Você está na página 1de 32

PPGSP

FSP
USP
PSP5512 - Política social, políticas públicas, promoção da saúde

Apontamentos para política social,


em 11 de agosto de 2021

O que é uma sociedade justa?


Teorias e autores, bem comum, mercado, imperativo categórico, equidade,
igualdade, meritocracia, ação afirmativa, etc.

1
a) O que é uma sociedade justa?

• Duas proposições fundamentais passíveis de ser


concebidas pela razão prática:
1. a vida de todas as pessoas tem valor e um valor igual;
2. cada pessoa tem sua própria vida para levar.
(In: De Vita, A justiça igualitária e seus críticos, 2000, p. 16)

2
Desigualdade social
Pobreza encurta a vida mais que obesidade, álcool e
hipertensão
Estudo critica a OMS por não incluir a desigualdade
como fator ser combatido

'Recessions can hurt, but austerity kills'


David Stuckler, author of an explosive new book, says the
facts speak for themselves.
https://www.theguardian.com/society/2013/may/15/recessions-
hurt-but-austerity-kills

http://brasil.elpais.com/brasil/2017/01/31/ciencia/
1485861765_197759.html?id_externo_rsoc=FB_BR_CM

3
Social inequalities and COVID-19 mortality in the
4
city of São Paulo, Brazil. Int J Epidemiol. 2021
Feb 28
Ter baixo nível socioeconômico “significa ser incapaz
de determinar o próprio destino, privado de recursos
materiais e com oportunidades limitadas, que
determinam tanto o estilo de vida quanto as
oportunidades de vida”. (Martin Tobias, Health
Minister, New Zeland)
5
Restrição de cotas no ensino público superior viola
Constituição, diz Janot

Procurador-geral da República entra com ação no


Supremo contra leis do Amazonas que excluíram até
indígenas do sistema de reserva de vagas
http://www.estadao.com.br/02/02/1017

6
7
• “O objetivo da reforma da Previdência é privatizar”. Eis o propósito do
projeto do governo Temer, afirma a economista Denise Lobato Gentil

"Uma ideia
única de
aposentadoria
em um
território tão
diverso e
complexo não
passa de
crueldade"

• http://www.cartacapital.com.br/revista/938/o-objetivo-da-reforma-da-previdencia-e-privatizar
8
• O que é que a Convenção Europeia dos Direitos Humanos já fez por
nós?
Tirando o direito a um julgamento justo, a liberdade da escravidão, a
liberdade da tortura...

• https://www.facebook.com/theguardian/videos/506897629498005/?
autoplay_reason=all_page_organic_allowed&video_container_type=0
&video_creator_product_type=0&app_id=273465416184080&live_vi
deo_guests=0

9
10
As origens do Estado de Bem Estar Social segundo John Kenneth Galbraith.

• http://www.diariodocentrodomundo.com.br/as-origens-do-estado-de-bem-
estar-social-segundo-john-kenneth-galbraith-por-camila-nogueira/
11
b. Conceito de equidade na perspectiva das ciências sociais

“… é injusto que uma pessoa tenha suas perspectivas de vida


determinadas por uma [espécie de] loteria social ou genética”. (De
Vita, 2010)

“… na sociedade justa as liberdades de cidadania igual são


consideradas irrevogáveis; os direitos garantidos pela justiça não estão
sujeitos a negociações políticas nem ao cálculo de interesses sociais.”
(Rawls, 2010)

12
concepção pública de justiça

“A desconfiança e o ressentimento corroem os vínculos


de civilidade, e a suspeita e a hostilidade tentam as
pessoas a agir de maneira que evitariam em outras
circunstâncias.” (Rawls, 2010)

13
estrutura básica da sociedade

“…o modo como as principais instituições sociais distribuem


os direitos e os deveres fundamentais e determinam a
divisão de vantagens decorrentes da cooperação social.”
(Rawls, 2010)

14
• essa estrutura contém várias posições sociais:

“… as pessoas nascidas em condições diferentes têm expectativas diferentes de


vida, determinadas, em parte, tanto pelo sistema político quanto pelas
circunstâncias econômicas e sociais.
Assim, as instituições da sociedade favorecem certos pontos de partida mais que
outros. Essas são desigualdades muito profundas. Além de universais, atingem as
oportunidades iniciais de vida; contudo, não podem ser justificadas recorrendo-se
à ideia de mérito.

