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I FÓRUM DISCENTE DO MESTRADO EM HISTÓRIA DO BRASIL DA UNIVERSO 215

EDUCAÇÃO E POLÍTICA: A CAMPANHA DE ERRADICAÇÃO


DO ANALFABETISMO E A IMPLANTAÇÃO DA ESCOLA
PARQUE PRIMÁRIO COMPLEMENTAR – 1958-1973,
LEOPOLDINA (MG)
Cláudia Amaral

INTRODUÇÃO:
A pesquisa apresenta como recorte temporal o período de 1958, ano da criação
da Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo e o período de funcionamento
da Escola Parque Primário Complementar - Leopoldina (MG), até 1973, ano
correspondente aos indícios referentes ao fechamento dessa escola, objeto desse
trabalho.
A pesquisa analisa, também, a parceria entre JK e Anísio Teixeira, que
participou do projeto desenvolvimentista do presidente.
Desde a década de 1920, Teixeira assumiu a defesa da escola pública e da
formação integral. Foi apenas no início do governo Vargas que um grupo de vinte
intelectuais lançou o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932), documento
influenciado pelas ideias de Anísio Teixeira. Esses intelectuais se uniram em projetos
em prol de reformas que tinham como meta uma escola pública de qualidade.
Defendiam uma educação inclusiva que considerasse os interesses e as aptidões dos
alunos.
A partir do Manifesto, Teixeira destacou-se no âmbito nacional e internacional
com uma vasta produção teórica e ampla participação política, sempre no âmbito da
educação. Teixeira defendia uma escola com atividades ampliadas, voltada para a
formação integral da personalidade e do caráter humano, e a integração entre escola e
sociedade. Segundo esse pedagogo, os investimentos em educação retornariam para a
sociedade na forma de crescimento econômico.
O Projeto Piloto de Erradicação do Analfabetismo do Ministério de Educação e
Cultura foi resultado da influência de Anísio e de outros intelectuais a ele ligados.
Teixeira esteve à frente da Secretaria de Educação e Saúde da Bahia, de 1947 a 1951, e
organizou o projeto de construção do Centro Educacional Carneiro Ribeiro, a Escola
Parque, inaugurada em 1950.
Teixeira criticava o sistema de ensino tradicional devido a pouca relação com a
realidade vivenciada pelas crianças. A nova escola daria oportunidade para que os
alunos desenvolvessem condições para atuar na sociedade melhorando as suas

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condições de vida e da própria família. Para isso, seria necessário possibilitar atividades
de vida prática, sendo fundamental a análise das atividades econômicas realizadas, na
região em que se inseria a escola, de forma a instrumentalizar os alunos para que
pudessem desenvolvê-las com mais preparo e eficiência, de maneira tal que pudessem
participar, com eficiência, no mercado de trabalho. Essa escola poderia preparar os seus
alunos para uma vida melhor a partir da aquisição de novas técnicas que levariam ao
desenvolvimento da comunidade e, consequentemente, do país.
Teixeira defendia, com seu projeto da Escola Parque, a formação de cidadãos
capazes de contribuir para o progresso do Brasil tanto economicamente como ao
aprofundamento da cidadania.
O avanço na educação brasileira fazia parte do Plano de Metas de JK. Com
grande influência de Teixeira, foi criado, pelo MEC, em 1957, o Projeto Piloto de
Erradicação do Analfabetismo. Por decisão de JK todas as regiões do Brasil deveriam
receber núcleos do projeto do qual fazia parte a construção da Escola Parque. Os
municípios escolhidos foram: Região Norte: Santarém (Pará), Região Nordeste: Feira de
Santana (Bahia) e Timbaúba (Pernambuco). Região Centro Oeste: Catalão (Goiás),
Região Sul: Júlio de Castilhos (Rio Grande do Sul) e Região Sudeste: Leopoldina,
Minas Gerais. (MOREIRA,1960)
JK apresentou um Plano de Metas para seu governo, dando início a um novo
paradigma de política econômica: o desenvolvimentismo. Segundo Gomes (2002), essa
política desenvolvimentista exigia planejamento a partir de definição de metas:
fiel ao seu mote de campanha, de 50 anos (de progresso) em cinco, Juscelino
Kubitschek, logo após sua posse, instituiu, pelo Decreto nº 38.744, de 12 de
fevereiro de 1956, o Conselho do Desenvolvimento diretamente subordinado
à Presidência da República, que se constituiu no primeiro órgão central de
planejamento de caráter permanente no Brasil.1

O Conselho de Desenvolvimento do Governo Federal elaborou um conjunto de


30 objetivos específicos, distribuídos em cinco setores, denominado Programa de
Metas. Dentre esses setores, fica definida a meta nº 30 para a Educação -“Pessoal
técnico: intensificação da formação de pessoal técnico e orientação da educação para o
desenvolvimento.” (GOMES, 2002, p. 84).

