas um usuário que não se sentiu minimamente atravessado por uma subjetividade, que é
equipes de saúde, que têm dificuldade de compreendido em sua queixa desconsidere singular, que interage com o profissional
se relacionar devido aos níveis hierárqui- as orientações de tratamento. durante o atendimento e que pode ser uma

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Acesso e acolhimento na Humanização e acesso:
atenção à saúde do homem garantindo o direito à saúde

manifestação ativa, protagonista da mu- Exatamente por identificar demandas que ções masculinas sofrem determinadas ini-
dança na sua própria saúde. não estavam explícitas na queixa inicial, e quidades e desta forma ações específicas
que frequentemente são decisivas para a são necessárias para fomentar o acesso
Na escuta qualificada, informações, dados, melhora geral do quadro de saúde do usuá- destes.
fatos e demandas são considerados, mas rio, a escuta qualificada nos possibilita sa-
não somente isso. Os afetos e vínculos que ber quando um caso demandará conversas Aprendemos, geralmente, em nossa for-
podem ser estabelecidos ali também são com outros profissionais, possibilitando um mação na saúde, a valorizar condutas
alvo de atenção, pois o que o usuário sabe, cuidado mais integral. objetivas, neutras, junto ao usuário, por
pensa e sente em relação à situação que estarem associadas ao que convenciona-
está enfrentando é crucial para o processo mos designar rigor científico. Tal escuta
Mas, se a escuta qualificada é tão potente, por


de atenção à saúde. que ela acontece com uma frequência bem “objetiva” deixa de lado tudo aquilo que
menor do que gostaríamos nos serviços de
saúde? não é da ordem da “evidência científica”.
Figura 4 - Escuta qualificada do profissional da saúde com
o usuário Assim, o portador de cefaleia crônica, por
exemplo, na maioria das vezes, será con-
As estratégias de saúde do homem devem duzida apenas com base em perguntas de
estar contempladas em outras políticas de ordem técnica ou protocolar. Esse tipo de
saúde existentes no contexto da atenção atendimento consegue captar pouco das
básica, como saúde bucal, saúde da mu- singularidades do usuário, reduzindo a es-
lher, saúde da população negra, saúde do cuta a um ato protocolar, a uma técnica de
adolescente. Ou seja, a saúde do homem, coleta de evidências. Uma escuta assim
constituída enquanto política de saúde pode reduzir ou enquadrar o usuário em
estar contemplada no cotidiano dos ser- uma identidade estereotipada, reducio-
Fonte: Fotolia viços, sem desconsiderar que as popula- nista como, por exemplo, supostamente

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Acesso e acolhimento na Humanização e acesso:
atenção à saúde do homem garantindo o direito à saúde

alguém que ao expressar suas queixas e 1.4 Recomendação de leituras


reclamações legítimas acaba sendo intitu- Escuta
complementares
Atendimento
lado de “reclamão”. resolutivo qualificada

Para aprofundar seus estudos sobre a hu-


A escuta qualificada tem se organizado de manização e acesso da população mascu-
modos distintos nas diferentes experiên- lina aos serviços de saúde, sugerimos as
Processo
cias de acolhimento em curso pelo país. de trabalho seguintes leituras:
Priorização
Em geral, é realizada em espaço privativo, do que é Encaminhamento
mais grave adequado
podendo ser acionada em diferentes mo-
BRASIL. Humaniza SUS: Política Nacional de
mentos, por diferentes profissionais. A fim Humanização, 2013. Disponível em: <http://
bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politi-
de garantir melhor acesso e resolutividade ca_nacional_humanizacao_pnh_folheto.pdf>.
possível, já sabemos que a escuta qualifica-
da é fundamental. Além dela, é importante
Para alcançar tais objetivos, há ferramentas
que nos auxiliam nessa organização do aco-
 MACHADO, M. F.; RIBEIRO, M. A. T. Os discursos
de homens jovens sobre o acesso aos serviços
de saúde. Interface (Botucatu), Botucatu, v. 16, n.
analisarmos nosso processo de trabalho lhimento. Vale lembrar que este sempre será 41, p. 343-356, jun. 2012. Disponível em: <http://
www.scielo.br/pdf/icse/2012nahead/aop2912>.
para organizá-lo de modo que nos ajude a: um processo singular, específico em cada
serviço, envolvendo um conjunto de ações
• atender a todos com resolutividade; articuladas que deverão ser construídas co-
• priorizar o que é mais grave; letivamente, para refletirem as vontades e o
• encaminhar adequadamente o que preci- entendimento não só da equipe de saúde,
sa de continuidade no atendimento. mas também dos usuários e gestores.

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O acolhimento dos homens
na Atenção Básica
Acesso e acolhimento na
atenção à saúde do homem

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Acesso e acolhimento na O acolhimento dos homens
atenção à saúde do homem na Atenção Básica

Para iniciar o estudo desta etapa, é importante emerge no sentido de reconhecer as especi-
lembrar que a partir da criação da Política Na- ficidades em saúde da população masculina
cional de Atenção Integral à Saúde do Homem enquanto uma questão relevante e que preci-
(PNAISH), em 2009, começou-se a buscar o sa ser observada com a devida atenção pelos
fortalecimento da assistência ao homem, a profissionais das equipes de saúde.
garantia do acesso e a qualidade da atenção
Para a consolidação da PNAISH, é preciso
para o tratamento de agravos, além da pre-
compreender os contextos nos quais estão
venção de doenças e promoção da saúde, sob
imersos os homens, para que seja possível aos
uma perspectiva integral de cuidado.
profissionais tornarem suas práticas mais qua-
Como temos ressaltado, a PNAISH está ali- lificadas e avançarem em direção ao acesso e
nhada com a Política Nacional de Atenção acolhimento, rumo a uma atenção integral à
Básica (PNAB). Desta forma, para o acesso, saúde do homem no âmbito da atenção básica.
o acolhimento e o atendimento às necessi-
dades em saúde da população de homens 2.1 O cuidado em saúde na
foi priorizada a atenção básica (AB) com população masculina
foco na Estratégia Saúde da Família (ESF),
Para iniciar o diálogo sobre o cuidado em
como portas de entrada principais.
saúde da população masculina, é impor-
A partir da compreensão dos aspectos socio- tante termos clareza sobre qual cuidado
culturais e político-econômicos que influen- estamos falando. O cuidado é algo que se
ciam nas especificidades em saúde da po- produz no próprio ato de cuidar e se esta-
pulação masculina, e em consonância com belece nas relações entre usuários e profis-
as estratégias de humanização, a PNAISH sionais de saúde. O cuidado apresenta-se

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Acesso e acolhimento na O acolhimento dos homens
atenção à saúde do homem na Atenção Básica

enquanto um processo relacional comple- A PNAISH enfatiza a necessidade de mudan- dimento em saúde. Destaca-se como moti-
xo, multifacetado e plural, que se constitui ças de paradigmas relativas à percepção da vo pela baixa procura dos serviços o medo
a partir de olhares e significações diversas. população masculina a respeito do cuidado de descobrir que algo está errado, e evitam
Essa definição de cuidado está associada com a sua saúde. Assim, é essencial que os os atendimentos como uma forma de evitar
ao conceito de saúde adotado pelo SUS, o serviços públicos de saúde sejam organiza- receber um diagnóstico desanimador. Além
qual está expresso na Lei nº 8080/90: dos para acolher e fazer com que o homem de ter que depender de outras pessoas para
sinta-se parte integrante destes. se recuperar, atrapalhar sua vida diária e in-
þþnização social e econômica do País,
Os níveis de saúde expressam a orga-
fluenciar no desempenho do trabalho (TEI-
Importante! Embora a PNAISH tenha como XEIRA, 2016). O horário de funcionamento
tendo a saúde como determinantes porta de entrada os serviços de atenção bási-


ca, conforme preconizado pela PNAB, os ser- da UBS também é outra fator limitante, pois
e condicionantes, entre outros, a ali- viços especializados de atenção secundária e
terciária ainda são onde ocorrem os principais muitas vezes choca com o horário de tra-
mentação, a moradia, o saneamento
acessos da população masculina aos serviços balho (VIEIRA et al., 2013).
básico, o meio ambiente, o trabalho, a de saúde (BRASIL, 2008).

renda, a educação, a atividade física, o A influência das masculinidades hegemô-


Para se compreender por que os homens
transporte, o lazer e o acesso aos bens nicas também aparecem como um fator
entre 20 e 59 anos procuram menos os
e serviços essenciais (BRASIL, 1990). para a não procura dos serviços de saúde,
serviços de saúde (e, consequentemente,
em especial os da atenção básica, que pos-
Para que se contemple a complexidade cuidam menos da sua saúde), foi realizado
sui enfoque preventivo e de promoção da
deste conceito ampliado de saúde, o exer- um estudo em uma Unidade Básica de Saú-
saúde. Esta representação é predominante
cício do cuidado necessita ser mais que um de (UBS) do Sul do Brasil. Nesta pesquisa,
na sociedade, quer seja entre os usuários
momento de atenção e zelo. É preciso que constatou-se que um dos motivos é o fato
homens, quer seja entre os profissionais do
se estabeleça entre o profissional e o usuá- de se sentirem saudáveis, o que os deixa
setor da saúde (FIGUEIREDO, 2005).
rio uma relação de preocupação, responsa- até 10 anos ou mais sem procurar por aten-
bilização e desenvolvimento afetivo mútuo.

