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CORSÁRIOS E SEREIAS

O Desenvolvimento de
um Livro Ilustrado Infantil

Laila Alves
Universidade Federal do Rio Grande Do Norte
Centro de Ciência Humanas, Letras e Artes
Departamento de Artes
Graduação em Design

Laila Lorena Pinto Alves

CORSÁRIOS E SEREIAS
O desenvolvimento de um livro ilustrado infantil

Natal | RN
Junho| 2017
Laila Lorena Pinto Alves

CORSÁRIOS E SEREIAS
O desenvolvimento de um livro ilustrado infantil

Projeto apresentado ao curso de


graduação em Design da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte como
requisito parcial para a obtenção do grau
de bacharel em Design, sob orientação
da Prof.ª Dr.ª Elizabeth Romani.

Natal | RN
Junho| 2017
FICHA CATALOGRÁFICA
AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer a todos que me auxiliaram e


serviram de apoio ao longo dessa jornada. Aos meus pais,
grandes incentivadores, que estão ao meu lado em todos
os momentos. Minha mãe Ieda, minha motorista particular
e anjo da guarda e ao meu pai Canindé, de quem herdei
o gosto pelo desenho e pelas artes. À minha tia Lêda pelas
correções feitas entre visitas das minhas sobrinhas. À Biny
por sempre oferecer sabedoria nas questões acadêmicas
e às minhas amigas Marilia e Becky, pelas tardes relaxantes
entre nossas ocupações loucas. À Amanda pelo belo trabalho
que fortaleceu a minha própria visão. Ao Marcelo pelo
carinho e companhia constantes a cada passo desse trabalho.
Também agradeço professora Helena por sua paciência
e ajuda com a escrita desse trabalho, à professora Ivana,
pela inspiração editorial e a professora Beth, por elevar esse
trabalho para bem mais do que seria se eu estivesse fazendo-o
sozinha. Obrigada a todos e também aos que virão a ler esse
projeto. Espero que ele sirva bem o seu propósito.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 51

1 MÉTODOS E MATERIAIS 7 REFERÊNCIAS 52


1.1 Revisão bibliográfica 7 ANEXO A – TABELA DE ANÁLISE DE LIVROS 54
1.2 Pesquisa visual e análise de livros publicados 7
1.3 Desenvolvimento do livro ilustrado 8 APÊNDICES 56
Apêndice A 56
2 LITERATURA INFANTIL 9 Apêndice B 56
2.1 O que é literatura infantil? 9 Apêndice C 57
2.2 Primórdios da literatura infantil 11
2.3 A produção brasileira de livros infantis 13

3 OS LIVROS ILUSTRADOS 15
3.1 O que é um livro ilustrado? 15
3.2 Contexto histórico do livro ilustrado 18

4 CONSIDERAÇÕES ACERCA DO LEITOR 19


4.1 A criança e o livro 19
4.2 Público-alvo: leitor em processo 20

5 DESIGN GRÁFICO NO CONTEXTO


DO LIVRO ILUSTRADO 22
5.1 Formato e suporte 22
5.2 Ritmo 25
5.3 Ilustração 27
5.4 Tipografia 31
5.5 Capa 32
5.6 Produção gráfica 33
5.7 Análise de obras publicadas 34

6 CRIAÇÃO DO LIVRO ILUSTRADO INFANTIL 36


6.1 Metodologia aplicada ao livro ilustrado 36
6.2 Tema para a narrativa do livro ilustrado 36
6.3 Criação do roteiro 37
6.4 Processo de desenvolvimento das ilustrações 40
INTRODUÇÃO

Este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) tem como 1. Webcomics são quadrinhos
objetivo desenvolver um projeto editorial de um livro que tem como suporte páginas de
ilustrado infantil. O propósito autoral deste projeto foi internet. Podem ser definidas por
escolhido para que haja autonomia na escrita e na produção imagens, animações, músicas e
das imagens, fundamental para construção do livro ilustrado, podem ou não ter interatividade.
em que a relação texto-imagem trabalham juntas. A ideia
original era desenvolver uma webcomic 1 para um público 2. Graphic Novel se refere a artes
adolescente. No entanto, houve a mudança do objeto de sequenciais com narrativas fechadas
investigação de quadrinhos para o livro ilustrado e do leitor e longas lançadas em livros. O
adolescente para a criança. Com isso, a história mudou e foi termo foi criado na década de 1980
necessário compreender melhor os aspectos sobre o leitor para diferenciar trabalhos mais
infantil. Tal mudança permitiu envolver áreas de design que sérios e densos dos quadrinhos
oferecem uma maior liberdade criativa, tanto em relação às tradicionais da época.
ilustrações quanto para a história.

O objeto de estudo é o livro ilustrado infantil. Esse gênero


literário apresenta maiores oportunidades de experimentação
gráfica, já que o projeto gráfico dele pode ser mais curto do
que um projeto para uma graphic novel 2 ou um livro para
outras faixas etárias. Além do interesse em ilustração, o livro
infantil é um meio para capacitação de trabalhos futuros na
área e especialização neste campo. Esse projeto é importante
por abranger áreas de design editorial e da literatura, que
podem servir de base para outros trabalhos similares, seja
pela metodologia empregada ou pelas referências teóricas.
Lins (2004) ressalta que o design editorial para crianças ainda
carece de estudos, que levantem aspectos técnicos e formais.

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O leitor infantil, especialmente o leitor em processo, foi A primeira parte descreve a metodologia empregada na
escolhido como público-alvo em razão da maturidade para pesquisa. A segunda destina-se à compreensão sobre literatura
interpretação dessas histórias. É nesta faixa etária que se infantil e suas especificidades, com a finalidade de entender
constrói a representação de valores, ressaltando o papel do o contexto histórico e os avanços diante das transformações
autor como formador de opinião. Além da compreensão sociais e tecnológicas. A terceira parte dedicou-se a entender
deste tipo de leitor, o projeto foi desenvolvido levando em o livro ilustrado e suas particularidades. Na quarta parte
consideração o estado-da-arte do livro ilustrado e o contexto construiu-se uma análise sobre o público infantil a quem
histórico da literatura infantil brasileira. se destina o projeto, criando um recorte com alguns
pesquisadores brasileiros na área da Literatura Infantil
Livros ilustrados, ou picturebooks, são livros nos quais comparada, especialmente, as autoras Lajolo e Zilbeman
as ilustrações e textos têm a mesma relevância e são um (2007). Já na quinta parte procurou-se levantar dados sobre o
marco na literatura infantil. Impressos desde o século XVIII design gráfico no contexto do livro ilustrado, para aprofundar
envolvem a comunicação entre a linguagem verbal e não- a pesquisa de materiais e tecnologia. Por último, na sexta
verbal no livro para criar sua narrativa. Estudiosos como parte foi feita a produção do roteiro, storyboards, espelhos,
Van der Linden (2011), Nikolajeva e Scott (2011) procuram modelos e ilustrações finais. Para isso, foi continuada a
comprovar a importância e a necessidade desses livros para os pesquisa iniciada no TCCI, nos aspectos que ainda estavam
mais diversos públicos como expressão artística e cultural. pouco claros (por exemplo, como escrever um roteiro) para
qual foram utilizados os autores McKee (2010) e McDonald
Foi preciso fazer um levantamento de várias áreas do (2010). Toda a trajetória prática foi acompanhada de um
conhecimento para melhor compreender o objeto de estudo: breve descritivo por etapas de desenvolvimento, bem como
o livro ilustrado infantil. Por isso, este memorial foi dividido do registro fotográfico. Concluindo com um levantamento
em seis partes: metodologia, literatura infantil, livros de questões sobre que fases foram bem sucedidas e quais
ilustrados, considerações acerca do leitor, design gráfico no tiverem dificuldades de execução.
contexto do livro ilustrado e o registro da criação do livro.

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1 MÉTODOS E MATERIAIS

Este capítulo apresenta o processo metodológico empregado enfoques do gênero fantástico, como é recebido e adaptado,
neste trabalho, sendo construído a partir de três tópicos: quais interpretações são aceitáveis ou não para o público
pesquisa teórica; pesquisa e análise de referências visuais; em questão. Na quarta foi aprofundado o aspecto específico
e o desenvolvimento do livro ilustrado. da área de design gráfico, com a leitura de Lins (2004),
Haslam (2007), Araújo (1986) e Bann (2010), para obtenção
1.1 Revisão bibliográfica das informações técnicas, necessárias para planejar e realizar
Para escrever o conteúdo teórico foi realizado uma revisão um projeto editorial. A quinta e última etapa consistiu da
bibliográfica focando nas obras relevantes no âmbito da pesquisa de alguns elementos de narrativa, por meio dos
literatura infantil e do design editorial que se aplicassem ao autores Eisner (2012) e Mateu-Mestre (2010), trazendo
objeto de estudo. Assim, foi feito um recorte bibliográfico referências específicas sobre narrativa gráfica. A pesquisa
para determinar o estado-da-arte do livro ilustrado, mapeando teórica levantada foi essencial para delimitar as vertentes,
as peculiaridades de produção e alguns célebres autores. que podem ser trabalhadas num livro ilustrado infantil,
A partir deste objetivo, foram realizadas visitas em bibliotecas já que elucidou quem são seus leitores, suas peculiaridades
e livrarias, para encontrar autores nacionais e internacionais e seus modos de produção.
que tratam deste assunto, bem como os livros ilustrados
para crianças. 1.2 Pesquisa visual e análise de livros publicados
Um dos processos recorrentes ao designer é executar um
A pesquisa teórica foi separada em cinco etapas para facilitar levantamento de referências visuais, que podem servir de
a compreensão sobre os aspectos particulares de cada assunto. inspirações. Neste trabalho, a pesquisa visual se concentrou
Na primeira etapa foram pesquisados os autores que tratam em ilustradores e nas técnicas de desenho. A pesquisa foi
do panorama da literatura infantil e as distinções do público realizada em livrarias e em site de ilustradores já conhecidos
infantil, que se faz necessário para compreender melhor os no meio editorial infantil em busca de uma variedade de
leitores e suas necessidades e preferências. Nesse contexto estilos de ilustrações. Foram observados, especialmente,
destacam-se Lajolo e Zilberman (2007), Coelho (1991), os estilos e técnicas de Ziraldo, Manoel Victor Filho (um
Powers (2008), Cademartori (2006) e Meireles (1985). dos ilustradores clássicos da obra de Monteiro Lobato),
Na segunda etapa, foi necessário investigar o contexto Antoine de Saint-Exupéry, Anthony Browne e Beatrix Potter.
dos livros ilustrados, para assim entender como funciona Além disso, houve um prévio levantamento de artista de
o processo de comunicação e a relação entre a forma e webcomics, e foi também estudado algumas ilustradoras
o conteúdo. Com este objetivo foram selecionadas as autoras independentes, Petra Norlund, criadora de Prague Race,
Van der Linden (2011), Scott e Nikolajeva (2011), Gíron Gigi DG, idealizadora do Cucumber Quest e Hannah Ayoubi,
(2016) e Prades (2016). Na terceira etapa foi explorado animadora que criou Monsters Abroad.
o aspecto teórico acerca da construção dos contos de fadas,
sendo incorporados os textos de Chartier e Priore (1996),
Tatar (2002) e Coelho (1991), a fim de compreender os
9
fig.1
Estrutura da metodologia Os critérios de seleção para análise de livros publicados
foram: tema, narrativa e estilo gráfico. Neles foram
observados os formatos, dimensões, técnicas de ilustração,
encadernação, capa e acabamentos. Ademais, foi elaborado
um quadro com fotos e informações técnicas das 30 obras
pesquisadas (ANEXO A), das quais três obras foram
selecionadas para a análise e seus dados foram sintetizados
em uma tabela. As obras selecionadas foram Orie, A Pior
Princesa do Mundo e Selvagem, tais títulos mereceram
destaque, em razão das protagonistas e de suas diferentes
abordagens às situações, ressaltando a representação feminina
no meio literário infantil.

1.3 Desenvolvimento do livro ilustrado


Após o estudo sobre o conteúdo e adequação ao público-
alvo, foi necessário decidir, mesmo que parcialmente, quais
são as etapas para a criação do livro. Com isso, foi escolhida
a metodologia de Munari (1981) com as devidas adaptações.
(fig.1) Essa metodologia foi aplicada e o detalhamento
se encontra na seção 6.1 sobre a criação do livro.

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2 LITERATURA INFANTIL

Este capítulo dedica-se a elucidar o tema em que se baseia a Já Zilberman (1990) diferencia o livro infantil da literatura
parte mais ampla do trabalho e procura definir o assunto geral por sua origem no século XVIII, após a primeira
por meio de leituras específicas na área da literatura. Revolução Industrial, quando houve o desenvolvimento das
Dessa forma, é possível distinguir quais são as tipificações primeiras prensas automáticas. A autora também esclarece
existentes do livro infantil, conceitos necessários para que a divergência pela dualidade existente entre o escapismo
entender os pormenores desse meio, compreendendo quais lúdico dos textos e a necessidade de educar a criança
caminhos se pode seguir ao projetar um livro voltado para em algum aspecto (seja na alfabetização ou para o incentivo
cada uma das categorias. à leitura).

2.1 O que é literatura infantil? Meireles (1985) acredita que a literatura existe de forma
A literatura infantil é, como indica o nome, a criação de texto singular e serve para que pessoas exponham suas histórias de
voltados para crianças. Coelho (1991, p. 8) define literatura forma oral ou escrita. Dessa maneira, ela afirma que os livros
geral, em contraste à literatura infantil, como: serem, ou não, apropriados para crianças devem ser julgados
por elas.
1. […] um fenômeno de linguagem plasmado
por uma experiência vital/cultural direta São as crianças, na verdade, que o delimitam
ou indiretamente ligada a determinado com a sua preferência. Costuma-se classificar
contexto social. como Literatura Infantil o que para elas se
escreve. Seria mais acertado, talvez, assim
2. […] arte e, como tal, as relações de classificar o que elas lêem com utilidade e
aprendizagem e vivência, que se estabelecem prazer. Não haveria, pois, uma Literatura
entre ela e o indivíduo, são fundamentais Infantil a priori, mas a posteriori.
para que esta alcance sua formação integral (MEIRELES, 1985, p. 20)
(eu + outro + mundo em harmonia dinâmica).

Além disso, ainda segundo a autora, mais do que a


necessidade de alfabetização, a leitura é uma atividade que
permite ao indivíduo a participação na criação da sua cultura
e da sociedade, dessa forma, deve criar, alertar ou transformar
a consciência crítica da criança. Assim, a literatura infantil
serve como agente de formação e expõe o leitor a momentos
espontâneos com o livro, ou momentos de diálogo entre texto
e leitor durante o estudo.

