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Resumo:
Este artigo tem como objetivo identificar a trajetória do direito à educação desde a criação da
primeira Constituição Federal até os dias de hoje, apontando as reformulações ocorridas e o
financiamento requerido para se avançar na qualidade de ensino. Toma como base a Emenda
14/96 que criou o FUNDEF e, posteriormente, no FUNDEB. O estudo foi desenvolvido em
uma abordagem qualitativa e a metodologia utilizada foram as pesquisas bibliográfica e
documental. Como resultados ressaltamos que os avanços foram conquistados por
reivindicações dos movimentos sociais e de educadores e a necessidade de permanecer lutando
por um sistema educacional de qualidade. A aprovação do FUNDEB (EC n. 108/2020) como
um fundo permanente para o financiamento da Educação Básica foi um passo importante nesta
direção. Os estudos sobre o Custo Aluno Qualidade (CAQ) é uma contribuição para a definição
do padrão de qualidade de ensino a que todos os brasileiros têm direito.
Introdução
Como o Brasil foi signatário destes tratados internacionais, a federação formaliza suas
recomendações na Constituição Federal de 1988, a qual aponta a educação como um direito de
todos, no artigo 205, descrito da seguinte forma:
Tavares (2010) define a dignidade como um caráter inerente ao ser humano, não sendo
possível mensurá-la pois ela está acima de qualquer preço que possa ser oferecido. Ela
determina os rumos de sua própria vida, sem a interferência de qualquer pessoa, agindo com
total autonomia ao fazer suas escolhas, protegendo-o de qualquer humilhação ou situação
vexatória, além de proporcionar a possibilidade de desenvolvimento e crescimento pessoal.
Quando a federação garante o mínimo para a dignidade de cada um, cria-se a esperança
de atingir o estado de bem-estar social nunca antes visto (OLIVEIRA; ARAUJO, 2005). Esse
estado é uma concepção na qual o Estado se torna a instituição que tem por obrigação organizar
a economia de uma nação e prover aos cidadãos o acesso a serviços básicos, buscando assim
diminuir as desigualdades sociais, promovendo um modo de vida que leve uma condição mais
humanitária a toda população.
O ensino obrigatório no Brasil também passou por diversas mudanças perante a lei,
sendo estabelecido pela CF de 1934 (BRASIL, 1934) a obrigatoriedade e gratuidade do ensino
primário, mas não mencionou a idade inicial para esse processo (BRASIL, 1937). Foi apenas
na CF de 1946, pela Lei nº 8.529, art. 16, que definiu a obrigatoriedade da idade de 7 anos para
o ensino primário (BRASIL, 1946). A partir da CF de 1967 (BRASIL, 1967) e da Emenda
Constitucional de 1969 (BRASIL, 1969) que essa idade foi estendida dos 7 aos 14 anos. Com
a criação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394, de 20 de dezembro de
1996, (BRASIL, 1996) que o ensino é determinado com tempo mínimo de duração de 8 anos.
Conforme Arelaro, Jacomini e Klein (2011) a Lei Federal nº. 11.114/05 instituiu o início da
obrigatoriedade do ensino fundamental aos 6 anos de idade, e a Lei Federal nº 11.274/06
ampliou a duração do ensino fundamental para nove anos, mantido o início aos 6 anos. Somente
então, a partir da Emenda Constitucional nº. 59/2009 (BRASIL, 2009), a educação passa a ser
obrigatória e gratuita dos 4 aos 17 anos de idade, inclusive para os brasileiros que não tiveram
acesso na idade definida.
A Emenda Constitucional n° 14, de 1996 fez uma grande alteração no que era concebido
sobre o financiamento da Educação Básica no país, pois além da responsabilidade dos
municípios pela etapa da Educação Infantil que já estava determinado na CF de 1988, abriu a
possibilidade para que estes entes federados pudessem assumir a oferta também de parte ou
todo o Ensino Fundamental (EF), desde que fizessem convênio com o seu estado, incentivando
assim o processo de municipalização do EF. Enquanto os estados continuaram a ser
responsáveis pela oferta do Ensino Fundamental para os municípios que não pretendessem
oferecê-lo e pela oferta do Ensino Médio. Já a União Federal incorporou além de suas funções
ordinárias, a responsabilidade de garantir a suplementação de recursos para a Educação Básica
aos estados brasileiros mais carentes. Segundo Ximenes (2016), a União deve regular e
direcionar a distribuição de recursos e suplementá-los, a fim de garantir a equalização de
oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino (XIMENES, 2016).