1
GOMES, Angela de Castro. O Brasil de JK. Rio de Janeiro:FGV,2002, p.81
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QUESTÕES:
Uma questão que se pretende responder com esta pesquisa refere-se à influência
política na escolha de Leopoldina, situada na Zona da Mata Mineira, para a implantação
da Escola Parque Primário Complementar.
Outra questão diz respeito aos motivos que provocaram o fechamento dessa
escola e o impacto dessa situação na memória dos leopoldinenses ligados à Instituição
de Ensino ou aos contemporâneos dessas pessoas.

A escolha do município de Leopoldina (MG)


Clóvis Salgado, ministro da Educação e Cultura no governo de Juscelino,
entrevistado por Norma de Góes Monteiro em 1976, diz que o INEP, naquela ocasião,
“queria abordar o problema da erradicação do analfabetismo, não em termos
sentimentais, mas em termos científicos.” (MONTEIRO, 2007, p.109). Ele esclarece, na
entrevista, que o que se pretendia era estudar as condições sociais e econômicas de uma
comunidade para, a seguir, elaborar o projeto de uma escola. Outro aspecto que Clóvis
Salgado enfatiza é que consideravam o analfabetismo como sinal de atraso econômico e
que uma população industrializada não podia ter analfabetos.
Na entrevista, o Ministro da Educação informa que no tempo em que estava no
Ministério, a taxa de analfabetos no Brasil estava em 50% (cinquenta por cento), mas
“esse grupo não tinha aspirações por escola porque não precisa de escola”. (p.109)
Sendo assim, para o Ministro da Educação, havia um deficit escolar em termos aparente
e não em relação ao desenvolvimento sócio-econômico do país. O Ministro explica,
ainda, que:
Era preciso estudar para ver de que maneira os recursos empregados
em alfabetizar totalmente a população poderiam redundar em
progresso econômico. Era preciso fazer a experiência in loco. Então, o
INEP propôs, inicialmente, que três municípios brasileiros fossem
escolhidos para sede de experiência de erradicação. (p.110)

Em função da possibilidade de escolha dos municípios, o Ministro escolheu,


então, sua terra natal - Leopoldina, que representava um município da Zona da Mata de
Minas, localizado a 200 quilômetros do Rio de Janeiro, com estrada asfaltada,
facilitando a direção do INEP.
O Ministro justifica sua escolha por Leopoldina em função de estar nas mesmas
condições de outros dois municípios: Muriaé e Cataguases. A escolha de Leopoldina

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teria sido facilitada, também, porque o Prefeito era irmão do Ministro Clóvis Salgado, o
que poderia obter a união de todos em torno do projeto, inclusive a união política.
O Brasil, na ocasião da inauguração da Escola Parque, no município de Leopoldina,
estava sob a presidência de Juscelino Kubitschek de Oliveira.

O contexto educacional e político


O analfabetismo constitui-se num problema para a população do Brasil, desde os
primeiros tempos da emancipação política do país, preocupando os líderes políticos e os
intelectuais brasileiros.
Desde o Império, na primeira Constituinte, havia reclamação dos representantes
do povo em relação à ação do Governo para a criação de maior quantidade de escolas,
propiciando oportunidade de melhoria da situação educacional vivida no período
colonial.
Houve, na história educacional do Império, esforços repetidos para a resolução
do problema do analfabetismo no país. Rui Barbosa, como representante do povo no
Congresso, no fim do Império, através de pareceres, buscou esboçar um sistema
educacional brasileiro que fosse capaz de efetivar o ideal dos líderes brasileiros,
entendendo que a “educação e a cultura identificariam uma nação desenvolvida e
próspera”. (MOREIRA,1960, p.7)
Segundo o Censo de 1920, havia alta porcentagem de analfabetos de 10 e mais
anos de idade, com o índice de analfabetos representado por, aproximadamente, 75%
(setenta e cinco por cento) daquela população. Essa situação assustou a intelectualidade
brasileira em relação ao atraso do país, o que impossibilitaria a construção de uma
democracia progressista.
Ao compararmos o resultado do Censo de 1872 e 1920, pode-se observar o
aumento das matrículas, havendo, portanto, um avanço na situação educacional
brasileira. Esse resultado comparado ao Censo de 1950 apresenta melhora contínua,
sendo que o número de crianças matriculadas por mil habitantes dobrou o de 1920. A
porcentagem de analfabetos, de dez e mais anos de idade, baixou a, aproximadamente,
cinquenta por cento. (MOREIRA,1960, p.8)
Segundo Moreira (1960) o problema do analfabetismo, embora com melhorias
crescentes nos resultados, continua entrando em debates e busca de novas soluções,
como acontece em processos de mudança social ou política que ocorre no Brasil, como
em 1890, 1920, em 1930 e em 1945.