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fig. 2 A autora ainda defende que não é possível definir livros O quarto tipo é o livro escrito para a infância, ou seja,
Capa de Robison Crusoé de Daniel infantis de forma clara, pois não existe um tema ou gênero para crianças em geral, que surgiram preenchendo lacunas
Defoe, ilustrada por Frank Godwin específico para crianças e nem é meramente simplificar, em relação à moralidade, à instrução e à recreação. Desses
em 1925. O livro é um exemplo facilitar ou podar a história para o acesso delas que os livros, houve os que foram amados, os que fizeram sucesso e
que foi c lamado pelas crianças, e torna livros infantis. Segundo a autora, antigamente as foram esquecidos com o tempo e os que foram descoberto e
com isso passou a ser parte de suas narrativas infantis eram de acesso geral (fig. 2), então reclamados depois de anos de serem escritos. A autora crê
leituras e bibliotecas. estavam incorporadas a contos populares, folclore e contos- que a literatura infantil memorável “tem uma essência capaz
de-fadas. Só depois é que seriam separadas em sua própria de satisfazer a inquietação humana” (MEIRELES, 1985,
categoria. Ela comenta que quatro tipos de livros podem ser p.117). Por fim, a autora ainda declara que as leituras feitas
definidos como infantis: durante a infância devem ter qualidade, pois são umas das
mais importantes, visto que marcam as crianças, revelam
[...] O primeiro caso de Literatura Infantil: a seus gostos e preferências, e ainda encantam de tal forma
redação escrita das tradições orais — o que que podem inspirar suas futuras realizações. Ainda nesse
hoje constitui a disciplina do Folclore. Pode ser pensamento, Cademartori (2006, p.8) considera que,
a redação direta, sem acréscimos, reduções ou
ornamentos — e é o caso da coleção de contos A principal questão relativa a literatura
dos irmãos Grimm, ou sofrendo a influência infantil diz respeito ao adjetivo que determina
estilística do autor — como nos casos de o público a quem se destina. A literatura,
Perrault, de Mme. d’Aulnoy, das fábulas e enquanto só substantivo, não predetermina
contos de La Fountaine. o seu público. Supõe-se que esta seja quem
quer que esteja interessado. A literatura
O segundo caso de Literatura Infantil é os com adjetivo, ao contrário, pressupõe
dos livros que, escritos para uma determinada que sua linguagem, seus temas e pontos de
criança, passaram depois a uso geral, como vista objetivam um tipo de destinatário em
aconteceu com as Fábulas de La Fountaine, particular, o que significa que já se sabe,
As aventuras de Telêmaco, de Fébelon, e a priori, o que interessa a esse
outros mais. público específico.

O terceiro caso é o dos livros não escritos Em outras palavras, o livro infantil é determinado a partir
para as crianças, mas que vieram a cair nas da relação de dependência entre a criança e o adulto, e o
suas mãos, e dos quais se fizeram depois último propõe quais informações são adequadas ao primeiro.
adaptações, reduções, visando torná-los mais Ademais, ela comenta como deve haver uma preocupação com
compreensíveis ou adequados ao pequeno o seu conteúdo e definição, porque haverá livros que, apesar
público. (MEIRELES, 1985, p. 88) de serem feitos para consumo da criança, são gratuitos e não
oferecem nada além do “lugar-comum estético e ideológico”
(CADEMARTORI, 2006 p.18). 12
Cada autora citada tem suas diferentes visões. Zilberman Os Contos Da Mamãe Gansa (1697) (fig. 3) dedicado fig.3
(1990) propõe a dualidade da literatura infantil em seus ao delfim francês Louis de Bourbon, filho de Louis XIV. Capa de Contos da Mamãe Gansa
aspectos lúdicos e educativos, já Meireles (1985) reforça Cademartori (2006) declara que o Perrault adaptava os contos
que não há uma definição exata, mas a preferência infantil populares, de precedência oral, para a leitura na corte de
incentiva a classificação, em que a aceitação da criança Louis XIV. Sua intenção não foi criar histórias para a infância,
é pertinente à classificação da obra. Enquanto isso, mas, coincidentemente, sua adaptação servia a esse público.
Cademartori (2006) contribui com a visão que o nome
de “infantil” se refere aos autores que separam o conteúdo, Neste período as crianças eram vistas como adultos em
que pressupõe relevantes às crianças, criando uma curadoria desenvolvimento, desta maneira os contos apresentavam
frente às informações. A abordagem de Meireles atende um viés claro de moralidade (em contraste com suas versões
melhor às expectativas de fazer uma adaptação e, por isso, originais). Perrault atribuiu a criação de seu 1º livro ao seu
suas ideias serviram de base para esse trabalho. filho mais novo, Pierre Darmancourt, e não assinou a obra.
Esta estratégia permitiu ao autor expressar suas ideias para
2.2 Primórdios da literatura infantil as crianças, uma vez que muitas das obras dessa época eram
Segundo Chartier e Priore (1994), na França do século os contos de fadas e histórias populares. Lajolo e Zilberman
XVIII houve uma separação da categoria dos livros, eles (2007) afirmam que, por isso, a França foi considerada o
foram classificados de acordo com seus leitores: eruditos país que começou a desenvolver os livros infantis. Porém,
ou populares, e para estes últimos, os editores faziam uso toda esta produção foi escrita no contexto aristocrático
diferenciado de tipografia e ilustração para facilitar a leitura. da França antes da Revolução Francesa, período em que
Dessa maneira, o livro deixou de ser unicamente um suporte muitos autores trabalhavam em função de divertir essa
do texto e passou a ser um objeto voltado a tipos diversos classe. Logo, a Inglaterra, a partir da Revolução Industrial,
de leitores, tendo sua formatação adequada ao tipo de leitor. tornou-se o principal cenário para o mercado de livros. Isso
Essa popularização se deu em razão de mudanças sociais, ocorreu porque tinha acesso às matérias-primas, tecnologias
que modificaram a visão de propriedade e de família. Além e meios de distribuição, pois era a maior potência comercial
disso, a facilidade de impressão permitiu maior produção e e marítima da Europa. Houve a expansão de produção
distribuição do produto. Este foi o primeiro passo para de livros, o aperfeiçoamento da tipografia e o aumento de
a popularização dos livros. gêneros literários. Tratam-se de movimentos cuja causa e
efeito aconteceram de forma simultânea. Lajolo e Zilberman
Os primeiros livros voltados para o público infantil surgiram (2007) mencionam que estas transformações contribuíram
no mercado na primeira metade do século XVIII, segundo as para o desenvolvimento da literatura infantil, mas não apenas
autoras Lajolo e Zilberman (2007). Desde a sua concepção, a os aspectos relacionados diretamente à expansão industrial.
criação literária para crianças foi considerada menos legítima
que literatura não-infantil. Um dos primeiros livros transcrito
para leitura em família é de autoria de Charles Perrault,

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O crescimento da população nas cidades foi essencial, pois os Outra face desse tipo de leitura, é como os livros revelam
livros serviram como ferramentas de lazer para a população o modo que os adultos esperam que as crianças se
realocada em novos espaços. A escola e o ensino europeus comportassem e vissem o mundo. Isso se passa na perspectiva
também foram fundamentais para o desenvolvimento da muitas vezes idealizada e fantástica da narrativa. Com isso,
literatura infantil. Segundo Lajolo e Zilberman (2007, p. 17): as histórias têm o estigma de ser escapista, doutrinadora
ou ambas. Ao tentar controlar ou aniquilar essa dualidade,
Os laços entre a literatura e a escola começam foi possível verificar inovações ao gênero. Outra faceta é
desde este ponto: a habilitação da criança contrapor e superar o seu paradigma educacional ao tocar
para o consumo de obras impressas. o universo afetivo e emocional da criança. Autores do final
Isto aciona um circuito que coloca a literatura, do século XIX, como os Irmãos Grimm asseguraram que
de um lado, como intermediária entre a criança o gênero fantástico, como contos-de-fadas, aventuras, em
e a sociedade de consumo que se impõe aos espaços diferentes e em situações do cotidiano, continuasse
poucos; e, de outro, como caudatária da a ser escrito e lido. Com isso, o acervo europeu se tornou
ação da escola, a quem cabe promover e sólido e, crianças em período de alfabetização, puderam
estimular como condição de viabilizar se identificar com suas características. Por isso, a literatura
sua própria circulação. infantil europeia foi traduzida para sua adoção em outros
países, como o Brasil, e até hoje as traduções são recorrentes
Nesse momento histórico, os livros infantis marcaram no mercado editorial.
a sociedade pela inovação nos processos industriais e pela
postura pedagógica ao disseminar valores burgueses. O tom Com essa pesquisa foi possível observar que a literatura
de franqueza dos livros para crianças fizeram com que fossem infantil em seus primórdios estava atrelada às narrativas
vistos com desconfiança pelos “setores especializados da populares, mas logo tomou forma própria e gradualmente
teoria e da crítica literárias” (LAJOLO; ZILBERMAN, 2007 tornou-se vinculada à educação. Entretanto, esse fato não
p.18). É importante estudar essas obras, porque mostram que, limitou seu alcance e o gênero continuou a crescer, mesmo
apesar da criação naquele momento sofrer com as limitações dentro de suas limitações na época.
ideológicas e mercadológicas, ainda surgiu uma identidade
para o gênero. O que prova que havia a necessidade do espaço
para crianças, mesmo que fosse limitado por fatores externos.

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2.3 A produção brasileira de livros infantis e conteúdo pragmático” e um nacionalismo mais crítico. 3. A Belle Époque brasileira se refere
A produção cultural infantil escrita no Brasil ainda é recente Esse movimento foi uma das sementes que ajudou a levar ao período do final do Império
comparada à produção europeia. Segundo Lajolo e Zilberman à outras mudanças, nas décadas de 1930 e de 1940, e até o final da República Velha, na
(2007), a produção nacional começou no final do século XIX. a literatura infantil e não-infantil se tornaram mais acessíveis, década de 1930. É reconhecida
Durante a República Velha, os livros infantis eram importados o que permitiu ampliar o público. Neste contexto, Monteiro pelas mudanças nas áreas artísticas,
de Portugal, o que levava à dificuldade de apreensão pelo Lobato, pela primeira vez, no livro para criança no Brasil, culturais e políticas.
leitor por dois motivos. O primeiro é pela adaptação, que não usou a linguagem nos livros de forma similar ao que se era
foi feita para a linguagem local, o segundo pela inadequação falado, o que facilitou o interesse do leitor e aumentou fig. 4
dos temas que não refletiam os valores nacionais. as vendas (LAJOLO; ZILBERMAN, 2007). Capa de Cuore (1915)
de Edmonde Amicis. A história
Até meados do século XIX, a produção nacional expunha italiana influenciou diversas
os ideais presentes na Belle Époque 3 e era escrita para a narrativas brasileiras, como
aristocracia rural e alta burguesia. Renomados escritores, Histórias da Nossa Terra de
como Machado de Assis e Olavo Bilac, no entanto, escreveram Júlia Lopes de Almeida.
livros para crianças neste período influenciados no contexto
patriótico da época. Então, muitas das obras literárias fig. 5
que chegavam ao mercado acabavam sendo enfadonhas e Capa de Reinações de Narizinho,
doutrinadoras, porque propunha o resgate da nacionalidade. primeiro livro da coleção do
Sítio do Picapau Amarelo
Lajolo e Zilberman (2007) afirmam que durante o primeiro de Monteiro Lobato.
momento, os livros escritos eram similares aos que foram
produzidos na Europa, reforçando nacionalismo idealizado,
dedicação à sua terra, aos idosos, aos pobres, à sua própria
família e à escola. Os textos eram perfeccionistas em relação
à linguagem e à função didática. Esse movimento foi similar
ao da escola literária europeia (fig. 4). As autoras acreditam
que a verdadeira mudança começou durante a década de Nessa época, o mercado brasileiro de livros para crianças
1920, com autores como Monteiro Lobato (fig. 5) que ainda era inexplorado e Lobato se tornou produtor,
fomentaram o mercado. Isso aconteceu graças à mudanças empresário e editor de livros neste segmento (LAJOLO;
sociais e políticas na mesma época, causadas por eventos ZILBERMAN, 2007). Quando Monteiro Lobato criou o Sítio
como a Semana da Arte Moderna de 1922. As revoluções do Picapau Amarelo, houve uma revolução na estrutura das
nacionais criaram o movimento da Nova Escola, que histórias infantis brasileiras. Isso se deu graças a maneira que
tinha como um dos objetivos a escolarização em massa da a história ocorria, pois anteriormente a criança era idealizada
população. Também procurava a “difusão da tecnologia

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e tratada como um veículo para lições de moral e pouco dados do IBGE (1966). Isso impedia o desenvolvimento do
interagia na história, apenas escutava. A partir do Sítio do Brasil e, dessa maneira, o governo vigente criou o projeto
Picapau Amarelo, segundo Zilberman (1990), as crianças MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização), em
se identificavam com os personagens infantis e se envolviam 1967, propondo a alfabetização funcional de adultos e
mais pois escutavam e modificavam a narrativa, gerando jovens, porém logo foi notado que essa solução apresentou
transformações no conteúdo. O Sítio do Picapau Amarelo resultados superficiais e que o ensino básico era fundamental
tinha verossimilhança, mas ainda indicava um universo no para o desenvolvimento cultural e intelectual da população.
qual era possível entrar na ficção, do real para o fictício. Em vista disso, o livro infantil foi considerado um fator
Além disso, havia a, já mencionada, valorização da oralidade imprescindível, tanto por meio de iniciativas privadas quanto
e também do lúdico, sem a necessidade de ser pedagógico. pelo Estado. O que previamente era um subgênero passou
Com isso, os personagens teciam críticas sobre o que lhes era a ser estudados seriamente pelos cursos de ensino superior,
dito, por meio de “troca de opiniões, argumentação mútua, e levavam em consideração fatores literários, sociológicos,
diálogo” (ZILBERMAN, 1990, p.111), e influenciavam o psicanalíticos, educacionais, entre outros. Assim, a leitura
leitor a fazer o mesmo. Enquanto os narradores são adultos, foi apreciada como etapa fundamental da educação infantil
são as crianças que fiscalizam e analisam as histórias e houve o encorajamento da atividade para além das salas
contadas, sem haver privilégio para algum dos lados. de aula. Contudo, livros são objetos de mercado e, por isso,
a autora discute que houve a preocupação sobre a dinâmica
Essa visão é reafirmada por Cademartori (2006), que acredita capitalista que se encontrava na sua distribuição. Ainda assim,
que a literatura infantil brasileira vive à sombra do nome visões e dificuldades não impediram o mercado brasileiro de
de Monteiro Lobato, graças ao fato do o autor ter escrito produzir livros criativos e adequados para diversas idades.
sem os modismos que ocorreram na época, e não tratou Ainda segundo Cademartori (2006), houve um boom e maior
dos nossos temas culturais e folclóricos superficialmente. preocupação com a literatura infantil brasileira e como ela era
Cademartori (2006) afirma ainda que, a visão de Lobato foi oferecida a partir da década de 1980.
crítica e profunda e os elementos brasileiros eram esmiuçados
e criticados dentro da própria narrativa. A autora ressalta Apesar do desenvolvimento tardio da literatura infantil
ainda, que Lobato respeitou seus leitores, tratando-os como brasileira, atualmente, encontra-se no mercado muitos
agentes de mudanças, e não impondo uma lição de moral escritores que se dedicaram quase que exclusivamente no
nas histórias, mas instigava a curiosidade, crítica, esperteza fortalecimento deste gênero. Dentre eles, pode-se destacar:
e inteligência deles. Eva Furnari, Angela Lago, Ana Maria Machado, Cecília
Meireles, e Mário Quintana. Vale salientar que muitos artistas
No início da ditadura militar, Cademartori (2006) indica contribuíram para aumentar o peso da imagem dentro do
que foi observado o problema de analfabetismo, pois livro infantil, tais como: Ziraldo, Juarez Machado, Mary
metade da população foi considerada analfabeta segundo os França, entre tantos outros.