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Acesso e acolhimento na O acolhimento dos homens
atenção à saúde do homem na Atenção Básica

uma combinação de efeitos biológicos e ponsável pelo provimento financeiro da famí-


Masculinidades hegemônicas > Traduz-se na
representação de uma imagem de força, viri- socioculturais. As questões de gênero in- lia. Dentre as constatações da PNAISH está

 lidade, sexualidade instintiva e autossuficiên-


cia, que oculta a vulnerabilidade do homem e
influencia na capacidade de falar sobre suas
fluenciam nos riscos a que os homens ex-
põem sua saúde, uma vez que interferem
que os homens tendem a buscar os serviços
de saúde apenas quando perdem sua capa-
necessidades de saúde (BRASIL, 2008).
na forma com a qual eles percebem e utili- cidade produtiva no trabalho. Em função da
zam seus corpos, caracterizando-se como relevância do trabalho para os homens em
Uma vez que essas características das
determinantes sociais em saúde que de- geral, eles têm medo de descobrir alguma
masculinidades têm pouca afinidade com
vem ser observados para a qualificação da doença que os impossibilite de exercer suas
os sentimentos que muitas vezes acompa-
assistência e do cuidado (SCHRAIBER; GO- atividades como provedor da família. Logo,
nham a procura por assistência, tais como
MES; COUTO, 2005). eles passam a não considerar a possibilida-
medo, insegurança e ansiedade (que se
de de adoecer, motivo o qual os deixa menos
aproximam do papel social atribuído ao fe- Gênero > O conceito de gênero é socialmente
construído, e refere-se à organização das rela-
sensíveis às políticas saúde. Dessa forma, o
minino), obtém-se como efeito a menor pro-
cura pelos serviços de saúde. Isso faz com  ções sociais e econômicas entre os sexos, es-
pecialmente na divisão do trabalho e do poder
(GÓMEZ, 2011).
tempo de diagnóstico precoce e prevenção é
muitas vezes perdido, ocasionando necessi-
que homens adoeçam precocemente, uma
dades em saúde mais complexas.
vez que, no desempenho das características
Para a definição da categoria de gênero en-
daquilo que acreditam e que é socialmente
quanto um determinante social de saúde, não Importante! Quando estão estruturadas e or-
aceito como masculinidades, acabam dan- ganizadas adequadamente, as equipes de saú-


se trata apenas da diferenciação do sexo bio- de da família têm no âmbito da atenção básica
do pouca atenção às suas condições, pois resolutibilidade de 85% das necessidades de
lógico, mas sim dos papéis que são definidos
não querem passar a imagem de fragilidade, saúde da sua população adscrita (BRASIL,
socioculturalmente para homens e mulheres. 2008).
indicada pela doença nesse contexto.

A partir de uma perspectiva de gênero, as A identidade do homem no contexto socio- A atenção básica, enquanto nível de aten-
doenças passam a ser entendidas como cultural brasileiro posiciona-o como o res- ção que deve ser a porta de entrada do sis-

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Acesso e acolhimento na O acolhimento dos homens
atenção à saúde do homem na Atenção Básica

tema de saúde, precisa reconhecer também fio para as equipes de saúde, é relevante lias que estão envolvidas. Para que você,
a população masculina como um grupo refletir sobre a forma de organização da profissional, possa ampliar o olhar sobre
que necessita de atenção integral à saúde. atenção básica. Esta esteve historicamente esta questão, a saúde do homem precisa
A partir das características sociais e epide- estruturada em torno de questões relativas ser destacada também como relevante,
miológicas dos homens, os profissionais à saúde materno-infantil. Apenas por meio num movimento de promoção da igualdade
da saúde devem estar atentos e receptivos de alguns programas para doenças crôni- de gênero, enquanto direito humano.
para desenvolver ações que acolham tam- cas, tais como o Hiperdia para hipertensos
O público masculino possui especificida-
bém o público masculino, tal como já ocorre e diabéticos, além das campanhas de pre-
des em saúde permeadas por processos
em outros segmentos populacionais, como venção do câncer de próstata, passaram a
sociais que exigem um olhar profissional
mulheres, crianças, adolescentes e idosos. priorizar também demandas que são dos
mais atento. A taxa mais elevada de mor-
Figura 5 - Construção de ações voltadas à saúde do homem
homens. Entretanto, verifica-se que a faixa
bimortalidade masculina é apenas um pa-
etária da população masculina que mais
râmetro a ser observado para o cuidado na
acessa essas ofertas nas Unidades Bási-
saúde do homem. É importante que outros
cas de Saúde (UBS) corresponde aos ido-
aspectos sociais e culturais sejam consi-
sos, permanecendo ainda alheia aos servi-
derados e se tornem visíveis as vulnera-
ços a parcela de jovens e adultos.
bilidades em saúde, com vistas à conso-
lidação de um modelo de atenção integral
A baixa frequência da população masculi-
(LEVORATO et al., 2014).
na nos serviços de saúde, em especial na
Fonte: Fotolia
atenção básica, além de onerar a sociedade Considerando estes aspectos, de que modo
você, profissional, em conjunto com a sua
Para auxiliar na compreensão do motivo
pelo qual a oferta de serviços direcionados
à população masculina ainda é um desa-
pela maior procura aos níveis de atenção
especializada, com maior custo, sobrecar-
regam também emocionalmente as famí-
 equipe, pode analisar os principais temas re-
lacionados à situação em saúde do homem no
seu território?

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Acesso e acolhimento na O acolhimento dos homens
atenção à saúde do homem na Atenção Básica

Para que seja possível qualificar a atenção e profissionais de saúde. Existem formas de se adotar a melhor resolubilidade para o
à saúde do homem, é preciso que os pro- variadas de acolhimento, sendo válido ana- caso atendido.
fissionais estejam atentos ao contexto so- lisar como este se dá nos diferentes contex-
Importante! O acolhimento se distingue da
cial e epidemiológico, e também articula- tos, não bastando simplesmente considerar triagem, pois tem como finalidade a inclu-
são, que vai além da recepção. O ato de aco-
dos como equipe, para planejarem ações se ele existe ou não. Sendo o acolhimento


lher pressupõe uma aproximação em relação
específicas às necessidades em saúde que um processo relacional, este se define me- a alguém. É nesse sentido que a PNH propõe
o acolhimento, ou seja, no compromisso de
os homens apresentam. A fim de colaborar nos enquanto conceito e mais nas práticas envolver-se e potencializar os protagonismos
dos sujeitos, acolhendo-os nas suas diferen-
com o enfrentamento deste desafio, o próxi- concretas de saúde pelas quais se consoli- ças, dores, alegrias, modos de vida, sentir e
mo tópico abordará o acolhimento como um da (BRASIL, 2013). estar na vida.

instrumento potente para a aproximação da


população masculina e para a promoção da Em consonância com a Política Nacional O acolhimento não se restringe à recepção,
atenção integral à saúde. de Humanização, o acolhimento deve partir ele só acontece quando é adotado por toda
de uma postura ética assumida pelos pro- a equipe como parte do processo de produ-
2.2 O acolhimento na saúde do homem fissionais da equipe, que, ao terem contato ção de saúde, podendo ser trabalhado em
com o usuário, devem colocá-la em prática, todos os encontros nos serviços de saúde.
Em uma perspectiva de cuidado integral, tan- compartilhando saberes, angústias e deci- O acolhimento se estabelece como uma
to o acesso aos serviços de saúde como o sões sobre as intervenções de saúde a se- forma de reconhecer a capacidade de todos
acolhimento se articulam como dimensões rem adotadas. Chamamos a atenção para os membros de uma equipe para atuarem
relevantes das práticas em saúde a serem o fato de que acolher não é apenas ser edu- sobre os problemas de saúde, exercendo a
asseguradas. O acolhimento pode ser de- cado e tratar bem o usuário, pois além de atividade dentro de suas competências pro-
finido pela postura assumida nas relações civilidade e respeito, o acolhimento pressu- fissionais específicas, em um trabalho cen-
de cuidado, nos encontros entre usuários põe que seja assumida a responsabilidade trado no usuário.