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Ao iniciar o governo de Juscelino Kubitschek de Oliveira houve o


estabelecimento de um Plano de Metas, visando o desenvolvimento do Brasil. O setor
educacional foi contemplado com uma meta, a de n 30, por intervenção dos técnicos e
especialistas do Ministério da Educação e Cultura, especialmente, com o apoio do
Ministro Clóvis Salgado. Os especialistas do Ministério da Educação “adotavam a
premissa de que o desenvolvimento econômico e a mudança orgânica da sociedade
brasileira dependiam, principalmente, da formação do homem”. (MOREIRA, 1960, p.9)
Ao final de 1956 e no primeiro semestre de 1957, várias comissões do
Ministério da Educação e Cultura apresentaram soluções para subsidiar um programa de
educação com realizações de curto prazo, com mobilização de setores da nacionalidade.
De acordo com o que estabelecia a Constituição da República no que se referia
aos recursos mínimos aplicáveis, 10% da receita de impostos por parte da União e 20%
da mesma receita por parte dos Estados e Municípios, tratou-se de verificar o que
poderia ser aplicado além desses limites. (...) em 1956, a União quase aplicou a cota que
lhe cabia, ao passo que os Estados e os Municípios aproximadamente 16%. Em função
dessa situação, fazia-se necessário determinar a importância a ser destinada à educação,
visto que a União cumpria sua parte e dependia, então, de recursos de verbas
extraordinárias com tal finalidade, sem prejuízo para o alcance das outras metas do
governo, indispensáveis ao desenvolvimento econômico. (MOREIRA, 1960, p.8)
Entre as metas de desenvolvimento, o governo estabeleceu a meta para a
educação, incluindo a busca da solução do problema relacionado ao analfabetismo.
Em relação ao problema do analfabetismo da metade da população brasileira,
chegou-se à conclusão em adotar a organização de classes de emergência, com a
finalidade de alfabetizar adolescentes e adultos que por circunstâncias sociais,
econômicas, políticas e culturais não tiveram a oportunidade de frequentar a escola
durante a infância.
Segundo MOREIRA (1960, p.9) havia necessidade de mais de um quinto da
verba do Ministério da Educação e Cultura para a implementação do projeto para a
erradicação do analfabetismo, através da aplicação em escolarização primária de
emergência dos analfabetos adolescentes e adultos do Brasil.
A formação econômica e social do Brasil dependeu da escravidão e da
monocultura agrícola. Em função disso, apresenta-se grande desigualdade de meios e
processos de trabalho e de produção, assim como da distribuição de riquezas e
remuneração do trabalho. Assim sendo, essas desigualdades geram áreas de
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subdesenvolvimento, com condições de vida primitivas e atrasadas, onde torna-se difícil