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3 OS LIVROS ILUSTRADOS 4. O signo icônico é aquele que
é uma representação direta do
Este capítulo se destina a esclarecer o objeto de estudo: o (album) e espanhol (álbum), o que dificulta ainda mais essa seu significado, enquanto o
livro ilustrado, levantando quais os conceitos existentes e tarefa. Além do problema com as traduções, existe uma signo simbólico é convencional
estabelecendo um recorte do panorama geral da história dele. confusão entre o “livro ilustrado” e o “livro com ilustração”, e assim pode ser ambíguo
sendo que este último termo abrange para quase todas as como interpretação.
3.1 O que é um livro ilustrado? publicações destinadas às crianças. (NIKOJALEVA, SCOTT, 2010)
O termo “livro ilustrado” pressupõem um produto editorial,
que contém texto e imagem para formar o seu conteúdo e Van der Linden (2011, p. 24-25) estabelece nove categorias 5. O livro ilustrado é reconhecido
é reconhecido por vários autores como um artefato literário, para o livro infantil a partir da diferenciação na relação entre porque as imagens ocupam um
que possui níveis de comunicação verbais e visuais. texto e imagem, além da organização interna. Desta maneira, espaço importante na superfície
Com isso, é criado dois conjuntos distintos de signos: a autora apresenta a seguinte divisão: Livros com Ilustrações, da página, elas dominam o espaço
o icônico e o simbólico4. Primeiras Leituras, Livros Ilustrados (picture books), Histórias visual. Também é reconhecida
em Quadrinhos, Livros Pop-up, Livros-brinquedo, Livros porque existe um diálogo entre o
El libro álbum se reconoce porque las imágenes Interativos, Imaginativos (Imagiers 6) e Tipologia Impossível. texto e as ilustrações, o que se pode
ocupan un espacio importante en la superficie chamar de interconexão de códigos.
de la página; ellas dominan el espacio visual. [...] Nos livros ilustrados não basta
También se reconoce porque existe un diálogo com que exista esta interconexão.
entre el texto y las ilustraciones, o lo que puede Deve prevalecer tal dependência que
llamarse una interconexión de códigos. [...] os textos não possam submeter-se a
En los libros álbum no basta con que exista uma interdependência de códigos.
esta interconexión de códigos. Debe prevalecer Tradução livre da autora.
tal dependencia que los textos no puedan
6. Imagiers: O termo faz parte da
someterse a una interdependencia de códigos.
categoria Imaginaire et pédagogie
(Díaz, 2007, p.92-93) 5
(imaginário e pedagógico), que faz
uso predominante da linguagem
Atualmente, ainda há dificuldades em como categorizar o
visual (imagens) o nome também
livro ilustrado, pois autores podem utilizar o mesmo termo
faz referência ao tipo de gravura
para objetos diferentes, somado a isso, existem as diferenças
utilizada nesses livros. Os livros
de tradução em, por exemplo, inglês (picture book), francês
contam com imagens mudas ou
associadas a palavras-chave, ou
palavras-conceitos, utilizados para
ensino das primeiras palavras à
crianças a partir de 1 ano de idade.
(DUBORGEL apud, VAN DER
LINDEN, 2011, p.162)
17
fig. 6 Contudo, Nikolajeva e Scott (2011) dividem os livros fig. 6a
Os exemplos são de Arlene Graston ilustrados em diversos tipos, de acordo com diferentes
(6a), Vilhem Pendersen (6b), autores, dependendo de suas necessidades. Para a realização
Susan Jeffers (6c), Lisbeth Zwerger deste trabalho foi escolhido um foco em dois deles, que são
(6d) e Elisabeth Nyman (6e). os mais pertinentes neste cenário. Primeiramente, o livro
Além da diferença de estilo, é com ilustrações, que tem a parte verbal escrita e pode ser
possível ver as escolhas artísticas compreendida sem a imagem. Neste tipo a ilustração tem
quanto a representação da papel decorativo e pode complementar a compreensão
protagonista: como sua aparência, sobre a narrativa. O ilustrador pode ou não ser o autor
idade e comportamento. da parte escrita formando uma equipe de autor e ilustrador.
Um exemplo das autoras é o texto de Thumbelina (1835),
escrito por Hans Christian Andersen que, ao longo dos
anos, contou com diversos ilustradores, que desenvolveram
as partes julgadas essenciais para criar diferentes
comunicações verbais-icônicas para suas versões (fig. 6).

fig. 6b fig. 6c fig. 6d fig. 6e

18
Além disso, há o livro ilustrado no qual as linguagens verbal de Maurice Sendak (fig. 7). Além disso, a relação do texto fig. 7
e não-verbal têm mesmo peso. A ilustração é necessária para pode ser, segundo Golden (apud NIKOLAJEVA E SCOTT, Capa de Onde Vivem os Monstros.
a interpretação textual total e pode servir de contraponto, 2011):
reforço ou redundância narrativa e criar uma leitura irônica,
ou aprofundar o sentido inicial do texto. A seguir Nikolajeva e a) o texto e as imagens são simétricos (redundantes);
Scott (2011, p. 42) expõem diferentes contrapontos narrativos: b) o texto depende de imagens para esclarecimento;
c) a ilustração reforça, elabora o texto;
- Contraponto no endereçamento: foca na dupla audiência de um d) o texto carrega narrativa elementar, a ilustração é seletiva;
livro ilustrado. e) a ilustração carrega narrativa elementar, o texto é seletivo.
- Contraponto no estilo: contrasta a ironia e sinceridade entre o
texto e as imagens, ou mostra ideias diferentes Os livros ilustrados são tipicamente associados à literatura
- Contraponto no gênero ou modalidade: conta histórias na qual a infantil, mas na realidade eles não são um gênero a mais
imagem e o texto se contradizem. dessa literatura e têm o potencial de contar quaisquer tipos
- Contraponto por justaposição: tem histórias paralelas ocorrendo de histórias. Porém, nunca conseguiram ultrapassar o estigma
ao mesmo tempo. que lhes foram impostos, diferente do que ocorreu com os
- Contraponto na perspectiva ou ponto de vista: há uma quadrinhos. Segundo Lewis (apud Van der Linden, p. 29):
discrepância entre o ponto de vista narrativo e a voz do narrador. “O livro ilustrado não é um gênero […]. O que encontramos
- Contraponto na caracterização: mostra personagens de forma no livro ilustrado é um tipo de linguagem que incorpora ou
contraditória causando ironia e/ou ambiguidade. assimila gêneros, tipos de linguagem e tipos de ilustração”.
- Contraponto de natureza metafictícia: indica figuras de linguagem A autora também defende que o objeto em si pode ser uma
ou brincadeiras com os peritextos. forma própria de expressão.
- Contraponto no espaço e no tempo: acontece por meio da relação
entre texto e imagem na qual a imagem “mostra o que acontece” e Apesar da dificuldade de caracterizar o livro ilustrado, nesta
o texto “conta o que acontece”. pesquisa será empregado o sentido de acordo com a definição
de picturebook das autoras Nikolajeva e Scott (2011). para
Segundo Nikolajeva e Scott (2011, p. 45), “relações espaço as autoras o picturebook é definido como um livro no qual
temporais é a única área na qual palavras e imagens jamais a imagem e texto têm o mesmo destaque e importância,
podem coincidir”. Um exemplo de contraponto no gênero colaborando entre si para contar em mais detalhes a narrativa,
e na caracterização é o Onde Vivem os Monstros (1967) seja aprofundando-a ou ironizando-a.

19
fig. 8 3.2 Contexto histórico do livro ilustrado Powers (2008) associa o renascimento do livro ilustrado
Uma das ilustrações do Orbis Os livros com ilustrações tiveram origem, segundo Van der na França no final do século XIX, com o conceito de livre
Sensualium Pictus representando Linden (2007), no século XVIII, como o Códex, suporte d’artiste (livro de artista), porque estas obras continham
meninos brincando. romano concebido para abrigar um texto. No mesmo século ilustrações em maior destaque. A década de 1920 trouxe o
surgiu o conceito de literatura infantil e histórias com Modernismo ao mundo, influenciando o gosto das pessoas
ilustrações se popularizaram. As primeiras obras impressas, por “arte popular, pela criatividade das crianças e por
que articularam texto e imagem utilizavam os tipos móveis e a outras manifestações primitivistas” e, dessa forma, os livros
xilogravura, e tem como exemplo expoente Orbis Sensualium para crianças se sofisticaram e se tornaram mais populares,
Pictus de Cormênico (1658) (fig. 8). mas “destinados basicamente ao entretenimento adulto”
(POWERS, p. 48). Um exemplo que influenciou essa década
Segundo Girón (2014), essa narrativa obteve cunho educativo, e que marcou a história do gênero é o Macao et Cosmage
porque a relação entre as ilustrações e o texto ajudava as de Edy-Legrand (fig. 9), com ilustrações feitas por pranchas
crianças a memorizar visualmente as informações lidas. coloridas em estêncil.
fig. 9 Ainda, segundo a autora, a obra estabelece uma relação entre
Capa de Macao et Cosmage a visualização de imagens e a associação de sentimentos É importante mencionar, que a história do livro ilustrado está
de Edy-Legrand. durante a leitura. Tais histórias não foram consideradas ligada ao desenvolvimento tecnológico para reprodução fiel
infantis, porque eram contadas para adultos e crianças sem da ilustração, fato que incentivou autores a criarem histórias
qualquer distinção. Na indústria editorial, verifica-se que os ilustradas com maior frequência. Segundo Van der Linden
livros ilustrados começaram a ser destinados principalmente (2010), alguns exemplos das técnicas usadas ao longo dos
para o público infantil, a partir do momento em que foi anos para a reprodução das ilustrações são: talho-doce,
notado que a função explanativa das ilustrações, e que as xilografia de topo, litografia e estêncil. Ela afirma que após o
imagens não são tão relevantes para os adultos. Pode-se fazer advento da impressão offset, o mercado editorial passou a ser
um paralelo com o gênero literário fantástico, que, segundo dominado por essa técnica, predominado até os dias de hoje,
Coelho (1991a), foi popular até perder a relevância intelectual pois é considerada a impressão mais barata e com a melhor
no século XVI e passou a ser direcionado ao público infantil. fidelidade de reprodução. No entanto, é notado que as demais
técnicas ainda coexistem, especialmente, numa produção de
tiragem restrita ou como suporte de criação artística.

20
4 CONSIDERAÇÕES ACERCA DO LEITOR

Esse capítulo tem como função entender quais as necessidades Zilberman (1989), ressalta como os textos deixaram de ter
do leitor para esse projeto. Com isso, foi levantado os valores a autoridade da escola para estabelecer um diálogo com
existentes para esse público e a importância da leitura nessa o leitor. Desde Monteiro Lobato houve uma revolução na
fase, assim justificando a importância de escrever para a literatura infantil brasileira. Os personagens do Sítio do
faixa-etária escolhida e quais as particularidades do gênero Picapau Amarelo criaram uma imagem reflexiva do próprio
da história a ser criada. leitor, dessa forma, criaram a ressignificação dos leitores e um
resgate de sua própria cultura.
4.1 A criança e o livro
As crianças são a base para existir um futuro promissor Cademartori (2006) afirma que a literatura infantil
e como tal precisam saber interpretar fatos, ter empatia é indissociável da educação, pois está vinculada
e interesse na cultura e na leitura. É necessário mostrar a necessidades escolares, apesar de superá-las por sua
às crianças exemplos de representação de outras culturas, diversidade. Como a literatura é uma ferramenta para
preferências e ideias. A escolha desse público deve levar em o desenvolvimento intelectual e linguístico, acompanha
consideração quais tipos de produções existentes para eles e de perto o ensino formal da escola, que sistematiza
quais valores e ideias seguem. O livro infantil deve existir por o esforço da leitura. Por isso, a autora recomenda a criação
diversos motivos, entre eles, mais do que para complementar de conteúdo para o leitor em formação, para escola não
a educação formal, o estímulo da leitura, que ajuda a reforçar ser a única a fornecer estímulos. Dessa forma, a alfabetização
o pensamento crítico e contribui no desenvolvimento de pode ser tratada como preparação para futuros trabalhos
outras atividades. Dessa forma, cria-se maior curiosidade do indivíduo e não como uma habilidade, porque é criado
e conhecimento. um leitor. De acordo com a autora, ele se torna diferenciado
porque entenderá o texto e o relaciona a experiências e
Perrotti (1990) argumenta que as crianças têm sido conhecimentos passados e assim a leitura pode ajudar ao
distanciadas da parte cultural, assim excluídas das análises, indivíduo se entender e se colocar no mundo.
definições sobre cultura e política. Elas são consideradas parte
de um processo ainda em desenvolvimento, como um “adulto Meireles (1985) acredita que crianças devem ler histórias de
incompleto”. Os adultos, ainda segundo o autor, consideram qualidade para sua formação, pois provavelmente nunca terão
as crianças como seres sem cultura própria e produzem para tempo disponível para leitura desinteressada em suas vidas
elas produtos prontos para o consumo. Entretanto, crianças como nessa fase. As primeiras leituras marcam seus leitores e
desenvolvem brincadeiras, canções e outras atividades definem gostos que os acompanharão durante toda a vida.
diferentes do padrão de mercado; e tais atividades têm A autora também disserta sobre a utilidade de criação de
discurso e roteiro próprio. livros otimistas pela inversão de valores que há hoje em dia,
graças à sobrecarga de violência e ideias “não-infantis”, fato

21
que cria cinismo no público infantil.
7. Do Mini Aurélio 8ª Edição criadora” para trazer uma nova consciência; ter a concepção
(p. 760) “Tropo: [Gr. trópos] sm Coelho (1991b, p. 18-24) estabelece dois paradigmas entre de vida como evolução contínua e em metamorfose;
E.Ling. Emprego de palavra ou os valores que livros infantis antigos e os livros valorização da intuição, que traz o renascimento do
expressão em sentido figurado.” contemporâneos passam para seus leitores. O paradigma fantástico, do imaginário, da magia e do ocultismo; há
O termo também é empregado para tradicional tem como valores: o individualismo, no qual a visão de anti-racismo, que implica na valorização de
definir clichês em obras literárias. a criança põe os valores próprios e da família em primeiro outras culturas e da autenticidade do indivíduo; e por fim,
lugar; a obediência absoluta ao seus pais e ao sistema a visão da criança como ser em formação, que tem potencial
autoritário, exercendo exemplaridade; respeito ao sistema para própria reinvenção e metamorfose.
social, em um sistema paternalista com papéis imutáveis;
exercício da moral dogmática maniqueísta, no qual há 4.2 Público-alvo: leitor em processo
sempre um lado bom e um lado mau, como por exemplo O trabalho foi desenvolvido para o público-alvo constituído
na religião; considerar o sexo como ato imoral, como reflexão por crianças com idade entre 8 e 9 anos, na fase chamada por
da sociedade sexófoba; valorização do passado, por meio Coelho (1991b, p.31) de leitor em processo. Segundo a autora,
da arte e da história; ter a concepção da vida como algo nesta idade a criança já tem o mecanismo de leitura dominado
religioso, finito e com o objetivo de liberação do espírito; e, também, demonstra interesse em conhecer, em ser desafiada
uso do racionalismo, no qual as ações têm consequências e começa a questionar o conteúdo que consome. Essa fase é
lógicas e podem ser corretas ou erradas; visão xenofóbica, ideal para o livro ilustrado, e está alinhado com que Coelho
na qual há lado “vencedor” na história; e por fim a visão (1991b) recomenda, texto e imagem em diálogo para reforçar
da criança como adulto em miniatura, incompleto. o conteúdo narrativo.