Portanto, o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização
do Magistério (FUNDEF) foi criado visando a corrigir a má distribuição dos recursos e
objetivando diminuir a diferença e as desigualdades no oferecimento da educação em todo
território nacional.
A vigência do FUNDEF teve seu encerramento em 2006, quando o fundo sucessor entra
em vigor, conhecido como Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e
Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB). Criado pela Emenda Constitucional
53/2006, com vigência até o fim de 2020. Este Fundo contempla todas as etapas, ou seja, a
Educação Infantil, o Ensino Fundamental, o Ensino Médio e modalidades da Educação Básica,
ou seja, a Educação de Jovens e Adultos, a Educação Especial e a Educação Profissional. A
partir do ano de 2010, a complementação da União, correspondeu a 10% da contribuição total
dos estados e municípios de todo o país.
Pinto (2015) sinaliza a distribuição desses valores para cada estado brasileiro,
demonstrando que o valor complementar da União, em alguns estados das regiões Norte e
Nordeste, ainda se apresenta muito menor em comparação com outras regiões. Desta forma,
ainda que seja uma busca incessante de equalizar oportunidades, a distribuição e a desigualdade
ainda são alarmantes, demonstrando que essa discrepância apenas distancia a educação como
um serviço, de fato, de qualidade. O processo de municipalização do EF trouxe consigo um
grande problema na gestão educacional. Para os municípios que não contam com uma
Secretaria de Educação bem estruturada, esse valor representa quase metade dos recursos totais
de cada cidade. Quando não há uma boa gestão, o valor que deveria ser utilizado para fins
educacionais pode tomar outros rumos ou até mesmo se tornam uma verba para venda de
assessorias de ensino, se tornando, cada vez mais distante da equalização de oportunidades.
Para atender a LDB e definir, então, um custo mínimo que seja capaz de assegurar essa
qualidade de ensino é preciso definir o que é qualidade de ensino, ainda que essa definição não
seja consensual entre os educadores. Para isso, elaborou-se indicadores de qualidade que não
sejam somente técnicos, mas também políticos, sociais e econômicos, ou seja, definir insumos
e parâmetros para um ensino de qualidade requer uma análise dos custos, das condições reais,
dos objetivos que se almeja e das expectativas sociais em torno do processo de escolarização
(OLIVEIRA; ARAUJO, 2005).
Outra prática comum ocorrida nos últimos anos foi a criação de diversas escolas em
todo o território nacional, com a premissa de expandir o acesso à educação. Infelizmente,
aumentar a quantidade de escolas por cidade não significa, de fato, viabilizar o acesso à
educação. O próprio processo de contratação de profissionais para atuar neste ambiente – desde
sua construção até o momento da prática escolar – gera gastos que, muitas vezes, estão além da
capacidade financeira do município. Deve-se retomar a ideia de que quantidade não garante
qualidade, uma vez que a busca pela expansão desenfreada de escolas não atende a comunidade
local de forma que os ideias daquela população serão correspondidos.
Para tentar mensurar esse processo a partir da capacidade cognitiva dos estudantes foi
utilizado o sistema de testes padronizados, como o Sistema Nacional de Avaliação da Educação
Básica (SAEB), do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e do Exame Nacional de
Desempenho dos Estudantes (ENADE), partindo do pressuposto é possível avaliar se o aluno
aprendeu ou não aquele conteúdo (OLIVEIRA; ARAUJO, 2005). Entretanto, as avaliações
externas não são consenso entre os profissionais da educação, pois assim como o Programa
Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) busca resultados que não consideram a
história educacional de cada região ou país. Ainda mais especificamente no caso do PISA, os
conteúdos avaliativos excluem uma série de matérias e priorizam habilidades de leitura,
interpretação de textos e habilidades matemáticas.
A Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014 (BRASIL, 2014) que aprova o Plano Nacional
de Educação (PNE) indica as estratégias necessárias para que ocorra as melhorias na educação
do Brasil, destacando o Custo Aluno Qualidade Inicial (CAQi) como precursor para definir o
CAQ. E para definir esse valor todas as considerações apontadas devem ser contabilizadas (ver
lista de insumos no Parecer 8/2010). Destacamos também, que em 1988 a UNESCO apresentou
alguns fatores necessários para que seja consolidada uma escola eficaz, como: materiais em
quantidades e qualidades suficientes, satisfação salarial dos funcionários, práticas de avaliação
de desempenho, ambiente harmônico e envolvimento da comunidade local. Desta forma, não
podemos considerar apenas a injeção financeira dentro desse processo, mas sim como isso será
investido.
Ao invés do foco partir do valor necessário para atender aquela população, a política
brasileira separa o valor e aí considera essa distribuição, tentando atingir o elementar para o
funcionamento da organização. Se torna complexo estabelecer o que e qual seria o ideal sendo
que o visado é o mínimo do mínimo, ao invés de ser considerado fazer o melhor possível,
independentemente do valor necessário. O financiamento da educação deve ser repensado de
forma que seja analisada as diferenças de cada localidade, considerando que esses custos são
voláteis de região para região. Não é possível aplicar uma fórmula para um país com esta vasta
extensão como o Brasil sem considerar as próprias necessidades de cada um.
Considerações Finais
Apresentado ao longo do texto, a trajetória da educação no país enfrentou diversas
complicações. Diversos avanços foram conquistados ao longo dos anos por reivindicações
populares e a necessidade de desenvolvimento do país. Ainda é extensa a trilha que o Brasil
precisa percorrer em relação a busca de um sistema educacional de qualidade. Como foi
apresentado, ainda existem diversos fatores que tem uma grande necessidade de serem
estudados, investidos, planejados e melhorados. E por mais que o documento elaborado pela
UNESCO (1998) propõe elementos que podem tornar a escola um ambiente eficiente, para o
Brasil, algumas destas metas parecem estar em um futuro distante.
A busca incansável pelo CAQ ainda persiste, mesmo que encontre diversas barreiras: a
dificuldade de avaliar, de fato, o que é uma qualidade educacional, o apoio da Nação e da
população e, principalmente, mensurar o valor do profissional. Ainda que a passos curtos,
espera-se que não ocorra, novamente, retrocesso em relação a obtenção desse objetivo nacional.
Ressaltamos a importância de considerar o processo para atingir esse objetivo, considerando
cada insumo com o gasto necessário para essa execução, ao invés de prever um valor mínimo
para a realização da acessibilidade e inclusão de todos os indivíduos nesse sistema planejado.
REFERÊNCIAS
ARELARO, L. R. G.; JACOMINI, M.A.; KLEIN, S.B. O Ensino Fundamental de nove anos e
o direito à educação. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.37, n.1, p. 35-51, jan./abr. 2011.
_______. Constituição dos Estados Unidos do Brasil em 1937. Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, Rio de Janeiro, 10 de novembro de 1937. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Constituicao/Constitui%C3%A7ao3.htm>. Acesso em:
11 out. 2021.
_______. Constituição dos Estados Unidos do Brasil promulgada em 1946. Diário Oficial
[da] República Federativa do Brasil, Rio de Janeiro, 18 de setembro de 1946. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Constituicao/Constitui%C3%A7ao3.htm>. Acesso em:
11 out. 2021.
______. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação (PNE)
e dá outras providências. Brasília: Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília,
26 jun. Acesso em: 11 out. 2021.
______. Emenda Constitucional n. 108, de 26 de agosto de 2020. Dispõe sobre o Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da
Educação (Fundeb). Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc108.htm Acesso em 13
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ONU - Organização das Nações Unidas. Declaração Universal dos Direitos Humanos da
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TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional. 8.ed. rev. e atual. São Paulo:
Saraiva, 2010.
UNESCO – United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization, (1998). Primer
estudio internacional comparative sobre lenguaje, matemática y fatores asociados em
tercero e cuarto grado. Santiago, Chile: UNESCO/Laboratorio Latinoamericano de
Evaluacion de la Calidad de la Educación.