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INTRODUÇÃO:
A pesquisa apresenta como recorte temporal o período de 1958, ano da criação
da Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo e o período de funcionamento
da Escola Parque Primário Complementar - Leopoldina (MG), até 1973, ano
correspondente aos indícios referentes ao fechamento dessa escola, objeto desse
trabalho.
A pesquisa analisa, também, a parceria entre JK e Anísio Teixeira, que
participou do projeto desenvolvimentista do presidente.
Desde a década de 1920, Teixeira assumiu a defesa da escola pública e da
formação integral. Foi apenas no início do governo Vargas que um grupo de vinte
intelectuais lançou o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932), documento
influenciado pelas ideias de Anísio Teixeira. Esses intelectuais se uniram em projetos
em prol de reformas que tinham como meta uma escola pública de qualidade.
Defendiam uma educação inclusiva que considerasse os interesses e as aptidões dos
alunos.
A partir do Manifesto, Teixeira destacou-se no âmbito nacional e internacional
com uma vasta produção teórica e ampla participação política, sempre no âmbito da
educação. Teixeira defendia uma escola com atividades ampliadas, voltada para a
formação integral da personalidade e do caráter humano, e a integração entre escola e
sociedade. Segundo esse pedagogo, os investimentos em educação retornariam para a
sociedade na forma de crescimento econômico.
O Projeto Piloto de Erradicação do Analfabetismo do Ministério de Educação e
Cultura foi resultado da influência de Anísio e de outros intelectuais a ele ligados.
Teixeira esteve à frente da Secretaria de Educação e Saúde da Bahia, de 1947 a 1951, e
organizou o projeto de construção do Centro Educacional Carneiro Ribeiro, a Escola
Parque, inaugurada em 1950.
Teixeira criticava o sistema de ensino tradicional devido a pouca relação com a
realidade vivenciada pelas crianças. A nova escola daria oportunidade para que os
alunos desenvolvessem condições para atuar na sociedade melhorando as suas
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condições de vida e da própria família. Para isso, seria necessário possibilitar atividades
de vida prática, sendo fundamental a análise das atividades econômicas realizadas, na
região em que se inseria a escola, de forma a instrumentalizar os alunos para que
pudessem desenvolvê-las com mais preparo e eficiência, de maneira tal que pudessem
participar, com eficiência, no mercado de trabalho. Essa escola poderia preparar os seus
alunos para uma vida melhor a partir da aquisição de novas técnicas que levariam ao
desenvolvimento da comunidade e, consequentemente, do país.
Teixeira defendia, com seu projeto da Escola Parque, a formação de cidadãos
capazes de contribuir para o progresso do Brasil tanto economicamente como ao
aprofundamento da cidadania.
O avanço na educação brasileira fazia parte do Plano de Metas de JK. Com
grande influência de Teixeira, foi criado, pelo MEC, em 1957, o Projeto Piloto de
Erradicação do Analfabetismo. Por decisão de JK todas as regiões do Brasil deveriam
receber núcleos do projeto do qual fazia parte a construção da Escola Parque. Os
municípios escolhidos foram: Região Norte: Santarém (Pará), Região Nordeste: Feira de
Santana (Bahia) e Timbaúba (Pernambuco). Região Centro Oeste: Catalão (Goiás),
Região Sul: Júlio de Castilhos (Rio Grande do Sul) e Região Sudeste: Leopoldina,
Minas Gerais. (MOREIRA,1960)
JK apresentou um Plano de Metas para seu governo, dando início a um novo
paradigma de política econômica: o desenvolvimentismo. Segundo Gomes (2002), essa
política desenvolvimentista exigia planejamento a partir de definição de metas:
fiel ao seu mote de campanha, de 50 anos (de progresso) em cinco, Juscelino
Kubitschek, logo após sua posse, instituiu, pelo Decreto nº 38.744, de 12 de
fevereiro de 1956, o Conselho do Desenvolvimento diretamente subordinado
à Presidência da República, que se constituiu no primeiro órgão central de
planejamento de caráter permanente no Brasil.1
1
GOMES, Angela de Castro. O Brasil de JK. Rio de Janeiro:FGV,2002, p.81
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QUESTÕES:
Uma questão que se pretende responder com esta pesquisa refere-se à influência
política na escolha de Leopoldina, situada na Zona da Mata Mineira, para a implantação
da Escola Parque Primário Complementar.
Outra questão diz respeito aos motivos que provocaram o fechamento dessa
escola e o impacto dessa situação na memória dos leopoldinenses ligados à Instituição
de Ensino ou aos contemporâneos dessas pessoas.
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teria sido facilitada, também, porque o Prefeito era irmão do Ministro Clóvis Salgado, o
que poderia obter a união de todos em torno do projeto, inclusive a união política.
