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GOVERNO DO ESTADO DE RORAIMA

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO E DESPORTO


CENTRO ESTADUAL DE FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO DE
RORAIMA – CEFORR

MAGISTÉRIO INDÍGENA TAMARAI PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES


INDÍGENAS DOS ANOS INICIAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA

COMPONENTE CURRICULAR:

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO CONTEXTO DA


EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA

Prof.º Me. Abraão J Pereira

Boa Vista – RR
2023
HISTÓRIA DA EJA NO BRASIL
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) se faz notável no Brasil desde a época de sua
colonização com os Jesuítas que se dedicavam a alfabetizar (catequizar) tanto crianças
indígenas como índios adultos em uma intensa ação cultural e educacional, a fim de propagar
a fé católica juntamente com o trabalho educativo. Entretanto, com a chegada da família real e
consequente expulsão dos Jesuítas no século XVIII, a educação de adultos entra em falência,
pois a responsabilidade pela educação acaba ficando às margens do império (STRELHOW,
2010).
Somente a partir da década de 1930 é que a educação de jovens e adultos efetivamente começa
a se destacar no cenário educacional do país, quando em 1934, o governo cria o Plano Nacional
de Educação que estabeleceu como dever do Estado o ensino primário integral, gratuito, de
frequência obrigatória e extensiva para adultos como direito constitucional (FRIEDRICH et.al,
2010).
Em 1.945 surgiram muitas críticas aos adultos analfabetos. Entretanto a luta com garra e
dedicação por uma educação de qualidade para todos, fez com que a educação de adultos
ganhasse destaque na sociedade. A partir daí, a educação de adultos assumida através da
campanha nacional do povo começou a mostrar seu valor. Através da campanha de Educação
de Adultos, lançada em 1947, abre-se a discussão sobre o analfabetismo e a educação de adultos
no Brasil (COLAVITTO e ARRUDA, 2014).
Nesta época cria-se o Serviço Nacional da Educação de Adultos (SNEA) voltado ao ensino
Supletivo; surge a 1ª Campanha Nacional de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA), no
intuito de reduzir o analfabetismo das nações em desenvolvimento; o 1º Congresso Nacional
de Educação de Adultos e, posteriormente, em 1949, o Seminário Interamericano de Educação
de Adultos. Nos anos 50 é realizada a Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo
(CNEA) e na década de 1960 o Movimento da Educação de Base (MEB) (VIEIRA, 2004).
Logo após, em 1967, o governo militar cria o Movimento Brasileiro de Alfabetização
(MOBRAL), com o intuito de alfabetizar funcionalmente e promover uma educação
continuada (STRELHOW, 2010). Na década de 70 destaca-se no país o ensino supletivo, criado
em 1971 pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (nº. 5.692/71) (BRASIL, 1971).
Nos anos 80 foi possível implantar a Fundação Nacional para Educação de Jovens e Adultos
(Fundação Educar), vinculada ao Ministério da Educação, que ofertava apoio técnico e
financeiro às iniciativas de alfabetização existentes (VIEIRA, 2004).
Somente em 1996, surge a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) (nº.
9.394/96), que reafirma o direito dos jovens e adultos trabalhadores ao ensino básico e ao dever
público sua oferta gratuita, estabelecendo responsabilidades aos entes federados através da
identificação e mobilização da demanda, com garantia ao acesso e permanência (BRASIL,
1996).
Em 2003 o Governo Federal criou a Secretaria Extraordinária de Erradicação do
Analfabetismo, lançando então o Programa Brasil Alfabetizado, nele incluídos o Projeto Escola
de Fábrica (voltado para cursos de formação profissional), o PROJOVEM (com enfoque central
na qualificação para o trabalho unindo a implementação de ações comunitárias) e o Programa
de Integração da Educação Profissional ao Ensino Médio para Jovens e Adultos (PROEJA)
(VIEIRA, 2004).
Já em 2007 o Ministério da Educação (MEC) aprova a criação do Fundo de Desenvolvimento
da Educação Básica (FUNDEB), passando, todas as modalidades de ensino, a fazer parte dos
recursos financeiros destinados à educação (BRASIL, 2007).
No cenário atual, a sociedade vê a juventude e o adulto analfabeto como sinônimo de problema
e motivo de preocupação. A educação de jovens e adultos (EJA) no Brasil é marcada pela
descontinuidade e por tênues políticas públicas, insuficientes para dar conta da demanda
potencial e do cumprimento do direito, nos termos estabelecidos pela Constituição Federal de
1988. Essas políticas são, muitas vezes, resultantes de iniciativas individuais ou de grupos
isolados, especialmente no âmbito da alfabetização, que se somam às iniciativas do Estado
(BRASIL, 1996).
O adulto analfabeto defronta-se com a sociedade letrada e necessita de, no mínimo, saber
enfrentar a tecnologia da comunicação para que, como cidadão, saiba lutar por seus direitos,
pois ao contrário, torna-se vitima de um sistema excludente e pensado para poucos
(FRIEDRICH et.al, 2010). Até então, o que se viu foi a criação de programas, a curto prazo,
que não garantem que os alunos deem continuidade aos estudos.

HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO EM RORAIMA


A Educação em Roraima teve seu início entre com o povo indígena. Inicialmente com o
missionário evangélico Thomas Yound por meio do cristianismo, mas ele foi expulso do
território pelos indígenas. Entre 1943 e 1964, o território Federal do Rio Branco foi governado
por quinze governadores; a segunda fase é marcada pelo grande crescimento populacional deste
período. Em 1943, o Território possuía uma população de 19.709 mil habitantes, sendo que os
indígenas representavam 70% da população.
A segunda fase insere-se no período dos governos dos militares, de 1964 até 1985, agora como
Território Federal de Roraima, pois em 13 de setembro de 1962, o nome do Território Federal
do Rio Branco foi substituído por Território Federal de Roraima, compondo o “espaço de
segurança nacional” dentro da geopolítica dos militares. Toda esta doutrina tinha sentido no
“calor” da Guerra Fria (Feitoza, 2008). Foi nesse período que os governadores (todos eles
oficias de alta patente da Aeronáutica até 1983) ficaram mais tempo no comando político em
relação à primeira fase histórica do Território do Rio Branco.
A terceira e última fase, envolve o período de 1985, com a presença de vários governadores
civis até 1991, com a posse do primeiro governado eleito Ottomar de Sousa Pinto, que
inauguraria a atual fase de mais um estado da federação nacional (pela constituição de 1988, o
estado foi criado, mas que só se tornaria um Estado de fato com a posse do governador eleito
pelo voto popular).

HISTÓRIA DA EJA EM RORAIMA


O governador Ene Garcez, após fazer o levantamento das necessidades básicas do recém-criado
Território, adotou várias medidas após sua posse com o objetivo de desenvolver a região, além
da infraestrutura necessária ao funcionamento da estrutura administrativa, fomento à pecuária
e agricultura, a segurança pública, a saúde e a necessidade do “ensino profissional” (Santos,
2000, p.59). Isto já demonstrava preocupação com a prioridade na ação educativa. Ainda
segundo Santos (2000), o projeto de desenvolvimento econômico e social do Território, além
da infraestrutura, exigiu-se a contribuição na “execução de um plano educacional” capaz de
possibilitar a viabilidade dos projetos.
Em 1947, após apenas três anos de criação, o território Federal do Rio Branco tinha 16 escolas.
Segundo Macêdo (2010), entre essas escolas existentes funcionavam “as escolas supletivas
noturnas”. E para mostrar que educação de qualidade, implica na qualificação dos docentes, o
segundo governador Clóvis Nova da Costa, no ano de 1947 envia duas professoras normalistas
para que “fizessem um curso de aperfeiçoamento, sob a orientação do INEP” (Macêdo, 2010,
p.243).
Estado de Roraima, a (EJA) surgiu na década de 1940 no governo de Ene Garcez, após fazer o
levantamento das necessidades básicas do recém-criado Território. Dentre as várias medidas
após sua posse, com vistas no desenvolvimento da região, fomentou-se a necessidade do ensino
profissional (Santos, 2000). Isto já demonstrava preocupação com a prioridade na ação
educativa.
O primeiro curso que funcionou voltado para a Educação de Jovens e Adultos, teve início em
1948, no prédio da Escola Lobo D'Almada, com o nome de Escola Supletiva Noturna. Atendia
a alunos de 1ª a 4ª série do Curso Primário, como era denominado. Funcionava com aulas
presenciais e tinha a mesma estrutura das séries do Ensino Regular. Seu objetivo era preparar
os alunos para um exame anual por série. A partir de 1951, passou a chamar-se "Curso
Lourenço Filho" e funcionou no mesmo prédio da Escola Lobo D'Almada, até 1972. O Com o
advento da Lei 5692/71 (Lei de Diretrizes e Bases), o sistema supletivo de O ensino foi
implantado
Embora, com o passar dos anos, tenham sido implementadas ações e programas destinados à
Educação Básica em Roraima particularmente criados para o combate ao analfabetismo no
Estado foram precipitados, isso porque s isso porque se elaborava vários projetos e muitas
vezes, não havia tempo necessário para surtirem efeitos e consequentemente eram derruídos
ou trocados por novos projetos em todo país, em forma de cursos e exames, atendendo a um O
contingente cada vez maior de adultos, a cada ano.
O primeiro curso voltado para a clientela analfabeta foi o Movimento Brasileiro de
Alfabetização MOBRAL, que é quando a Educação de Jovens e Adultos em Roraima ganha
uma nova configuração a partir de 1972, é neste ano que começam os exames de suplência
geral. Enquanto o MOBRAL agia na alfabetização das pessoas que nunca haviam frequentado
uma sala de aula, os exames de suplência geral procuravam acelerar o processo de
escolarização das pessoas.
A educação de jovens e adultos começa a viver uma crise existencial com a falência do
MOBRAL na metade da década de 80, que é substituído pela Fundação Educar na década de
90. Nesse período, os dois programas estavam na coordenação do Governo Federal. Diante do
vácuo de ação educativa voltada para os jovens e adultos, cada estado e os municípios
implantaram os projetos mais variados sobre a educação voltados para essa modalidade.
A EJA em Roraima é estruturada em 2002, com a proposta de restauração dos cursos da
Educação de Jovens e Adultos, por meio do parecer nº 59/02 do Conselho Estadual de
Educação- CEE/RR. Por esta proposta, as aulas para os alunos dessa modalidade passam a ser
presencial, com avaliação semestral. Para a conclusão de uma série é ofertado uma avaliação
nas escolas estaduais.