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Acesso e acolhimento na O acolhimento dos homens
atenção à saúde do homem na Atenção Básica

Dessa forma, o acolhimento deve ser com- O acolhimento precisa ter continuidade me- Nos serviços de saúde, o acolhimento tem
preendido e trabalhado como um processo diante a construção de uma rede de con- o potencial de transformar as relações entre
de encontro entre indivíduo, família, comu- versação, efetivada por meio do serviço de usuários e profissionais e na maneira com
nidade e trabalhadores de saúde, capaz de saúde, e ao longo da qual são definidas as que a população tem acesso aos cuidados
colocar em prática, na atenção à saúde, a trajetórias que cada usuário e sua família em saúde. É um espaço no qual pode haver
integralidade, a equidade e a resolubilidade. necessitam na busca de satisfação para a informação e orientação sobre as ações
suas demandas. Ou seja: quando desenha- disponíveis, de modo a atender o homem in-
O acolhimento, como processo de constru- do na atuação da equipe, este processo tegralmente (CAVALCANTI et al., 2014).
ção do vínculo, humanização da atenção orienta a organização do atendimento para
em saúde e escuta qualificada em relação responder adequadamente às necessida-
Importante! O trabalho em equipe favorece a
às necessidades dos usuários, deve aconte- des identificadas. contribuição dos diferentes saberes, o que não


cer em todo e qualquer espaço de encontro deve eliminar o caráter particular de cada pro-
fissional ou de cada profissão, pois todos de-
no qual a atenção à saúde se realize, e não Figura 6 - A importância do acolhimento adequado dos vem participar de modo a articular um campo
usuários que assegure saúde à população e realização
apenas na porta de entrada do sistema. pessoal aos trabalhadores (CAMPOS, 2003).

A perspectiva do acolhimento, não como uma


atividade específica, mas como prática de Como trabalhadores da saúde, devemos re-
toda e qualquer atividade assistencial, possi- ceber os usuários de modo a conhecê-los
bilita ao usuário transitar em diferentes espa- pelo nome, procurando saber os motivos
ços da rede de saúde, consistindo em um pro- de sua vinda à unidade. O simples fato de
cesso contínuo de investigação, elaboração e darmos boas vindas já abre um leque para
negociação das necessidades de saúde. Fonte: Fotolia o usuário relatar com confiança suas reais

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Acesso e acolhimento na O acolhimento dos homens
atenção à saúde do homem na Atenção Básica

necessidades de saúde. O atendimento 2.3 Dispositivos do acolhimento e a partir de assuntos como violência, alcoo-
deve ser do tipo dialogado, como uma téc- estratégias de aproximação do lismo e paternidade. Tanto homens quanto
nica de conversa possível de ser realizada homem ao cuidado em saúde mulheres de diferentes idades participaram
por qualquer profissional, em qualquer mo- destas conversas. Observou-se que eram
mento de atendimento – isto é, em qual- O vínculo e o acolhimento são dispositivos temas de grande interesse da população e
quer um dos encontros, que são, enfim, os que favorecem aos homens a percepção também relevantes para a criação de novas
“nós” dessa imensa rede de conversações das suas necessidades em saúde. A partir práticas assistenciais. Estes momentos ti-
que caracterizam os serviços (TEIXEIRA, do reconhecimento pelos profissionais das nham o objetivo de sensibilizar a população
2005). especificidades da saúde do homem, assim como um todo, sobre a importância da saú-
como do estabelecimento de ações para de do homem.
Portanto, o acolhimento consiste na huma- atendê-las, sob uma perspectiva de cuidado
nização das relações entre trabalhadores e continuado e integral, os serviços de saúde Figura 7 - O profissional de saúde planejando ações inte-
grais e integradas
serviço de saúde para com seus usuários. passam a ser também reconhecidos pelos
O encontro entre esses sujeitos se dá num homens como um espaço onde podem en-
espaço onde se produz uma relação de es- contrar assistência.
cuta e responsabilização, a partir do que se
constituem vínculos e compromissos que Em estudo feito na cidade de São Paulo (FI-
norteiam as ações para o cuidado em saú- GUEIREDO, 2005), a discussão sobre temas
de. Esse espaço permite que o trabalhador relativos às masculinidades e que impac-
use de sua principal tecnologia, o saber, tam na saúde específica desta população
tratando o usuário como sujeito portador e destacou-se como estratégia de cuidado
criador de direitos. nas salas de espera dos serviços de saúde, Fonte: Fotolia

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Acesso e acolhimento na O acolhimento dos homens
atenção à saúde do homem na Atenção Básica

Já os grupos de educação em saúde devem se para estes desafios. Encontraram-se como Chamamos a atenção para o fato de que o
realizar em um horário mais flexível, que não possibilidades: estudo foi realizado em um grupo já existen-
seja compatível com o horário de trabalho, para te, vinculado a um espaço coletivo local, no
que os homens possam participar. Nos grupos caso a igreja, que possuía em média 50 in-
pode haver trocas de experiência e discussão tegrantes. Ressalta-se que nem sempre as
Possibilidades para aumentar
sobre temas cruciais, que forem de interesse o acesso dos homens unidades de saúde precisam criar grupos
da equipe e dos participantes (FIGUEIREDO, próprios; é possível se articular com inicia-
2005). Para o chamamento dos participantes, Ampliação do horário de atendimento tivas já existentes na comunidade, facilitan-
a divulgação pode ser feita por meio dos Agen- Maior resolutividade das ações do a adesão dos participantes e o alcance
tes Comunitários de Saúde (ACS) e demais do público-alvo.
Acolhimento caracterizado pelo bom
profissionais da equipe durante as atividades atendimento
na UBS e na comunidade; pela distribuição de
Comunicação por meio da transmissão
Importante! Não há um padrão ou protocolo a
cartazes e panfletos informativos, bem como de informações relevantes ao usuário
ser seguido, que seguramente será efetivo em


pela utilização das mídias locais, tais como rá- qualquer unidade de saúde. É preciso conside-
Estabelecimento de vínculo por meio
rar os aspectos socioeconômicos e culturais,
dios, jornais, informativos impressos, parceria das visitas domiciliares e fixação de
bem como a dinâmica de cada local, juntamen-
profissionais na equipe de saúde te com a avaliação de quais recursos humanos
com líderes comunitários, entre outros. e materiais estão disponíveis pela unidade.

Em uma pesquisa realizada no interior da Fonte: CAVALCANTI et al. 2014.

Paraíba (CAVALCANTI et al. 2014), traba- Nesse contexto, as alternativas vistas cer-
lhou-se com um grupo de homens existente Todas essas estratégias estão diretamente tamente servem para estimular que outras
na igreja da localidade, com o objetivo de relacionadas à humanização do atendimen- possibilidades sejam criadas, a fim de con-
conhecer os obstáculos para o acesso dos to, tornando esta um ponto crucial na quali- tribuir com práticas cotidianas que visem à
homens e traçar estratégias de superação ficação do acesso. atenção integral à saúde do homem.