O Brasil, na ocasião da inauguração da Escola Parque, no município de Leopoldina,
estava sob a presidência de Juscelino Kubitschek de Oliveira.
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Várias cidades próximas do Rio de Janeiro foram indicadas para que pudessem
realizar os projetos do Ministério da Educação e Cultura. As cidades indicadas teriam
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A ESCOLA
A Escola Parque Primário Complementar, inaugurada em 1960, esteve vinculada
ao Ministério da Educação e Cultura, através de órgãos do Departamento Nacional da
Educação, como a extinta Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo –
CNEA – de 1960 a 1962, ou mesmo, diretamente ao próprio Departamento, de 1963 até
a data da extinção do mesmo, em 1970.
A atividade essencial do Parque Primário Complementar, na época de sua
criação, era “anular o hiato nocivo que surge na vida da criança, após a conclusão do
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curso primário, por não ter condições de ingressar, imediatamente, na escola de grau
médio.”2
Segundo documento do arquivo da Prefeitura Municipal de Leopoldina, assinado por
Isaltina Rennè Guedes, ex-Diretora da escola, aquele estabelecimento de ensino
funcionava em regime de hora-aula, em dois turnos, incluindo horário para almoço e
recreio. As disciplinas apresentam-se em cinco Áreas: Cultura Geral, Atividades
Industriais, Atividades Socializantes, Cultura Física e Educação Extraescolar.
A Área de Cultura Geral inclui as seguintes disciplinas: Português, Matemática, Estudos
Sociais, Ciências Naturais, Geografia do Brasil, História do Brasil, Inglês, Moral e
Cívica, Desenho, Canto orfeônico e Religião.
As Atividades Industriais, sob a forma de oficinas, encontram-se relacionadas às
disciplinas: Cerâmica, Encadernação, Mecânica, Latearia-metal, Sapataria, Eletricidade,
Marcenaria, Radiotécnica, Corte e costura, Pintura e Bordado. O Clube recreativo,
Clube Cívico-Literário, Jornal Mural e Jornal Mimeografado encontravam-se
relacionados à Área de Atividades Socializantes. A Educação Física relaciona-se à
Área de Cultura Física, ficando o escotismo ligado à Área de Educação Extraescolar.
O Parque Primário Complementar, de acordo com os arquivos da Prefeitura
Municipal de Leopoldina, iniciou suas atividades com 130 (cento e trinta) alunos. Em
1971, quando deixa de ser relacionado ao balanço dos Bens Patrimoniais do
Departamento Nacional de Educação, atendia a 192 (cento e noventa e dois) alunos.
Esse estabelecimento de ensino teve como entidades mantenedoras: de 1960 a 1962, a
Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo; em 1963, o Programa de
Emergência; em 1964, o Plano Trienal de Educação; em 1965, O Departamento
Nacional de Educação e o Plano Nacional de Educação; em 1966 e 1967, o
Departamento Nacional de Educação; em 1968, o Departamento Nacional de Educação
e o Plano Nacional de Educação; em 1969, o Plano Nacional de Educação; em 1970,
funcionou sem que fosse concedido auxílio algum, com a suspensão do fornecimento de
almoço e as oficinas mantidas com o produto do seu trabalho. Em 1971, funcionou nos
moldes de 1970, sem recursos financeiros enviados pelo Ministério da Educação e
Cultura.
2
GUEDES, Isaltina Rennè. Arquivo da Prefeitura Municipal de Leopoldina, s/d, documento datilografado.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através do registro da história da Escola Parque Primário Complementar de
Leopoldina pode-se analisar parte da história política de Leopoldina.
A influência das lideranças locais na interação com o governo federal pode ter
sido elemento fundamental para a instalação desse projeto piloto para o interior de
Minas Gerais.
Por meio de análise de documentos e da imprensa pode-se inferir a respeito das
razões do fechamento dessa escola, no período em que o Brasil encontrava-se sob o
regime da ditadura militar e que, nas entrevistas, é citado com um fator que teria
influenciado o encerramento das atividades da Escola Parque em Leopoldina.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BENJAMIN, Walter. Paris do Segundo Império. In: Charles Baudelaire – um lírico no
auge de capitalismo. Obras escolhidas III. São Paulo: Editora Brasiliense, 1994, p. 9-
102.
BERMAN, Marshall. Parte II e III. Tudo é sólido desmancha no ar: a aventura da
modernidade. São Paulo: Companhia das Letras, 1986, p. 109-203, 420-433 (notas)
BOJUNGA, Claudio. JK..- O Artista do Impossível. Rio de Janeiro: objetiva, 2001.
BOURDIEU, Pierre. Campo Intelectual e projeto criador. In: Problemas do
estruturalismo. Rio de Janeiro, Zahar, 1968, p. 105-145.
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