que a escola proporcione sentido prático para o indivíduo e a coletividade.
O Brasil em meados de 1950 apresentava diferentes aspectos do moderno como:
processo de capitalismo industrial, um processo de urbanização em marcha,
secularização das instituições, progressos tecnológicos, liberalismo político, estatismo
econômico, progressiva liberdade de pensamento e desenvolvida organização das
classes trabalhadoras e patronais. Moreira (1960) apresenta que:
De outro lado, conservamos ainda, muitos vestígios do arcaico ou
atrasado: mercantilismo e latifúndio, imensas áreas interiores e sub-
áreas urbanas de vida primitiva, de sub-emprego e de seimi-
escravidão, a persistência da grande família de parentesco e de
compadresco, mais ou menos teocratizada, o coronelismo político e o
populismo demagógico, individualismo patriarcal e homogeneidade
das massas miseráveis que ele domina, primitivismo de meios de
produção agrícola e outros.”(p.11)
Os aspectos modernos e arcaicos de uma sociedade determinam os seus
problemas, a partir da geração de contradições. Esses aspectos da modernidade
apresentam-se de maneiras diversas nas diferentes regiões do país, devendo ser
considerados por aqueles responsáveis pelo planejamento das ações relativas à educação
em cada área, adaptando as soluções encontradas.
O projeto da campanha de erradicação do analfabetismo baseou-se num processo
de educação que tratava de criar um sistema escolar para todas as crianças para que
tivessem a escolarização primária adequada e, não exclusivamente aos adolescentes e
adultos analfabetos que não tiveram a oportunidade de frequentarem a escola de forma a
ser alfabetizados. O projeto piloto foi organizado para se tornar uma experiência que
permitisse ao governo verificar a viabilidade de um programa que elevasse o nível
cultural do povo brasileiro.
O Departamento Nacional de Educação estudou a viabilidade do projeto piloto
para a erradicação do analfabetismo, que seria em um município pequeno, com
população reduzida para que pudessem ser estabelecidas as linhas gerais e
experimentado em outras comunidades brasileiras antes de se tornar um programa
nacional.
O relatório preliminar, publicado sob a forma de artigo na revista “Educação e
Ciências Sociais”, número sete, de abril de 1958, referente ao estudo realizado sobre o
planejamento da educação para as comunidades urbanas brasileiras passa a ser
transcrito:

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O hábito brasileiro de centralização administrativa foi criado, segundo


se diz, pela forma de colonização e administração portuguesa, que
eram acentualmente centralizadas. Presentemente se condiciona a dois
problemas que afetam a institucionalização pedagógica: falta de
recursos e falta de iniciativa, em âmbito local, para a criação, a
manutenção e o desenvolvimento de sistemas educacionais. (MEC,
1960)

O relatório relaciona a centralização administrativa da República e dos Estados


que exaure a capacidade dos municípios de pagar impostos e taxas, restando pouco às
administrações municipais para custear seus serviços e obras.
O INEP – Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos- e o Centro Brasileiro de
Pesquisas Educacionais, ambos órgãos do Ministério de Educação e Cultura, defendiam
as ideias de que as comunidades brasileiras assumissem a plena responsabilidade pelos
seus sistemas educacionais, ou seja, a descentralização administrativa da educação
escolar. Esses órgãos aconselhavam a criação de fundos de ensino, tanto na esfera
federal, como na estadual e na municipal. Dessa forma, os recursos municipais seriam
compensados com verbas provindas de fora, cabendo aos municípios a organização e a
administração dos serviços educacionais, no nível local.
Os técnicos e especialistas do INEP chamaram atenção para outro problema
educacional referente ao “hiato nocivo” que se refere ao semi-abandono em que ficam
as crianças das áreas urbanas. Umas concluíam o curso primário de 4 anos, com 11 ou
12 anos, aproximadamente; outras o abandonam por qualquer motivo, incluindo as que
repetiram a mesma série por terem faltado aos exames.
Segundo a Lei em vigor, as crianças só poderiam trabalhar ao completarem 14
anos. Sendo assim, pode-se há uma lacuna entre os estudos primários e o início do
trabalho. De acordo com o MEC (1960), então:
pensam os técnicos que a solução do problema estaria em reorganizar
o curso primário, dando-lhe um currículo e dos processos de ensino e
de medida de aprendizagem, capazes de corrigir a prática usual de
promoção e de reprovação das crianças, e também em estender a
escolaridade primária, de modo a mantê-las na escola até que
completem 14 anos de idade. A extensão da escolaridade se
constituiria de um acréscimo de 2 anos de treinamento mais intensivo
nas técnicas culturais básicas, com as quais se preocupa a escola
primária comum, e também de uma preparação para a aprendizagem
profissional em serviço. Quando fosse legalmente possível à criança
obter um emprego de iniciação profissional, ela já deveria apresentar
uma preparação realizada na escola.”