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UN2
Acesso e acolhimento na O acolhimento dos homens
atenção à saúde do homem na Atenção Básica

Em função da predominância do acesso ma prestar atenção individualizada desde Os profissionais, para que estejam preparados
dos homens aos serviços de urgência e o acolhimento às consultas e visitas domi- para o acolhimento e atendimento integral,
emergência, e menor frequência na atenção ciliares. Este profissional, como integrante além de capacitados, devem problematizar a
básica, tende-se a ter maior reconhecimen- da equipe de saúde da família, costuma realidade da sua comunidade com usuários e
to pela figura do médico. Em geral, estes participar do planejamento, organização e gestores, a fim de propor estratégias inclusi-
usuários desconhecem ações de prevenção execução das ofertas em saúde conforme vas para este público (VIEIRA et al. 2014). A
e o papel dos demais profissionais (CAVAL- as necessidades da comunidade (JULIÃO; capacitação e a sensibilidade da equipe para
CANTI et al. 2014). Entretanto, os demais WEIGELT, 2011). o acolhimento e para a construção da lon-
profissionais da equipe de saúde da família gitudinalidade do cuidado contribuem para
possuem papel significativo na assistência Com a criação dos Núcleos de Apoio à Saú- que os homens se identifiquem como parte
integral à saúde do homem. de da Família (NASF), amplia-se o escopo dos serviços de saúde, potencializando o seu
e a oferta de serviços da atenção básica, o acesso (SILVA et al., 2012). Compreende-se
Os ACS são elos importantes entre as uni- que pode contribuir de maneira valiosa para que quando o profissional busca o usuário,
dades de saúde e a população, atuando na o cuidado da população masculina. promove-se a aproximação entre ambos, es-
interlocução da marcação de consultas e tabelecendo-se o vínculo e a valorização do
exames, retirada de medicamentos, além da De acordo com a Política Nacional de Huma- homem enquanto usuário dos serviços da
divulgação de quais serviços estão disponí- nização (PNH), o processo de humanização atenção básica (CAVALCANTI et al., 2014).
veis na UBS. Os ACS também contribuem constitui-se em qualificar os serviços ofer-
para a identificação das necessidades da tados, articulando-se o acolhimento com os
Longitudinalidade > Na Atenção Primária à
população, levando a demanda à equipe e avanços tecnológicos em saúde, promoven- Saúde, longitudinalidade é empregada para

orientando os usuários sobre a procura da


unidade de saúde. O enfermeiro também
do a melhoria do ambiente de cuidado para
o usuário e de trabalho para os profissionais
 significar “uma relação pessoal de longa dura-
ção entre os profissionais de saúde e os usuá-
rios em suas unidades de saúde” (STARFIELD,
2002, p. 247).
tem um papel muito relevante, pois costu- (BRASIL, 2004).

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Acesso e acolhimento na O acolhimento dos homens
atenção à saúde do homem na Atenção Básica

Dessa forma, é importante lembrar que a 2.4 Recomendação de leituras


humanização nos serviços de saúde é ca- complementares
racterizada pelo acesso, acolhimento, co-
municação e construção de vínculo, sendo Para aprofundar seus estudos sobre o aco-
uma estratégia efetiva e fundamental para lhimento dos homens na atenção básica,
qualificar a assistência à saúde. É também sugerimos as seguintes leituras:
relevante para o aumento da agilidade e re-
solutividade nos serviços de saúde (CAVAL-
CANTI, 2014). BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de
Atenção à Saúde. Departamento de Atenção
Básica. Acolhimento à demanda espontânea.
Cadernos de Atenção Básica, Brasília, n. 28, v.
Importante! Quando há vínculo entre o pro- 1, 2013. Disponível em: <http://bvsms.saude.
gov.br/bvs/publicacoes/acolhimento_deman
fissional e o usuário, os homens demonstram
 da_espontanea_cab28v1.pdf>.


maior satisfação com o serviço, indicando que
foram bem acolhidos. Mesmo compreenden-
do-se que o vínculo isoladamente não asse- ALVES, R. F. et al . Gênero e saúde: o cuidar do
gura o atendimento integral, considera-se que homem em debate. Psicologia teoria e práti-
essa relação de aproximação entre ambos é ca.  São Paulo, n. 3, v. 13,  dez.  2011. Dispo-
essencial para que se possa pensar em inte- nível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/ptp/
gralidade (STORINO; SOUZA; SILVA, 2013). v13n3/v13n3a12.pdf>.

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A integralidade na atenção
à saúde do homem
Acesso e acolhimento na
atenção à saúde do homem

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Acesso e acolhimento na A integralidade na atenção
atenção à saúde do homem à saúde do homem

Para a oferta de serviços e atendimento de A PNAISH está alinhada com a Política Na-
qualidade, é fundamental uma discussão cional de Humanização (PNH), trazendo à
sobre a integralidade, considerando a rede atenção básica o desafio de incluir os ho-
de atenção à saúde e as potencialidades mens de diferentes faixas etárias em suas
da relação profissional-usuário. O Sistema particularidades de gênero no serviço de
Único de Saúde (SUS) inclui a integralida- atenção à saúde.
de como um princípio para sua efetivação.
Desta forma, o atendimento integral está Desta forma, para a consolidação da PNAISH
presente nas políticas de saúde como a é preciso compreender as fragilidades e as
PNAISH, de forma a responder as necessi- potencialidades do contexto masculino, a
dades do homem. fim de proporcionar ambientes favoráveis.
Isso torna possível aos profissionais quali-
Neste contexto, a atenção básica torna-se ficarem suas práticas e construírem vínculo
um espaço importante para garantia da com a população masculina.
saúde integral do homem, uma vez que o
ambiente é considerado pelo SUS como 3.1 A integralidade no acesso
porta de entrada do usuário. Desta forma, e acolhimento
precisa-se pensar nas potencialidades e
oportunidades, além da estrutura das insti- A integralidade é uma das diretrizes que es-
tuições de saúde, garantindo assim o aces- truturam o Sistema Único de Saúde (SUS) e
so, o acolhimento e um atendimento efetivo está centrada na reorientação das práticas
e resolutivo para os homens. de cuidado no cotidiano dos serviços. Essa

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Acesso e acolhimento na A integralidade na atenção
atenção à saúde do homem à saúde do homem

diretriz emerge do contexto da reforma sa- Neste sentido, retomamos a ideia de que
nitária, com lutas e movimentos sociais Integralidade para garantir práticas de cuidado com foco
em prol da saúde na década de 1980, que na integralidade, estas precisam ser pauta-
culminaram na construção do SUS (LUZ, Integração de ações programáticas e das por uma estrutura de organização do
demanda espontânea
2006). processo de trabalho no cotidiano dos servi-
ços, que necessitam conhecer as necessida-
Articulação das ações de promoção,
A Política Nacional de Humanização (PNH) prevenção, vigilância à saúde, tratamento des de saúde da comunidade que abrangem.
prioriza a integralidade e o acolhimento e reabilitação

para a maior resolubilidade das necessida- A PNAISH apresenta a integralidade como


des dos usuários do SUS. A ideia da inte- Trabalho interdisciplinar e em equipe meta e busca orientar as práticas de saú-
gralidade está relacionada ao acesso aos de com ações para a população masculina,
serviços de saúde, ou seja, a qualidade que primando pela humanização da atenção.
Coordenação do cuidado na rede de
buscamos nos serviços de saúde deve ter serviços Embora a integralidade seja um dos princí-
como eixo o acesso adequado e oportuno pios norteadores do SUS, ainda há desafios
às ações e serviços de saúde que tenham Fonte: Brasil, 2011. para sua efetivação nas práticas assisten-
potência de responder às necessidades ciais cotidianas. Para a sua efetivação, é
das pessoas (BRASIL, 2007). Importante! Temos muitos sentidos para a in- necessário conhecer o contexto e a forma
tegralidade, mas independentemente destes,


refere-se à importância de tratar os sujeitos com que as pessoas vivem, levando-se es-
com suas particularidades e não como núme-
Como um dos fundamentos da atenção bá- tes fatores em conta para a estruturação do
ros ou marcadores de saúde, ampliando as for-
sica, a integralidade é ressaltada na PNAB, mas de olhar para o contexto em determinada cuidado. O espaço da atenção básica é re-
situação ou para o usuário.
sendo definida como: levante para a consolidação desta prática,

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Acesso e acolhimento na A integralidade na atenção
atenção à saúde do homem à saúde do homem

pois é o nível de atenção mais próximo do à saúde do usuário e disponibilize os recur- as mesmas predisposições à doença que
usuário do SUS e parte do reconhecimento sos para abordá-las (Starfield, 2002). Para ocorrem no usuário específico também po-
do território para a organização dos servi- facilitar o acesso, o SUS apresenta como dem existir em outros que vivem na mesma
ços (MATTIONI; BUDÓ; SCHIMITH, 2011). estratégia organizacional a Estratégia Saú- comunidade ou estão expostos às mesmas
de da Família (ESF), que propõe a reorien- condições sociais, ambientais ou ocupacio-
Território > O território no qual o serviço está tação do modelo de atenção à saúde, histo- nais (STARFIELD, 2002).