O paradigma novo, que Coelho (1991b) chama de “geleia Em relação ao texto para esse leitor, Coelho (1991b)
total”, tem como características: o espírito comunitário, aconselha o uso de frases de baixa complexidade, com
no qual a criança vê os valores dos grupos que estão ao seu períodos simples e poucas sentenças coordenadas. A narrativa
redor; descrédito da autoridade, por meio da relatividade deve ser construída na sequência lógica de de início, meio
moral, que observa os contrastes e diferenças de opiniões e fim. Deve-se, também, ter uma clara relação entre ideias,
e de cultura; sistema social como algo em transformação, que podem ser expressadas a partir do humor, do inesperado
que vê o trabalho como realização social e o núcleo familiar ou do satírico. Nessa idade, os leitores aceitam bem obras
como o “casal” em pé de igualdade; percepção da moral realistas ou de fantasia.
como responsabilidade do eu, no qual a moral é espontânea
e visível por cada pessoa e não como verdade absoluta; visão
do sexo como algo natural e sem vulgaridade, reflexão de uma
sociedade sexófila, que também traz ideias como a liberação
feminina; redescobrir o passado, com visão crítica e de “forma

22
Na seção 6, a história foi desenvolvida baseada em uma
narrativa de aventura com elementos da fantasia, sendo
categorizada no gênero do conto, e não tem finalidade de uso
paradidático. Segundo Coelho (1991a), na idade entre 8 e 9
anos, ainda existe o interesse pelo fantástico. A escolha desse
gênero também implica na utilização de tropos 7 de conto de
fadas, nos quais há uma jornada interna, uma metamorfose
e uma busca do eu.

Segundo Tatar (2002), os contos de fadas contam verdades


às crianças de forma catártica, pois elas enfrentam os seus
medos, e que também são medos adultos, representados por
criaturas fantásticas. Esse gênero também é íntimo, pessoal
e reflete verdades de muitas outras histórias universais,
folclores e mitologias. As histórias oferecem um espaço seguro
para enfrentar os medos e, em geral, garante prazer depois
do sofrimento e um final vitorioso. É importante ressaltar
que os contos de fada não são necessariamente bons exemplos
morais ou politicamente corretos, mas o acompanhamento
de um adulto para analisar e dialogar com a criança os
tornam uma leitura rica para críticas, um espaço para criar
sua própria interpretação e para causar uma interação entre
o adulto e a criança. A diferença entre os contos é a mudança
de tom ou ritmo como é contada, bem como a interpretação
do desfecho para a apreensão da história.

No entanto, é preciso notar que não há interesse em produzir


uma história exclusivamente pelos aspectos dos paradigmas
citados anteriormente, nem fazer menções políticas e morais
diretamente às crianças, mas escrever uma história que agrade
ao público-alvo.

23
5 DESIGN GRÁFICO NO CONTEXTO
DO LIVRO ILUSTRADO

Este capítulo procura explicar quais são as configurações Prades (2016) observa que criar um livro por meio de um
gráficas, tomadas de decisões objetivas e subjetivas do projeto grande grupo editorial pode limitar a experimentação. Assim,
e quais os métodos que serão utilizados para a construção de a criação de produtos editoriais muito fora do convencional,
um livro, de acordo com as premissas definidas no TCC I e pode ser rejeitada pelas dificuldades de produção, entendendo
que serão desenvolvidas no TCC II. O planejamento gráfico que as editoras tradicionais trabalham com formatos pré-
é muito importante pelo fato de ser a chave para entender se estabelecidos, o que limita a participação do designer nesta
o conteúdo produzido é viável economicamente para uma tarefa. A autora defende que o mais importante que a escolha
edição comercial. Como autora e ilustradora deste projeto, do formato é a preocupação com os níveis de envolvimento
as decisões tomadas poderão ser subjetivas, no entanto, serão da imagem e do texto, assim o texto também pode ser um
conscientes e justificadas pela teoria a seguir levantada. possível caminho de inovação.

5.1 Formato e suporte Ao entender que a forma auxilia o conteúdo, nesta pesquisa
Van der Linden (2011) descreve que livros são suportes das será questionado qual formato melhor se adequa ao conteúdo
histórias contadas e que apresentam grande diversidade de desenvolvido: paisagem, retrato ou quadrado. Então antes
formatos e dimensões. Nos livros ilustrados comerciais não de determinar o formato do protótipo final, serão propostos
existe um consenso de padrão que estabeleça homogeneidade vários testes em proporções diversas, a fim de verificar quais
de formato e de impressão. O formato se refere ao modo medidas melhor se ajustam à narrativa. Para a escolha
como as páginas são apresentadas: retrato, paisagem do formato serão levados em conta dois parâmetros:
ou quadrado, já a dimensão se refere à altura e largura. aproveitamento de papel e ritmo narrativo.
Nikolajeva e Scott (2011) ressaltam que o formato afeta a
nossa apreciação, indagando como seria a leitura de uma A narrativa é construída a partir da disposição dos elementos
história como as de Beatrix Potter, se as ilustrações pequenas no campo da páginae sua articulação ao longo do volume.
e delicadas em aquarela fossem impressas numa A4 com as A percepção dos elementos e enquadramento das imagens
imagens expandida. As autoras também comentam como o dependem dos limites da página. Os formatos mais estreitos
formato pode diferir graças ao gosto do autor da obra, ou são interpretados mais rapidamente, enquanto formatos em
ainda, segundo dois conceitos diferentes: obras infantis devem paisagem parecem se passar mais lentamente. Dependendo
ser menores para serem manuseados por mãos pequenas do ritmo da narrativa, essa escolha é fundamental para a
ou devem ser grandes para ser mais detalhadas e fáceis de percepção do leitor. Se for focado na ação, o formato vertical
segurar. As autoras também comentam que existem autores, seria a melhor opção, mas se o foco for os personagens talvez
como Inger e Lasse Sandbert, que defendem que a escolha o formato em paisagem permita que o leitor passe mais tempo
do formato deve apenas se adaptar ao objetivo específico em cada cena. Essa questão será retomada na seção 5.2,
daquela narrativa. sobre ritmo.

24
O formato de uma obra é definido também pela questão Além dos formatos descritos, Araújo (1986) aponta os fig. 10
orçamentária da editora e pode variar de acordo com o formatos regularizados pela norma 872 da I.S.O., que propõe Proporção áurea.
substrato e o tipo de impressão. De acordo com Haslam oito dimensões padrões divididas nas proporções: francês,
(2007, p. 30), “a escolha do formato de um livro determina quadrado, oblongo ou estreito (fig. 13). fig. 11
o design do modelo que conterá as ideias do autor”. Proporção A4 segundo a
Assim, segundo o autor, existem vários formatos, dos norma I.S.O.
clássicos aos únicos ou aos que seguem alguma lógica
matemática (fig. 10–12). fig.12
Formatos irregulares, como um
Formatos com seção Áurea: obedecem a proporção de 1:1,611803, de livro em forma de nuvem e outro
acordo com o retângulo formado pela série de Fibonacci. com um furo no centro.

Escala cromática de Bringhurst: a partir da escala cromática da música fig. 10 fig. 13


ocidental, por intervalos numéricos. Exemplos do livro de Araújo (1986).

Sistema modulor de Le Corbusier: retângulos com proporções a partir do


corpo humano

Retângulos racionais e irracionais: podem ser subdivididos em quadrados,


construções aritméticas, proporções das arquiteturas gregas/romanas. fig. 11

Imperial e A: são os formatos de gráfica que reduzem o desperdício de


papel em escalas industriais. São diferentes dependendo do local, o imperial
americano é diferente do inglês. O formato A (também conhecido como
internacional) é o único que pode ser dividido no meio para criar dois
retângulos com o mesmo formato e metade da dimensão anterior. fig.12

Formatos determinados pelos elementos internos das páginas: filados


para comportar, por exemplo, as grades de textos ou linhas de base do
documento, de acordo com o designer.

Formatos derivados e não retangulares: seguem sua própria estrutura ou


têm uma faca de corte única.
fig. 13
25
A escolha do formato deve sempre estar associada ao
substrato, assim deve-se ponderar quais os papéis utilizados
para o miolo e para a capa. Ao selecionar o papel, recomenda-
se ter em mente qual o estilo da ilustração e da impressão
para não comprometer a legibilidade e a leiturabilidade.

O universo dos papéis é extenso, em que cada tipo apresenta


propriedades físicas e químicas que afetam diretamente à
etapa de impressão. Bann (2010, p. 126-129) exemplifica
alguns modelos: papel livre de ácido, papel jornal, papel com
alta quantidade de pasta mecânica, papel de pasta química,
papel cartucho, papel-cartão, papel antique, papel vergê,
papel com acabamento inglês, calandrado, acabamento liso
ou supercalandrado, papéis revestidos, papéis plásticos,
papéis autocopiativos, papéis para impressão digital e papéis
técnicos. Dentre esses substratos, os que parecem mais
adequados ao projeto do livro ilustrado são:

• papel-cartão, para impressão da capa por sua densidade


e alta gramatura, que varia entre 200 a 300g/m2 no caso
de brochura;

• papel com acabamento inglês ou acabamento liso,


porque tem uma superfície que é receptiva à ilustrações
detalhadas e pode ser usada com meios-tons de preto
ou trabalhos coloridos;

• papel revestido, por exemplo, o couché de alto brilho


ou fosco, que funciona bem para trabalhos ilustrados;

• papel para impressão digital também deve ser


considerado, pelo menos para a criação dos bonecos,
já que é mais caro do que os papéis utilizados na
impressão offset.

26
5.2 Ritmo o leitor como parte atuante da narrativa gráfica. Apesar do 8. O leitor experiente lê passando os
O ritmo, citado brevemente no tópico anterior, estabelece autor discutir em relação ao contexto dos quadrinhos, é olhos de maneira intermitente pelas
o tempo em que o leitor ficará retido em cada página, ou possível criar um paralelo com livros ilustrados. linhas. Esses movimentos curtos são
seja, é o envolvimento entre o formato, o fluxo de leitura, chamados de sacadas, que mudam
legibilidade e leiturabilidade. Lins (2004) expõe ritmo como Storyboards são desenhos em quadros que contam uma com fixações de 0,2 a 0,4 segundos.
dados objetivos e subjetivos do projeto interagindo em história, seu uso serve para planejar visualmente algo, seja Uma linha é lida com várias sacadas,
harmonia e compara a cadência do livro a um filme: a página filmes, propagandas, livros, quadrinhos ou quaisquer tipo e em uma grande sacada o olho
é equivalente à tela e as palavras e os desenhos correspondem de narrativas gráficas. Para Mateu-Mestre (2010, p.14), a salta de volta para a esquerda,
às ações e aos personagens. Segundo Highsmith (2012), intenção de cada quadro deve ser clara, pois, a imagem num buscando o início da próxima linha.
quando um desenho é observado, nossos olhos escaneiam suas storyboard é o veículo e não o resultado, e como tal deve ter Somente durante uma fixação é que
diversas partes, mas, apesar disso, nosso cérebro interpreta o propósito dentro da história. As questões que ele levanta para a informação é registrada.
conjunto por inteiro. Independente de algumas partes de uma planejar essas histórias são: (HOCHULI, 2013, p. 8)
composição atraírem a atenção antes da leitura do conjunto,
é observando o geral que o leitor entenderá a sequência • deve-se ter em mente qual o significado
narrativa, e, consequentemente, conseguirá formular um da imagem dentro da narrativa e como
entendimento da proposta da imagem. As palavras são da um todo;
mesma forma, lidas por inteiro apesar de serem formadas por • qual o sentimento que se quer passar para
letras. É possível observar como isso funciona, pois há um o público por meio
movimento discreto do olho, chamado de “sacadas” 8, que é da história e em qualquer momento ou
automático durante o processo de leitura. Correlacionado cena específicos;
a isso, há duas questões principais, o ritmo do próprio leitor • qual a função da cena para a história;
e o ritmo da narrativa, a segunda questão é mais relevante, • como fazer o público entender a cena;
pois pode ser modificada. • como a ilustração contribui para
mensagem geral;
O ritmo da narrativa deve conseguir a atenção e a retenção • o que pode ser eliminado do desenho sem
do leitor. Para Eisner (2012, p. 55), “a atenção se consegue modificar a mensagem.
com imagens provocantes e atraentes. A retenção é obtida
através de uma organização lógica e inteligível das imagens.” e Tendo em vista esses questionamentos, entende-se que para
também “nenhum narrador deve ignorar o fato de que o leitor o autor, o mais importante é contar a história e não produzir
tem outras experiências de leitura. Os leitores estão expostos a o desenho ou arte. Junto ao storyboard, antes de criar os
outras mídias e cada uma delas tem seu próprio ritmo. Não há modelos, deve-se ter cuidado para a história seguir um ritmo
como mensurar isso, mas sabemos que essas diferentes mídias que ajude a passar seu conteúdo, facilitando a compreensão
se influenciam entre si” (EISNER, p. 73). O autor considera e aumento da tensão narrativa. Para isso, é necessário criar
as páginas completas pensando no texto e na imagem e qual
os pontos de enfoque mais importantes em cada página dupla.
27
fig. 14 Todas as escolhas em relação a composição e diagramação Diagramação compartimentada
Diagramação dissociativa são relevantes, porque a forma e o conteúdo são indissociáveis Similar à diagramação de quadrinhos, são imagens sequenciais
no caso do livro ilustrado. emolduradas. No caso de livros ilustrados, os quadros
fig. 15 tendem a ser maiores em tamanho,em quantidade e há maior
Diagramação associativa Diagramação e Layout de Páginas preocupação com a continuidade entre as páginas (fig. 16).
Em virtude da variedade de layout nos livros infantis, opta-
fig. 16 se, neste momento, por ilustrar alguns exemplos possíveis.
Diagramação compartimentada Segundo Haslam (2007), o desenho de grades, comumente fig. 14 fig. 15
usados em projetos de livros tradicionais, seriam uma
fig. 17 limitação ao livro ilustrado, porque a proporção da imagem
Diagramação conjuntiva e do texto não são equivalentes, sendo que o campo da
ilustração determina a posição do texto.
Fig. 18
Aquarela: Ilustração de Beatrix Van Der Linden (2011 p. 68 – 70) exemplifica usos de layout
Potter, Peter Coelho. e diagramação e como influenciam o ritmo de leitura. Eles
podem ser usados individualmente durante a narrativa ou
Fig. 19 associados uns aos outros.
Hidrocor: Ilustrações de Manoel fig. 16 fig. 17
Victor Filho para Monteiro Lobato, Diagramação dissociativa
D. Quixote para crianças. Separa a página de texto e a página com imagens, da
mesma maneira que os livros com ilustração tradicionais.
Fig. 20 A imagem pode ou não estar emoldurada (fig. 14).
Lápis de cor: Ilustrações de Hannah
Ayoubi, de seu portfolio. Diagramação associativa
A diagramação mais utilizada nos livros ilustrados.
Fig. 21 Nela o texto e a imagem compartilham o mesmo espaço
Digital: Ilustração de Petra nas páginas. O nível de envolvimento desses elementos
Nordlund. pode variar entre dividir o mesmo espaço ou estar unidos,
dependendo da intenção narrativa do autor, mas são lidos
Fig. 22 em sucessão (fig. 15).
Colagem: Página de Cucumber
Quest de Gigi Digi.