• São essas desigualdades, supostamente inevitáveis na estrutura básica de qualquer


sociedade, que se devem aplicar em primeiro lugar os princípios da justiça social.”
(Rawls, 2010)

15
• “… os comportamentos sociais não brotam como cogumelos, por
natureza, nem são condicionáveis indefinidamente.” (Santos,
1979, p. 13)
• “… a crescente intensidade e magnitude dos conflitos gerados
pela forma industrial de produção e a acumulação de bens
termina por provocar a ingerência do Estado no âmbito das
relações de trabalho, em primeiro lugar, evoluindo,
posteriormente, para o que, por costume, se denomina de
legislação previdenciária.” (idem)

16
“distinguem-se os países quanto à articulação dos programas
sociais, presuntivamente destinados a maximizar a equidade
com as demais políticas governamentais, sobretudo aquelas
que têm por objetivo maximizar a acumulação.” (idem)

17
“… hegemonia indisputada da crença em que o ‘mercado’, onde se
encontravam indivíduos juridicamente iguais e autônomos, capazes
de firmar acordos que a ninguém mais interessava, constituía o
mecanismo mais eficiente (…) para combinar as mais elevadas taxas
de acumulação de riquezas à mais justa distribuição possível de
benefícios econômicos e, em decorrência, sociais.”

18
“Seria um erro considerar que os detentores do ‘mercado’, como
alocador de recursos e recompensas, supusessem que, como
resultado final de sua operação, se obtivesse uma sociedade
perfeitamente igualitária. O que estimavam, sim, é que a
distribuição de benefícios, em qualquer sociedade, deveria
refletir a distribuição diferenciada de capacidades e talentos…”

19
“deveria ficar, porém, indubitavelmente compreendido,
durante o século XIX, que o recurso às associações de
socorro mútuo, ou os auxílios proporcionados pelos bem
sucedidos, não constituía prova de que o ‘mercado’ era
ineficiente ou ‘injusto’ mas, ao contrário, indiscutível
evidência da inferioridade dos pobres e desvalidos. Necessitar
de ajuda ou cooperação social convertia-se, assim, em
estigma pessoal antes que sugestão de que a nova forma de
organizar a produção não era satisfatória (…)”.
20
C – política social

Se os homens são desiguais, como sustenta o credo


liberal, e a distribuição de benefícios econômicos
reflete essa desigualdade, “nenhuma ação pública,
tendo por objetivo escamotear esse fato, é
legítima.”

21
Política social

Ações permanentes ou temporárias relacionadas ao


desenvolvimento, à reprodução e à transformação dos
sistemas de proteção social.
• Em uma concepção mais ampla, a política social abrange
tanto os meios pelo quais promove o bem-estar em cada
sociedade quanto os determinantes do desenvolvimento
social.

Ou ainda
Conjunto de ações que objetiva a
promoção da igualdade e do bem-estar
• [Para o Banco Mundial], “proteção social é definida
como toda intervenção pública para ajudar indivíduos,
domicílios e comunidades a administrar riscos ou apoiar
os cronicamente pobres.”
• “Além da renda, outras dimensões da pobreza são
enfatizadas, sustentando o discurso sobre a
necessidade de acesso a bens como saúde e educação
como condições para a superação da pobreza.”
• “O significado clássico de proteção social não poderia
ser reduzido ao acesso à renda, possuindo também a
função de fomentar processos capazes de garantir
direitos universais.”
• T. H. Marshall:
• Renda – mercantilização do sujeito
• Bem-estar = cidadania
• Por isso, proteção social deve ser vista como atividade
coletiva e orientada para apresentação universal de
benefícios em face de necessidades socialmente
produzidas nos marcos das sociedades industriais
capitalistas;
• Desenvolvimento de estratégias coletivas para reduzir
a vulnerabilidade das pessoas aos riscos sociais
E, finalmente, proteção social são as relações,
processos, atividades e instrumentos que visam a
desenvolver as responsabilidades públicas na
promoção da seguridade social e do bem-estar.
“A política social constitui há muito tempo parcela
importante da vida de todos os indivíduos. Tornou-se
praticamente impossível imaginar o funcionamento das
sociedades industriais modernas sem a presença de
todo o aparato institucional estatal próprio da
intervenção no campo social.”

28
O que determina a emergência de políticas sociais? A
boa vontade dos governos, a boa índole dos
empresários, os sindicatos e movimentos sociais de
defesa dos interesses dos trabalhadores? Seguramente, a
emergência da organização dos trabalhadores como
sujeito político é fundamental para o estabelecimento de
sistemas de proteção social e benefícios universais.
(Marshall, 1967)

29
“To my knowledge, the first use of the term “health promotion” occurred
in 1945, when Henry E. Sigerist (…).

He stated that “Health is promoted by providing a decent standard of


living, good labor conditions, education, physical culture, means of rest
and recreation,”
(Saúde é promovida pela provisão de um padrão decente de vida, boas
condições de trabalho, educação, cultura física, meios de descanso e
recreação.) and called for the coordinated efforts of statesmen, labor,
industry, educators, and physicians to this end.