EJA NA EDUCAÇÃO INDÍGENA: Desafios


As escolas indígenas que têm a modalidade de ensino Educação de Jovens e Adultos em seus
estabelecimentos são de implantação recente. Assim, os professores que atuam nessa
modalidade têm formação superior e são indígenas, porém não possuem formação específica
para trabalhar na área com a EJA. Por isso, o professor precisa se qualificar para atuar nessa
modalidade.

Um dos principais desafios é superar os altos índices de abandono na escola estudada, depende-
se da colaboração conjunta dos agentes que fazem a educação, sendo eles próprios, a gestão e
os estudantes. Para os estudantes, os motivos que levam a abandonarem a sala de aula são de
diferentes vertentes, como as econômicas (entrada no mercado de trabalho informal), sociais
(problemas familiares) e culturais (desestímulo em estudar). Esses dados motivaram uma
reflexão sobre a EJA nas escolas indígenas, o que precisa ser feito para reduzir os altos índices
de abandono dos educandos que estão voltando à sala de aula após um período fora dela.

É interessante observar que segundo Bento (2015): “esses educandos voltaram a estudar por
razões que são oriundas das dificuldades que o mercado de trabalho impõe, em especial o
nível de estudo que exige e pelo fato de concluir os estudos na educação básica e,
consequentemente, almejar cursar o nível superior. Entretanto, para que isso aconteça, é
preciso que todos contribuam com o crescimento dessa modalidade nas escolas indígenas, de
maneira que alcance aqueles que querem voltar a estudar e que proporcione espaços
apropriados para a finalização dos seus estudos àqueles que retornarem.”

REFERÊNCIAS
BENTO, Eullir da Silva. Abandono escolar no contexto da educação de jovens e adultos (EJA)
de uma escola indígena: compreensões e desafios. Disponível em <
https://rbeducacaobasica.com.br/abandonoescolar-no-contexto-da-educacao-de-jovens-e-
adultos-eja-de-uma-escola-indigena-compreensoes-e-desafios/>.
BRASIL. Lei nº. 5.692, de 11 de agosto de 1971. Fixa Diretrizes e Bases para o ensino de 1° e
2º graus, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 12 ago. 1971.
BRASIL. Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 20 dez. 1996.
BRASIL. Lei nº. 11.494, de 20 de junho de 2007. Regulamenta o Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação –
FUNDEB.
COLAVITTO, N.B e ARRUDA, A.L.M.M. Educação de Jovens e Adultos (eja): A
Importância da Alfabetização. Revista Eletrônica Saberes da Educação – Volume 5 – nº 1 –
2014
FEITOZA, R. S. (2008). Movimentos de Educação de Pessoas Jovens e Adultas na perspectiva
da Educação Popular no Amazonas. Matrizes históricas, marcos conceituais e impactos
políticos. Tese de doutorado 380 p. João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba.
FREITAS, A.S. (1993). A história Política e administrativa de Roraima de 1943 a 1985. 1ª ed.
Manaus: Calderado. Franco, V. (2013). Educação de Jovens e Adultos: uma análise das
expectativas dos alunos finalistas da escola Monteiro Lobato em Roraima no ano de 2012,
quanto à continuidade dos estudos na educação superior. Dissertação de Mestrado 235 p:
Manaus: Universidade Federal do Amazonas.
FRIEDRICH et.al. Trajetória da escolarização de jovens e adultos no Brasil: de plataformas de
governo a propostas pedagógicas esvaziadas. Ensaio: avaliação das políticas públicas
educacionais. Rio de Janeiro, v. 18, n. 67, p. 389-410, abr./jun. 2010.
RORAIMA-SECAD. (2010). Proposta da Rede Pública Estadual Para a Educação de Jovens e
Adultos. Boa Vista: Secretaria Estadual de Educação e Cultura.
SANTOS, H.E.A. (2000). Fatores de crescimento de Roraima, 1970/1998. Dissertação de
mestrado 197 p. Porto Alegre: Universidade Federal de Rio Grande do Sul. Santos, N.P.D.
(2004). Políticas Públicas, economia e poder: o Estado de Roraima entre 1970 e 2000. Tese de
doutorado 356 p. Belém: Universidade Federal do Pará
STRELHOW, T. B. Breve história sobre a educação de jovens e adultos no Brasil. revista
HISTEDBR On-line, Campinas, n.38, p. 49-59, jun.2010.
VIEIRA, M.C. Fundamentos históricos, políticos e sociais da educação de jovens e adultos –
Volume I: aspectos históricos da educação de jovens e adultos no Brasil. Universidade de
Brasília, Brasília, 2004.
.

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