28
Diagramação conjuntiva Fig. 18 Fig. 19
Nesse caso a imagem e o texto são indissociáveis e se mesclam
no suporte. É geralmente utilizada em textos mais poéticos
e costuma preencher o espaço da página dupla e não das
páginas individuais (fig. 17).

5.3 Ilustração
O campo da literatura infantil e dos livros ilustrados é
extremamente rico em técnicas para criação das imagens,
da mesma maneira em que não há uma fórmula fechada
para a produção textual, não existe um só modo de se
expressar visualmente. Atualmente, o avanço das técnicas
de reprodução gráfica favorecem o aumento da
experimentação pelos artistas.

Técnicas
Foi observado na pesquisa visual, descrita anteriormente,
a utilização de técnicas mistas em livros contemporâneos,
com o traço desenhado com ferramentas tradicionais, como Fig.20 Fig. 21 Fig. 22
lápis e tinta, e colorização digital. Van der Linden (2011)
destaca algumas das técnicas mais utilizadas por ilustradores,
a direita (fig. 18– 22). Além das técnicas citadas, existem
fotografia, pintura a óleo, xilogravura, litogravura, serigrafia.
É possível também utilizar mais de uma técnica, uma prática
que tem se tornado recorrente entre os artistas, uma vez que
as ilustrações originais (desenhos contidos num suporte físico)
são digitalizadas e ajustadas em programas de específicos

29
fig.23
fig.23 para tratamento de imagens. Se por uma lado a tecnologia
Capa de Selvagem (2015) e permite agilizar a produção da ilustração pulando as etapas
A pior princesa do mundo (2013) manuais do desenho, por outro lado os programas de
ilustração e tratamento de imagens apresentam cada vez mais
fig.24 ferramentas que imitam as técnicas de pintura manual.
Ilustração de O túnel (1989)
Estilos
fig.25 Os ilustradores costumam utilizar diferentas técnicas
Ilustração de A raiva (2014) respeitando a demanda do trabalho, eles buscam desenvolver
identidades únicas para cada projeto ou mantém um estilo
fig.26 que os define. Segundo McCloud (2003, p. 212) “um estilo
Ilustração de O menino geralmente designa detalhes superficiais, como a qualidade fig.24
maluquinho (1980) da linha, a maneira de desenhar rostos ou o uso de diálogos”.
A autora categorizou os estilos como: cartunescos (Selvagem,
fig.27 A pior princesa do mundo (fig. 23) categorizados por estilo
Alguns storyboards de icônico similar aos desenhos animados contemporâneos, mais
O Sistema de Entregas realista (O túnel (fig. 24) similar à vida real, minimalista de
de Kiki (1992) e o livro forma (A raiva (fig.25), minimalista de traços (O menino
de arte Enrolados (2010) maluquinho (fig. 26), entre outros que não cabe aqui discutir.

fig.28 Inspiração fora do Livro Ilustrado


livro de arte de Referências visuais e inspiração podem vir de outras fontes,
Hora da Aventura (2014) por isso, o aprofundamento da pesquisa também ocorreu pela
observação de animações feitas pela Disney e pela Ghibli por fig.25 fig.26
fig.29 sua vasta linguagem visual e identidade, sendo observadas
Primeira página de imagens do desenvolvimento das produções como O sistema
Beauté (2013) e Capa de entregas da Kiki (1992) e Enrolados (2010)(fig. 27).
dura da coleção de Animações mais recentes de desenhos animados, também
Miss pas touche (2015) serviram de referência artísticas como Hora da Aventura.
(fig. 28), Também foi pesquisado graphic novels produzidas
fig.30 por Kerascöet, como Beauté (2013) e Miss pas touche (2010)
Página dupla de (fig. 29), e Emily Carrol, Into the woods (2015) (fig 30).
Into the woods (2014) Além disso, os estilos das ilustradoras já citadas anteriormente
e demonstradas na seção de Técnica, Gigi Digi, Hannah Ayubi
e Petra Norlund.
30
fig.27a fig.27b fig.28

fig.29a fig.29b fig.30

31
9. Color Script é um espelho Uso da cor fig. 34a
editorial feito com as cores de É necessária atenção adicional ao uso de cores nos livros,
cada página dupla, para observar porque além dos custos do projeto, dependendo do uso, elas
a progressão das cores durante a também têm conotações culturais, emocionais e individuais.
história. Segundo Gurney (2010, A aplicação cromática pode seguir uma tendência vigente no
p. 132), traduzido de forma livre período, por exemplo, durante o impressionismo, na terceira
pela autora: em formatos de arte década do século XIX, o uso de cores esteve relacionado aos
sequencial, tais como uma graphic elementos da natureza e no expressionismo, início do século
novel, livros com ilustração ou XX, pelo que podiam representar. As cores podem também
filmes de animação, nenhum representar temperatura, emoções ou verossimilhança.
esquema cromático se encontra Para esse livro ilustrado serão feitas composições de paletas
só. Cada página, painel ou cena triádicas, relacionadas ao conteúdo emocional da narrativa.
deve ser visto em relação ao que o Para isso é feito um color script 9 (fig. 34) durante a produção
precede e ao seguinte. dos storyboards e dos espelhos 10.

10. Termo do design gráfico para o fig. 34b


planejamento das páginas duplas em
quadros pequenos.

fig. 34a
Livro de arte de Enrolados (2010)

fig. 34b
Colour and Light, Gurney (2010)

32
5.4 Tipografia Além da legibilidade e da leiturabilidade, deve ser considerado
É necessário que o livro seja de fácil leiturabilidade e as habilidades do leitor. No caso do livro destinado a crianças,
legibilidade, entendendo o leitor ao qual se destina o livro. que ainda não estão dominando ou dominam as ferramentas
De acordo com Haslam (2007), a tipografia deve facilitar de leitura há pouco tempo, a escolha tipográfica deve ser mais
a leitura e não ser um elemento dificultador, por isso além criteriosa. Willberg e Forssman (2007, p. 74–76) apresentam
de escolher a família tipográfica, o designer deve entender duas escolas de pensamentos em relação a melhor escolha
a composição no campo da página, verificando os limites de tipos: letras com formas simples e sem serifa ou letras
de leiturabilidade diante das seguintes escolhas: largura facilmente diferenciáveis, legíveis e com serifa, como os tipos
das colunas, recuos de parágrafos, alinhamento de textos, romanos clássicos. A primeira é pertinente por ser fácil de
espaços horizontais e verticais. Além disso, a decisão da copiar pela criança e a segunda por ser fácil de reconhecer.
fonte deve ser justificada a partir das questões:
A tipografia também deve facilitar a soletração, já que, no
- qual o tema do livro; caso da criança não reconhecer a palavra, ela repetirá cada
- quem o escreveu; letra com a finalidade de aprendê-la. Os autores também
- quando foi escrito; explicam quais os cuidados tomados para evitar problemas
- como será composto ou impresso; de legibilidade com o leitor infantil. É necessário observar se
- para quem foi escrito; as letras têm formas que as diferencie, mesmo que espelhadas,
- se será traduzido para outros idiomas; pois é difícil para os leitores iniciantes distinguirem sua
- se há um texto único ou várias vozes; posição correta. As letras também devem ser claramente
- se a obra inclui histórias marginais independentes; distintas entre si, porque é difícil reconhecê-las no caso de
- se haverá paratextos; serem iguais ou com uma diferença pequena, como é possível
- quais os custos de produção; observar nas letras “i”, “j”, “I”, “l”. As letras também não
- qual o papel; devem parecer uma terceira letra, se próximas uma da outra.
- a impressão e a encadernação, entre outras perguntas Por fim, as proporções das letras com ascendentes devem
relevantes a cada projeto. ser diferentes para não confundi-las, como com o “n” e o
“h”. Além desses cuidados, os autores também alertam
Ademais, ao que se refere à legibilidade, Araújo (1986, p. sobre algumas outras cautelas em diagramar o texto no livro
318) explica que ao escolher uma fonte “[...] se deve julgar os infantil. Por exemplo, a crença que letras nessas obras devem
brancos interno e externo da letra em conexão com o formato ser grandes está errada, porque o leitor teria dificuldade em
e a espessura dos olhos, das hastes e — se for o caso — das focar nas palavras dependendo da sua proximidade com o
serifas dos tipos”. Também, deve-se levar em consideração livro. Outras recomendações referem-se ao comprimento de
a relação do formato da página e dos seus brancos marginais, linha, estabelecendo o máximo de 50 caracteres, quebra das
interlineares e interlaterais com o corpo do tipo, e ainda não linhas não deve interromper a interpretação, mantendo as
escolher um tipo por considerá-lo bonito, e sim, escolher palavras inteiras, além do espaço das entrelinhas ser grandes o
uma família tipográfica que contenha o que for necessário suficiente para o leitor poder focar em uma linha de cada vez.
para o projeto. 33
11. O termo “infantil”, segundo Durante um levantamento de campo, em que se pesquisou 5.5 Capa
Rumjanek (2008), se dá quando publicações infantis em livrarias de Natal, observou-se nos A capa geralmente é a última etapa do projeto gráfico de um
o formato da letra é simplificado, livros uma não uniformidade quanto a escolha tipográfica, livro. Após todas as escolhas anteriores é necessário criar uma
mais próximo do desenho das nem mesmo a presença ou ausência de serifa. Cada obra adota capa que esteja coerente com o conteúdo. Powers (2008, p. 9)
letras em itálico. a fonte que melhor serve para unificar a totalidade do projeto afirma que “a capa é parte integrante da história de qualquer
Ex: a (romano) e a (infantil), g e g. gráfico, seja pelas ilustrações ou pela legibilidade. livro, e a sobrecapa, em particular, nos permite visualizar
o que o primeiro comprador teria levado para casa, dando
Estudos reunidos por Rumjanek (2008 e 2010) e Lourenço por sua vez uma pista sobre o impacto que o editor desejava
(2015), discutem questões de legibilidade, leiturabilidade e causar nos leitores.” Ele também descreve que as capas dos
preferência de desenho de fontes para crianças. Os estudos livros para crianças podiam ser criticadas por serem atrativas
estão divididos no estudo do desenho de tipos e na pesquisa demais, roubando a atenção do que realmente interessa, seu
de opinião com crianças brasileiras e alfabetizadas, abordando texto. Contudo, o autor observa que uma capa produzida
por exemplo, o uso de famílias tipográficas com ou sem serifa para criança tem mais funções do que proteger o miolo do
em textos voltados para crianças e aplicação de desenhos de livro e informar o leitor. Uma boa capa pode atrair e dar
letras romanas ou infantis 11. Os pesquisadores verificaram uma amostra do conteúdo da obra, além de adquirir valor
também a fluência de leitura nas quebras de linhas e na afetivo que é associado com a história. O autor também
hierarquia de pesos em diferentes materiais impressos. Eles alerta que muitas das capas contemporâneas carecem do
chegaram num resultado com muitas variações de opinião, mesmo cuidado projetual que havia na época em que “[...] era
atribuídas ao número da amostra de crianças e de suas exigido um nível maior de habilidade e engenhosidade para se
idades. Eles concluíram que crianças na faixa etária entre obterem cores claras e vibrantes, letras manuscritas ou papel
7 a 11 anos conseguem ler tanto letras serifadas quanto sem texturizado agradável ao tato” (POWERS, p. 10).
serifa e só apresentam erros de leitura e estresse visual se o
corpo da letra for muito reduzido. Van der Linden (2011) também enfatiza a capa como um
lugar explorado pelo marketing, sendo o primeiro contato
Além das ilustrações e do texto narrativo, deve-se levar entre o leitor e o livro. A capa pode evocar pistas do que será
em consideração os paratextos do livro, se vão seguir a mesma lido, além de ressaltar o uso criativo que pode haver entre
tipografia de dentro do livro ou ser diferente. Como um livro a primeira e a quarta capa, a fim de criar uma composição
ilustrado difere de um livro com texto para o público geral, completa ao invés de tratá-las como duas partes separadas.
vários desses elementos podem ser descartados, como por
exemplo, o uso de um sumário de capítulos ou mesmo os Em função das considerações acima descritas, para
fólios. As únicas partes obrigatórias são a capa de rosto e o projeto da capa do livro ilustrado autoral será levado
os dados técnicos. em conta o projeto gráfico do miolo associado às várias
experimentações gráficas.