30
PRÉ-REQUISITOS PARA A SAÚDE

• As condições e os recursos fundamentais para a saúde


são: Paz – Habitação – Educação – Alimentação –
Renda - Ecossistema estável - Recursos sustentáveis -
Justiça social e Equidade.
• O incremento nas condições de saúde requer uma
base sólida nestes pré-requisitos básicos. (OMS, 1986)

31
• Referências

• Pires, Júlio Manuel. Condicionantes Políticos e Econômicos da Política Social. Pesquisa & Debate, SP, Volume 18, Número 1 (31) pp. 131-153, 2007

• Hayek, Friedrich August von. O caminho da servidão. Tradução e revisão Anna Maria Capovilla, José Ítalo Stelle e Liane de Morais Ribeiro. — 5. ed. — Rio de Janeiro: Instituto Liberal, 1990. 221 p.

• Rawls, John. Uma teoria da justiça. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

• Souki LG. A atualidade de T. H. Marshall no estudo da cidadania no Brasil. Civitas – Revista de Ciências Sociais, v. 6, n. 1, jan.-jun.

• Leandro, Ariane Gontijo Lopes Uma reflexão sobre a construção da cidadania a partir da experiência do Programa Mediação de Conflitos do Estado de Minas Gerais. II JORNADA DISCENTE DO
PPHPBC (CPDOC/FGV) INTELECTUAIS E PODER . Simpósio 3 | Política e cidadania.

• Thomas Humphrey Marshall

• Hobsbawm, EJ. Era dos extremos. O breve século XX: 1914-1991. 2.ed., 42. Reimpressão. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

• Zizek S. Vivendo no fim dos tempos. São Paulo: Boitempo, 2012 .

• Todorov Tztevan. Os inimigos íntimos da democracia. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

• Silveira, HFR. Um estudo do poder na sociedade da informação. Ci. Inf., Brasília, v. 29, n. 3, p. 79-90, set./dez. 2000.

• Sérgio Resende Carvalho. OS MÚLTIPLOS SENTIDOS DA CATEGORIA “EMPOWERMENT” NO PROJETO DE PROMOÇÃO À SAÚDE. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(4):1088-1095, jul-ago, 2004

• Sigerist, H. E. The University at the Crossroads. New York: Henry Schuman, 1946.

• Terris M. Concepts Of Health Promotion: Dualities In Public Health Theory. Journal of Public Health Policy 1992; 13 (3, autumn): 267-276. (Journal of Public Health Policy, 34-40)

• Verdi, Marta & Caponi, Sandra. Reflexões sobre a promoção da saúde numa perspectiva bioética. Texto Contexto Enferm 2005 Jan-Mar; 14(1):82-8.

• Luis David Castiel. Promoção de saúde e a sensibilidade epistemológica da categoria ‘comunidade’. Rev Saúde Pública 2004;38(5):615-22

• Ferreira, Marcos Santos & Castiel, Luis David. Which empowerment, which Health Promotion? Conceptual convergences and divergences in preventive health practices. Cad. Saúde Pública, Rio de
Janeiro, 25(1):68-76, jan, 2009.

• Demo, Pedro. Democracia e desenvolvimento. Ci. & Trop. Recife, v.20, n2, p.281-308, Jul/dez., 1992. [disponível em http://periodicos.fundaj.gov.br/index.php/CIT/article/viewFile/772/706]

• Stotz, EN, Araújo, JWG. Promoção da Saúde e Cultura Política: a reconstrução do consenso. Saúde e Sociedade v.13, n.2, p.5-19, maio-ago 2004.

• Akerman M, Mendes R, Bógus CM, Westphal MF, Bichir A, Pedroso ML. Avaliação em promoção da saúde: foco no “município saudável”. Rev Saúde Pública 2002;36(5):638-46.

• Fernandez JCA, Westphal MF. O lugar dos sujeitos e a questão da hipossuficiência na promoção da saúde. Interface, Comunic. Saúde, Educ., v.16, n.42, p.595-608, jul./set. 2012.

• VAITSMAN, Jeni; ANDRADE, Gabriela Rieveres Borges de & FARIAS, Luis Otávio. Proteção social no Brasil: o que mudou na assistência social após a Constituição de 1988. Ciênc. saúde coletiva
[online]. 2009, vol.14, n.3, pp. 731-741.

• Kerstenetzky, Celia Lessa. Políticas Sociais: focalização ou universalização? Revista de Economia Política, vol. 26, no 4 (104), pp. 564-574, outubro-dezembro/2006

• Pochman, M. Proteção social na periferia do capitalismo. Considerações sobre o Brasil. São Paulo em Perspectiva, 18(2): 3-16, 2004

• Fiori, José Luís. Estado de bem-estar social: padrões e crises. Physis, Dez 1997, vol.7, no.2, p.129-147.

• Santos, Wanderley Guilherme dos. Cidadania e justiça: a política social na ordem brasileira. Rio de Janeiro: Campus, 1979.
32

Você também pode gostar