Várias cidades próximas do Rio de Janeiro foram indicadas para que pudessem
realizar os projetos do Ministério da Educação e Cultura. As cidades indicadas teriam

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uma população com um mínimo de 5(cinco) mil e o máximo de 50(cinquenta) mil


habitantes e que apresentasse um área rural que delas dependesse.
No final de 1957, o orçamento da República para 1958 foi votado pelo Congresso
Nacional, liberando verba especial ao Ministério da Educação e Cultura para a
realização do projeto piloto de erradicação do analfabetismo. Foi proposto que os 20
milhões solicitados fossem aplicados em cinco municípios representativos das regiões
do Brasil e não em apenas um como havia sido proposto anteriormente.
E assim, no segundo semestre de 1957, o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais
obteve consentimento do Professor Anísio Teixeira, seu Diretor Geral, para proceder à
exploração da área de Leopoldina, a partir de sua caracterização geográfica, econômica,
social e cultural, a fim de apurar os problemas locais de educação e definir as ações para
a solução desses problemas. Jovens cientistas sociais realizaram o trabalho de análise da
situação econômica, social e cultural do município de Leopoldina de forma a subsidiar o
planejamento das ações referentes à instalação do projeto piloto do Ministério da
Educação e Cultura.
De acordo com a matéria publicada no jornal A Tocha, de Leopoldina, datado
em 07 de agosto de 1974:
em uma das muitas tentativas sérias de nosso País de acabar com o fantasma
do analfabetismo em nossas terras, na gestão do nosso ilustre e brilhante
conterrâneo, Dr. Clóvis Salgado, como Ministro da Educação, foi implantado
em Leopoldina o PARQUE PRIMÁRIO COMPLEMENTAR. Sua
construção foi possível graças à verba destinada pelo MEC e ao esforço do
Poder Municipal, então dirigido pelo dedicado leopoldinense, Sr. José
Ribeiro dos Reis, prefeito da época.

Nesse contexto histórico e político, no município de Leopoldina, Zona da Mata


mineira, é instalada a Escola Parque Primário Complementar, sendo inaugurado no dia
09 de abril de 1960.

A ESCOLA
A Escola Parque Primário Complementar, inaugurada em 1960, esteve vinculada
ao Ministério da Educação e Cultura, através de órgãos do Departamento Nacional da
Educação, como a extinta Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo –
CNEA – de 1960 a 1962, ou mesmo, diretamente ao próprio Departamento, de 1963 até
a data da extinção do mesmo, em 1970.
A atividade essencial do Parque Primário Complementar, na época de sua
criação, era “anular o hiato nocivo que surge na vida da criança, após a conclusão do

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curso primário, por não ter condições de ingressar, imediatamente, na escola de grau
médio.”2
Segundo documento do arquivo da Prefeitura Municipal de Leopoldina, assinado por
Isaltina Rennè Guedes, ex-Diretora da escola, aquele estabelecimento de ensino
funcionava em regime de hora-aula, em dois turnos, incluindo horário para almoço e
recreio. As disciplinas apresentam-se em cinco Áreas: Cultura Geral, Atividades
Industriais, Atividades Socializantes, Cultura Física e Educação Extraescolar.
A Área de Cultura Geral inclui as seguintes disciplinas: Português, Matemática, Estudos
Sociais, Ciências Naturais, Geografia do Brasil, História do Brasil, Inglês, Moral e
Cívica, Desenho, Canto orfeônico e Religião.
As Atividades Industriais, sob a forma de oficinas, encontram-se relacionadas às
disciplinas: Cerâmica, Encadernação, Mecânica, Latearia-metal, Sapataria, Eletricidade,
Marcenaria, Radiotécnica, Corte e costura, Pintura e Bordado. O Clube recreativo,
Clube Cívico-Literário, Jornal Mural e Jornal Mimeografado encontravam-se
relacionados à Área de Atividades Socializantes. A Educação Física relaciona-se à
Área de Cultura Física, ficando o escotismo ligado à Área de Educação Extraescolar.
O Parque Primário Complementar, de acordo com os arquivos da Prefeitura
Municipal de Leopoldina, iniciou suas atividades com 130 (cento e trinta) alunos. Em
1971, quando deixa de ser relacionado ao balanço dos Bens Patrimoniais do
Departamento Nacional de Educação, atendia a 192 (cento e noventa e dois) alunos.
Esse estabelecimento de ensino teve como entidades mantenedoras: de 1960 a 1962, a
Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo; em 1963, o Programa de
Emergência; em 1964, o Plano Trienal de Educação; em 1965, O Departamento
Nacional de Educação e o Plano Nacional de Educação; em 1966 e 1967, o
Departamento Nacional de Educação; em 1968, o Departamento Nacional de Educação
e o Plano Nacional de Educação; em 1969, o Plano Nacional de Educação; em 1970,
funcionou sem que fosse concedido auxílio algum, com a suspensão do fornecimento de
almoço e as oficinas mantidas com o produto do seu trabalho. Em 1971, funcionou nos
moldes de 1970, sem recursos financeiros enviados pelo Ministério da Educação e
Cultura.