34
5.6 Produção gráfica Acabamento
A produção gráfica se refere aos processos de impressão O acabamento é pensado junto ao projeto gráfico e é a
e acabamento. Como desde o início houve a intenção de última etapa de produção na gráfica. Por ser considerado
produzir um livro mais próximo da realidade editorial um enobrecimento ao produto e ainda hoje necessitar de
nacional, a pesquisa apontou a impressão offset como a mais uma mão de obra manual, o acabamento eleva o custo de
adequada, por sua utilização em grandes tiragens de livros, produção do livro, por isso poucos processos são aplicados
principalmente os infantis, pela facilidade de impressões no mercado editorial, entre os mais recorrentes temos faca
detalhadas de ilustrações em vários suportes. Segundo Buggy especial, vinco, verniz e laminação.
(2012, p.8), “O offset é um sistema de impressão capaz de
reproduzir grafismos de várias cores em escala industrial nos No caso do livro ilustrado autoral, dificilmente será aplicado
mais diversos suportes. Consideram-se suportes substratos algum acabamento gráfico durante a criação dos modelos,
como: lâminas plásticas e metálicas, tecidos e papéis que pois há a preocupação do custo da produção local, o que
possam receber textos e/ou imagens”. A impressão offset é distancia da proposta inicial, um livro viável no mercado
indireta e utiliza matrizes planas, por isso é conhecida como brasileiro e por isso este tema não será explorado neste
processo planográfico. É necessário uma matriz diferente momento. No entanto, a encadernação é um item importante
para cada cor e por meio de um processo químico a tinta de acabamento.
se transfere para o suporte.
Encadernação
Segundo Bann (2010), as vantagens desse processo são: Após a impressão, é necessária a encadernação para que
boa reprodução de detalhes e de fotografia, a superfície de se configure um livro. No caso do ilustrado, o designer deve
impressão é de baixo custo para tiragens acima de mil cópias, pesar o custo e o leitor. Foi observado em visitas às livrarias
o ajuste da máquina é rápido e a blanqueta de borracha que as encadernações mais recorrentes nas obras ilustradas
permite o uso de uma variedade de papéis. Por outro lado, são grampos, costura ou cola. Bann (2010) descreve cada
suas desvantagens são: as variações que podem ocorrer um desses tipos:
nas cores durante as tiragens, o processo umedecedor pode
deformar o papel, a cobertura de tinta mais densa pode ser Costura com arame ou grampo: usada para brochuras ou
difícil de alcançar e há uma restrição de formato em virtude revistas e publicações mais finas. Pode ser lombada canoa,
do corte fixo nas impressoras offset planas. onde os cadernos dobrados são posicionados na ordem
correta e grampos de arame são inseridos através da lombada.
Também existe a grampeação lateral, usada para publicações
mais espessas ou com mais de um caderno, os grampos são
colocados na lateral da lombada, entretanto é impossível
abrir este livro completamente e deixá-lo plano sob uma
superfície, além disso, essas encadernações não permitem
texto na lombada, o que se torna menos recomendável
para o livro proposto. 35
fig. 35 Encadernação sem costura (perfect binding) ou miolo 5.7 Análise de obras publicadas
Capa e páginas de Orie (2014). colado: pode ser utilizada em brochuras, revistas ou capas Para observar materiais e formatos, foi realizada uma
duras. As páginas são alceadas na ordem e então refiladas e pesquisa com livros ilustrados infantis, principalmente os que
fig. 36 coladas diretamente na capa, usando cola de P.V.A., adesivo se encontram na lista de melhores livros infantis em revistas
Capa e página de Selvagem (2015). termosoldável ou resina de poliuretano (P.U.R.) e depois são eletrônicas e na premiação Jabuti. Os livros foram separados
refilados novamente para acabamento. Há vários métodos pelo tema, público-alvo, formato e número de páginas. Dessa
fig. 37 para essa encadernação: encadernação perfurada (burst lista, foram escolhidos três títulos que mais se assemelham ao
Capa e página de binding) que utiliza furos na lombada para penetração de tema e estilo do presente trabalho e foi construído um quadro
A pior princesa do mundo (2012). cola, encadernação serrilhada (notch binding) na qual o sintético com as principais informações para entender o design
miolo é adesivado à lombada, ficando mais resistente, sendo do livro ilustrado.
mais barata que encadernados costurados, e encadernação
puncionada (slot binding). Perfect binding é um método Orie fig. 35
relativamente mais barato que a costura. Esse livro é uma autobiografia da
autora com lembranças de infância.
Encadernação costurada: É mais cara, mas é melhor para Pode-se observar, por ser produção
papéis mais duros e pesados, pois torna possível abrir o nacional, que a encadernação é uma
livro sem danificar a encadernação, sendo indicado para brochura sem costura, o uso de cor
produtos que serão muito manuseados. Para essa maneira é limitado com técnicas tradicionais.
de encadernar, os cadernos são alceados e depois costurados A diagramação utilizada é a
à lombada por fios e, a seguir, coloca-se os cadernos lado dissociativa, com imagem vazando
a lado e outro fio é passado entre eles para formar o miolo. para as duas páginas. (fig. 35)
Há vários modos de se costurar o livro e também pode-se TÍTULO: Orie
usar adesivo na lombada para fixar melhor o miolo. A costura AUTOR: Lúcia Hiratsuka
lateral é bastante utilizada para livros infantis entre 16 a 32 ILUSTRADOR: Lúcia Hiratsuka
páginas, com um único fio na lombada e um único caderno. ENCADERNAÇÃO: Perfect binding
Essa encadernação tem um acabamento profissional, mas FORMATO: Paisagem, 19cm x
deve-se observar o quanto encareceria o processo. 24cm x 1cm
CAPA: Brochura
MIOLO: 52 páginas
TÉCNICA: Traço e colorização
tradicionais com lápis, com um
estilo de gravuras japonesas.
TIPOGRAFIA: Serifada
TEMA: personagem feminina,
autobiográfico, infância
36
Selvagem A pior princesa do mundo fig. 36
Esse livro é uma história sobre uma Uma história cômica sobre uma
menina que cresce na selva até ser princesa que sonhava ser resgatada
encontrada por outros humanos, em por um príncipe e após a realização
seguida ela é levada para a cidade e desse sonho descobre que ser uma
os surpreende pelos seus modos não princesa comum é mais entediante
convencionais, enquanto sente falta do que parecia, com isso toma ação
da floresta. O livro é uma produção para mudar sua vida e conhece um
internacional, e tem o acabamento amigo improvável em um dragão.
mais caro que os outros dois, tem a Contada de forma narrativa e
capa dura e a lombada é costurada rimas, esse livro também é uma
com tecido. A diagramação é produção estrangeira, como no
associativa, mas também usa a caso de Selvagem, e tem capa dura fig. 37
dissociativa. (fig. 36) e encadernação sem costura. A
TÍTULO: Selvagem sua diagramação é integralmente
AUTOR: Emily Hughes associativa. (fig. 37)
ILUSTRADOR: Emily Hughes TÍTULO: A Pior Princesa do Mundo
ENCADERNAÇÃO: Com costura AUTOR: Anna Kemp
FORMATO: Paisagem, 23,6cm x ILUSTRADOR: Sara Ogilvie
27,4cm x 1cm ENCADERNAÇÃO: Sem costura
CAPA: Capa dura com finalização FORMATO: Retrato, 26,2 cm x
em tecido 24,4 x 1cm
MIOLO: Papel offset, 40 páginas CAPA: Capa dura
ILUSTRAÇÃO: Traço tradicional, MIOLO: Papel offset, 32 páginas
colorido digitalmente, paleta TÉCNICA: Traço tradicional,
limitada, cor desaturada e contém colorido digitalmente, paleta de cor
um estilo cartunesco. saturada, tem um estilo cartunesco.
TIPOGRAFIA: Serifada TIPOGRAFIA: Serifada
TEMA: personagem feminina, TEMA: personagem feminina,
personagens animais, adaptação adaptação à situação, rebeldia,
à situação, rebeldia, aceitação aceitação, desconstrução de
da natureza. papéis de gênero, maturação da
personagem, personagens fantásticos

37
6 CRIAÇÃO DO LIVRO ILUSTRADO INFANTIL Experimentação: produzir modelos com a finalidade de
Este capítulo relata as descobertas e as experimentações tanto experimentar diferentes estilos e técnicas de ilustração,
da narrativa verbal quanto da gráfica para o projeto do livro. composições, cores e tipografia.
Como parte da criatividade, segundo o método de Munari
(1981), foi necessário fazer a pesquisa e a experimentação Modelo: criar modelos, em escala, para observar e avaliar
concomitantemente, por isso muitas das escolhas adotadas a consistência gráfica e legibilidade dos textos.
foram descobertas durante o processo.
Verificação: observar a leitura junto ao público de interesse,
6.1 Metodologia aplicada ao livro ilustrado o que não ocorreu por falta de tempo.

Problema: desenvolver um livro ilustrado para o leitor em Modelo final: produzir um protótipo com as especificações
processo. de produção.

Definição do problema: produzir um livro em que a relação Solução: criar uma narrativa adequada ao leitor em processo,
de texto e imagem seja complementar e que uma criança a partir do gênero fantástico. Utilizar textos concisos e
de 8 a 9 anos consiga entender a história. ilustrações de paleta cromática em tons pastéis.

Componentes do problema: projetar entendendo o público-


alvo, escrever um roteiro que complementem as imagem, 6.2 Tema para a narrativa do livro ilustrado
desenvolver um projeto de custo reduzido e escolher família A narrativa trata da aventura de uma sereia de 7 anos
tipográfica adequada ao público-alvo. chamada Selina. A opção por narrar um conto de fadas está
alinhado ao interesse da criança para uma história pautada
Coleta de dados: selecionar referências para compreensão do na fantasia. A história foi parcialmente inspirada pela pequena
objeto de estudo, do público-alvo e dos parâmetros de design. sereia e os próprios interesses da autora.
Pesquisar livros similares e inspirações visuais.
Tanto a história quando as ilustrações foram desenvolvidas
Análise de dados: realizar revisão bibliográfica e sistematizar pela autora do trabalho. Segundo Nikolajeva e Scott (2011,
os dados técnicos de livros infantis selecionados. p.49), o autor que escreve e ilustra uma história é denominado
autor ilustrador. Esse tipo de autoria é ideal para um livro
Criatividade: iniciar a produção e colocar em prática ilustrado, entendendo que nessa categoria de publicação
as ferramentas criativas a construção de significados depende da junção do texto
e da imagem, assim o maior controle sobre o conteúdo é
Materiais e Tecnologia: pesquisar tipos de papel para capa
e miolo, bem como processos de impressão, encadernação e
acabamento.
38
benéfico para a obra. As autoras também descrevem, que A história deve manter seu interesse por meio da mudança 12. Alguns exemplos dados pelo
decisões partem de uma só pessoa e, dessa forma, diminuem a de “valores”, dentro dos eventos que ocorrem na narrativa. autor são: amor/ódio, bem/mal,
“ambiguidade e incerteza na legitimidade da interpretação”. Valores são o tom da narrativa, expressos de forma binária 12, tédio/interesse.
do positivo para o negativo e vice-versa. Isso é importante
Segundo Van der Linden (2011), não há um estilo, formato para determinar a importância de cada cena da história, 13. No original de McKee (2010):
ou suporte exclusivos para um livro ilustrado. Desta maneira, se não ocorrer nenhuma mudança, McKee (2010) sugere archplot, antiplot e miniplot.
foram experimentados alguns tipos de ilustrações: tradicionais a eliminação ou modificação da cena. Além disso, o autor
e digitais. Além disso, o formato e o suporte deveriam ser acredita que narrativas devem ser movidas por escolhas dos 14. Historicamente, corsários foram
decididos junto a produção das imagens. O desenvolvimento personagens e não coincidências, dessa forma os eventos indivíduos contratados por governos
e o ritmo da história são discutidos no tópico sobre a criação ocorrem por meio de conflito. Para a ocorrência desse conflito, em períodos de guerra por meio
do roteiro. o autor apresenta diversas estruturas para a narrativa, da “Carta de corso”. Seu objetivo
que podem ser clássicas, anti-narrativa ou mini-narrativa 13. era abordar navios mercadores
6.3 Criação do roteiro de outras nações para desestruturar
Antes de iniciar a construção do roteiro foi necessário Conforme a classificação de Mckee (2010), acima exposta, sua economia. Eventualmente
entender quais são as partes que compõem uma narrativa a estrutura narrativa de “Corsários e Sereias” segue uma a prática foi encerrada graças
e quais as questões norteadoras. Desta maneira foram estrutura clássica: ao número de corsários que se
utilizados McDonald (2010) e McKee (2010) como voltavam à pirataria.
fundamentos. Apesar de ambos autores trabalharem com Causalidade: as decisões tomadas pelas personagens
a criação de roteiro para filmes, eles servem de base teórica conduzem a narrativa.
para entender a estrutura e o conteúdo narrativo para
quaisquer suportes. As sereias decidiram fugir e como consequência Selina se
perde. No final, Selina canta, o que permite que os corsários 14
A partir de McKee (2010) extraiu-se os termos técnicos passem pelo Reino do Vapor sem serem detectados.
e os princípios básicos para construção de um roteiro.
Uma narrativa bem construída deve passar uma mensagem Final fechado: um final único que feche todas as questões
clara ao leitor. Para isso, o autor da história deve conhecer levantadas na narrativa.
as limitações que existem e quais são as configurações
do mundo em que se passa a história. O autor antes de Selina reencontra sua família, faz amizade com os corsários e
iniciar uma narrativa deve ter em mente: onde se passa todos vivem em paz.
os eventos, o período histórico (ou equivalente de fantasia),
o tempo de duração (se é a vida toda de um personagem
ou um momento), os personagens em si e o tipo e o nível
do conflito que ocorre, para, dessa forma, limitar o ambiente
em acontece toda a narrativa.

39
15. Exercícios de escrita e Tempo linear: os eventos ocorridos podem ser traçados um Além da teoria de como funciona a estrutura, McKee (2010)
imaginação para utilizar na criação após o outro, sem cortes para o que Nikojaleva e Scott (2011) também fornece exemplos de como construir o protagonista
de narrativas. descrevem como analepses (retrospecto ou flashbacks) e ativo de uma narrativa. Um personagem atuante deve ter um
prolepses (antevisão ou antecipação). desejo consciente e um desejo inconsciente, o que contradiz
16. No original de o desejo anterior. Assim, deve seguir seu objeto de desejo,
McDonald (2010): armature A jornada de Selina pode ser descrita linearmente, ela mora ter a chance de obtê-lo e chegar aos limites para conseguir
com a família, todos fogem, Selina se perde, ela encontra o que quer, conduzindo a história a um desfecho absoluto
os corsários, eles procuram a família de Selina e todos se e irreversível, se comparado ao começo da narrativa. Além
reencontram. Também não há narrativas secundárias. disso, deve ser possível entender os desejos do protagonista.

Conflito externo: os eventos acontecem ao personagem, mas o McDonald (2010) recomenda o uso de “ferramentas
intúito narrativo não é a descrição psicológica da personagem. criativas” 15 para construir uma mensagem central na
O conflito da história é Selina reencontrar a sua família. narrativa. O autor defende que as histórias mais fortes sempre
têm um tema ou uma situação que ditarão a construção
Único protagonista: a história é centrada em um personagem narrativa, o que ele chama de “espinha dorsal” 16, e tudo
principal. Selina é a única protagonista e os outros deve ocorrer para torná-la coesa. A “espinha dorsal” deve
personagens são coadjuvantes. transmitir uma emoção para o leitor. Além disso, ele defende
que, em histórias, a emoção é mais importante do que a
Realidade consistente: no ambiente apresentado da narrativa lógica. Ele descreve ainda, que a estrutura básica deve ser
tudo parece plausível, nada muda subitamente. dividida em três atos maiores, e esses se fragmentam em
momentos menores.
Sereias tem poderes de mudar o clima, mas não podem voar,
ou se teleportar. O roteiro parte da divisão em atos defendida por McDonald
(2010). O primeiro ato apresenta o mundo em que se passa
Protagonista ativo: a personagem decide o que fazer, não é a história e os seus personagens. No segundo ato, ocorre uma
controlada pelo que acontece ao seu redor. complicação, que modifica a vida do protagonista e introduz
uma questão que deve ser respondida. No terceiro ato a
Selina decide subir à superfície e aceita a ajuda dos corsários. história, tem seu fim e a vida do protagonista se modifica
para sempre.

