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1 Giovanna Rocha Delela é graduanda em História na Universidade de São Paulo. E-mail para
contato: giovannarocha@usp.br. Ulisses Marques Rocha Franco é graduando em História na
Universidade de São Paulo. E-mail para contato: ulisses.mrf@usp.br.
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1. INTRODUÇÃO
Vivemos no mundo da velocidade, em que a vida é cada vez mais mediada
pelo olhar. Nesse contexto, a imagem ganha força total: holística, é capaz de
transmitir mensagens sintéticas e velozes, rapidamente substituíveis. Fica clara a
necessidade da alfabetização visual, para que a suposta facilidade da imagem não
resulte em contemplação passiva.
Empreendida principalmente através do livro didático, a alfabetização
visual, conceito de D. Dondis (2003, apud OLIM, 2009, p. 99), busca conformar uma
demanda prática da contemporaneidade e uma visão crítica sobre o ensino. É a
alfabetização visual que permite a extração do conteúdo de uma imagem e a
compreensão de sua mensagem de forma integral. O indivíduo capaz de fazer essa
leitura se torna crítico e, logo, muito menos suscetível a armadilhas dos meios de
comunicação de massa, que se utilizam do encantamento da imagem e da
passividade da maioria dos leitores para transmitir conceitos. Logo, uma proposta
de alfabetização visual deve estar expressa desde a elaboração do material didático
até sua utilização na sala de aula.
Ou seja, o trabalho com imagens nos livros didáticos deve ser refletido e
intencional. A utilização da imagem como mera ilustração deve ser superada e a
produção do material deve ser entendida dentro do contexto mercadológico
(BITTENCOURT, 1997, p. 71-3), que se expressa, por exemplo, na progressiva
divisão do trabalho entre o autor e os diversos profissionais que fazem parte desse
processo; nos prazos cada vez mais curtos; nos orçamentos apertados; e na
padronização exigida pelo maior comprador desses livros: o governo. Tudo isso
resulta em um material que não é isento de intencionalidade e um contexto de
produção, contexto esse relacionado à configuração social que o produz e que é
reproduzida na mensagem do livro didático.
Essa mensagem expressa através do livro didático traz a marca dos grupos
sociais no controle da sua produção. Assim, está de acordo com os interesses de tais
grupos, e ao mesmo tempo atende a um público e busca agradá-lo. Dessa forma, é
possível dizer que os materiais didáticos apresentam projetos iconográficos
diversos conforme suas equipes e processos de produção.
2. OS LIVROS DIDÁTICOS
Os livros utilizados fazem parte dos materiais da rede pública de ensino do
estado de São Paulo, e esse foi o primeiro critério para sua seleção. O segundo
critério foi a busca por um material recente, que seja representativo do mercado
atual de livros didáticos. Sendo assim, o primeiro é de 2016 e o segundo de 2014. A
diferença de idade e séries para as quais os materiais foram produzidos é o terceiro
critério: buscou-se analisar dois momentos do processo de ensino escolar, o 7º ano
do Ensino Fundamental II e o 1º ano do Ensino Médio. O livro do 7° ano se chama
"Projeto Mosaico", produzido pela Editora Scipione e assinado por Cláudio
Vicentino e José Bruno Vicentino, e o do 1° ano do Ensino Médio se chama "História
em Movimento", da Editora Ática, com autoria da dupla Gislane Azevedo e
Reinaldo Seriacopi.
Escolhemos para análise capítulos referentes à Alta Idade Média, com foco
no Reino dos Francos. No livro “Projeto Mosaico”, se trata do capítulo “Poder e
Igreja na Idade Média”, da página 30 à 35. Esse capítulo se insere no Módulo “O
Período Medieval: Sociedade, Política e Religião”. Já no livro “História em
Movimento”, analisamos o capítulo “Os primeiros reinos medievais”, da página 162
à 167, dentro da Unidade “Diversidade Religiosa”. Nesse caso, excluímos da análise
a página 164, pois escolhemos outra atividade “Olho Vivo” para analisar.
Verificamos que a reprodução da configuração social feita através do livro
didático opera de diferentes maneiras no Ensino Fundamental II e no Ensino
Médio. Isso quer dizer que há uma tentativa de adaptar-se conforme os
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pressupostos pedagógicos de cada idade, o que fica claro a partir da análise dos
materiais apresentados, pois existem propostas diversas para os diferentes livros.
Essas propostas são materializadas através da presença de maior número de
imagens no material didático de 7º ano, enquanto no livro de Ensino Médio há
maior número de textos e mapas mais densos. Além disso, as propostas de
atividades são de caráter mais exploratório nos materiais das séries iniciais,
articulando conhecimentos prévios dos alunos, enquanto as de Ensino Médio têm
um caráter mais preparatório para o vestibular.
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diferenças entre os dois: por exemplo, o livro “Projeto Mosaico” conta com um
número grande de retratos, sem voltar-se para a análise das formas de
representação de tais figuras históricas. No entanto, vemos que ambos usam
imagens com função ilustrativa, escolhidas mais por representarem o que é dito no
texto do que pelas suas possibilidades de análise.
Além disso, os dois livros usam as imagens para reforçar os pontos principais
do conteúdo. Porém, isso ocorre mais no livro “História em Movimento”, pois as
legendas descritivas repetem o texto corrido em grande medida.
Quando a questão da materialidade é abordada dentro da perspectiva dos
diferentes livros didáticos, ela se mostra praticamente a mesma. Ambos
apresentam problemáticas relacionadas ao tamanho dos livros e ao tipo de papel.
