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Resumo
O presente artigo analisa a educação brasileira entre 1980 e 1990. Este período de dez anos,
marcado com o fim da ditadura militar e o início da Nova República, caracterizou-se por
diversas mobilizações em vários setores da sociedade brasileira, dentre elas, a área da
educação. O objetivo do artigo é compreender como se formulou uma nova constituição com
mais direitos na educação que até então não eram tratados pelas leis do Brasil. Analisando a
Carta de Goiânia, publicada após a IV Conferência Brasileira de Educação, e a Constituição
Federal de 1988, foi identificado a grande influência da Carta de Goiânia na Constituição. A
mesma Carta ainda permite compreender o esforço dos educadores em mudar o cenário
político acerca da educação, buscando um ensino democrático, gratuito e laico. A Carta de
Goiânia, além de propor diversas reformas na educação, apresenta um esboço da IV CBE,
apresentando como estavam pensando um grande número de educadores e pesquisadores para
a formulação da Nova Constituição. Estes educadores já estavam aspirando reformas no setor
educacional há algum tempo, se organizando em associações de pesquisas na área de
educação, organizações estas que tiveram grande influência na oportunidade de realização das
CBEs. É concluso que a organização e articulação dos educadores de todo o país foi a
essencial para garantir a educação democrática e de qualidade para a nação, uma vez que
foram estes educadores que discutiram durante anos as melhores formas de educação,
possibilitando a publicação de uma Carta com pontos primordiais para a Constituição Federal
do país.
1
Professora do Curso de Pedagogia e Licenciaturas da PUCPR.
2
Discente do Curso de Graduação Licenciatura em História da PUCPR e Bolsista da Fundação Araucária do
Programa Institucional de Iniciação Científica da PUCPR.
ISSN 2176-1396
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Introdução
O cenário político durante a década de 1980 era de uma transição democrática, porém
sem grandes mudanças na sua essência, como afirma Brzezinsk (2013). Em âmbito
econômico, a dívida interna e externa aumenta, enquanto o poder do governo militar perde
forças, haja vista que os governos estaduais começam a receber voto direto.
A década de 1980 assinalou um momento de mobilização dos educadores, já com a
existência da ANDE (Associação Nacional de Educação), ANPED (Associação Nacional de
Pós-Graduação e Pesquisa em Educação), e a CEDES (Centro de Estudos Educação
Sociedade).
De acordo com Brzezinsk (2013), os anos 1980 marcam, em sua primeira metade, uma
educação tecnocrata-militar e as práticas baseadas na teoria do capital humano e na pedagogia
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A carta nos revela a precariedade no ensino brasileiro, destacando alguns dados que
representam tais problemas:
O terceiro princípio apontado pela Carta diz respeito ao ensino fundamental, “o ensino
fundamental, com 08 anos de duração, é obrigatório para todos os brasileiros, sendo permitida
a matrícula a partir do 06 anos de idade” (CARTA DE GOIÂNIA, 1986, p. 1242). O inciso I
do artigo 208 da constituição garante o direito ao ensino fundamental, “ensino fundamental,
obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiverem acesso à idade própria”
(BRASIL, 1988, p. 35).
Mais adiante na Carta de Goiânia, é apresentada a obrigação de o estado oferecer
vagas em creches para as crianças de zero a seis anos de idade, no qual aparece no artigo 208,
inciso IV: “Atendimento em creches e pré-escolas para crianças de zero a seis anos de idade”
(BRASIL, 1988, p. 35). No mesmo artigo da constituição, porém no inciso III assegura outra
abordagem prescrita pela Carta de Goiânia, que se refere ao ensino para os deficientes físicos.
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Já o sétimo tema da carta condiz ao ensino público para os jovens e adultos que não
tiveram acesso na idade apropriada, o qual é a abordagem feita no inciso I do artigo 208 da
Constituição. O mesmo artigo constitucional ainda aborda outros preceitos da Carta de
Goiânia, contido nos incisos II e VII, que tratam, respectivamente, do ensino médio com
duração de 03 anos e merenda escolar, bem como todo auxílio escolar. As duas medidas estão
também apresentadas na Carta de Goiânia.
Ainda podemos observar o artigo 210 da Constituição, que garante a língua portuguesa
como oficial no ensino, exceto em comunidades indígenas, no qual é o décimo ponto da
Carta.
O décimo oitavo ponto da Carta diz respeito às instituições privadas de ensino, que a
Constituição irá tratar em seu artigo 209: “o ensino é livre à iniciativa privada” (BRASIL,
1988, p. 35).
O artigo 211 da Constituição Federal de 1988, do qual trata sobre as verbas para a
educação foi um princípio exposto no décimo quarto ponto da Carta de Goiânia: “A lei
ordinária regulamentará a responsabilidade dos Estados e Municípios na administração de
seus sistemas de ensino e a participação da união para assegurar um padrão básico comum de
qualidade dos estabelecimentos educacionais” (CARTA DE GOIÂNIA, 1986, p. 1243).
É possível reconhecer o efeito que a IV Conferência Brasileira de Educação,
publicando a Carta de Goiânia, teve na Nova Constituição. Em termos de democratização da
escola pública a Carta cita setores que antes não estavam na pauta educacional, como a
educação infantil, a educação dos povos indígenas e a educação de jovens e adultos.
O final da década de 1980 então é marcado pelo novo olhar para a educação, já
pensando em como esta será abordada na Constituição que estaria por vir, e esta deve ser feita
com novos parâmetros, com os princípios de democracia e direitos sociais. Os educadores
visavam cada vez mais que estes direitos fossem garantidos na Constituição.
Considerações Finais
REFERÊNCIAS
GOHN, Maria da Glória Marcondes. Movimentos sociais e educação. São Paulo: Cortez,
1994.