40
No caso de “Corsários e Sereias”, são apresentados reinos Outras ferramentas sugeridas por McDonald (2010) incluem: 17. No original de
(o Reino do Vapor e o Reino das Fadas), para ambientar dor de rito de passagem 17, que é exercida ao encontrar o McDonald (2010) ritual pain.
a narrativa em um mundo fantástico, em seguida são maior defeito do personagem e ao permitir que eles façam
apresentadas as sereias que vivem no mar e controlam o escolhas que os tornem melhores; e, inferno pessoal 18, que 18. No original de
clima. O segundo ato inicia-se quando a protagonista se os coloca diretamente em frente ao seu medo para que o McDonald (2010): personal hell
perde da família enquanto escapam do Reino do Vapor e, na enfrente. No roteiro de “Corsários e Sereias”, a protagonista
sequência, é encontrada por corsários dos Reino das Fadas, é uma sereia que quer ficar para sempre com sua família
nessa história, corsários são mercenários contratados por no conforto de seu lar, mas ao ser forçada a mudar de casa,
uma nação sem grande poder naval, e servem, entre outros ela se perde da família. Assim, ela é colocada em frente aos
propósitos, para patrulhar. No terceiro ato a protagonista e obstáculos: conviver com estranhos e modificar sua rotina.
os corsários escapam do Reino do Vapor e reencontram as
sereias. Dentro dos três atos é possível dividir a história em Diante dos conceitos acima explicados, no roteiro da história
sete etapas, demonstrados a seguir: “Corsários e Sereias”, foram realizadas quatro versões até a
versão final. O primeiro esboço (APÊNDICE A) foi a estrutura
1. Era uma vez: uma sereiazinha que vivia com sua família. narrativa, que descrevia os acontecimentos, mas não foi a
2. Todos os dias: ela cantava com sua mãe para mudar treinar versão final ser impressa. A segunda versão (APÊNDICE B)
seus poderes. serviu de base para as imagens, levando já em consideração
3. Mas um dia: o reino vizinho se zanga com o poder delas. o número de páginas da história. Esta versão seguiu um
4. E por isso: as sereias fogem e a sereiazinha se perde. caminho puramente descritivo, sem levar em consideração
5. E por isso: a sereiazinha é encontrada por corsários e viaja com eles. que o livro ilustrado deve ter diferenças entre o texto e as
6. Até que finalmente: as sereias se reencontram num lugar seguro. imagens. Por isso, a terceira versão (APÊNDICE C) levou em
7. Desde aquele dia: as sereias e os corsários se tornam amigos. consideração contrapontos de gênero, de espaço e tempo,
além da narrativa centrada na personagem Selina, permitindo
As questões levantadas para a história quando a sereia se que as decisões da personagem conduzissem a narrativa.
perde da família e encontra os corsários são: “será que eles Depois de o texto ter sido reescrito pela quarta vez, houve
vão ser amigos?” e “será que ela vai reencontrar a família?” maior refinamento de palavras e reiteração alguns termos já
utilizados, por exemplo a utilização do nome da personagem,
e algumas cenas redundantes foram removidas.

41
Fig. 38 Fig. 39
6.4 Processo de desenvolvimento das ilustrações

Estudos de personagens
Muitos ilustradores, especialmente, os em início de carreira,
costumam experimentar diferentes técnicas de ilustrações,
utilizando tanto as tradicionais quanto as digitais. Durante
o processo investigativo são avaliadas quais as ilustrações
que melhor representam o tema. Eles utilizam ainda modelos
preliminares e os espelhos como ferramentas de controle que
os auxiliam a visualizar se o estilo das ilustrações e os padrões
gráficos estão coesos ao longo do volume.

A história já havia sido imaginada anteriormente, então


houve um desenvolvimento de personagens (fig. 38– 43).
Esse design se desenvolveu desde 2012 de forma orgânica,
Fig. 41 com novos personagens sendo adicionados, retirados ou
Fig. 40 modificados. Alguns elementos foram fechados para melhor
leitura da forma e silhueta dos personagens, que são essenciais
para a diferenciação entre eles, mas ainda é possível modificar
cada personagem, adicionando ou subtraindo, desde que
possibilite melhor expressar as ideias da história.

42
Fig. 42

fig. 38
Selina, aquarela e nanquim,
junho de 2012

fig. 39
Selina, aquarela e nanquim, 2012

fig. 40
Fig. 43 Sereia, digital, 2013

fig. 41
Corsários e Selina,
aquarela e nanquim, 2014

fig. 42
Esboços de capa,
lápis e aquarela,
novembro de 2014

fig. 43
Testes para o livro ilustrado,
Selina (da esquerda para direita)
digital, aquarela, guache, lápis de
cor e lápis hidrocor, março de 2017

43
fig. 44 Storyboards e Espelhos Durante este período, foram feitos os testes de cenário,
Storyboards em sketchbook A6. O primeiro esboço de roteiro começou em um caderno analisando a necessidade da integração entre a composição
pequeno, sem a preocupação com o formato e técnicas dos espelhos, a imagem e o texto. Para os cenários,
fig. 45 de ilustração (fig. 44). A partir desses desenhos, criou-se algumas coisas já haviam sido definidas anteriormente,
Primeiro espelho desenhado possíveis frases para as passagens e foram selecionados como a aparência do Reino das Flores (fig. 46) e como seriam
detalhes que deveriam ser incluídos nas ilustrações. os navios, mas as cavernas marítimas das sereias precisavam
fig. 46 Num segundo momento de reflexão, debruçou-se sobre ser definidas melhor. Por isso, fotos de caverna e como elas
Estudo de cenário, a composição (legibilidade da imagem e das ações da funcionam foram pesquisadas (fig. 47). As praias fizeram
Reino das Flores, 2015 narrativa), a mensagem (quanto deveria ser falado), o tom parte de uma pesquisa anterior, por meio de fotos e desenhos
(como deveria ser falado) e o ritmo (como a história estava in-loco. (fig. 48)
fig. 47 sendo desenvolvida em relação às ilustrações anteriores e
Fotos de cavernas marítimas. posteriores). Essas ilustrações serviram como storyboard, fig. 44
por desenvolver a progressão das cenas do livro ilustrado.
fig. 48
Estudo de cenário, Nos storyboards as cenas foram feitas soltas, sem levar em
praia de Maxaranguape, 2014 consideração a composição em relação à página e tamanho
finais, sendo desenhadas em vários ângulos, para decidir como
contar a narrativa de forma mais adequada. Isto faz parte
do processo de decisão envolvido na criação da narrativa.
Em algumas cenas o texto ajudou a definir o texto e em
outras o texto foi modificado para se adequar à imagem.
Depois houve o ajuste das ilustrações em relação à
composição das páginas (fig. 45), o tamanho final foi
decidido em 32cm x 21cm, impressos em folhas 33cm x 24cm.
Essa decisão foi tomada em relação ao aproveitamento de
papel da gráfica. Em seguida, foram feitos os espelhos e a
primeira contagem de páginas, chegando a 30 páginas duplas.

44
fig. 45a fig. 45b fig. 46

fig. 47 fig. 48

45
fig. 49a fig. 49b

fig. 49c fig. 49d

46
fig. 49e fig. 49f fig. 49
Segundo espelho, em escala maior,
testando a posição do texto e
composição da imagem.

fig. 49g fig. 49h

47
fig. 50

fig. 51

48
Ilustrações e cores fig. 52 fig. 50
Durante o processo, foram feitos um storyboard e três Modelo A3
espelhos: o primeiro para contar as páginas, o segundo em
tamanho maior e o terceiro simplificado para o teste de cores. fig.51
O primeiro esquema cromático foi inspirado no trabalho Estudos de cores e ambientes
de Eva Furnari (fig. 52), em que a ilustradora utiliza blocos
de cores indicados em quadradinhos. Porém, o uso não foi fig. 52
eficiente, então foram testadas as cores ao lado dos quadros Tirado do site pessoal da autora
simplificados do terceiro espelho, que foram esquematizados Eva Furnari. www.evafurnari.com.b
como sugerido por Mateu-Mestre (2010) para visualização
geral da ilustração (fig. 53). fig. 53
Teste de cores em lápis de cor
Depois disso, foram feitos os testes dos esquemas cromáticos
em aquarela (fig. 54), que é uma técnica na qual a autora tem fig. 54
maior prática. Os esquemas das cores foram decididos usando Teste de cores em aquarela
3 cores de base mais o branco, fornecendo uma paleta com
maior complexidade tonal. Essa técnica utilizado por Gurney fig. 55
(2010), é chamada de gamut mapping, e oferece uma paleta Gamut Mapping de Gurney (2010)
limitada com variação de gama, saturação e valor. (fig. 55)

fig. 53 fig. 54 fig. 55

49
fig. 56 Durante o processo, notou-se que a inexperiência em conduzir fig. 56
Exemplo de ilustração com base em este tipo de trabalho causou um atraso no cronograma
grafite, seguido de aquarela. inicialmente proposto e, consequentemente, as ilustrações
ficaram menos refinadas do que inicialmente planejado.
fig. 57 Algumas das ilustrações chave, das mais simples para as
Progressão do método com lápis mais complexas, foram finalizadas primeiro para servir
aquarelável, nanquim e aquarela. de exemplo para as outras e para planejar a progressão de
cores. Para maior qualidade das ilustrações, foram estudadas
fig. 58 algumas maneiras de ilustrar (fig. 56–58). A primeira foi
Ilustração final, com retoque digital. com lápis grafite, seguido da pintura e depois das linhas em
nanquim, mas o lápis marcava o papel pela maciez do grafite
fig. 59 usado. Então foi usado o lápis colorido aquarelável, para que
Ilustrações das páginas completas. dissolvesse com a aquarela e depois disso foram adicionadas
as linhas em nanquim. Essas primeiras ilustrações ajudaram
a determinar qual era o processo, dentre todos os executados,
mais rápido. Foi observado então, que o ideal seria o lápis
aquarelado, segundo do nanquim e por fim, a pintura em
aquarela. Em seguida os detalhes finais foram feitos com lápis
aquarelável, guache ou giz.

fig. 57 fig. 58

50
fig. 59

51
fig. 60
fig. 60 Finalização do arquivo e tipografia
Exemplo de página diagramada Após a finalização das ilustrações, elas foram escaneadas,
depois tratadas e ajustadas digitalmente (fig. 60).
fig. 61 O texto foi adicionado em um programa editorial e a
Capa final do modelo. tipografia foi decidida seguindo qual seria a adequada à faixa
etária. Optou-se pela fonte Sabon por seu uso em diversos
livros e pela legibilidade, utilizando a altura de corpo 18
e a entrelinha 20. A composição das imagens ocupa o campo
todo da página, sendo que foi planejado espaços com respiros
para a composição do texto. Deste modo, a diagramação
do texto não obedeceu a um grid, usando a diagramação
associativa, ocupando os espaços das ilustrações.
O arquivo então foi fechado em PDF.

A capa foi criada para mostrar a sereiazinha brincando


e o título do livro foi fechado em Corsários e Sereias.
Ainda foram considerados outros nomes, por causa
das implicações negativas do termo corsário: A Jornada
de Selina, A Viagem de Selina e A Sereiazinha Perdida.
Corsários e Sereias foi escolhido por resumir os personagens
principais da história, indicando parte da narrativa (fig. 61).

52
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante o processo de pesquisa e redação foi necessário


procurar livros e textos, que se referem ao campo
da literatura infantil. O tempo de apreensão de tal revisão
bibliográfica foi maior do que inicialmente programado,
assim o estudo do design editorial ficou um pouco mais
restrito do que o almejado. No entanto, a leitura do material
específico ajudou a montar a estrutura do projeto e facilitou
a imersão no assunto, especialmente acerca do livro ilustrado.
Nesta fase, foi essencial elucidar o panorama da literatura
infantil, a compreensão do público e o objeto de estudo
no contexto do design editorial.

Ainda foi necessário aprofundar outros assuntos, como em


relação à tipografia e à criação de roteiros, limitando o tempo
de desenvolvimento dos modelos, mas ainda assim todas as
etapas de criação tanto do roteiro quanto das ilustrações
puderam ser concluídas. O processo prático foi importante
para ampliar o registro desse tipo de estudos e também para
adquirir experiência na área editorial infantil. Se o tempo
tivesse permitido a próxima etapa deveria ser testar a história
com o público-alvo e a aceitação dos responsáveis.

No geral, o trabalho serviu o seu propósito de experiência


e experimentações gráficas, apesar do tempo limitado
para sua criação. Foi possível observar, que os métodos
e a pesquisa funcionaram para a criação e desenvolvimento
do projeto. Se por um lado o tempo limitado não permitiu
maior refinamento nas ilustrações e outro detalhes técnicos,
por outro possibilitou um prazo possível para finalizar o
livro. O registro de toda a atividade pode servir para outros
projetos e a autora tem intenção de continuar desenvolvendo
narrativas gráficas no futuro.

53
REFERÊNCIAS

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técnica de editoração. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora Nova painter. Kansas, Missouri: Andrews McMeel Publishing, 2010.
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BANN, David. Novo Manual de Produção Gráfica. Rosari, 2007.
Porto Alegre: Bookman, 2010.
HIGHSMITH, Cyrus. Inside paragraphs: typographic
BUGGY, Leonardo. Produção de Impressos Offset: Guia fundamentals. Massachusetts, Boston: Font Bureau, 2012.
básico para designers. 2. ed. Recife: Serifa Fina, 2012.
HOCHULI, Jost. O detalhe na tipografia. São Paulo: WMF
CADEMARTORI, Lígia. O Que é Literatura Infantil. 7. ed. Martins Fontes, 2013.
1. Reimpressão. Editora Brasiliense, 2006.
LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. Literatura infantil
CHARTIER, Roger; PRIORE, Mary Del. A ordem dos livros: brasileira: história e histórias. 6. ed. São Paulo: Ática, 2007.
leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV
e XVIII. 2. ed. Brasília, D.F: Ed. da UnB, 1994. LINS, Guto. Livro Infantil? Projeto gráfico, Metodologia,
Subjetividade. 2. ed. São Paulo: Rosari, 2004.
COELHO, Nelly Novaes. O Conto de Fadas. 2. ed. São Paulo:
Ática, 1991. (Princípios, 61) LOURENÇO, Daniel Alvares; COUTINHO, Solange Galvão.
Leitura infantil: aspectos metodológicos e avaliativos
COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil: teoria, análise, envolvendo legibilidade e leiturabilidade, p. 1104-1111. Anais
didática. 5. ed. São Paulo: Ática, 1991. (Série Fundamentos, do 7º Congresso Internacional de Design da Informação/
87) Proceedings of the 7th Information Design International
Conference | CIDI 2015 [Blucher Design Proceedings, num.2,
DÍAZ, Fanuel Hanán. Leer y mirar el libro álbum: ¿un género vol.2]. São Paulo: Blucher, 2015.
en construcción? Bogotá: grupo editorial Norma, 2007.
MATEU-MESTRE, Marcos. Framed Ink.
EISNER, Will. Narrativas gráficas: princípios e práticas da Los Angeles, California: Design Studio Press, 2010.
lenda dos quadrinhos. 3. ed. São Paulo: Devir Livraria, 2012.