inserido é um espaço vivido, no qual são tra-
vadas as relações sociais que dão sentido às ricamente centrado na perspectiva da cura,
características locais (SANTOS, 2001).
passando a constituir uma nova prática as- Importante! O acolhimento e o vínculo aumen-
sistencial, construindo relações de vínculos tam a capacidade de se prestar uma assistên-
Figura 8 - Construção do vínculo entre usuário e profissional cia qualificada e integral. Embora a atenção


entre os serviços de saúde e a comunidade. básica não seja capaz de alterar isoladamen-
te a atenção à saúde na rede assistencial, ela
Desta forma, a ESF potencializa o acesso, já é a porta de entrada, e certamente impacta
que pode ir ao encontro do homem, no am- positivamente no acesso dos usuários e pela
qualidade do atendimento quando é permeada
biente de trabalho, de lazer, em casa, pro- por um olhar humanizado e integral (STORINO;
SOUZA; SILVA, 2013).
pondo atividades e cuidados para além do
espaço físico das unidades de saúde.
Em relação às estratégias de cuidado da
Fonte: Fotolia
As interações e envolvimento entre profis- saúde do homem, na atenção básica são
É importante lembrar que uma forma para sional e usuário que acontecem além da comuns ações pontuais, tais como campa-
atender o desafio da consolidação da inte- unidade não fornecem apenas discernimen- nhas para prevenção de IST/AIDS, com dis-
gralidade é potencializar o acesso do usuá- to quanto aos prováveis determinantes da tribuição de preservativos, e campanhas de
rio. A integralidade exige que você, enquanto má saúde; podem oferecer informações e prevenção do câncer de próstata. Para que
profissional de saúde, reconheça a varieda- indicações quanto à saúde de outros ho- se alcance a integralidade do cuidado, essas
de completa de necessidades relacionadas mens envolvidos naquele espaço. Ou seja: estratégias devem ser complementadas por

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Acesso e acolhimento na A integralidade na atenção
atenção à saúde do homem à saúde do homem

outras mais amplas que considerem o aces- que se contemple o atendimento integral, • percepção de diferentes dimensões e da
so, a resolubilidade e a qualidade do atendi- é importante valorizar a equipe multiprofis- complexidade dos usuários;
mento efetuado por toda a rede de saúde. sional, e não apenas a figura do médico. • articulação das diferentes formas de cuidar;
• identificação do atendimento das neces-
Sinalizamos a nota técnica conjunta do MS sidades em saúde;
Você percebe como é preciso haver maior
sobre o rastreamento do câncer de próstata sensibilidade sobre a demanda do seu territó- • esforço da equipe em produzir saúde;
rio? Percebe que para isso precisa haver uma
nas leituras complementares desta unidade, • cuidado direcionado a grupos específi-


compreensão ampliada dos aspectos diversos
não deixe de ler. que influenciam o estado de saúde do usuário cos.
atendido? Quando o profissional tem um olhar
ampliado sobre o contexto da comunidade,
ele pode influenciar positivamente na capaci-
É preciso considerar que no Brasil a saúde dade de resolução das necessidades em saú- Para a percepção das diferentes dimensões
do homem vem sendo inserida lentamen- de pelos serviços. e da complexidade dos usuários, é preciso
te na pauta da saúde pública. Visto que as superar o modelo de atenção à saúde bio-
ações de saúde do homem muitas vezes são Foi realizado um estudo junto a uma equi- logicista e cartesiano, que divide e reduz o
baseadas em procedimentos e exames que pe de saúde da família de um município da indivíduo aos seus sistemas e aparelhos
reforçam a centralidade da atenção no apa- região Sul do Brasil, com o objetivo de se biológicos. Para o rompimento com esta
relho genital masculino, ainda é necessário conhecer as formas de cuidado e a inter- lógica e o alcance de visão integral, é pre-
discutir com as equipes de saúde e com a face da integralidade com essas práticas. ciso o exercício cotidiano estabelecido nas
população a incorporação da abordagem Observaram-se os seguintes aspectos do relações entre profissional e usuário para o
de gênero no serviço de saúde e a atuação cuidado integral, sob a perspectiva de sa- reconhecimento e resolução da complexi-
da equipe a partir das particularidades dos beres e práticas, elencando-se cinco eixos dade das demandas em saúde que levam
homens que constroem aquela população, principais para demonstrar os sentidos en- o indivíduo à busca por assistência. Devem
que são pescadores, agricultores, empresá- contrados sobre integralidade (MATTIONI; também ser levados em conta, e inclusive
rios, pedreiros, mineiros, entre outros. Para BUDÓ; SCHIMITH, 2011): registrados no prontuário, aspectos relati-

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Acesso e acolhimento na A integralidade na atenção
atenção à saúde do homem à saúde do homem

vos às relações sociais e condição de vida Neste contexto, a integralidade baseia-se


Considerou-se que o problema inicial
e cultura do usuário atendido (MATTIONI; na reorientação das práticas de cuidado, a
apresentado, de uso abusivo de álcool e
BUDÓ; SCHIMITH, 2011). drogas, era relevante e deveria ser traba- partir da valorização da subjetividade e sin-
lhado pela equipe. Entretanto, compreen- gularidade dos envolvidos, criando vínculo,
Com relação à complexidade das neces- deu-se que este pode ser desencadeado estabelecendo o acolhimento, valorizando
pelos outros determinantes sociais que
sidades em saúde dos usuários, podemos a autonomia e possibilitando a assistência
influenciam a família, havendo necessi-
exemplificar a partir de uma situação de dade de uma intervenção ampliada, além centrada no usuário (SILVA, 2008).
procura pelos serviços da atenção básica, da equipe de saúde da família que rece-
conforme descrito a seguir. beu a demanda. Desta forma, podem ser A articulação das formas de cuidar caracte-
mobilizados outros profissionais dos
riza-se a partir da integração entre promo-
Núcleos de Apoio à Saúde da Família
“Uma usuária procura a UBS buscando ção, prevenção, tratamento e reabilitação,
(NASF) ou dos outros níveis da rede de
ajuda para o marido, que é dependente
atenção à saúde, tais como serviços de a partir da dinâmica do processo saúde-
de álcool e para o filho que faz uso abu-
psicologia e assistência social”. doença. É comum a procura por exames
sivo de drogas e abandonou os estudos.
A equipe de saúde da família, sob um preventivos, tanto para homens como para
olhar multiprofissional e a partir de um A problematização da realidade na qual mulheres. Este acesso, embora motivado
conceito ampliado de saúde, buscou co-
os usuários estão inseridos potencializa a por uma questão pontual, deve ser visto pe-
nhecer a realidade na qual a família está
inserida, bem como as relações sociais efetividade das intervenções em saúde. A los profissionais como uma oportunidade
estabelecidas entre eles. A partir deste percepção sobre a complexidade do usuá- de exercitar a integralidade, à medida que
olhar, a equipe percebeu que a família rio traduz-se por reconhecê-lo não apenas os usuários podem manifestar outras ne-
em questão possui baixa renda, o mari-
como portador de dependência química, cessidades não relacionadas à doença, in-
do tem apenas emprego informal e tem-
porário, o adolescente era seu enteado mas sim como agente social, que influencia dicando aos profissionais como podem es-
e não havia boa relação entre ambos. e é influenciado pelo meio no qual vive. truturar suas ações de promoção da saúde,

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Acesso e acolhimento na A integralidade na atenção
atenção à saúde do homem à saúde do homem

qualificando, por fim, o cuidado (PINHEIRO; Esta situação pode ser reconhecida em ca- vidade e a equidade dos serviços de saúde
MATTOS, 2001). sos em que a intervenção dos profissionais (STARFIELD, 2002)
é realizada em grupos específicos, pois na
Para a identificação e o atendimento das ne- atenção básica é comum encontrar grupos A exemplo do movimento de reforma sa-
cessidades em saúde a partir de um olhar in- de hipertensos e diabéticos, ou tabagistas nitária que iniciou a construção do SUS, é
tegral, é importante assumir que as práticas e alcoolistas, por exemplo. São pessoas preciso propor novas práticas em conjunto
de cuidado integral partem da realização de que foram reunidas por suas caracterís- com a população, os movimentos sociais,
encontros entre os usuários e profissionais. É ticas de cuidado em específico. Inicial- os profissionais de saúde e os atores gover-
a aproximação de saberes diversos e manei- mente, pode-se interpretar essa definição namentais, para a consolidação da integra-
ras distintas de perceber o mundo que esses como taxativa, reducionista e centrada na lidade na atenção à saúde do homem, no
encontros devem se constituir, possibilitan- doença. Entretanto, cabe aos profissionais âmbito da atenção básica.
do a construção compartilhada de decisões de saúde o movimento de reconhecer, a
Figura 9 - Ações realizadas em conjunto
e planos terapêuticos. Quando o saber técni- partir da escuta e do acolhimento (tecno-
co do profissional se sobrepõe ao do usuário, logias leves), esses usuários que foram re-
o cuidado é concebido por apenas uma das unidos por sua especificidade em comum
partes, distanciando-se da integralidade. apenas, e reconhecê-los como indivíduos
complexos, inseridos em um contexto so-
cial que interfere nas suas demandas em
Importante! Para que a equipe possa se em-
saúde. Assim, a forma pela qual é formu-


penhar na produção de saúde da população
pela qual é responsável, deve-se priorizar as lada a estratégia para prestar os serviços,
tecnologias leves (escuta qualificada, acolhi-
mento, vínculo), em detrimento das tecnolo- e de como fazê-lo de modo adequado são
gias duras (exames, procedimentos).
componentes-chave para melhorar a efeti- Fonte: Fotolia