No primeiro caso, as dimensões do livro dificultam seu manuseio, ainda que ambos
os materiais sigam as indicações do PNLD. Quanto ao papel, não há indicação
alguma tanto da gramatura quanto da origem do material, o que vai contra as
orientações do PNLD. Em relação à brochura, há uma diferença: apesar de a
encadernação ser prejudicial em ambos os livros, por impedir que eles se abram
totalmente, ela é mais problemática no livro “História em Movimento”, pois impede
que se veja completamente imagens como a da atividade "Olho Vivo" que
analisaremos.
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técnicas e materiais), auxiliando as discussões levantadas na obra (AZEVEDO &
SERIACOPI, 2014, p. 278). As orientações específicas da seção “Olho Vivo”, por sua
vez, destacam a importância do trabalho com imagens, visando permitir aos alunos
“recursos para compreender como imagens aparentemente ‘neutras’ podem
transmitir valores, ideologias, convencer pessoas, consolidar estereótipos, etc.”
(Ibid., p. 284), o que é muito positivo.
Sobre a configuração das imagens nessas atividades com relação às suas
exposições (tamanho/cor): no livro “Projeto Mosaico”, ambas as imagens são
retângulos que ocupam entre 30% e 40% de suas respectivas páginas, dispostos de
maneira centralizada. As cores das reproduções são contrastantes com o fundo de
cor neutra da folha e a borda das folhas próximas à brochura tem cerca de 1,5 cm,
ou seja, as imagens não ficam “comidas” pela ondulação da costura e colagem da
brochura. Aparecem de forma integral e propiciam a boa observação por parte dos
alunos, mesmo em ambiente mal iluminado.
No livro “História em Movimento”, na seção “Olho Vivo” a imagem é um
retângulo grande que se encontra centralizado entre as duas páginas e que é em
parte prejudicado pela brochura costurada e colada, o que impossibilita a
apreensão total da imagem. A borda superior das páginas é ocupada pelo texto de
orientação e as bordas laterais pelas caixas explicativas. Suas cores e o contraste
com o fundo não são tão evidentes, o que prejudica uma observação em ambiente
menos iluminado ou com sombras.
Já a imagem utilizada para as questões na seção “Interpretando
Documentos” aparece ocupando 9,36% do total da folha. Essa dimensão da imagem
acaba prejudicando uma análise feita pelo aluno com mais qualidade e revela como,
apesar de estar separada da seção “Olho Vivo”, essa seção “Interpretando
Documentos” é dependente das disposições da outra, uma vez que a imagem maior
da primeira seção permite uma melhor visualização de detalhes.
Sobre as relações entre as imagens analisadas e os textos das seções “Olho
Vivo” e “Lendo Imagem”, percebe-se uma posição semelhante em ambos os livros:
apresentam textos que relacionam as imagens da seção especial com o conteúdo
abordado no restante do capítulo em que essa seção se insere. Aparecem também
informações sobre a origem da imagem, o local e a época em que foi feita, a técnica
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De maneira geral, as imagens de ambos os livros nas seções de atividades
podem ser classificadas segundo as funções vicarial e explicativa, mas
principalmente catalisadora, que Olim sistematiza a partir de Rodriguéz-Diéguez
(Ibid., p. 99-100). A função vicarial aparece quando os alunos têm noção de uma
produção artística histórica que tem relação com o período que estão estudando, no
caso, o período bizantino. Ao fazer a sobreposição de caixas explicativas e setas à
imagem apresentada, nota-se que a intenção é exemplificar ideias e relações que
estão ali presentes sem o conhecimento do observador comum; a imagem, nesse
caso, apresenta função explicativa. A função catalisadora é a principal função das
imagens dessas atividades uma vez que são elas as provocadoras da experiência
didática que envolve o aluno e o professor. Ela permite a organização e
exemplificação do conteúdo abordado e cria a situação de prática e memorização
desse conteúdo.
5. CONCLUSÃO
Percebe-se a complexidade de se extrair leis gerais para a elaboração de
livros didáticos que tenham a alfabetização visual presente de forma realmente
coerente em seus projetos iconográficos. Entretanto, ao evitar alguns dos enganos
aqui apresentados acreditamos que seja possível viabilizar um material mais
propenso a esse objetivo.
Em qualquer livro didático em que haja imagens, nos defrontaremos com um
projeto iconográfico. Mas para que esse projeto tenha qualidade de fato, é
necessário que as imagens sejam utilizadas como documento, e não como meras
ilustrações. Para isso, é preciso que essa intenção seja apresentada para o
professor, como ocorre no livro “História em Movimento”, mas também que vá além
e traga reflexões sobre as imagens capítulo por capítulo.
É preciso que as legendas sejam sugestivas, mais do que descritivas, e que
tragam as informações de produção e consumo necessárias para que os alunos as
analisem, algo que é feito com uma frequência um pouco maior no livro “Projeto
Mosaico”. As imagens não podem ser mero reforço do texto, nem ilustrações,
características que estão presentes em ambos os livros e que prejudicam a
alfabetização visual.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZEVEDO, G.; SERIACOPI, R. História em Movimento 1: dos primeiros humanos
ao Estado moderno. 2ª ed. São Paulo: Ática, 2014.
FERRARO, J. R. A produção dos livros didáticos: uma reflexão sobre imagem, texto
e autoria. In: Cadernos do CEOM, ano 25, n. 34. Chapecó: Unochapecó, 2012.
OLIM, B. B. Imagens em livros didáticos de História das séries iniciais: uma análise
comparativa e avaliadora. In: Anais do I Seminário Nacional de Fontes Documentais e
Pesquisa Histórica: Diálogos Interdisciplinares. Campina Grande: UFCG, 2009.