GIRÓN, Monica Romero. Da literatura à ilustração:


da ilustração à literatura, disponível em <http://www.
revistaemilia.com.br/mostra.php?id=403> acesso 24 de
março de 2016
MCDONALD, Brian. Invisible Ink: A practical guide to PRADES, Dolores. Passado e futuro do livro-álbum. 2016.
building stories that resonate. E-book: Libertary Co, 2010. Disponível em: <http://www.revistaemilia.com.br/mostra.
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Acesso em: 11 out. 2016. RUMJANEK, Letícia. Tipografia para crianças: um estudo
sobre legibilidade.Programa de Pós-graduação em Design da
MCKEE, Robert. Story: Substance, Structure, Style and UERJ, 2009.
the principles of Screenwriting. EPub Edition: HarperCollins
Publisher Inc, 2010. Disponível em: <https://www.amazon. SHULEVITZ, Uri. Writing with pictures. Nova Iorque:
com.br/Story-Structure-Substance-Principles-Screenwriting- Watson Guptill Publications,1997.
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ilustrada. São Paulo: José Zahar Editora, 2002.
MEIRELES, Cecília. Problemas da literatura infantil. 4.ed.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. VAN DER LINDEN, Sophie. Para ler o livro ilustrado.
São Paulo: Cosac Naify, 2011.
MUNARI, Bruno. Das coisas nascem as coisas. São Paulo,
Martins Fontes, 1981. WILLBERG, Hans Petter; FORSSMAN, Friedrich. Primeiros
socorros em tipografia. São Paulo: Rosari, 2007.
NIKOLAJEVA, Maria; SCOTT, Carole. Livro ilustrado:
palavras e imagens. São Paulo: Cosac Naify, 2011. ZILBERMAN, Regina (org). A produção cultural para a
criança: A Criança e a Produção Cultural. 4. ed. Porto Alegre:
PERROTTI, Edmir; ZILBERMAN, Regina (org). A produção Mercado Aberto, 1990.
cultural para a criança: A Criança e a Produção Cultural. 4.
ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1990.

POWERS, Alan; NUNES, Otacílio. Era uma vez uma capa:


história ilustrada da literatura infantil. São Paulo: Cosac
Naify, 2008.
ANEXO A – TABELA DE Título: Max, o corajoso Formato: Paisagem/Quadrado Faixa etária leitor: 4–9 anos Conteúdo: História fantástica
ANÁLISE DE LIVROS Acabamento: Brochura Conteúdo: Personagens Técnica: Nanquim e cores sobre o cotidiano. 32 p.
Proporção: 28 x 21,2 x 0,4cm animais, limitadas. Faixa etária leitor: –
Título: O nascimento de Formato: Retrato reflexões sobre a morte. 32 p. Técnica: Traços em nanquim e
Celestine Conteúdo: Aventuras de um Faixa etária leitor: – Título: Na terra do nunca outras cores.
Acabamento: Brochura gato. 32 p. Técnica: Digital, parece jamais
Proporção: 17x23x1cm Faixa etária leitor: 3–8 anos colagem. Acabamento: Brochura Título: O livro com um
Formato: Paisagem Técnica: Digital com texturas. Proporção: 27,5 x 21 x 2cm buraco
Conteúdo: Personagens Título: A raiva Formato: Retrato Acabamento: Capa dura
animais, história de como se Título: Uma pergunta tão Acabamento: Capa dura Conteúdo: Coletânea de Proporção: 32 x 27 x 1,4cm
conheceram. 175 p. delicada Proporção: 25,4 x 20 x 0,5cm histórias, contos e folclores. Formato: Retrato
Faixa etária leitor: 9 anos + Acabamento: Brochura Formato: Retrato 256 p. Conteúdo: Livro brinquedo.
Técnica: Aquarela e nanquim. Proporção: 29,7 x 21 x 1cm Conteúdo: Reflexão sobre Faixa etária leitor: – 96 p.
Formato: Retrato sentimentos dentro do Técnica: Tradicional, Faixa etária leitor: 3–6 anos
Título: Uma festa de Cores Conteúdo: Reflexões sobre a cotidiano. 40 p. aquarela. Técnica: Nanquim.
Acabamento: Capa dura vida. 32 p. Faixa etária leitor: – Obs: Livro com ilustrações
Proporção: 24,5 x 22 x 0,8cm Faixa etária leitor: – Técnica: Ilustração digital e Título: Pequena coisa
Formato: Retrato Técnica: Traço tradicional colagem. Título: Gorila gigantesca
Conteúdo: Sobre cultura Acabamento: Brochura Acabamento: Capa dura
brasileira e o tecido chita. 48 Título: Reinações de Título: Pocotó Proporção: 22,2 x28,6 Proporção: 38,4 x 28,2 x 1cm
p. Narizinho Acabamento: Brochura x0,4cm Formato: Retrato
Faixa etária leitor: – Acabamento: Capa dura Proporção: 25 x 25 x 0,3cm Formato: Paisagem Conteúdo: Texto reflexivo
Técnica: Fotos e colagem, uso Proporção: 26 x 20cm Formato: Quadrado Conteúdo: Relacionamento sobre a felicidade. 40 p.
de tecido Formato: Retrato Conteúdo: Personagens entre pai e filha, aventura 32 Faixa etária leitor: 3–8 anos
Conteúdo: Aventura, animais e humanos, Aventura, p. Técnica: Tradicional, tinta,
Título: Orie reflexões. 280 p. humor. 32 p. Faixa etária leitor: – sem traços.
Acabamento: Brochura Faixa etária leitor: 7 anos+ Faixa etária leitor: 6–7 anos Técnica: Litogravura.
Proporção: 19 x 24 x 1cm Técnica: Tinta Técnica: Digital com texturas. Obs: Vencedor do Hans Título: Olhe para mim
Formato: Paisagem Obs.: Livro com ilustrações Andersen Acabamento: Brochura
Conteúdo: Memórias de Título: O bicho alfabeto Proporção: 29,7 x 21 x 1cm
infância. 52 p. Título: A árvore das Acabamento: Brochura Título: Hoje Formato: Retrato
Faixa etária leitor: – lembranças Proporção: 20,6 x 20,3 x 1cm Acabamento: Brochura Conteúdo: Reflexões sobre
Técnica: Lápis de cor Acabamento: Brochura Formato: Paisagem/Quadrado Proporção: 23,5 x 20,5 x família e adoção 44 p.
Proporção: 24,2 x 24,6 x Conteúdo: Poesia ilustrada. 0,2cm Faixa etária leitor: 5–8 anos
0,8cm 72 p. Formato: Retrato Técnica: Tradicional.
Título: Vamos ajudar o Conteúdo: Personagens Título: Joana no trem Formato: Paisagem
Gildo? animais, Acabamento: Brochura Conteúdo: Aventura, reflexão
Acabamento: Brochura aventura. 36 p. Proporção: 23,9 x 25,9 x sobre diferenças, personagens
Proporção: 22x20,5x1,2cm Faixa etária leitor: 2–7 anos 0,5cm animais. 40 p.
Formato: Retrato Técnica: Aquarela. Formato: Paisagem Faixa etária leitor: –
Conteúdo: Livro briquedo. Conteúdo: Personagens Técnica: Traço em ferrametas
12 p. Título: O livro errado animais, metalinguístico, tradicionais e cores aplicadas
Faixa etária leitor: 3 anos + Acabamento: Brochura humor. 52 p. digitalmente.
Técnica: Digital. Proporção: 26,8 x 24 x 0,4cm Faixa etária leitor: –
Formato: Retrato Técnica: Tradicional. Título: Minha professora é
Título: Mel na boca Conteúdo: Metalinguístico, um monstro
Acabamento: Capa dura humor. 32 p. Título: Fases da lua e outros Acabamento: Capa dura
Proporção: 28,4 x 23,4 x 1cm Faixa etária leitor: 2–6 anos segredos Proporção: 28,4 x 22 x 1,2cm
Formato: Retrato Técnica: Tradicional, lápis de Acabamento: Brochura Formato: Retrato
Conteúdo: Reflexões sobre cor Proporção: 23,9 x 21,6 x Conteúdo: Reflexão sobre
família. 40 p. 0,5cm diferenças e amizade, humor.
Faixa etária leitor: 0– 8 anos Título: Bebês brasileirinhos Formato: Retrato 40 p.
Técnica: Tradicional, lápis de Acabamento: Brochura Conteúdo: Biografia, reflexões Faixa etária leitor: 4–6
cor Proporção: 19x19x0,6cm sobre família. 48 p. Técnica: Digital com texturas.
Formato: Quadrado Faixa etária leitor: –
Título: Eu queria ter... Conteúdo: Poesia com Técnica: Tradicional. Título: Pior princesa do
Acabamento: Brochura. ilustrações. 32 p. mundo
Proporção: 31 x 22,8 x 0,6 Faixa etária leitor: 6 – 8 anos Título: A caminho de casa Acabamento: Capa dura
cm Técnica: Tradicional Acabamento: Brochura Proporção: 26,6 x 24,4 x 1cm
Formato: Retrato Proporção: 20 x 20 x 0,3cm Formato: Retrato
Conteúdo: Poesias com Título: Vozes no parque Formato: Quadrado Conteúdo: Aventura, reflexão
ilustrações. 32 p. Acabamento: Brochura Conteúdo: Reflexões sobre gêneros. 32 p.
Faixa etária leitor: 3 anos+ Proporção: 29 x 25 x 0,5cm sobre família, cotidiano e Faixa etária leitor: até 10
Técnica: Tradicional Formato: Retrato sentimentos. 32 p. anos.
Conteúdo: Personagens Faixa etária leitor: 7 anos+ Técnica: Traço tradicional e
Título: Pedro Carteiro animais, aventura por Técnica: Tradicional, pintura. pintura digital.
Acabamento: Capa dura diferente pontos de vistas. 32
Proporção: 20,8 x 26,8 x p. Título: Selvagem
1,2cm Faixa etária leitor: – Acabamento: Capa dura
Formato: Paisagem Técnica: Tradicional Proporção: 23,6x27,4x1cm
APÊNDICES

Apêndice A Apêndice B
Estrutura narrativa Primeiro roteiro

Sereias que controlam o tempo e vivem em cavernas Numa terra muito distante, havia dois reinos
marinhas. Uma sereiazinha se encontra satisfeita com divididos pelo mar.
essa vida e passa o dia todo dentro da sua caverna. O reino Nesse mar moravam sereias.
próximo da praia em que moram (Reino de Vapor) querem As sereias estavam sempre cantando.
que as sereias sirvam o reino e querem estabelecer um controle E seu canto fazia chover ou abria as nuvens.
sobre elas. As sereias tentam fugir, mas se perdem umas das Selina era uma sereiazinha aprendendo a fazer chover.
outras. A sereiazinha se encontra sozinha no meio do mar. Ela e sua mãe treinavam todos os dias.
Ela é encontrada por corsários de outro reino (Reino das Selina gostava da chuva, de dormir e de brincar e queria
Flores). Os corsários e ela embarcam a procura dos pais e ficar daquele jeito para sempre.
desenvolvem laços. No começo ela se incomoda com tudo Mas um dia, um dos reinos, o Reino do Vapor, quis que
no navio, as cores, as comidas, os sons. Depois ela encontra as sereias parassem de cantar.
coisas realmente agradáveis, como o céu, seus novos amigos, As sereias explicaram que não podiam e se recusaram.
músicas e histórias. Os corsários recebem por rádio Elas ficaram preocupadas com a atenção do reino e
a localização de sereias perdidas e vão encontrá-las. Próximo discutiram o que fazer.
ao ponto de encontro surgem navios do Reino de Vapor. Selina não queria se mudar, tudo era ótimo do jeito
Eles se preparam para uma batalha, mas antes que ela ocorra que estava.
a sereiazinha canta para controlar o tempo. Várias outras Mesmo assim, durante a noite elas fugiram.
sereias se juntam a ela e uma tempestade afasta os navios Grandes sombras de barcos passaram por elas.
do Reino de Vidro. A sereiazinha reencontra sua família, As sereias se assustaram, o mar se revoltou e uma chuva
mas promete que um dia voltará aos seus amigos. pesada caiu.
E quando a tempestade passou, Selina se viu sozinha.
Ela sentou numa pedra próxima e chorou.
Um navio do outro reino, o Reino das Fadas, apareceu e
ofereceu ajuda.
Selina embarcou e conheceu os corsários. Juntos começaram
a procurar as sereias.
Eles eram gentis, mas a vida no navio era diferente
de sua casa.
Ela tentou cantar, dormir e brincar como sempre fez, mas não
era a mesma coisa.
Apêndice C
Terceiro Roteiro

Então ela saiu e redescobriu o mundo. 1-2: Em uma terra distante havia dois reinos,
Um dia os corsários descobriram aonde foram as sereias e o Reino do Vapor e o Reino das Flores
saíram para encontrá-las. 3-4: Entre os reinos morava uma família…
A caminho de lá encontraram barcos do reino do vapor… 5-6: Com poderes especiais
Muitos deles… Estavam cercados. 7-8: E lá é que morava Selina.
Selina cantou, desejando uma tempestade 9-10: Selina treinava todos os dias com sua mãe.
As nuvens fecharam, o dia sumiu, o céu desabou. 11-12: Selina gostava de cantar, de brincar e de dormir e
O vento trazia dezenas de vozes, como uivos fazia isso todos os dias.
Quando o céu abriu de novo os navios do reino de vapor 13-14: Um dia, o Reino do Vapor veio com uma ordem
sumiram. 15-16: Selina e sua família não podiam mais usar seus poderes
E lá estavam as sereias! Todos celebraram! 19-20: Selina foi obrigada a abandonar seu lar.
Desse dia em diante, as sereias encontraram um novo lugar 25-26: Houve uma confusão!
para viver. 27-28: Mas quando a confusão passou…
E Selina retomou sua rotina, mas dessa vez, também queria 29-30: Selina não encontrou sua família e foi para superfície.
cantar em outros lugares. 31-32: Então, Selina encontrou os corsários do
Reino das Flores.
33-34: Os corsários ofereceram ajuda para encontrar
sua familia.
35-36: Selina tentou se adaptar ao novo lar.
37-38: A vida no navio era diferente.
41-42: Um dia, ao procurarem a família de Selina,
os corsários encontraram navios do Reino do Vapor
45-46: Enquanto os corsários decidiam o que fazer,
Selina usou seus poderes.
47-48: Assim poderiam atravessar sem ser vistos
51-52: Eles finalmente encontraram o que queriam
53-54: Selina retornou à sua família
55-56: Mas seu lar parecia muito maior.

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