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Acesso e acolhimento na A integralidade na atenção
atenção à saúde do homem à saúde do homem

3.2 O agir em rede para a um atendimento integral e para a constru- vo, em que, a partir de um maior estímulo
integralidade na assistência ção de vínculos. Em alguns estudos realiza- de práticas como a vasectomia, nota-se
dos no Brasil, tem-se discutido a questão do discreto crescimento de interesse e parti-
A implementação de um modelo de aten- não acesso observando-se por dois ângu- cipação dos homens (e dos casais) (COU-
ção básica em saúde voltado para respon- los distintos, tanto a partir da baixa procura TO, 2010).
der as necessidades de saúde dos diferen- dos homens, como da forma com a qual os
Figura 10 - Casais frequentando juntos os espaços de saúde
tes sujeitos que constituem uma população serviços se estruturam, estando mais vol-
exige uma organização ágil e eficiente de tados para outros grupos sociais (crianças,
diferentes elementos, incluindo serviços mulheres e idosos) (GOMES; NASCIMENTO;
de saúde e profissionais, que devem com- ARAÚJO, 2007).
por uma rede articulada de cuidados, de
modo a dar conta de um conjunto extenso A presença dos homens nos serviços de
e variado de sujeitos e demandas (VILLELA saúde aumenta em determinadas ativida-
et al., 2009). Para responder a este desa- des, especialmente nas consultas médi-
fio, cada município tem o compromisso de cas, atendimentos em odontologia e ativi-
organizar seus serviços e atividades ofere- dades disponibilizadas em serviços como
cidos à sua população de acordo com as o Programa de Tuberculose e Hanseníase,
necessidades identificadas e prioridades a fisioterapia e a saúde mental. Também
definidas localmente. há incentivo dos profissionais para parti-
cipação dos homens em atividades cria- Fonte: Fotolia

A atenção básica tem um importante signi- das com o Programa de Atenção Integral à Neste contexto, pode-se destacar como po-
ficado no acesso ao atendimento dos ho- Saúde da Mulher (PAISM), como é o caso tencialidade da AB a possibilidade de juntar
mens, porém, é necessário agir em rede para do Programa de Planejamento Reproduti- a equipe e realizar reuniões regularmente, a

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Acesso e acolhimento na A integralidade na atenção
atenção à saúde do homem à saúde do homem

fim de atender as demandas da população de Saúde, profissionais da equipe de ESF, te – são pontuados por diversos entrevista-
adscrita. Esta organização por parte da equi- NASF, buscando demonstrar a importância dos para a implantação da PNAISH (LEAL;
pe pode melhorar a capacidade de análise e as possibilidades para o atendimento. Os FIGUEIREDO; SILVA, 2012).
e oferta dos serviços para um atendimento gestores reconhecem que as equipes na
integral, com a possibilidade de criação de atenção básica já estão, muitas vezes, so- Também é relevante que haja o compromis-
redes e parceiros de atendimento. brecarregadas. so do sistema de saúde para que os profis-
sionais se envolvam na organização das
Importante! As reuniões de equipe são um pas- Na visão dos entrevistados, o profissional de instituições, a fim de agilizar o atendimen-
so importante para a construção da integrali-

 dade, na medida em que esta exige a interação


dos saberes e das práticas dos membros da
equipe de trabalho (VILLELA et al., 2009).
saúde tem a iniciativa de promover ações no
serviço e articular o atendimento com a equi-
pe de saúde a partir da demanda e neces-
to do usuário em outros níveis de atenção
quando necessário, mantendo-se ativa a re-
ferência e a contrarreferência entre os pon-
sidade de encaminhamentos da população tos da rede (KANTORSKI et al., 2009).
O estudo de Leal, Figueiredo e Silva (2012) masculina. Neste olhar, é possível planejar e
Figura 11 - Ações em rede a partir da demanda e necessi-
considera relevante atender todos os agra- organizar a resolubilidade dos problemas de dade da população.
vos à saúde do homem e não somente dar saúde do homem, uma vez que essas ações
ênfase aos problemas urológicos. Segundo teriam impacto direto sobre a credibilidade
alguns gestores entrevistados no estudo, do trabalho do profissional e da unidade de
uma nova política significa novas deman- saúde. A presença de uma rede consolidada
das, em um sistema municipal de saúde de atenção, em que o usuário seja atendido
que, com frequência, precisa de suporte por serviços com diferentes graus de com-
para atender às necessidades existentes. plexidade dentro do sistema, foi salientada
Nesse sentido, é relevante a negociação por gestores e profissionais de saúde. Os
dos gestores com os Conselhos Municipais recursos humanos – médicos, especialmen- Fonte: Fotolia

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Acesso e acolhimento na A integralidade na atenção
atenção à saúde do homem à saúde do homem

O perfil de usuários que não residem em pulação que não somente reside, mas que Mais do que melhorar o acesso, a rede de
torno das unidades também deve ser le- convive naquela comunidade (VILLELA et serviços precisa ser estruturada para am-
vado em conta, pois contrasta com ele- al. 2009). Será necessário estabelecer uma pliar a oferta de serviços, ou seja, oferecer
mentos atribuídos à ideia de integralidade, discussão sobre a adequação das ofertas atendimento à saúde com opções de horá-
tais como adscrição da clientela, vínculo de serviços à população, sendo que a popu- rios, com uma oferta de profissionais que
e acompanhamento dos usuários. Para as lação masculina muitas vezes precisa ser possam atender a demanda e a necessidade
pessoas que se deslocam por longas dis- atendida nas unidades de saúde próximos daquela população, com uma equipe multi-
tâncias em função do trabalho e não aces- ao ambiente de trabalho. profissional e interdisciplinar que conheça a
sam as unidades de saúde próximas da sua rede de serviços, garantindo que o atendi-
residência, são necessários novos arranjos Figura 12 - Oferta de diversos serviços de saúde mento e o encaminhamento aconteçam em
organizacionais, que possibilitem o acesso quaisquer regiões da cidade, mesmo nos
destes usuários ao serviço de saúde próxi- casos de mudança de moradia ou emprego,
mo ao local onde trabalham. Ou seja: ações a fim de se atender as especificidades em
que possam atender e buscar esta popula- saúde do homem.
ção que, durante o horário de atendimento,
está no ambiente de trabalho. Assim, propõem-se modelos mais flexíveis
de organização dos serviços, com todas
Adscrição da clientela > Refere-se ao novo as categorias profissionais se correspon-

 vínculo que se estabelece de modo perma-


nente entre os grupos sociais, as equipes e as
unidades de saúde.
sabilizando pelo atendimento, com mais
horários disponíveis, em locais diversos e
não somente na instituição de saúde ou do-
Desta forma, você poderá promover a saú- micílio, mas também o ambiente de lazer,
de e organizar serviços de acordo com a po- Fonte: Fotolia de trabalho, as organizações sociais como