2
GUEDES, Isaltina Rennè. Arquivo da Prefeitura Municipal de Leopoldina, s/d, documento datilografado.
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Na época da Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo havia sido


firmado um convênio com a Secretaria da Educação do Estado de Minas Gerais e a
Coordenadoria daquela campanha, de 1958 a 1960 e, de 1961 a março de 1963.
Em relação ao prédio da Escola Parque Primário Complementar, de Leopoldina,
no Estado de Minas Gerais, conforme relatório da diretora do estabelecimento, Isaltina
Rennè Gomes (1971):
foi construído em terreno adquirido, conforme os têrmos de Acôrdo Especial
assinado entre a Prefeitura Municipal de Leopoldina, e o Ministério da
Educação e Cultura, segundo escritura de compra e venda, lavrada às folhas
nº 179 e 182-v, no Livro nº 72, no dia 19 de agosto de 1958, no Cartório do
2º Ofício de registro de Títulos e Documentos, de Leopoldina, no Estado de
Minas Gerais.

Segundo Isaltina Guedes, a direção daquele estabelecimento de ensino tomou


conhecimento, em princípio de julho de 1971, por meio de contatos pessoais com
funcionários do Ministério da Educação e Cultura da Guanabara, de que o prédio da
escola deixara de ser relacionado ao balanço dos Bens Patrimoniais do Departamento
Nacional de Educação. Segundo a mesma fonte, a Direção comunicou-se com o
Secretário de Apoio Administrativo através do ofício nº 06/71, DIR/PPC e com o
Ministério da Educação e Cultura, através do ofício nº 07/71-DIR/PPC, ambos datados
em 09 de julho de 1971. Na ocasião, o Secretário de Apoio Administrativo solicitou à
Direção do estabelecimento, através do telegrama nº 107/SAA, de 30 de setembro de
1971, a cópia da escritura do prédio, sendo atendido através do ofício nº
14/71/DIR/PPC, de 08 de outubro de 1971.

A UTILIZAÇÃO DA HISTÓRIA ORAL


Segundo Gomes (2002, p. 144-145) “há muitos hiatos na documentação escrita
referente ao período Kubitscheck”, o que dificulta a análise historiográfica desse
período. Para esse autor há necessidade de utilização da história oral como fonte de
pesquisa referente ao governo JK.
A necessidade de recorrer à história oral como fonte suplementar de
pesquisa é particularmente óbvia no caso de Juscelino Kubitschek, já
que ele tinha muita consciência de que a documentação que deixaria
viria a ser utilizada pelos pesquisadores para determinar seu lugar na
história.

Com a utilização da História Oral como a metodologia de pesquisa busca-se o


registro e a análise de testemunhos de pessoas que viveram a experiência de estudar ou
trabalhar na Escola em estudo.

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A partir da elaboração do projeto de pesquisa e definição dos objetivos parte-se


para a concretização dos contatos que possibilitem a execução das entrevistas. A técnica
usada para o registro das entrevistas define-se pelas possibilidades negociadas entre os
participantes dessa etapa do trabalho.
Por meio da realização das entrevistas, com a utilização de roteiro prévio e
intervenções do entrevistador, os relatos são registrados em vídeos que, devidamente
autorizados pelo entrevistado, torna-se a base para a produção de documentos escritos.
Na confecção do documento escrito tornam-se necessários todos os “cuidados da
transposição de um estado da palavra – oral – para outro – escrito”. (MEIRY, 2007,
p.31)
Segundo Worcman (2006, p.226), “a transcrição é um documento histórico e
como tal deve preservar, ao máximo, a fala do entrevistado.”
A seguir, procede-se com a análise do conjunto de histórias colhidas, quando
pode-se obter dados relativos às individualidades e que apresentem traços comuns ou
repetição de certos fatores que venham a caracterizar a memória coletiva.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através do registro da história da Escola Parque Primário Complementar de
Leopoldina pode-se analisar parte da história política de Leopoldina.
A influência das lideranças locais na interação com o governo federal pode ter
sido elemento fundamental para a instalação desse projeto piloto para o interior de
Minas Gerais.
Por meio de análise de documentos e da imprensa pode-se inferir a respeito das
razões do fechamento dessa escola, no período em que o Brasil encontrava-se sob o
regime da ditadura militar e que, nas entrevistas, é citado com um fator que teria
influenciado o encerramento das atividades da Escola Parque em Leopoldina.

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