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Acesso e acolhimento na A integralidade na atenção
atenção à saúde do homem à saúde do homem

associações, igrejas, comércio – todos pro- te remanejar um grande número de pessoas A migração para um modelo de atenção às
porcionando uma rede de atenção, com mo- portadoras de urgências menores, reclassi- condições e doenças crônicas, com a orga-
delos flexíveis que permitam a vinculação ficando-as para o atendimento na AB. nização dos atendimentos a partir da estra-
ao serviço, contribuindo para a consolida- tificação dos riscos, pode fornecer tempo
ção da integralidade, a partir da viabilização Por outro lado, para que as pessoas com às equipes de saúde para assistir, além das
do acesso (PEREIRA, 2004). situações de urgências possam ser atendi- ações programadas, as não programadas,
das na atenção básica, é necessário atentar que seriam situações urgentes de demanda
Neste contexto, considerando que os ho- para as condições crônicas, atendendo-se espontânea.
mens procuram pelo atendimento e serviços as urgências menores decorrentes destas
de saúde geralmente com a enfermidade já situações e, no médio e longo prazo, dimi- Há contradições e críticas relativas à oferta
instalada e numa fase aguda, com sintomas nuir a demanda nas unidades de urgência e de atendimento por demanda espontânea
ou dores, faz mais do que sentido que ges- emergência mais graves. ou portas abertas nas unidades de saúde,
tores, profissionais de saúde e pesquisado- uma vez que gera mais demanda aos pro-
Figura 13 - Homem decidindo procurar atendimento
res invistam na reestruturação e qualifica- fissionais. Esta situação traz uma discus-
ção da RAS. Segundo Mendes (2011) para são importante para os serviços de saúde,
que esta rede funcione de maneira efetiva, pois é preciso garantir o acesso e benefí-
eficiente e humanizada, há que se distribuir cios de exames e consultas especializadas,
de forma equilibrada, as pessoas usuárias assegurando-se também a garantia de um
por todos os seus pontos de atenção à saú- atendimento cuidadoso e qualificado. Des-
de, organizando o atendimento conforme os ta forma, para o atendimento da demanda
riscos envolvidos. Por exemplo, ao organi- espontânea, trata-se de encontrar o equi-
zar as demandas em saúde dos hospitais e líbrio entre a boa prática clínica e a oferta
emergências seria necessário provavelmen- Fonte: Fotolia dos recursos para diagnósticos e terapias

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Acesso e acolhimento na A integralidade na atenção
atenção à saúde do homem à saúde do homem

disponíveis, com base na integralidade e usuárias tenham uma atenção estruturada que a procura pelos serviços de saúde para
na perspectiva das necessidades de saúde e planejada. Requer, também, um monito- os homens ainda está atrelada a um quadro
(CAMPOS; BATAIEIRO, 2007). ramento padronizado e regular, para que as clínico de doença já cronificado, com reper-
pessoas usuárias não fiquem abandonadas cussões biopsicossociais para sua qualida-
Um sistema de saúde que procura melhorar depois de deixar uma unidade de saúde de de vida.
a atenção deve estar preparado para mu- (MENDES, 2011).
danças na organização, tornando possível Para que você, profissional de saúde, possa
implementá-las por meio de processos de 3.3 Desafios e possibilidades permanecer atento e preparado para o de-
gestão. Assim, é relevante que os profissio- para a atenção integral safio de assegurar o acesso e o acolhimen-
nais de saúde identifiquem as melhorias no à saúde do homem to sob uma perspectiva de cuidado integral
atendimento e trabalhem com a aplicação e humanizado, são apresentados e discuti-
de estratégias efetivas, envolvendo o uso A análise sobre a procura pelo cuidado e a dos a seguir alguns fatores considerados
de incentivos à equipe de saúde que refor- prevenção de doenças na população mas- desafios importantes a serem enfrentados
cem estas mudanças. Para a melhoria da culina tem perpassado historicamente por na atenção básica. Estes desafios encon-
condição de saúde das pessoas, é preciso diferentes aspectos, dentre os quais se tram-se divididos em três dimensões prin-
converter o sistema de atenção à saúde de destacam os socioculturais, ligados ao gê- cipais: relativos ao homem-usuário, relati-
reativo e fragmentado para um sistema que nero e às questões vinculadas aos serviços vos aos profissionais da equipe de saúde
seja proativo, integrado, contínuo, focado na de saúde. e relativos à estrutura e organização dos
promoção e na manutenção da saúde. Isso serviços de saúde.
exige não somente determinar que atenção Buscar o envolvimento e a captação dos
à saúde é necessária, mas definir papéis homens representa uma importante tarefa
e tarefas para assegurar que as pessoas para os profissionais de saúde, haja vista

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Acesso e acolhimento na A integralidade na atenção
atenção à saúde do homem à saúde do homem

Quadro 2 - Desafios para o acesso dos homens aos serviços de saúde.

Relativos ao homem

Medo Identificar uma doença grave ou que atinja as atividades laborais do indivíduo e sua autonomia em outras áreas.

A exposição do corpo para o médico pode ser desconfortável para muitos homens. Em especial pelo enfoque nas ações preventivas, por exemplo, quando
Vergonha
há a indicação clínica para realizar o exame do toque retal relacionado ao câncer de próstata.

Não pertencimento A maioria das ofertas dos serviços de saúde ainda são destinadas às mulheres e crianças, podendo fazer com que os homens não se sintam integrados ao serviço.

Relativos aos profissionais de saúde

Centralidade na
A priorização de procedimentos e exames centrados no aparelho genital masculino.
saúde reprodutiva

Ações pontuais em saúde Há predominância de ações clínico-assistenciais específicas em detrimento de ações ampliadas, preventivas e de promoção de saúde.

Invisibilidade dos homens Com a oferta de serviços estruturada para outros grupos específicos, a presença dos homens, além de menos comum, acaba pouco percebida pela equipe.

Capacitação pessoal A não disponibilidade de aperfeiçoamentos e materiais didáticos que instrumentalizem o profissional para essa demanda.

Relativos aos serviços de saúde

Horário de atendimento O período de atendimento dos serviços de atenção básica coincide com o horário de trabalho dos homens.

Os procedimentos para agendamento e encaminhamento a referências especializadas em geral são lentos, tornando-se pouco acessíveis aos homens
Sistema de agendamento
que trabalham.

Espaço físico A limitação dos espaços físicos nas UBS dificulta a implementação de outras frentes de atuação, além das já existentes.

Falta de especialistas Os homens procuram atendimento por causas mais complexas, demandam mais recursos humanos e estruturais, por vezes não disponíveis na atenção básica.

Fonte: Do autor.

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Acesso e acolhimento na A integralidade na atenção
atenção à saúde do homem à saúde do homem

Os principais desafios para o acesso aos to de prevenção associado à realização de


Importante! A invisibilidade dos homens nos
serviços de saúde apresentados, relativos serviços de saúde é um desafio que precisa procedimentos médicos, deslocando-se o
ser reconhecido e superado pelas equipes e
ao homem, tais como a presença do medo serviços de saúde. enfoque da saúde do homem centrado nos
de buscar o cuidado em saúde e deparar-se exames preventivos de câncer de próstata e
com alguma doença que o incapacite para o direcionando-o para um contexto mais am-
exercício do seu papel social, a vergonha de À medida que as ofertas em saúde estão plo. As questões socioculturais, ambientais,
expor seu corpo e o sentimento de não per- mais direcionadas ao público que procura laborais que influenciam nos fatores de risco
tencimento podem ser enfrentados a partir mais a unidade, tal como crianças, mulhe- para as doenças mais prevalentes nos ho-
da compreensão das questões de gênero res, gestantes e idosos, os homens jovens mens, tais como o alcoolismo, o tabagismo,
pelos profissionais de saúde. e adultos permanecem distantes dos servi- o uso de drogas, a alimentação inadequada
ços, visto que suas necessidades em geral e o sedentarismo, devem ser consideradas
Como já analisado nas discussões relativas são pouco ou não são contempladas. para a elaboração de ações de prevenção e
às masculinidades hegemônicas, a resis- promoção da saúde.
tência dos homens repercute do fato de a Neste contexto, para captação da população
doença ser considerada por eles um sinal masculina, as ações propostas devem visar Para que esse conjunto de ações seja de
de fragilidade. Reconhecer, compreender à integralidade, e não somente ações que in- possível efetivação, a abordagem da saúde
e considerar este aspecto sociocultural no centivem o serviço a “buscar” o homem ou do homem deve ser um assunto debatido
acolhimento do usuário é parte do atendi- o homem a “buscar” o serviço. Também há na formação acadêmica. Nos serviços, ges-
mento humanizado, que possibilita a cria- uma importante reflexão ética envolvendo tores e profissionais devem estar atentos
ção do vínculo e de uma relação de confian- a prevenção do consumo excessivo de exa- às necessidades de qualificação e capacita-
ça entre profissional e usuário. mes. É importante desmistificar o concei- ção permanente.

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Acesso e acolhimento na A integralidade na atenção
atenção à saúde do homem à saúde do homem

Figura 14 - Abandono de maus hábitos de saúde to, sobretudo dos trabalhadores (GOMES; transcendem o campo da saúde, tais como
NASCIMENTO; ARAÚJO, 2007). a violência, acidentes, abuso de álcool e dro-
gas, apontamos a necessidade de esforço
Alguns fatores institucionais remetem à di- intersetorial. Faz-se necessário desenvol-
nâmica e aos horários de funcionamento ver atividades e projetos intersetoriais, para
dos serviços que, geralmente, são incompa- além dos serviços de saúde, alcançando-se
tíveis com as atividades laborais masculi- outras instituições na sociedade. Para con-
nas. Sobre esta situação, os horários esten- tribuir com essa perspectiva, vimos também
didos da atenção básica não se restringem à algumas experiências exitosas de adesão e
facilidade de acesso somente aos homens, cuidado da população masculina, que vão
uma vez que para as mulheres também é além do espaço das instituições de saúde.
importante esta alternativa, por trabalharem
Fonte: Fotolia
em situações semelhantes. A atenção básica é o ponto de entrada para
A literatura aponta que a procura pelo servi- a atenção à saúde individual, o local da res-
ço de saúde pelos homens aumenta nos lo- Importante! Neste processo estratégico de ponsabilidade continuada pelos usuários
cais que ampliam o horário de atendimento sensibilização dos homens e das equipes de com participação da população e o nível de


saúde, o importante é ampliar a equidade e a
para outros turnos, como o noturno, horário integralidade da assistência a partir do reco- atenção na melhor posição para interpretar
nhecimento de outras necessidades de saúde,
de almoço ou finais de semana. Apesar de além das já reconhecidas pelos serviços e polí- os problemas apresentados no contexto
a ampliação não ser indicada em todas as ticas da área (STORINO; SOUZA; SILVA, 2013). histórico e meio social do paciente (STAR-
unidades de saúde, a concentração de ho- FIELD, 2002).
mens nesses horários aponta ainda para Considerando que as principais causas de
uma potencial eficácia da estratégia de se morbimortabilidade entre homens estão Desta forma, o mais importante neste pro-
criar horários alternativos para o atendimen- relacionadas a questões complexas, que cesso é construir junto aos homens con-

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Acesso e acolhimento na A integralidade na atenção
atenção à saúde do homem à saúde do homem

dições para que eles possam reconhecer 3.4 Recomendação de leituras


suas vulnerabilidades e necessidades. Sen- complementares
do assim, a expectativa é de que haja envol-
vimento dos profissionais e intencionalida- Para aprofundar seus estudos sobre a in-
de de reconhecer essas necessidades de tegralidade na atenção à saúde do homem
saúde, de produzir ações que sejam menos e a nota técnica sobre o rastreamento do
punitivas ou prescritivas, e mais resolutivas, câncer de próstata, sugerimos as seguintes
considerando a autonomia dos sujeitos no leituras:
processo saúde-doença, assim como a in-
serção social desses indivíduos (STORINO; STORINO, L. P.; SOUZA, K. V.; SILVA, K. L.
Necessidades de saúde de homens na atenção
SOUZA; SILVA, 2013). básica: acolhimento e vínculo como potencia-
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wcm/connect/9e6e07004a50eca8968b-
assim os serviços, no sentido de uma aten- d6504e7bf539/Nota+T%C3%A9cnica+CAP+-
ção progressivamente integral. finalizada.pdf?MOD=AJPERES&CACHEI-
D=9e6e07004a50eca8968bd6504e7bf539>.
Acesso em 04.08.2016.

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Resumo do curso
Acesso e acolhimento na
atenção à saúde do homem

Neste curso, estudamos que, para a efetivação da integralidade, é necessário conhecer o


contexto e a forma com que as pessoas, em especial os homens do território, vivem, levan-
do isso em conta para a estruturação das práticas de cuidado. Um caminho para atender
o desafio do alcance da integralidade é potencializar o acesso do usuário aos serviços de
saúde, devendo a equipe de saúde da família participar ativamente deste processo. Sobre
direito à saúde e a humanização do cuidado nas diferentes especificidades de gênero, abor-
damos a saúde como um direito, a fim de garantir um atendimento de qualidade, dentro dos
princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS). Para isso, abordamos a metodo-
logia inclusiva e participativa dentro da capacidade e possibilidade daqueles que pensam,
planejam e executam suas ações.

Observamos que a oferta de serviços precisa ir além do espaço físico da unidade de saúde
e da realização de exames. É preciso atuar no território de maneira ampliada, a fim de al-
cançar a população masculina nos espaços onde ela se encontra: o ambiente de trabalho,
os espaços de lazer, os domicílios, entre outros espaços sociais. O trabalho do profissional
de saúde tem maior potencial de captar também os homens quando é realizado de maneira
humanizada, estabelecendo vínculo entre usuário e profissional, assegurando-se o acesso e
acolhimento de qualidade.

Trouxemos também alguns dispositivos e estratégias para a superação dos desafios encon-
trados para o acesso e acolhimento na atenção básica. Estes exemplos contribuem com a
qualificação das práticas dos profissionais de saúde, possibilitando a implementação da
Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH).

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Resumo do curso
Acesso e acolhimento na
atenção à saúde do homem

Ressaltamos que, para a saúde pública, a discussão e inclusão da integralidade nas práticas
cotidianas de atenção à saúde do homem são necessárias, visto a predominância da atua-
ção focada equivocadamente em procedimentos e exames relacionados ao sistema genital
masculino.

Também salientamos a importância de agir em rede, considerando as particularidades e


necessidades da população masculina, além do compromisso e desafio de organização dos
serviços de saúde, relacionando o sentido de doença para os homens, o momento da procu-
ra pelo serviço e o horário de atendimento dos serviços.

O atendimento na atenção básica pode resultar em oportunidades para a integralidade à


saúde do homem. É na atenção básica, onde as formas de cuidado devem partir das neces-
sidades de saúde que emergem no território, que se podem desenvolver ações nas unidades
de saúde e para além destas. Nesse sentido, foram compartilhadas algumas experiências e
possibilidades de práticas relacionadas às ações em saúde do homem, para que você, pro-
fissional, possa refletir sobre a sua realidade, buscar meios de qualificar o seu processo de
trabalho e, consequentemente, a atenção à saúde da população masculina do seu território.

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Sobre os autores
Acesso e acolhimento na
atenção à saúde do homem

Sabrina Blasius Faust Sheila Rubia Lindner

Possui graduação em Enfermagem pela Universidade Possui graduação em enfermagem pela Universida-

Federal de Santa Catarina. É mestre pelo Programa de Federal de Santa Catarina (2002), mestrado em

de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universi- Saúde Pública pela Universidade Federal de Santa

dade Federal de Santa Catarina (UFSC). Doutoranda Catarina (2005) e doutorado em Saúde Coletiva pela

do Programa de Pós Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina. É pesqui-

UFSC. Desenvolve seus estudos na linha de pesquisa sadora na temática de violência por parceiro íntimo.

Humanização e Bioética. Trocar para professora Adjunta da Universidade Fe-

Endereço do currículo na plataforma lattes: deral de Santa Catarina (UFSC).

<http://lattes.cnpq.br/4270585121162578>. Endereço do currículo na plataforma lattes:

<http://lattes.cnpq.br/3507140374697938>.
Deise Warmling

Elza Berger Salema Coelho


Possui graduação em Nutrição e Especialização Mul-

tiprofissional em Saúde da Família pela Universidade Possui graduação em Enfermagem pela Universida-

Federal de Santa Catarina. É mestre e doutora pelo de Federal de Santa Catarina (1977) e doutorado em

Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Filosofia da Enfermagem, pela Universidade Federal

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). De- de Santa Catarina (2000). Atualmente, é professora

senvolve seus estudos na linha de pesquisa Violência adjunta do Departamento de Saúde Pública da Uni-

e Saúde. versidade Federal de Santa Catarina. Tem experiên-

Endereço do currículo na plataforma lattes: cia na área de Saúde Coletiva, com ênfase nas áreas

<http://lattes.cnpq.br/8072187390411463>. temáticas de Saúde da Mulher e Violência e Saúde.

Endereço do currículo na plataforma lattes:

<http://lattes.cnpq.br/3980247753451491>.

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Acesso e acolhimento na
atenção à saúde do homem

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